TCC DO MOON
RELATÓRIO
TCC DO MOON
RODRIGO MOON
Esquizofrenias Conversas Filosofia Design
INTRO
No momento em que nos pomos a escrever sobre este TCC, nós ainda não temos um tema, não temos uma diretriz, e muito menos algo definido. Um grande ponto que ressaltam quando digo sobre o que é nosso projeto é “mas como assim vocês estão fazendo um TCC sobre algo que vocês nem ao menos sabem o que será?”. Ok, não exatamente com essas palavras, mas a ideia é a mesma. Isso deixa as pessoas meio desconsertadas pois não estão acostumadas a viver de uma forma não organizada por finalidades. E esta proposta se pauta pelos processos. Bom, nós também sofremos com isso. Nós tivemos que recorrer a diversas maneiras de organizar esta empreitada, ao mesmo tempo em que tivemos que nos confortar em seguir talvez um dos caminhos mais difíceis que poderíamos ter escolhido. Este documento é a versão de fácil acesso ao conteúdo do nosso TCC. Conjuntamente a ele, nós desenvolvemos uma publicação no Medium, um diário que será aberto a todos e uma monografia - famoso relatório dos professores. Parece muita coisa, mas são diferentes momentos reflexivos, então não pesa. Explicando melhor minha proposta: • • • •
Este documento; A Casu, no Medium; O diário (que acabou parando antes do fim); A monografia.
SOBRE O QUE NÓS QUEREMOS FALAR? Nós gostaríamos de fazer referências a drogas, ao bacanal, evoé baco; mas vocês não gostam disso. Vocês gostam de pessoas direitas, sãs, que fazem tudo muito bem e ao final de tudo vocês aplaudem. Mas que final é esse? Vocês vão ser pegos numa serendipidade de acontecimentos, frases, pessoas múltiplas que me habitam. Vocês vão me chamar de louco por todas as coisas que eu vou dizer aqui – e eu não poderia esperar menos. Eu quero isso. Nosso lugar sempre foi com os astronautas em solo.
Nós temos como base o TCC de dois veteranos nossos, cujo relatório foi bem fácil de ler. Eles propuseram uma conversa entre os dois e foram explicando todo o TCC de uma maneira bem simples e didática. Nós achamos isso sensacional, e pensamos: vamos fazer isso também. Mas somos apenas um – embora não tenham faltado esforços para não fazermos sozinho – e conversar entre nós é… o que eu vou fazer. É, vai ser estranho. Mas acho que vai ser nossa cara. Nós pensamos em tentar outros recursos, mas acho que esse é o que mais vai funcionar. Perdão, Carol, Dan, mas vamos modificar a ideia de vocês e transformar este documento em uma narrativa em 3ª pessoa - lembra daquele discurso indireto? – na qual nós conversamos. Ora, mas porque conversaríamos com nós mesmos? Porque sempre fiz assim. Desde criança fomos nosso psicólogo, amigo, conselheiro, confidente. Ser vários ajuda a ser menos você às vezes.
Bom, vamos organizar então tudo o que nós precisamos falar? Adendo: quando eu falar vamos, não me refiro a você, leitor, mas aos outros que compõem esta redação: - Sobre o contra-campo, ou o que veio antes; - Sobre o começo; - Sobre a dificuldade em fazer um projeto como o que nos propusemos; - Explicar o projeto; - Explicar filosofia; - Por fim te mostrar o que nem eu ainda sei. Mas que belo índice ein! Podia ter caprichado mais. Se quiser algo bem feito faça você mesmo. Olha esse que eu fiz! Mas eu vou dedicar uma página inteira pra ele, então essa vai ficar em branco até o final.
E C I D ÍN
INTRO 4 SOBRE O QUE NÓS QUEREMOS FALAR? 5 ÍNDICE 6 VOCÊ É LOUCO, MOON? 8 HMMM, OK. QUE MAIS? 10 ALGO MAIS? 10 PRELÚDIO: MANIAS 12 SEXTA/SÉTIMA SEMANA 14 ARTICULAÇÕES SIMBÓLICAS 16 SIMULACROS E SIMULAÇÃO 18 DIFERENÇA E REPETIÇÃO 20 E O QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO, MOON? 22 A CRÍTICA DO DESIGN 25 N DESIGN 27 E NASCE A ARQUITETURA DO DESIGN 30 O RESGATE DE TUDO QUE JÁ FOI ATÉ AGORA 31 A ARQUITETURA DO DESIGN 34 AS PALAVRAS E AS COISAS 35 CONFIE EM VOCÊ MESMO, E MIRE ALTO 38 CIÊNCIAS HUMANAS E O DESIGN 40 E O QUE APRENDEMOS COM AS PALAVRAS E AS COISAS? 42 AND MAY THE BEST WOMAN WIN 43 ansiedade 45 MULTIPLICIDADES 50 WRITING MACHINE 52 Bateu 54 16/11/2017 58 06/01/2018 62 Por fim, em 09/01/2018 65
O que achou? Um pouco melhor né? Eu não achei tão melhor assim mas se temos dois é sempre melhor do que um só. A minha vantagem é que conforme escrevermos no documento, esse índice vai se atualizando, o seu não. Mas eu gosto da ideia de ter um índice inicial, um índice de conteúdos, talvez. Me parece mais natural. E gosto que ele seja o mesmo – porque quando o escrevi não serei o mesmo de quando chegarmos ao final. Aí podemos comparar. [Por exemplo, agora eu estou numa reescrita e já não lembro mais o que significava aquela ordem doida] Enfim, você ainda deve estar se perguntando porque estamos escrevendo dessa forma, vamos explicar em forma de tópicos – ouvi dizer que vocês adoram tópicos: • Porque precisamos de diferentes perspectivas. Se for apenas um que escreve, não podemos discutir - muito menos argumentar - pois não existe choque de perspectivas. Nossa proposta é exatamente te proporcionar esse embate entre duas visões de mundo. Moondo kk; • Porque duas pessoas escrevem melhor do que uma; • Não somos loucos, apenas damos vozes às falas internas – falas múltiplas, imaginárias; falas pensantes, ideias que, mesmo que não atualizadas em seu devir-gênese (mesmo que não em seu jeito original), se atualizam e se perpetuam mutantes – para que nos coloquemos de corpo e alma neste projeto; • Porque sim, o relatório é nosso e fazemos o que quisermos com ele.
VOCÊ É LOUCO, MOON? Ê, ê, ê, ê, ê, Dona das divinas tetas Quero teu leite todo em minha alma Nada de leite mau para os caretas Mas eu também sei ser careta De perto, ninguém é normal Às vezes, segue em linha reta A vida, que é “meu bem, meu mal” (VELOSO, C. Vaca profana, 1986) Precisamos dizer mais? Explica mais um pouco. Ok. A resposta é: não sabemos. Como saber se alguém de fato é louco? Como dizer o que é a esquizofrenia, se nem ao menos sabemos o que seria ser normal ou são? Eu não sou normal. Nem de perto nem de longe. Nem eu e ele. Nunca quisemos isso para nós. Achamos que talvez vejamos coisas aonde os outros não veem. De estranho nada tem isso. Acho que tudo fica nebuloso nessas horas quando se pensa, de fato, no que é ser normal e o que é ser louco. Vamos discorrer. O louco foge dos padrões, ele quebra com convenções e sofre com isso. O louco é tachado, esculachado, nomeado, exonerado. O louco não tem vez num mundo sóbrio, muito menos voz. Silenciam tudo e qualquer fala que não faça sentido – embora saibamos que o sentido existe somente em quem percebe. Você sempre fala mais difícil. A ideia é que ninguém quer ser louco, mas a cada dia mais, muita gente cruza essa
linha entre sanidade e alforria. Não que um seja melhor que o outro, mas precisamos entender que, assim como eu e ele, todos somos vários, e nesse sentido, somos todos loucos bem como sóbrios. Somos momentos. E você brisa demais. Cala boca. Mas tem algo que vocês precisam saber sobre nós: é muito difícil de entendermos algo. MUITO DIFÍCIL. Eu frequentemente brinco que eu primeiro preciso entender a vida para depois fazer algo. E eu costumo dizer que eu sou burro até entender algo. E nessa onda de entender as coisas, partimos para o Design, tentamos gerar um entendimento sobre. E o que saiu disso foi um documento que enviamos para um professor de Design da UFPR para pedir opiniões. Ele esculachou a gente, mas foi ótimo porque agora tínhamos uma base para entender o Design através da filosofia. Adoramos filosofia, principalmente a contemporânea. Ela é abstrata, louca, complexa. Você não consegue dissociar uma coisa da outra. Nem nós conseguimos. Existe uma tendência em, para entender algo, entender este contexto imaginário – a quais conceitos isso se relaciona? Como podemos entender isso sob diferentes óticas? Como isso interage com outro conceito? Como, então, podemos aplicar isso, podendo entender como o acaso age sobre isso? essa bolha que envolve o assunto. E isso vale para o Design também. Eu li um livro chamado articulações simbólicas, e neste livro o autor tenta traçar um esboço do que seria uma filosofia do Design, trazendo bases lá de Nietzsche, Baudrillard, Deleuze, Bergson, e muitos outros autores bem loucos. Em resumo ele fala que o Design é uma articulação, mixagem, de símbolos e seus signos. Isso é
bem mais do que sempre imaginamos que o Design pudesse ser. E nesta busca ferrenha por entender o Design – que até então fazia sentido nenhum – nos encontramos buscando, na filosofia e sua interpretação de mundo, uma explicação para o que o Design pode ser. Mas voltaremos a isso depois. Tentando entender este contexto todo, não pudemos querer outra coisa que senão um TCC que refletisse essa necessidade de entender as coisas como elas são. Por isso resolvemos fazer um TCC sem fim. Não sem fim porque este ciclo precisa acabar para dar início a outro. Mas que, enquanto dure, seja eterno. Que, enquanto no gerúndio, ele seja o que sempre precisou ser. Nossa proposta é fazer um TCC cujo processo é o próprio final – o que o isenta de chegar a algum resultado ou conclusão – e que, quando terminar, vai ser uma duração, e não um momento inerte. Nossa proposta é de ler. Muito. E ver aonde chegamos. A partir do momento em que escrevemos este documento, estamos na semana 1 de 30 para a entrega do nosso TCC. Frisarei muito este ponto ao longo do processo. Essa tarefa fica contigo. Então em 15 semanas, será o nosso momento de definir um tema.
HMMM, OK. QUE MAIS? Vamos falar sobre o final de tudo isso? No momento em que escrevemos este texto, não fazemos a menor ideia de como será o final disso tudo. Então vamos falar sobre o que não sabemos. Que nada, a gente vai falar sobre o que sabemos, senão seria bizarro. Este TCC é fruto de muita coisa. Especificamente, quando se fala de tempo (contando o atual como o momento em que eu escrevi isso... queria que isso pudesse ficar rolando em tempo real) • • • • • •
165,283,200 segundos; 2,754,720 minutos; 45,912 horas; 1913 dias; 273 semanas and 2 dias; 524.11% de um ano comum (365 dias).
Mais especificamente desde que eu entrei na faculdade. Poderia ir longe e dizer que tem raízes quando eu nasci. Mas isso seria longe de mais. Entramos na UNESP no dia 26 de fevereiro de 2012. Vei, quanto tempo kkk Né? kkk Foram trajetórias diversas, as vezes desconexas, que nos levaram até aqui, neste momento. Desde organizações de eventos, intercâmbio, conversas, entidades de representação estudantil, reformulação do PPP do curso, enfim. E neste tempo nós matutamos muitas coisas, ao mesmo tempo que muitas delas ficaram em suspensão. Fomos meio que permeando esses caminhos que se abriam para nós e fomos navegando sobre o indefinido. Não nos ativemos a algum tipo de área de atuação – a não ser a de organização de eventos por algum motivo que nem sabemos hehe – porque
ainda não entendíamos o que era cada coisa. Ficamos apenas observando, analisando, decifrando. E neste processo longo, fomos percebendo que tínhamos muitas perguntas, demasiadas, e nenhuma resposta. O problema é que não eram perguntas simples, elas foram se acumulando e fomos deixando os pés de baobás crescerem, até que eles partiram nosso planeta ao meio. E de repente, saímos do Design. Procuramos, então, abrigo na filosofia, que nos recebeu de braços abertos. Sempre tivemos problema em entender as coisas e com o Design não foi diferente. Ainda não conseguimos entender ele de forma plena, como exercício prático e teórico. Ao que nos parece, ele está ainda se moldando, crescendo e incorporando conceitos e campos. E por isso que surge uma necessidade, nossa, de entender o Design. Por isso que este projeto não tem fim. Ele é apenas um começo de algo maior. Ele é a diferença entre nosso TCC e, talvez, nossa pós-graduação. E que ela também não terá um fim, mas um recomeço. Com tudo isso só conseguimos dizer que este TCC não tem fim porque nunca deveria ele ter um fim. Se o tem, deixa de ser ele mesmo para desaparecer no tempo. Vida longa ao TCC do Moon.
ALGO MAIS? Acho que não. Tudo o que tínhamos que te falar antes de começar você já leu. Declaramos aberta, então, esta tour do TCC. Aproveite.
Mentira, só uma coisinha a mais: abra os olhos. Sim, muito importante isso. Se tem algo que aprendemos neste processo todo foi exatamente o abrir dos olhos – e podemos mostrar como em 2011 já escrevíamos sobre o abrir e fechar dos olhos – e consequentemente novas formas de perceber o mundo. Sempre tivemos a vontade de conhecer o funcionamento de tudo, pois, pensamos, se pode mexer em tudo. Queremos sempre subverter as normas, queremos sempre estar à margem do correto e do linear. Queremos sempre ir pro lado mais difícil e bradar no fervor dos pulmões: OLHA E APRENDE. Aprender o que? Ah, sei lá, mas acho que as pessoas podem aprender uma coisa ou outra com a gente, talvez como fugir um pouco das coisas. Ou perceber que você pode ser mais de um, e articular este diálogo interno e diferençal é uma etapa muito complexa, deveras. Abrimos vários pares de olhos, abrimos, e abrimos, e abrimos, sem nunca fechar. Logicamente que piscamos, mas sempre queremos abrir mais olhos e ver as coisas de formas diferentes, ver que tudo se diferencia no mesmo e no outro. É muito interessante como alguém que não gostava de ler nada aparentemente sabe ler bem. Obrigado. Estava falando de nós. Otário.
PRELÚDIO
S A I N A M
É pedir perdão pra vida Ou cantar uma cantiga Olhar para as estrelas E pensar que lá não tem formigas E cá estamos nós na terra Sendo formigas de algo maior Divagando por aqui Até o momento de virar estrela Temos a mania de esquecer Que mesmo vendo formigas Ainda somos pequenos Ante a imensidão das estrelas Temos a mania de achar Que tudo acontece conosco Sendo que dentre a imensidão da terra Fomos nós que acontecemos Temos a mania de crer Que algo maior rege a todos Mas se assim fosse Seríamos todos violinos Temos a mania de pensar Não sobre o que importa Mas a ficar preocupados Com o que nem existe Temos a mania de ter manias E no meio de tantas Esquecemos de viver como formigas Que não sabem que estrelas existem Dentre tantas manias Nós esquecemos de ser formigas E nos intervalos de divagação Admirar as estrelas que um dia seremos
SEX T A SÉT / I M SEM A ANA
Ao momento que nos propomos de escrever isto, já estamos ao começo da sexta semana. É por isso que nos perguntamos: por que ficar tanto tempo sem escrever nada? Ora, isso é somente da nossa conta. Mas conte pelo menos algumas coisas…. Se der merda a culpa é sua. Ficamos lendo, e muito, e matutando ideias, e nos perdendo; até o ponto que escrever isso tentando traçar um resgate destas 5 semanas se torna difícil…. Anotamos, mas ainda assim é difícil resgatar da mesma forma que outrora foi. Então, nos contentamos em dizer que foi um bom começo. Não pelo simples fato de que começamos, e ainda não voltamos, mas pelo fato de que já sabemos muito mais do que esperávamos saber. E isso é incrível. Sinto que precisamos reforçar este ponto: precisamos nos dar feedbacks positivos, pois ao que nos parece, e aos nossos outros Eu’s também, sofremos com isso. O próprio fato de não termos um fim determinado para qual almejamos chegar, torna a repetição dos dias mais difícil. Parece que cada dia é mais monótono que o outro. Porque escrevemos, sim, mas não temos certeza se tudo o que falamos de fato faz sentido, não sabemos se estamos perdendo nosso tempo, ou ainda se estamos de fato loucos. Isso se chama ansiedade. Sofro menos com isso do que ele. Mas ainda assim não deixa de ser verdade. Resgatar 5 semanas no passado significa retroceder ao ponto em que a memória já se perdeu, e tudo o que restou foi a imagem dos acontecimentos. E a imagem do acontecimento final é ainda mais amedrontadora. Temos 25 semanas ainda para terminar este TCC. And may the best woman win.
Nunca sofremos de ansiedade, mas creio que seja muito importante falar sobre isso, pois foi este processo, ou a iminência dele que nos deixa ansiosos. E não apenas de forma que ficamos pensando sempre que o prazo se aproxima. Muito mais do que isso, pensamos todos os dias, e não apenas nisso. Existe muita coisa que o futuro me reserva e este processo apenas iniciou um ciclo de preocupações com quase tudo que ocorre em minha vida. Gostaríamos de poder dizer que isso não nos atrapalha. Mas é o pior dos empecilhos. Eu não consigo lembrar do que fiz, não consigo dormir em paz, meu corpo está tenso quase 24h por dia. E sem contar as diversas outras somatizações deste estado de consciência. Então sim, nós sofremos dos males da cabeça, talvez mais do que gostaríamos. E tentamos cada dia mais entender as raízes disso, porque senão o Baobá vai nos dividir ao meio (e a cisão do eu é senão a coisa mais perigosa de todas quando se fala em consciência). Perigosa porque não tem volta. E neste processo sofrido, vamos levando dia após dia. Não vamos mentir, este processo está sendo um dos momentos mais difíceis de nossas vidas. Não pelo fato de nos propormos algo extremamente complexo, mas pelo simples fato de estarmos perdidos e, no final das contas, não queremos nos achar. Mudamos tanto desde o começo deste processo – o contracampo se extende ao final de 2014, durante nosso intercâmbio, quando nos deparamos com a verdade nua e crua do Design: fomos para um curso de interação digital, e, como não manjávamos nada, nos perdemos. E ficamos perdidos desde então. Não conseguimos nos encontrar pois nunca tínhamos nos encontrado
antes na vida. É verdade, o intercâmbio foi um momento difícil também, pois nos vimos com uma crise depressiva muito forte – a ponto de não sair de casa ou tomar banho durante vários dias; sair da cama era a parte mais difícil do dia – o que nos fez repensar muitas coisas, e tentar nos achar, mas sem sucesso. Acho que nosso mérito está exatamente em não nos encontrar, mas vai levar tempo para todos nós entendermos tudo isso. Bom, acho que este adendo foi suficiente. Vamos falar então das conquistas, que tal? Pode ser, não vai mudar nada mesmo. Difícil dividir este texto se você continuar sempre assim… Bom, até o presente momento, já lemos alguns livros, dentre eles: - Articulações Simbólicas, Marcos Beccari; - Diferença e Repetição, Gilles Deleuze; - Simulacros e Simulação, Jean Baudrillard. E bom, poderíamos tentar falar sobre tudo o que aconteceu nesses livros, todos os ~conhecimentos científicos~ adquiridos, mas isso não interessa a vocês. Vocês não estão aqui para nos ouvir falar sobre coisas que vocês não entendem. Preguiçosos. Não se fala isso! Se eu quiser eu falo tudo o que quiser. Folgados sim, porque não buscam entender absolutamente nada sobre a prática conceitual do designer. Acham que Design é só. O que vocês acham sobre o potencial de vocês? Você como designer só consegue fazer estantes e decorá-las com vasos coloridos ilustrados? Me faça um favor.
Desculpem-nos, mas uma das propostas pelas quais falamos era de fato em propor esse diálogo contraditório. Eu queria falar isso. Já eu não. O que deixa tudo mais estranho é que é um diálogo de um corpo apenas. Mas vocês vão se acostumar. E digo mais: não, não vamos falar sobre o que o livro nos passou, ou muito menos o que aprendemos de conteúdo aplicado. Queremos falar pra vocês o que o livro nos abriu. A abertura para acontecimentos se dá sobre o livro, e não dentro dele: queremos falar sobre tudo o que eles nos impactaram, sobre como deixamos de ser um para sermos múltiplos.
ARTICULAÇÕES SIMBÓLICAS Este é o mais introdutório dos livros (e por isso um dos mais importantes): foi ele que nos deu uma margem para interpretar palavras para além das palavras. Depois de ler este livro percebemos que se quisermos entender outros, precisamos entender a linguagem, e isso envolve o vocabulário, por mais doído que seja. Foi este livro que nos abriu para o conceito de olhares, e como nossa perspectiva sobre as coisas diz muito mais do que imaginamos: elas limitam, e muito. Ao adotar uma perspectiva, não apenas adotamos uma visão de mundo, mas uma série de diretrizes pelas quais a realidade faz determinado sentido ou não. Não aprendemos que o Design é uma articulação simbólica – até porque quem não sabe disso (mesmo sem saber que sabe)? – mas sim que o Design é múltiplo, e um Design sempre será circunscrito por uma visão de mundo.
Mais ou menos isso daí: para se fazer Design, necessariamente precisamos ver sentido nas coisas, mas o problema entra aqui: geralmente adotamos apenas um tipo de sentido, e isto deixa o trabalho morto para novas interpretações, você solidifica o signo em um símbolo já interpretado, em algo pronto, você não envolve processo de repetições de interpretações. A graça do Design é articular mais de uma visão de mundo, e nesta intersecção das duas, surge a diferença: uma visão híbrida, que une dois aspectos, duas características, duas posições, e as mesclas (mas sem que suas identidades se percam nelas mesmas), dando origem assim a uma terceira visão que, por mais que seja maior que uma visão ou outra, não é maior do que as duas partes anteriores juntas: esta terceira, fruto da primeira e da segunda combinadas, apenas é uma das possibilidades de entrecruzamento de olhares. Por isso dissemos que nem uma nem outra parte se perdem, porque junto com estas três óticas, se dissolvem, num plano virtual, infinitas outras possibilidades de articulações. É aí que surge um bom Design: interpretações guiadas, e não esgotadas. Não fale coisas que você não sabe. Vamos deixar esse papo em standby por hora. Preciso escrever um artigo, e já que você não vai me ajudar, eu volto quando der. Bom, neste ponto então teremos a minha visão como predominante – até ele voltar e começar a criticar tudo. Continuando: defendo, sim, que um bom Design, além de ser coerente com sua finalidade, deve abrir margem para interpretação – que fique claro, aqui, o tamanho desta abertura: não será possível qualquer interpretação, como em uma obra de arte, mas sim um espectro de interpretações. Bom, você pode argumentar que toda imagem passará,
então, por este processo. E concordo, toda imagem é interpretada em tríade, porém, existe uma diferença entre interpretações deslocadas do contexto de criação e as alocadas nele. O senso-comum dita que quanto mais fiel ao contexto, menos interpretações possíveis surgirão. Também, não há motivo para crer que o Design, por evitar certos desdobramentos que lhe são inerentes em sua multiplicidade, acaba limitando e estriando o produto. Voltei. Falou bem cara, mas tenho algo a acrescentar: depois de escrever este artigo, percebi algumas coisinhas (depois se quiserem vou disponibilizar este artigo também na lista de links): o mundo em que vivemos é bizarramente louco. Conseguimos suportar uma tamanha complexidade com tanta naturalidade, que eu fico com medo. Isso quer dizer que ou somos muito evoluídos e portanto conseguimos lidar com a complexidade; ou muito pior, não temos ideia do quão complexo nosso sistema de símbolos, léxico, cognitivo, se tornou. Apenas alguns gatos pingados conseguem entender plenamente as coisas como elas são, e não nos incluímos nisso, embora sempre na busca. O que implica alguém não entender a complexidade das narrativas simbólicas que vivemos dia após dia? Que você não sabe diferenciar o que é certo e errado – até porque existem diversas óticas pelas quais você consegue analisar os fatos – e isso é um problema, porque as coisas acontecem, e num fluxo incessante, acontecem mais coisas. E não temos tempo de acompanhar. Vivemos em uma escala global, a tal ponto que (gosto desse exemplo) eu estava em tempo real, pelo twitter, acompanhando o golpe de estado na Turquia. E até mesmo naquele ponto eu não sabia se tudo
não passava de simulação, ou se de fato aquilo era um golpe. Existem tantas verdades veladas – e ao mesmo tempo nenhuma verdade – que não se distingue mais o que é e o que não é simulação. Se formos pensar que vivemos em rede, e que a internet é capaz de unir o globo em um ambiente virtual, nosso cérebro frita. Isso tudo que você está falando é novo, não sabia disso, ou que você tinha pensado nisso. Pois é, meio que surgiu enquanto eu digitava hehe Mas é bem isso cara, num contexto global, os acontecimentos se influenciam, e algumas pessoas conseguem acompanhar porque se dedicam a isso. E ao resto que não acompanha, sofre, se aliena cada vez mais. O que quero dizer por alienar? Ser ignorante, não saber do que se passa, e não querer saber, também, pois não há tempo hábil. Estamos com um grave problema de tempo e espaço na nossa geração. Não temos tempo para fazer tudo o que queremos, e nem espaço para fazer o que queremos – as festas de república são um exemplo: queremos nos isolar do resto do mundo, nos fechar em nossa bolha maravilhosa e utópica, para vivermos felizes. Mas o mundo fora da bolha não quer ser perturbado pela reverberação das ondas da caixa de som de nosso funk. É difícil explicar tudo isso porque é algo que também não me é muito claro, mas eu acho que nossa geração está enfrentando muitos problemas, e não sabemos lidar com isso a não ser que prestemos muita atenção e nos informemos, tentemos entender toda a complexidade que nos rodeia. Como você espera viver na contemporaneidade se não sabe o que são signos? E não falamos de astrologia.
Tem aquele documentário chamado “1,99, um supermercado de ideias”. Eu gosto muito dele e a cada vez mais eu percebo que ele é muito importante para entendermos como compramos signos, e de graça: ou ainda, compramos simulacros – que são signos que não mais referenciam o real, ou seja, não nos importamos mais com a distinção entre real e simulação: transitamos tanto entre os dois que praticamente se fundiram. Platão foi o grande criador do mundo das aparências, dizendo que era perigoso se afastar do real em detrimento do plano das representações. Hoje, contudo, não demos ouvido a ele e fomos full retard nisso. Vivemos num mundo dominado por representações cada vez mais complexas, não sabemos mais distinguir o real de sua aparência; e vivemos sob preceitos que não mais se manifestam no real, apenas no imaginário. É aí que cruzamos o limiar para uma era dos simulacros: quer comer? O que te dá fome? Um legume, saído da terra, orgânico, ou um Mc Donald’s? Qual simulacro é mais forte: um legume ou um Big Mac? Acho que a resposta é óbvia. Bom, viajamos e saímos um pouco do livro, mas era essa a premissa então tá tudo ok. Ainda bem que estamos escrevendo juntos, imagina escrever com alguém que quer se ater a objetivos? Eca. E este papo todo de simulacros nos leva a...
SIMULACROS E SIMULAÇÃO Este é o livro mais interessante que lemos (embora tenhamos lido diferença e repetição
antes, este fica para depois deste) pelo fato de nos abrir os olhos para exatamente o contexto do contemporâneo, (o que me faz querer ler cada vez mais os livros do Foucault, porque ele é o grande mestre das ideias) e nos fazer entender qual a importância do Design: se vivemos num mundo de símbolos e simulacros, é o designer o responsável por articular isto de uma maneira inteligível. Somos nós que ficamos responsáveis por traduzir o mundo, e retraduzir o mundo existente. Somos nós que estamos responsáveis por fazer com que teorias, práticas, acontecimentos, se traduzam de uma forma inteligível. Mas isso não é tarefa do jornalismo? E qual a diferença entre jornalismo e Design? Ambos articulam símbolos de maneira inteligível, ambos se utilizam da semiótica, ambos rearticulam nossa perspectiva de vida; a grande diferença é o meio: o jornalismo se utiliza do léxico verbal, já nós, designers, nos utilizamos de algo além; muito mais do que textos escritos, propomos textos sensíveis, visuais, sinestésicos. Somos nós os grandes capacitores de articulação diferencial – o que a semiótica chama de associação por similaridade – capazes de unir A a Z, e (re)fazer o alfabeto começar no J e terminar no I. Acho que o que mais me frustra é exatamente nossa ignorância quanto às nossas capacidades. Não sabemos do que um designer é capaz, pois não sabemos quais nossas competências ou atribuições, não sabemos como podemos fazer ou o que podemos fazer. E isso completamente natural. Ainda estamos explorando nossos limites. E tem um cara bem daora que fala que é quando atingimos o limite do nosso conhecimento que conseguimos produzir criativamente, é quando você não tem
mais certeza do que você está falando que as coisas começam a surgir inesperadamente. É pela ignorância (de certa forma) que podemos atingir novos patamares. Gostei dessa frase, quem falou? Deleuze. Vou pesquisar depois. E é bem isso mesmo. O potencial do designer está como a grande profissão do século XXI: conseguir fazer sentido do que nos cerca, conseguir apreender de forma lúdica, sensível, toda a gama de informações e articulações de visões de mundo pré-existentes. Nós somos máquinas de remix. Nossa, pera, deixa eu ver se entendi: você diz que nosso papel, hoje, enquanto designers, é traduzir e retraduzir o mundo? Sim. Mesma coisa que o Beccari disse. É verdade. Legal ter alguém que já falou o que você pensa, você se sente menos louco. Enfim, voltando pro livro: e nessa onda de símbolos que não mais referenciam o real, podemos entender que eles se auto-referenciam dentro de nossas cabeças, na nossa inteligência coletiva, e cada vez mais produzimos simulacros em cima de simulacros, nos distanciando cada vez mais do real, até, enfim, vivermos de forma cultural. Sim, existe esse paralelo com a cultura, como sendo o conjunto de símbolos (o símbolo é necessariamente produção cultural) criados e utilizados no nosso dia a dia cultural e social. De forma que a forma como Platão vivia e enxergava o mundo não mais se aplica aos dias de hoje: vivemos em função de um relógio atômico ou mecânico, e não de sol; ignoramos as estações ou os horários solares para fazer o que queremos; ignoramos nosso corpo e suas necessidades em prol do que queremos e necessitamos culturalmente. Estamos nos distanciando do nosso corpo, rumo ao hiper-
real que a cada vez é mais real. E a simulação está se tornando cada vez mais utilizada para diversos fins, desde entretenimento até terrorismo; ou seja, simulamos um mundo real, só que virtual; simulamos um atentado como fronte do terrorismo que pode vir – mas que não virá, e todos sabemos disso. Vivemos sobre iminências, sobre quase-coisas, sobre devires ausentes, o que vai se tornar real e o que vai fazer sentido. E isso altera sobremaneira o papel do designer: se vivemos na iminência de narrativas simbólicas, sendo elas traçadas desde jogos até grupos terroristas, cabe a nós diferenciar o que é iminente e o que é hiper-real; o que vai se tornar real (e resgatar sua referência com o nosso real) e o que vai se manter simulacro, negando eternamente o real. Não podemos mais viver em um mundo no qual ameaças são feitas em vazio; greves que não param absolutamente nada; num mundo em que damos mais valor ao que nossa cabeça percebe do que nossos sentidos recebem. Estamos ignorando nosso ambiente biológico em detrimento de nosso ambiente intelectual. E não sabemos até que ponto suportaremos isso. Vale frisar que isso é apenas o começo de um raciocínio, e não uma verdade. Capaz que esse resgate seja sofrido demais e com mais perdas do que seguirmos em frente. O resgate pode não mais fazer sentido numa nova fase da consciência hiper-real. Estamos, aqui, apenas conversando para ver o que sai desse diálogo – que está se mostrando bem frutífero. Pensando bem, podemos resgatar o real por um hiper-real: simular o real em todas suas partes para que não exista mais distinção entre o real e o não-real (Matrix).
DIFERENÇA E REPETIÇÃO E por fim damos um salto para o livro do Deleuze, que é o mais complexo de todos, pois ele traz um resgate e uma quebra do paradigma positivista que se perpetuou até hoje. Nele, aprendemos que a diferença é ruim, e que nela se mostra apenas a incongruência, subtração, diminuição de uma parte pela outra. De forma matemática: 5-3=2. O que podemos aferir disso? Que tirando 3 partes de 5 sobram apenas duas. Contudo, é exatamente o contrário: nunca subtrairemos o 5 pelo 3, mas sim percebemos que dentro do 5 e dentro do 3 existem três partes cada; e que dessa união, existe uma diferença: o 5 possui duas partes a mais, e portanto, na união do 5 com o 3, o dois se inaugura como uma nova categoria positiva, e não negativa: dentro do 5 existe uma diferença em relação ao 3, e esta diferença é 2. Vamos tentar usar a linguagem das palavras agora pra ver se faz mais sentido: a diferença determina, e sempre determinará. Podemos apenas aferir coisas baseando-nos na diferença, seja ela entre duas coisas ou por uma outra categoria: a diferença do mesmo no mesmo. Comparando duas partes, é bem capaz que se tome o conceito negativo da diferença como predominante: ou seja, um menos o outro é algo, e esse algo é o resultado do aniquilamento das partes anteriores. Ignoramos o símbolo de igualdade, que mostra a equivalência de um com o outro, ou seja, 5-3 e 2 são a mesma coisa. Desde então, compreendemos a operação como um conjunto em si, e que dentro deste conjunto, a diferençação das partes produz uma diferença. Bom, agora demos duas definições diferentes para o que se pode entender por diferença, como
pensamos na repetição? É, nesse caso acho que não conseguiremos fugir de explicar os conceitos – até porque são conceitos complexos e você precisa entender se quiser acompanhar ¯\_(ツ)_/¯ . E a partir das diferenças, esclarecidas elas, perguntamo-nos: como se dão? Ora, a dica está no título: as diferenças se implicam nos processos de repetição. E o que são os processos de repetição? Os diferentes acontecimentos que se sucedem na duração. Epa epa epa, calma lá: acontecimentos, por si, como o próprio termo diz, é algo que acontece num território e numa duração, mas o que isso implica? Local, tempo, forma, sucessão, as partes. Um acontecimento é complexo, e, ainda assim, indeterminado, pois está sujeito ao acaso. Dessa forma, se distingue as duas partes dos acontecimentos: o acaso, fator de indeterminação, e a diferença, fator de determinação. Tudo o que puder ser determinado, o será, então, pela diferença; e indeterminado, portanto, pelo acaso. Isso evidencia as duas grandes forças do acontecimento. Contudo, a repetição é por si a sucessão de acontecimentos, e sua constante determinação e indeterminação. Isto significa que, ao mesmo tempo que é a repetição que implica a diferença, é no acontecimento que ela se dá; podemos categorizar desde uma operação matemática até mesmo uma reunião. Cabe deduzir então a duração de um acontecimento, pois, precisamos saber disso para prosseguir. O problema é que não sabemos, então, vamos improvisar: qual é a menor duração que conhecemos? Um instante, que dura o suficiente para sabermos que este instante já passou, e que outro lhe sucedeu. E qual o maior? O todo, a duração do universo ou
seja lá o que possa ter vindo antes. Esta grande variação nos permite conceber a duração de um acontecimento; contudo, se somos nós que atribuímos a qualidade de fenômeno ao evento, portanto, somos também nós que propomos a duração do acontecimento. Isso até que faz sentido. Logo, uma repetição pode se dar de instante a instante, da contração à expansão do universo e seus big bangs; enfim, o tempo mostra-se completamente variável, não cabível de análise no momento. Propomos então que a própria sucessão é por nós determinada, ao identificar padrões na repetição – ou mesmo as diferenças. Deduzimos que a diferença se dá no acontecimento mas só se evidencia na sucessão, pelos movimentos internos, então. Daí, tiramos que o acontecimento promove uma diferenciação, enquanto a repetição promove uma diferençação. É neste ponto que Deleuze promove as sínteses do tempo – quisera nós entendermos isso no momento em que lemos; mas tudo bem, podemos sempre voltar. Wow, vamos lá, bastante coisa, muita brisa junto çocorr. Acho que eu consigo continuar: A diferençação se dá dentro do acontecimento, pelas partes que compõem o todo, o conjunto – e que por si nunca deixam de ser partes para ser todo – e a diferenciação se dá por conjuntos, ou seja comparação entre os acontecimentos. Será que o local influencia, também? Cremos que não porque ele se alia à diferença do acontecimento nele mesmo. A volta do mesmo nele mesmo só se dá pela repetição, essa é a magia. Então, voltemos ao tempo: se comparamos o mesmo nele mesmo, só o fazemos pela repetição do mesmo. Se comparamos o mesmo pelo outro, podemos faze-lo no próprio acontecimento, emergindo das partes. E, se comparamos o
mesmo nele mesmo, fora da repetição, o que temos? A análise das partes constituintes – pois inevitavelmente todo acontecimento é um conjunto – que se diferençam nelas mesmas, ou seja, por mais que as partes se distinguam delas mesmas, elas ainda são partes, portadoras de propriedades comuns. Podemos falar então das escalas da diferença e como é o nosso olhar que determina a diferença que se instaura, ou seja, lhe dá os parâmetros para dizer algo. Por isso que Deleuze afirma que a maior diferença é a de gênero: comparar um cão a um eletrodoméstico é uma comparação absurda – mas a contradição é então a diferença em seu maior grau, quase no limite do paradoxo. Podemos aqui brisar no paradoxo? Claro, só nós estamos escrevendo, acho pertinente dar asas à imaginação hehehe Vamos lá então: buscando a definição de paradoxo, temos que ele é uma contradição lógica, uma antítese das partes dentro do todo. Este, sim, é o maior grau da diferença: tomemos como exemplo o paradoxo de Russel: todo quantidade mensurável de coisas constitui um conjunto. Se pensarmos então num conjunto que compreenda a todos os conjuntos que não compreendem a si mesmos, estaremos diante do seguinte paradoxo: o conjunto de todos os conjuntos se contém? Pois se não o conter ele não será o conjunto de todos os conjuntos, mas ao mesmo tempo se o conter, contraria a própria regra. Pra ser sincero eu nem lembro aonde queria chegar com tudo isso. Foi você que quis brisar. Eu também não lembro, pra ser sincero tbm kk Ahh, acho que lembrei: como analisamos a questão das partes constituintes, se o acontecimento, contendo todos os conjuntos de acontecimentos a que ele se refere, não
refere a si mesmo? Para isso entra a repetição: para compreender como conjunto todos os acontecimentos, que por si compreendem outros acontecimentos – até formar uma fractal. Porém, conterá a repetição ela mesma em seu conjunto? Estranhamente, sim. Ela compreende ela mesma no processo interno de diferença: multiplicidades. Essa é a magia do tempo decorrido. Nossa, você foi longe agora, não sei se entendi isso daí. Bom, esperamos que alguém possa entender, porque se foi escrito, tinha algum sentido. Continuando: pra falar sobre partes e todo, também, Deleuze fala de rizomas. Mas acho que sobre isso podemos falar mais pra frente.
E O QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO, MOON? Vish, tanta coisa. Nem me fale kkk. No momento pensamos sobre nosso mestrado, mas isso pode se desenrolar mais pro final do relatório. Pensamos no final do processo, logicamente. Não somos de ferro haha. No momento pensamos sobre o que vai resultar de tudo isso – pois é parte do processo pensar no fim também, não somos tão radicais assim. Pensamos já em como fazer para que o processo seja parte do resultado também. E escrevemos bastante sobre muita coisa que lemos e pensamos. Achamos que isso é bem legal. Bem legal kk E bom, disso pode sair dois materiais, que pensamos que seria nosso ideal: A crítica do Design – referenciar qualquer autor que fale sobre teoria do Design será negado. Queremos desenvolver um livro que faça análises, que proponha problemáticas
inerentes ao Design sem necessitar de uma teoria já formulada; Neo-Design – a ideia é analisar o contemporâneo para propor novas formas de pensar e fazer Design, ou seja, não o Design do futuro ou algo pretencioso, mas um apontamento, dentro do que estudamos, que seria interessante e demonstra tudo que conseguimos pensar de ideal. E conjuntamente a isso tudo aqueles materiais que já falamos no começo. Estes dois livros entrariam para a monografia, como duas partes do mesmo estudo reflexivo. E o que mais? Acho que podemos tentar falar sobre como faremos o livro? É uma boa. Primeiramente vale falar sobre uma crítica à academia; pretendemos produzir um conteúdo que não se concentrará num entendimento de todos os conceitos, de todas as referências; não se comprovará nada do que diremos. Apenas diremos, e cabe a você acreditar ser verdade ou não. Pretendemos falar sobre como você pode entender: te daremos visões de mundo, e não partes do mundo. Não queremos te impregnar com mais simulacros, queremos quebrar com a ordem pré-estabelecida, com a aceitação natural, para promover uma reflexão e consequente crítica, para que você pense sobre o Design da forma como te expomos ele. Queremos te trazer de volta ao real. Acho que ainda por cima precisamos capacitar você a conseguir reproduzir estas visões de mundo, esta ótica da qual faremos uso. Nossa missão principal é a reflexão. E queremos mostrar que não é somente através dos moldes engessados da ciência que se faz conhecimento: também se faz através dos lirismos e discursos poéticos.
Isso significa produzir discursos que permitam mais de uma interpretação; que a informação surja da interpretação múltipla e não da única interpretação possível – no caso admitida, resposta dada. Queremos provar que os conhecimentos, as diferentes visões de mundo se complementam de forma sempre por n-1. Os benefícios não estão em uma ou outra, mas na alternância entre elas, a adequação de cada visão ao acontecimento correspondente. Queremos propor que o conhecimento seja construído e reconstruído a cada leitura. Que a mesma frase tenha mais de um sentido, ou até mesmo nenhum. Não queremos estriar os discursos de produção de conhecimento, de silenciar vozes, muito menos de priorizar uma em detrimento de outra. Enfim, o nosso foco é nos diferentes níveis de entendimento que você poderá ter, conforme as repetições da leitura se realizarem. Isso é saber projetar pela diferença: implicar a repetição no processo. Isto significa, portanto, fazer algo diferente. Produzir um material diferente. Queremos escrever um livro de filosofia do Design, com imagens, com textos líricos, metáforas. Queremos poder falar as coisas óbvias que você já sabia, mas não tinha palavras para expressar. Queremos, por fim, revolucionar a produção textual de Design. Temos que entender que não formamos cientistas, técnicos, lógicas exatas; formamos designers, articuladores, cujo grande diferencial é a capacidade de propor associações diferenciadas. Não podemos limitar estes discursos a uma concordância à uma tal verdade. Significa ter ciência de que ao mesmo tempo em que expressa um pensamento, acompanha uma visão de mundo implicada. E escolhendo essa visão, escolhemos essa forma
de passar. Propomos então inaugurar algo como uma escrita criativa, uma forma de pensamento extra-corpóreo, baseado na articulação léxica que se promove na composição de um texto, aliadas às imagens que temos em nossa mente. Wow, isso é interessante. Queremos então propor uma forma do designer expressar as imagens através de palavras: tradução de linguagens em movimento, a proposta de ir pensando enquanto se escreve, e que este pensamento vá se interligando na medida que as conexões são feitas num nível quase inconsciente. Este escrever dinâmico e intuitivo é uma proposta de expor o pensamento criativo que reprimimos nas articulações diárias, os vetos de sentido que propomos aos pensamentos que confinamos, ditos incoerentes com um sistema de valores ou que possuem teor de fuga. Boto fé. Quando a gente começa? Logo menos.
A C I T Í R C A O D N G I S E D
Bom, como falamos, nossa proposta da crítica do Design está levemente mais sólida do que antes (estamos na semana 8 agora). Vamos reler estes últimos parágrafos para ver se entendemos o que está mais pra cima pra não falar merda. Já ia falar merda. Eu também. Vamos retroceder um pouco no manifesto de semana passada. Não queremos apenas vomitar palavras e esperar que elas estejam maravilhosas e finalizadas. Sabemos que precisamos pelo menos de um toque de sanidade, adequar o conteúdo ao público – não escrevemos sempre aos loucos. Mas Moon, vocês acham que é realmente necessário tudo isso que vocês estão escrevendo? As pessoas vão querer ler tudo isso? Vocês não estão perdendo seu tempo? Talvez, bem provavelmente, até mais do que gostaríamos. Mas não fazemos isso para os outros. Queremos nos conhecer, evidenciar a multiplicidade de Eus que habitam nosso corpo. Estamos loucos, sim, pois acreditamos na multiplicidade. Mas sãos, pois sabemos defender nosso ponto bem – e convencer os outros. Dessa forma, pretendemos transformar este material num grande compilado de devaneios acerca do Design como o conhecemos. Mas sob qual ótica analisaremos o Design, então? Primeiramente, de forma sã e devagar, abriremos o leque dos seis eixos para uma filosofia do Design. Os eixos do Beccari, da Padovani e do Portugal serão bem úteis para poder falar em categorias abrangentes como podemos encarar o Design. Como podemos enxergá-lo em suas diferentes facetas. Beccari em seu livro fala que não se deu ao trabalho de estabelecer uma crítica com base em seus postulados. Pois bem, que o tentemos então.
Abriremos seu leque para as possibilidades que habitam o Design, analisando o contexto, mesmo que local, de ensino, praxis, logos e juízo do Design. Então temos 6 eixos e 4 áreas, sendoos, respectivamente: - Eixo Design e Linguagem: Gramática Visual; particularidades do modo de significação icônico; sistemas de significação de objetos e imagens; retórica no design e na publicidade; - Eixo Design e Sensibilidades: Percepção da beleza; apreciação sensível de afetos e imagens; afetos envolvidos na criação; experiência estética; - Eixo Design e Valores: Bases morais das orientações projetuais; estatuto moral dos bens materiais; relações entre tecnologia e moralidade; - Eixo Design e Conhecimento: Modos de conhecer do designer; relações entre o saber científico e o saber específico do design; relações entre intuição e conhecimento no âmbito de processos criativos; - Eixo Design e Realidade: Formas de encarar a realidade; questões sobre os sentidos do ser e os diferentes modos de ser; a possibilidade de interpretar e intervir na realidade por meio do design; - Eixo Design e Cultura: Desenvolvimento cultural de regimes e percepção; fronteiras culturalmente estabelecidas entre design e arte; o projeto do design em práticas culturais de produção e consumo.
- Área do Pensamento/Logos: Forma como pensamos Design; a teoria e o processo cognitivo que orienta a prática do design; corpo teórico definido como essencial à atividade de um designer; - Área da Prática/Praxis: Atividade prática do Design estabelecida como uso de conhecimentos específicos do design; campo de atuação atribuído a um designer; - Área da Juízo/Judicius: A maneira como julgamos o design, estabelecendo critérios para avaliar um bom ou um mal Design; a forma como interpretamos e apreendemos produtos em design; - Área do Ensino/Mimesis: A forma como ensinamos ou explicamos design; processos de aprendizado em design, metodologias; a forma como concebemos e entendemos o design; Olha só, usando enumerações até parece que sabemos do que estamos falando kkk Bom, por hora vamos só falar isso, depois voltamos.
N DESIGN Hoje sou eu que vou dominar esta parte do relatório. No N não podemos manter a sanidade o tempo todo e por isso eu venho falar sobre a diferença que se impregna através do estudo da própria diferença. Eu percebi que toda a argumentação a respeito da realidade e das formas como o subjetivo pode moldar nosso agir e pensar que eu construí lendo filosofia me está sendo a melhor arma para esta empreitada. Eu tive o insight de que o Design é a prática da filosofia. Pensou que ia se ver livre de mim? Você pensou em falar sobre algo complexo e cá
estou. Ambos sabemos que eu explico melhor essas coisas. Convencido. O Design seria a práxis do pensamento, o ato filosófico (o pensar) se reverbera de diversas formas, sendo uma delas a expressão cultural, subjetiva e única: o design. Não explicou bem kkk Minha vez: fazer design intrinsicamente implica pensar design. E o que seria pensar Design? Desvendar as formas como interpretamos a realidade – hermenêutica – e brincar a partir disso: como propor uma nova forma de interpretar todo o nosso entorno? Como poder pensar o design como a forma de reestruturar o mundo imaginário ao nosso redor? Como podemos acreditar que o design é a forma como nos situamos no mundo? Como pensar, portanto, que o mero ato de pensar – e isso implica nos situarmos no mundo através do processo de significação de tudo que nos cerca – é por excelência design? Como dizer aos viciados da prática que para ser designer você precisa pensar, muito antes e muito mais do que fazer? Como podemos encarar as ferramentas que utilizamos? Como formas de tradução: linguagem pensamento -> linguagem sensível – por isso a necessidade de se estudar estética dentro de uma filosofia do design – e que esse ato de pensar é a porta de materialização das virtualidades que habitam nossas cabeças. Cada dia mais eu penso que eu devo inserir a teoria dos memes em meu trabalho. Eu acho que por mais que esta teoria seja refutada cientificamente, nós devemos usa-la – e principalmente por ser refutada na academia é que torna ela tão atraente: linguagem lírica, linguagem híbrida, psicologia-biologia-semiótica, dar vida aos conceitos, e, finalmente, conferir ânima às palavras. É isso que Susan Blackmore fez: através de uma licença poética, ela conferiu
vontade e vida própria aos memes – então unidades culturais que se desenvolvem em nossa cabeça e que, nesta mutação, se replicam em outras cabeças; e o melhor meme é o que se replica com maior sucesso, assim como os genes. E a parte mais interessante é entender o pressuposto dos Temes: replicantes tecnológicos que se replicam em ambientes virtuais, em constantes atualizações – que num futuro distópico pode evoluir para uma consciência externa ao corpo: independência dos memes. Eu penso que as palavras se transformam e adquirem novos significados a todos os momentos. É inevitável pensar que a todo momento, a cada ressituação no mundo, ressignificamos muitos de nossos conceitos, nossos memes se aniquilam e dão origem a outros novos. E neste processo louco de geração de ideias, a boca é a porta de atualização: a replicação, portanto. E qual é o papel do designer nesta coisa louca de replicação de memes? Somos articuladores, propomos ligações, conexões e, portanto, somos lubrificantes de replicação. O designer pode ter a função de massificar ideias através de nossas produções. Isso implica em solidificar memes em algo concreto, criação de símbolos. A partir desta criação, conseguimos perpetuar memes e, podemos crer que um bom designer lança tendência. O designer é o professional dos memes. Bom, agora que você já falou sobre essas piras doidas, é a minha vez de falar o que eu vim falar antes que acabe o tempo: acreditamos piamente no fato de que a filosofia é o arsenal criativo do designer. Não são através das ferramentas que se cria, mas sim pelas palavras, pelos pensamentos, pela recombinação de memes em nossa cabeça. E eu acho que quanto mais memes temos, quanto mais conhecimento
adquirimos, mais chance, mais liberdade damos às nossas ideias para se reproduzirem e recombinarem. Achamos que o designer não deve investir seu tempo em tendências, em reprodução de memes: o trabalho é outro, e completamente diferente, pois, é o de articular criativamente. Mas Blackmore acha que os memes se recombinam ao seu bel-prazer, de forma que não temos controle. Eu concordo, pois os insights foram o que nos guiaram até aqui. E de forma alguma controlamos como ou quando eles se deram. Mas eu acho que temos que pensar por outro lado também, que através de nossas perguntas estipulamos métodos de seleção memética dentro de nosso memeplex: quando propomos um problema, uma questão, inevitavelmente pensamos em uma solução. E se deixarmos esta solução para aquém, para o que não controlamos, reside aí o potencial criativo combinado ao acaso: perdemos o controle de nossos pensamentos, e, deixando-os livres, temos o ímpeto de restringí-los. E, neste ato, podamos a árvore de um lado, mas ela cresce de outro, e sempre assim. E que através destas perguntas, dimensionemos esta criação. Logo, penso que através de perguntas podemos impor regras evolutivas ao nosso conhecimento. Proponho, aqui, então, não um designer que foca em solucionar problemas, mas sim um que proponha perguntas que possibilitem soluções criativas. O papel do designer, novamente, está na proposta de guiar o pensamento através de perguntas, uma plataforma criativa dentro de nosso memeplex: nós estaremos, assim, tomando controle de nossos memes. Estaremos guiando como ele se articulam, de que forma podemos combiná-los. A capacidade criativa diferencial não se dá por soluções, mas pelos próprios problemas levantados.
Assim: ao invés de pensar que a solução para algo é x, proponho que o método se dê na forma de perguntas que, com base em x, tome um caminho diferencial: através de quais perguntas podemos encontrar x como solução? E elencando estas perguntas, podemos pensar em quais outras soluções se adequam ou se equivalem à x. E neste processo reverso de transformar solução em problema, o designer se vê adentrando um novo espaço: o das hipóteses. Este espaço é dominado pelas imagens e pelas palavras. Assim, percebemos que a capacidade criativa reside novamente no potencial filosófico do designer, e não no seu diferencial técnico. Porém, aliando os dois mundos, proponho: a técnica pode se repetir neste mesmo processo de reversão. Só que o adaptando: através da técnica, como podemos pensar em uma reversão à hipótese? Se a hipótese por si é imaginativa, como podemos reverter a técnica, a práxis ao pensamento? Não seria uma proposta simples pois teria de se pensar em uma abstração, uma aplicabilidade múltipla, seria preciso transformar o ato em virtual, virtualizar a ação. Ou seja, transformar a práxis em pensamento: transformar a repetição, a sucessão, a atualização e a materialização em devir. Precisa-se transformar a ação em um conjunto de pensamentos auto-referenciais: tornar a ação não em pensamento, mas em ficção, transformar o ato em sequência imaginária. Para isso recorre-se aos devires, de forma que a atualização possa ser reversível. Precisa-se resgatar as possibilidades, precisamos resgatar o que poderia ser, retroceder o tempo para o pré. Precisamos usar nossa imaginação para que o ato ainda seja virtual, e para tal, resgatar suas multiplicidades
em detrimento do que ele realmente é. Precisamos abdicar do presente e retroceder a nossa capacidade imaginativa, pensar o que poderia ser. Dessa forma, proponho a seguinte ordem: Solução <-> Problema <-> Hipóteses (centro) <-> Ferramentas <-> Criação. E através destas relações reversíveis podemos pensar num processo do Design em 5 etapas: - Solucionar: a qualidade do que é virtual, a possibilidade que cumpre requisitos de existência imaginária. A solução é aplicável, portanto, transforma multiplicidades em singularidades; - Problematizar: resgatar multiplicidades, ou seja, poder pensar no que poderia ser. Abrir mão do sensível em detrimento do que é possível; - Hipotetizar: processo central que visa articular ideias e pensamentos para criar realidades e entender a existência dos devires; - Ferramentar: atualizar os devires. Ferramentar é pensar nas possibilidades e meios de se atualizar certo pensamento ou hipótese, ou seja, conseguir materializar uma lógica imaginativa em lógica sensível; - Criar: criar o significado do processo, poder pensar nas formas que o sensível pode rearticular as proposições presentes e subverter lógicas pré-existentes. Nota póstuma: abandonamos este esquema reversível, que nos aparenta ser falho, em detrimento de uma proposta de separar estes processos e deixar que as conexões se façam livremente.
E agora, algumas anotações que fiz durante palestras no N Design: Na hora de construir o esqueleto, traçar o contexto e explicar a etimologia de Design, meio que um glossário. Contextualizar o leitor sobre o tipo de abordagem a ser feita. Será prudente pensar em um Design pós-estruturalista? Dica: Reflexo na sua etimologia envolve o conceito de dobra – explorar isto dentro de deleuze Dark Design como produção cultural derivada de nosso zeitgeist: estamos numa necessidade de parar de iludir, de retratar a vida pelo belo, queremos uma retratação que nos traga conforto – e que o conforto venha de nossa desilusão e nossa descrença nas virtudes.
E NASCE A ARQUITETURA DO DESIGN Bom, houve um hiato em nossos pensamentos desde que voltamos do N. Muita coisa aconteceu e não escrevemos nada, pois bem. Desde que voltamos do N estivemos trabalhando no esqueleto de nosso livro, o qual batizamos (dentre muitos outros nomes) de A Arquitetura do Design. Então tomamos como base os 6 eixos do Beccari e fundimos eles às 4 áreas que elaboramos para conseguir propor uma trama normativa plausível para a academia. Separamos os capítulos então de forma a introduzir, explicando o universo ao qual trabalharemos, depois adentramos para as 4 áreas que postulamos, sendo a ordem delas o pensamento, a prática, o julgamento e
o ensino, para enfim concluir com um capítulo de conclusões, enfim, a tese de toda nossa pesquisa insana. Isso surgiu numa imersão intensa, a qual durou aproximadamente 5 horas. Resolvi fazer isso em papel e caneta para desacelerar o pensamento. Eu achei melhor escrevermos pelo computador mesmo e depois íamos podando. Mas em conversa com o Marcel, ele mencionou a necessidade de cautela. Quem diria que eu cuidei disso antes mesmo dele falar. Parabéns ein! Enfim, voltando ao que realmente interessa: estruturamos então os subcapítulos e quais conteúdos poderiam ser trabalhados. Conseguimos colocar bastante coisa, e foi bem difícil conseguir ligar tudo de uma maneira harmônica, de forma que os conteúdos fossem se construindo de uma forma lúdica, a fim de construir uma trama que, ao capítulo 6, tudo se amarre. Depois disso nós transcrevemos em um documento no computador para preencher os tópicos com mais conteúdo, e tentar estruturar a ordem dos fatores. Ainda está bem raso, esperamos conseguir preencher estas lacunas de maneira exemplar, pois esta tese precisa ser extremamente concisa a ponto de ser sedimentada como o início de uma análise subjetiva do Design. Depois de preencher com o máximo de informações que conseguimos, levamos para uma conversa com o Dorival para explicar toda a proposta pra ele e ver se ele se interessava ou dizia se nós conseguiríamos terminar a tempo, pois o conteúdo é extenso. E depois de expor tudo, ele nos deu o aval pra começar a escrever. Não foi um aval, foi quase um estou ciente, depois me conta o que deu. E como se um peso tivesse sido tirado de nossos ombros,
ficamos mais leves, e pensamos: precisamos de um tempinho de férias. Finalmente nós tiramos 3 dias de férias sem fazer absolutamente nada, apenas aproveitando e cuidando da ansiedade. Pensamos muito bem e conseguimos achar maneiras pelas quais é possível controlar nossos sintomas de ansiedade pela respiração e consciência corporal. E a cada vez que relemos o que escrevemos, ou pensamos sobre o que podemos falar, ou sobre o que conseguimos ligar ao conteúdo, nos surpreendemos. De verdade, acho que mandamos muito bem nisso, porque não estamos falando abobrinhas, muito menos falando sobre coisas que não se conectam de fato. Nós lemos e entendemos, e pessoas leram, e entenderam, e nos disseram que reflete quem nós somos. E ficamos muito felizes com isso. Podemos dizer que sentimos confiança no que estamos fazendo agora, e a todo momento ficamos pensando sobre como categorizar o que estamos fazendo, e durante a escrita, surgiu a necessidade: precisamos inaugurar a análise subjetiva do Design. E não por meios objetivos da psiké, ou da psicanálise ou qualquer estudo quantitativo. Defendemos, e explicaremos com unhas e dentes, que existe uma grande confusão quando se fala sobre o Design por situar ambos, ou como subjetivo, ou como objetivo: se é subjetivo é arte, se é objetivo é engenharia. E nesta dicotomia, nos perdemos do real propósito do Design (ou como defendemos): propor as articulações, a forma de pensar por similitudes. Foucault fala no prefácio de “As Palavras E As Coisas” que o pensamento, a articulação, ou então a proposta de unir conhecimentos por similitude deriva toda a positividade de nosso pensamento. E isso nos
fez pensar sobre a diferença e a negatividade: de qual forma o mundo objetivo se apresenta para nós? Apenas por diferenças, negatividades. De fato, nada se assemelha a nada a não ser sobre o campo subjetivo da significação, a tábua. Então esta tábua subjetiva é a origem da positividade, e a ausência da tábua a origem de toda negatividade. Será possível propor pares subjetivo/positivo–objetivo/negativo? Porque se podermos pensar dessa forma, nossa visão do Design vai mudar e muito quando se pensa nas articulações e nas similitudes ainda a serem estudadas. Hehe. E o momento ao qual voltamos a falar com vocês é exatamente para dizer que nossas férias acabaram, e, portanto devemos iniciar uma nova parte deste relatório, mas não sem antes dizer algumas coisas: queremos falar brevemente sobre o processo até agora.
O RESGATE DE TUDO O QUE JÁ FOI ATÉ AGORA Bom, podemos começar falando sobre nossas considerações até agora? Estamos quase chegando na metade do processo de 30 semanas e achamos pertinente fazer algumas considerações parciais sobre este processo e como ele já nos modificou de tal forma que nem se quisermos conseguimos voltar ao que éramos. E interessantemente, são considerações que nem nós esperávamos dar. Bom, vamos começar falando sobre como, até agora, nos sentimos em relação a este projeto. Posso começar? Pode. Eu achei difícil demais conseguir organizar tantos
pensamentos assim, ainda mais com uma proposta tão bizarramente diferente. Nunca esperaria que nosso TCC seria dessa forma, teórico, referenciando Foucault, Deleuze, Baudrillard, entre outros filósofos. E que nós falaríamos sobre design sem sequer referenciar um livro sobre Design (a não ser o do Beccari, mas aquilo tá um pouco além do Design). Que nossa proposta seria a de estabelecer as bases de entendimento que criamos ao longo do curso para entender a coisa mais simples que poderíamos querer: o próprio Design. Que nessa empreitada que começou lá durante o N Ovo e sua concepção em 2015, que todos os nossos questionamentos sobre o que era Design teriam frutos mais complexos do que jamais esperaríamos de nós mesmos. Eu acho que penso parecido, mas acho que não poderíamos esperar algo de nós sabendo como somos. Indecisos, curiosos, cansamos rápido das coisas depois que elas viram monótonas. Me surpreende que conseguimos vir até aqui sem parar ou desistir. Não porque não conseguiríamos, mas porque foi mais fácil do que imaginava. [Ok, relendo isso no dia 05/01/2017 retiramos o que dissemos: não foi fácil.] Tudo o que faltava para uma proposta ser executada e levada a processo de atualização era simplesmente uma coisa: conceber esta ideia como a ideia. Que bastou apenas falarmos para as pessoas que nosso TCC não tinha forma nem fim, e que nosso começo era múltiplo. Isso foi algo que demoramos para entender: que para se começar em um processo rizomático, não se pode ter apenas um ponto de partida, precisamos reduzir isto: precisávamos ter uma trama inicial, apenas isso. Descrevemos isso no prólogo como olhar pra baixo e ver aonde nos situávamos, antes
de ver para onde queríamos ir. Realmente, o fato de não gostarmos de ler livros, ou de ter pouca confiança nas coisas que falávamos nos deram muita insegurança. Ou de que não tínhamos capacidade de escrever um livro conciso – pois um livro tem muito mais conteúdo que um texto ou um artigo no medium. E também toda a ideia de querer fazer um TCC escrito, e que isso implica carreira acadêmica – que de fato queremos, mas porque queremos continuar pesquisando isso, mas consome um tempo gigante, e para isso seria necessária uma bolsa para nos mantermos enquanto estudarmos. À parte disso, vamos falar sobre como mudamos nesse meio tempo? Acho bem legal. Bom, tentando resumir muita coisa em poucas palavras: mudamos, e muito. Nesse ponto acho que não podemos falar separados, pois nestes pontos estivemos sujeitos às mesmas vivências. Concordo. Vamos alternar então e vamos nos complementando. Aprendemos muito sobre como as coisas funcionam, não somente falando sobre filosofia, mas muito também sobre a vida. Conhecemos o Beccari, entendemos as vontades dele, conversamos com ele, falamos sobre a nossa proposta e sobre diversas coisas que pensávamos. E ficamos um pouco tristes com o decorrer dos acontecimentos, muito porque esperávamos outras coisas. Mas o culpado somos nós. E aprendemos como falar com as pessoas, como expor conhecimentos e ideias complexas de uma forma que todas as pessoas entendam, e isso geralmente se dá por imagens (portanto brincamos com os significados e não com o campo, pois evidenciar a tábua é certo de tornar difícil a compreensão, então unimos símbolos e transmitimos a ideia por meio de outras, e não por elas mesmas).
Aprendemos a domar nossa ansiedade, pois desde então tivemos pouquíssimas crises e isso é ótimo. Como aquelas que já ocorreram, nunca mais, ainda bem. Aprendemos a lidar com nós mesmos, e ainda estamos no processo de aceitar nossa multiplicidade, pois se aprendemos algo sobre nós mesmos é que a mudança é algo que ainda não dominamos, infelizmente. E por fim acho que aprendemos a pensar, e aprendemos que certas coisas não acontecem por acaso. Cremos que as coisas ocorrem e cabe a nós ter o olhar para ver nas entrelinhas e agir por lá, ocultos. Esta é a beleza de se estar abaixo da superfície: seus movimentos são camuflados, mascarados. Não porque somos invisíveis, mas indecifráveis. E bom, não queremos nos delongar muito sobre o que podemos dizer, pois certas coisas não merecem ser ditas – pois a beleza é na ideia pensada e não proferida – e porque não vemos a necessidade de evidenciá-las. Acho que nosso resgate não pretende ir muito além do processo. Mas acho que uma lição valiosa que aprendemos foi a confiar mais em nós mesmos. [Falso, ainda estamos aprendendo isso]. Pois o cronograma que fizemos foi amplamente aceito e pessoas elogiaram nossa organização, algo que achávamos ser péssimo. Elogiaram nosso tema, com a proposta de que nunca houve um TCC em filosofia (pelo menos em tempos recentes). Outra coisa que podemos tirar disso é que estamos num caminho difícil e tortuoso. É bem difícil conseguir falar sobre o que nós queremos, e na maneira como nós queremos. Então nós nos pedimos: força. Nós conseguimos cumprir com o que nos propusemos, e acreditamos que isto tudo vai dar resultado. Talvez não tão logo ou da maneira que podemos esperar,
mas que ele vai reverberar, vai. Isto tudo é muito diferente de tudo o que já fizemos. E talvez de tudo o que os outros já fizeram. Achamos que estamos sabendo trabalhar pela diferença antes de trabalhar por semelhanças. Estamos sendo muito ousados, e esperamos não pagar caro por isso. E bom, no mais apenas esclarecemos que isto não é para você, leitor, e sim para nós mesmos. Queremos deixar este recado pra que nos lembremos de que devemos prosseguir. E não devemos duvidar de nossas forças. Não mostramos motivos para que duvidemos, a não ser a falta de segurança. Lhe pedimos, Moon, que não se deixe levar por estes pensamentos. Não sabemos ao certo se isso tudo vai valer a pena, mas sabemos que você deve continuar e com força, porque se o nosso não der certo, abrimos pelo menos o precedente pelo qual as pessoas poderão pensar sobre o que escrevemos.
A
RQ A U D I O TE D T ES U R IG A N
Bom, é aqui que vamos começar de fato, então, a escrever sobre o que realmente queremos, mas isso só vai começar depois de lermos as palavras e as coisas. Pois, se queremos propor uma arqueologia do Design (porém em fenômeno de superfície, ou seja, apenas um mapeamento dos campos de escavação) devemos primeiro entender o que o mestre da arqueologia entendeu sobre isso dentro das ciências humanas. E bom, são 400 páginas de conteúdo extremamente denso. Estamos agora na segunda feira, primeiro dia da semana 12. Temos então mais 18 semanas para terminar tudo isto, então podemos tentar nos dar... 3 semanas ou 4 para terminar de ler esse livro? Será que conseguimos?
AS PALAVRAS E AS COISAS Caracas, esse livro é bem tenso. Ele pega em pontos bem abstratos e difíceis de imaginar. Então a compreensão não é tão fácil quanto parece. Ele fala sobre como a relação das palavras em uma sintaxe se estrutura por similitudes. Por enquanto é isso que nós entendemos. E, bom, a proposta dele é de conseguir entender o que se estrutura nos intermédios entre as palavras e as coisas, ou seja, o que se dá entre a palavra proferida e a coisa existente? De que forma conseguimos associar o nome ao objeto, e elaborar sintaxes a partir disto? É meio que semiótica, mas um pouco diferente. Então ele propõe que essas associações sejam por similitudes, ou seja, semelhanças entre as coisas. Porém eu creio que ele já deu a entender que este não é o único
caminho – contemporâneo de Deleuze como era, impossível ignorar toda a discussão envolvendo a diferença existente entre duas coisas. Volta: então ligamos as coisas por associação, seja ela por semelhança ou diferença. E para isso ele propõe quatro tipos de similitudes: - Convenientia: “A convenientia é uma semelhança ligada ao espaço na forma da ‘aproximação gradativa’. É da ordem da conjunção e do ajustamento. Por isso pertence menos às próprias coisas que ao mundo onde elas se encontram. O mundo é a ‘conveniência’ universal das coisas” (FOUCAULT, pp. 34-35); - Aemulatio: “uma espécie de conveniência, mas que fosse liberada da lei do lugar e atuasse, imóvel, na distância. Um pouco como se a conveniência espacial tivesse sido rompida e os elos da cadeia, desatados, reproduzissem seus círculos longe uns dos outros, segundo uma semelhança sem contato. Há na emulação algo do reflexo e do espelho: por ela, as coisas dispersas através do mundo se correspondem” (ibid, p. 35); - Analogias: “Velho conceito, familiar já a ciência grega e ao pensamento medieval, mas cujo uso se tornou provavelmente diferente. Nossa analogia superpõe convenientia e aemulatio. Como esta, assegura o maravilhoso afrontamento das semelhanças através do espaço; mas fala, como aquela, de ajustamentos, de liames e de juntura. Seu poder é imenso, pois as similitudes que executa não são aquelas visíveis, maciças, das próprias coisas; basta serem as semelhanças mais sutis das relações. Assim alijada, pode tramar, a partir de um mesmo ponto, um número indefinido de parentescos. “(ibid, p. 37);
- Simpatias: “Nela, nenhum caminho é de antemão determinado, nenhuma distância é suposta, nenhum encadeamento prescrito. A simpatia atua em estado livre nas profundezas do mundo. Em um instante percorre os espaços mais vastos: do planeta ao homem que ela rege, a simpatia desaba de longe como o raio; ela pode nascer, ao contrário, de um só contato – como essas ‘rosas fúnebres que servirão num funeral’, que, pela simples vizinhança com a morte, tornam ‘triste e agonizante’ toda pessoa que respira seu perfume.” (ibid, p. 39). E bom, temos muito a explorar sobre isso no nosso projeto. Precisamos saber essas coisas para conseguir elaborar nosso conceito de maneira plena. Talvez seja uma tentativa de elevar o Design a uma esfera além de sua compreensão, mas ditos nesta área podem incitar novos questionamentos. O que queremos realmente é conseguir propor um apontamento para onde se encontra uma possibilidade de desenvolver um novo projeto de Design, com a possibilidade de tornar um processo do conhecimento necessária para a própria filosofia. Se eu conseguir cumprir com o que nos propomos, pretendemos tentar aproximar o design da filosofia, mas não como o Beccari tentou. Queremos tomar um novo rumo, aproximando o Design de cada vez mais coisas. Queremos unir subjetivo e objetivo, queremos unir pensamento e prática, queremos unir juízo e ensino. Queremos propor um conceito a partir do qual podemos elaborar uma miríade de novas hipóteses. Bom, mas chega de devanear. Depois de ler mais um pouco estamos meio confusos sobre o propósito ao certo do livro. Encontramos abrigo nas similitudes, mas o que Foucault conseguiu fazer foi algo semelhante
ao que nós almejamos – o que torna tudo isso ainda mais impossível kkk. Resgatando o histórico dos grandes saberes da humanidade – não queremos fazer isso com o Design ainda pois estamos focando no contemporâneo: de forma quase empírica no campo do Design, mas epistemológica no das ciências humanas. Atitude que pode aproximar o Design destas e afastar das artes? – ele consegue traçar os eixos que permeiam a grande alma dos saberes: a linguagem. Ele traça e aponta “erros” e “acertos” de forma a apresentar o caminho pelo qual o saber se construiu até o presente, para enfim atingir o nível de uma nova ciência. Enfim, ele traça as estruturas do saber que se delinearam na história, de tal forma que é possível quebrar as grandes partes em pequenas e investigar pela linguagem, numa dobra, ela mesma. É este retorno da linguagem sobre ela mesma que possibilita o saber. Assim, vamos um pouco mais a fundo. Nossa proposta, então, é trazer essa mesma genealogia (ou será que partimos para uma geologia?) para o Design, dobrando-o sobre ele mesmo. Primeiramente, para se entender isso, há de explicar certas coisas: o que enxergamos como Design e por fim o que pretendemos realizar com esta dobra. Enxergamos o design como a capacidade dedicada das similitudes. Acreditamos que o exercício do pensamento em Design se dá exclusivamente pela assimilação de conceitos, técnicas e símbolos. É uma atividade de costurar as partes na maior colcha de retalhos. Assim sendo, a dobra do Design nele mesmo é simplesmente o ato de assimilar as assimilações. É de tentar provocar questionamentos ao processo de articulação que o Design promove a fim de traçar as estruturas que se permeiam por entre os topos conceituais e os fósseis que se
recobrem e remexem nas fendas das linguagens utilizadas. Portanto, o designer é o professional, antes criativo, assimilativo. E para tal nos utilizaremos de embasamento em diferentes áreas do saber, desde das ciências humanas, até a teoria dos memes.
É isso que entendemos por enquanto. Os conceitos de gramática são ótimos, o resgate do mercantilismo e das riquezas igualmente, mas não é exatamente o que estávamos procurando. Imaginamos que existem muitas outras coisas a serem ditas que possam nos ser úteis. Este é o grande problema com nossa proposta: ela é cega. Precisamos tatear todos os cantos de todas as áreas para poder dizer onde está o que nos interessa e o que podemos simplesmente anotar e passar adiante.
CONFIE EM VOCÊ MESMO, E MIRE ALTO Essa parte é uma nota póstuma de nós para nós mesmos: confia, Rodrigo. Achamos que havia necessidade de nos lembrarmos que o que estamos fazendo é algo interessante, bom e fundamental. O que estamos passando é natural, essa ideia de descrença no trabalho. Todos temos isso. E mais do que isso, estamos indo por caminhos novos, diferentes e inseguros. Então é bem normal que nos sintamos confusos, sem chão ou duvidosos de nós mesmos. Eu entendo isso. Eu também. E podemos ter certeza de que todo este trabalho não será em vão. Conseguiremos encontrar um fim pródigo, conseguiremos terminar em tempo, e por fim, conseguiremos cumprir com nossos objetivos. Quase certeza que quando terminarmos e apresentarmos, vai ser incrível. Além de satisfeito e aliviado, nos sentiremos com o dever cumprido. Você vai ver. Bom, vamos falar de coisa boa, vamos agradecer em três momentos, a três ensinamentos diferentes:
Ao Pedrinho: agradecemos a você por um simples conselho: não mire em seus pares, mire naquela pessoa que você sempre vai querer ser, aquela lá longe. Isso fez com que nós progredíssemos incrivelmente. Talvez pela falta de pares – por estarmos em um meio de pesquisa que as poucas pessoas com as quais eu consegui ter contato me levaram a perceber que o que nós queríamos não estava sequer perto do que vimos nos outros – não tivemos outra opção que senão mirar em Deleuze. Queríamos metas longínquas e utópicas. Estendemos nossos desejos ao infinito e fomos tateando metro a metro o caminho até chegar aonde chegamos – que ainda não está nem perto de onde queremos. E bom, nossas metas foram então esquizofrênicas: Foucault, Deleuze, Guattari, Flusser, Levy, Baudrillard; e todos eles na filosofia. Percebemos assim que saímos do âmbito do Design, mas para reatar as pontas no final – afinal, não é assim que funcionam os melhores filmes? Pretendemos voltar ao Design, porém, dessa vez, sob uma outra perspectiva. Vamos exemplificar nesse desenho aqui embaixo. E agradecemos a você, Pedrinho, porque você nos mostrou que é possível construir o próprio caminho, quando isto é o que é necessário para chegar se quer chegar. Porque sem esse insight, seria praticamente impossível estar aonde e como estamos. Então obrigado por ter dado a brasa para que todo este processo tenha sido possível, pois estamos ralando muito. Para quem não gostava de ler livros e muito menos aprender o que as figuras da história nos ensinam, até que nos demos bem;
Ao Vitinho: obrigado por nos ter acalmado naquele dia depois de uma assembleia na qual eu fui rechaçado. Eu estava completamente fragilizado e, sem saber o que pensar, já tinha me aventurado em cantos obscuros da mente. Você me trouxe de volta com suas palavras. Não lembramos qual era sua mensagem, mas isso não importa. Apenas te agradecemos porque isso nos deu a força para resistir quando os outros tentaram nos desprovar. Por algum motivo bizarro, temos este ponto fraco. Com essa ideia pudemos nos fortalecer por dentro a ponto de conseguir rebater ideias contraditórias, de explicar com clareza, de poder expressar de fato o caos que age em nossa mente. Isso nos mostrou que em certos momentos precisamos de cordas que nos puxem de volta para a realidade sensível. Para que não caiamos na falácia de pensar sobre o pensamento em infinitos ciclos. Você, além de tudo, pode nos oferecer meios, ideias, inspirações. Sua visão de mundo é intrigante, é diferente e inovadora; é algo que nós sempre admiramos. Então acho que inevitavelmente te admiramos. Obrigado por estar presente em nossas vidas dessa forma que nenhuma outra pessoa conseguiu;
Ao Dox: você tem um espaço aqui também não porque você me ajudou da forma como os outros dois ajudaram. Não. Você foi fundamental de uma forma como você jamais poderia imaginar. Você é o enigma, você é o quebracabeças em forma animada. Você é de cabo a rabo indecifrável – um exímio semiótico. Você oferece todas as pistas e deixa para que os outros conectem os pontos. E achamos que fomos um dos poucos que foram ligando os pontos incessantemente ao longo destes 6 anos de curso. Confessamos que fomos negligentes no começo, não soubemos aproveitar de forma ‘acadêmica’ o que você podia oferecer como professor. Mas fomos livres, e você não nos restringiu. Acho que é por isso que lhe agradecemos, por ter supervisionado o voo, tendo certeza de que eu não cairia. Bom, por enquanto ainda estamos subindo, e se temos como materializar a alma do movimento, escolhemos você como símbolo. Não há necessidade de salientar todas as vezes em que uma conversa com você nos fez mudar de rumo. Incontáveis vezes, mas, dentre todas elas, uma é necessária: o estruturalismo. Você nos apresentou a esse conceito e explicou brevemente. Como poderia o produto deste processo se chamar assim se não fosse por você? Como poderia a proposta de traçar as estruturas de uma nova concepção de Design se não fosse por essa vez que conversamos, durante uma aula que nem era nossa? No ambiente mais impróprio? Sabemos muito bem ignorar muitas coisas. E de certo, se há alguém mais próprio para receber em mãos o fardo da gênese deste, é você. Obrigado por ser louco.
Bom, agradecendo nominalmente a vocês, retornamos à nossa programação normal. Deixamos claros que estes agradecimentos foram pertinentes ao relatório pelo momento dado, e não por vontade de agradecer, porque não somos assim. Poderá perceber que no produto temos zero agradecimentos nominais, mas estes, por enquanto os são requeridos – quem sabe por uma síncope nervosa não abastamos os nomes em detrimento de um anonimato? Quase o fizemos, mas é bom que a quem endereçamos os agradecimentos saibam que somos gratos. E bom, o motivo de fato deste momento é simplesmente um levantamento de moral, de nós para nós mesmos. Se nos questionar, explicamos: isto faz parte crucial do processo, dizer os motivos que nos impulsionaram a conseguir fazer o que estamos fazendo. Está sendo algo dificílimo, mas que está trazendo resultados nunca antes imaginados. Estamos passando por processos de mudanças estruturais nós mesmos. Conforme descobrimos coisas, nossas visões de mundo mudam, e consequentemente nossa forma de encarar a realidade e nossa rotina. Houveram impactos bons e ruins, e de certo não podemos dizer se até agora as coisas estão melhores ou piores, mas podemos garantir que mudamos completamente de quem éramos em 2012, ou 2014, ou 2016. Sabe-se lá em qual versão estamos, mas é uma bem interessante.
CIÊNCIAS HUMANAS E O DESIGN Estávamos nós pensando sobre várias coisas, quando nos deparamos com todo o processo de construção até agora, simbolizado pela seguinte frase de um post-it: “Design como atividade mediadora entre imaginário e sensível // tradução”. E fiquei eu pensando sobre o que li em Foucault, sobre a tradução e a representação das coisas. Pensamento vai, pensamento vem e pensamos no contexto de ‘As palavras e as Coisas’, da fundação das ciências humanas. E as fundações para um Design, até onde podem ser traçadas? Se o pensamos como linguagem, evidentemente o próprio estudo do Foucault oferece as bases para isso: na dobra da linguagem sobre ela mesma, inaugurando o homem nas fundações do conhecimento. É no conhecimento que surgem as condições de gênese do Design, oferecendo a quebra de todos os liames entre as áreas; pelo processo histórico de organização humana através das palavras, conseguiu-se um afastamento do ser da linguagem – isolamos o sujeito para tratar das coisas como elas são, ou, ainda, para tratar do sujeito sem a referência ao objeto. Nosso ponto é que o Design só se inaugura como conhecimento a partir do momento que o homem possui todas as estruturas pelas quais sustentamos aquele. O Design possui, dessa maneira, pilares sem os quais os conceitos, as relações e toda a dinâmica de conexões ruiriam. Dessa forma, percebeu-se fundamental buscar no nascimento das ciências do ser uma forma de entender, através dos pilares do conhecimento, como o Design se situa enquanto processo linguístico.
Nossa, por que fiquei tanto tempo sem falar? O ponto central seria que, achamos, entendemos o porquê de lermos esse livro – sim, não tínhamos ideia do porque isto seria interessante, ou ainda, pensamos que este processo seria parecido, mas diferente em conteúdo, para qualquer das possibilidades, pois não estávamos fechados às propostas. Precisamos entender o centro da epistemê do homem – risos, nem sei bem o que isso quer dizer – contemporâneo a fim de entender e alocar o Design dentro dos limites que ele se propõe. Assim, é bem simples nossa proposta: resgatar no conhecimento as estruturas do saber e aliar a um pensamento filosófico e imagético, retratar de forma sucinta e simples toda a existência estrutural do conceito do Design. Ok, nem toda TODA, mas buscamos sim tentar trazer o máximo de raízes aos nossos discursos, porque não queremos nos ater a casos específicos ou em salientar as diferenças, mas, estranhamente, queremos mapear o plano e salientar as similaridades pelas quais o processo em Design se fundamenta – não ao longo do tempo, mas como se apresenta superficialmente. Dessa forma foi importantíssimo a apresentação do conceito de arqueologia para nós. Entendemos que podemos nos ater aos acontecimentos de superfície para, em uma busca arqueológica, ou seja, subterrânea, profunda e estrutural, fazer emergir os liames e as barras de metal que unem o complexo sistema do Design.
Acho que eu falo com imagens e você com palavras. Capaz. Por isso que nos completamos bem. Outra coisa que anotamos aqui em baixo, e deixaremos as anotações para que vocês vejam elas na íntegra – kkk – é que precisamos defender o momento que fazemos nossa proposta: situar nossa superfície em 2017. Isso é importantíssimo para que possamos entender a razão da superficialidade. Não nos interessa a arqueologia da história, como fez Foucault, para convencer aos acadêmicos do que falava, era de fato, real. Não vemos necessidade de fazer isso agora, pois achamos que isso já foi feito e que nos falta somente a referência, mas isso é coisa pouca. Sim, cremos que nossas articulações são muito mais pertinentes do que o resgate histórico em busca das estruturas. Achamos que isto é possível através da linguagem e pela análise pontual de certos acontecimentos, como a multiplicidade dos exercícios e técnicas segmentadas que existem sob o termo Design. Diferença de geração, de posicionamento perante o mundo (moderno ou contemporâneo) e de situação em relação aos outros. Positivismo impulsionando a crença nas máquinas e um esquecimento do humano. Human after all. Necessidade de situar o projeto em 2017, de forma que o resgate histórico não é o foco – por isso se apoiar em foucault – e sim em propor uma nova visão sobre o Design Inserir o REDESIGN aqui no relatório
E O QUE APRENDEMOS COM AS PALAVRAS E AS COISAS? Podemos resumir de forma bem simples e sutil:
É verdade que a essas questões eu não sei responder, nem, entre essas alternativas, qual termo conviria escolher. Sequer adivinho se poderia jamais responder a elas ou se um dia me virão razões para me determinar. Todavia, sei agora por que é que, como todo o mundo, eu as posso formular a mim próprio – e que não as posso deixar de formular. Somente aqueles que não sabem ler se espantarão de que eu o tenha aprendido mais claramente em Cuvier, em Bopp, em Ricardo, do que em Kant ou Hegel. (FOUCAULT, 1992. p. 323)
AND MAY THE BEST WOMAN WIN
Por fim, na madrugada do dia 25-26/08 começamos a escrever o que, por fim, esperamos, se torne nosso querido livro – ok, o primeiro capítulo já estava escrito. É difícil colocar expectativas a esta altura, muito mais tentar trazer de forma resumida sensações as quais não dominamos. Mas podemos dizer algumas coisas que vêm à cabeça de forma crua. Deixa comigo. Bem interessante a proposta de estabelecer um conteúdo e tentar seguir essa proposta quilométrica que será escrever o que nos propusemos, ainda mais no tempo ao qual estipulamos. E ainda queremos fazer ilustrações (ou convidar ilustradores) e diagramas pra representar muito bem tudo que seja necessário. Enfim, estamos sofrendo um pouco com nossa escrita porque estamos com muito medo de o que falarmos não condizer com o que de fato é. Ou seja, não queremos escrever abobrinha. Estamos com medo de falar merda, essa é a verdade. Poxa, gostei de ver. Não espere muito mais porque foi um lapso. E isso é algo com o que nunca tínhamos nos preocupado. Bom, cremos que não podemos deixar isso nos barrar, é pra isso que eu precisarei da ajuda de muitas pessoas, inclusive a banca, para revisar todo este material ao qual precisaremos de vários olhares atentos. Bom, agora vamos inaugurar um próximo sub-capítulo porque não podemos ficar falando muito sobre nada num tópico geral de capítulo. A mensagem é curta: estamos nos propondo a fazer algo muito difícil, e agora temos noção disso. Que Deus tenha piedade de nossas almas.
Ah, e percebemos que os nossos textos do médium guardam muito mais potencial do que imaginávamos. Falamos coisas antes mesmo de saber se faziam sentido. Basta olhar as datas de publicação dos textos que eu posso lhe dizer qual livro líamos no momento. Olha o link aqui.
desejamos.
ansiedade Esse tópico surgiu momentaneamente. Não pela primeira vez que tentamos escrever, pois, é senão a 5ª. Não sei como já foram relatados nos outros TCC prévios ao nosso a questão da ansiedade, e se podemos realmente dizer, a depressão também. Sentimos necessidade mais agora do que nunca, pois enquanto tentávamos ler Caosmose, do Guattari, algo aconteceu. Começamos a tremer, e não era de frio, de fome, nem dor. Era algo que não sabemos explicar, surgiu, e não foi embora. Apesar de ser tudo o que desejamos; já fazem 9 meses que começamos nosso processo de TCC, apesar de não termos contabilizado, retrocedemos até mais ou menos janeiro (pois hoje é 03/09), e podemos contar que desde então sofremos com depressão, e a ansiedade foi surgindo aos poucos e dominando cada vez mais o espaço de nossa cabeça. Não sabemos se você, leitor, já sofreu com isso. Não dizemos sentir pena por isso, pois, de certo, nenhuma experiência com isso há de ser prazerosa. Todo este tempo, tudo o que desejamos é que pare. E como
Pensamos em procurar terapia, mas quando nos demos conta já era tarde demais e algo dentro nos diz para não ir. Relutar é sempre mais fácil do que perseguir uma solução, principalmente quando o problema é invisível. Bom, sabemos que nossa geração sofre incessantemente com isso, e queremos saber o porquê em algum momento, porque queremos evitar isso ao máximo. Escrever isso nos deixa um pouco mais calmos, mas ainda assim, existe algo lá dentro apertando o coração. E como se não bastasse invadir nossos pensamentos, tomou conta de nosso corpo. Perdemos essa luta há tempos, mas a guerra continua até o último golpe. E esperamos que sejamos nós quem o faça. Cabe detalhar, sim, passo a passo de uma mente que sofre com estes problemas. Eu serei a ansiedade. Eu serei a depressão. Eu começo porque ela veio antes. Percebemos que deixamos de ser o garoto alegre que sempre fomos quando estávamos em intercâmbio. Cremos que foi durante aquele inverno, logo no começo, que tudo sucumbiu. Nossas estruturas foram pegas de surpresa e de repente estávamos contaminados. Ter depressão não é fácil, muito menos reconhecer que a temos. Este processo é tão distante que não compensa entrar em detalhes, então vamos falar somente o que pensamos: que não conseguiremos. Desde o começo deste projeto, uma voz alta e clara compete com nossos pensamentos dizendo que esta tentativa é em vão. Sim, perder nosso tempo com isso não resultará em nada. Não, nada que você possa fazer vai mudar isso. Sim, vamos perder essa guerra. É bizarro o quão idiota parece falar isso, porque em voz alta, lendo, como se outra pessoa
tivesse escrito ou dito, parece tão distante de nossa realidade. Temos dificuldade em acordar, comer, tomar banho; todas as tarefas parecem um parto, sofrido e longo demais. Não é fácil acordar sabendo que seu dia será uma merda. Desculpe a palavra. Eu também vou falar, não se preocupe, somente continue a nadar. E de fato, este foi nosso lema nos últimos meses. É intrigante pensar que por fora não demonstramos isso, e jamais demonstraremos. Queremos nos enganar, nos olharmos no espelho com um sorriso no rosto, mesmo que tudo por dentro esteja ruindo. Jamais estaremos tristes, pois um peixe triste não nada, chora. Acordar sabendo que não teremos apetite para almoçar, vontade de ler ou de escrever, que teremos que tomar doses cavalares de café para ter força de vontade. E esse mesmo café acaba não deixando nos concentrarmos, por conta da ansiedade. Tudo isso é uma merda, mas não vemos isso como motivo para desistir. Pois sabemos que a vida é difícil, e que se não passarmos por isso agora, passaremos no futuro.
É como catapora, quanto mais novo, menos pior. E uma autoestima quase inexistente. Sim, de fato, crer que conseguiremos fazer algo parece impossível. Sair de casa para nos divertirmos parece impossível. Porque não conseguimos ficar felizes sem estar ansiosos ou tristes por dentro. Temos que tomar vários minutos, às vezes horas, para conversar com nós mesmos, a fim de eventualmente conseguir nos convencer a fazer algo. Intrigantemente nunca choramos. Já tentamos diversas vezes, porque a angústia no peito nunca some. Chorar seria tão mais fácil, quem sabe as coisas não melhoram? Mas não, estamos presos num corpo que nada sente a não ser desprazer, tristeza, incompetência, ódio com nós mesmos por estarmos nesta situação. Sabemos que estamos num momento decisivo de nossas vidas, e que precisamos nos dedicar ao máximo para conseguir realizar o que nos propusemos. Temos essa pressão sobre nós mesmos, pois, se não houvesse, já teríamos desistido faz tempo. É apenas essa visão do todo que nos mantém nadando. E ao mesmo tempo é exatamente essa pressão que nos trouxe toda nossa ansiedade. Tivemos uma crise em novembro de 2016, e novamente outra em fevereiro deste ano. Duas crises foram o suficiente para crer que estávamos com ansiedade. E talvez com hipocondria – somatizamos tanto os sintomas de ansiedade, e prestamos tanta atenção ao nosso corpo que não podemos mais nos esquivar de pensamentos sobre batimentos cardíacos, postura ereta, tensão muscular. Criamos uma autoconsciência corporal extremamente
destrutiva. Bom, vamos tentar de uma forma bem descritiva contar o que sentimos, porque precisamos nos fazer ouvidos pelo bloco em branco da tela. Isso aparentemente nos traz certa calma. Começamos a escrever sobre isso pois finalmente conseguimos expor aos nossos pais nossa preocupação. Nosso medo é acabar ficando loucos sem percebermos. Nos questionamos diversas vezes desde janeiro se somos altistas, possuímos algum tipo de distúrbio, porque nosso processo foi esquizofrênico, caótico, e ainda assim estamos aqui, vivos, e continuando a nadar. Ser ansioso é, ao mesmo tempo que tentamos ler, tomar banho, comer, ou qualquer tipo de atividade, ter dificuldade de concentrar naquilo porque prestamos atenção em nossa respiração, se nossas costas estão tensionadas, se nossa cabeça está perpendicular ao chão; enfim, temos que lidar com neuroses psicossomáticas 24h por dia. Raros momentos em que realmente estamos imersos no que estamos fazendo nos trazem paz de espírito. Temos insônia ao mesmo tempo que estamos completamente exauridos mentalmente e corporalmente. É literalmente bizarro o quanto isso é destrutivo. Não conseguimos engordar, muito menos temos fome. Temos que monitorar o relógio para comer a cada 3 horas mais ou menos. Porque só teremos fome depois de um dia sem comer – já fizemos esse teste. Exercícios físicos ficam mais difíceis porque não sabemos lidar com nossa pulsação. Estamos numa neurose tão profunda que não sabemos mais o que é normal e o que é além do normal. [Pausa para contar a segunda crise, a pior: ficamos 5 horas sentados em estado de transe. Ficamos 5 horas crendo piamente que iríamos morrer. Estar em um hospital não nos trouxe
conforto algum, pelo contrário, nos trouxe um riso trágico de morrer em um hospital. Ficamos 5 horas monitorando nosso coração, achando que ele iria pular para fora de nossa boca. Isso tudo começou enquanto esperávamos um ônibus para voltar da UNESP para casa. E que ainda por cima não conseguíamos falar claramente, porque estávamos tão aflitos e crentes da morte que nem nos esforçávamos para falar alto. E não conseguíamos prestar atenção no que nosso amigo falava ao nosso lado. Pedimos para que parasse de falar porque não estávamos bem. No dia seguinte ligamos para nossos pais e contamos o que aconteceu. Estávamos sem chão algum. Só sabíamos que precisávamos de um porto seguro. Apenas isso. Voltamos pra programação normal.] Perdemos completamente o controle de nosso corpo, não sabemos mais o que está certo ou errado, se devemos sentir isso ou aquilo, e nesse ímpeto de sentir as coisas, sempre achamos estar errados. Culpa da depressão. E nesse ciclo sem fim, só conseguimos pensar que nosso corpo está definhando lentamente a ponto de no final desse processo de TCC, só sobrará o pó da rabiola. Talvez estejamos sendo um pouco
exagerados, mas é isso que sentimos. Não estamos pensando para escolher as palavras, elas só vêm. E nesta falta de concentração, e o prazo se aproximando, e tudo acontecendo, nos faz só querer parar e chorar. Mas novamente, não conseguimos chorar. Nem se quisermos. E tudo que nos sobra é medir esforços diariamente para ficarmos em paz com nós mesmos e enfim conseguir superar isso. Mas nesse processo tudo fica mais difícil porque temos que nos dedicar 100% do tempo ao nosso TCC, porque teremos que escrever tanta coisa em tão pouco tempo que isso nos deixa cada vez mais ansiosos. Sabemos que somos competentes e sempre damos um jeito nas coisas. Sempre demos. Daremos dessa vez também. Apenas achamos que cabia um relato verídico aqui, porque nosso relatório não vai falar somente dos pontos bons e esclarecedores. Queremos falar disso, porque dentre todos os empecilhos que tivemos até hoje, em toda nossa vida, esse foi o maior, de longe. Precisamos de terapia. Mas precisamos de cabeça pra conseguir frequentar a terapia e nos dedicar a isso. Porque grande parte da terapia acontece fora da clínica. Sabemos disso. Um amigo nos disse que pelo fato de termos noção de muitas coisas que acontecem, seja em nosso corpo, nosso entorno ou no mundo, e o simples fato de nos preocuparmos com isso, é motivo suficiente para ficarmos loucos. De fato, paramos de acompanhar a política internacional, porque certo dia quase tivemos uma crise vendo Globo
News. Que mundo vivemos? Bom, achamos que isso cumpre com nossa missão de relatar veridicamente o que sentimos, e o quão difícil aturar isso diariamente é. Porque parece lindo nós termos conseguido escrever um monte de coisas, ter lido um monte de coisas, entendido muitas coisas em tão pouco tempo. Mas isso tudo teve um preço. E a todo momento estivemos cientes disso, sabendo que deveríamos procurar terapia, ou qualquer ajuda psicológica. Mas como dissemos: optamos por sofrer, e tentando sofrer menos a cada dia, para que enfim terminemos isto. E depois partimos para uma remediação de tudo o que sofremos. Mesmo que seja pior. Escolhemos o caminho mais difícil. Talvez mais burro, mas foi a única saída que pudemos ver
num horizonte próximo. Ainda não escrevemos mais do que escrevemos dia 25/08, mas parece que assim que terminarmos de ler este livro, que é o momento mais crítico de nosso TCC – dependemos de um método de análise subjetiva, senão não conseguiremos fechar redondinho o círculo conceitual que criamos – estaremos numa missão de escrever, somente. E escrever conseguimos muito rápido – escrevemos 20 páginas em um dia, muito embora de
complexidade muito menor. Enfim, terminamos esta parte do relatório com um pensamento: até que ponto fins tão promissores justificam meios tão amedrontadores? Até que ponto sofrer é remediado pela glória? Até que ponto um desejo supera todas as mazelas de um processo dolorido?
MULTIPLICIDADES Se escrevemos em dois, podemos ter certeza que mais de um somos. E percebemos isso a fundo hoje: somos, nós, além de executores deste TCC: amigos, amantes, filhos, guias, ajudantes, organizadores, cozinheiros, loucos, líderes, entre diversas outras coisas. Percebemos que não podemos limitar quem somos pelo que estamos fazendo. E para isso podemos resgatar o conceito de Corpo sem Órgãos, máquinas e devires e até mesmo de super-homem: Estamos nesta busca incessante por despirnos de todas as máquinas que se acoplaram ao longo dos anos, estamos em busca de encontrar nossa essência, nosso CsO, e escolhemos nosso TCC para tal. Entendemos que temos infinitos devires, e que deveremos saber guiar a sucessão de atualização destes. Na sucessão das durações, percebemos que nossa ansiedade nos frustrou, e muito, pela necessidade de predeterminar qual seria a melhor escolha, o melhor caminho. Erramos. Estamos tentando desconstruir tudo isso. Estamos tendo plena ciência que nós somos apenas humanos, afinal de contas, e que não conseguiremos atingir um estado de super-homem. Bom, interessante que ainda não começamos a escrever mais do que o começo do livro. E nosso relatório está entrando em uma fase importantíssima. Estamos resgatando nossa humanidade, estamos entendendo que somos por fim, humanos, e que precisamos respeitar esse limite. Entendemos que nossas metas devem ser apenas metas, e que não é erigindo estes pilares e comparando nosso estado atual com nossos fins que conseguiremos apreender
algo sobre nossos momentos. De forma alguma. Entendemos que precisamos respeitar o fator de indeterminação essencial do acaso, que foi o nosso ponto de partida essencial. Não sabemos ainda se conseguiremos cumprir nossas metas, mas sabemos essencialmente que estamos nos dedicando exclusivamente a isso. E estamos nos matando por tal. Precisamos entender finalmente que nossa meta existe apenas no futuro, e que trazê-la para o presente implica em apenas uma coisa: ansiedade. Não podemos determinar nosso futuro no presente, não podemos ultrapassar o tempo de forma alguma. E entendemos isso enquanto ajudávamos um amigo. Entendemos que além de nosso TCC, de nossas tarefas e de nossos trabalhos para com uma meta, temos que viver. Temos que existir em outros devires, em outros Eu’s. Conquanto nos movimentemos, não temos que nos preocupar para onde vamos. Continue a nadar. Paramos tudo o que estávamos fazendo, e isso implica em nos tornar ansiosos, para ajudar um amigo com ansiedade. Curamos nossa ansiedade na cura alheia. Pudemos ter um olhar de longe sobre as coisas, para enfim poder dizer com clareza para ele e para nós mesmos: não se preocupe tanto assim. Você já fez muita coisa. Você progrediu muito, e o que você pretende fazer depende exclusivamente de determinar o quê. Sabemos que não importando, faremos um bom trabalho. Porque nos esforçamos, porque temos plena consciência de que enquanto dure o processo, teremos nossa dedicação máxima, não importa com o que.
Percebemos que nosso processo de TCC partiu de algo estranhamente... abrangente. Tentamos ambiciosamente entender... o Todo. Sim, partimos de uma concepção geral de tudo e de todos, das mecânicas da vida, da história, do futuro, das ações coletivas. Tentamos entender as estruturas da realidade, e quando nos foi apresentado o estruturalismo, percebemos que enfim nos encontramos. Sim, nossa premissa era entender a realidade, quase que decifrar a Matrix. Se perceber, tudo o que foi escrito no decorrer daqui foram pensamentos estruturais, gerais, de funcionamentos amplificados. E intrigantemente, foi lendo um livro que até agora não entendemos quase nada que percebemos que tudo isto ruiu. Foi lendo psicanálise que Guattari nos fez entender a especificidade das singularidades. Entendemos desde há muito este conceito, mas só agora conseguimos vê-lo. Finalmente pudemos entender que as estruturas não são generalizáveis, aplicáveis em todos os contextos. De forma alguma. Se existem essas estruturas, elas se fazem nas funções de topos, de picos, entre os planos da consciência. E se descermos até as fendas, poderemos ver que por baixo de toda estrutura levantada, existe uma areia movediça. Sim, entendemos finalmente que o caos é que deriva a ordem. E que da complexidade deriva-se a simplicidade. Entendemos que até hoje, tudo o que julgávamos entender se desfez no ar. Simplesmente assim, nos foi dito que entre esses topos, nas fendas, é que a realidade se atualiza nas repetições. E que essas diferenças que se perpetuam, nunca as mesmas, causando qualquer tipo de relação complexa das coisas com elas mesmas. E que muito além do mesmo existe o outro. E é nele que a magia acontece.
O uno nunca é ele por ele mesmo. Sempre que formos nos referir a algo, nunca poderemos falar somente dele mesmo. Por mais que se tente, sempre recorreremos a analogias, a relações e à trama complexa destas relações. Ou pelo menos julgamos entender. Entendemos sobre as verdades, entendemos sobre tantas coisas, ou julgamos entender, que erigimos nossas próprias estruturas – e ainda bem que elas se parecem com o que outros pensaram também. E que, a partir delas, não desenvolvemos um saber, mas um ato de conhecer. Pudemos enfim dizer às pessoas que conseguimos pensar sobre as coisas de uma maneira estrutural. E agora, não pensamos em perpetuar estas, mas sim modifica-las a todo momento. Queremos poder dizer aos outros que sempre que se quiser, podemos aplicar estas estruturas mutantes, estes diferentes planos que se transversalizam por uma máquina abstrata, e agora entendemos o que ela é: o Eu. Sim, os solipsistas estavam meio certos. Não podemos crer somente nas nossas experiências, mas sim numa trama sensível e cognitiva que o coletivo perpetua. Entendemos que é somente a partir do outro que podemos definir o Eu. E que brisa louca ein. Bom, este tópico surgiu novamente como uma autoafirmação, novamente. Precisamos agora acreditar no que pensamos e acabamos por conhecer. Precisamos entender que se pensamos e concluímos, somente outrem pode nos dizer de outra maneira, e que só nos convencerá por argumentação. Precisamos nos agarrar ao que falamos de uma forma como uma criança se agarra ao bicho de pelúcia. Vamos defender o que acreditamos até o fim dos tempos.
E é neste degrau entre os conhecimentos que se admitem as verdades. Se nós, por um esforço árduo, conseguimos adquirir uma imagem de intelectual, é porque nos utilizaremos dela. Percebemos que não importa o quão verdadeiro é o que falamos, mas quantas verdades os outros reconhecem no que falamos. Sim, por isso o discurso é essencial: porque é nele que poderemos convencer as pessoas. É nele que, com as palavras certas, poderemos fazer os outros reconhecerem verdades no que dizemos. Precisamos falar a mesma língua para nos comunicarmos. É por isso que sempre nos trouxemos para a simplicidade. Não queríamos depender do que filósofos disseram com palavras ou conceitos difíceis, queríamos defender com nossas próprias palavras, e por nosso próprio fio condutor, que nosso raciocínio se mantinha simples do começo ao fim, e que de fato é na simplicidade que conseguiremos desvendar todas as complexidades. Por hoje é só, pessoal.
WRITING MACHINE Bom, já escrevemos 40 páginas de texto até agora, de tal forma que esperamos escrever ainda mais kkk Acho que perdemos a noção de tudo o que escreveremos, porque fomos somando saberes de todos os livros que lemos. E no fundo, retiramos modos de ver o mundo destes autores, todos minimamente modernos. Não gostamos de escritos antigos. Muitas vezes não refletem nosso mundo. Assim sendo, enquanto escrevíamos, decidimos por ler mais um livro: Caosmose, do Guattari. E depois que terminamos, decidimos por interpretar
uma árvore da vida para estender o método de análise subjetiva de Guattari para 10 esferas de hierarquia interconectadas. E depois ficamos loucos, fizemos um diagrama brutal sobre tudo isso. E foi aí que o Dorival nos mostrou o caminho da luz: para pensamentos complexos, linguagens híbridas e sistemas complexos. Jorge Vieira, semiólogo e astrônomo, nos apresentou conceitos e visões de mundo muito complexos, e que traduzem muito do que pensávamos. E foi assim que percebemos que não queremos mais parar de ler. Estamos apaixonados por aprender este tipo de visão de mundo. E que por sinal cai muito bem com um pensamento em design. O universo é complexo, às vezes de mais. E se passaram 4 ou 5 semanas nesse processo de leitura, de tal forma que escrevemos sobre isso no dia 04/10. Algum tempo se passou, mas nem tanto. E bom, pegamos gosto por estudar – mas tem que ser um desafio, tem que ser algo muito difícil e aberto, complexo e sistêmico. Fomos acoplando estes novos óculos aos nossos olhos, para cada vez melhor ver o que se esconde debaixo da terra, dentro do território do design. O que queríamos era aprender a ver o mundo, a decifrar os padrões complexos que se repetem. Não num sentido de enxergar cálculos e medidas, mas de enxergar as relações. A capacidade de relacionar, é senão a mais importante, fundamental para a sobrevivência no contemporâneo. Hipercomplexo talvez. E tendo percebido isso, trouxemos o design, aliado a todo o conhecimento complexo, como ferramenta para tal. Nós não teríamos conseguido isso se tivéssemos feito filosofia, pois o que nos possibilitou pensar e articular de maneira coesa tantas visões de mundo diferentes foi o processo
de design enquanto ordenação do caos. Nos utilizamos incessantemente de pensamentos em design para delimitar conceitos, para sobrepô-los, para relacioná-los, e tudo com base num pensamento imagético. Pensamos constantemente sobre visualizações dos conceitos, de tal forma que hoje podemos dizer que temos um universo visual em nossa cabeça, contendo todo o tipo de representação abstrata, muitas vezes vetorial e “matemática”. Hibridizamos nossa forma de pensar para poder trazer o melhor de todos os mundos. Não admitimos mais verdades, e isso foi decisivo para podermos pensar uma trama conceitual, complexa, transdisciplinar: malha de aglutinação conceitual. Nosso mérito não está por desvendar os saberes, muito menos pela conexão em sua totalidade (devemos muito ao Dorival por ter nos guiado nesse espaço escuro). Nosso mérito está na visualização de todos os conceitos e uma forma visual de suas conexões. Queremos mostrar como palavras escondem um universo incrível de imagens e conceitos, que muitas vezes não nos damos conta da existência. E agora estaremos focados, finalmente, em escrever. Estamos quase terminando a introdução, e esperamos que ela fique boa. Porque vai ser a porta de entrada para um universo caótico e extremamente complexo. Mas tentaremos trazer à superfície tudo o que for necessário, para que você não tenha que escavar por pedregulhos como fizemos. É só descer e subir de novo. Bom, de fato agora podemos dizer que começamos nossa fase de escrita. E interessantemente não sabemos o que escreveremos em seguir. Não fazemos a menor ideia de como levar nossa escrita daqui pra frente. Temos os tópicos elencados e
subdivididos, mas isso foi meses atrás. Talvez caiba uma reavaliação de todos os tópicos, um remapeamento conceitual para evidenciar ligaduras que antes eram invisíveis? Logo menos saberemos qual decisão tomamos.
Bateu 20/10 e estamos aqui, esperando conseguir terminar o trabalho. Inevitavelmente, nosso material tomou proporções bizarras. Esperávamos ter pelo menos 50 páginas escritas ao chegar ao fim do 2º capítulo. Porém não. Estamos com 83 páginas escritas em um documento de 93 páginas. 48222 palavras. Nunca acharíamos que teríamos condições de elaborar um material tão... intenso. Nos propusemos a escrever sobre o que conseguíssemos pensar. Elencamos tópicos a jogamos uma visão de mundo sobre eles para gerar algum tipo de entendimento. E pelo fato de usarmos uma visão sistêmica e holística, estaremos nos distanciando cada vez mais das partes. É incrivelmente difícil manter um desfoque hipermétrope. Toda vez que pensamos em falar sobre algo, falaremos sobre o que circunda esse algo, e não somente o que o é. E bom, terminamos o Pensar e o Interlúdio, e estamos contentes com o que conseguimos escrever até agora. Não sabemos se de fato temos sentido no que estamos fazendo, se ficamos loucos ou se falamos coisas que não necessariamente poder ser aferidas. Oras, essa questão é bem dúbia: qual a problemática de afirmarmos algo que nenhum autor disse? Ou fazer conexões por indução, intuição, por similaridades das mais longínquas. Apresentamos os argumentos e traçamos um caminho lógico para poder explicar não somente o embasamento teórico adquirido, mas nossa ideação sobre um design sistêmico que poderá comportar qualquer definição possível de design.
Bom, a realidade é que nos propusemos algo extremamente grande e complexo para um trabalho de graduação, ainda mais para alguém que nunca havia escrito artigos, ou lido livros acadêmicos ou base filosófica. Nos utilizamos de um pensamento metaprojetual para guiar nosso processo ao longo das 30 semanas que nos propusemos. Bom, agora faltam menos de 2 meses e estamos quase surtando. Ainda nos falta 4 capítulos a serem escritos, sabemos lá quantas páginas ainda serão necessárias para elaborar todo o conteúdo que nos propusemos. Estamos de certa forma com medo, medo de falar merda, medo de sermos incoerentes, medo de nos frustrarmos em relação ao nosso processo. Estamos confiando que seguimos bem, mas a ótica é perigosa, é transgressora, é totalmente subversiva porque contesta praticamente todos os conceitos sob os quais nos debruçamos para falar sobre design. Nossa proposta a cada vez nos fica mais clara – o quão louco é isso, escrever sem saber sobre o que se escreve, sobre qual tese defendemos? – e percebemos que nosso projeto pode ser cunhado dentro de uma terminologia recente, chamada de design sistêmico. Cremos que não existam publicações ainda para tal, então, bom... Um grande peso sobre o assunto para um aluno de graduação – kkk nem fale – falar sobre uma área que vemos enquanto incrivelmente promissora. E pasmem, novamente, o destino nos prega uma peça: ao nos deparar com um artigo que usamos para estudo de caso de metodologias complexas para design, reconhecemos a universidade da qual partiram os autores. Era a mesma da nossa sacola de supermercado, e lembramos do dia que os noruegueses vieram para o campus e
nós e a Júlia guiamos eles. E que ao final, nos entregaram cartões de visita. Bom, um dos autores é vivo em um cartão em nossa gaveta. Incrível como pontos tão distantes no tempo se conectam de forma coesa. Agora falando sério. 9 semanas para escrever e revisar 4 capítulos, mais o projeto gráfico e ilustrações. Será que conseguiremos? Já discutimos uma possibilidade de cortar fora o capítulo sobre ensino pois nos falta material pedagógico para falar sobre – e eventualmente tempo e vontade. Pois estamos cansados, e a cada dia mais ficamos mais cansados. Escolhemos um período curtíssimo de tempo para preparar nosso lattes, nossa pesquisa, nossa fundamentação teórica e, logicamente, continuar vivo. E isso está nos consumindo de tal maneira, que se já passamos 7/8 meses lendo, já estamos extremamente cansados de escrever sobre o que pensamos. Não porque nos cansamos do pensamento, mas nos cansamos do processo. Mas continuamos, a cada dia, com um pouco de café e força de vontade. Se já chegamos aonde chegamos, com 90 páginas, conseguimos continuar. O único sufoco é o tempo, realmente. Fica difícil escrever aqui também pois nunca sabemos sobre o que escrever. O fazemos sobre nosso cotidiano, nossas dificuldades, acertos, epifanias. Mas nos cansamos de escrever aqui também. Acho que estamos nos cansando de escrever em geral kkk Gente, de verdade, não é fácil isso tudo, parece (esperamos que não pareça) mas não é. Nos propusemos a criar conteúdo antes de fazer revisão bibliográfica puxando apenas falas de autores para com o discurso que gostaríamos de ter. O problema é que os únicos autores que
emitiriam os conteúdos que queremos eram filósofos, semióticos, psicanalistas, e outras pessoas com as quais nos deparamos ao longo do tempo. Fomos juntando uma coletânea de universos para compor um universo sistêmico, sob perspectiva filosófica, para situar o que seria o design a partir dele. Por isso foi tão difícil e continuará sendo. Precisamos primeiro entender o que queremos dizer antes de falar sobre, não? Se vocês acompanharam até aqui, saberão que tivemos várias crises de ansiedade e confiança, principalmente porque nos colocamos fora de qualquer zona de conforto e ousamos, até de mais, muito mais do que gostaríamos. Nunca imaginamos que a forma de nosso TCC se materializar seria essa, um livro. Achamos que seria pequeno, e por isso chamamos de material. Mas se temos quase 100 páginas somente com um TCC, bom, algo está muito certo ou muito errado, e estamos pagando pra ver. Queremos contar sobre nossa banca, por hora, ou o que pensamos. Não falaremos do departamento de design da UNESP pois isto ainda nos é uma incógnita. Mas existem duas pessoas externas que vale mencionar: Marcos Beccari, sobre o qual já falamos algumas vezes, e Jorge Vieira, que falamos sobre seu livro. Beccari mora em Curitiba e Jorge no Rio, e queremos trazer os dois. Beccari porque foi o precursor da filosofia do Design no Brasil, ao que sabemos, e Jorge porque ele é nossa referência em semiótica e complexidade. Outra coisa que gostaríamos de comentar neste ponto do processo é sobre a distinção que esta forma de conhecimento promove para com nossos pares, outros alunos, e para isso vale um causo sobre a Lucillia Borges. Ela é professora, não lembramos aonde, mas em 2013
tivemos altíssimo interesse por sons, e fomos buscar nela fontes. Ela nos apresentou sua tese de doutorado e, bom, não entendemos nada na época. E hoje, por outro lado... Entendemos, e não somente entendemos, como relacionamos plenamente o que ela fala e suas perspectivas com as nossas. O que queremos dizer com isso é que não sabemos em que ponto de um conhecimento elaborado alcançamos. Não sabemos se estamos imaginando saber das coisas, ou se de fato entendemos tão bem que conseguimos usar dos conceitos como peças de lego para montar estruturas, desmontá-las e remonta-las. Até mesmo o tipo de linguagem que usamos, visual e criativa, evidenciando, antes de conceitos, imagens mentais para que o leitor tenha em suas mãos um arsenal de conceitos, máquinas, para utilizar. Voltando à Lucillia: nos surpreendemos pela densidade de nossos discursos comparados com os dela. E estamos realmente nervosos com tudo isso. Não sabemos de muita coisa, e não sabemos principalmente como nos receberão depois deste material extenso sobre... várias coisas. Por exemplo, durante festas e conversas com nossos pares, falamos, falamos e explicamos nossa visão de mundo e ainda assim ninguém entende; exceto o Reversi, que não sei até que ponto ele está entendendo tudo isso também. Fato é que estamos totalmente, ou nos sentimos, deslocados do design. Muito embora nosso tema central seja o design, não consideramos uma perspectiva pontual do design, mas sim uma perspectiva de múltiplas perspectivas. E nós usamos de diversos conceitos, muitos, muitas teorias, nomes, autores, e interligamos todos. Trivago nos ressaltou uma problemática para tal: ‘cuidado
para não justificar qualquer coisa com qualquer coisa e fazer conexões problemáticas, estender princípios aonde eles não vão’. E bom, isso é essencialmente a premissa de nosso TCC, ou seja, bem perigoso...
E dentre diversas outras coisas, podemos salientar algo melhor: a ansiedade está cada vez mais sobre controle. Estamos adquirindo confiança a ponto de não nos sentirmos mais ansiosos em relação ao resultado. Sabemos que antes do estudo per se, o conhecimento e visão de mundo que fizemos, se não for aceita pela academia em seu atraso e normatização de discursos, será aceita para o público comum. Nossa visão considerará uma forma de reestabelecer a coerência entre as ecologias por meio do design, ou, antes, do projeto enquanto máquina. Para de falar em linguagem rebuscada, aqui não é o lugar. Bom, não sei você, mas eu acho que estamos indo bem, muito bem no caso, e só precisamos acreditar que o que fazemos é bom, e que se vemos assuntos similares em teses de doutorado, oras, será que estamos tentando um doutorado antes de um TCC? Por que será que acabamos nesse caminho louco? Sem percebermos, acabamos nos deixando guiar pelo nosso desejo de entender, e conhecendo diversas esferas, conseguimos compreender de certa forma uma mecânica geral dos sistemas. Não querendo ser confiantes demais, mas temos orgulho de nossa visão rizomática e como conseguimos estruturar tudo isso com base em constantes visualizações e testes virtuais em nossa mente. De certo, se podemos nos formar em design, será pelo fato de entender o design como organizacional, e oras, nosso trabalho inteiro se resume em organizar materiais diversos sob uma única perspectiva. Talvez acabe sendo um livro de semiótica mais do que design? Filosofia? Ou ciência complexa? Bom, por hora, até mais tarde.
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82000 palavras escritas, 159 páginas e um capítulo a menos. Contávamos com todo o tempo até o final do nosso prazo, mas ao que parece, vamos precisar ler 3 livros para poder fazer uma prova pro mestrado. E pela complexidade que o capítulo sobre juízo tomou, resolvemos abdicar do capítulo sobre o ensino, ou ainda, sobre a mimesis. Por mais que nos doa, a numeração dos capítulos permanece, para que se sinta falta do que o tempo não pode nos agraciar, e que na mentalidade de um possível surja o capítulo 5 em outro momento com outras formas. E estamos finalizando o capítulo 4, felizes. Acabou que da última vez que nos falamos faz... quase um mês. Que tal resgatar esses momentos? Bom, não conseguiremos por completo, haverá esse intervalo desconhecido do qual não nos lembramos, mas isso não importa. Vamos aos fatos: 1. Nossa ansiedade continua igual, mas um pouco maior por conta da prova do mestrado. Sem problemas. Ainda nos preocupamos com o sentido do que escrevemos, pois nossa proposta se baseia em dizer o não-dito. Mas nossa visão nos parece singular, e por tal, esperamos bons frutos. Mas ainda assim, estamos com medo, principalmente pois quando terminamos de escrever sobre a prática, achamos que estaríamos sem assunto. Pois erramos. Os rumos do juízo foram para o poder, falamos sobre Estado, estamos a falar sobre nômades. E estamos achando isso alucinado, pois nunca imaginaríamos que nos dedicaríamos a ler artigos sobre Lawrence das Arábias para falar sobre táticas de guerrilha, e que tudo isso pudesse se voltar para o Design;
2. Lembramos da época em que este relatório era muito maior do que o livro. Hoje, temos 1/5 do tamanho do livro. Fomos longe demais? Talvez kkk Mas o que importa é que conseguimos escrever muitas coisas que nos orgulhamos, e nos empenhamos aproximadamente, se nossos cálculos não estiverem errados, 3000h nessa façanha. Entre ler, escrever, pensar, fazer imagens, escrever no médium, desenhar e colar na parede, gastamos muitos de nossos esforços e saúde mental. Não aconselhamos ninguém a tentar fazer a mesma coisa que nós, mas ainda assim foi bizarramente interessante passar por tudo isso tão imersivamente; 3. Tivemos que abandonar todos os outros compromissos que povoavam nossa mente, para poder focar não apenas no que Deleuze falava, ou no que o Design era ou se manifestava, mas num misto híbrido de todos estes saberes, a fim de transcender todas estas disciplinas em nome de algo maior, um conceito que rompa com as barreiras do design e da cognição, da ciência política, da história, do militarismo. Estamos aqui em busca de algo comum a tudo isso e que nos permita olhar para o design com outros olhos. Novos olhares que nos permitam enxergas certas manifestações ou características que antes pareciam ocultas. Cabe aproveitar que já estamos imersos em um universo do Design para trazer novas áreas para nossos estudos. A premissa sempre será em misturar os conceitos, a perceber o que se mantém e o que muda, e para como poderemos pensar em desenvolver pensamentos transdisciplinares. A outra premissa é que acreditamos que o design tem altíssimo potencial para ser a atividade articuladora, nômade, líquida;
4. Por fim, até agora, percebemos que escrevemos diversas coisas que nem ao menos tínhamos noção que sabíamos. As relações foram acontecendo, e uma necessidade de explicação levou a outra, e por fim pudemos construir uma malha que sustentasse toda a gravidade de nosso conceito imenso, múltiplo e transcendente de design. Esperamos que esse conceito se prove determinado a persistir, que nossa máquina possa criar vida, que seja múltipla. Embutimos muito de nós neste livro, e queremos que ele floresça bem. E temos fé que ele tem todo o potencial necessário para tal. Foram surgindo novas referências que diziam o que queríamos ouvir, ou o que já pensávamos. E fomos agregando estas referências, as vezes já utilizadas, às vezes nova. Mas o que queremos de fato é tentar, na mesma premissa alucinada de Deleuze, de propor novos conceitos para problemas que estão sendo formuladas, ou aos já formulados. E vimos opção na hibridização dos saberes como forma de agregar novas visões que nos ajudem a identificar novos problemas, novas soluções, novas relações.
E enfim, estamos chegando ao fim. Vamos falar sobre o imitar: infelizmente não deu tempo. E o que faremos com isso? Pensamos que podemos continuar, em outro momento. O TCC não é o final, mas apenas o que nos motivou a fazer. E através dessa motivação pudemos perceber que um mestrado é possível – SIM NOS RENDEMOS, ENFIM, MESMO NÃO QUERENDO –, e que podemos desenvolver um novo discurso para com um ensinar sistêmico, aberto, nômade. Antes disso, a missão é sair de Deleuze e entrar mais em Foucault, analisando não as relações de poder, mas relações com o espaço, o saber, o corpo. Foucault nos fornecerá todas as formas de pensar estruturalmente o corpo e os corpos, as relações e as forças. Talvez nossa missão para explorar estes ramos, pelo menos no mestrado, seja pelas máquinas ou dispositivos. E que primariamente desenvolveremos as relações humanas através do controle e do poder para depois entender as máquinas de guerra em mais profundidade, e tentar sair um pouco da filosofia e propor métodos novos de ensino que se pautem numa recentralização das finalidades.
AHHH PARA DE FALAR SOBRE O TCC. Cansei. Eu também. Mas continuamos, não se preocupem. Apenas estamos cansados. E dizem que os últimos 80% do trabalho são os mais difíceis. E de fato parecem. Ainda precisaremos diagramar, ilustrar, revisar. E para isso teremos aproximadamente... 2 semanas. Mas as ilustrações podem acabar ficando para depois. Queremos convidar amigos ilustradores para representar conceitos abstratos, quase como cartas de Tarot. Nosso trabalho recomeça quando, durante a revisão, precisaremos erigir certas simbologias, para poder abrir os discursos pelo texto imagético. Mas ao mesmo tempo que ele complemente nossas finalidades. Estamos acabando o 4º capítulo, então depois dele leremos os livros do mestrado, arejamos a cabeça, e depois voltaremos para revisar o conteúdo todo, dar um fim aos interlúdios, marcar as ilustrações exigidas, as que nós podemos fazer e as que outros precisam fazer, e enfim começar a diagramar.
Parece apertado. Eu sei. Mas conseguiremos. Estamos vivendo em função disso praticamente. Depois vocês veem o fichamento que fizemos – a Mônica nos deu o nome que faltava – para saber a dimensão que tudo isso tomou. Fizemos os artigos, apresentamos nos congressos e tentamos construir um currículo para poder tentar entrar no mestrado. Queremos continuar este tipo de pesquisa, e quem sabe prosseguir para um doutorado (?). O que nos resta falar por hora é que estamos com a mente muito acelerada em devires e nômades kkk Precisamos tomar um ar. Pronto, então... às vezes não sabemos o que falar e só sentamos na frente do teclado. Vocês também quando escrevem pensam em voz alta, ou fala algo em sua cabeça, usa as entonações para dar as vírgulas, a sintaxe surge de última hora. E sempre esperamos que saia algo, mas nem sempre. E isso se tornou um hábito que somente isso nos possibilitou escrever tudo isso tão rápido: pensamento rápido e dedos ligeiros. Vamos falando e vamos digitando, e isso ocupa tanto nossa mente que eventualmente precisamos olhar para outra coisa que senão a tela do computador. Bom, gostamos de reclamar um pouco também. Bom, por agora acho que é só isso, não? Ah, tem mais uma coisa. Estamos com mais quase 4 semanas, nosso prazo é o dia 17/12. Contaremos como andam as coisas até lá ou quando conseguiremos terminar de escrever o capítulo 4 para podermos prosseguir a ler os livros do mestrado. Mas as coisas tão bem doidas sim ein, vamos ver o que sobra depois disso tudo kk
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Bom, agora cremos que seja interessante unir todos nós em apenas um. E faremos isso através de um discurso mais sucinto possível. Escrevemos no dia de hoje depois de já ter enviado o relatório para a banca, depois que já estarmos em outro ritmo de trabalho e apenas temos a missão de terminar este material para enfim diagramálo. E ficamos pensando sobre como terminar este relatório se as conclusões estão dispersas pelo conteúdo. E depois de algum tempo, decidimos que o melhor método é escrever da mesma forma que já escrevemos todo o resto: sem método algum. E essa ausência de método nos possibilita divagar por onde quisermos e da forma como quisermos. Pois bem. Enviamos nosso material no dia 18/12, como estipulado por nosso calendário. Terminamos até o 4º capítulo pois o 5º ficou de fora por mera incompetência nossa em prever que haveriam livros a serem lidos na prova do mestrado, mas não vamos nos martirizar por isso. Depois que enviamos, escrevemos o abstract, reescrevemos o resumo, mudamos alguns interlúdios para honrar nossa memória e os textos que escrevemos em 2011 e, por fim, estamos aqui. E sentimos que devemos colocar algumas coisas sobre nosso processo. Aprendemos a ler, escrever e a entender plenamente a sintaxe e a semântica do português, e essa foi a nossa maior plataforma para conseguir chegar aonde chegamos. Aprendemos que não precisamos ter todo um contra-campo do conhecimento para poder entendê-lo, precisamos apenas
entender como os saberes se ligam. Aprendemos isso com Foucault, aprendemos a estudar sem nem ao menos saber: nosso foco não era com o conteúdo, mas em como uma coisa se ligava à outra, e sempre em uma corrente, até poder entender o livro como um todo. E nunca quisemos saber o que os autores disseram, apenas o que nós poderíamos entender daquilo; Nunca escrevemos um livro, e por tal, não tínhamos nenhum conhecimento sobre como fazê-lo. E foi um desprendimento muito grande, mas ao mesmo tempo um projeto extremamente complexo, de elencar os conteúdos do zero, de traçar os caminhos interpretativos e não se limitar à sequência de uma página à outra. Nossa missão sempre foi em tentar fazer com que a obra toda fosse uma coisa só, e que se pegar algo no meio do caminho – lógico que não podemos rizomatizar o livro sobre um médio da escrita – poderá continuar e picotar as páginas como bem quiser. Escrevemos o livro com a única premissa de nos sentirmos bem com o que colocamos e como colocamos. Nossa premissa maior foi sempre a de nos divertir no processo. Então se nos perguntar como organizamos este material, oras, nem nós sabemos. Podemos apenas dizer que somente nós poderíamos fazê-lo; Não nos importamos em seguir rumos que pareciam ir para lugar nenhum. Não nos importamos em subverter qualquer ordem ou memória. Apenas queríamos poder dizer tudo isso sem medo. Lógico, tivemos muito medo porque reconhecemos a complexidade de nossos escritos, e não fizemos questão de colocar numa
linguagem universal. Nossa linguagem possui sintaxe própria que contraria qualquer gramática engessada. Invertemos os verbos, trocamos os substantivos, e sempre por pares semânticos, fomos aproximando os discursos de sua real intenção. Apesar de ser contraditório, nosso projeto não se ateve a nada que não fosse ele mesmo. Nossos universos de referência serviram apenas para nos acrescentar, e nunca podar. Foi saber para des-saber e por fim re-saber. Nossa recognição guiou de cabo a rabo tudo o que puder ler ou ver; Nós estamos surpresos que conseguimos ler tanto. Ler materiais tão densos. E que por fim conseguimos tirar diversas coisas de cada material, e não tiramos coisas específicas, mas tiramos citações, e mais citações, e fizemos um fichamento de 100 páginas (ok, 99) que nos possibilitou buscar por palavras-chaves citações específicas, que fossem construindo nossa argumentação não por discursos, mas por visões de mundo, pelas sintaxes. Nossa proposta pode se resumir numa construção plurívoca de diversos saberes de diversos autores em busca de um auto-entendimento. E por tal, talvez, nos sentimos completamente perdidos, do começo ao fim; Daremos uma pausa para continuar a escrever o resto deste relatório levemente bêbados, porque estamos sentindo necessidade de nos colocarmos de corpo e alma nisso.
Pronto, agora estamos de corpo e alma neste espaço. E não queremos mais usar de tópicos. Se puder recordar a escrita de Saramago, sem pontos nem vírgulas, queremos partir para algo neste ponto. Desde que terminarmos estamos... diferentes. Estamos, parece, longe de nós mesmos. Parece que estamos desesperados. Desesperados por respostas. Queremos fazer perguntas. Ah, e como amamos perguntas. Toda pergunta possui todo o universo de possíveis em sua imanência. Perguntas são problemas, perguntas pressupõe, podem ser interpretadas, podem ser ignoradas ou desfeitas. E que beleza se há em nos perguntarmos qual a essência das coisas. E que beleza que há em se perguntar se o sol nasce no leste ou no Oeste. Quantas coisas se presumem a existência por meras palavras, designantes, designadas e que enfim designam as coisas. Designare, desenhar, diseño, dasein. Desejo, deseja-se e todo desejo por sí é construção. Construção pressupõe estrutura, alicerce, rede neural, ligamentos, encanamentos. Que beleza se vê nas estruturas. Que beleza que se vê nas estruturas. Que beleza se vê?
Quando as perguntas crescem em complexidade, crescem também as possibilidades de respostas. E que beleza se vê na multiplicidade? Como podemos lidar com tamanha possibilidade, tamanho Tamanho? Os romanos encanaram e nos encanaram por uma eternidade. Malditos aquedutos, aqueles que nos ensinaram o controle. E como controlamos. Eu controlo, tu controlas, ele controla. Nós controlamos, vos controlais, eles controlarão. Controle remoto, controle por cabo, controle magnético, controle da TV ou da sua vida, que tem? Como controlamos o por vir? Como se controla aquele que jamais anuncia sua chegada. Destino? Deus? Futuro verdadeiro? Acaso? O que foge ao acaso? O controle. A projeção. Projeto. Designers projetam. Quem projeta o que se projeta? O que se projeta? O que é projeto? Balística ou mecânica? Parábola ou linha reta? Desvio ou certo? A mecânica dos flúidos é verdade? E a termodinâmica dos corpos celestes de Einstein, é real? Ou foi desbancada? E se dissermos que existem mais coisas ligadas entre física e filosofia do que se pode pensar? Não te faz pensar em quais coisas podem ser? Não se movimenta um punhado de neurônios, consumindo energia, empregando esforços, conduzindo fluxos em direção a uma finalidade? Se falamos de finalidade temos que falar em design. E em tudo isso acima.
Por fim, em 09/01/2018 E assim, só poderíamos terminar o relatório vos agraciando com o nome do trabalho, que saiu de diversas tentativas à esmo. É um nome que diz a que veio, e mostra como se faz. O nome é:
Devir Design: derivações filosóficas. Obrigado por ter dedicado seu tempo a mim.
DEVIR DESIGN DERIVAÇÕES FILOSÓFICAS