Materia CTBA HQS

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Everton Mossato

apresenta

Curitiba em

Quadrinhos Mesmo sem gibis regionais nas bancas a cidade é pólo de ótimos artistas e possui Gibiteca de dar inveja no resto do país. O que falta para a criação do selo Curitiba Comics?

Para o quadrinista curitibano José Aguiar, essa cena é comum. “O dono da banca não sabe o que é nacional e o que é de fora”. Quem busca a produção regional de história em quadrinhos em qualquer lugar do Brasil está fadado a fugir das tradicionais bancas de jornal e revista. Esse mercado existe, mas é incipiente (faz tempo, diga-se de passagem) e só é encontrado na internet, nas livrarias, em forma de livros/álbuns, nas chamadas comic

shops (lojas especializadas em histórias em quadrinhos) e também nas gibitecas, as bibliotecas de gibis. É sábado à tarde, pouco mais de 16 horas. Na tevê passa o jogo da Ponte Preta e Paraná, o tricolor da Vila Capanema já perde de um a zero. Na entrada da Gibiteca de Curitiba, dentro do Solar do Barão, no centro da cidade, um grupo de fãs de Jornada nas Estrelas discute efusivamente sabe-deus-o-quê.

Hoje estamos vivendo um momento importante no Brasil. A entrada da Cia das Letras foi importante para o mercado José Aguiar

Dentro da sala de aula da Gibiteca, os alunos aguardam mais uma aula com o professor, ilustrador e roteirista José Aguiar. Mesmo sem a aula de desenho ter o início formal a atividade já começa. Cada aluno que chega, senta, tira o lápis da mochila e se lança frenético ao papel. Os desenhos que são produzidos durante as aulas viram um fanzine (revista) no final de cada módulo do curso. É na Gibiteca, no curso de desenho de história em quadrinho, que os alunos têm o privilégio de ter aula

com um artista com a bagagem de José Aguiar. Ele publicou na França a série Ernie Adams, pela editora Paquet, que saiu em formato de livro, também chamado de álbum, em capa dura. Lá, ele viajou em turnê de autógrafos por três cidades da França. Aguiar participou do projeto Manticore, em São Paulo, em 98, onde foram publicadas dois números da revista. Seu último trabalho chamase ATO-5, revista independente que fez em parceria com André Diniz em 2009. Vencedor do 1º Concurso Internacional de Histórias em Quadrinhos promovido pelo Senac-SP com a história “Ponto Final”, que está no Folheteen publicado em 2007, esse também no formato álbum. Aguiar ainda tem publicado foto:www.universohq.com

D

entro de uma banca no centro de Curitiba, ao som da banda Calypso, um funcionário arruma algumas revistas numa prateleira. Um jovem entra e pergunta: “Oi, tem alguma revista em quadrinho daqui de Curitiba, ou de algum desenhista daqui?” O rapaz coça a cabeça, sua face tem a expressão de quem busca algo na memória e não encontra. Olha as prateleiras, mas parece não saber o que procura. Sem alternativa, grita em direção ao caixa: “Ô, têm revista em quadrinho daqui de Curitiba?”. Uma voz paira sob o ar: “Não sei, só tem o que tá aí”. Frustrado, o jovem passa a olhar as prateleiras por conta própria. Encontra revistas em quadrinhos dos selos americanos Marvel Comics, DC, alguma coisa da Panini, mas nada que seja produção nacional ou muito menos curitibana. O mais perto que chega disso são os gibis da Turma do Maurício de Sousa, na linha de quadrinho infantil.

André Aguiar autografa a obra Ernie AdamsMister Killer


Quadrinhofilia e A Revolta de Canudos, ambos no formato álbum. Em seu blog, José Aguiar sinaliza o que será publicado neste ano. O projeto Vigor Mortis Comics, aprovado na lei do Mecenato Municipal de Curitiba, vai dar continuidade em revista em quadrinho às histórias dos personagens da peça de teatro Graphic, escrita por Paulo Biscaia que está em cartaz em São Paulo, na qual Aguiar participa da produção gráfica. O quadrinho terá uma temática “altamente recomendada a leitores adultos”. Um dos alunos de Aguiar foi André Caliman, que hoje também é professor na Gibiteca e desenha para o mercado americano. Em Curitiba participou da publicação das revistas Avenida e Quadrinhópole. Há pouco mais de dois anos André fazia parte de uma rede social na internet voltada à quadrinistas. Lá disponibilizava seu portifólio. Pois bem, os americanos da editora Across The Pond gostaram do trabalho dele, entraram em contato e, desde então, Caliman desenha para eles. Os desenhos são escaneados e enviados por e-mail para os EUA. “Os originais estão todos comigo”, diz. Dia 21 de julho deste ano será a primeira vez que Caliman verá pessoalmente a cara dos patrões. Ele vai à San Diego Comic Con 2010, uma grande convenção da cultura

pop que envolve cinema, TV e, é claro, quadrinhos. Lá será feito o lançamento da revista Elf, que ele desenha há mais de dois anos, daqui do Brasil. ”Eles esperaram a feira para o lançamento, tem muitos números já prontos. Quando voltar, eu trago uma pra você ver”, promete.

as editoras não pegam um iniciante, vão pegar um cara que publicou lá fora ou um cara experiente. André Caliman

O mercado brasileiro de quadrinhos vive hoje um momento de transição. Ainda não há HQ’s (histórias em quadrinho) curitibanas nas bancas tradicionais. Nas comic shops, também não encontramos com a periodicidade dos mercados desenvolvidos como EUA, Japão e França. Mas existe um movimento da entrada das editoras de livros no mercado dos quadrinhos que está mudando este cenário. “Hoje estamos vivendo um momento importante no Brasil. A entrada da Cia das Letras foi importante para o mercado”, conta José Aguiar. O também ilustrador ressalta que a entrada dessa grande editora acabou trazendo outras editoras de livros para o mercado dos quadrinhos. Tão nítido quanto o sotaque de um curitibano é a lacuna que existe na produção de quadrinhos da cidade. Mesmo sendo berço de

artistas de renome, tendo acervo e espaço para aglutinar pensadores do mundo dos gibis de dar inveja ao resto do país, ainda falta algo: Um selo (um exemplo de selo é a Marvel Comics), uma editora, que coloque os artistas regionais para circular nas bancas de revista. A entrada das editoras de livro no mercado de HQ é interessante, mas não é tudo. Como conta André Caliman, “as editoras não pegam um iniciante, vão pegar um cara que publicou lá fora ou um cara experiente”. As editoras comprar o direito autoral do artista, publicam e vendem o resto da vida. “A revista é paga por página”, complementa Caliman. Sem contar que as editoras só vendem nas livrarias, não vendem nas bancas, o que segmenta e elitiza o acesso aos produtos. Outro fator que Caliman salienta é a estrutura da história. “Na revista Avenida, por exemplo temos três personagens, estruturamos a história para que ela tenha uma continuidade, tenha um clímax, sempre deixamos algo no ar, para ficar a expectativa para a história seguinte. Já no formato álbum isso tem de ser feito de forma diferente”. André é paulistano, radicado em Curitiba, ele participa da cooperativa de quadrinistas Quarto Mundo, selo independente ganhador de prêmio HQMIX. A produção de quadrinhos da capital paranaense dos últimos anos pode ser facilmente encontrada na Gibiteca de Curitiba, no Solar do Barão, ou na Itiban, rara comic shop da cidade. Aos que buscam a produção mais recente o endereço é o mesmo, a Gibiteca, mas nesse caso deve contar com a sorte de encontrar um fanzine esquecido por algum aluno. Já para os empresários e ganhadores da loteria fica a dica: Curitiba Comics o selo de HQ’s que a cidade precisa. GIBITECA DE CURITIBA R. Carlos Cavalcanti, nº 533 (41) 3321-3250

gibiteca@curitiba.org.br ITIBAN COMICS SHOP Av. Silva Jardim, n° 845 (41) 3232-5367

itiban@netpar.com.br


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