Em Foto

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RATÃO ALEGRIA DINIZ João Roberto Ripper

Ratão Diniz é um fotógrafo que se especializou em captar alegria e bom humor. Sua fotografia é um elo de simpatia entre o brilho de seus olhos e a luz que persegue nas pessoas que fotografa. Ratão é fruto da raiz dos povos que teimam em ser felizes, mesmo quando submetidos a dificuldades extremas. Vem daí o impulso que o transformou em um fotógrafo harmoniosamente equilibrado entre a emoção de existir e o imperativo de resistir. As velhas e jovens mulheres sábias devem ter iluminado Ratão Diniz com o prazer da luz e da cor, mas suas fotografias em preto e branco transmitem momentos de reflexão profunda, como a imagem da mãe que se debruça sobre a filha ao pé da escadinha de entrada da sua humilde casa. O carinho, o amor, a alegria e a dor de uma mãe são universais, independentemente de que classe social. O foco é o afeto. Conheci Ratão Diniz pouco depois de seus primeiros cliques e acompanhei sua persistência, sua obstinação em estudar a obra de outros fotógrafos, seu fôlego para experimentar sempre, em buscar caminhos novos e agarrar as oportunidades que se oferecem. Lembro do Ratão, praticamente menino, indo lá em casa aprender Photoshop com o amigo e fotógrafo Valdean. E hoje eles me ensinam.


Ratão escuta, vê, aprende sempre. Bebeu das aulas de seu grande mestre Dante Gastaldoni como quem sempre desejasse um copo a mais, aprendeu profissionalismo com a Kita Pedroza e avançou na sua arte escutando Joana Mazza. A evolução de Ratão Diniz como fotógrafo não parou mais. Algumas vezes ele nos brinda com composições clássicas; outras, rompe com regras. Seu trabalho sobre o grafite, por exemplo, lhe garantiu o reconhecimento e a amizade dos grafiteiros. Do seu delírio com a luz e com a cor, Ratão desenvolveu uma fotografia documental onde ninguém se fere e ninguém é ofendido. Se eu fosse arriscar uma classificação para suas imagens, diria que constituem uma arte anarco-punk, como os muitos piercings que ele leva na orelha. Em alguma medida um trabalho que dialoga com o trabalho fotográfico de AF Rodrigues, amigo da Maré. Pessoas iluminadas, gente do Bem. Bira Carvalho, o fotógrafo que melhor espelha a alma dos moradores de favela, que tem a Maré no coração, me apresentou Ratão e pediu pra ele cursar a Escola de Fotógrafos Populares e, posteriormente, integrar a agência Imagens do Povo. Devo isso ao Bira. Com tantos belos amigos, Ratão tem mesmo que viver rindo. Talvez por isso, além da qualidade do seu trabalho, quem trabalha

com Ratão não quer mais largar. É assim com o projeto Revelando os Brasis, no qual ele trabalha desde 2007; é assim com os grafiteiros; é assim que seu trabalho vem sendo exposto em inúmeros lugares do Brasil e do mundo. Se visitarmos seu perfil na página de apresentação do Imagens do Povo, saberemos que em 2012 ele foi convidado a realizar uma residência artística no projeto Rio Occupation London (Londres/UK) e que neste mesmo ano participou da exposição Ginga da Vida, na Sede da Aliança Francesa, em Paris. Além destes projetos, Ratão já participou de inúmeras mostras fotográficas no Brasil e no exterior e tem seu trabalho publicado em diversos livros e periódicos. Dentre as mostras das quais já participou, destacam-se “Da lama ao bloco” (Sesc RJ, 2014); “Esporte na favela” (CCBB/RJ, 2007); Mostra “Belonging: an inside story from Rio’s favelas” (CanningHouse, Londres, 2007); “Jogos visuais – Arte brasileira no PAN” (Centro Cultural da Caixa Cultural do Rio, 2007); “Travessias 2” (Galpão Bela Maré, 2013). Em 2013 recebeu Menção Honrosa, na categoria cor, no 10o Concurso Cultural Leica-Fotografe. Enfim, acompanhar de perto a trajetória dessa figura fantástica e mergulhar os olhos na fotografia de Ratão Diniz enche a vida de alegria.


O movimento preciso rat達o diniz


O movimento é algo precioso para mim. A fotografia surgiu na minha vida num desses movimentos. Nos idos de 2004, tomei uma decisão que, nem imaginava, seria crucial na minha história. Eu me questionava sobre comprar uma guitarra nova ou investir num curso básico de fotografia. A busca pelo novo fez com que eu investisse no curso básico de fotografia no Senac o pouco dinheiro que tinha juntado. Em pouco tempo já não tinha mais banda. Bem antes do curso, quando participava de aulas de informática no Ceasm, um centro comunitário da Maré, ficava boa parte do tempo das aulas paquerando uma foto que ilustrava uma campanha contra o trabalho infantil. O retrato de um menino carvoeiro ficava pendurado na parede da sala de aula. Aquela imagem tinha uma força que me instigava. Como eu poderia imaginar que mais tarde viria a ser aluno do autor daquele registro? Em 2004, após as aulas do Senac, descobri a Escola de Fotógrafos Populares, no Observatório de Favelas, na Maré. Este foi o meu encontro crucial com a fotografia.

O professor era João Roberto Ripper, de quem eu tinha pouca informação. Resolvi pesquisar sobre ele na internet e reconheci várias imagens dele usadas no pré-vestibular do Ceasm durante as aulas de geografia do professor Leon Diniz. E o principal: era do Ripper a imagem do menino carvoeiro pendurada na parede da sala de aula do curso de informática. Ripper tornou-se uma das principais referências na minha fotografia. Na Escola de Fotógrafos Populares éramos instigados por Ripper a documentar nosso ambiente familiar, não só os nossos parentes, mas também nossa vizinhança, amigos etc. A Maré, portanto, seria meu primeiro tema de documentação. Talvez o meu maior desafio até hoje seja fotografar a Maré: captar a diversidade das coisas que me são mais próximas. As imagens de favelas neste livro buscam retratar da maneira mais abrangente possível o quanto é plural a vida que pulsa nas favelas. As fotos são em sua maioria registros do cotidiano de seus moradores e buscam retratar as belezas desses locais, quase sempre desconsideradas pelo senso, ou estereótipo, comum.


Desde quando decidi ser fotógrafo, uma coisa era clara na minha cabeça. Eu não pretendia viver de fotografia, e sim viver para a fotografia. Esta é uma decisão bastante arriscada, que me impõe, muitas vezes, assumir as consequências de uma vida instável, sobretudo financeiramente. Contudo, certamente não saberia fazer de outra forma. O meu prazer está em poder contar com a cumplicidade do fotografado. Aliás, como o Ripper costuma dizer, prefiro ter uma boa história a uma boa fotografia. Busco ser capaz de ter a confiança de quem se deixa fotografar por mim, e almejo que o olhar do fotografado deixe isso evidente para quem observa a minha fotografia. O meu fazer fotográfico é lento. Gosto de conhecer a história por trás dos rostos. Para mim é sempre difícil me despedir das pessoas que fotografei e dos lugares. Por isso, é sempre um “até logo”, porque carrego a certeza de que vou retornar a esses locais para levar as fotos a quem fotografei, reencontrar as pessoas e dar um forte abraço. Não conseguiria manter essas rotinas num emprego formal. Percebi, com o tempo, que minhas principais pesquisas fotográficas se conectavam por uma ideia comum: resistência. Talvez essa seja a palavra que defina o cotidiano da Maré, um lugar que luta diariamente contra as arbitrariedades do Estado e tem a sua imagem distorcida pela mídia

tradicional. As festas populares enfrentam e sobrevivem num mundo globalizado onde se valoriza cada vez menos as tradições de um povo. O graffitti é uma linguagem artística que busca dar visibilidade para os problemas sociais das periferias. As comunidades do interior do Nordeste brasileiro vivem à margem dos progressos econômicos e sociais do país, mas para mim o que sempre chamou atenção foi seu povo guerreiro e sua luta cotidiana. E são os migrantes vindos desses locais que compõem a imensa colcha de retalhos afetiva dos espaços periféricos das grandes cidades. Seja na periferia de Recife, de Vitória ou na Maré.

*** A escolha das fotos deste livro não segue uma ordem cronológica e não representa um trabalho finalizado. Todos os ensaios permanecem em desenvolvimento. Não se trata de projetos pontuais, são documentações de vida, que vou construindo pouco a pouco. A favela onde moro, os espaços periféricos, os povos tradicionais, as viagens, as histórias das pessoas que encontro... Tudo é parte da busca interminável da beleza de estar no mundo e de poder apresentar essa beleza como a vejo. Enfim, é o que me movimenta.


“O meu prazer está em poder contar com a cumplicidade do fotografado. Aliás, como o Ripper costuma dizer, prefiro ter uma boa história a uma boa fotografia.”


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e O Vidigal e a orla da Zona Sul do Rio de Janeiro


Morro da ProvidĂŞncia, no Centro do Rio

Santa Marta, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro

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_ fav e l a # n o t u r n a

“Desde o início, fotografar a favela pra mim é pensar na plasticidade, na luz que compõe esses ambientes. Eu vejo muita beleza na favela, e uma das maiores belezas são as relações humanas.”

O Pão de Açúcar no horizonte da Vila do Pinheiro, na Maré

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Varal e pipa na Santa Marta

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_ fav e l a # p e s s o a s Futebol no Morro Dois Irmãos, Zona Sul do Rio de Janeiro

Mudança no Alemão por conta das obras do PAC

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Copyright © Ratão Diniz. Todos os direitos desta edição reservados à MV Serviços e Editora Ltda. R. Teotonio Regadas, 26 / 904 Lapa – Rio de Janeiro www.morula.com.br contato@morula.com.br Visite o hotsite do livro em: www.morula.com.br/emfoto

direção editorial

Marianna Araujo Vitor Monteiro de Castro EDIÇÃO E PROJETO

Augusto Gazir Assistente de EDIÇÃO

Nathália Sarro projeto gráfico

Patrícia Oliveira revisão

Suzana Barbosa

cip-brasil. catalogação na publicação sindicato nacional dos editores de livros, rj

Tratamento de imagens

Trio Studio D613e Impressão

Gráfica WalPrint

Agradecimento

Agradecemos a todos que colaboraram com esta publicação contando suas histórias, com depoimentos e entrevistas. Como o trabalho de Ratão Diniz, este é um livro coletivo e não seria possível sem tantas contribuições.

patrocínio:

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Diniz, Ratão, 1980

realização:

Em Foto / Ratão Diniz. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Mórula, 2014.

176 p. ; il. ; 26 cm.

ISBN 978-85-65679-26-8

1. Fotografia. I. Título.

14-16282

CDD: 770 CDU: 77


Ratão Diniz é fotógrafo da agência Imagens do Povo e formado pela Escola de Fotógrafos Populares do Observatório de Favelas, no Rio de Janeiro. Morador da Maré, Ratão já contribuiu com diversas publicações e participou de exposições e projetos fotográficos no Brasil e no exterior. Em Foto é o seu primeiro livro.

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ISBN 978856567926-8

9 78 8 5 6 5 6 7 9 2 6 8

PATROCÍNIO:

REALIZAÇÃO:


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