Revista Gerar Identidades - CLDS 4G, Arraiolos

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RAUL JORGE MARQUES

A PENÚLTIMA PERDA: A MINHA CASA! Uma reflexão sobre «ageing in place» Resumo: Foi lançado como desafio ao autor a elaboração de um artigo/reflexão sobre o envelhecimento e possibilidades de respostas para melhorar o bem-estar nos últimos anos de vida. Este artigo apresenta-nos tudo isto e muito mais. O autor cruza a experiência e o conhecimento que foi acumulando ao longo dos anos na área da Gerontologia, com novos apports; apresenta-nos de forma sumária experiências que estão a acontecer em diferentes países e em Portugal, como contributos para melhorar a qualidade de vida da população idosa, deixando pistas para a concretização destas abordagens localmente.

Abordar uma temática tão importante como «acabar o ciclo de vida na nossa casa/ comunidade», com segurança e independência, em poucas páginas, é um desafio imenso para nos focarmos no mais pertinente, até porque se trata, também, de refletir sobre um direito fundamental, o de não delegarmos em terceiros a nossa capacidade de decisão/ como queremos viver o fim de vida (não há a tradição de o deixarmos registado precocemente quando somos mais novos – talvez tenha sentido pensar numa Declaração Antecipada de Vontade para o Envelhecimento em Fim de Vida), quando a construção das casas é maioritariamente inimiga do processo de envelhecimento. Todavia, as pessoas que querem viver em casa até morrer têm direito de o fazer em liberdade, mas também com dignidade, o que muitas vezes é difícil/ impossível por falta de adequabilidade das habitações. Esta pequena abordagem irá tentar responder às seguintes questões: i) «Ageing in place»: o que é e quais os benefícios? ii) Desenvolver/ implementar o processo de «ageing in place»: Como? Com quem? Que boas práticas de «ageing in place» em Portugal? Como desenvolver o processo de «ageing in place» no concelho de Arraiolos?

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i.«Ageing in place»: o que é e quais os benefícios? «Ageing in place» é a possibilidade de envelhecer em casa e na comunidade em que se está inserido, a opção que consideramos preferível, até porque é onde estão as principais referências, como amizades, serviços, supermercados, farmácias, igreja que se frequenta, na prática envelhecer onde se vive com conforto, segurança e independência, logo com autodeterminação, independentemente da idade, situação financeira ou habilitações académicas, mas que nem sempre é possível, sobretudo por falta de condições económicas que permitam adequar a habitação para viver em segurança e suportar as despesas com os cuidados de saúde ao domicílio, a que se junta a falta de entidades dedicadas ao cuidado integrado nas habitações 24 horas/ dia e em conformidade com o rendimento das pessoas mais velhas. «Ageing in place» significa, «apenas» e na prática, ter direito a viver com independência na nossa casa, em segurança e com adequados serviços de apoio até ao fim de vida! Mas, tal como refere Fonseca (2018: 9), é também um processo que “reflete uma mudança de paradigma nas políticas sociais de apoio aos idosos ao considerar prioritária a vontade da pessoa idosa em permanecer no seu ambiente familiar e comunitário o maior tempo possível e de modo independente, com saúde e beneficiando de apoio social”.


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