HABEMUS
A primeira edição. opressão, privilégios, política, perfis, análises, contextos, E outras coisas mais. Uma proposta de revista que atende a um público diferenciado. Entendimentos, expressões e pessoas.
out ENTENDA '16 PRIVILÉGIO
OPRESSÃO
EXISTEM VÁRIAS PALAVRAS QUE SE PERDERAM NO SENSO COMUM, PASSANDO A SEREM UTILIZADOS PARA OS MESMOS FINS. OPRESSÃO E PRECONCEITO FORAM VÍTIMAS DESSA CONFUSÃO DE TERMOS.
O DIA EM QUE O OPRIMIDO DECIDIU REAGIR
PRIVILÉGIO É DIFERENTE DE DIREITO. UM VOCÊ CONQUISTA, O OUTRO JÁ LHE É DADO DE PRONTIDÃO. CONVIDAMOS VOCÊS A TENTAR ENTENDER UM POUCO MAIS SOBRE ESSA DIFERENÇA.
MENOS DIETA MAIS AMOR PRÓPRIO
R$ 12,00
Conheça Izabela e seu amor próprio.
“Viado não é bagunça.”
UM DITADOR PARA SALVAR O BRASIL? “Há quem diga que Bolsonaro é um animador de internet, uma figura caricata e não representa risco nenhum nas eleições de 2018.”
R E R E LE MB R AR AR
IMIGRAÇÃO E XENOFOBIA
R
H f O
Q
sOMOS
H
Modan Petis
Transexuais: descoberta sobre gênero e identidade começa na infância
Mundanus
Imigração e xenofobia
reviravolta
08-15 OPRESSÃO E PRIVILÉGIO
O dia em que o oprimido decidiu reagir
prosa
PERSONAS
Um ditador para salvar o Brasil?
ELAS
Porque chamar Dilma e Janaína de loucas é um retrocesso para as mulheres
03
18
19
17
07
POEMEUS
Relembrar
06
manifesto
Uma revista para todos
05
04
16
Menos dieta, mais amor próprio
INDEX
H
Somos - outubro '16
O Somos - outubro '16
MANIFESTO
UMA REVISTA PARA TODOS
QUEM SOMOS?
S
omos partiu de dois, mas é para todos. Surgiu quando se pensa “somos todos um”, “somos muitos”. De fato, somos compreende todos mas não exclui o uno. Somos dois mas vossas ideias não se limitam a um. Ideias se espalham, agregam, divergem, acrescentam e somam. Somos aprendizes e Somos veio de uma necessidade de aprendizado. Queremos trazer potências, correntes, mentes, poemas, esquizofrenias e delírios alucinógenos. Queremos trazer o novo, o bom, ou o velho e batido. A informação é meio político de expressão, e a revista é o meio. Meio político e apartidário. Somos é instrumento de voz das minorias, espaço de fala que antes não existia. A voz repercute e tem poder. Pode transformar, subverter, converter e aniquilar. Se ninguém fala, deixa de existir. São ideias em cabeças, e são essas que pensam. Pensem bem, pensem mal, mas entendam o poder de ação. Vivemos em tempos que uma voz ganha apoio e representa uma massa. São pessoas sem influência que são eleitas para representar. Um discurso na voz de muitos outros. Somos juntos.
N
QUAL NOSSA MISSÃO?
ossa missão é propagar vozes que a grande mídia não oferece espaço. Mas não tão somente. Temos a missão de gerar debate, e constrastar opiniões. Expomos discursos, fazemos análises, instigamos ideias opostas, e que da diferença surja o consenso. Não podemos catequizar - não queremos cegos - e muito menos impor - não queremos surdos - e não podemos deixar passar batido - não queremos calar. Falamos sobre mulheres, sobre negros, os oprimidos tem prioridade pois ora, se não formos nós, quem então? Não podemos chocar porque o medo não coopera com o entendimento.
COMO FAREMOS ISSO?
F
V
ocê é emissor. Só não sabe disso. Nossa função não é fazer a todos repetir discursos, mas que você saiba o que diz e porque o defende. Não gostamos de massa de manobra, não vai com a nossa cara. E também não podemos deixar que manobremos vocês - afinal, de esquizofrenia já basta o conteúdo.
04
aremos uma coletânea de textos que expliquem o funcionamento, o que se passa e porque acontece. Queremos antes de opinar demonstrar. Somos uma revista que tem uma simples função: conscientizar. Como falamos em nossa reportagem sobre o oprimido e o opressor, queremos conscientizar ambos para quebrar o status quo. Queremos transforma o oprimido, enfatizar a opressão do opressor. Queremos nivelar pelo conhecimento. Reportagens, poesia, opiniões e conhecimentos. Não podemos estilizar muito nem fugir do óbvio. Precisamos somente ter em mente a função do conhecimento: espalhar-se. Essa revista não é colecionável. Você lê e repassa. Você cola, você arranca páginas. Somos é um suporte móvel para que o conhecimento atinja a todos. Destaque uma página, recomende a leitura. Ajude-nos a reduzir os males das relações de poder. Somos é união.
O
Somos - outubro '16
POEMEUS
relembra
RELEMBRAR
Foi, já se passou. Com certeza é passado. Se passado não volta, o que é memória? Às vezes acho que vivo de novo. Repassado. Repensando as memórias. Teoria.
Se você acha que viu um gato passando pela janela e, da janela, um aroma de torta de maçã lhe enfurece os sentidos e tudo que se passa na sua mente é o desejo abrupto e corrompido de torta. Melhor olhar de novo, porque torta nenhuma há ali. Houve. Entre as paredes ele ouve. Ouve te chamarem no meio da multidão e freneticamente passa o olho rápido pelos rostos sem dono e, sem sucesso, se perde num mar de cabeças. Euforia. Iria, porém não posso. Visitar o passado é teoria. Ainda sim, revivo. Vivo o que já vivi, mas dentro de mim. Aquele dia em que pensei que fosse morrer atropelado mas que nada me aconteceu e eu achei que daria mais valor a vida, mas, no fim, virou passado. Passado que nunca seria repassado. Teoria.
Aquele dia em que estive tão mal que tudo que me passava em mente eram os momentos felizes em que tomava como base para me declarar triste. Esquizofrenia. Achar que no presente eu posso me dar ao luxo de reviver o passado. Se vivo o passado no presente, o presente então, é ausente? Apregoa. Penso naquela memória de 4 anos atrás em que conheci o amor de minha vida e que por falta de coragem nada aconteceu. Me martirizo por isso, à toa. Então meu presente se passou no passado, de tal forma que meu presente de fato nunca existiu. Teoria. Era meu aniversário e presente algum ganhei, porque decidi não fazer festa. Na verdade não avisei ninguém de que era meu aniversário. Pela solidão, encontrei o caminho fácil para o passado. Então viver no presente significa estar presente, no presente? Estou aqui, estou vivo, estou pensando, estou respirando, mas, de fato, estou presente? Qual é o meu presente por abdicar do passado? Utopia.
ESQUIZOFRENIA. ESQUIZOFRENIA. ESQUIZOFRENIA. ESQUIZOFRENIA. ESQUIZOFRENIA. ESQUIZOFRENIA. ESQUIZOFRENIA. ESQUIZOFRENIA. ESQUIZOFRENIA.
O presente é tão valioso que dura pouco. No momento que em sua mente se declara a frase ‘estou no presente’, você já viveu inúmeros presentes diferentes. Ou ainda, quiçá, nenhum. Meu presente dura pouco porque sempre repasso memórias. Conheço pessoas que vivem impreterivelmente e ininterruptamente no presente. Esquizofrenia.
05
Somos - outubro '16
ELAS
W E
m um país de cultura predominantemente machista, é difícil acreditar que o tratamento dado a uma mulher no campo da política seja equivalente a abordagem que um homem recebe. A participação das mulheres tem crescido, porém, a passos curtos. E isso tem refletido na forma que a sociedade e imprensa julga e avalia episódios da política nacional. Os movimentos feministas contemporâneos têm ganhado força nos partidos políticos, na mídia, na internet e nos almoços dominicais como uma questão política importante. Porém, nas últimas semanas ficou evidente como tem sido disputado por interesses particulares de indivíduos ou organizações. Para compreendermos este assunto é preciso recorrer a dois exemplos recentes: a campanha #IstoéMachismo e os comentários e cobertura em torno do discurso da advogada Janaína Paschoal. o último final de semana a revista IstoÉ apresentou uma reportagem de capa em que relata que a presidente Dilma Rousseff “está fora de si” e com “problemas emocionais”. O objetivo da revista é claro: retratá-la como louca e desmerecê-la pessoal e profissionalmente. Essa é uma prática recorrente na nossa sociedade, afinal, qual mulher não foi chamada de louca e teve sua sanidade questionada?
POR QUE CHAMAR DILMA E JANAÍNA DE LOUCAS É UM RETROCESSO PARA AS MULHERES Por Aline Ramos
N
O machismo não é apenas uma estrutura de poder de homens contra mulheres, mas um sistema de poder sobre corpos, desejos e subjetividades. Afinal, ele é visto como um local de poder, como um espaço de dominação através do qual a docilidade é executada e a subjetividade construída. E quando falo de poder, não me refiro única e exclusivamente ao poder vertical do Estado. Enfatizo aqui o papel crucial do discurso e sua capacidade de produzir e sustentar formas de dominação. Janaína, no vídeo que circula pelas redes socais, está distante do que a sociedade entende como uma “mulher normal”, que é dócil, amável, que não levanta a voz e está numa posição de subjugação. uando a primeira reação sobre o discurso político de uma mulher é chama-la de louca, percebemos quais são os desafios para a resistência dos grupos marginalizados. Esta postura revela como ainda temos privilegiado a experiência da elite masculina em suas concepções de verdade, liberdade e natureza humana. O discurso de Janaína pode ser perigoso e repleto de ódio, mas o tratamento que ela recebe por ser mulher também se torna perigoso para todas nós. Afinal, você pode ser chamada de louca na próxima vez que discordar de seu amigo numa discussão política. individualização das questões políticas, éticas, sociais não deve estar centrada em libertar indivíduos, seja ele Dilma ou Janaína, mas nos liberarmos tanto do Estado quanto do tipo de individualização que a ele se liga.
Q
orém, na atual conjuntura P política, é possível observar como o machismo é usado como
estratégia política, afinal, há uma tentativa de convencer a população de que Dilma não está apta para governar o país por ser pouco confiável e apresentar problemas psicológicos. Em resposta, coletivos, partidos, militantes e ativistas feministas mobilizaram-se em torno da hashtag #IstoéMachismo para denunciar a atitude da revista.
"O DISCURSO DE JANAÍNA PODE SER PERIGOSO E REPLETO DE ÓDIO, MAS O TRATAMENTO QUE ELA RECEBE POR SER MULHER TAMBÉM SE TORNA PERIGOSO PARA TODAS NÓS."
Dilma deve e pode ser questionada, porém, não apresenta motivos para que suas faculdades mentais também sejam. O mesmo vale para a jurista Janaína Paschoal, que após um discurso inflamado no Largo São Francisco durante um ato pró-impeachment passou a ser retratada como louca e desequilibrada pelos mesmos portais de notícias que anteriormente denunciaram o machismo da revista IstoÉ. anaína fez um discurso repleto de figuras de linguagem, com muito vigor, energia e emoção, rodou uma bandeira do Brasil e elevou a voz, semelhante ao que muitos políticos fazem. O seu discurso é um prato cheio para críticas e colocações contrárias, afinal, não apresenta argumentos, mas tudo o que seus opositores conseguiram fazer foi chamá-la de louca e desequilibrada. A questão central não é se Janaína pode ou não pode ser criticada, mas sim como ela tem sido cobrada por seu discurso. Chamá-la de louca não pode ser a única via possível de argumentação. Se apontamos que o machismo é estrutural e atinge a todas as mulheres, mesmo que em níveis e características diferentes, porque não incluiríamos Janaína nesse guarda-chuva? A plasticidade do machismo é a principal barreira na busca de uma sociedade mais igualitária para mulheres, pois ele se molda de acordo com cada situação e de maneiras subjetivas.
J
06
A
Somos - outubro '16
PERSONAS
UM DITADOR PARA SALVAR O BRASIL?
A personificação da política produz males que precisamos superar
E
Por Rosana Pinheiro Machado
O
ntrei no carro e, como habitual, o taxista começou a reclamar do Brasil até soltar a máxima: “o que o Brasil precisa é importar um ditador japonês para colocar a casa em ordem”. Ele não foi o primeiro, nem o segundo, taxista a me falar que o Brasil precisa é de um homem de pulso firme no poder. O propósito da minha coluna não é, do alto de minha suprema sabedoria e soberba, chamar taxista de coxinha, autoritário ou ignorante. O que eu gostaria e problematizar aqui é que a visão do taxista, talvez justamente por pertencer a um dos segmentos mais vulneráveis da classe trabalhadora, é apenas uma versão extrema de algo naturalizado em sociedade – a crença que a solução dos problemas virá da mão de um líder. Esse tipo de pensamento se manifesta, com diferentes nuanças, em diversos setores da sociedade, que vão do senso comum às mais sofisticadas análises políticas. De um lado, há aqueles que depositam suas esperanças numa volta triunfante de Lula para consertar o PT, ou entre círculos mais intelectualizados do partido, que veem a figura de Fernando Haddad como “O” novo líder. Do outro, estão os integrantes da nova direita, que odeiam a política partidária, não se identificam nem com o PSDB nem com o PMDB, mas idolatram a figura de Jair Bolsonaro como herói salvador. Ainda há aqueles que ficam discutindo se Ciro Gomes ou Marina Silva emplacariam. É fato que o Brasil carece de líderes, mas isso é necessariamente ruim? SOBRE OMBROS DO POVO muito comum ouvir que o problema do PT é a falta de líderes, quando uma geração inteira foi denunciada em seguidos escândalos de corrupção. Nesta concepção, é preciso buscar novas inspirações. De sua base, espalham-se fotos populistas de Lula sendo erguido pelas massas. Quase uma ressurreição. Entendo que isso possa funcionar como fonte de inspiração para a militância, mas estamos bastante cientes que os problemas enfrentados pelo partido estão longe de ser responsabilidade de Dilma Rousseff. Eles são fruto de uma história de institucionalização, burocratização e coalizão pela governabilidade. a parte de alguns analistas políticos e intelectuais orgânicos do PT, é muito comum ouvir que a renovação virá por Haddad, já que se trata de um dos poucos políticos da nova geração que têm carisma, aparência simpática e jovial, o que se alia a uma gestão progressista. Ou seja, tudo o que compõe o repertório da busca desesperada por um novo líder. Do lado do PSDB, o cenário não é nem um pouco mais animador. As disputas de carisma entre os principais nomes do partido soam deprimentes. Aécio Neves bem que tentou, mas não funcionou. Volta-se a disputa pelas mesmas figuras carimbadas que nunca emplacaram na disputa presidencial.
É
D
"Há quem diga que Bolsonaro é um animador de internet, uma FIgura caricata e não representa risco nenhum nas eleições de 2018." Mas é de um partido que quase ninguém lembra, o PP, que emerge a figura de Jair Bolsonaro. Ele foi recebido por uma multidão como herói salvador da nação, sendo carregado nos ombros em Recife e em Porto Alegre (nesta última também levou purpurina na cabeça, mas este é outro assunto...). Há quem diga que Bolsonaro é um animador de internet, uma figura caricata e não representa risco nenhum nas eleições de 2018. Ainda que eu concorde com a questão presidencial, não seria tão otimista em relação a ele. Subestimar o seu papel é um erro primário. á muito tempo que o comportamento violento de internet tem se traduzido em violência nas ruas (especialmente no que diz respeito à diversidade política e identitária). Da mesma forma, não se pode ignorar o imenso vazio que a figura dele preenche.
H
07
ALÉM DA PERSONIFICAÇÃO Vivemos em um sistema presidencialista, que consequentemente necessita de líderes que inspirem gerações e construam a identidade partidária. Líderes inspiram sonhos. E não há nenhum problema nisso. Ademais, dirão alguns, a falta de liderança é uma utopia. Brasil hoje é uma sociedade polarizada e carente de todas as ordens. Lideranças tendem a ser altamente personificadas e o resultado do culto à personalidade – à direita e à esquerda – não têm sido nada positivo ao longo da humanidade. Da mesma forma, não vejo, dentro do sistema político brasileiro, como uma liderança poderia renovar um sistema visceralmente apodrecido em seus pequenos e grandes poderes. Também não consigo entender como a guerra (um tanto obsessiva e infantil, é verdade) de memes da internet entre Lula x FHC (triplex ou apartamento em Paris; gravata borboleta ou sem camisa; operário ou sociólogo) possa acrescentar no debate político. Política é processo. Processo requer debate. Debate requer entendimento e solidariedade. Deixando o herói salvador um pouco de lado, é preciso se perguntar: quem de nós analisa agenda partidária e programa de governo? O exercício democrático, contudo, vai muito além da política partidária. Nesse sentido, vale a pena olhar para as novas gerações dos movimentos sociais e aprender com eles um pouco. Os valores da horizontalidade e democracia direta podem soar utópicos para alguns, mas tentar colocá-lo em prática já me parece um exercício que engrandecesse o nossos fazer político. Fundamentalmente, é preciso fortalecer a nós mesmos enquanto seres coletivos e cidadãos de direitos em uma população tão individualista como a brasileira, movida por interesses burgueses majoritariamente mesquinhos e autoritários. Nesse modelo de sociedade, faz sentido terceirizar o fazer político para a figura de um líder. m outro modelo de sociedade é possível. É nosso papel coletivo reivindicar o melhoramento das instituições democráticas, fortalecendo a base coletiva dos movimentos sociais, das associações comunitárias e dos partidos políticos. Não há como ter esperança de que nossos direitos, que são violados diariamente, irão ser implementados de cima para baixo. Não serão. Lá para cima a farra é grande. A solução de nossos problemas está, sempre esteve, e sempre estará, em nossas próprias mãos, no nível comunitário e coletivo. Paremos de olhar para cima e, por favor, voltemos a olhar para o lado.
Bolsonaro atua por meio de um discurso simples e inflamado (mas falacioso) que ocupa um vácuo deixado pela crise moral, econômica e política. É fácil atribuir os problemas do Brasil a um inimigo comum: a ameaça comunista, a “ditadura gay”, e assim por diante. claro que, hoje, se me perguntarem se Bolsonaro é um risco real para 2018, eu também seria cética. Mas, sinceramente, acho que não é esta a questão correta a ser feita. O que importa é justamente o seu papel de animador de torcida, que ontem estava adormecida e hoje sai às ruas com orgulho de defender bandeiras conservadoras. Importa justamente a identificação que ele obtém Brasil afora em uma população que detém muito pouco capital educacional e está profundamente carente de líderes e soluções dos seus problemas.
É
U
Somos - outubro '16
OPRESSÃO Por Larissa de Luna
Existem várias palavras (algumas com significados consideravelmente parecidos, outras nem tanto) que se perderam no senso comum, passando a serem utilizadas para os mesmos fins. Opressão e preconceito foram vítimas dessa confusão de termos.
Opressão x Preconceito: qual a diferença?
N
a opressão há preconceito, mas nem em todo preconceito há opressão. Para entender seus reais significados é simples: Começando por preconceito, que vem de pré-conceito, ou seja, um conceito formado precocemente. Preconceito é o nome dado a qualquer conclusão que tiramos antes do tempo necessário para adquirir um certo conhecimento sobre algo ou antes de qualquer atitude de fazê-lo. Existem diversas formas de preconceitos, algumas até rentáveis como, por exemplo, quando você acredita não ser sensato enfiar a mão em uma jaula com um tigre. Você sabe das chances disso não sair bem, mas não houve tentativas anteriores. Você formou um conceito antecipado sobre o animal, o que é uma forma de preconceito. Somos cercados por ele o tempo todo. Tiramos conclusões precipitadas o tempo todo. Todos somos vítimas de preconceito, assim como ele também faz parte de nós, o que pode ser bom ou ruim, dependendo da situação e para quem ou o que ele é direcionado. Já opressão é algo absurdamente diferente, mesmo que não pareça. Toda opressão é institucional e materializada. O que significa que é algo que vem de instituições de poder que se internalizaram dentro da sociedade e foram construídas socialmente. Opressão, diferente de preconceito, é longe de ser algo vindo do individual, mas sim do estrutural.
É quando por motivos políticos, religiosos, etc., a sociedade inteira vai contra uma pessoa pelo simples fato dela pertencer a um grupo marginalizado. Opressões formam classes hierárquicas, onde um tem poder sobre o outro e, consequentemente, indivíduos nascem e crescem com privilégios, já outros são absurdamente prejudicados por tais. Exatamente por isso não existem opressões contra homens, heterossexuais, brancos, magros, ricos, etc. Esses estão em cima da pirâmide hierárquica e detém todos os poderes possíveis em cima das classes oprimidas, estas que não tem poder estrutural algum para oprimir seus opressores. Uma única pessoa contra uma dessas classes dadas como supremas não é o suficiente para que seja uma opressão. Será um indivíduo contra uma classe e uma sociedade inteira indo contra ele e seus interesses. Por mais que uma mulher odeie homens, por exemplo, o seu preconceito não seria o suficiente para prejudicá-lo. A sociedade patriarcal, machista e misógina o defenderia, já que ele está no topo de tal e sempre será o privilegiado enquanto houver a existência dessas hierarquias. Na opressão o buraco é mais em baixo. É absurdamente enraizado, o que faz com que a mesma seja reproduzida tanto de forma direta quanto de forma indireta. Opressão não é escolha, nem para quem sofre e nem para quem o reproduz. Quem determinada qual grupo estará em qual lugar são as instituições de poder, essas que já deixaram muito claro suas posições quanto a isso.
08
Somos - outubro '16
Privilégio
Por Maisha Z. Johnson
Privilégio é diferente de direito. Um você conquista, o outro já lhe é dado de prontidão. Convidamos vocês a tentar entender um pouco mais sobre essa diferença, sua estruturação na sociedade e como tudo isso pode afetar suas relações com os outros.
E
stou bem de saco cheio de privilégio. Mas isso não significa que eu odeie pessoas privilegiadas. Quando escrevo sobre os privilégios que certos grupos tem, algumas pessoas -geralmente aquelas pertencentes ao grupo que escrevo sobre- ficam bravas ou chateadas. Por exemplo, se digo quão cansada estou de como o sistema de privilégio branco exclui e prejudica pessoas não brancas, algumas pessoas me acusam de ódio aos brancos. Só tem um problema: se você fica irritado quando alguém ressalta que você tem privilégio, isso provavelmente quer dizer que você não compreende completamente o que de fato é privilégio. Porque se você pensa que ter privilégio significa que você é uma pessoa ruim, ou que você não enfrente dificuldades, ou que você não teve que trabalhar para conseguir o que tem, entendo completamente porque você ficaria frustrado. Se fosse esse o caso, então, sim, seria completamente injusto eu assumir que todas as pessoas brancas, ou todas as pessoas heterosexuais ou de qualquer outro grupo dominante tenha uma vida fácil as custas de seus privilégios desmerecidos. Mas ser privilegiado não quer dizer nada disso.
Infelizmente, equívocos comuns sobre privilégio são tão amplamente difundidos que frequentemente fecham todas as portas de oportunidade que temos para entender e prestar contas de nossa parte nos sistemas de injustça social. Algumas pessoas dizem que ativistas nem deveriam usar a palavra “privilégio” pois ela imediatamente impede conversas com aliados em potencial, que podem se sentir culpados, acusados ou mesmo atacados pela mera menção da palavra. Construção social. Mas falar sobre privilégio não é pra ser algo confortável. Na verdade, o desconforto que você sente pode ajudar a criar consciência da desigualdade e se avaliar quando estiver apoiando a causa. Nunca vamos poder mudar as maneiras que contribuímos diáriamente para a injustiça se não pudermos falar de nossos própros privilégios - se automaticamente rejeitarmos a ideia que ele se quer existe porque não o entendemos.
09
Cada um de nós (sim, até mesmo os mais desprivilegiados) tem uma identidade que se beneficia da exploração de outro grupo. Se recusar a encarar seu próprio privilégio ajuda a manter a opressão exatamente onde está. Mas aposto que se examinarmos o desconforto ao invés de evitá-lo, veremos que parte dessa inquietação vem na verdade de ideias errôneas sobre o que privilégio não é. Para começar, aqui temos o que Sian Ferguson nos deu como definição básica de privilégio: “um conjunto de benefícios não merecidos, dados à pessoas que se encaixam em certo grupo social”.
Daqui para frente, os detalhes ficam cada vez mais complexos. Aqui está o que privilégio é, e não é.
A
1
Somos - outubro '16
Ter privilégio não signiFIca que você é uma pessoa ruim
O fato de que você tem benefícios que outras pessoas não tem é bem grotesco. Então quando alguém diz que você tem privilégio, pode parecer que estão te acusando de deliberadamente roubar de grupos mais oprimidos. Se você está fazendo um esforço para combater opressão ativamente, o sentimento é ainda pior - como se estivesse tentando seu melhor, mas ainda te acusam de fazer algo errado. Mas ter privilégio não é deliberadamente exigir algo - é sobre as circunstâncias da sua vida que te dão benefícios os quais você nunca pediu. Por exemplo, eu tenho o privilégio como pessoa de corpo capaz. Eu não quero viver em um mundo onde tenho acomodações que pessoas com deficiências físicas não tenham acesso, mas a verdade é que eu vivo. Isso não é culpa minha. Mas eu reconheço que me beneficio deste privilégio e que deveria fazer algo a respeito, porque todos merecem acesso a recursos e acomodações básicas. Além disso, levar o sistema de discriminação para o pessoal, como se fosse algo que eu estou fazendo errado, nos distrairía do real foco de quando se fala de privilégio: Acabar com a opressão. Para ser um aliado que de fato apoia e contribui, não podemos focar a atenção apenas na minha própria culpa - preciso ajudar a centrar as vozes das pessoas com deficiências físicas que espalham conhecimento e consciência sobre como pessoas como eu podem fazer melhor. A liberação deles é o que os direitos aos deficientes é.
2
Ter privilégio signifIca que existe todo um sistema atuando
Privilégio não é sobre indivíduos sendo pessoas ruins, mas é sobre todo um sistema que favorece certos grupos e prejudica outros. Estes sistemas - como classismo, sexismo, supremacia branca, etc tem apoio estrutural de leis, da mídia e de políticas que afetam nosso dia a dia. A maioria de nós não é ensinado sobre o quanto estes sistemas são uma parte influênte no modo como o mundo funciona. Aprendemos que todos podem trabalhar e receber recompensas, e colocar a si mesmos pra cima com o suor da própria testa para ganhar renda e ser uma pessoa decente e ter respeito. Então descobrir que seu privilégio te dá uma vantagem logo de cara para conquistar estas coisas pode ser chocante - essa descoberta desafia tudo o que você achou ser a verdade.
É por isso que, até certo ponto, faz sentido você não estar consciente do seu privilégio, e mesmo assim é dificil se acostumar com a ideia de tê-lo. O negócio é que eu não sou obrigada a saber que tenho privilégio em relação à pessoas com deficiências físicas, ou mesmo qual meu papel como privilegiada para sobreviver que por si só já é parte do meu privilégio como pessoa de corpo capaz. Posso fazer coisas como encontrar um apartamento que acomodem minhas necessidades físicas sem me preocupar com a possibilidade de que um locatário me discrimine. Mas graças ao trabalho árduo de ativistas e advogados da causa de pessoas com deficiências, eu sei que o sistema de privilégio para pessoas com corpos capazes existe - ou seja, se eu não me comprometo a aprender e a não intencionalmente evitar contato com a causa, eu provavelmente estou causando um mal sem intenção.
3
Ter privilégio não signiFIca que você não é oprimido em outras esferas sociais
“Eu não me sinto privilegiado” Já ouvi isso várias e várias vezes de pessoas que ainda estão aprendendo sobre seus privilégios. E na real, eu acredito. Não somos ensinados a ser conscientes de nosso privilégio (nos deixar no escuro é parte do que mantém o sistema de opressão no lugar) e existem vários tipos de sistemas de opressão afetando a todos nós. Ou seja, ter um tipo de privilégio não quer dizer que você não seja oprimido de outras maneiras. Muitas pessoas brancas e pobres quando descobrem que são privilegiados, por exemplo, resistem à ideia porque tiveram dificuldades financeiras - o que não deixa a vida fácil, claro. É dificil compreender como você pode se beneficiar de um privilégio quando você sabe o que é passar desgraça. Seu privilégio branco não apaga sua luta.
Assim como a supremacia branca é um sistema que prejudica pessoas negras, o classismo também é um sistema real que afeta a vida de pessoas brancas e pobres de uma maneira muito séria e real. Então se você é branco e pobre, é claro que você não desfruta dos benefícios que as pessoas ricas tem. Diferente de aguém que pode facilmente comprar comida, você pode estar mantendo e alimentando sua família de uma maneira arriscada e perigosa, talvez até mesmo praticando atos ilegais como roubar. Mas isso não significa que você não tem privilégio por ser branco - por exemplo tendo uma change menor de ser preso, encarcerado ou morto por estar se arriscando ilegalmente.
4
Privilégio pode vir de várias formas, assim como a opressão
Para muitas pessoas, opressão aparece de várias maneiras. Por exemplo, toda pessoa pobre encontra barreiras quando procura emprego, como a impossibilidade de comprar roupas que caiam no aceitável para um look “profissional” para o espaço de trabalho. Mas uma pessoa pobre e negra precisa lidar com a discriminação racial que faz com que um potencial empregador seja mais inclinado a dar a vaga de emprego a um candidato branco do que conceder-lhe uma entrevista. Uma mulher pobre também enfrenta o sexismo no ambiente de trabalho quando potenciais empregados a julgam como menos competente e menos “empregavél”que um homem. Isso não significa que um homem branco e pobre necessariamente consegue emprego fácil - porque ele ainda precisa lidar com a opressão classista. E ele pode ainda ter que enfrentar outras discriminações baseadas em outras identidades, como por exemplo homofobia ou gordofobia. Mas sistemas de opressão não acontecem isolados. Eles trabalham juntos dentro de um sistema maior chamado Kierarquia (1). Então se uma mulher preta e pobre estiver procurando emprego, classismo, racismo, e sexismo tudos juntos irão prejudica-la.
10
5
Privilégio não é uma competição para determinar quem é o mais oprimido
Toda essa conversa sobre múltiplas formas de opressão pode lhe soar como a Olimpíada da Opressão. Sou uma mulher negra e queer posso ganhar o ouro nessas olimpíadas? Não, mas agora falando sério. Existem muitas pessoas que tem dificuldades e desvantagens que eu não tenho, e eu tenho dificuldades e desvantagens que outros grupos de pessoas não tem ideia de como são. O propósito de falar sobre privilégio não é quem é o vencedor por ser mais oprimido - isso me soa como um jogo em que todos perdem de qualquer maneira. E não estou dizendo que pessoas privilegiadas não merecem apoio. Por exemplo, algumas feministas acreditam que interseccionalidade dilui o movimento porque tira o foco do sexismo para focar em outros problemas como racismo, transfobia, classismo, etc. Mas expandindo o foco para apoiar todas as pessoas que são prejudicadas pela desiguadade de gênero - não apenas mulheres brancas, cisgênero, hetero - não significa dizer que essas mulheres não são importantes ou que seus problemas não são preocupações reais. Interseccionalidade é dizer que mulheres brancas, cisgênero, heterosexuais não tem o único problema que o feminismo engloba. Então se você é uma dessas mulheres, você não tem que abrir mão de falar sobre suas experiências pessoais com o sexismo - mas você é responsavel por explorar seu prórprio privilégio como parte de sua luta contra a injustiça social.
(1) O termo Kierarquia foi mencionado por Alisabeth Schussler Fiorenza em seu livro publicado em 2001 “Modos de Sabedoria: Intrudozindo feminismo bíblico interpretativo” e no glossário o define como: “Um neologismo derivado das palavras gregas para “senhor” ou “mestre” (kyrios) e “governar ou domirar” (archein) que procura redefinir a categoria analítica do patriarcado em termos de estruturas de cruzamentos multiplos de dominação. Kierarquia é melhor teorizado como um sistema piramidal complexo de interseções de múltiplas estruturas sociais de superordenação e subordinação, de normatização e opressão”.
V Somos - outubro '16
6
10
TER PRIVILÉGIO SIGNIFICA QUE VOCÊ PODE OFERECER APOIO PARA OS GRUPOS MAIS VULNERÁVEIS ENTRE NÓS, E FORTALECER A LUTA
Feminismo interseccional é um ótimo exemplo de como um movimento que reconhece privilégios é mais forte do que aquele que o ignora. Podemos aprender com esse modelo de crescimento e checar nosso próprio privilégio sem apagar nossas dificuldades pessoais. Veja o movimento LGBTQIA+, para exemplificar: até pouco tempo atrás, casamento era parte do privilégio hétero nos Estados Unidos. Muito tempo, dinheiro e recursos foram gastos na luta para conseguir igualdade civil e alcançar essa vitória foi muito importante para pessoas queer que querem se casar. Mas o direito ao casamento não faz diferença nenhuma em outros problemas que afetam a comunidade LGBTQIA+, como maiores taxas de suicídio, ou que mais de dois terços das vítimas de homicídios dessa comunidade são mulheres transgênero negras. Contemple como seria se um pouco dos recursos e atenção dada à iguladade civil do casamento fosse redirecionada para apoiar as pessoas mais vulneráveis da comunidade LGBTQIA+ por estarem em intersecções de desigualdade, ao invés de apoiar apenas os mais privilegiados. Como lidaríamos com estes outros problemas? Teríamos que mudar a raiz das causas do sistema que dá à pessoas hetero, brancas e cis privilégios em relaçao às pessoas queer, negras, trans e não binárias. Como, por exemplo, mudar crenças culturais sobre normas de gênero, prover recursos para pessoas que lutam contra a pobreza e a discriminação e oferecer alguns dos mais de 1.000 benefícios disponíveis para pessoas casadas, à todos que precisem deles, incluindo pessoas que não querem ou não podem ter um casamento legal tradicional. Essas mudanças ajudariam não só pessoas queer a terem o direito de se casar, mas também qualquer pessoas que não segue perfeitamente as regras de gênero impostas pela sociedade - tipo, todo mundo. Essa é mais uma beleza de focar a luta em justiça para todos, não só pessoas que tem privilégios.
Ter privilégio se refere aos beneficios sistemáticos da sua identidade (mas a mesma identidade pode ainda estar atrelada a incidentes de preconceito)
7
Ter privilégio não signifIca que você não se esforçou ou trabalhou duro, ou que deveria se sentir mal por ser bem afortunado
Algumas pessoas dispensam a ideia de privilégio apontando casos de exceção à regra. Por exemplo, LaNell Williams recentemente se graduou em um bacharelado de física e está começando um mestrado e PhD no outono. Como uma mulher negra ela passou por ambas as barreiras de discriminação sexista e racista que mantém mulheres e pesoas negras fora do campo acadêmico da física. Então, ela está provando que é possível uma mulher negra ter sucesso. Mas considere o contexto: em 39 anos, os doutorados da academia americana de física foram conquistados por 66 mulheres negras americanas - enquanto 22.172 homens brancos conseguiram o mesmo. WIlliams é uma grande exeção. Claramente, não é só trabalho duro que determina suas chances de conseguir um destes doutorados. As circunstâncias de ser um homem branco te dá vantagem além do esforço. E todos merecem uma chance igual.
Digamos que você é um homem que tem sucesso competitivo no campo de disciplinas acadêmicas (ciência, tecnologia, engenharia ou matemática - STEM). Você está feliz com o dinheiro e reconhecimento que você lutou para conseguir, sentindo-se orgulhoso de seu trabalho, e então chega alguém e te diz que seu privilégio por ser homem te ajudou a chegar onde está hoje. Você fica estarrecido com as implicações deste fato - estão dizendo que eu não trabalhei duro pelo que tenho? Ou que deveria me sentir culpado por ser afortunado? Não. A verdade é que crenças sexistas desencorajam meninas e mulheres a se interessar e perseguir carreiras em tais disciplinas acadêmicas, te dando mais acesso a este campo do que qualquer mulher. Mas isso não significa que você não merece seu sucesso. Significa que todos merecem acesso ao que você tem, independente de gênero. Ninguém deveria ser desencorajado ou excluído de nenhum campo do conhecimento por causa de quem se é.
9
Ter privilégio não signifIca que você nunca foi diminuído por ter a identidade que lhe concede seu privilégio
É perfeitamente possível que você tenha sido diminuído em detrimento da mesma identidade que lhe concede certos privilégios - o que é outra razão pela qual privilégio não significa que você tenha a vida fácil. Um exemplo é como os Estados Unidos é dominado pelo cristianismo em maneiras que muitos de nós nem percebem. Valores cristãos ditam ideias populares sobre coisas como nossas vidas sexuais - mesmo para pessoas que não são cristãs. Enquanto cristãos são perseguidos em algumas partes do mundo, nos Estados Unidos eles tem benefícios como, por exemplo, ter a vasta maioria de políticos que lideram o país (tipo 100% dos nossos presidentes) com a mesma fé que eles. Mas isso não significa que eles não tenham encontrado dificuldades por serem cristãos nesse país. Em alguns círculos, incluindo a comunidade ativista, não é bem visto ser uma pessoa de fé - muitas pessoas foram caçoadas, desprezadas, ou não levadas a sério puramente por praticarem a religião. Ninguém merece ser tratado desse jeito - e dar nome ao privilégio cristão não nega isso.
8
Ter privilégio signiFIca que muitas pessoas não podem acessar o que você tem, não importa o quão duro trabalhem para consegui-lo
É claro, dá trabalho para conseguir sucesso em qualquer campo, não importa quem você é. Mas para algumas pessoas, sistemas de opressão mantém o sucesso fora de alcança mesmo que a pessoa trabalhe muito para chegar nele. Pessoas que aos olhos da sociedade são femininas por exemplo, são bombardeadas a vida inteira por mensagens que lhes dizem que elas não são inteligentes o suficiente ou boas o suficiente em matemática ou ciência para perseguir carreiras em STEM. Mesmo que elas conseguam superar as mensagens e ir atrás de uma carreira em STEM, elas ainda enfrentarão a cultura misógina que desvaloriza suas habilidades e as trata como menos capazes e menos inteligentes que as pessoas percebidas como masculinas.
11
Para muitas pessoas, a próxima pergunta que vem naturalmente é: se favorecer cristãos em detrimento de não-cristãos conta como opressão, então porque quando acontece uma manifestação de preconceito contra eles não é a mesma coisa? E aqui está o porque: opressão sistêmica funciona no contexto da cultura dominante. Nos Estados Unidos a religião dominante é o cristianismo. Se alguém te discriminar por ser cristão, isso não é aceitável, e é um exemplo de preconceito religioso desta pessoa. Mas do seu lado, seu privilégio cristão garante que você tenha folga do trabalho em seus feriados religiosos, e é muito provável que você encontre com facilidade “colegas de júri” que tem a mesma fé que você na hora de te julgar em um processo e instituições de ensino tendem a favorecem sua religião. Estes são exemplos de apoio estrutural que você tem por viver em uma sociedade onde sua religião é considerada a norma. Hindus, muçulmanos, ateus e outras pessoas não-cristãs vivem nesta mesma sociedade mas suas crenças não tem o apoio que a cristã tem em instituições de ensino, ou no local de trabalho ou mesmo no Estado. Na verdade, elas tem que lidar com total discriminação, como aeroportos parando muçulmanos. A influência massiva da opressão sistêmica é o que faz valer a pena desafiar o privilégio.
7 Somos - outubro '16
11
14
Ter privilégio não quer dizer que você não é um indivíduo
Você sente que estão generalizando quando mencionar seu privilégio? Digo, o termo “pessoas brancas” é um grupo gigantesco de pessoas. Então, falar sobre privilégio branco como se todas as pessoas brancas do mundo tivessem a mesma vivência, parece pintar pessoas demais com o mesmo pincel. Se você é um aliado branco que faz seu melhor para evitar ser racista, por exemplo, você pode se sentir insultado sendo agrupado com uma pessoa extremamente racista qua tem o mesmo privilégio branco que você. Ter privilégio não apaga sua individualidade. Existem pessoas brancas completamente conscientes de seu privilégio e que estão lutando ativamente para compensarem como podem. Existem pessoas brancas que não tem ideia nem o que a palavra privilégio significa. Existem pessoas brancas que sabem sobre ele e deliberadamente rejeitam a ideia em favor de ideias racistas. Todas as pessoas brancas tem privilégio. Mas isso não significa que elas são todas iguais.
12
Ter privilégio signiFIca participar em sistemas de discriminação de maneiras diferentes Okay, eu acabei de dizer que privilégio não é sobre generalizar agora estou dizendo que todos participamos de sistemas discriminatórios - e aí? Permita eu desenvolver. Sistemas como supremacia branca, colonização e xenofobia, todos precisam de nós para funcionar. E estudos mostram o que fazemos para reforçar esses sistemas, seja consciente ou inconscientemente. Vejamos xenofobia - o medo de pessoas de outros países ou estados - por exemplo. Talvez você tenha nascido nos Estados Unidos e nunca pensou em atacar um imigrante só porque ele se mudou para cá. Mas de alguma maneira, você acredita nos estereótipos sobre os imigrantes, como cirminosos e pessoas que vieram “roubar os empregos”, então você votou em um candidato político que tem a proposta de “fronteiras seguras”. Ou você usa frases de microagressões em seu vocabulário como chamar alguém de “exótico” sem perceber porque isso é ofensivo. Ou aquela uma vez que você não disse nada quando um dos seus amigos contou uma piada insensível e preconceituosa sobre pessoas de outros países. Estas ações não são o mesmo que violência fisica, mas elas são maneiras que até pessoas “bem intencionadas” da cultura dominante contribuem em vários níveis para o sistema da xenofobia. Caramba, até os próprios imigrantes podem contribuir para o sistema.
Apontar privilégio signifIca dar suporte ao grupo privilegiado para que sejam vistos como inteiramente humanos
Eles fazem isso se policiando com pressões sociais para conformizar com a cultura americana, ensinando apenas inglês para seus filhos e se auto-constrangendo - como imigrantes negros podem internalizar racismo e questionar sua beleza ou valor. A diferença é que quando pessoas oprimidas participam do sistema dominante, elas não ganham os benefícios que o grupo dominante tem. Para abordar essa desigualdade, todos precisamos começar a acabar com toda nossa contribuição para a opressão estrutural.
13
Apontar privilégios não quer dizer odiar pessoas que o tem
Em geral, ter privilégio soa como algo muito suave - ter acesso a benefícios não merecidos parece um ótimo acordo. Mas no fim o sistema de privilégios prejudica a todos nós, incluindo os grupos dominantes. Esta é outra razão pela qual apontar o privilégio masculino é bem o oposto de odiar homens: Igualdade de gênero significa TODOS, incluindo homens, tem o apoio e suporte que precisam. Para acessar os benefícios do privilégio masculino, homens precisam estar em conforme com ideias tóxicas de masculinidade. Eles estão cercados de mensagens como “homens não choram” ou “seja macho” configurando-os para alcançar uma expectativa muito prejudicial. A verdade é que ninguém se encaixa perfeitamente nos papéis de gênero que a sociedade demanda de nós. A ideia de se encaixar nas normas de gênero para que sejamos de algum valor é nocivo para todos, mesmo aqueles de nós com privilégios. Se livrar desses ideais tóxicos sobre gênero ajudaria todos a florescer como seus verdadeiros “eus” livre das expectativas impostas e regras rígidas da sociedade.
Quando James St. James escreveu para o Everyday Feminism sobre exemplos de privilégios masculinos da perspectiva de um homem trans a resposta foi espantosa. Tantos leitores não tinham se ligado em como a sociedade trata mulheres e homens tão diferente - porque muitos eram exemplos de sexismo sutil, que passam despercebidos. Isso inclui sexismo de pessoas que não notam que estão sendo sexistas. Apesar do mito errôneo de que feminismo é sobre odiar homens, apontar o privilégio dos homens não tem como objetivo subjulgar os homens. Trazer a atenção para as muitas (e frequentemente invisívies) maneiras que homens são mais respeitados apenas por serem homens nos ajudam a perceber que o oposto é real: mulheres muitas vezes não são respeitadas apenas por serem mulheres. É obvio que você não precisa odiar homens para acreditar que pessoas de todos os gêneros merecem e precisam ser respeitadas.
12
15
Ter privilégio não significa que seu privilégio é completamente separado das maneiras que você é oprimido
Okay, agora que estamos começando a entender as complexidades sobre como o privilégio funciona, estou te jogando uma bola curva. Mas não desista ainda. Privilégio em ser magro é um exemplo de como seus benefícios “desmerecidos” podem estar na verdade conectados com sua opressão. Pessoas com privilégio em ser magro não precisam lidar com gordofobia - o medo do público de corpos gordos. Mas todas as pessoas, incluindo pessoas magras, podem estar sucetíveis à “body shaming”. Para mulheres, privilégio em ser magra está conectado com os ideais misóginos de beleza. Essencialmente, uma mulher magra tem privilégio porque está mais perto da imagem de beleza que a sociedade tem - e está sendo objetificada, o que na real não é uma coisa boa. Ter privilégio não significa que isto não seja parte da sua realidade.
16
Ter privilégio signiFIca que seus benefícios podem ser condicionais. É possívle ter privilégios em algumas situações, mas não em outras. Por exemplo, colorismo dentro das comunidades de pessoas negras dá à pessoas de pele mais clara benefícios que pessoas que tem pele mais escura não tem. Nossa sociedade percebe pele clara como mais atraente e menos intimidadora, porque é mais perto do ideal eurocêntrico de beleza. Mas as mesmas mensagens que favorecem pessoas negras com pele mais clara em relação à pessoas de pele mais escura também faz com que pessoas negras de pele clara tenham desvantagem em comparação com uma pessoa branca. Então, colorismo dentro de comunidades negras é um ciclo terrível no qual ninguém ganha. Mas isso claramente também não quer dizer que pessoas negras de pele clara tem a vida facil, e reconhecer que privilégio de pele clara não é o mesmo que dizer que as pessoas que o tem nunca passam por dificuldades.
Y Somos - outubro '16
18
Ter privilégio signiFIca que você TEM uma escolha do que fazer com isso
17
Ter privilégio não signiFIca que não tem nada que você possa fazer sobre isso
Isso tudo é bem complicado, mas a verdade é que todo mundo já tem um certo conhecimento sobre opressão - por causa de nossas experiências pessoais com as maneiras como somos oprimidos. Eu sei sobre racismo, heterosexismo e misoginia porque vivo o impacto destes sistemas todos os dias. Diferente de pessoas com privilégio branco, privilégio heterosexual, e privilégio masculino, eu não tenho escolha sobre querer ou não enfrentar essas formas de opressão ou não. Quando olhamos para os meus privilégios por outro lado, eu tenho uma escolha se vou ou não me envolver. E você também. Você pode se fazer de desentendido, aproveitar os benefícios dos seus privilégios e ignorar a desigualdade que prejudica pessoas que não são como você. Ou você pode aceitar sua responsabilidade como aliado e usar seu privilégio para o bem. Apoie políticas que dêem a todos acesso aos recursos que eles precisam e merecem. Centralize as vozes da pessoas que são marginalizadas em várias instâncias para que possam liderar o movimento às raízes da opressão estrutural que prejudica a todos nós.
OU SEJA:
Abraçe as realidades desconfortáveis do que realmente significa ser privilegiado. Essa é a empatia que pode ajudar a alimentar o fogo da mudança que, no final, beneficiará a todos nós. É trabalho duro - e assim como ter privilégio não significa que a vida é facil, não vou dizer que navegar por ele será facil. Mas tem algo que eu sei sobre você: como um ser humano, você passou por dificuldades, assim como todo outro ser humano passou. e, de algum jeito, você superou essa dificuldade. Provavelmente até mesmo antes que você tivesse um nome para o que estivesse passando, ou um entendimento de como seus problemas se relacionam com a opressão. Então, eu sei que você pode encarar duras realidades. Com o que você sabe sobre seu privilégio, você pode fazer o esforço para com cautela conhecer sua posição no mundo sem causar o mal aos outros. Faça isso com compaixão à você mesmo, com empatia por outros e você estará em um bom caminho para fazer o melhor impacto possivel em sua própria vida e no mundo ao seu redor.
Culpa é um sentimento que pode te deixar impotente para tomar ação. Reconhecer seu privilégio pode fazer com que você se sinta desanimado, te deixar sentindo que não tem nada que possa fazer sobre isso. Mas se você é um aliado branco e pessoas negras exigem que você reconheça seu privilégioo, elas estão te dizendo que você pode fazer alguma coisa sobre isso. Não apenas ficar remoendo seu sentimento de culpa por ser branco. Assim como eu, como aliada cis, posso identificar oportunidades de quando melhor posso apoiar pessoas trans e não binárias quando alguém parte desta comunidade apontar, por exemplo, erros e ideias errôneas comuns que pessoas cis cometem. Ao invés de culpa, você pode revidar seu privilégio com empatia. Entenda o que impede todas as outras pessoas de ter acesso ao que você tem, e faça sua parte para diminuir a disparidade.
13
Somos - outubro '16
Você é Privilegiado? Se a resposta for sim, ganhe +1.
10
1 0 -1 -2 2 -3 -4 4 3 5 -5 -6 6 7 -7 -8 9 8 -9
1- Estudei minha vida toda em colégio particular. 2- Não dependo de transporte público. 3- Tenho mais de um banheiro em casa. 4- Morei/moro com meus pais até conseguir me sustentar. 5- Nunca dependi de programa social.* 6- Nunca trabalhei para pagar meus estudos. 7- Sou identificado como branco. 8- Nunca fui parado pela polícia por andar “suspeito”. 9- Tenho plano de saúde particular. 10- Sou homem. 11- Nunca me envergonhei de minha religião. 12- Nunca precisei esconder minha sexualidade. 13- Nunca fui assediado/a em locais públicos. 14- Posso usar as roupas que quiser sem sofrer preconceito na rua. 15- Minha identidade sexual é respeitada. 16- Já viajei para o exterior. 17- Nunca me negaram algo pela minha raça, gênero ou sexualidade. 18- Tenho ensino superior completo. 19- Nunca fui comparado a algum animal em tom pejorativo. 20- Não sou eu quem lava meu banheiro.
Ser reconhecida!
Ed sheeran
Laverne Cox
Confira:
Sua luta é diária e precisa
Comece no 0 e adicione ou subtraia dalí! Do que imagina!
Vocé é mais privilegiado
Caso seja não, -1.
-10
O Brasil é o país que mais mata transsexuais no mundo todo.
338 314 331 319 116
até agora
Opinião
Este infográfico foi feito para ser espalhado por aí! Ele precisa chegar nas mãos de pessoas que você acha serem opressoras! Conscentizar elas sobre seus privilégios para despertar um pouco de empatia é nossa missão! Corte ele no tracejado e dê a um conhecido!
A Elite brasileira luta para manter os privilégios que tem, e a classe trabalhadora luta pelos direitos que não tem. Essa é a famosa luta de classes que tanto se fala. Cabe ao estado balancear a riqueza e direitos de ambos para o bem-estar social. O problema começa quando o estado reforça os privilégios da elite, fazendo cortes em programas sociais, isentando templos de pagar impostos e ainda por cima não taxa grandes fortunas. Impostos estes que poderiam alimentar diversos programas descartados por falta de verba. Esta é a luta dos menos privilegiados.
14
Somos - outubro '16
Opressor X Oprimido Conheça as diferenças entre um opressor e um oprimido, saiba o que são privilégios e o que são direitos, como é criada essa hierarquia e como você pode ajudar nisso tudo!
x
Ed Sheeran Privilégios
Privilégios são regalias
Mais poder Tem voz ativa Direita Preza por manter as coisas como estão
Controlador Indivíduo Interesse de uma minoria
Dita o padrão
A liberdade do opressor vem de berço, logo não há necessidade de lutas por direitos, apenas confrontos para manter o privilégio. O opressor costuma usar da falsa generosidade, para enganar os oprimidos de que estão lhes dando direitos, quando na verdade apenas se reforça as relações de poder
Laverne Cox Direitos
Direitos são necessários
Menos poder Não possui voz Esquerda
Luta por constantes mudanças políticas e econômicas
Controlado Coletivo
Grupo de pessoas em constante luta
Foge do padrão
LIBERDADE
A liberdade do oprimido é conquistada através da luta de classes, quando a elite é confrontada pelos pobres, o que dá origem ao novo homem (renascido da luta). Há amor pelas conquistas da luta, logo, amor pela luta como forma de ter direitos e conquistar espaço na sociedade, para enfim ter voz.
CONSCIENTIZAÇÃO Produto do engajamento das elites para com a luta dos oprimidos, ter noção da realidade que as relações de poder causam e através deste percebimento propor uma mudança de postura, o opressor agora percebe que oprime, assim, se solidariza com a luta.
Estereótipos Opressor
Empatia
x
Homem Heterossexual Cisgênero Branco Rico Bonito Intelectual
Educação Todo oprimido sonha em ser opressor. Cabe educar também os oprimidos para que não se tornem novos opressores. O novo homem deve nascer para apaziguar a luta, garantir direitos aos oprimidos e educar os opressores a ter empatia com seus oprimidos.
15
Oprimido
x
Mulher Transsexual Homossexual Negra Pobre Feio Ignorante
R Somos - outubro '16
REVIRAVOLTA
O
O DIA EM QUE O OPRIMIDO DECIDIU REAGIR.
que é violência? Violência, palavra derivada do latim “violentia”, que significa “veemência, impetuosidade”. Também está relacionada ao termo “violação”, de violare. Na maioria dos meios de comunicação e em setores sociais, o simbolismo da violência é tratado de forma generalizada. Costuma-se classificar como violência tudo aquilo que perturba uma aparente ordem de paz (ainda que o conceito de paz possa ser também problematizado), tais como: atentados de grupos armados, destruição de patrimônios públicos e privados, manifestações políticas (à esquerda) e agressões em geral. orém, é necessário que problematizemos a questão de violência e suas circunstâncias. Faz-se necessário que a arranquemos da narrativa colonizadora da mídia hegemônica e de outros meios que incidem diretamente na opinião pública. Descolonizar a violência é desconstruí-la e encontrar no meio de seus destroços o que é de fato violência, quem a pratica e o que é a reação. Por exemplo, diariamente mulheres são aviltadas por homens, seja no espaço privado ou no público (transporte, por exemplo). Quando uma mulher reage, tal fato é tratado com alarde e como algo “violento”. Mas, como bem frisou Malcom X, é necessário “não confundir a reação do oprimido com a violência do opressor”. O oprimido tem identidade, classe, cor, gênero e orientação sexual. Especificamente, podemos entender enquanto classe de oprimidos os/as negros/as, mulheres, bichas, lésbicas, drogados, transexuais, indígenas, imigrantes em condições de clandestinidade e outros marginalizados. Estes grupos vivem toda a sorte de violência por parte de um sistema/Estado que está organizado para normatizar, classificar e homogeneizar as experiências. A partir do momento em que estes corpos se tornam dissidências das regras sociais, passam a viver cotidianamente a violência perpetrada pelos códigos padronizadores. As violências são inúmeras: desde a exclusão dos espaços sociais até mesmo a eliminação. Estes corpos, perante o sistema branco-ocidental (que se pressupõe hegemônico/sem fronteiras/colonizador), são elimináveis.
P
“VIADO NÃO É BAGUNÇA”
E
o nde estaria o agente opressor? De maneira direta, podemos identificar a opressão no sistema judiciário, que possui a mão pesada para com os oprimidos; as forças militares que, invariavelmente, reprimem ações populares e os sujeitos marginalizados; o Estado, quando nega a existência de algumas identidades e não quando retira direitos e, quando isto ocorre, sempre atinge o lado mais fraco da corda… Portanto, compreender a violência opressora é entender que ela é fragmentada, manipuladora e que, muitas vezes, coopta o oprimido e faz com que este invista opressão contra os seus parceiros oprimidos.
C
ircula pela rede um vídeo em que um homem homossexual reage a uma difamação homofóbica com socos e chutes contra o seu agressor, que vai ao chão. Muita gente aplaudiu e outras reprovaram. De um lado, reconhecia-se o fato de que sujeitos sexodiversos cansaram de serem humilhados em silêncio e que estariam reagindo; do outro lado, de que se tratava de um fato triste: uma opressão sendo respondida com violência. Eis aqui o X da questão: quem, de fato, pratica violência?
A reação da bicha deve ser entendida como uma reação frente a uma gama de opressões que LGBT, mulheres, negros, índios e outros marginalizados sofrem ao longo dos séculos diante de um silêncio complacente de boa parte da sociedade e da classe política. Afirmar que se trata de “violência” a reação de um sujeito frente a uma agressão que ocorre por décadas é reforçar/reafirmar toda a estrutura da violência opressora. Os sujeitos marginalizados são sistematicamente violentados e, no limite, se organizam e vão às ruas protestar; quando um sujeito, sozinho, reage, ele não está cometendo violência, ele está reagindo uma violação que o persegue, e não apenas a ele, mas a seus amigos e, consequentemente, familiares.
"ou você me respeita, ou você aceita."
Q
O
d iscurso “pacifista” quase sempre surge quando o oprimido reage. Esta observação é feita pertinentemente por Fanon em Os Condenados da Terra ao tratar da intelectualidade colonizada e da possibilidade de diálogo entre colono e colonizado quando este resolve se levantar contra o sistema de poder imposto pela colonização. O intelectual colonizado e o colono logo se aproximam do oprimido revoltado para lhe dizer que não é assim que as coisas devem ser, que devem conversar, ter calma e que tudo ficará melhor. Esta sistemática se repete com os marginalizados quando se rebelam em nossa contemporaneidade.
Em outro momento, Fanon afirma que, quando o colonizador se dá conta de que não poderá mais controlar a revolta, ele se utiliza do “terreno da cultura, dos valores, das técnicas” para manter o seu poder. E o que significa a retomada do Estatuto da Família, que apenas reconhece a família normativa, senão um chamado pelos valores frente ao avanço do movimento LGBT? E as campanhas contra o aborto, senão uma convocação para a criminalização do corpo da mulher? Sempre que a rebelião se fortalece, fala-se na “dignidade humana” e na “paz”, mas, bem sabemos que estes dois valores têm endereço: na heteronormatividade classe-média e nos setores detentores de poder, que sentem seus privilégios e dominação ameaçados quando a bicha e outros marginalizados reagem.
16
uando a bicha nocauteia o seu opressor e lhe diz com todas as letras que “viado não é bagunça” e que ele não veio a este mundo “para ser tirado”, no momento do fato, ele pode estar “sozinho”, mas a sua atitude pode ser interpretada simbolicamente como os passos necessários para a transformação do social, pois, e novamente nos apoiamos em Fanon, a prática dos crimes de ódio por identidade de gênero e orientação sexual acontece há tanto tempo que foram naturalizadas e, consequentemente, o oprimido passou a apanhar em silêncio, visto que a dominação sistêmica o programou para pensar desta forma. Quando o sujeito reage a séculos de dominação, ele está reagindo contra toda uma estrutura de violência que sempre, direta ou indiretamente, lhe informou que não deveria reagir, mas sim permanecer em silêncio e manter a ordem das coisas.
Fonte: http://www.pragmatismopolitico. com.br/2015/02/o-dia-em-que-o-oprimidodecidiu-reagir.html
Somos - outubro '16
PROSA MENOS DIETA, MAIS AMOR PRÓPRIO Por Fernanda Luz e Natalia Pinhabel
O
I
zabela Ambiel é uma quebra de esteriótipos em pessoa. Ela é a prova de que alguém pode ser fascinado pelo mundo nerd e mesmo assim curtir ir a festas ou que uma mulher pode ser gorda e mesmo assim amar cada parte de seu corpo. A neta mais nova da família passou grande parte de sua infância em Minas Gerais e era constantemente superprotegida: “fui aquela criança pirralha que corria atrás dos primos mais velhos, eu era o chaveirinho”. Sua mãe sempre teve receio em deixar as duas filhas brincando nas ruas com garotos mais velhos, preferia tê-las dentro de casa, onde os olhos alcançavam. “Éramos crianças de sofá”, conta Izabela. Apesar de ser muito próxima aos seus pais, a estudante de design ama morar em Bauru, longe da família. Foi quando saiu de casa que passou a ter uma rotina mais tranquila sem dar muitas satisfações, inclusive do que come ou deixa de comer. “Eu sempre fui gordinha, desde pequena. E eu sempre tive ansiedade, então fui uma criança que descontava tudo na comida”, conta. Ela foi levada a um nutricionista pela primeira vez quando tinha seis anos, sua mãe acreditava que a filha precisava emagrecer. “O que sempre me deixou brava era pessoas me regulando, regulando o que eu queria comer.” Apesar das muitas dietas, ela acabava comendo coisas escondidas quando os pais iam dormir.
preconceito contra as mulheres gordas às vezes é disfarçado de “gosto”, mas quem sente na pele sabe que não é bem assim. Iza já passou por algumas experiências ruins, como quando um rapaz que conheceu na internet se decepcionou ao vê-la pessoalmente e “descobriu” que ela era gorda, ou as muitas vezes que não achou roupas que servissem em lojas: “já cheguei a chorar em loja porque não tinha calça do meu tamanho”. Também teve que ouvir diversas vezes que caso ela emagrecesse, arrumaria um namorado. Como toda pessoa que sofre algum tipo de preconceito, ela criou uma barreira para tentar afastar toda essa negatividade. A defesa de Iza é o amor próprio, é se amar quando muitos dizem que ela deveria se odiar, “uma coisa que eu não estou ligando é se alguém acha que estou muito gorda pra usar uma roupa. Eu gosto muito de lingerie, compro pra mim mesma e fico me olhando no espelho”. E o que ela mais gosta em seu corpo? Ele todo!
D
K
iferente de muitas crianças gordas, Iza conta que sempre estudou com as mesmas pessoas e não sofreu bullying na escola, o problema com seu peso estava dentro de casa: “fiquei dos seis anos até os dezoito pulando de médico em médico.” Cada médico que ela passava, era uma dieta diferente, sempre na tentativa de perder alguns quilos (que não incomodavam a garota, apenas sua mãe). “Ela falava: ‘você precisa emagrecer, você tem que fazer dieta’, dizia que era por causa da saúde, mas nunca tive problema… Eu sempre fiz muitos exames, mas nunca deu nenhuma alteração.” Além disso, Izabela tem uma irmã que sempre foi magra e apesar disso não ser um problema sério, alguns momentos foram um pouco difíceis: “tem aquelas coisas que ficam no subconsciente, eu mesma falo brincando que ela pegou a parte boa do DNA, porque ela é bem magra e tem uns traços muito bonitos”. Izabela sempre foi uma pessoa confiante, mas o processo de empoderamento, esse desenvolvimento do amor próprio aconteceu somente no terceiro ano de faculdade, em 2014, quando ela foi morar com algumas meninas feministas, “as meninas discutiam sobre feminismo e eu comecei a me interessar. Eu também comecei a seguir modelos e blogueiras plus size e isso me conforta de algum jeito”. A partir dessa representatividade, a forma como ela se via foi mudando e a autoestima subindo, mas é uma luta diária de resistência contra os padrões de beleza da sociedade. “Não que eu seja 100% feliz com meu corpo, é impossível e o dia a dia não deixa você ser aquilo que você é. Acho que ninguém é 100% feliz”, completa.
17
I
9
Somos - outubro '16
MODAN PETIS
L
uiza Copietters nasceu em um corpo masculino, mas tinha fascinação e desejo pelo universo feminino. Aos 5 anos, ao ver uma estrela cadente, fez seu pedido infantil: queria virar uma menina. Hoje, aos 36 anos, Luiza se identifica como mulher transexual. Desempregada, ela luta para mudar seu nome de registro e ser respeitada como mulher. Até 2012, quando começou a fazer a sua transformação, Luiza era o professor Luizão e dava aulas em um colégio particular em São Paulo. No final de 2014, ela resolveu assumir a transexualidade e contar aos professores e alunos da escola. “Quando o assunto chegou à direção, a coisa ficou complicada. Reduziram muito as minhas turmas e meu salário – de maneira ilegal. Comecei a sentir paranoia e depressão. Entrei em pânico e tive que sair de licença médica. Após a licença, fui demitida”, conta. caminho percorrido por Luiza, desde a infância até a transformação (quando a pessoa inicia a mudança de visual, o tratamento hormonal e escolhe o nome social), é semelhante ao percorrido por muitos homens e mulheres trans. Um caminho longo, de aceitação e luta. Para a psicóloga e coordenadora do grupo de apoio a transexuais do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Sandra Romero Studart, os transexuais se veem diferentes desde a infância, com 4 ou 5 anos de idade. “Vão percebendo que estão fora daquele modelo de gênero que é cobrado deles. O menino tem que brincar com a bola, a menina, com a boneca. Hoje já se transita isso de uma forma diferente. O masculino e o feminino transitam em todas as áreas sem tanta pressão. Não que seja fácil para essas pessoas, mas acho que, se compararmos com antigamente, as pressões para assumir a sua identidade, sua orientação, elas vêm bem menos sofridas”, afirma Sandra.
O
TRANSEXUAIS: DESCOBERTA SOBRE GÊNERO E IDENTIDADE COMEÇA NA INFÂNCIA
Por Marieta Cazarré
C
hopelly Glaudystton, 33 anos, transexual e ativista, conta que se sentia mulher desde pequena. “Mas na minha época não tinha muita compreensão, a imagem que a gente tinha era da Roberta Close. Hoje você tem muita coisa falando sobre transexualidade o que ajuda as meninas novas que estão se descobrindo. Mas na minha época foi bastante difícil.”
Sandra acompanha um grupo de aproximadamente 47 transexuais no HUB e explica que não é necessário passar pela cirurgia de transgenitalização (mudança de sexo) para ser atendido ou considerado transexual. “Há dez anos, a gente achava que o paciente trans estava no grupo porque ele faria a cirurgia. Hoje em dia não se fala mais isso. Para ser trans, não é preciso fazer a cirurgia. Para ter seu nome modificado, não é preciso passar pela cirurgia. Essas mudanças são muito ricas nesse processo”, afirma. ara a psicóloga e doutora em Psicologia Social pela Universidade de Brasília (UnB) Jaqueline Gomes de Jesus, a transexualidade é uma questão de identidade. “Não é uma doença mental, não é uma perversão sexual, nem é uma doença debilitante ou contagiosa. Não tem nada a ver com orientação sexual, como geralmente se pensa, não é uma escolha nem é um capricho”, diz Jaqueline no documento Orientações sobre Identidade de Gênero: Conceitos e Termos.
P
Com relação à orientação sexual, Jaqueline explica que uma pessoa trans pode ser bissexual, heterossexual ou homossexual. Portanto, mulheres transexuais que se atraem por homens são heterossexuais. Já mulheres trans que se atraem por outras mulheres são homossexuais. É o caso de Luiza. “Em 2012, eu estava num restaurante com um amigo meu e vi um casal de mulheres lésbicas, namoradas. Fiquei com um mal estar enorme porque pensei: nunca vou poder viver isso”, conta. Foi aí que ela descobriu que, apesar de se identificar com o gênero feminino, ela continuava gostando de mulheres. Luiza se identifica como uma transexual lésbica. Ela conta que quer passar pelo processo de redesignação (outro nome para a mudança de sexo) e reclama da demora nas listas do serviço público para fazer a cirurgia. De acordo com o Ministério da Saúde, a cirurgia é feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde agosto de 2008. Até abril de 2015, foram realizados 268 procedimentos.
18
AUTOESTIMA
A
coordenadora do grupo de apoio a transexuais do Hospital Universitário de Brasília (HUB) diz que observa um grande resgate da autoestima entre as pacientes que fizeram a operação. “Elas ficam mais empoderadas para brigar pelas coisas que elas querem. Eu vejo muitas conquistas”, afirma. Fabiana Melo Oliveira conta que fez a cirurgia há 13 anos, em Barcelona, na Espanha. “Entrei na sala de cirurgia às seis da tarde e saí meianoite. Naquela época demorava muito, hoje não é tanto. A dor que eu senti era uma dor suportável, a felicidade era maior. Para mim, era uma necessidade. Eu não me via com a minha genitália”, explica Fabiana. Em novembro de 2013, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria n° 2.803, ampliou o processo transexualizador no sistema público de saúde, aumentando o número de atendimentos e incluindo procedimentos para redesignação sexual de mulher para homem. Neste caso, o SUS realiza cirurgias para a retirada de mamas, útero e ovários. A redesignação de homem para mulher inclui a amputação do pênis e a construção da neovagina (nome dado ao novo órgão), implante de próteses de silicone nas mamas e redução do pomo de adão com objetivo de feminilização da voz. Em ambos os casos são feitos o acompanhamento clínico e a terapia hormonal por dois anos antes da cirurgia e até um ano no pós-operatório. A idade mínima para o início da terapia com hormônios é 18 anos e para a realização dos procedimentos cirúrgicos é 21 anos. penas cinco hospitais universitários são habilitados pelo Ministério da Saúde para a realização do processo transexualizador: o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia (GO); o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); o Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); a Fundação Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo (USP); e o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife.
A
9 S
ão chocantes os relatos de levas e levas de pessoas buscando a Europa em fuga de seus países de origem, ilustrados pela foto do menino sírio Aylan Kurdi, que todos viram, ou pelos 71 corpos, incluindo quatro crianças, encontrados sufocados dentro de um caminhão frigorífico na fronteira da Hungria com a Áustria, que ninguém viu. O Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) calcula em 200 mil o total de pessoas que entrarão na Europa este ano e em 250 mil a previsão para 2016. Um número impressionante, mas pequeno se comparado aos cerca de 50 milhões de indivíduos que deixaram a Europa entre 1800 e 1914 – média de 440 mil por ano. A diferença é que enquanto estes moviam-se precária mas organizadamente em direção à América, Austrália e África do Sul, os novos imigrantes tentam desesperados vencer barreiras naturais, como o mar, ou imaginárias, como as fronteiras, correndo risco de perder a vida, único bem que possuem.
IMI GRA ÇÃO E XENO FO BIA
Somos - outubro '16
MUNDANUS
O
É
s sírios, principal grupo a bater às portas dos países europeus, tentam escapar de uma guerra que já dura quatro anos e causou a destruição da infraestrutura do país, provocou cerca de 220 mil mortes e o deslocamento de quatro milhões de pessoas de um total de 17 milhões de habitantes. Em nome do equilíbrio político regional, os governos ocidentais sempre ignoraram as denúncias contra as arbitrariedades praticadas pelo ditador Bashar al-Assad, filho de Hafez al-Assad, que manteve-se no poder por 30 anos. Em 2011, aproveitando-se da guerra civil iniciada logo após a repressão brutal do exército aos protestos da Primavera Árabe, o Estado Islâmico desencadeou uma ofensiva, a partir do Iraque, apropriando-se pouco a pouco de vasto território sírio, onde impõe o direito islâmico que regula todas as atividades cotidianas. Entre a ditadura cruel de al-Assad e a violência da sharia os sírios preferem desafiar a morte no mar ou dentro de caminhões sem ventilação.
também em retirada de regiões conflagradas que afegãos e paquistaneses chegam à Europa. Apoiados inicialmente pelo Ocidente como meio de contrabalançar o poderio da União Soviética durante a guerra fria, os grupos radicais islâmicos Talebã, no Afeganistão, e al-Qaeda, no Paquistão, acabaram por tornar-se os maiores inimigos da Europa e dos Estados Unidos até o advento do Estado Islâmico. Às populações civis daqueles países, sofrendo há anos as investidas dos fundamentalistas que sustentam governos paralelos nos territórios onde atuam, não resta outra saída à miséria e à intolerância a não ser a debandada. E é a miséria, que afeta nigerianos e eritreus, e a intolerância, que persegue os ciganos do Kosovo, que também os empurram contra as fronteiras da Europa.
É
A
s cenas de frágeis barcos rebocados em alto mar ou de centenas de pessoas amontoadas em improvisados campos de refugiados causam indignação, insuflam a solidariedade e obrigam as autoridades a tomar atitudes para a resolução do problema. Por outro lado, a chegada de milhares de imigrantes muçulmanos, negros e ciganos vem aumentando o sentimento xenófobo de parte da população europeia, que pode ser exemplificado pela ação da cinegrafista húngara Petra Lászlö, flagrada chutando sírios na fronteira com a Sérvia – não por acaso, a Hungria tem a maioria das cadeiras do Parlamento ocupadas por partidos de direita e extrema-direita. Diante da crise econômica, que parece global, os fascistas e neonazistas vêm ampliando o espaço político na Europa, notadamente na Alemanha, Áustria, França, Suécia, Grécia, Itália e Irlanda.
curioso, porque justamente a Alemanha, o Império Austro-Húngaro, a Itália, a Irlanda e a Suécia despejaram, no século XIX, milhões de camponeses esfomeados para fora de suas fronteiras, o que provocou um reequilíbrio demográfico, possibilitando o reerguimento econômico no século seguinte. Estes, que deveriam ser os primeiros a abrir as portas para os estrangeiros, veem em uma dimensão cada vez larga crescer o preconceito étnico e religioso. Aliás, de forma patética, algo semelhante começa a ocorrer no Brasil. País de diversidade étnica, acompanhamos horrorizados as manifestações explícitas de xenofobia e racismo contra os médicos cubanos e mais recentemente contra senegaleses e haitianos. Onde vive o ser humano, mora a estupidez.
Brasil, país de diversidade, acompanha horrorizado as manifestações de xenofobia contra os médicos cubanos, senegaleses e haitianos
Por Luiz Ruffato
19