Ministério da Cultura apresenta
CECILY BROWN SE O PARAÍSO FOSSE ASSIM TÃO BOM If paradise were half as nice
Se o paraíso fosse assim tão bom traz ao Museu Oscar Niemeyer um conjunto expressivo da obra de Cecily Brown, uma das mais relevantes artistas da geração britânica dos anos 1990. Produzidos ao longo da última década, os trabalhos reunidos na exposição representam diálogos da artista com a ideia de paraíso — tema que vem atraindo sua atenção há muito tempo. Cecily Brown apresenta neste corpo de obras uma visão de paraíso em que o bem e o mal coexistem. É esta tensão constante que fascina a artista, inspirada por representações de cenas paradisíacas que marcaram obras como a de Hieronymus Bosch, Michelangelo Buonarroti e Jan Brueghel.
Nascida em Londres em 1969 e radicada em Nova York desde 1994, Cecily Brown tem trabalhos em coleções públicas de instituições como o Solomon R. Guggenheim Museum (NY) e a Tate Gallery (Londres). Entre as cidades que receberam suas exposições estão Roma, Madri, Hamburgo e Turim. O Instituto Tomie Ohtake e o Museu Oscar Niemeyer são os primeiros a receber a mostra Se o paraíso fosse assim tão bom, a individual de estreia da artista no Brasil. Ilana Lerner Diretora-presidente Museu Oscar Niemeyer
Os trabalhos revelam e escondem na mesma medida, convidando o espectador a olhar novamente. Esta habilidade de fazer figuras emergirem da abstração está entre as marcas que estabeleceram a artista como um dos nomes mais importantes da pintura contemporânea. Cecily Brown, Gubblebum, 2012-14 Óleo sobre linho, 246,4 x 195,6 cm, detalhe/detail
Para o público brasileiro, esta é a primeira oportunidade de observar as qualidades que singularizam a investida na pintura feita por Cecily Brown. Sua produção tornou-se conhecida, primeiro, pelo modo como conseguiu transpor cenas de sexualidade para pinturas, em que, tanto os corpos quanto a própria massa pictórica pareciam estar em contínua vibração e movimento. Em seguida, foi reconhecida a tensão, conquistada pela artista, entre a intenção figural e a intensidade gestual de cada uma de suas telas. Nas obras que, nos últimos 15 anos, compartilham a alusão ao paraíso, a sugestão de movimento contínuo e a ambivalência figural/ gestual juntam-se a uma terceira qualidade: o modo como corpos humanos, animais e vegetações amalgamam-se em massas cromáticas ritmadas. No conjunto de desenhos que abrem a exposição, encontram-se indícios dos processos que levam o acúmulo de traços e linhas a tramarem superfícies cromáticas complexas. Enquanto desenha, Brown urde a espacialidade côncava, sem horizonte e densa que caracteriza seus paraísos. Nas pinturas, essa
espacialidade agita-se com turbulência e, também, dissolução. Não há fronteiras claras entre sujeitos e paisagens, figuras e fundos. Ao invés de plácidos gramados de verdejar indefectível, delineiam-se espaços de abundância, plenitude e preenchimento. Territórios cheios, que não se deixam simplesmente atravessar. É preciso penetrá-los. Enquanto problema pictórico, isso se manifesta pela indistinção, em última instância, entre corpos e espaços. Enquanto alegoria, isso devolve ao paraíso seu caráter paradoxal: para ter lugar nele, o humano deve prescindir de parte do que o torna humano, correndo o risco de, com isso, perder a capacidade de reconhecer o paraíso como tal. É difícil precisar se os paraísos de Cecily Brown seriam, afinal, mais ou menos toleráveis do que as versões idílicas da arte e da literatura clássica. Seus aspectos associáveis ao inferno (dinamismo, choque e confusão) seriam, talvez, bem-vindos para os cidadãos do presente, tão apaixonados pelo espetáculo de gratuidade e destruição que desfila nas velhas e nas novas mídias dia após dia, minuto a minuto.
Paulo Miyada Curador do Instituto Tomie Ohtake
Cecily Brown, The flushest feather, 2011 Óleo sobre linho, 31,8 x 43,2 cm, detalhe/detail
Seu principal destino, no entanto, não será salvar nossas almas, tampouco edificar lições morais. Oferecem-se como janelas de percepção, junto a uma pintura que pretende estar em constante movimento diante dos nossos olhos – imagens escorregadias que parecem atualizar-se e transformar-se quanto mais olhamos para elas. O que elas salvam, assim, é o próprio tempo dedicado a observá-las. Um tempo ganho porque é recompensado pela profundidade da visão.
Cecily Brown, Hocus pocus of green angels, 2014-15 Óleo sobre painel, 78,74 x 109,22 cm, detalhe/detail
If paradise were half as nice brings an expressive collection of Cecily Brown’s work to the Oscar Niemeyer Museum. She is one of the 1990’s most relevant artists of the British generation.
examine it again. This ability of making characters arise from abstraction is one of the features that establishes the artist as one of the most important names of the contemporary painting.
Produced over the last decade, the pieces gathered in the exhibition represent dialogs of the artist with the idea of paradise — a theme that has been calling her attention for quite a while now.
Born in London in 1969 and settled in New York since 1994, Cecily Brown has works in public collections of institutions such as the Solomon R. Guggenheim Museum (NY) and the Tate Gallery (London). Among the cities that held her exhibitions are Rome, Madrid, Hamburg, and Turin. The Tomie Ohtake Institute and the Oscar Niemeyer Museum are the first ones to hold the exhibition If paradise were half as nice, the unique opening of the artist in Brazil.
In her set of works, Cecily Brown presents a vision of paradise in which good and evil coexist. This continuous tension fascinates the artist, who was inspired by memorable representations of paradisiacal scenes of other artists such as Hieronymus Bosch, Michelangelo Buonarroti, and Jan Brueghel. Her works reveal and hide elements at the same extent, inviting the viewer to
Ilana Lerner Chief Executive Officer Oscar Niemeyer Museum
For the first time, the Brazilian public is having the opportunity to see the qualities that make Cecily Brown’s painting efforts so unique. Her work became known, firstly, by how she managed to transpose sexuality scenes into paintings, in which, both the bodies and the pictorial mass seem to be under constant vibration and motion. Secondly, the tension conquered by the artist between the figural intent and the gesture intensity of each one of her paintings was recognized. In the last 15 years, the pieces that share this allusion to paradise, the suggestion of continuous motion and figural/gesture ambivalence are combined into a third quality: how human bodies, animals, and vegetation are joined into rhythmic chromatic masses. In the collection of drawings that opens the exhibition, we find hints of the processes that caused the accumulation of traces and lines that led to the development of complex chromatic surfaces. In her drawings, Brown creates her dense, concave spatiality without a horizon that characterize her paradises. In her paintings, this spatiality is stirred with turbulence and dissolution as well. There are no definite boundaries between subjects and landscapes, figures and backgrounds. Instead of placid grass of indefectible green, we find spaces of abundance, plenitude, and filling. We
have full territories that cannot be easily crossed. One needs to pierce them. As a pictorial problem, it is manifest by the indistinctness, in the last instance, between bodies and spaces. As allegory, it returns the paradox character to paradise: to dwell in it, the human being must give up what makes him human and therefore take the chance of losing his ability of recognizing the paradise as such. It is hard to ascertain if Cecily Brown’s paradises were more or less tolerable than their idyllic versions found in classic art and literature. Perhaps their features that remind us of hell (dynamism, shock, and confusion) would be welcomed by current citizens, who love so much the spectacle of freeness and destruction that are displayed in old and new media day after day, minute after minute. Their main fate, however, is not saving our souls or giving moral lessons. They are offered to us as perception windows, next to a painting that pretends to be in constant motion before our eyes—slippery images that seem to be updated and transformed the more we admire them. Therefore, what they save is the very time dedicated to gaze at them. That it is a time we gain because we are rewarded by the depth of sight. Paulo Miyada Curator of the Tomie Ohtake Institute
Terça a domingo, das 10h às 18h Venda de ingressos até as 17h30 Entrada franca para maiores de 60 e menores de 12 anos
Período expositivo / Exhibition period
21 JUL JUL
04 1 > NOV SALA NOV
ROOM
From Tuesday through Sunday, from 10 a.m. to 6 p.m. Ticket sale until 5:30 p.m. Free admission to seniors over 60 and children under 12
Rua Marechal Hermes, 999 Centro Cívico · Curitiba · PR Tel.: 41 3350 4400
Capa e poster/cover and poster | detalhe/detail There’s no right way to do me wrong, 2014 | 246,4 x 261,6 cm Óleo sobre linho/Oil on linen
realização / production
monmuseu monmuseu museuoscarniemeyer museuoscarniemeyer.org.br
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Museu Oscar Niemeyer