ANTONIO ARNEY - ESTRUTURAS E VALORES

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ANTONIO ARNEY ESTRUTURAS E VALORES Antonio Arney - Structures and Values



Colagem com rejeitos, 2011 Colagem, relevo, pintura 59,5 x 50 x 6 cm Coleção do artista

Fachadas, 2015 Colagem, relevo, pintura 60 x 50 x 8 cm Coleção particular

É uma grande honra para o Museu Oscar Niemeyer realizar a mostra Estruturas e valores, de Antonio Arney, com obras selecionadas na extensa e frutífera trajetória do artista, realizadas no período entre 1966 e 2018. Sua singularidade, sua escolha de materiais, cores e formas, refletem sua originalidade. Para a alegria de todos nós, Arney segue trabalhando. Autodidata, nascido em 1926, em Piraquara (PR), Arney recebeu inúmeros prêmios, participou de importantes mostras nacionais e internacionais e, recentemente, realizou as individuais Estações, no MASAC (2015); Outra coisa, no MuSA-UFPR (2016), e O poeta e o marceneiro, na Galeria Boiler (2016), além de ter obras na mostra Luz Matéria, que reúne artistas com obras no acervo do MON (2018). Homenagear e mostrar ao público a trajetória de artistas representativos no contexto da arte brasileira fundamenta o papel institucional do museu como um lugar de conhecimento, além de apresentar uma extensa gama de produções artísticas feitas tanto no nosso Estado como no país e no exterior. O MON, inaugurado em 2002, produz cerca de 20 mostras anualmente, contemplando inúmeras linguagens artísticas nas artes visuais, arquitetura e design. O público poderá conhecer mais profundamente o trabalho de Arney e estimular a percepção ao percorrer sua trajetória.

Ilana Lerner

Diretora-presidente / Chief Executive Officer

Museu Oscar Niemeyer


Antonio Arney Estruturas e Valores

Curadoria Adolfo Montejo Navas e Eliane Prolik

Dentro do espírito construtivo brasileiro, tão cultuado como importante, a obra de Antonio Arney representa rara exceção estética para o panorama da arte. Pelo momento histórico do qual faz parte e pela geografia de onde se projeta, essa lateralidade temporal e local, com respeito a uma língua franca artística, significa uma poética, seiva nova, cosmovisão e incorporação de elementos heterodoxos, não catalogados até então nesse repertório visual. Trata-se de uma obra ascética que dá voltas ao redor de uma mesma matriz geradora, que é, ao mesmo tempo, abstrata e matérica, aprofundando e modalizando uma pesquisa coerente com sucessivas variações, modulações. Um insuspeitado e submerso lado serial de seu trabalho; quer ser mais infinito ou variável que delimitado ou fixo (sua pintura é iconograficamente obsessiva em sua investigação de campo, como em Morandi, Fontana, Volpi, Mondrian, Van Velde, entre outros). De fato, a conciliação de um projeto rigoroso e uma materialidade erosionada, permite a essa pintura encarnar em sua construção certo perfume das coisas (memória ou função). Aproxima-nos delas, seja pelos inusuais elementos em jogo (chapas de madeira, parafusos, papéis tingidos, anteparos, objetos), seja pela disposição visual de sua configuração (formas, iconografia, cores). Um corpus que é singular por erigir uma imagética paradoxal de elementos geométricos por meio de materiais usados e de rejeitos, aportando uma oblíqua porosidade pintura-mundo. É uma colagem inusitada que se oferece como janela, palco ou mesmo fachada arquitetônica, na memória do tempo e do mundo (o elo de vida, o espaço, a representação). Contudo, aqui, a ilusão pictórica é negada: essa pintura não quer se resumir na pura bidimensionalidade, no estrito limite do planar (a sua característica ilusionista ou de visão além). A própria superfície é redimensionada com uma apreensão e sensação espacial diferente, mais física. Em sua última pintura-arquitetura cheia de abóbodas, arcos, arcadas, frisos, colunas, basculantes, persianas... constrói-se um tipo de arquitetura-objetual,


Fachadas, 2015 Colagem, relevo, pintura 50 x 60 x 10 cm Coleção particular


ou seja, quase uma maquete pictórica. Ou seriam modelos de uma pintura-arquitetura maior? De qualquer forma, há uma solicitação de presença e relação que se amplia nessa pintura, pois as peças “esculturizadas” de Arney querem nos trazer para uma contingência, uma proximidade e não um escapismo visual ou uma fantasia longínqua daquele que foge do aqui e agora. E apesar das composições simétricas, do manifesto equilíbrio de seus quadros, sua contribuição simbólica não é transcendentalista e sim fruto da era da incerteza em que estamos instalados. Num concentrado itinerário de 24 obras desde 1966 a 2018, este meio século de produção do artista representa um legado e convida a reconhecer um mapa pictórico próprio, autodidata e particular. A provocação estética na obra de Arney realinha o desperdício e subjuga as ordens visuais dominantes. Como um construto para a sobrevivência, ensina a conjugar remanejamentos: nós com os outros, as coisas, a cidade, a natureza. É o tempo a se perceber à procura de possíveis câmbios em ativação, novos grudes ou games. Desse modo, a onipresente materialidade dessa pintura montada, parafusada, concertada parece simbolizar o poder calado de suas imagens. Então o seu áspero segredo, metade real-irreal ou ficcional, em suma, é o lugar do imaterial em que as formas e as estruturas são um valor, uma pauta permanente de trabalho. O imaginário de Arney (mais rente ao chão do que Rubem Valentim, outro construtivo fora dos padrões) é feito através de equações visuais que nunca desvendam a incógnita: ao valor do exato se junta o valor do irregular, como duas medidas-estruturas per se, contraditórias do artista, de sua linguagem independente. Essa pintura mantém uma dupla vida precária. Promete uma alegoria visual instigante: aquela dialética entre a transparência e a opacidade – “ficções úteis”, segundo Artur Freitas – não se quer resolver nunca. No fundo, toda a obra de Antonio Arney representa um espaço pictórico entre coisas dissimiles, uma poética do intervalo.


Colagem com rejeitos, 2015 Colagem, relevo, pintura 50 x 63 x 8 cm Coleção particular

Antonio Arney

Nascido em 1926 (Piraquara-Paraná). Artista autodidata aprende o ofício de marcenaria com seu pai. Sua longa trajetória profissional começa em Curitiba, desde o final dos anos 1950, com a participação no Círculo de Artes Plásticas. Em seu currículo constam inúmeros prêmios, sendo oito premiações no Salão Paranaense. Participou de importantes mostras nacionais e internacionais como: I e II Panorama de Arte Atual Brasileira – MAM/ SP (1969 e 1970), XI Bienal Internacional de São Paulo (1971), Brasil Plástica 72 e I e III Salão Nacional de Artes Plásticas (1978 e 1980), no Rio de Janeiro. Recentemente, realizou as individuais Estações, no MASAC (2015), Outra coisa, no MuSA – UFPR (2016) e O poeta e o marceneiro, na Galeria Boiler (2016) e participa da mostra Luz Matéria com obras do acervo do MON, em Curitiba (2018). Em 2019, acontece a publicação do livro Comparações de Valores sobre a sua produção.


ENGLISH VERSION

It is a great honor for the Oscar Niemeyer Museum to hold Antonio Arney’s Structures and Values show, with works selected from the artist’s extensive and fruitful career, between 1966 and 2018. His uniqueness, his choice of materials, colors and shapes reflect his originality. To the delight of all of us, Arney continues to work. Born in 1926 in Piraquara (PR), Arney received numerous awards, participated in important national and international exhibitions and recently held the solo exhibitions Stations at MASAC (2015); Another thing, in MuSA-UFPR (2016), and The Poet and the Carpenter, at the Boiler Gallery (2016), besides having works in the exhibition Light Matter, which brings together artists with works from the MON collection (2018). Honoring and showing the public the trajectory of representative artists in the context of Brazilian art establishes the institutional role of the museum as a place of knowledge, as well as presenting a wide range of artistic productions made both in our State and in our country and abroad. MON, inaugurated in 2002, holds about 20 exhibitions annually, contemplating numerous artistic languages ​​in the visual arts, architecture and design. The audience will be able to learn about Arney’s work more deeply and stimulate their perception as they follow his trajectory. Ilana Lerner | Chief Executive Officer Oscar Niemeyer Museum

Antonio Arney Structures and Values curatorship Adolfo Montejo Navas and Eliane Prolik Amongst the importantly reckoned constructive spirit of Brazil, the work of Antonio Arney represents a rare aesthetic exception in the art world. It comes from a historical and geographical context, marked by such temporal and local marginality that it may be seen as corresponding to an artistic lingua franca, bringing up a new poetic, a new cosmovision, incorporating heterodox elements, elements that were not considered yet in those times visual repertoire. It is an ascetic work that revolves around the same

creative matrix, which is both abstract and material, and acts deepening and modifying a coherent research composed of successive variations, modulations. It shows a hidden, unsuspected serial aspect of his work; which aims to be infinite, variable, instead of fixed and delimited (his painting is iconographically obsessive in his field research, as in Morandi, Fontana, Volpi, Mondrian, Van Velde, among others). In fact, the meeting of a rigorous project with an eroded materiality allows this painting to embody in its construction a certain perfume (memory or function). It reaches us, either by the unusual elements displayed (wood plates, screws, dyed papers, screens, objects), or by the visual arrangement of its configuration (shapes, iconography, colors). A unique corpus producing a paradoxical imagery of geometric elements through used materials and tailings, pointing to an oblique porosity between painting-world. It is an unusual collage that offers itself as a window, as a stage or even as an architectural façade, in which we see the memory of time and the world (the link of life, space, representation). However, here the pictorial illusion is denied: this painting does not want to be summed up in two pure dimensions, in the strict limits of planar surfaces (illusion itself). The surface is resized to reach a different, more physical and spatial feel. His last painting-architecture is full of vaults, arches, arcades, friezes, columns, tilt-turn windows, shutters... a type of architectural object is built, becoming almost a pictorial model. Or would these be models of a larger painting-architecture? Anyhow, there is a calling for presence and rapport that is broaden in his painting, this happens because Arney’s “sculpted” pieces want to bring us to a contingency state; closeness instead of escaping or distant fantasies far from here and now. And in spite of his symmetrical compositions, of the depicted balance of his works, his symbolic contribution is not transcendentalist but rather an outcome of the uncertain era in which we are installed. A condensed itinerary containing 24 works from 1966 to 2018 — half-century of the artist’s production —, presents a legacy and invites us to recognize a pictorial map of its own, self-taught and private. The aesthetic provocation in Arney’s work realigns waste and subjugates the dominant visual orders. As a construct for survival, it teaches how to conjugate reshaping: between ourselves


perceptible time in search of possible activation changes, new links or games. Thus, the ubiquitous materiality of this assembled, screwed, arranged painting seems to symbolize the silent power of its images. So, its rough secret, half real-unreal or fictional, is in short the place of the immaterial in which forms and structures are a value, a permanent agenda of work. Arney’s imagery (more down-to-Earth than Rubem Valentim’s, another out-of-the-way constructivist) is done through visual equations that never unravel the unknown: the exact value is added to the irregular value as two measures-structures per se, contradictory; the artist’s independent language. This painting maintains a precarious double life. It promises an insightful visual allegory: a dialectic between transparency and opacity - “useful fictions,” according to Artur Freitas - never to be solved. In the end, Antonio Arney‘s work represents a pictorial space between dissimilar things, a poetic of the interval.

Antonio Arney

Born in 1926 (Piraquara-Paraná). Antonio, a self-taught artist, learned the trade of carpentry with his father. His long professional career began in Curitiba, in the end of the 1950s, as a participant in the Círculo das Artes Plásticas. With countless prizes in his resume, eight awards in Salão Paranaense. He participated in important national and international exhibitions such as: I e II Panorama de Arte Atual Brasileira – MAM/ SP (1969 e 1970), XI Bienal Internacional de São Paulo (1971), Brasil Plástica 72 and I and III Salão Nacional de Artes Plásticas (in 1978 and 1980), in Rio de Janeiro. Recently, he held the solo exhibition Estações, at MASAC (2015), Outra Coisa, at MuSA – UFPR (2016) and O Poeta e o Marceneiro, at Galeria Boiler (2016) and takes part in the group show Luz Matéria with works from the MON collection, in Curitiba (2018). In 2019, the book Comparações de Valores ​​will be published concerning his artistic production.

▾ A videoinstalação “Colmatagem”, das artistas Eliane Prolik e Larissa Schip, é um documentário poético realizado no convívio do ateliê de Antonio Arney, que retrata seu entorno, processo de ação, geografia e voracidade. Colagem de imagens em sequência, o vídeo opera par símile às pinturas montagens do artista. Como um processo de acumulação de sedimentos ou de preenchimento de áreas e fissuras que coligam a passagem do tempo a matéria. “Colmatagem” is a video installation by Eliane Prolik and Larissa Schip. The artists produced a poetic documentary on Antonio Arney’s studio, where they portray its surroundings, action process, geography and voracity. The video is a sequence built from a collage of images, operating similarly to Arney’s paintings. Accumulating sediments, filling areas and fissures that connect the passage of time to matter.

Fachadas, 2018 Colagem, relevo, pintura 58 x 43,5 x 13 cm

Coleção do artista


Museu Oscar Niemeyer

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10 17 10 NOV > MAR SALA

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Período expositivo / Exhibition period

NOV

MAR

ROOM

From Tuesday through Sunday, from 10 a.m. to 6 p.m. Ticket sale until 5:30 p.m. Online ticket sales: museuoscarniemeyer.org.br Free admission to seniors over 60 and children under 12

monmuseu monmuseu museuoscarniemeyer museuoscarniemeyer.org.br

Rua Marechal Hermes, 999 Centro Cívico · Curitiba · PR Tel.: 41 3350 4400 Capa / Cover: Colagem com rejeitos, 2015 | Colagem, relevo, pintura 60 x 50 x 8cm | Coleção do artista (detalhe / detail)

Fotografia / Photography Larissa Schip e Gilson Camargo

empresa amiga

apoio / support

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Terça a domingo, das 10h às 18h Venda de ingressos até as 17h30 Venda de ingresso online: museuoscarniemeyer.org.br Entrada franca para maiores de 60 e menores de 12 anos


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