P e g g y D is t e f a n o
Apresentar uma exposição é quase como apresentar uma apresentação. E isso, a princípio, não parece fazer muito sentido. Apresentar o apresentado na exposição é ainda mais non-sense, pois se espera que a própria exposição cumpra essa função. E, além de tudo, esse apresentado, em especial, dispensa apresentações. Mas, ainda assim, é o que o curador deve fazer. Mais que organizador ou tutor, talvez a função se explique no próprio nome. Curador, com licença poética, é quem cura. Cura os lapsos de memória que o tempo provoca. Cura os muitos mitos e equívocos em torno de um nome. Cura a lacuna que esses cometas mágicos deixam ao partir. Isso, quando cura acuradamente. Para alguns, Leminski era principalmente poeta. Mas, além de grande poeta, é bom lembrar que ele foi: um pensador de cultura, haikaista, tradutor, biógrafo, jornalista da imprensa escrita e televisionada, ensaísta, contista, romancista, autor de experimentações verbais e visuais, “polemista”, roteirista de histórias em quadrinhos, judoca, professor, publicitário, compositor. E, em tudo isso, inovador.
Sem nunca ter usado um computador, Paulo Leminski navegou com destreza por todos os rios onde sua bússola, a palavra, o levou. E aí incluo também a música, porque, como ele mesmo disse, “a música nasce na forma como entoamos as palavras”. Esse navegador, que abriu tantos novos espaços, nunca saiu do Brasil e quase não saiu de Curitiba, com exceção de três episódios curtos, um comigo no Rio de Janeiro, e dois em São Paulo: o primeiro na pré-adolescência, no mosteiro de São Bento, e outro no seu penúltimo ano de vida, 1988. Mas preferiu sempre Curitiba, porque (mais uma vez como ele mesmo dizia) “pinheiro não se transplanta”. Uma forma criativa de declaração de amor à sua terra. Desde sua morte, esse amor vem sendo, aos poucos, correspondido pela cidade. Mas nunca tanto como agora. Enfim sua multiplicidade é contemplada e pode ser contemplada por quem o conheceu bem, por quem o conheceu um pouco, por quem acha que o conheceu, por aqueles que não tiveram essa oportunidade e agora têm. Tinha que ser no OLHO essa contemplação. Digo, no Museu Oscar Niemeyer, que agora abraça e expõe todas as facetas do Múltiplo Leminski. Alice Ruiz S
J u lio Covello
Introducing an exhibition is almost like introducing an introduction. And this, at first, doesn’t seem to make much sense. Introducing what’s being presented in an exhibition is an even greater non-sense, since the exhibition is expected to fulfill this function. And, above all, in this particular case, what´s being exhibited goes without introductions. But, all the same, this is what a curator must do. More than an organizer or tutor, perhaps this function can be explained by its very name. Curator, using poetic license, is one who cures. Cures memory lapses due to the passing of time. Cures the many myths and misunderstandings around a name. Cures the gap these magic comets leave when they depart. That is, if they cure accurately. For some, Leminski was mainly a poet. But, more than a great poet, it is timely to remember that he was also: cultural thinker, Haiku poet, translator, biographer, journalist of the written and televised media, essayist, short-story writer, novelist, author of verbal and visual experiments, “polemicist”, comics writer, Judoka, professor, advertising writer, composer. And in all of this, an innovator. Without ever using a computer, Paulo Leminski navigated with proficiency all the rivers his compass ‒ the word ‒ led him to. And I also include music, because as he used to say, “music is born from the way we modulate words”. This navigator, who opened so many new spaces, never left Brazil and, almost never, Curitiba, except for three short periods ‒ one with me, in
Rio de Paulo: in São before
Janeiro, and two others in São the first, as a pre-adolescent Bento Monastery, and the year his passing, 1988.
But he always preferred Curitiba, because (once again, as he used to say) “a pine tree cannot be transplanted”. A creative way of expressing his love for his land of birth. Since his death, this love has been reciprocated, little by little, by the city. But never as much as now. Finally, his multiplicity is contemplated; and it can be contemplated by those who knew him well, by those who knew him little, by those who think they knew him, by those who never had the chance, but now they do. This contemplation had to be at the EYE. I mean, at Oscar Niemeyer Museum, which now embraces and exhibits all the facets of the Multiple Leminski.
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Intraduzível Leminski Não há palavras ou frase que possam traduzir a força da vida e da obra de Paulo Leminski. Apenas uma faz sentido: gratidão. Agradeço a percepção dele como artista, sua simplicidade e sua complexidade, seu conhecimento e sua memória, seu humor e sua irreverência, sua força e sua sensibilidade. Leminski colocou, com seu trabalho, o Paraná na esfera internacional sem nunca ter deixado de ser o Leminski de todo dia. Seu tempo não tem medida entre o ontem, o hoje e o amanhã. “Distraídos, venceremos” é um lema. A abstração onde o poeta busca o céu e as estrelas. Para o Museu Oscar Niemeyer é uma honra e uma alegria receber esta exposição que revela todas as vertentes de Leminski, como poeta, escritor, tradutor, músico, polemista, pensador, etc. Agradeço, novamente, em nome de toda a equipe do MON. Obrigada, Leminski. Estela Sandrini
Diretora do Museu Oscar Niemeyer
Dico Kremer
Jo rg e G alv 達 o
Thiago Syen
Mar
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l C onr ado
Untranslatable Leminski Untranslatable Leminski There are no words, or phrase, capable of translating the force of Paulo Leminski´s life and work. Only one makes sense: gratitude. I thank his artist´s perception, his simplicity and complexity, his knowledge and memory, his humor and irreverence, his strength and sensitivity. With his works, Leminski placed Paraná in the international sphere, without ever stopping to be the everyday Leminski. His time has no measure in yesterday, today, or tomorrow. “Distracted We Will Win” is a motto. The abstraction where the poet reaches for the sky and the stars. For Oscar Niemeyer Museum it is an honor and a great joy to receive this exhibition that reveals Leminski in all his facets ‒ poet, writer, translator, musician, polemicist, thinker, etc. Once again, my thanks on behalf of MON´s staff. Thank you, Leminski. Estela Sandrini
Director of Oscar Niemeyer Museum
Dico Kremer
H a i t r o P i kai
Wi n ter v ern o , J o 達o V irm o n d e P . L e m i n s k i
W i n t e r v e r no
Solda
sossegue c oração ainda não é agora a confusão prossegue sonhos afo ra
ez erra uma v eto nunca com ro o mesmo er duas vezes uas já cometo d cinco seis três quatro o aprender até esse err o tem vez que só o err
se nem for terra se trans for mar
você está tão longe que às vezes p enso que nem exis to nem fale em a mor que amor é is to
luxo saber além destas telhas um céu de estrelas
estupor esse súbito não ter esse estúpido querer que me leva a duvidar quando eu devia crer
calma calm a logo mais a gente go za perto do o sso a car ne é m ais gostosa
primavera de problemas a luz das flore s g randes assombra as fl ores pequena s
esse sentir-se cair quando não existe lugar aonde se possa ir esse pegar ou largar essa poesia vulgar que não me deixa mentir
ia? pra que cara fe na vida eia ninguém paga m
as coisas estão
pretas
estrelas uma chuva de deixa no papel tras esta poça de le
i xa lua ba a t l a noite te ao sapo n pergu e coaxa el e o qu
r, alavra rima mandei a p obedeceu. ela não me m rosa, r, em céu, e a m m e u lo prosa. Fa ilêncio, em s m e , o g e r em g a de si, Parecia for nciosa. a sílaba sile ase sonhar, Mandei a fr to. num labirin so. e ela se foi to, apenas is in s u e , ia s Fazer poe ito, a um exérc extinto. Dar ordens um império r ta is u q n o para c
lua crescente o escuro cre sce a estrela sen te or com uma d um homem te n a g is ele é muito ma im de lado ss a a caminh sado egando atra como se ch is adiante andasse ma eso da dor carrega o p alhas rtasse med como se po de dólares um milhão uma coroa e os valha ou coisa qu
analgésicos ópios édens dor uem nessa não me toq ue me sobra ela é tudo q ima obra r minha últ sofrer, vai se
um bom poema leva anos cinco jogando bo la, mais cinco estu dando sânscrito , seis carregando pedra, nove namorando a vizinha, sete levando po rrada, quatro andando sozinho, três mudando de cidade, dez trocando de assunto, uma eternidade, eu e você, caminhando ju ntos
eu ontem ti ve a impre ssão que Deus q ueria falar c omigo não lhe dei ouvidos quem sou e u para falar com Deus? ele que cuid e dos seus assuntos eu cuido dos m eus.
a noite - enorme tudo dorme menos teu nome
e clases en la lucha d s as son buena todas las arm piedras noches poemas
A g r a de ci m e nt o s
Aknowledge me nt s
Desta exposição fazem parte também alguns painéis e referências da “Ocupação Leminski”, que aconteceu em 2009 no Itaú Cultural, feita com a curadoria de Ademir Assunção e minha assessoria.
This exhibition includes some panels and references from “Ocupação Leminski” (Leminski Occupation), which happened in 2009, at Itaú Cultural, under the curatorship of Ademir Assunção, and my assistance.
Esse material foi gentilmente cedido pelo Itaú Cultural a mim e minhas filhas.
This material was kindly given to me and my daughters by Itaú Cultural. Still in 2009, another exhibition was held (photographically documented here) in honor of Paulo Leminski, at SESC Consolação, also under the curatorship of Ademir Assunção. To all, my thanks.
Ainda em 2009, foi realizada outra mostra (documentada aqui em fotos) em homenagem ao Paulo Leminski no SESC Consolação, também com curadoria de Ademir Assunção. A eles, meus agradecimentos. As duas exposições, assim como esta no MON, contaram com a arte, o empenho e a organização visual do artista Miguel Paladino, a quem agradeço imensamente a parceria e cumplicidade amiga nesse projeto. Agradeço também a todos os artistas que cederam seus trabalhos para essa mostra. Agradeço às minhas filhas, Áurea Alice Leminski, guardiã do acervo gráfico, pelo empenho em localizar, sugerir e facilitar essa empreitada, e Estrela Ruiz Leminski, guardiã do acervo musical e responsável por esse setor nessa exposição. E, mais ainda, agradeço ao MON, por apresentar a Curitiba esse retrato multifacetado de Paulo Leminski, que, por ser tantos, é único.
Both exhibitions, as well as this one at MON, counted on the art, the effort, and the visual organization of artist Miguel Paladino, who I deeply thank for the partnership and friendly complicity in this project. I also thank all the artists who kindly lent the works for this exhibition. I thank my daughters Áurea Alice Leminski, guardian of the body of written works for her endeavor in locating things, giving suggestions, and facilitating this enterprise; and Estrela Ruiz Leminski, guardian of the music collection and responsible for this part of the exhibition. Above all, I thank MON for presenting Curitiba with this multifaceted portrait of Paulo Leminski, who, for being so many, is unique.
Alice Ruiz S
Luzes
Paulo Leminski Tom: G Introdução: Em Em Acenda a lâmpada às seis horas da tarde Acenda a luz dos lampiões Inflame a chama dos salões Fogos de línguas de dragões Am Vagalumes D Ebº Em numa nuvem de poeira de neon Am D Tudo claro, tudo claro à noite Em Assim que é bom Em A luz acesa na janela lá de casa D Em O fogo, o foco lá no beco e um farol Am D Em Essa noite, essa noite vai ter sol Am D Em Essa noite, essa noite vai ter sol
Juvenal Pereira
Christine Vianna Baptista coordenadora do sistema estadual de Museus
coordenação de infraestrutura Helio Figlarz
Thaísa M. Teixeira Sade coordenação de comunicação - SEEC
MUSEU OSCAR NIEMEYER
coordenação de manutenção Alceu Chmiluk Alaete José Alves Giomar Guandahim José Edson Ribeiro José Carlos Cordeiro de Oliveira Luiz Ferreira de Almeida
diretora Estela Sandrini
assessoria de eventos Paula Moreira
diretor administrativo e financeiro Cristiano A. Solis de Figueiredo Morrissy
apoio técnico Francieli Iantas Jéssica Mayumi Santos Karina Marques Canha Lucas Murilo dos Santos Sabrina Ellen de Souza Tatiane Canalle
27.OUT.2012 a 31.ABR.2013
salão principal ∙ olho
Rita Solieri Brandt coordenação de desenho gráfico - SEEC
assessoria jurídica Janaina Bertoncelo de Almeida assessoria de comunicação Marianna Camargo design gráfico Marcello Kawase Marciel Conrado Maico Amorim coordenação de planejamento cultural Sandra Mara Fogagnoli Danielly Dias Sandy coordenação de produção e montagem Fabiana Wendler Jacson Luis Trierveiler Vanderley de Almeida gestão museológica Cristine Pieske coordenação de acervo Humberto Imbrunisio Ricardo Freire Taffarel Rômulo Vieira documentação e referência Iolete Guibe Hansel Maita Pantaleão Franco Lêda Godoy Gomes Salles Rosa
informática Claudio Osadczuk Segurança Divinalva Gomes Santos Sandro de Almeida Cardoso Créditos da exposição Múltiplo Leminski curadoria Alice Ruiz S assistentes de curadoria Aurea Alice Leminski e Estrela Leminski design e ambientação Miguel Paladino design do folder Marciel Conrado graffiti Jorge Galvão Marciel Conrado Thiago Syen stencyl art Rafael Tavares
REALIZAÇÃO
coordenação Administrativa e financeira Elvira Wos
PATROCÍNIO
Valéria Marques Teixeira diretora-Geral da SEEC
Ingressos: R$ 4,00 inteira e R$ 2,00 meia-entrada. Entrada franca para maiores de 60 e menores de 12 anos. De terça a domingo, das 10h às 18h. Venda de ingressos até às 17h30. Acesso gratuito no primeiro domingo de cada mês. Rua Marechal Hermes, 999 · Centro Cívico · Curitiba · PR CEP: 80530 230 · Tel.: 41 3350 4400
Paulino Viapiana secretário de estado da cultura
coordenação da ação educativa Rosemeri Bittencourt Franceschi Sirlei Espíndola Suely Yamamoto Telma Richter
FOLDER COLECIONÁVEL
Beto Richa Governador do Estado do Paraná