Tecnologias Cuidativo-educacionais:uma possibilidade para o empoderamento do(a) enfermeiro(a)

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Tecnologias cuidativo-educacionais Uma possibilidade para o empoderamento do(a) enfermeiro(a)?

ElisabEta albErtina niEtschE ElizabEth tEixEira horácio PirEs MEdEiros (orgs.)

1a edição / 2014 Porto Alegre/RS


Os autores e a editora se empenharam para dar os devidos créditos e citar adequadamente a todos os detentores de direitos autorais de ual ue ate ial uilizado este li o, dispo do-se a possí eis a e tos poste io es aso, i olu ta ia e te e i ad e ida e te, a ide ii aç o de algu deles, te ha sido o iida. Todas as fotos ue ilust a o li o fo a auto izadas pa a pu li aç o e uso ie íi o pelos pa ie tes e/ou fa ilia es a fo a de o se i e to li e e i fo ado, segui do as o as p e o izadas pela esoluç o / , do Co selho Na io al de Saúde. Diag a aç o: Fo

ato á tes G i as

Capa: ál a o Lopes - Pu lik ais Re is o de Po tuguês: Sulia i Editog aia 1ª Edição / 2014

Todos os direitos de reprodução reservados para MORIã EDITORá LTDá. É p oi ida a dupli aç o ou ep oduç o deste olu e, o todo ou e pa te, e uais ue fo as ou po uais ue eios e i o, elet i o, foto pia, g a aç o, dist i uiç o pela i te et ou out os , se pe iss o, po es ito, da MORIã EDITORá LTDá. Rua: á a F es, / Blo o XI - Ja di Po to áleg e /RS - CEP: . Tel./Fa . . o iaedito a@g ail. o . o iaedito a. o . T255

Itu Sa a

Tecnologias cuidativo-educacionais : uma possibilidade para o empoderamento do/a enfermeiro/a? / organizadoras: Elisabeta Albertina Nietsche, Elizabeth Teixeira, Horácio Pires Medeiros. - Porto Alegre: Moriá, 2014. 213 p. : il. Bibliograia ISBN 978-85-99238-13-4 1. Educação 2. Tecnologias 3. Enfermagem 4. Educação em saúde I. Nietsche, Elisabeta Albertina II. Teixeira, Elizabeth III. Medeiros, Horácio Pires IV. Título NLM WA1 Catalogação na fonte: Rubens da Costa Silva Filho CRB10/1761


Prefácio

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Te ologias uidaivo-edu a io ais: u a possi ilidade para o e podera e to do a e fer eiro a ?

Temos aqui um grupo destemido de enfermeiras/os que pretende avançar na discussão sobre o papel, lugar, signiicado da tecnologia em suas proissões, levando em conta que se trata de uma área parti­ cularmente afetada pelas inovações tecnológicas. Perpassa o estudo a noção de empoderamento, enfatizando o lado da politicidade do cuidado – o melhor cuidado é aquele que fomenta a emancipação de quem o recebe, assim como a melhor ajuda é aquela que acaba instigando o ajudado a não precisar mais dela. Historicamente, novas tecnologias sempre tiveram este signo: tornar o ser humano cada vez mais autônomo, conquistar espaços de atuação própria, alargar os horizontes da iniciativa e au­ toria, tomar o destino em suas mãos até onde possível. Tudo isso é intrinsecamente ambíguo, porque, como dizia Paulo Freire, o oprimido que se liberta pode tornar­se o próximo opressor e ainda pior; basta que tome o poder. É interminável esta discussão sobre os sobressaltos da tecnologia, porque, abrigando quase sempre a fagulha da sublevação da criatura contra seu criador, não se sabe no que vai dar... Na história eurocêntrica, a invenção frenética de novas tec­ nologias marcou sua supremacia sobre o mundo, tendo sido uma das manifestações mais precoces da globalização – no rastro do método cientíico moderno não veio só o progresso, mas também colonização, depredação da natureza, riscos ambientais, concentração de poder e riqueza, desperdício da experiência humana e assim por diante. Mas há também os aspectos bons. Um deles são precisamente os avanços na área da saúde, permitindo viradas históricas sobre condições anteriores na quantidade e qualidade de vida, sem falar que é uma das áreas mais afeitas às inovações tecnológicas, seja nos medicamentos, nos procedimentos de intervenção médica, nas formas de tratamento, no aproveitamento das novas tecnologias para ins terapêuticos, bem como na transformação proissional no sentido da atualização incessante. A questão do empoderamento é particularmente instigante, tanto para o proissional de enfermagem, que pode alargar sua capacidade de atuação penetrando na politicidade do cuidado, quanto para a sociedade demandante de serviços de enfermagem, que pode aprender a construir projetos próprios de saúde, em especial de saúde pública.


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Esta visão se recusa a tomar a população como “paciente”, “beneiciária”, “recipiente”. Ao invés, a toma como parceira de proposta cooperativa, dentro da expectativa de que o maior legado da saúde é o projeto próprio, individual e coletivo de vida. É importante a quantidade, mas acima de tudo a qualidade de vida, que não pode vir apenas de fora, de cima, dada, doada ou imposta, mas como conquista da cidadania. Quando vemos o espetáculo macabro da população menos bem aquinhoada (a maioria) mendigando atendimento nos postos de saúde e hospitais públicos, percebe-se que não conseguimos ainda institucionalizar o direito à saúde. Aos mais pobres, uma saúde pobre. Quem pode, não vai ao posto, arranja um plano de saúde ou, ainda melhor, paga do próprio bolso para ter o melhor serviço. Mais, se porventura algum serviço é de alta qualidade (Rede Sara Kubitschek, Hospital do Câncer, Hospital do Coração...), quase que automaticamente vira cota dos mais ricos, tanto quanto as universidades federais sempre foram cota dos mais ricos. Quando saúde é apenas benefício concedido, não direito de cidadania, não se consegue evitar a pecha neoliberal clássica de coisa pobre para o pobre. É muito importante que esta mazela incomode aos enfermeiros, porque temos aí um início possível de cidadania alternativa. Como o texto bem coloca, o primeiro passo é dos enfermeiros: eles precisam empoderar-se, ou seja, construir sua própria cidadania, postando-se como operadores fundamentais do direito de todos à saúde; precisam de um tipo diferente de formação que, ao lado da qualidade técnica imprescindível, inclua a percepção aguda da politicidade do cuidado, sabendo trabalhar a avassaladora ambiguidade da área de saúde; o segundo passo é trabalhar no sentido de que os cidadãos possam participar ativamente do projeto de saúde pública como conquista consciente, organizada e coletiva. Mesmo num ambiente neoliberal como é o nosso, é preciso alargar as oportunidades de atendimento que não podem depender tanto assim de imposições do mercado que têm como consequência reservar para os mais pobres uma saúde pobre. Embora se escute de vez em quando que saúde é direito de todos e até apareça como refrão sonoro, embora bem desainado, no SUS, é, na prática, sarcasmo sem nome, porque a desigualdade de acesso é um escândalo. Como sempre na história, se quisermos mudar essa condição, mesmo conservando o cenário capitalista, implica intervenção de fora. Assim como é tolo esperar que o Congresso se desfaça de seus privilégios, não é menos imaginar que se ofereça à população a mesma oportunidade de saúde dos mais ricos por gestos do próprio sistema. Convém lembrar que um enfermeiro de vanguarda não pode ser unilateral: não gostamos do enfermeiro apenas técnico, porque é falta 4


Prof. Dr. Pedro Demo Professor Titular aposentado da Universidade de Brasília Departamento de Sociologia. Professor Emérito

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de “técnica” ser apenas técnico; mas não podemos gostar do enfermeiro que é apenas “político”, porque já seria “politiqueiro”. É preciso cavalgar ambos os cavalos, levando as rédeas com equilíbrio, porque um não substitui o outro. O tino político deveria redundar, ainda, no aprimoramento técnico, porque digniica muito a proissão sua competência atualizada e efetiva. Mas o tino técnico também deveria redundar no aprimoramento político, porque digniica a proissão ainá-la com a democracia e a república. Ficou-me excelente impressão desta obra, tanto pelo fôlego demonstrado, capacidade de iniciativa e organização dos textos e do grupo, quanto pela cobertura de tópicos, podendo ser fator formidável de qualiicação proissional e de formação universitária. Chamo a atenção que, por ser a enfermagem uma esfera mais tipicamente interdisciplinar, é mais arejada que outras, porque convive com diferenças mais expressivas e das quais se pode sempre aprender. É tocante o ardor demonstrado nos textos de um grupo apaixonado pelo que faz, apresentando-se como protagonista de uma nova enfermagem.


Autores

Ângela Maria Alvarez é enfermeira com formação em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Estadual de Londrina, doutorado e mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é professora Associada da Universidade Federal de Santa Catarina, atuando nas áreas de Doença de Parkinson, Doença de Alzheimer, Idoso, Cuidador Familiar, Grupo de Ajuda Mútua e Enfermagem. E-mail: alvarez@ccs.ufsc.br

Cristiana Brasil de Almeida Rebouças é enfermeira com graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente é professora Adjunta da Universidade Federal do Ceará, atuando nas áreas de Enfermagem, Tecnologias em Saúde, Comunicação, Pessoa com Deiciência, Pediatria e Puericultura. E-mail: crisbrasil@ufc.br Elisabeta Albertina Nietsche é enfermeira com formação em Enfermagem e Obstetrícia pela Faculdade Nossa Senhora Medianeira, doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria. Atualmente é professora Associada da Universidade Federal de Santa Maria, atuando nas áreas de Enfermagem, Educação, Cuidado e Educação, Tecnologia e Tecnologia Educacional. E-mail: eanietsche@gmail.com Elizabeth Teixeira é enfermeira com formação em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-doutorado em Sociologia pela Universidade de Coimbra, doutorado em Ciências Socioambientais pela Universidade Federal do Pará, mestrado em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e livre-docente pela Unirio. Atualmente é professora Titular da Universidade do Estado do Pará, atuando nas áreas de Enfermagem, Tecnologia Educacional e Práticas Educativas. E-mail: etfelipe@hotmail.com 7

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Antonia Ferreira Alves Sampaio é Engenheira de Alimentos com Graduação e Mestrado pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente é Bolsista de Apoio Técnico da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico, atuando nas áreas de Enfermagem, Comunicação, e Pessoa com Deiciência. E-mail: antoniaufc@yahoo.com.br


Horácio Pires Medeiros é enfermeiro com formação em Enfermagem pela Universidade do Estado do Pará. Atualmente é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Pará, desenvolvendo trabalhos nas áreas de Enfermagem, Gerontologia e Tecnologia Educacional. E-mail: horacio-one@hotmail.com

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Jordelina Schier é enfermeira. Mestre e doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG. Membro do Grupo de Estudos sobre Cuidados de Saúde de Pessoas Idosas do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem – GESPI/PEN/UFSC. Professora e coordenadora do Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI/ UFSC). E-mail: jordelina.schier@ufsc.br Lorita Marlena Freitag Pagliuca é enfermeira com formação em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem São José, doutorado e mestrado em Enfermagem pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professora Titular (Aposentada) da Universidade Federal do Ceará, atuando nas áreas de Enfermagem, Teorias de Enfermagem, Conceitos de Enfermagem, Pessoa com Deiciência e Tecnologia Assistiva. E-mail: pagliuca@ufc.br Lucia Hisako Takase Gonçalves é enfermeira com formação em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo, pós-doutorado em Enfermagem com ênfase em Família na University of California, doutorado em Enfermagem pela Universidade de São Paulo. É professora Titular aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é pesquisadora Visitante CNPq na Universidade Federal do Pará no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, desenvolvendo trabalhos nas áreas de Enfermagem Gerontológica, Enfermagem de Família e Tecnologias Cuidativo-Educacionais. E-mail: ehtakase@gmail.com Lygia Muller Dias Paim é enfermeira com formação em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui o títulos de livre-docente, doutorado e mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é professora aposentada como Titular de Enfermagem Fundamental da Escola Anna Nery – UFRJ. Atua nas áreas de Enfermagem, Pesquisa Convergente – Assistencial, Educação e Pesquisa em Enfermagem. E-mail: lpaim9@gmail.com Márcia Gabriela Gonçalves de Lima é enfermeira graduada pela Universidade Federal de Santa Maria e mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: grlmarcia@yahoo.com.br Marcia Helena Machado Nascimento é enfermeira com formação em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará e mestrado em Enfer8


magem pela Universidade do Estado do Pará. Atualmente é professora Assistente da Universidade do Estado do Pará, da Universidade da Amazônia e enfermeira do Hospital de Clínicas Gaspar Viana, atuando nas áreas de Enfermagem Pediátrica e Neonatal, e Tecnologia Educacional. E-mail: marciahemily@yahoo.com.br Maria Tereza Leopardi é enfermeira graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina, doutorado em Ciência da Enfermagem pela Universidade de São Paulo e mestrado em Assistência de Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é professora Efetiva da Universidade do Vale do Itajaí, atuando nas áreas de Ética e Filosoia na Saúde, Assistência de Enfermagem e Processo de Trabalho. E-mail: mtl@soldasoft.com.br

Thaís Monteiro Góes é enfermeira com formação em Enfermagem pela Universidade do Estado do Pará, mestranda do Programa de Pós­Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Pará. Atualmente é professora da Faculdade Metropolitana da Amazônia e enfermeira da Secretaria Municipal de Ananindeua, atuando nas áreas de Enfermagem Gerontológica e Tecnologia. E­mail: taisu23@yahoo.com.br Vera Maria Sabóia é enfermeira com formação em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal Fluminense, mestrado e doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professora Titular da Universidade Federal Fluminense, atuando nas áreas de Educação em Saúde, Grupos Populacionais, Cuidado Humanizado e Prática Educativa. Docente do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde e do Mestrado Proissional de Ensino e Saúde da EEAAC – UFF. E­mail: verasaboia@uol.com.br Verônica Pinheiro Viana. Enfermeira. Especialista em Enfermagem Pediátrica pela UFRJ. Mestranda do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS)/ EEAAC/ UFF. Coordenadora Administrativa e de Enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) / UFRJ. E-mail: veronica.pinheiro@bol.com.br 9

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Sandra Helena Isse Polaro é enfermeira com formação em Enfermagem pela Universidade do Estado do Pará, doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública. Atualmente é professora Adjunta da Universidade Federal do Pará, atuando nas áreas de Família, Idoso, Programa Saúde da Família e Enfermagem Gerontológica. E­mail: shpolaro@ufpa.br


Sumário

Apresentação ................................................................................................ Elisabeta Albertina Nietsche, Elizabeth Teixeira, Horácio Pires Medeiros

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Parte 1 – BASES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS 17

Capítulo 2 – Produção e aplicação das tecnologias nos sistemas de saúde .......................................................... Maria Tereza Leopardi

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Capítulo 3 – Tecnologias na literatura de enfermagem: do reconhecimento ao desenvolvimento ............................................... Horácio Pires Medeiros, Elizabeth Teixeira

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Capítulo 4 – Empoderamento da Enfermagem e uso de tecnologias de cuidado .............................................................. Maria Tereza Leopardi, Lygia Muller Dias Paim, Elisabeta Albertina Nietsche Capítulo 5 – Tecnologias de enfermagem: algumas propostas de classiicações/categorizações .......................................... Elisabeta Albertina Nietsche, Lygia Muller Dias Paim, Márcia Gabriela Gonçalves de Lima Capítulo 6 – Referenciais metodológicos para validação de tecnologias cuidativo-educacionais .................................................. Elizabeth Teixeira, Marcia Helena Machado Nascimento, Horácio Pires Medeiros

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Capítulo 1 – História da tecnologia e sua evolução na assistência e no contexto do cuidado de enfermagem ................. Lygia Muller Dias Paim, Elisabeta Albertina Nietsche, Márcia Gabriela Rodrigues de Lima


Parte 2 – TECNOLOGIAS CUIDATIVO-EDUCACIONAIS EM MÚLTIPLOS CONTEXTOS Capítulo 7 – Tecnologias de/em enfermagem no cuidado da vida e saúde do cliente/usuário/paciente idoso ............................. Lucia H. Takase Gonçalves, Sandra Helena Isse Polaro, Angela Maria Alvarez, Thais Monteiro Góes, Horácio Pires Medeiros Capítulo 8 – Tecnologia socioeducativa de enfermagem hospitalar. Jordelina Schier, Lucia H. Takase Gonçalves, Angela Maria Alvarez

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Capítulo 9 – Tecnologia educativo-participativa com grupo de pessoas diabéticas ............................................................ Elizabeth Teixeira, MariaPinheiro Saboia,Viana, Verônica Pinheiro Viana Vera Maria Saboia,Vera Verônica Elizabeth Teixeira Capítulo 10 – Tecnologias educativas para pessoas com deficiência visual ................................................................................ Lorita Marlena Freitag Pagliuca, Cristiana Brasil de Almeida Rebouças, Antonia Ferreira Alves Sampaio Capítulo 11 – Tecnologia educacional para famílias cangurus em terapia intensiva neonatal: travessias entre textos e imagens .. Marcia Helena Machado Nascimento, Elizabeth Teixeira

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Apresentação

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O livro Tecnologias cuidativo-educacionais: uma possibilidade para o empoderamento do/a enfermeiro/a? que ora apresentamos tem um signiicado especial para todos nós que fazemos pesquisa sobre tecnologias de/em Enfermagem. A proposta surgiu durante o 64º Congresso Brasileiro de Enfermagem, em Porto Alegre, de 29 de outubro a 1º de novembro de 2012. O tema do evento foi Empoderamento da Enfermagem na aliança com o usuário. Após uma conferência intitulada “Empoderamento da Enfermagem na contemporaneidade”, nos motivamos a convidar autores da área de Enfermagem, mais especiicamente autores que vêm produzindo conhecimentos sobre tecnologias cuidativo-educacionais, para se unirem a nós no desaio de apontar as tecnologias como possibilidade para o empoderamento do/a enfermeiro/a. O livro se constitui, ainda, em um momento histórico, pois reúne 17 autores de quatro das cinco regiões do país: Norte (6), Nordeste (3), Sudeste (3) e Sul (5); a partir de experiências e produções em seus Estados, eis que se articulam para “tecer” um texto coletivo. A organização do livro foi feita a partir de dois eixos: Bases Históricas e Conceituais, com seis capítulos, e Tecnologias Cuidativo­ Educacionais em Múltiplos Contextos, com cinco capítulos. O eixo Bases Históricas e Conceituais traz aspectos da história da tecnologia e sua evolução na assistência e no contexto do cuidado de Enfermagem, Produção e aplicação das tecnologias nos sistemas de saúde, Tecnologias na literatura de Enfermagem: do reconhecimento ao desenvolvimento, Empoderamento da Enfermagem e uso de tecnologias de cuidado, Tecnologias de Enfermagem: algumas propostas de classiicações/categorizações, Referenciais metodológicos para validação de tecnologias cuidativo-educacionais. O eixo Tecnologias Cuidativo-Educacionais em Múltiplos Contextos apresenta Tecnologias de/em Enfermagem no cuidado da vida e saúde do cliente/usuário/paciente idoso, Tecnologia socioeducativa de Enfermagem hospitalar, Tecnologia educativo-participativa com grupo de pessoas diabéticas, Tecnologias educativas para pessoas com deiciência visual, Tecnologia educacional para famílias cangurus em terapia intensiva neonatal: travessias entre textos e imagens. As temáticas estão, de modo geral, relacionadas às práticas de seus autores, práticas construídas em múltiplos contextos, que culminaram


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em questões e objetos de investigação, cuja relexão tem como objetivo pensar, revelar e transformar a realidade da Enfermagem. O livro traz subsídios para pensar/fazer os processos de trabalho visando ao empoderamento dos proissionais em diferentes contextos de atuação, tendo como base o cuidado à pessoa humana, seja individual, familial ou grupal. As tecnologias (re)criadas por enfermeiros são importantes dispositivos para o empoderamento, e, muitas vezes, os proissionais desconhecem o poder que elas têm. Ao longo do livro, observa­se a con­ sonância de relexões e práticas que tendem para uma nova Enfermagem, apontando um fazer/criar/inovar numa perspectiva de ter uma ciência/ proissão/disciplina alicerçada em conhecimentos especíicos para subsi­ diar a prática com diversos indivíduos/grupos que recebem cuidado de Enfermagem. Assim, nos estudos teóricos, relatos de experiência e resultados de pesquisas, os autores encontram referências para pensar e revelar aspec­ tos das Tecnologias cuidativo-educacionais como possibilidade para o empoderamento do/a enfermeiro/a. Elisabeta Albertina Nietsche Elizabeth Teixeira Horácio Pires Medeiros Organizadores

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P 1 Bases Históricas e Conceituais


Capítulo

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História da tecnologia e sua evolução na assistência e no contexto do cuidado de enfermagem Lygia Muller Dias Paim Elisabeta Albertina Nietsche Márcia Gabriela Rodrigues de Lima

OBJETIVOS: Oportunizar aos leitores, em particular enfermeiros assistenciais, acadêmicos, docentes de enfermagem e demais proissionais de saúde, a contextualização e a socialização de algumas concepções de técnica e tecnologia, para podermos compreender e relacionar alguns aspectos históricos e entrecruzamentos de tecnologias e cuidado de enfermagem, com destaque dentro da realidade brasileira.

apresentação Este capítulo, primeiramente, apresenta uma descrição e relexão sobre algumas concepções dos termos técnica e tecnologia desmitiicando que estes termos não estão relacionados somente com produtos ou uma materialidade, mas incluem também os processos. Num segundo momento, descreve alguns aspectos da evolução histórica da tecnologia e suas inter­relações com a Enfermagem e que sempre tem existido uma estreita relação entre a história geral do homem e seu progresso tecnológico. Posteriormente, regata os principais aspectos históricos da enfermagem brasileira e seus entrecruzamentos de tecnologias e o cuidado de enfermagem. 17

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“Cada período histórico é determinado por uma formação social especíica, trazendo consigo toda uma caracterização própria que engloba sua ilosoia, sua política, sua economia, suas leis e sua ideologia” (GEOVANINI et al., 1995, p. 5).


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introdução Para compreendermos a importância do desenvolvimento de es­ tudos que envolvem a temática “Tecnologias Especíicas de Enferma­ gem”, é necessário, inicialmente, fazer uma descrição conceitual das concepções de alguns autores sobre o que é técnica e tecnologia e tam­ bém conhecer a contextualização histórica da humanidade e o surgi­ mento da tecnologia, para após aprofundarmos suas relações e especii­ cidades na produção tecnológica da área da saúde com destaque para a área da enfermagem brasileira. Historicamente, a relação entre a enfermagem e a tecnologia é permeada por períodos de isolamento do sistema cientiico­tecnológi­ co em trabalho mais artesanal e, posteriormente, pela busca desse co­ nhecimento cientíico. A enfermagem vem estruturando um corpo de conhecimento, iniciado com o pioneirismo do saber proissional (PAIM et al., 2009). Não é nossa pretensão trazer todos os aspectos conceituais e a história da tecnologia, mas, apontar os mais signiicativos para enten­ dermos a evolução da mesma e compreendermos o que os autores des­ te livro querem despertar nos leitores e que ainda precisamos, enquan­ to categoria proissional, compreender e aprofundar estudos nesta temática com vistas a um cuidado de enfermagem de qualidade as pes­ soas, desenvolvida em diferentes cenários de atuação.

algumas concepções sobre técnica e tecnologia A palavra techné, na Grécia antiga, signiicava o conhecimento que se associa com uma forma de poiesis, a dizer que a carpintaria é um co­ nhecimento (técnica) cujo propósito é realizar um projeto a partir da madeira (LEOPARDI; NIETSCHE; DIAS, 1999). Para tanto, descreve­ remos, inicialmente, o conceito de técnica (techné), para chegar à tecno­ logia a seguir, para então podermos compreender esses conceitos em nossa práxis do cotidiano pessoal e proissional enquanto cidadãos. Na história humana, cada técnica contém, como sua condição de existência, um propósito dirigido a um im, a cuja produção se orienta. Num sentido objetivo, a técnica tem coerência com o im a que se destina, de modo que a avaliação do resultado de um trabalho escancara o proces­ so real de pensar, sentir e fazer aquilo sobre que nos debruçamos. Assim, as técnicas contidas em artefatos e processos dependem da atividade humana orientada por um im, de modo que o conheci­ 18


Capítulo

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produção e aplicação das tecnologias nos sistemas de saúde Maria Tereza Leopardi OBJETIVO: Introduzir a relexão sobre novas formas de pensar tecnologias, considerando a perspectiva da integralidade e da complexidade das ações de cuidado.

Este capítulo refere­se a uma relexão sobre a produção tecno­ lógica, a partir da compreensão da interligação entre meios e ins da ação de cuidado. Inclui uma indicação de terminologia especíica para tecnologias na área da saúde e educação, como serviços que se dedi­ cam à democratização das ações, de modo que as intervenções tenham como inalidade as necessidades reais, considerando a emancipação como pressuposto destas intervenções, além da busca do estar melhor da pessoa cuidada. Deine a necessidade de registro das proposições tecnológicas e indica algumas referências para isto.

introdução Como já abordado em outro capítulo e em publicações de mi­ nha autoria, muitas vezes compartilhada com colegas queridos a quem agradeço pela amizade e coniança que conferem à nossa relação pro­ issional, vou tecer considerações mais gerais sobre o tema, até chegar a uma experiência prática de registro de tecnologia social. Considero importante trazer referências teóricas que ajudem para compreendermos o signiicado e a importância das tecnologias na ação de cuidar, começando por ir à sua origem etimológica. A palavra techne, na Grécia antiga, signiicava o conhecimento (logos) que se associa com uma forma de poiesis (ação). No cotidiano temos 37

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apresentação


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incontáveis exemplos de técnicas cujo propósito é intervir sobre alguma coisa ou situação, para o que são necessários conhecimento e habilidade. Na visão grega das coisas, cada técnica inclui um propósito e um signiicado relativos aos produtos e processos. Note-se que as technai (técnicas) mostram a “maneira correta” de fazer coisas, até mesmo num sentido objetivo. No mundo real, nem sempre temos opção para compreender os mecanismos internos de uma técnica, como, por exemplo, os procedimentos técnicos para o uso de uma máquina de fazer café. Quase sempre, o que sabemos está expresso no modo de usar, que não faz parte do âmbito da opinião ou de uma intenção do sujeito que maneja a máquina. A tecnologia que a máquina representa agrega conhecimentos de que não precisamos dispor para usá-la, mas são aplicados em sua produção. Em outras palavras, usamos a técnica implícita no modo de usar a máquina, mas não precisamos saber das leis da física mecânica, elétrica e assim por diante. O conhecimento necessário para a produção deste objeto está ativo na tecnologia, ou seja, sua proposição é dirigida por inalidades que se concretizam quando ela é disposta para o uso que se pensou para ela. A ciência e a tecnologia (FEENBERG, 2003) partem do pensamento racional, baseado na observação empírica e conhecimento de causalidade, mas a tecnologia não está relacionada com a verdade como a ciência e, sim, com a utilidade. Onde a ciência busca o saber, a tecnologia busca o controle de uma ação, o que lhe confere a capacidade de condicionar uma ideologia. Segundo Gonçalves (1994), tecnologias são saberes e seus desdobramentos materiais e não materiais, conforme as inalidades. A poiesis, incluída no momento mesmo de sua concepção, é a atividade prática do fazer dos seres humanos, traduzidos como os artefatos, os produtos da arte, do artesanato, e tudo o mais que torna a vida humana mais fácil, por expandir a tecnologia. Visto isso, quais são, então, os conceitos que precisamos compreender? TECNOLOGIA – refere-se aos procedimentos, métodos, ferramentas, equipamentos e instalações que concorrem para a realização e obtenção de um ou vários produtos e serviços. O termo implica o que, por quem, por que, para quem e como fazer. Em geral, a tecnologia divide-se em duas grandes categorias: tecnologia de produto e tecnologia de processo. As de produto são aquelas cujos resultados são componentes tangíveis e facilmente identiicáveis, tais como equipamentos, instalações físicas, ferramentas, artefatos, e outros. As de processo são aquelas em que se incluem as técnicas, méto38


dos e procedimentos utilizados para obter um determinado produto (IBICT, 2013), além do conhecimento necessário à compreensão do trabalho e sua gestão. Do grego τεχνη฀(ofício) e λογια (estudo), tecnologia é um termo que envolve o conhecimento técnico e cientíico e as ferramentas, processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento. Tecnologia é um termo que pode ser aplicado como um modo de pensar e resolver problemas, tornando-se mais que uma incursão puramente utilitária, como se pensava anteriormente. Neste sentido, tecnologia expressa atualmente a informação sobre um fundo ideológico, na gestão e aplicação de recursos cientíicos na produção de trabalho, cujas inalidades, se não são expostas, tornam­ se subjacentes e desconhecidas pelos usuários de produtos e processos que pretendem ajudar a resolver problemas.

de tecnologias na saúde e enfermagem

As políticas de gestão tecnológicas envolvem avaliação da economia, engenharia, informática e matemática aplicada à produção da tecnologia planejada, desenhada, desenvolvida e implantada para satisfazer mais interesses de elites político­inanceiras do que necessidades que emergem da sociedade. No mais das vezes, a necessidade acaba sendo criada para o consumo dos produtos e processos colocados no mercado. Por isso, na gestão da qualidade do cuidado em saúde, são as necessidades das pessoas que se sobrepõem aos interesses das instituições públicas ou privadas. Ou pelo menos deveria assim ser. Para isso, é importante focar em dois parâmetros ao se optar por tecnologias ofertadas no mundo concreto dos serviços de saúde, ou seja, segundo Martinez e Albornoz (1998): • A qualidade interna da tecnologia, focada nos processos (minimizar rotinas, que não agregam valor, inventários, tempos ociosos, imperfeições, demoras, ilas, desperdícios, contaminação, etc.); • A qualidade externa, focada nos produtos (ajustados às especiicações do desenho, performance, segurança, meio ambiente e satisfação do usuário). Nesse sentido, as mudanças preconizadas para aperfeiçoamento no modelo hegemônico de atenção à saúde compreende a introdução 39

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aspectos reflexivos para a produção


Capítulo

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tecnologias na literatura de enfermagem: do reconHecimento ao desenvolvimento Elizabeth Teixeira Horácio Pires Medeiros

apresentação O reconhecimento das tecnologias na práxis dos proissionais de saúde, e especialmente de enfermagem (o pensar­agir) aliado ao desen­ volvimento de tecnologias (o produzir­avaliar) é o foco deste capítulo. As tecnologias leves, o empoderamento, o conceito de práxis e os modos relacionais eu­tu e eu­isso são os ios condutores das relexões sobre as evidências encontradas. A literatura de enfermagem 2002­ 2013 o corpus privilegiado de análise.

introdução Para esta revisão, utilizaram­se concepções de Merhy (2002), que vem escrevendo sobre o processo de trabalho dos proissionais de saúde, e como as tecnologias são incorporadas neste processo. O autor propõe que as tecnologias envolvidas no processo do trabalho em saúde sejam agrupadas nos seguintes tipos: tecnologias leves – repre­ sentadas pelas relações entre proissionais/enfermeiros/usuários na forma de produção de vínculo, autonomização, acolhimento e gestão como uma forma de governar processos de trabalho; tecnologias duras – representadas essencialmente pelos equipamentos, máquinas, 57

Te ologias uidaivo-edu a io ais: u a possi ilidade para o e podera e to do a e fer eiro a ?

OBJETIVO: fazer uma análise crítico­relexiva de como as tecnologias cuida­ tivo­educacionais vêm sendo reconhecidas e avaliadas/testadas/desenvolvi­ das a partir da literatura de enfermagem e autores­enfermeiros brasileiros.


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normas, estruturas organizacionais utilizadas no campo da saúde; tecnologias leve-duras – representadas pelos saberes estruturados utilizados no processo de trabalho, como exemplo, a clínica médica, a epidemiologia, o taylorismo, o fayolrismo. Tais concepções têm sido utilizadas por enfermeiros brasileiros como Gonçalves e Schier (2005), Sena e colaboradores (2010), Rossi e Lima (2005), dando­se ênfase às tecnologias leves, apontadas como estratégias de inovação/aperfeiçoamento na prática de enfermagem em diferentes contextos de atuação como hospitais, consultas de enfer­ magem e grupos na comunidade. Assim, ao desenvolverem tais tecno­ logias no processo de trabalho, os enfermeiros evidenciam o saber tec­ nológico que têm e realizam a prática alicerçada no conhecimento especíico da enfermagem. Optamos focar este capítulo nos ambientes vivenciais, pois têm sido o “palco” privilegiado onde os “atores” sociais da saúde, e em especial da enfermagem, “encenam” processos de trabalho inovadores pautados em “scripts” que favorecem o estabelecimento de novas re­ lações­leves dentro de antigas estruturas­duras, mediados por tecno­ logias cuidativo­educacionais de diferentes tipos e características. As tecnologias desenvolvidas nos ambientes virtuais, assim, não foram incluídas. Os desaios mais apontados pelos estudiosos desses processos são os modos de pensar, conceber e representar as tecnologias cuida­ tivo­educacionais de um modo geral, bem como os meios de produzi­ las, testá­las e avaliá­las, tanto entre formadores e formandos (ambien­ tes de educação inicial) quanto proissionais e gestores (ambientes de exercício proissional). Nesse contexto, dar visibilidade à produção de enfermeiros em especial, sobre esses desaios, pode contribuir para a identiicação de possíveis soluções e consequentes inovações (ou não) nos diferentes ambientes de trabalho e na qualidade dos cuidados prestados. Foi com esse estímulo­provocação que os autores deste capítulo partiram para a “tessitura” do texto e izeram algumas opções metodológicas, do que tratam a seguir.

meios e método O estudo fundamentou­se em princípios da revisão integrativa da literatura (GANONG, 1987), desenvolvida em seis etapas: 58


Capítulo

8

tecnologia socioeducativa de enfermagem Hospitalar Jordelina Schier Lucia H. Takase Gonçalves Angela Maria Alvarez

apresentação Abordaremos, neste capítulo, a tecnologia de cuidado “Grupo Aqui e Agora”, desenvolvida a partir de uma dissertação de mestrado que visou trabalhar em ambiente hospitalar questões que emergissem dos idosos hospitalizados e seus acompanhantes cuidadores que estivessem disponíveis em discutir com a enfermeira-pesquisadora sobre tais assuntos. Esta tecnologia de cuidado teve embasamento teórico e metodológico nas concepções freirianas da educação participativa e na Teoria de Enfermagem do Autocuidado de Orem. Assim, no inal do desenvolvimento desta tecnologia concluiu-se que o “Grupo Aqui e Agora” é uma inovação da prática de enfermagem em ambiente hospitalar, com possibilidades de desenvolver a educação em saúde neste cenário.

introdução Escrever sobre o uso de tecnologias pelas(os) enfermeiras(os) em seus diferentes âmbitos de trabalho se traduz em momento oportuno e singular para demonstrar os avanços que a categoria vem imprimindo no que tange ao seu pensar/fazer enfermagem de ações cuidativo-educativas especíicas, nominando-as ou identiicando-as como tecnologias. 151

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OBJETIVOS: Apresentar o desenvolvimento da tecnologia “Grupo Aqui e Agora”, como uma tecnologia leve de cuidado em ambiente hospitalar, especiicamente numa unidade de internação, tendo como público os idosos hospitalizados e seus acompanhantes cuidadores.


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Em 2000, a revista Texto & Contexto Enfermagem dedicou um número inteiro a tecnologias em enfermagem, quase como uma provocação à categoria, sinalizando espaço aberto e vislumbrando necessários investimentos signiicativos na qualiicação das especiicidades técnicas e de procedimentos de cuidados de enfermagem. Passada uma década, acreditamos ter avançado nesse sentido. Enfatizamos aqui, ao tratar de tecnologia em enfermagem, aquela cuja concepção transcende máquinas e equipamentos soisticados, para um modo de fazer o trabalho aplicando conhecimentos técnico-cientíicos e se tornando um veículo facilitador do desenvolvimento das ações de enfermagem nos cuidados da vida e saúde dos clientes/pacientes/usuários. E que tais ações tenham competência técnica, privilegiando o saber cientíico, aliado necessariamente aos ditames éticos de valores humanos de dignidade, respeito, justiça e, sobretudo, solidariedade. Em suma, entendemos tecnologia em enfermagem como modelo assistencial que cria, adapta e transforma maneiras de cuidar nas mais variadas circunstâncias de vida dos usuários do sistema de saúde, com vistas à emancipação dos sujeitos envolvidos. Em assim fazendo, as(os) enfermeiras(os) estarão empoderando-se como proissionais por seus feitos criativos, singulares e inovados do saber fazer enfermagem cotidiano. A nós, autoras deste capítulo, incumbe apresentar uma dessas tecnologias em enfermagem desenvolvida em área hospitalar. Convém salientar que ela foi construída em exercício acadêmico de elaboração de dissertação de mestrado. Posteriormente, a tecnologia de “Grupo Aqui e Agora” foi incorporada ao programa de atenção do acompanhante hospitalar para paciente geriátrico, conigurando-se num grupo multiproissional de ação interdisciplinar. A autora, uma enfermeira hospitalar que na ânsia de ver seus pacientes mais bem acolhidos, enquanto internados, em suas necessidades e expectativas, assumiu a ideia criativa de desenvolver uma pesquisa-ação para buscar resultados benéicos requeridos pelo seu próprio campo de trabalho: a unidade de internação de clínica médica, com seus pacientes idosos e familiares visitantes e/ou acompanhantes. A tecnologia desenvolvida denominouse “Grupo aqui e agora – uma tecnologia leve de ação socioeducativa de enfermagem” (SCHIER, 2004).

grupo aqui e agora – uma tecnologia leve de ação socioeducativa de enfermagem

O Grupo Aqui e Agora se conigura como tecnologia de educação para a saúde, aplicada à enfermagem, adaptada do método de grupos de 152


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