A convergência de concepções teóricas e práticas de saúde: uma reconquista da Pesquisa Convergente Assistencial
Mercedes Trentini Lygia Paim Denise Guerreiro V. Silva (organizadoras)
1a edição – 2017 Porto Alegre – RS
Os autores e a editora se empenharam para dar os devidos créditos e citar adequadamente a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material u!lizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores, caso, involuntária e inadver!damente, a iden!Þcação de algum deles tenha sido omi!da. Todas as fotos que ilustram o livro foram autorizadas para publicação e uso cien"Þco pelos pacientes e/ou familiares na forma de consen!mento livre e informado, seguindo as normas preconizadas pela resolução 196 / 96, do Conselho Nacional de Saúde. Diagramação e capa: Formato Artes GráÞcas Revisão de Português: Lisiane Andriolli Danieli Imagem de capa: Shu$erstock 203471671
1ª Edição – 2017 Todos os direitos de reprodução reservados para MORIÁ EDITORA LTDA. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (mecânico, eletrônico, fotocópia, gravação, distribuição pela internet ou outros), sem permissão, por escrito, da MORIÁ EDITORA LTDA. Endereço para correspondência: Av do Forte, 1573 Caixa Postal 21603 Vila Ipiranga – Porto Alegre /RS CEP: 91.360-970 – Tel:51.8604.3597/9116.9298 moriaeditora@gmail.com www.moriaeditora.com.br
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A convergência de concepções teóricas e práticas de saúde: uma reconquista da Pesquisa Convergente Assistencial / Organizadores: Mercedes Trentini, Lygia Paim e Denise Guerreiro V. Silva - Porto Alegre: Moriá, 2017. 448 p. : il. Bibliografia ISBN: 978-85-99238-22-6 1. Pesquisa Convergente Assistencial 2. Pesquisa sobre serviços de saúde 3. Assistência em saúde 4. Cuidados de enfermagem 5. Pesquisa em enfermagem I. Trentini, Mercedes II. Paim, Lygia III. Silva, Denise Guerreiro V. NLM WY100
Catalogação na fonte: Rubens da Costa Silva Filho CRB10/1761
Autores
Adrieli Pivetta – Mestre em Enfermagem. Especialista em Acupuntura. Docência em Ensino Superior e em Saúde da Família. Atua na Estratégia da Saúde da Família em Santa Maria/RS Albertina Bonetti – Educadora Física. Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), professora do Departamento de Educação Física da UFSC. Alexa Pupiara Flores Coelho – Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem, linha de pesquisa “Saúde/Sofrimento Psíquico do Trabalhador” da UFSM. Ana Eliza Belizário Rodrigues – Enfermeira. Mestranda no Programa de Pós-graduação em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM ), RS Bruna Pase Zanon - Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Integrante do Grupo de pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Família e Sociedade (PEFAS). Carmem Lúcia Colomé Beck – Enfermeira. Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora adjunta do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Fe-
Autores
vi deral de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem, linha de pesquisa “Saúde/Sofrimento Psíquico do Trabalhador” da UFSM. Cecília Maria Brondani – Enfermeira Assistencial do Serviço de Atenção Domiciliar do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM/UFSM). Doutora em Ciências pela Escola Paulista de Enfermagem (UNIFESP). Cristiane Cardoso de Paula – Enfermeira Pediátrica. Doutora em Enfermagem. Professora adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria(UFSM). Líder do Grupo de pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Família e Sociedade (PEFAS). Pesquisador do CNPq. Daisy Cristina Rodrigues – Enfermeira. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), RS Denise Guerreiro Vieira da Silva – Enfermeira. Doutora em enfermagem. Professora titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisadora CNPq. Vice-líder do grupo de pesquisa NUCRON/UFSC. Eliane Tatsch Neves – Enfermeira.Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSM,RS. Elisabeta Albertina Nietsche – Enfermeira. Professora titular do Curso de Graduação e do programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria(UFSM).Doutora em Filosofia de Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Educação pela UFSM. Linha de Pesquisa Cuidado e Educação, tecnologias. Francisca Tereza de Galiza – Enfermeira. Gerontóloga titulada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Doutora em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará (UFC). Professora adjunta do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Jaqueline Arboit – Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Doutoranda em Enfermagem pelo Programa Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. Bolsista CAPES.
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Joyce Martins Arimatea Branco Tavares – Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Especialista em Nefrologia e Anatomia Humana. Professora assistente do Departamento de Fundamentos de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (DFEN/UERJ). Professora do curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário ABEU. Plantonista no serviço de Nefrologia do Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense (HUAP/UFF). Juliana Cristina Lessmann Reckziegel – Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente na Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC), no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Saúde. Kenya Schmidt Reibnitz – Enfermeira.Doutora em Enfermagem. Professora titular, aposentada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atua no Programa de Pós Graduação, Mestrado e Doutorado da UFSC..Membro do grupo de do EDEn - Laboratório de pesquisa e tecnologia em Educação em enfermagem e saúde. Larissa D. Grispan e Silva – Mestre em Enfermagem. Especialista em Enfermagem Pediátrica. Atua como enfermeira assistencial na Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Membro do Grupo de Assistência Integral à Saúde da Criança, Adolescente e Família (GAISC) da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Laura Ferreira Cortes – Enfermeira. Doutoranda e Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Especialista pela Residência Multiprofissional Integrada da UFSM. Vice Líder do Núcleo de Estudos sobre Mulheres, Gênero e Políticas Públicas e integrante do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. Leila Brito Bergold – Enfermeira. Musicoterapeuta com formação em Terapia de Família. Mestre e Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Atuou como enfermeira e musicoterapeuta do Hospital Central do Exército - RJ, Professora adjunta do Curso de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Autores
Jéssica de Menezes Nogueira - Enfermeira. Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará. Doutoranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Autores
viii campus Macaé. Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão com enfoque interdisciplinar no desenvolvimento de atividades artísticas e culturais para promover saúde e qualidade de vida. Coordenadora do Programa Interdisciplinar de Promoção da Saúde. Vice-líder do Grupo de pesquisa "Intermediação de Saberes e Práticas no Cuidado à Saúde". Lygia Paim – Enfermeira.Professora titular aposentada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Formação em Enfermagem pela Escola Anna Nery, com o título de Livre-docente e Doutora pela UFRJ. Professora visitante no Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na década de 1990. Docente pesquisadora pelo CNPq em projetos de pesquisa no NUCRON/UFSC. Pioneira na constituição dos grupos de pesquisa em Inventos e Adaptações Tecnológicas do Cuidar Humano de Enfermagem e de estudos de história do conhecimento de enfermagem, Sócia Honorária da Associação Brasileira de Enfermagem. Márcia de Assunção Ferreira – Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora titular do Departamento de Enfermagem Fundamental na Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Representante adjunta da área de Enfermagem na Capes-MEC, gestão 2014-2018. Pesquisadora 1C do CNPq. Maria Célia de Freitas – Enfermeira. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Doutora em Enfermagem. Professora do curso de Graduação e Pós-Graduação de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará (UEC). Maria Luiza de Oliveira Teixeira – Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora adjunta do Departamento de Enfermagem Fundamental na Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEANUFRJ). Coordenadora Geral do Programa de Residência Multiprofissional e coordenadora acadêmica do Programa de Atendimento Domiciliar Interdisciplinar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ. Marcia Tereza Luz Lisboa – Professora associada do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Doutora em Enfermagem. Membro da diretoria colegiada do Núcleo de Pesquisa Enfermagem e Saúde do Trabalhador (NUPENST) e membro do Núcleo de Pesquisa de Fundamentos do Cuidado de Enfermagem (NUCLEARTE).
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Marli Maria Loro – Enfermeira. Especialista em enfermagem do trabalho. Doutora em Ciências. Professora associada do Departamento de Ciências da Vida da Universidade Regional do Noroeste do estado do Rio Grande do Sul ( UNIJUI),Ijui/RS. Mauren T. G. Mendes Tacla – Doutora em Enfermagem. Professora adjunta do Departamento de Enfermagem e do Programa de Mestrado em Enfermagem na Universidade Estadual de Londrina( UEL) , PR. Líder do Grupo de Assistência Integral à Saúde da Criança, Adolescente e da Família (GAISC/UEL). Vice-coordenadora da Residência de Enfermagem em Saúde da Criança da UEL. Mercedes Trentini – Enfermeira.Professora aposentada pela Universidade Federal de Santa Cataria (UFSC). Graduada pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto RJ. Especialista em Condições Crônicas Renais pela University of California San Francisco, USA. Mestre em Saúde do Adulto pela Universidade Federal de Santa Cataria (UFSC) e Doutora em Enfermagem pela University of Alabama at Birmingham, USA. Neide Aparecida Titonelli Alvim – Enfermeira. Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Associada do Departamento de Enfermagem Fundamental, na Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro (DEF/ EEAN/UFRJ Membro do Núcleo de Pesquisa de Fundamentos do Cuidado de Enfermagem (Nuclearte). Bolsista de Produtividade do CNPq nas linhas de Práticas Integrativas e Complementares; e Educação em Saúde. Líder do Grupo de Pesquisa "Intermediação de Saberes e Práticas no Cuidado à Saúde". Consultora Ad Hoc do CNPq e CAPES. Priscila Kelly Dias Padilha – Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Enfermeira da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Regina Célia Golner Zeitoune – Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora titular do Departamento de Enfermagem de Saúde
Autores
Margrid Beuter – Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janiero (EEAN/UFRJ). Professora associada do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), do curso de Graduação e Pós-graduação em Enfermagem e do Mestrado em Gerontologia da UFSM.
Autores
x Pública da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAB/UFRJ). Roberta Waterkemper – Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta II na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa da Práxis em Enfermagem (GEPPEN/UFCSPA) Rosângela Marion da Silva – Enfermeira. Doutora em Ciências. Professora adjunta do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem, linha de pesquisa “Saúde/Sofrimento Psíquico do Trabalhador” da UFSM. Stela Maris de Mello Padoin – Enfermeira Obstétra pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutorado em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Atuação no ensino da Graduação e da Pós-Graduação, extensão e pesquisa na UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa Cuidado a Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1D - CA EF – Enfermagem. Valéria Madureira – Enfermeira. Docente no curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó SC. Mestre em Assistência de Enfermagem e Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa catarina (UFSC). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão, Cuidado e Educação em Saúde e Enfermagem – GEPEGECE.
Prefácio
A
concretude da proposta metodológica apresentada pelos autores da Pesquisa Convergente Assistencial (PCA) nos é mostrada no decorrer de sua jovem, mas consistente trajetória. Mercedes Trentini e Lygia Paim, desde a década de noventa, idealizaram um modo inovador de pesquisar em enfermagem valorizando a prática de enfermagem e dela sistematizando conhecimentos. Com isso, as autoras estimulam os pesquisadores à experimentação para um cuidado transformador a ser instituído com as pessoas que dele requerem, para garantir sua condição de saúde. O livro que aqui se apresenta está trazendo a produção decorrente do método da PCA desenvolvido e partilhado com muitos pesquisadores que, a partir de concepções dialógicas, buscaram na prática e em diferentes contextos explicitar fazeres e saberes, potencializando-os em novos conhecimentos. O que se percebe ao avançar na leitura dos capítulos dessa obra é a identificação dos pesquisadores com o método e sua capacidade para fazer emergir dados de pesquisa, que corroboram na construção e ampliação de novas informações. Ao mesmo tempo em que o pesquisador se coloca como aprendiz e fazendo parte do processo da pesquisa, suas reflexões encontradas nos resultados e conclusões dos estudos, destacam a necessidade do
Prefácio
xii compartilhar, seja com outros pesquisadores, ou com os sujeitos da pesquisa. Destaca-se o papel integrador da PCA na construção ou na sistematização do conhecimento produzido, ou ainda no desenvolvimento dele. O livro permite conhecer os estudos que, por meio da PCA, produziram evidências e identificaram boas práticas capazes de interconectar o conhecimento produzido, ainda durante o processo da pesquisa, num movimento fluído do pesquisador, permitindo que a interdisciplinaridade deslize por meio de conceitos e concepções possíveis. Isto, tanto no que tange a elaboração de produtos (procedimentos, processos e protocolos), como em relação a comportamentos e a comunicação entre pessoas, resultados de cuidar-pesquisar. Os estudos realizados pelos autores deste livro propõem um encontro singular entre os referenciais culturais e filosóficos de cuidar e o método da PCA. Encontro esse, que mobiliza diferentes olhares e abordagens em distintos cenários, indivíduos grupos e comunidades desencadeando, nos atores envolvidos, o potencial transformador dos indivíduos e do coletivo. Essa obra representa uma oportunidade de o leitor ter acesso a estudos que analisaram criteriosamente a utilização da PCA, como método de estudo, para trazer a luz conhecimentos em saúde revelados por questões problemas de uma situação concreta, o que possibilitou apontar dificuldades e potencialidades do processo de desenvolvimento do método. Conhecer essa produção, foi para mim, uma redescoberta da PCA e uma reafirmação de sua importância para a pesquisa em saúde, assim como pode ser um contributo ao processo de ensino em enfermagem e saúde que deve ser valorizado pelas instituições de ensino, de saúde e pelas organizações de enfermagem, no que se refere à qualificação do cuidado e o fortalecimento da atuação dos profissionais na atenção as necessidades de indivíduos, grupos e coletividades. Assim, o esforço das autoras da PCA foi compensado nesta seleção de trabalhos que traz contribuição, não somente às áreas
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Ângela Maria Alvarez Presidente da Associação Brasileira de Enfermagem Professora Associada do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina.
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contempladas por cada um dos estudos, mas, principalmente, traz uma contribuição significativa sobre o ensino e a utilização da PCA. Assim, facilitando sua compreensão de principais premissas – a aproximação do pesquisador e a realidade da assistência e a pesquisa daqueles que realizam a assistência.
Sumário
Introdução .................................................................................. Lygia Paim; Mercedes Trentini; Denise Guerreiro Vieira da Silva
1
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Tecnologia de processo de cuidar construída com acompanhantes de idosos hospitalizados ........................... Márcia de Assunção Ferreira; Maria Luiza de Oliveira Teixeira Cuidado domiciliar de pacientes dependentes de tecnologias: convergências entre a pesquisa, o cuidado e a educação dialógica ............................................. Cecília Maria Brondani; Margrid Beuter Avaliação da dor por enfermeiras em cuidados paliativos oncológicos: uma pesquisa que converge para o cuidado ........................................................ Roberta Waterkemper; Kenya Schmidt Reibnitz Construção coletiva do processo de revelação do diagnóstico de HIV para crianças e adolescentes: pesquisa convergente assistencial na produção de dados em enfermagem ....................................................... Bruna Pase Zanon; Cristiane Cardoso de Paula
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Sumário
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8
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10
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13
A Pesquisa Convergente Assistencial na saúde do trabalhador ........................................................... Marli Maria Loro; Regina Célia GolnerZeitoune
137
Sistematização do manejo da dor da criança durante a punção venosa: uma experiência com a PCA...................... Larissa D. Grispan e Silva; Mauren T. G. Mendes Tacla
157
Pesquisa Convergente Assistencial com idosos inseridos em modalidade educacional ................................ Jéssica de Menezes Nogueira; Márcia de Assunção Ferreira; Mercedes Trentini; Francisca Tereza de Galiza; Maria Célia de Freitas Rede de atendimento às mulheres em situação de violência: convergência da prática com a pesquisa ............ Laura Ferreira Cortes; Stela Maris de Mello Padoin; Jaqueline Arboit Música no cuidado de enfermagem a sistemas familiares na quimioterapia: experiência criativa com a pesquisa convergente assistencial .................................. Leila Brito Bergold; Neide Aparecida Titonelli Alvim Convergência da pesquisa com a prática de enfermagem na segurança do paciente pediátrico.............. Priscila Kelly Dias Padilha; Ana Eliza Belizário Rodrigues; Daisy Cristina Rodrigues; Eliane Tatsch Neves
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261
O cuidado familiar em diálise peritoneal: relato de experiência prática com a metodologia convergente-assistencial ........................................................ Joyce Martins Arimatea Branco Tavares; Marcia Tereza Luz Lisboa
275
Experiência da Pesquisa Convergente Assistencial com catadoras de materiais recicláveis cooperativadas: estudo das cargas de trabalho ................................................. Alexa Pupiara Flores Coelho; Carmem Lúcia Colomé Beck; Rosângela Marion da Silva
305
Pesquisa Convergente Assistencial: resiliência em mulheres com diabetes mellitus ......................................... Juliana Cristina Lessmann Reckziegel; Denise Guerreiro Vieira da Silva
337
xvii
15
16
Pesquisa Convergente Assistencial: uma experiência de educação em saúde fundamentada em Foucault Valéria Silvana Faganello Madureira; Mercedes Trentini ......... A Pesquisa Convergente Assistencial contribuindo no processo de viver de pessoas com doenças aterosclerótica coronariana ................................................. Albertina Bonetti; Denise Guerreiro Vieira da Silva Ensino e aprendizagem sobre medicina tradicional chinesa e técnicas de acupressão como possibilidade de cuidado em saúde: experiência com a utilização da Pesquisa Convergente Assistencial ....................................................... Adrieli Pivetta; Elisabeta Albertina Nietsche
Notas Finais ............................................................................... Lygia Paim; Mercedes Trentini; Denise Guerreiro V. da Silva
357
391
423
441
Sumário
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Introdução
om essa obra temos o prazer de oferecer aos leitores, estudos que utilizaram a Pesquisa Convergente Assistencial em vários locais do Brasil e com diferentes temas, participantes e contextos, apresentando a convergência de práticas de saúde e práticas de pesquisa. A interpretação desse método de pesquisa pelos autores dos capítulos, embora se apresente com características diversas, atendeu aos principais atributos da PCA. Nós, organizadoras desta publicação, temos consciência de que, embora o método de PCA esteja disponível a estudos de outros profissionais da equipe assistencial de saúde, na qualidade de pesquisadores em suas respectivas práticas apropriadas à atenção à saúde, até o presente momento, a maioria dos engajados nesta modalidade de pesquisa são enfermeiros, ainda que alguns tenham também formação em outras profissões. Além dos estudos incluídos neste livro, muitos outros têm sido desenvolvidos com o referencial metodológico da PCA. Todavia, não seria possível incluir todos os trabalhos realizados em um único livro. O principal critério de inclusão para compor esta obra considerou a participação, de alguma forma, de uma das três organizadoras deste livro no desenvolvimento dos estudos que compõem os capítulos.
C
Mercedes Trentini; Lygia Paim; Denise Guerreiro V. Silva (Orgs.)
20 A Pesquisa Convergente Assistencial, abreviadamente conhecida, no Brasil, como PCA, é a nominação de um desenho de pesquisa que vem sendo desenvolvido no campo real da assistência ao usuário de Serviço de Saúde em projetos investigativos negociados entre equipe local assistencial e pesquisador. A adesão crescente à PCA, em vários pontos de localização no País, teve início em investigações vinculadas a dissertações e teses para a obtenção de títulos de pós-graduação stricto sensu na Universidade Federal situada em Santa Catarina, no Sul do Brasil, a partir de 1989. O interesse social por esse tipo de pesquisa tem se difundido em outras regiões do País, com maior frequência onde a pós-graduação em enfermagem está instituída. O significado desse tipo de pesquisa vem sendo clarificado à medida que se seguiu pesquisando e construindo estudos a partir do seu desenho investigativo e dos processos desenvolvidos em diferentes áreas de Serviços de Saúde. Como o propósito da investigação reside no achado de possibilidades de composição e recomposição de tecnologias assistenciais, o seu processo, mesmo que complexo, desperta interesse pelas transformações ocorridas com práticas teorizadas, na singularidade de cada “locus assistencial” no qual a PCA se desenvolve. O interesse de acompanhamento da tendência de crescimento quantitativo da utilização da PCA, que muito transparece na discussão, é a conflituosa provocação de cunho ético diante das relações a serem, necessariamente, mantidas entre a pesquisa e a prática assistencial no campo de práticas de saúde. Embora outros profissionais da saúde, como farmacêuticos, bioquímicos, infectologistas, médicos, nutricionistas, adentrem com pesquisas no meio assistencial, tais pesquisas assumem um recorte da investigação, ainda que no espaço físico e social da assistência. Isso significa que as pesquisas com tal recorte se apartam do assistir direto, o que, em geral, não implica o envolvimento daqueles que prestam a assistência. Diferente destas, a PCA vai além pelo fato de envolver alguns membros da equipe de saúde no projeto de pesquisa e, ainda, por ter o pesquisador em estágio de imersão na assistência,
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envolvendo-se com dados emergentes desta. Esse diferencial metodológico é característica fundamental da PCA e traz consigo a vantagem de ter lado a lado, na equipe assistencial, um pesquisador praticando assistência como estratégia de coleta de dados, o que, de algum modo, vitaliza a equipe de prestação de cuidados ao tempo em que aproxima o pesquisador e a pesquisa da realidade da assistência. A metodologia da PCA contém, em si mesma, estratégias de desenvolvimento da assistência à saúde e busca, continuamente, indagar e registrar a convergência como um fenômeno presente nas relações entre a pesquisa e a assistência. Esse fenômeno é produzido pela existência complexa de movimentos assistenciais e de pesquisa descritos, teoricamente, como uma “dança” orquestrada entre si mesma, por distanciamentos e aproximações cujas forças descrevem pontos de articulação tendentes a refinamentos da assistência, pontos estes de entrecruzamento pesquisa-assistência que perfazem um conjunto consistente de pontos que dão lugar a uma dialogicidade producente de convergência. A convergência é o conceito central na PCA, porquanto é na convergência que reside, potencialmente, os achados transponentes a outras tecnologias do assistir ou novas práticas assistenciais teorizadas. A força ética da pesquisa está centrada na convergência e atrai novas práticas que vão se delineando no sentido da qualificação da assistência em busca de uma prática assistencial teorizada. Diante do fato de que o valor da pesquisa é instrumental para o fim assistencial, o conhecimento que vai sendo produzido pelo fenômeno convergente já referido tem seu destino voltado à construção de novas práticas teorizadas. Nos encontros da pesquisa e assistência, a convergência se faz determinante de indagação crítica ao novo conhecimento. A convergência é, pois, o enlace da pesquisa com a prática assistencial e, nesse enlace, reside a possibilidade de transformação das técnicas em novas tecnologias. Nessa convergência consiste o dado do estudo investigativo que carrega em si o novo passo assistencial. A convergência guarda em si um conjunto de entrelaçamentos já acumulados na “dança” entre pesquisa e assistência. Todos os pontos de proximi-
Mercedes Trentini; Lygia Paim; Denise Guerreiro V. Silva (Orgs.)
22 dade nas relações entre a pesquisa e a assistência estão abertos a indagações lógicas em críticas e versam sobre aspectos teóricos com inerente retorno a assistência. O desenvolvimento científico e tecnológico é célere e, assim não seria, caso a ênfase na democracia não estivesse se apresentando em grande número de países da América Latina. Esta democracia é a base sólida para avanços desta natureza. Em verdade, pesquisas como a PCA, se darão, principalmente, em países onde exista o acesso universal à saúde, como o é no Brasil, por garantia constitucional desde 1988. Assim, em seu caráter pedagógico, a PCA inclui em seu rigor metodológico o interesse de cobertura qualificadora da assistência, até pela inclusão de profissionais do campo assistencial em sua equipe de pesquisa. Neste particular, a pela presença do pesquisador e pesquisa em parceria no campo assistencial, também aciona a intencionalidade pedagógica da PCA, quando demonstra que há cobertura de profissionais assistenciais na equipe de pesquisa, caso alguns destes profissionais se voluntariem no cenário de aprendizagem da investigação assistencial assim proposta. A abrangência e a troca de serviços a que a metodologia se propõe, faz com que os esforços e o entusiasmo de qualificação assistencial se renovem, tanto pela presença do pesquisador em imersão na assistência, colhendo e discutindo dados, como também pela adesão dos profissionais da assistência como partícipes da PCA. Não é por outra razão que uma das maiores vantagens desta PCA é a disponibilidade de seus resultados na forma de novas práticas teorizadas no cenário assistencial, onde se processa a investigação. Outra vantagem é a participação do pesquisador em apoio à prestação de serviços assistenciais ao lado da equipe local. Outra vantagem é que o conhecimento produzido pela PCA, nesta compreensão, pode ser considerado um bem público de cooperação social, por agregar valor à sociedade. Vale refletir que a PCA em seu processo em meio à assistência, distingue-se como uma oportunidade prática nos serviços de saúde para uma capacitação investigativa-assistencial e reverte seus resultados em práticas teorizadas de acesso a quantos se envolverem com a pesqui-
23 A convergência de concepções teóricas e práticas de saúde – uma reconquista da Pesquisa Convergente Assistencial
sa em seu ambiente profissional cotidiano. Ao lado disso, o ganho da dimensão científica é revitalizado como acréscimo assistencial, nos serviços de saúde, onde quer que se desenvolva uma PCA. A enfermagem, como as demais profissões científicas, tem se empenhado, no decorrer de sua história, na construção do conhecimento a fim de ancorar sua prática profissional. No Brasil, tal intento tem tido grande reforço nas últimas três/quatro décadas com a criação de cursos de mestrado, de doutorado e na formação de grupos de pesquisa na maioria das instituições de ensino. Isso tem impulsionado a produção e a divulgação de considerável montante de concepções teóricas e, dessa maneira, tem elevado a enfermagem no sentido de ocupar o espaço, no âmbito teórico, equiparado às mais conceituadas profissões na área da saúde. Também com isso, tem conquistado o reconhecimento da comunidade científica. Por outro lado, essa quase rápida ascensão no campo teórico tem enaltecido seu porte na formação e titulação educacionalacadêmica. Contudo, a enfermagem ainda não conseguiu elevar à semelhante patamar a sua prática assistencial, ainda que a prática assistencial venha sendo caracterizada como a razão de ser da enfermagem. Essa prática continua assistemática, em espaços físicos com aparência, muitas vezes, vulnerabilizada diante de padrões mínimos assistenciais, o que, de certa forma, demonstra um distanciamento crescente entre a teoria e a prática (TRENTINI; PAIM; SILVA, 2014; JONES; 2014; FAWCETT, 2013; DUPIN; BORGLIN; DEBOUT; ROTHAN-TONDEUR, 2014). Esse distanciamento tem sido objeto de crítica por vários pesquisadores ao longo das últimas décadas. De nossa parte, como autoras de estudos deste tema, temos comparado esse distanciamento como se fosse um grande “terreno baldio” entre a teoria e a prática de enfermagem. Esse “terreno baldio” clama por fertilização e por produção, mas isso só poderá se concretizar pela convergência das concepções teóricas e as ações da prática assistencial. Há décadas persiste em nós a questão: de que maneira poderá se concretizar a ocupação produtiva do “terreno baldio” (TRENTINI; PAIM; SILVA, 2014)? A nosso ver, os estudos apontam
Mercedes Trentini; Lygia Paim; Denise Guerreiro V. Silva (Orgs.)
24 para o conceito emergente de convergência, configurado nas relações possibilitadas pela investigação científica que considera o movimento rítmico de afastamento e proximidade entre teoria e prática assistencial. A ciência está e continuará em contínuo desenvolvimento e, portanto, não para e não retrocede. Nessa compreensão, a ciência também não poderá ser impedida de seguir em desenvolvimento, o que é o seu curso natural a partir de seus instrumentos de produção do conhecimento. O conhecimento teórico construído, em qualquer disciplina da saúde, mesmo se tomado de empréstimo de outra disciplina de estudo, só alcançará seu fim como conhecimento quando houver compatibilidade com a prática científica que lhe for correspondente no exercício profissional. Tratando-se da enfermagem, as concepções teóricas deverão estar alinhadas com a melhora da assistência em prol do cuidado de saúde da população. As concepções teóricas e as ações da prática precisam estar em concordância, de forma a seguir uma trajetória de ida e volta em contínua dinâmica da teoria para a prática e vice-versa (TRENTINI; PAIM; SILVA, 2014; JONES, 2014). Continuando a analogia anteriormente descrita, essa transação da teoria para a prática corresponderia à fertilização e produção do “terreno baldio” em relação à evolução da integralidade entre teoria e prática assistencial. Embora a prática assistencial e a pesquisa possuam características definidamente diferenciadas uma da outra, elas comportam-se de maneira interdependente. A prática assistencial está para a pesquisa como um “celeiro” que armazena uma infinidade de objetos pesquisáveis e a pesquisa, por sua vez, tem a propriedade de decodificá-los e devolvê-los, como transformados elementos, aos cenários da prática. Pesquisadores de várias profissões têm focado a necessidade de desenvolver estratégias para a construção da retroalimentação entre teoria e prática. A ascensão no campo teórico da enfermagem despertou novos desafios para a profissão, entre eles, o que mais tomou visibilidade foi a concretude de ações de transferibilidade. Esta consiste de um processo de transferência de conhecimento originado em pesquisas para basear ações da prática
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FIGURA 1 Movimentos de aproximação, de distanciamento e de convergência da prá!ca assistencial, formando espaços de superposição (convergências) destas a!vidades. Fonte: Tren!ni; Paim, 2004.
“O conceito de convergência na Pesquisa Convergente Assistencial assemelha-se a uma hélice que tem a propriedade de fazer a junção das ações de assistência com as ações de pesquisa no mesmo espaço físico e temporal”. (PAIM; TRENTINI, 2014,
A convergência de concepções teóricas e práticas de saúde – uma reconquista da Pesquisa Convergente Assistencial
profissional, seja ela no campo da assistência em saúde e/ou no da educação. A ideia de desenvolver estratégias para integrar resultados de pesquisa com a prática tem sido discutida por vários pesquisadores da enfermagem, entre eles Fawcett e Garity (2009) e Fawcett (2013), as quais afirmam que, com essa integração, a prática deixaria de ser baseada somente em tradições e rotinas, como vem sendo feita. Temos a convicção de que a integração da pesquisa e da prática assistencial fará com que a prática absorva os resultados da pesquisa científica e a pesquisa venha a ter maior impacto na trajetória de ida e volta da teoria para a prática e da prática para teoria. Foi também com semelhante ideia que, nos anos 1990, Trentini e Paim (1999) publicaram a primeira versão da abordagem de pesquisa autoral, a PCA. O atributo da PCA que se caracteriza pela propriedade de pesquisar a prática durante o exercício da própria prática (TRENTINI; PAIM, 2014) cria espaços de superposição de ações da pesquisa com ações da prática onde acontecem “n” situações de convergência entre a pesquisa e a prática, processo este esquematizado, como a seguir, na Figura 1.
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26 p. 23). Esse processo de encontros, da assistência com a pesquisa, proporciona a concretude do enfoque primordial da PCA. A qualidade distinta fundamental da PCA poderá ocorrer em diversos âmbitos alinhados à prática assistencial, incluindo o âmbito gerencial, intelectual, processual, técnico, teórico, emocional e comportamental, entre outros. Portanto, a PCA é indicada a ser utilizada como referencial metodológico de pesquisa quando houver situações em que clamam por mudanças e/ou inovações em um determinado contexto da prática assistencial. Essa especificidade da PCA é imprescindível para definir a sua realização. Como vemos, a PCA difere dos demais métodos de pesquisa, principalmente, por suas peculiaridades. Uma delas estabelece certos limites de suas fronteiras. Esses limites implicam em ter enfoque específico e limitado para a tentativa de integrar ações de pesquisa e ações de prática assistencial a fim de realizar mudanças e ou inovações no contexto da prática. Para atingir o enfoque primordial da PCA, o pesquisador deverá seguir, com rigor, certas peculiaridades do método, caracterizando, desse modo, as marcas do perfil de uma PCA. Os componentes do perfil são: a) Imersão do pesquisador no contexto da prática em que são desenvolvidas ações de pesquisa e ações de prática assistencial, no mesmo espaço físico temporal do contexto em estudo, com intuito de conduzir melhora da prática pelas mudanças e ou inovações. Neste sentido, o pesquisador, ao fazer a imersão, comporta-se como um dos agentes da prática assistencial e, ao mesmo tempo, continua com a sua atividade de pesquisador. As atividades de pesquisa e as atividades de assistência integradas constituem um “corpo” de informações que dialoga consigo mesmo para a construção do conhecimento de enfermagem (PAIM; TRENTINI, 2014, p. 26). Esse processo de imersão está sintetizado no conceito de “Imersibilidade” nas publicações da PCA. b) A PCA tem a propriedade de “expansibilidade”, ou seja, a flexibilidade de ampliar o enfoque mestre (condução de mudanças e ou inovações na prática assistencial) para além deste en-
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o contexto da prática assistencial é potencialmente um campo fértil de questões abertas a estudos de pesquisa, além de que a PCA implica no compromisso de beneficiar o contexto assistencial durante o processo investigativo, ao tempo em que se beneficia com o acesso franco às informações procedentes deste contexto (TRENTINI; PAIM, 2004, p. 28).
Dessa maneira, os estudos de PCA podem se tornar de alta complexidade. Por isso, [...] ao iniciar um projeto optando pela utilização da PCA, o investigador não terá subsídios que lhe assegurem responder por completo a questão: qual é o conhecimento que pretendo desenvolver? Isto porque a PCA reserva surpresas ao longo do processo, o investigador no início do projeto saberá o que precisa ser mudado no contexto da prática, mas, por outro lado, ainda não sabe o que encontrará ao longo do trajeto para efetuar tal mudança (PAIM; TRENTINI, 2014, p. 25).
c) Os espaços de superposição, mostrados na Figura 1, entre ações da prática assistencial e ações de pesquisa representam momentos de integração dessas duas dimensões, porquanto, estão desenvolvidas em “simultaneidade”. Esse fato, por certo, constitui o maior desafio para os pesquisadores em PCA, pois, ao mesmo tempo em que conjugam as práticas de assistência e pesquisa, cada uma guarda sua própria identidade. Isso leva à necessidade de separar o que se identifica como resultados de pesquisa e o que constitui ações de prática assistencial. Essa especificidade de simultaneidade da PCA pressupõe um processo e uma análise de achados, diferenciada dos demais métodos de pesquisa, porque o processo deverá indicar os mo-
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foque durante o processo de pesquisa. O pesquisador, durante o processo da PCA que envolve atividades de pesquisa e de assistência, certamente estará à frente de temas que vão emergindo como importantes e que poderão levar a novas concepções teóricas e, até mesmo, à construção de teorias. Temos convicção de que
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28 mentos de integração e os de separação das ações de prática e ações de pesquisa. A análise deverá incluir as ações da prática, procedimentos esses que deverão estar expressamente descritos no relatório de pesquisa. Em alguns estudos publicados com a utilização da PCA, pode-se perceber que há superposição em certos momentos e, em outros, a separação de ações de pesquisa e ações de assistência. Isso tem deixado a desejar, pois a simultaneidade é uma das mais desafiantes questões a superar em PCA. Os pesquisadores apresentam dúvidas referentes à possibilidade de distinguir, no processo de PCA, o que é assistência e o que é pesquisa e, ainda, tendem a valorizar somente os dados de pesquisa na análise e na descrição do relatório do estudo, omitindo dados da assistência num esforço de diferenciá-los. Para Paim, Trentini e Silva (2014, p. 189), a “realidade da PCA é multidimensional envolve ações intelectuais e empíricas desenvolvidas em simultaneidade, no mesmo espaço físico/temporal”. No entanto, a escrita exige organização para ser compreensível; por isso, há necessidade de “desamarrar” os dados de pesquisa e as ações de assistência ao relatar o processo da PCA, as quais foram atadas por alguma similitude, durante o processo. d) Outra peculiaridade da PCA é o conceito de Diálogo, o qual deverá permear todo o processo de estudo. A PCA supõe ações coletivas e colaborativas entre pesquisador, participantes da pesquisa e pessoas adjacentes, as quais irão contribuir na concretização das mudanças apontadas pela pesquisa, como inovação ao contexto da prática. Por conseguinte, será imprescindível o exercício de diálogo entre o pesquisador e todos os envolvidos para concretizar uma negociação pesquisa-assistência com sucesso. Não podemos ignorar que a “prática assistencial de enfermagem é uma prática social e é exercida e compartilhada entre um grupo de profissionais e, entre estes, e as pessoas que recebem a assistência” (PAIM; TRENTINI; SILVA, 2014, p. 189). O diálogo do pesquisador consigo mesmo ainda se faz necessário nos momentos de reflexão e análise dos achados. Esse diálogo inclui a análise e a compreensão da existência de dados de pesquisa e ações de assistência, de modo a identificar pontos de
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na abordagem da PCA, a realidade está limitada dentro dos contornos da multiplicidade da prática assistencial de enfermagem e saúde, onde são processadas as ações compartilhadas entre o grupo
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convergência, respeitando a identidade de cada uma destas parcelas – pesquisa e assistência. A PCA aceita a utilização de diversos métodos e técnicas tanto para a coleta como para análise dos achados, mas o pesquisador precisará manter e defender a principal especificidade da PCA, ou seja, de reconstrução da prática assistencial no contexto em que ocorre a investigação. Sem essa determinação, o estudo não se classificará como uma abordagem de PCA e, evidentemente, não sustentará o rigor do estudo de PCA. A reconstrução da prática consiste no núcleo do processo da investigação em PCA. Para chegar a construir as mudanças e/ou inovações em um determinado campo da prática assistencial, o pesquisador terá de conhecer os fenômenos adjacentes a essa prática e, em PCA, isso implica investigação científica, a qual envolve os conceitos de validação, confiabilidade e ética. Além do conhecimento dos fenômenos adjacentes, o processo de reconstrução da prática envolve ações caracterizadas como prática assistencial, cuja peculiaridade depende de cada projeto. Há várias e diversas maneiras de levar a efeito a reconstrução da prática, mas, por certo, deverá estar ancorada, principalmente, nos dados adquiridos sobre os fenômenos adjacentes da prática a ser modificada durante o processo da PCA. Dessa maneira, esse processo mostra a obrigatoriedade do envolvimento presencial do pesquisador no campo de prática em que se desenvolve a pesquisa em simultaneidade. Essa convergência de ações de pesquisa e ações de prática assistencial é o ponto crucial para o entendimento da PCA, visto que, na sua maioria, os métodos de pesquisa tratam a prática assistencial apenas na sua dimensão conceptual. Nesse caso, terminam indicando perspectivas para o futuro, ou seja, no campo do dever-ser, ou melhor, como deveria ser a prática assistencial, enquanto que a PCA traz o efeito concretizado, torna-se outra prática. O pesquisador deve ter em mente que,
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30 de profissionais e entre estes e a população usuária em atendimento. Portanto, na PCA, a prática assistencial de enfermagem, e da saúde como um todo, consiste em um processo de co-criação coletiva, envolve tecnologias, técnicas, ações de comunicação, de acolhimento e ações educativas, as quais necessitam de progressivas renovações (TRENTINI; PAIM; SILVA, 2014, p. 188).
Embora a PCA seja um método designado a introduzir mudanças na prática assistencial em nível micro, a adesão satisfatória dos profissionais de enfermagem à PCA parece indicar que este método poderá ser promissor para avanços na melhora da prática profissional de enfermagem e saúde. Até o presente momento, parte dos estudos com utilização da PCA não tem conseguido realizar, por completo e de forma permanente, a transformação da prática assistencial no contexto pesquisado. Muito desta implicação pode explicar este limite. Apesar disso, acreditamos que a transformação da prática assistencial como um todo requer repetidas tentativas, pois a prática assistencial de enfermagem deseja a mudança, mas continua imbuída de traços culturais adquiridos ao longo do tempo e, em certos ambientes, apresentam em hábitos “crônicos”. Da mesma forma, alguns profissionais precisam de tempo para assimilar por completo essa nova ideia de pesquisa (PCA). A convergência de ações de pesquisa e ações de prática assistencial tem sido a maior dificuldade para alguns pesquisadores iniciantes. A materialidade da convergência ocorre durante o trabalho de campo que, em PCA, caracteriza-se por ações de prática juntamente com a obtenção de dados de pesquisa. Realmente, isso não é tão fácil como parece porque não se pode confundir, como foi dito anteriormente, ações de assistência com ações de pesquisa. Há estratégias de diferenciação que a prática de pesquisa irá construindo. Uma posição de esforço intelectual traz consigo meios de caracterizar as diferenças entre dados de pesquisa e de assistência. No cotidiano da pesquisa, há algumas considerações a respeito da finalidade; por exemplo, a questão que importa centralmente na assistência é o atendimento que emana de um
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plano de cuidados, enquanto, na pesquisa, a finalidade é a descoberta de um fato novo conceitual ou prático, mas elaborado a partir da temática do projeto. Os registros procedentes de observações minuciosas, requeridos pela pesquisa, são indagados criticamente, conforme o objeto de estudo. Estes diferem dos registros sistemáticos das rotinas de cumprimento dos planos individualizados, vindos de prescrições de diversos profissionais da saúde. Assim, a PCA sugere muitos estudos de seu detalhamento, o que só virá com o prosseguimento de mais e mais pesquisas e artigos sobre elas. Outra dificuldade observada nas publicações de algumas pesquisas em PCA se refere à análise, discussão e apresentação dos resultados. Em PCA, a convergência deverá continuar a ser objeto de controle rigoroso até o final do processo. Portanto, as ações de prática assistencial também deverão ocupar um espaço próprio na análise, discussão e apresentação dos resultados. Esse processo, por completo, constitui a alta complexidade da PCA, pois mudanças requerem tempo, diálogo, muito trabalho, paciência, ética e amor à profissão. Ao pensar que as mudanças em educação são lentas, com que ritmo se farão as mudanças culturais da interioridade das práticas assistenciais em saúde? É importante confirmar essa imperiosa necessidade de práticas qualificadas e lembrar do paradoxo que está sendo construído entre a educação formal de enfermagem e o alcance de titulações dignas, ao mesmo tempo em que se amplia o distanciamento abissal entre o que se aprende e o que é possível fazer de cuidado à saúde diante do que se acredita ser visto por todos – defesa da soberania das práticas teorizadas de assistência à população usuária dos Serviços de Saúde. Conforme as autoras deste estudo, a PCA é como uma microcontribuição metodológica para um profundo problema no campo da atenção à saúde.
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32 REFERÊNCIAS DUPIN, C. M.; BORGLIN, G.; DEBOUT, C.; ROTHAN-TONDEUR, M. An ethnographic study of nurses’ experience with nursing research and its integration in practice. Journal of Advanced Nursing. v. 70, n. 9, p. 21282139, 2014. FAWCETT, J. Thoughts About Conceptual Models and Measurement Validity. Nursing Science Quarterly. v. 26, n. 2, p. 189-191, 2013. FAWCETT, J.; GARITY, J. Evalueting research for evidence-based nursing practice. Filadélfia: F.A.Davis Company, 2009. JONES, S. Embracing research in nursing practice. British Journal of Nursing, v. 23, n. 18, p. 994-998, 2014. TRENTINI, M.; PAIM, L. Integração pesquisa e assistência na construção do conhecimento em enfermagem. In: ______. Pesquisa convergente assistencial: delineamento provocador de mudanças nas práticas de saúde. 3. ed. Porto Alegre: Moriá, 2014. p. 119-144 TRENTINI, M.; PAIM, L.; SILVA, D. G. V. Pesquisa Convergente Assistencial: delineamento provocador de mudanças nas práticas de saúde. 3. ed. Porto Alegre: Moriá, 2014.
1 Tecnologia de Processo de Cuidar Construída com Acompanhantes de Idosos Hospitalizados Márcia de Assunção Ferreira Maria Luiza de Oliveira Teixeira
INTRODUÇÃO s autoras deste capítulo são docentes de Enfermagem Fundamental, com larga experiência no ensino e na assistência de enfermagem, especialmente no campo de aplicação da clínica de adultos. Por anos atuaram no ensino/pesquisa de cuidados a clientes hospitalizados em clínica médica de um hospital universitário, com necessidades de saúde e de cuidados de baixa e média complexidade tecnológica. O campo da enfermagem fundamental abarca as áreas de domínio dos fundamentos do cuidado de enfermagem, cuidados fundamentais de enfermagem, concepções teóricas e tecnologias de enfermagem e ética aplicada à enfermagem. Tais domínios se configuram como áreas temáticas/linhas de pesquisa, para as quais se dirigem os focos dos projetos das autoras. Os projetos desenvolvidos no grupo de pesquisa das autoras deste capítulo investem nos domínios dos cuidados e de seus fundamentos, especialmente de concepções técnicas e teóricas, tendo em vista a oferta de cuidados que garantam qualidade de vida e bem-estar da clientela. Prima, também, pela concepção dos sujeitos do cuidado como seres ativos, criativos e participativos, pleno de direitos.
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se trabalhar, somente, com a perspectiva interpretativa da pesquisadora. Observa-se que nessa fase tem-se de forma bem caracterizada a convergência da pesquisa com a assistência, pois a construção compartilhada do plano de cuidados realizada pelos acompanhantes em diálogo com a enfermeira na 2ª etapa foi aplicada sob supervisão da enfermeira-pesquisadora. Essa, ao tempo em que fazia a observação como técnica de pesquisa, praticava a supervisão dos cuidados prestados pelo acompanhante, estabelecendo interação construtiva de cuidado e não somente instrutiva. Os registros foram feitos em um diário de campo para documentação da pesquisa e posterior análise formal pela pesquisadora. 4ª) Os acompanhantes foram novamente reunidos para discutir com a pesquisadora os resultados da observação, permitindo aos participantes tecerem considerações sobre todo o processo. Nessa fase, a reflexão tomou vulto, pois os acompanhantes puderam falar com mais propriedade sobre o que sabiam, o que aprenderam no processo, o que foi preciso redirecionar nas ações, exercitando a autocrítica e a crítica ao contexto institucional de prestação de cuidados, empoderando-se para o exercício da cidadania e reivindicação dos direitos do paciente, especialmente do idoso. Uma vez iniciado o encontro entre a pesquisadora e os participantes da pesquisa, a sua trajetória mostra-se cíclica e integrada, mostrando o movimento da reflexão-ação reflexão, culminando no processo de implementação das ações de cuidado co-construídas na convergência com a assistência (Figura 2). Ao corpus de dados aplicou-se a análise temática de conteúdo, com vistas a conformar as categorias empíricas, com suas unidades de registro e de contexto, para análise e posterior discussão. Os conteúdos mais significativos, cujos temas foram majoritários e recorrentes nos discursos e nas observações, se aglutinaram em torno de dois grandes eixos: O primeiro tratou das estratégias de cuidado e da ação dos acompanhantes junto ao idoso; e o segundo tratou das relações estabelecidas com a equipe e as possibilidades de mudança de status do acompanhante.
2 Cuidado domiciliar de pacientes dependentes de tecnologias: convergências entre a pesquisa, o cuidado e a educação dialógica Cecília Maria Brondani Margrid Beuter
INTRODUÇÃO
O
aumento da prevalência de pessoas com doenças que necessitam de cuidados de longa duração evidencia a necessidade de uma rede organizada de ações de saúde que vise garantir a integralidade a essa população. O enfrentamento dos diferentes graus de complexidade dessas doenças, bem como da necessidade da abordagem de uma equipe multiprofissional, constitui-se em um grande desafio para os diferentes níveis de atenção à saúde (BRASIL, 2014). Diante do atual contexto de saúde, observa-se o crescimento do cuidado domiciliar como uma estratégia alternativa e substitutiva da intervenção hospitalar, que tornou-se incapaz de suprir a elevada demanda de pessoas com doenças crônicas. A atenção domiciliar é definida pelo Ministério da Saúde como nova modalidade de atenção à saúde, caracterizada por um conjunto de ações de promoção da saúde, prevenção, tratamento de doenças e reabilitação prestadas em domicílio, com garantia de continuidade de cuidados e integradas às redes de atenção à saúde, buscando garantir a integralidade e a qualidade do cuidado à saúde (BRASIL, 2013).
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58 no domicílio e possibilita o desenvolvimento de habilidades que podem facilitar a realização dessa atividade. O processo educativo exercido de modo intencional pode mobilizar para o enfrentamento e o desenvolvimento de ações que contribuam para a resolução de problemas do cotidiano dos cuidadores. Para que esse processo seja efetivo há necessidade de interação e comunicação entre as pessoas envolvidas. O enfermeiro deverá construir uma relação horizontal, dialógica, valorizando a escuta e o saber do cuidador. Ao assumir uma postura de escuta, de aproximação, o enfermeiro abre espaço para que o cuidador verbalize suas necessidades e participe ativamente do processo de educação. Assim, o cuidador se educa à medida que conhece e não à medida que simplesmente recebe informações. Pôde-se constatar que a prática de educação em saúde desenvolvida durante as visitas domiciliares, possibilitou aos cuidadores familiares desvelarem a realidade do cuidado, desenvolverem habilidades para o manuseio seguro e adequado das tecnologias. Além de viabilizar estratégias de enfrentamento, com vistas a amenizar fatores que dificultam o cuidado e/ou restringe o uso das tecnologias e predispõem a sobrecarga dos cuidadores. Sendo assim, o objetivo deste capítulo é relatar a experiência da utilização da Pesquisa Convergente Assistencial (PCA) como referencial metodológico, destacando os pontos de convergência entre a pesquisa, o cuidado e a educação dialógica.
OPERACIONALIZAÇÃO DA PCA Contribuições da teoria de Paulo Freire para a prática de educação em saúde A prática educativa desenvolvida pelo enfermeiro, que pressupõe a participação ativa do indivíduo e da família, pode ser compreendida na perspectiva dialógica do educador Paulo Freire. A proposta de educação pensada por Freire é ética, solidária, libertadora. Propõe a humanização das relações e a libertação dos
3 Avaliação da dor por enfermeiras em cuidados paliativos oncológicos: uma pesquisa que converge para o cuidado Roberta Waterkemper Kenya Schmidt Reibnitz
INTRODUÇÃO
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omo o próprio enunciado da pesquisa revela, a “Pesquisa Convergente Assistencial (PCA) converge para a prática; portanto, não há possibilidade de justificar o uso desta modalidade de investigação sem uma relação com a assistência. Ao trabalhar por nove anos acompanhando e cuidando de pacientes com câncer e cuidados paliativos, percebi a importância que os enfermeiros têm neste processo de cuidar, educar e gerenciar, principalmente pelo seu cotidiano e suas experiências de trabalho. Isso me estimulou a buscar, por meio da pesquisa, novas e melhores formas de cuidar. A instituição em que exerci a função de enfermeira é conhecida como centro de referência no atendimento a pacientes oncológicos não somente no estado de Santa Catarina (SC), mas também nos outros estados do Brasil. Ao trabalhar diretamente com o paciente com câncer, entre todos os sinais e sintomas apresentados pelo paciente, a dor é a sua principal queixa, tanto em fase de tratamento para a doença quanto nos cuidados paliativos. Conviver diariamente com pessoas sentindo dor e solicitando, muitas vezes com choro e desespero, a nós, enfermeiras, o alívio imediato dela, estimulou a minha preocupação e meu incentivo à equipe para aprofundar a
4 Construção coletiva do processo de revelação do diagnóstico de HIV para crianças e adolescentes: pesquisa convergente assistencial na produção de dados em enfermagem Bruna Pase Zanon Cristiane Cardoso de Paula
INTRODUÇÃO
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Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade (GP-PEFAS) do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) tem investido no desenvolvimento de investigações científicas, dentre as quais destacaremos a composição na linha de pesquisa vulnerabilidade e demandas de cuidado de pessoas, famílias e sociedade, no contexto da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids). Para tanto, as ações de ensino, pesquisa e extensão nesta temática constituem o Programa Aids, Educação e Cidadania, que teve início em 1998, contemplando projetos de extensão, ensino e pesquisa. Essas ações visam à promoção e assistência à saúde das pessoas que vivem com vírus da imunodeficiência humana (HIV) nas diferentes fases do desenvolvimento humano, tendo como principal cenário dessas ações o Serviço de Doenças Infecciosas no Ambulatório do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) (PADOIN, PAULA, 2012). Desde 1999, o GP-PEFAS tem desenvolvido pesquisas desencadeadas pela necessidade do serviço e pela evolução da
5 A Pesquisa Convergente Assistencial na saúde do trabalhador Marli Maria Loro Regina Célia Golner Zeitoune
INTRODUÇÃO esenvolver ações educativas efetivas em saúde do trabalhador foi um desafio, pois na prática, vê-se que os trabalhadores, por vezes, se expõem a inúmeras e variadas situações de risco na atividade profissional. Desse modo, a saúde do trabalhador constituise em um campo em que ações educativas são prementes, porque há repercussões negativas do trabalho na vida e saúde dos trabalhadores. A preocupação com os riscos ocupacionais, a que estão sujeitos os trabalhadores, deve ser uma constante, tanto para a gerência/ gestor, como para o trabalhador, com vistas a garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores no ambiente de trabalho. Assim, é fundamental entender e conhecer o contexto social e político que envolve a saúde do trabalhador, bem como ampliar a busca da compreensão e transformações sociais para ressignificar a realidade vivenciada por esses profissionais. É importante ainda compreender como e onde se produz o processo de saúde/doença, identificar quais as necessidades dos trabalhadores e como se dá o processamento do trabalho nessa área. (NASCIMENTO et al., 2011). As repercussões do trabalho na vida e saúde dos trabalhadores são objeto de avaliação e estudo desde tempos remotos da história; concomitantemente, mudanças e avanços ocorreram, mas as consequências do viver, laborar e adoecer ainda se fazem
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10 Convergência da pesquisa com a prática de enfermagem na segurança do paciente pediátrico* Priscila Kelly Dias Padilha Ana Eliza Belizário Rodrigues Daisy Cristina Rodrigues Eliane Tatsch Neves
INTRODUÇÃO
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tuando na unidade de internação pediátrica de um hospital público e compreendendo a complexa rede que envolve o cuidado à criança hospitalizada, identificou-se diversas fragilidades que a equipe de enfermagem possuía em relação à terapia medicamentosa. A partir disso, iniciou-se a construção de um projeto que pudesse modificar esta realidade, pois, como Freire (2006) menciona, a reflexão crítica sobre a prática torna-se necessária para o emergir da relação teoria/prática, uma vez que, de forma isolada, a teoria pode virar retórica e a prática, ativismo. Nesse sentido, uma das responsabilidades básicas do exercício profissional de enfermagem em quaisquer de suas atividades inclui, necessariamente, o rigor da prática teorizada. Existem equívocos que perfilam como os que mais têm possibilidade de ocorrência tratando-se de crianças internadas, motivo pelo qual, entre outras adversidades evitáveis, destaca-se, neste estudo, a terapia medicamentosa, uma vez que é incontestavelmente uma das *
Capítulo extraído da Dissertação de Mestrado de Priscila Kelly Dias Padilha (2016).
14 Pesquisa Convergente Assistencial: uma experiência de educação em saúde fundamentada em Foucault Valéria Silvana Faganello Madureira Mercedes Trentini
INTRODUÇÃO s motivos que respaldaram meu interesse no tema deste estudo relacionam-se com os caminhos que percorri na vida profissional, os quais me aproximaram das questões de gênero quando, no mestrado, percebi duas faces aparentemente contraditórias nas mulheres com quem trabalhei: uma, revelada no cuidado com os filhos e outra, nas relações com o marido. Isso chamou minha atenção para as relações heterossexuais (MADUREIRA, 1994). Esse interesse aumentou quando assumi, em 1997, a coordenação do Centro de Treinamento de Recursos Humanos em Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS, na Universidade do Contestado, em Concórdia (CETRHU/UnC). À época, textos sobre DST/aids informavam rápido crescimento da epidemia entre mulheres contaminadas por via heterossexual e o Ministério da Saúde (BRASIL, 2003, p.6) destacava a transmissão sexual na epidemia, com maior concentração de casos na subcategoria heterossexual. Diferentes publicações deram centralidade à mulher na epidemia. No Brasil, em obra organizada por Parker e Galvão (1996), diferentes autores expunham aspectos da relação homem-
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A Pesquisa Convergente Assistencial contribuindo no processo de viver de pessoas com doença aterosclerótica coronariana* Albertina Bonetti Denise Guerreiro Vieira da Silva
INTRODUÇÃO
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ara atender as pessoas com doenças coronarianas, especialmente a Doença Aterosclerótica Coronariana (DAC), o Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolve um Programa de Reabilitação e Prevenção Cardiorrespiratório (PROCOR), do qual temos participado e adquirido alguma experiência nesta área. O trabalho teve início em setembro de 1997, com o objetivo de promover o condicionamento físico direcionado às pessoas com DAC, bem como para pessoas com outras condições crônicas (SILVA, 1997). Essa experiência, além de atender uma demanda significativa da comunidade, tem servido como campo de práticas para docentes e discentes, em especial do Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina.
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Trata-se de um recorte da tese de doutorado sustentada em 2006, que teve como título “O Coração e o Lúdico: vivências corporais para um viver mais saudável de pessoas com doenças aterosclerótica coronariana”. Foi defendida junto ao Programa de PósGraduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, tendo como orientadora a Dra. Denise M. Guerreiro Vieira da Silva. A tese defendida foi que o programa de Vivências Corporais Lúdicas oferece melhores condições para a pessoa com DAC se expressar, se manifestar por meio do movimento corporal, oportunizando a ela construir outras possibilidades de se situar mais saudável no mundo.
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