Em 2020, o Atelier de Projeto IA do Mestrado Integrado em Arquitetura da Universidade de Coimbra desafiou seus estudantes a refletirem sobre o papel do arquiteto na inclusão socioespacial de grupos marginalizados, e o consequente papel político da arquitetura. O programa do atelier consistia na análise e resolução das problemáticas urbanas da região das Fontaínhas, no Porto, e na elaboração de um novo equipamento que fomentasse a integração social de pessoas “sem lugar”, na forma de albergue noturno, banhos públicos ou centro comunitário. O seguinte booklet apresenta a proposta elaborada em resposta á esta chamada.
CENTRO COMUNITÁRIO DAS FONTAÍNHAS
A região das Fontaínhas, no Porto, é uma área próxima do identidade, majoritariamente residencial, e famosa por de Gaia e do Rio Douro. Entretanto, devido a sua características físicas e evolução urbana, ela possuiu momentos um desenvolvimento secundário em relação ao cidade:
centro de sua vista história, em muitos resto da
- A escarpa ingríme característica da região se mostrou como um limite durante os primeiros assentamentos no Porto, e a área esteve fora da muralha da cidade até o século XVII; - Devido ao seu caráter periférico, equipamentos públicos considerados indesejáveis foram transferidos para a região, como o matadouro e o cemitério da cidade; - Com um tecido urbano mais consolidado, um grande contingente de proletários buscou moradia nas Fontaínhas durante a Revolução Industrial. Isso levou ao surgimento das ilhas, fruto dos parcelamentos de logradouros das casas burguesas; Essa sequência de acontecimentos levou Fontaínhas aos olhos da população. Hoje, processos, a área possui poucas conexões ao ser considerado o “fim da malha urbana” da
foto da escarpa das Fontaínhas, 2021.
a estigmatização das como resultado destes resto do Porto, podendo cidade.
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Tendo isso em vista, durante o primeiro semestre do ano letivo 2020|21 foi elaborada uma proposta de revitalização para as Fontaínhas, sob o mote de reconectá-la com o centro, com o rio e com ela mesma. A análise da região evidenciou três zonas importantes de encontro de eixos e pessoas - denominadas NÓS - e as principais vias que as conectam. Juntos, os nós e suas conexões formam a espinha dorsal das Fontaínhas.
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1.Parque público 2.Centro comunitário ou CNAIM 3.Alojamento temporário 4.Estações de comboio | 5.Lavadouro 6.Pocket parks 7.Habitação coletiva | 8.Mercado 9.Praça | 10.Ponte D. Maria Pia
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INTERVENÇÃO URBANA
No seguimento desta revitalização urbana, durante o segundo semestre do ano letivo 2020|21 e primeiro semestre de 2021|22 foi elaborada uma proposta para um centro comunitário na região das Fontaínhas. Este novo programa pretende ser o objeto de estudo em resposta à questão: como a arquitetura pode empoderar seus usuários? Este objeto surge na forma de um edifício público polifuncional que visa promover a integração social através de programas educativos, culturais, desportivos, de suporte e de lazer. As principais referências programáticas deste novo centro são o SESC Pompéia e o Centro Cultural de São paulo.
CENTRO COMUNITÁRIO DAS FONTAÍNHAS
educação
suporte
cultura
desporto
lazer
SESC Pompéia
Centro Cultural de São Paulo
O prédio escolhido para abrigar este novo programa foi o Antigo Asilo da Mendicidade do Porto. Este edifício é a peça central do nó 1, identificado durante a intervenção urbana, e foi um dos primeiros equipamentos públicos a serem construídos nas Fontaínhas. Próximo de um futuro parque, da Ponte do Infante e da Alameda das Fontaínhas, esse edifício marca não só a entrada à esta região, mas também a entrada ao Porto.
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Antigo Asilo da Mendicidade Futuro parque Alameda das Fontaínhas Ponte do Infante
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ANTIGO ASILO DA MENDICIDADE 1815 Alameda das Fontaínhas redesenhada por José Francisco de Paiva. Transeuntes começam a reclamar do mau cheiro do matadouro. Planta de 18xx
1792 Matadouro público do Porto (perto da porta do Sol) em péssimas condições
1796 - 1808 Construção do novo Matadouro das Fontaínhas ao lado da Alameda das Fontaínhas Projeto de 1796
1854 Antigo matadouro é transformado em Asilo da Mendicidade Foto de 1907
1840 Matadouro é transferido para o Carvalhido 1847 Início das reformas no prédio do antigo matadouro Planta de 18xx
2018 Asilo evacuado e posto à venda pela Câmara
2021 Projeto para o novo Centro Comunitário das Fontaínhas no prédio do antigo asilo
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REABILITAÇÃO A intervenção neste edifício será feita através de uma reabilitação, na intenção de manter este objeto arquitetônico como parte importante da história das Fontaínhas, e ao mesmo tempo dar nova vida a um edifício que se encontra hoje sem uso. A superestrutura da preexistência, considerando a época em que foi feita, é constituída de paredes de alvenaria de pedra e lajes de madeira, com as vigas encrustradas na parede. Essa estrutura serve de base pra todas as outras intervenções no edifício.
Planta de implantação da preexistência Escala 1.1400
Planta da preexistência | Rés do chão | escala 1.1000
Planta da preexistência | Piso 1 | escala 1.1000
Planta da preexistência | Piso 2 | escala 1.1000
O prédio do antigo asilo que encontramos hoje é fruto das grandes reformas feitas entre 1847 e 1854, com algumas alterações posteriores. Seu volume principal é organizado ao redor de um pátio, ordenado por um eixo longitudinal que guia a planta. A estrutura parece estar em boas condições, mas o edifício apresenta diversas patologias que precisam ser solucionadas durante o processo de rebilitação.
PROGRAMA MÍNIMO Levando em consideração o objetivo do centro comunitário e suas referências programáticas, foi elaborado um programa mínimo, organizado em um fluxograma de como os espaços devem se conectar dentro do edifício.
A organização desses espaços no edifício preexistente levou à demolição e a construção de algumas paredes internas, e a construção de uma nova estrutura para abrigar a área desportiva. As plantas destas alterações podem ser vistas a seguir.
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Planta de vermelhos e amarelos | Rés do chão | escala 1.500 A manter A demolir A construir
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Planta de vermelhos e amarelos | Piso 1 | escala 1.500 A manter A demolir A construir
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Planta de vermelhos e amarelos | Piso 2 | escala 1.500 A manter A demolir A construir
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PROPOSTA
Planta de implantação e alçado frontal| escala 1.1400
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Planta rés do chão | escala 1.500 1.recepção | 2.casas de banho | 3.café | 4.acessos verticais 5.foyer | 6.auditório | 7.estacionamento | 8.área expositiva 9.acervo | 10.pátio
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Planta piso 1 | escala 1.500 11.área de estudos | 12.salas de aula | 13.acessos veticais 14.recepção da área desportiva | 15.quadra polidesportiva 16.balneários | 17.sala de máquinas | 18.área expositiva 19.coworking | 20.acervo | 21.casas de banho
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Planta piso 2 | escala 1.500 22.miradouro | 23.estufa | 24.acessos verticais 25.administração e copa da área desportiva 26.ginásio | 27.sala de máquinas 28.salas polivalentes | 29.copa | 30.administração
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Alçado sul | escala 1.500
Corte AA’ | escala 1.500
CONSTRUÇÃO
Foto da situação atual das galerias.
Os processos construtivos deste edifício podem ser divididos em duas vertentes: 1. Reabilitação da preexistência 2. Construções novas O objetivo da reabilitação é manter o máximo possível da superestrutura, restaurar acabamentos que estiverem danificados e adequar o edifício aos níveis de conforto térmico e acústico necessários. Para tal: - às paredes que possuem ligação com o exterior serão adicionadas camadas de isolamento seguradas por perfis metálicos; - rebocos exteriores e interiores serão restaurados com a argamassa adequada; - azulejos em mau estado serão trocados, assim como os pavimentos cerâmicos e em madeira; - a cobertura será reabilitada e reforçada com novas camadas de isolamento e forro, visando cessar infiltrações; - caixilhos, vidros e tetos falsos serão trocados.
Foto da situação atual do reboco e da moldura de pedra.
Corte BB’ | Escala 1.100
Detalhes BB’ | Escala 1.20
Corte BB’ | Escala 1.100
Detalhes BB’ | Escala 1.20
As construções novas, por sua vez, seguem minimamente dois motivos construtivos: - fazer intervenções novas em estrutura metálica - em referência a ponte D. Maria Pia - e betão - buscando a tectônica da pedra-; - marcar o contraste entre o preexistente e o novo através dos materiais; Neste parâmetro se encaixa a nova estrutura feita para abrigar a quadra da área desportiva, e os dois volumes de apoio a ela. Ademais, as salas internas da área desportiva também possuem materiais que constrastam com a paredes rebocadas do edifício. Por fim, os novos caixilhos metálicos também entram nessa vertente, e podem ser vistos nos detalhes construtivos.
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O novo volume da quadra é feito na forma de uma caixa metálica que entra na preexistência como uma gaveta (exemplificado no esquema abaixo). A estrutura de pilares e vigas entra até certo ponto do edifício, de modo que o contraste entre o novo e o antigo fique claro não só no exterior, mas tanbém no interior do prédio. Este volume é envolvido por uma fachada de channel glass, um sistema autoportante com propriedades térmicas. A permeabilidade visual criada pela fachada é contrária à do pátio, uma vez que a primeira se abre para fora e a segunda se volta para dentro.
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Planta piso 1 | Escala 1.100
Detalhes planta piso 1| Escala 1.20
Corte AA’ | Escala 1.100
Detalhe AA’| Escala 1.20