Ressignificando a Memória

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ressignificando a

memória um estudo teórico sobre a reconversão de usos do patrimônio



Universidade Federal de Santa Catarina Departamente de Arquitetura e Urbanismo Introdução ao Trabalho de Conclusão de Curso Orientadora Karine Daufenbach Aluna Monique Vale Szpoganicz Julho 2018



SUMÁRIO 01.

Introdução

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Memória

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03.

Ressignificação

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04.

Indústria sustentável

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05.

Estudo de caso

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06.

Objeto de estudo

A. Histórico B. Complexo C. Situação atual D. Inserção

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07.

Conclusão

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08.

Bibliografia

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a. Tate Modern B. RAW - Gelände


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1. introduçÃo Identidade: Conjunto de características que distinguem uma pessoa ou uma coisa e por meio das quais é possível individualizá-la. Um dos efeitos mais marcantes da globalização presente no século 21 é a crise de identidade das cidades. O respeito pelo contexto, o apreço pela cultura e pelo entorno são cada vez mais ignorados quando a identidade importada é sinônimo de avanço. Na arquitetura essas questões são traduzidas em cidades replicadas e cada vez mais padronizadas. Os edifícios pós-modernos lotam avenidas comerciais negando sua relação com a rua, e ainda mais nocivo quando são construídos no local de exemplares arquitetônicos da história local. A memória da cidade se torna um entrave no crescimento ou, pelo menos, é o que uma grande parcela da população pensa. Visto que muitas das memórias da cidade atualmente já não comportam mais seus usos originais, essas tem que ser repensadas de maneira a não se tornar um entrave ao crescimento local. O sentimento de pertencimento da população é mais eficiente em sua preservação do que qualquer lei ou intento governamental. Mas como lidar com esses patrimônios históricos e sua inserção? Dentre as diversas correntes que lidam com esses elementos, algumas defendem o restauro e o preservacionismo intangível como se qualquer alteração proposta ao edifício descaracteriza-se sua intenção original. Outra corrente é aquela que admite que seu propósito inicial foi cumprido, mas que esse pode ser ressignificado em um novo propósito, um que o insira novamente na dinâmica econômica. A ressignificação, no entanto, tem de preservar suas características principais demonstrando uma preocupação em preservar a memória que o fez ser valioso em primeiro lugar. A globalização e a modernização geram um segundo efeito a ser discutido. Devido ao avanço das importações e dos meios de produção muitas empresas foram tornando-se obsoletas deixando para trás enormes parques fabris antes necessários. A insustentabilidade de se demolir esses locais, aliado com o fato de que são exemplares da memória local - principalmente daqueles que a frequentaram - os torna objetos dignos de reconversão. A inversão de valores, o local de trabalho agora vira local de memória, lazer ou até mesmo moradia. O trabalho pretende utilizar desses conceitos e situações, aliadas aos exemplos apresentados para dar início à uma discussão sobre o que poderia vir a acontecer com a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. A fábrica que decretou falência em 2013 tem um parque fabril de aproximadamente 2 milhões de m2, além disso a qualidade arquitetônica e sua inserção urbana a tornam presente no ideário da população de Brusque, cidade onde localiza-se.

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2. memória

“A arquitetura é o único meio de que dispomos para conservar vivo um laço com um passado ao qual devemos a nossa identidade e que é constitutivo do nosso ser” - John Ruskin

A relação da humanidade com seu passado foi vista de diversas formas ao longo do tempo. O homem da Idade média nunca encara o passado como morto, então não o considera um aprendizado. O homem moderno, no entanto, muitas vezes o nega em benefício da inovação. A cultura japonesa tem talvez a mais impressionante das relações, na qual eles reproduzem o passado em seus mesmos moldes repetidas vezes para que permaneça sempre atual, os templos xintoístas 1 por exemplo, são reconstruídos em intervalos regulares de tempo aderindo estritamente ao projeto original. Mesmo inconscientemente o ser humano preserva e aprende com o passado desde o começo dos tempos, no entanto, a preocupação formal de cuidar de sua história é extremamente atual. Quando falamos sobre arquitetura, por exemplo, vemos no mundo exemplares de edifícios e obras milenares que resistiram aos efeitos do tempo e, por isso, são dignos de um cuidado especial, mas e aqueles não milenares? Como encarar seu valor de preservação? Até o ano de 1789 - ano do primeiro ato jurídico que trazia a noção do termo patrimônio - a preservação de monumentos era feita sem um critério específico, sem um órgão ou lei que o validasse, os excepcionais sobressaiam e eram dignos de serem mantidos. A partir de 1960 é que ampliou-se a noção e, difundiu-se então a ideia de que não somente os extraordinários fossem preservados, mas também aqueles que fossem portadores de algum significado cultural para as gerações porvir, definidos assim por patrimônio histórico. Segundo o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão criado em 1937, patrimônio histórico seria: “O conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. A regulamentação deste bem não é necessariamente eficiente na preservação de uma obra, a memorabilidade é muitas vezes mais inconsciente e implícita do que uma lei ou um padrão poderia regular. O patrimônio histórico é a memória de determinadas sociedades e localidades em que se inserem, por conseguinte é o que delimita parte de sua identidade. 1

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Crença religiosa originada no Japão.


Quando pesquisamos o significado de memória, inúmeros são os resultados que aparecem. Cada campo de conhecimento se apropria de um deles, no entanto a proposta permanece similar em todos, ou seja, o ato de rememorar um fato passado seja ele por pura nostalgia ou por aprendizado. A importância dessa lembrança é difundida desde os primórdios das civilizações. Na Grécia Antiga, por exemplo, as deusas Mnémosine e Clio, pregavam o não esquecimento do passado para a partir dele criar-se um presente e futuro melhores. Ambas as deusas possuem filosofias que muito podem ser empregadas na questão da preservação não só da memória em si, mas como também na preservação dos monumentos que a ela remete. Ao empregar estas filosofias em patrimônios memoráveis tem-se exemplos como: ao adentrar os muros de Auschwitz, principal marco do Holocausto, a guia fala a seguinte frase “Lembrar o passado para não repetir no futuro”, A frase impacta na impossibilidade de tal coisa ser repetir, entretanto é válido o impacto. A memória física, arquitetônica, de tamanha crueldade nos ensina muito sobre uma história que, se apenas contada, nos parece inacreditável. A lembrança neste cenário se torna aprendizado, um aprendizado de certa forma chocante, mas ainda assim demasiadamente válido.

Auschwitz

Sesc Pompéia

fonte: Arquivo pessoal

No entanto, não só de histórias trágicas esse aprendizado é pertinente. Quando tomamos uma empresa, uma antiga fábrica de tambores, marco de uma geração de trabalhadores que por ali passaram dia após dia, e que hoje é completamente ressignificada e reconhecida como SESC Pompéia, a atração não é só de moradores curiosos e antigos trabalhadores tomados por nostalgia, mas também inúmeros turistas. Estes visitantes compreendem a história do local através das estruturas mantidas e das relações constantemente rememoradas, entretanto vêem sua adaptabilidade para uma rotina artística e cultural contemporânea em um projeto que prevê o futuro sem, todavia, ignorar o passado. Observamos aqui dois exemplos em que a história faz parte de um presente e futuro melhores, uma estagnada e mantida como um objeto a ser observado e o outro completamente integrado em um novo cotidiano.

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O contrário também acontece, isto é, muitas memórias são apagadas ou demolidas de forma a preservar uma história que convém. Exemplos disso são quando governos destroem obras das administrações anteriores em razão de perpetuar somente o seu modo de governar. Não somente por querer escapar a essa história mas também vontade de aperfeiçoar. Edificações históricas são substituídas por aquelas mais novas, mais modernas. O significado repassado é outro, mais efêmero, não carregado de memórias e ensinamentos passados. Quando observamos uma edificação digna de ser perpetuada, analisamos seu valor de preservação em três possíveis extensões: tipológica, cronológica e geográfica. A primeira diz respeito ao objeto arquitetônico em si, ou seja, sua forma, materialidade e tudo que diz respeito ao seu constituinte e a forma que esse afeta o seu entorno. A extensão cronológica nos faz pensar que porque uma obra resistiu à passagem do tempo, essa é digna de preservação. Sem desmerecer sua longevidade, mas a questão cronológica além da quantidade de anos deve ser tomada por ser marco de uma época específica ou de um período marcante, e não somente por possuir idade avançada. Por fim, a questão geográfica traz a localização ou o contexto que o objeto está inserido, fazendo parte de uma complexidade maior que si. Ao observarmos a memória que uma edificação traz imbuída em sua história, esta é muitas vezes mais eficiente na sua preservação do que uma lei. O sentimento de pertencimento de uma população torna o cuidado com a obra mais intenso e mais necessário. Preservar um edifício ou conjunto de edificações é preservar a identidade de uma cidade, o que a fez o que é atualmente. Exemplo disso é que muito das arquiteturas que se mantém nas cidades não são necessariamente grandiosas ou com um valor arquitetônico intrínseco, mas sim aquelas que contam a história do local ou fizeram parte do dia-a-dia dos cidadãos. Françoise Choay em seu livro a Alegoria do Patrimônio afirma que

Em seu livro Design para um mundo complexo, Rafael Cardoso traz a opinião de que a memória sempre é filtrada, quer dizer, “cada um extrai do passado aquilo que considera importante, ou relevante, e o assimila àquilo que considera ser sua identidade no presente” (CARDOSO, 2016), e ainda, quando define identidade o autor traz “eu sou o que sou, porque fui o que fui” (CARDOSO, 2016). Quando comparamos as opiniões de Cardoso com a noção de que a cidade é a costura de memórias vemos que a cidade é conformada por esse filtrado, onde as edificações dignas de serem mantidas em seu presente são aquelas que possuem um significado para sua história e também, para sua identidade atual. Ao debatermos a questão da preservação dessa identidade por meio desses patrimônios edificados vamos de encontro à crescente onda de modernização e de valorização imobiliária dos locais onde estes se encontram. A falta de incentivo fiscal ou até mesmo de um retorno financeiro por parte desses órgão públicos aos donos das propriedades de interesse acaba gerando um descaso com a questão. Em muitos locais em que esse monumento é efetivamente tombado, mas o proprietário não tem a renda ou a vontade de mantê-lo acaba reduzindo a memória ao fragmento do que um dia foi, entregue aos efeitos do tempo. Como reverter então o quadro apresentado? Como garantir a preservação da memória e, ao mesmo tempo, prever um retorno à seus mantenedores?

“A preservação dos monumentos antigos é antes de tudo uma mentalidade”, (CHOAY, 2006) ou seja, reconhecer seu valor e reconhecer ser digno de ser perpetuado é algo que, quando imposto não tem o mesmo efeito e poder do que aquele identificado como tal. Não só a arquitetura mas também os costumes e crenças de um povo criam a chamada memória coletiva, ou seja, a memória de um determinado grupo, e uma cidade nada mais é do que a costura dessas memórias.

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Figura acima: Villa Alma, casa de Guilherme Renaux, construída em 1920 e demolida em 2016. A valorização de sua localização fez com que o casarão fosse demolido para dar lugar à um galpão. Fonte: Brusque Memória.

Figura abaixo: Villa Quisisana, casa da família Pastor, construída nos anos 1930. A casa permanece em pé, entretanto a falta de incentivos faz com que a preservação seja prejudicada. Fonte: Brusque Memória.

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3. ressignificação

A tecnologia da informação e a agilidade nas comunicações tornam o mundo cada vez mais globalizado e unificado, o que faz com que o indivíduo do século XXI não compreenda exatamente o que é sua identidade própria e o que é fruto dessa universalização. Arquiteturas são importadas e reproduzidas em um ambiente diferente do para qual foram projetadas. Imagens de obras do outro lado do mundo são apresentadas com tamanha tridimensionalidade que a apropriação se torna inconsciente. Então o que, no mundo atual, ainda diferencia as cidades? Cada local possui sua conformação própria, sua história de formação e que o fez ser o que é hoje em dia, no entanto se nenhum resquício da mesma for mantido, o indivíduo não consegue reconhecer sua própria trajetória. A cultura da modernidade cada vez mais vem dizimando o que resta de memória,

e substituindo pelo novo, sinônimo de avanço e de desenvolvimento. O antigo cada vez mais se torna obsoleto e um empecilho no crescimento das cidades, ignorando com isso o pensamento de Rafael Cardoso citado no capítulo anterior:

“eu sou o que sou, porque fui o que fui”. (CARDOSO, 2016)

Nesse trabalho o ponto abordado é a cidade complexa, a cidade que traz sua história (ou parte dela) em suas ruas e em seu cotidiano. A simbiose entre o novo e o antigo, edifícios modernos ladeiam aqueles com história por vezes centenárias, entretanto, sem ignorar que muitos desses edifícios abrigaram usos hoje em dia obsoletos e que precisam alterar sua dinâmica sem perder de vista sua memória.

“Dito desse modo, a cidade constitui cenário complexo e por isso mesmo, rico de possibilidades. Por um lado a sociedade modifica-se, novos fins surgem, novas necessidades aparecem, os costumes e hábitos transformam-se. Por outro lado, há todo um conhecimento acumulado e experiências vividas materializadas no conjunto dos edifícios, dos espaços; são memórias da cidade”. (DALMOLIN, 2015)

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O desafio atual daqueles defensores do preservacionismo é o de dar a esses edifícios obsoletos usos atuais que consigam se apropriar de sua totalidade sem descaracterizá-los inteiramente. A reutilização do mesmo tem de ser pautada em um uso que não seja subtraído ao de um museu ou um objeto de apreciação estática, e sim, de total integração com o cotidiano. Destinado à vida econômica, beneficiando-se simbolicamente de seu status patrimonial mas sem subordinar-se a ele. Viollet-le-Duc, arquiteto francês do século XIX, defendia que “o melhor meio de conservar um edifício é o de lhe encontrar um emprego”, aqueles deixados meramente à apreciação intangível logo são acometidos pelo poder do tempo e da degradação. Aqui debatemos sobre aquele tipo de patrimônio muitas vezes não reconhecido por lei como tal, o patrimônio da memória, reconhecido assim pela história que traz e pela população que o possui. Esse patrimônio por não abrigar uma lei que o defenda acaba sendo demolido ou utilizado impropriamente, como lojas de departamento que se utilizam de uma “casca” histórica mas que em seu interior o transformam em mais uma de suas filiais, sem respeito pela conformação inicial. Quando se fala sobre a intervenção nesse tipo de edificação a professora Beatriz Mugayar Kuhl traduz sua opinião na seguinte frase: “É ato de respeito pelo passado, interpretado no presente e voltado para o futuro, para que os bens culturais possam continuar a ser efetivos e fidedignos suportes da memória coletiva” (KUHL, 2016). O que é dito com a frase é que qualquer intervenção deve ser demarcada, qualquer modificação deve mostrar a época em que foi feita e não querer ser parte de um restauro ou de uma inserção anacrônica. É imprescindível separar dois grupos de conservação. O primeiro são os edifícios tombados por lei em que se qualquer tipo de intervenção além da museal for imposta a eles viria a prejudicar sua integridade, estes devem ser mantidos como tal. Sua preservação deve ser nos moldes de um objeto de arte em que ele torna-se monumento, digno da apreciação passiva. Esse grupo, o dos edifícios tombados em uma conservação intransigente Choay caracteriza como a “cidade maquiada e posta em cena” “paramentada para fins de embelezamento e midiáticos” (CHOAY, 2006), que vem de contraponto da que se pretende abordar nesse trabalho. Voltando a discussão deste segundo grupo, do grupo proposto à uma utilização e intervenção contemporânea em si, Choay ainda defende que estes se beneficiem da sua história para servir de palco para acontecimentos. Dentre os inúmeros bons exemplos que vemos atualmente de edificações antigas que se propõem a novos usos encontramos desde famosos como o caso do Conjunto KKK no estado de São Paulo, até aqueles que a inserção foi despropositada e orgânica como a antiga estação de trem RAW em Berlin que atualmente abriga os mais variados usos das culturas alternativas. Ambos os projetos trazem uma releitura para esses espaços de uma forma que contradiz seu propósito inicial, o que no mundo onde vivemos é de vital importância. fonte: BILD

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A reconversão, isto é, o ato de alterar uma estrutura pré-existente com o intuito de adaptálas à novos usos, vem sendo empregado em muitos edifícios sejam eles tombados ou não de forma a responder aquelas perguntas que encerraram o capítulo anterior. Quando damos à um edifício um emprego e o introduzimos no cotidiano da atualidade ele volta a ser rentável aos seu proprietários, quem dera até lucrativo. O caráter histórico e a qualidade arquitetônica que muitas dessas edificações possuem são chamarizes para os comerciantes e, consequentemente, para o público que usufrui. Em Glasgow, na Escócia, uma antiga igreja foi transformada em um pub com sua atmosfera recriada mas mantendo suas principais características. A improbabilidade dessa total mudança de valores faz com que muitas pessoas tenham a curiosidade de adentrar esse antigo local religioso, e com isso a história arquitetônica se torna impulsionadora do novo uso. A dinâmica é retomada e a arquitetura a ser percorrida e então volta a fazer parte da identidade da cidade, não sendo relegada à um empecilho para o crescimento de seu entorno. Em Londres, na Inglaterra, uma antiga fábrica de sapatos no bairro Hackney abriga atualmente uma pluralidade de usos. Uma pequena fábrica divide corredor com uma moradia e ambas convivem em harmonia em duas das inúmeras divisões que a enorme fábrica permite. O local que poderia ser subjugado à mais uma fábrica abandonada foi ressignificado e transformado nesse espaço multi usos. As fábricas são talvez um dos casos mais problemáticos de reutilização visto seu tamanho e o crescente número de indústrias sendo sucateadas. Encontrar emprego para as edificações obsoletas em razão de reaproveita-las é uma forma mais sustentável de encarar a modernidade.

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4. INDÚSTRIA SUSTENTÁVEL O debate sobre a sustentabilidade cresce diariamente em todo o mundo principalmente pelo fato de que os modos de vida moderno são extremamente prejudiciais para o meio ambiente. Na construção civil e na arquitetura a discussão não é diferente, cada vez mais políticas que tornam o ato de construir mais limpo são implantadas, leis que taxam aqueles que emitem gás carbônico em excesso, e com sorte, incentivos são dados aqueles que reutilizam materiais e eventualmente edificações. Outro fato em crescimento atualmente é a constante modernização dos meios de produção, o que faz com que grandes indústrias tenham seus parques fabris reduzidos quando não sucateados. Unindo o incentivo a se utilizar edificações abandonadas com a gradativa sobra de galpões industriais têm-se uma nova perspectiva acerca desses locais que seriam problemáticos para as cidades. Os galpões foram originados em uma época que as fábricas vieram para substituir a manufatura e, com isso, gerar a industrialização de cada lugar. Esta deu-se em diferentes tempos e de diferentes formas em cada país, entretanto uma visível mudança na dinâmica das cidades é percebida após a inserção das indústrias. Com o advento do pré-fabricado muitos tipos construtivos foram exportados, portanto - em conjunto com a dinâmica - as arquiteturas viram em si novas fases: novos materiais, novas técnicas e os mais variados tipos arquitetônicos foram inseridos em cidades que nunca os haviam visto. Grandiosas construções de alvenaria de tijolos, ferro e mais recentemente de concreto armado se posicionam nas cidades para abrigar essa nova atividade. Criando centralidades, vias e fluxos mesmo naquelas mais consolidadas. Contudo, existem ainda aquelas que se conformaram devido à industrialização e não o contrário. Na região em que iremos discutir, o Vale do Itajaí, vemos um tipo de colonização de exploração, na qual os exploradores que chegavam pelo mar e adentravam seus rios formavam pequenas colônias onde retiravam madeira e outros elementos de interesse. Após a fase inicial de exploração, algumas famílias estabeleceram-se na região recebendo uma porção de terra para cultivar a agricultura, mas em alguns locais essa atividade não era suficiente para a economia tornando a indústria o real impulsionador de seu crescimento. As indústrias alcançaram seu auge na região no final do século XIX e início do século XX, quando os “senhores de indústria” incitaram ali os mais diversos investimentos. As indústrias têxteis dominaram Brusque e Blumenau e a metalúrgica em Joinville, por exemplo, durante muitos anos perpetuaram e direcionaram o crescimento. Entretanto, a modernização e o avanço nas importações desvalorizaram muito o produto nacional até o ponto que este não se tornou mais competitivo, levando cada vez mais indústrias à falência.

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Um exemplo seria no ano de 2011, a crise do algodão, levou empresas como a fábrica de tecidos Renaux e a indústria de tecidos Schlösser a endividarem-se e, sem conseguir recuperar-se, à decretar auto-falência. Ambas as empresas situadas na cidade de Brusque deixaram para trás parques fabris que contavam com galpões, chaminés, casarões e escritórios de enorme qualidade construtiva mas que foram entregues aos efeitos do tempo perdendo seu resplendor e valor memorial. Apesar de aqui ele estar sendo situado como algo local esse efeito é propagado ao redor do mundo em maior e menor escala. Um estudo de caso poderia ser feito em Berlin, onde não só a modernização mas também a guerra deixou para trás muitas arquiteturas que não necessariamente tem valor de preservação mas que são parte dessa memória, como as antigas indústrias. Em uma reportagem para o site Cardigan Row, a designer Anahit Petrosyan diz:

“Não são apenas momentos bonitos que fazem história. A história tem lados não atraentes, e a arquitetura reflete isso. Uma cidade que destrói partes de seu passado que se acredita serem menos glamorosas e só mantém o belo está roubando de sua própria história. Berlim como cidade aceita todas as suas narrativas, e se esforça para levar para o futuro, a fim de preservar sua integridade histórica e cultural”.

(PETROSYAN, 2016)

Muro de Berlin

fonte: Arquivo pessoal

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É possível perceber que os efeitos da modernidade tem influência não só no modo de vida das cidades mas também de sua conformação arquitetônica. A globalização e o avanço em importações e tecnologias são efeitos quase impossíveis de se combater, então cada vez mais esse cenário do abandono será visto nas cidades industrializadas. Com essa nova onda e também com o pensamento acima citado, que mesmo essas arquiteturas sem um valor arquitetônico aparente são sim parte da história e da identidade de um povo, surgiu uma nova linha de estudo: a do patrimônio industrial. Esse novo campo abrange todos os bens móveis ou imóveis que dizem respeito ao método produtivo que ali antes era empregado, desde edificações, paisagens, sítios, documentos, arquivos fotográfico, entre outros. As indústrias deixam para trás um parque fabril pouco sustentável, sua demolição gera além do custo uma sobra de materiais inviável para o meio ambiente. A reciclagem, ou reconversão como foi nomeado no capítulo anterior, utiliza dessas construções aparentemente sóbrias e sem vida mas que, são facilmente adaptáveis às novas normas e novos usos. Logo, essas edificações que na teoria já teriam cumprido seu ciclo evolutivo deixam de ser apenas testemunhas invisíveis para fazer parte de um novo cotidiano. Há uma inversão de funções: o lugar de trabalho se torna lugar de memória. Contudo, é necessário o cuidado para que isso não se torne uma paisagem do abandono, tomada apenas pela nostalgia de antigos trabalhadores.

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Essa preocupação com o legado industrial foi impulsionada nos anos 1960 pela destruição de edifícios significativos em Londres - berço da Revolução Industrial, que fez com que o campo da arqueologia industrial, ou seja a pesquisa relacionada à preservação industrial, fosse difundido. A pesquisa não se baseia somente no legado físico, mas também na relação deixada por ele, as relações políticas, econômicas e culturais vinculadas. A partir disso estuda-se também a forma de intervir nesse meio, visto que muito raramente ele é proposto a ser apenas um monumento estático. A restauração aqui é feita por meio de uma apreensão de seu passado histórico que é então reproduzida em seu futuro para que este mantenha o caráter de memória. A preocupação com a sustentabilidade, com a identidade e com a memória de cada local é combinada na questão da preservação e da reconversão. Esse bem inerte, deixado para as gerações posteriores de forma a repassar sua história, cria em si uma nova história. Ambos os tempos são fundidos, cada qual com suas propriedades, mantendo sua memorabilidade. As indústrias, tema a ser abordado com mais propriedade nesse trabalho, foram por muito tempo um entrave à modernidade, ponto conflitante visto que, em algum ponto da história elas foram sinônimo do novo. Esses parques fabris tomados pelo abandono e aparentemente sem vida são cada vez mais repensados e refeitos utilizando muito do que já possuem, inclusive - e talvez principalmente - sua história.


ã

uç r t s con

ed

sh o p i ot

concreto armado

deira

ma piso de

galpão industrial do que restou da Fábrica de Tecidos Renaux.

fonte: Arquivo pessoal

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5. ESTUDO DE CASO

A questão da indústria e de seus remanescentes pós a vida útil fabril é quase sempre encarado como algo que atravanca o crescimento e a modernização das cidades, mas e quando ao invés disso ele for encarado como espaço útil para seu impulsionamento? Nos capítulos anteriores debatemos sobre esses espaço de memória e nostalgia e como eles podem ser ressignificados e reinseridos na dinâmica econômica e no cotidiano das cidades em que estão presentes. Essa mudança pode ser tanto por parte de uma entidade maior, com capitais e passível de investimentos em projeto e novas inserções, como pode ser não intencional, ou seja, fruto de uma utilização espontânea por parte da população. Esses são apenas dois exemplos de como isso pode acontecer que serão abordados, no entanto, o crescente número de edificações inutilizadas faz com que a gama de reconversões seja ampla. Seja por sustentabilidade, seja por preservar a história, ou ainda meramente por ver ali um elemento lucrativo, a preservação trabalha para a pluralidade da cidade. Pluralidade de tempos, de estilos arquitetônicos e de história. Uma antiga estação ferroviária abriga uma pluralidade de novos usos assim como uma antiga usina elétrica traz as mais diversas culturas para dentro de si.

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TATE MODERN

fonte: ARCHDAILY

RAW - GELÄNDE

fonte: jungerius flickr

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tate modern

A antiga estação de energia Bankside, em Londres, deu lugar à um dos maiores museus de arte moderna do Reino Unido. O projeto originalmente desenhado pelo Sir Gilbert Scott começou a ser construído em 1947 e finalizado integralmente em 1963. A usina parou suas atividade em 1981 e correu o risco de ser demolida por vários anos. Foi em 1994 que a Tate Gallery anunciou que faria do local o novo Tate Modern. Através de uma competição internacional os arquitetos Jacque Herzog e Pierre Meuron foram anunciados vencedores do projeto para o novo museu. A execução que iniciou em 1995 foi concluída em janeiro de 2000. Grande parte da estrutura inicial permaneceu, sendo uma das alterações principais a criação de dois andares envidraçados na parte superior da edificação. A chaminé de 99 metros de altura foi mantida e chama atenção de quem circula as redondezas. A localização privilegiada do outro lado do rio da Catedral de St. Pauls faz da antiga usina uma escolha acertada para a inserção de um museu, além de suas divisões (ou falta de) que torna a reconversão em galeria facilitada.

“Os arquitetos suíços Herzog & de Meuron abordaram a conversão com gestos relativamente leves, criando um espaço público contemporâneo sem diminuir a presença histórica da edificação. O ícone cultural impressionante tornou-se, desde então, o museu de arte moderna mais visitado no mundo, revitalizando a área industrial, antigamente isolada”. (JONES, 2016)

A preocupação em se preservar a história original é traduzida em várias partes do projeto. O contraste de materialidades é demarcado para mostrar as épocas de suas inserções, o vidro, por exemplo, contrasta com a alvenaria escura demonstrando dois tipos diferentes. A ressignificação traz um novo propósito para a sala de turbinas, esta agora vira uma praça aberta permitindo a passagem e a permanência. Em todos os detalhes projetuais, partes da arquitetura existente são pensadas em conjunto com inserções contemporâneas. Seus usos iniciais são traduzidos na arquitetura industrial mas sua adaptação a torna uma galeria de arte inovadora. Nesse projeto a reconversão é pensada e projetada de forma a abrigar um uso cultural de demasiada importância não só para a cidade, mas também para o país. Um prédio de grande escala urbana é repensado ao invés de demolido.

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fonte: archdaily

fonte: archdaily

fonte: dailyexpress


RAW -Gelände 21

Fundada em Berlim em 1867 como uma estação de trens, a RAW (Reichsbahn-Ausbesserungs-Werk), permaneceu em operação em sua função inicial até 1994. Em 1999, a utilização formal deu vez à apropriação espontânea. Os primeiros usuários arrendaram o local por três anos, mas permaneceram por muito mais tempo, dando origem ao que hoje é em dia é um local com uma diversidade de usos, visitantes e culturas. As paredes cobertas de grafite e a atmosfera de abandono faz o clima perfeito para os clubes, bares, pista de skate, e até mesmo para uma piscina gigante. Um bunker virou parede de escalada e os espaços abertos variam entre cinemas ao ar livre e um mercado de pulgas nos finais de semana.

“Ao longo dos anos, surgiu um nicho na cidade cada vez mais densa, um lugar experimental de subculturas e estilos de vida não padronizados. Lar de grupos de circo e teatro, estúdios e galerias, oficinas de artesanato e associações políticas, praticantes de escalada e de skate, duas escolas de artes marciais e meia dúzia de clubes. Ao todo, 80 projetos socioculturais serão acomodados no RAW”. (MÜNSTERMUNN, 2018) O local não se utilizou de um grande projeto, pelo contrário, deixou seu espaço aberto e suas estruturas existentes para a utilização de quem visse ali esse potencial. Atualmente o local atrai não somente os moradores berlinenses mas também os turistas que visitam a cidade em busca dessa mistura que o local traduz integralmente. A reconversão fez manter a história de um local e ressignificou-o. Apesar de a escala e as grandes estruturas remeterem ao seu uso ferroviário original, ele foi repensado de forma à atrair os pedestres ao invés de repelir. Seus usos atraem os mais diversos grupos de pessoas fazendo com que ele seja utilizado em todos os momentos do dia e da semana, dando ao local uma vida que se fosse deixado em ruínas ou museificada provavelmente não o teria. A estação desativada mostra que a reconversão pode ser simples apesar de o local ser grande. O sentimento de pertencimento e a vontade da população auxilia para que seja bem sucedido.


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fonte: haubentaucher

fonte: berlijn

fonte: berlijn


6. objeto de estudo

Fรกbrica de Tecidos Carlos Renaux


Após a discussão anterior sobre a indústria obsoleta e a ressignificação desses espaços em novos e mais adequados ao mundo do século XXI, o tema será abordado em um objeto, ou mais especificamente em uma fábrica. A Fábrica de Tecidos Renaux, FATRE como também é conhecida, está localizada no município de Brusque no leste de Santa Catarina. A qualidade arquitetônica do complexo, sua inserção em uma avenida conectiva e sua história que faz parte da identidade de muitos dos habitantes a faz parte do patrimônio histórico da cidade, mesmo que não seja oficialmente reconhecido como tal. A fábrica que decretou falência no ano de 2013 deixa um complexo digno de ser preservado para que continue perpetuando a memória e incitando a curiosidade daqueles que por ali transitam. O complexo localiza-se na Avenida Primeiro de Maio, 5 kilômetros do centro da cidade. A avenida conecta-se com os municípios vizinhos de Nova Trento e São João Batista e é a principal ligação com a capital do estado, Florianópolis. Pelo local passa uma vertente do rio Itajaí-Mirim que já serviu de força impulsionadora para sua fundação.

Santa catarina sem escala

N

BRUSQUE sem escala

Fábrica de Tecidos Carlos Renaux N

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histórico A partir do ano de 1860 começou a colonização do médio vale do rio Itajaí-Mirim, quando imigrantes alemães, acompanhados pelo Barão von Schneeburg, começaram suas atividades rurais na margem direita, o que veio a ser batizado de “Colônia Itajahy”. No entanto, foi somente em 1881 que o município foi instituído e em 1890 recebeu o atual nome de Brusque, em homenagem ao presidente da província Dr. Francisco Carlos de Araújo Brusque. A conformação urbana da colônia começou por dois eixos: a atual “rua das Carreiras” ou rua Hercílio Luz, que segue paralela ao curso d’água e, também, a rua Conselheiro Rui Barbosa que faz a ligação com o morro da igreja Matriz. Logo, os lotes coloniais foram divididos e se davam conforme a separação de sesmarias, paralelos uns aos outros e perpendiculares aos cursos d’água se dirigindo ao fundo de vale. Em termos conectivos, uma das principais preocupações de seu primeiro governante, o Barão von Schneeburg, era a de criar uma ligação com o porto de Itajaí para escoar a produção madeireira que havia inicialmente na colônia. Com isso, o primeiro esboço do que viria a ser a Avenida Antônio Heil foi traçado retirando a dependência do transporte exclusivamente fluvial. A segunda ligação foi com a capital da província, Desterro, criando a rua dos Pomeranos (atual avenida Primeiro de Maio)

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que virá a ser de grande importância para este trabalho. Os primeiros anos do município foram marcados principalmente pela agricultura de subsistência, sendo poucos os habitantes que conseguiriam gerar excedentes para a comercialização. O comércio culminaria então em quatro grandes “vendas”: Krieger, Buettner, Bauer e Renaux, sendo que esses comerciantes, como veremos posteriormente, foram influenciadores diretos no princípio da industrialização brusquense. As primeiras porções de terra distribuídas foram para os imigrantes alemães, primeiros a chegar no que era então Villa de Itajahy, deixando para os imigrantes posteriores - vindos nos anos 1890 - terras montanhosas e impróprias para o plantio. Dentre os imigrantes posteriores estavam os poloneses vindos da região de Lodz, que viram na adversidade uma oportunidade de manter sua tradição têxtil trazida de seu país natal.

“Os “tecelões de Lodz”, como são rememorados localmente os artesãos poloneses, foram os responsáveis pelo treinamento inicial da mão de obra em Brusque, orientada, até então, para o trabalho na lavoura”. (RENAUX,2010)


Rio Itajaí - Mirim

N

mapa demarcação de lotes 1890 sem escala fonte: Sala brusque virtual

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Segundo Maria Luiza Renaux 2 , esses imigrantes poloneses procuraram um comerciante que dispusesse de crédito e iniciativa para importar teares e dar início a uma indústria. Uniram-se, então, a Carlos Renaux, comerciante que começava a sobressair na época devido à sua maneira fora do convencional de fazer negócios. Carlos Renaux, alemão nascido em Baden, emigrou para o Brasil em 1882, encontrando em Brusque seu assentamento final. Com o dote que recebeu de seu casamento abriu sua primeira “venda” localizada na atual Av. Cônsul Carlos Renaux, nomeada posteriormente em sua homenagem. Renaux ficava inicialmente atrás de vendeiros tradicionais da região, mas por empregar princípios comerciais até então desconhecidos, como a troca de mercadorias por dinheiro, conseguiu um crescimento significativo de seu negócio. Cerca de 10 anos depois que Carlos Renaux emigrou para o Brasil já havia adquirido capital suficiente para, junto com os imigrantes poloneses anteriormente mencionados, abrir a primeira indústria têxtil da cidade de Brusque: a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. Abrindo assim as portas para uma nova dinâmica econômica.

“(…) fundadores das primeiras fábricas do Vale do Itajaí. Foram eles que direcionaram a acumulação de capital previamente existente e oriunda da lavoura e do comércio para novos investimentos, representados, na região, pela indústria têxtil”. (RENAUX,2010)

2 Maria 3 João

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Em 11 de março de 1892 instala-se a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. Empreendimento que começa nos fundos de sua venda, na rua principal, mas logo foi transferida para a antiga rua dos Pomeranos onde aproveitava uma fonte de água próxima para o movimento de suas turbinas. Como a fábrica nasceu em ano de recessão econômica e, também, de uma política que pouco ajudava aos novos industriais, demorou algum tempo até conseguir se estabelecer de forma estável no mercado. Em 1900, Carlos Renaux decide abrir fiação própria para não ficar inteiramente dependente da importação de fios, iniciando assim a primeira instalada em Santa Catarina, a Fiação Carlos Renaux. Com isso, Brusque ganha fama notória de “Berço da Fiação Catarinense”, título que carrega até hoje. No entanto, mesmo com todo o investimento e a liberação da importação do fio, a empresa ainda carecia de capital de giro para se estabelecer no mercado. Segundo João Carlos Mosimann 3, após a chegada da energia elétrica em 1914 e com o fim da primeira guerra mundial, foi que a fábrica conseguiu impulso para a expansão e produção em larga escala. Porém, foi com a interrupção de importações causadas pela segunda guerra mundial que a fábrica conseguiu se sobressair e conquistar a fama mundial que veio a ter. Em seu auge a fábrica, que então possuía também fiação e beneficiamento, exportava para diversos outros países no mundo e dominava grande parte da produção nacional de tecidos. Por ter sido criada e desenvolvida quase em paralelo com a cidade de Brusque, a fábrica contou em seu princípio com mão-de-obra de imigrantes alemães que aqui viviam em sua maioria. E uma tradição até então mantida de contratar

Luiz Renaux, autora do livro Colonização e Indústria no Vale do Itajaí. Carlos Mosimann, autos do livro Tragédia e Mistério na Villa Renaux.


“Por parte dos dirigentes da fábrica de tecidos Carlos Renaux, houve sempre o cuidado de escalar mão de obra dentro dos limites do município de Brusque, onde moravam famílias “conhecidas””. (RENAUX,2010) Carlos Renaux em sua época foi um verdadeiro chefe para os operários, com uma hierarquia muito delimitada e respeitada. Em sua condição de patrão deu à fábrica diversas das características que a tornaram o que é. Criou as “Familienhaus”, residências próximas à fábrica para abrigo daqueles trabalhadores que não possuíam terras próprias. Cercou a o parque fabril de jardins, hortas e pastos que geravam produtos mais tarde distribuídos aos operários mediante a cobrança de um preço mínimo, através da Cooperativa Brusquense. Contudo, em 1918 viu-se a necessidade de transformar a empresa em uma sociedade anônima para evitar impostos de herança e, também, pela quantidade de herdeiros que desvalorizariam o patrimônio se recebessem partes iguais da propriedade. Este ano foi o marco da segunda etapa de administração da empresa, sendo presidida por Otto Renaux, filho de Carlos Renaux - o qual nesse período mudou-se para Europa tornando-se cônsul - e fazendo com que o antigo presidente fosse excluído de decisões posteriores. Essa mudança na administração foi conflituosa devido à diferença de pensamentos entre a nova e a antiga diretoria em respeito principalmente da criação de uma nova vertente da fábrica, a indústria Renaux. Com a saída do antigo presidente a indústria foi criada possibilitando a expansão em diferentes setores do ramo têxtil. Após a presidência de Otto Renaux, existiu ainda um terceiro presidente Carlos Cid Renaux que levou a empresa ao seu auge, mas culminando em sua autofalência em 2013 através da administração de seus herdeiros. A fábrica fechou suas portas devido aos altos impostos e elevados custos trabalhistas, não conseguindo se manter competitiva com a abertura do mercado para os produtos importados. Então, em 15 de julho de 2013 a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux encerra uma história centenária na cidade de Brusque. Seria impossível dissociar a história da cidade com a de toda a sua história têxtil. Após a conformação inicial de separação de lotes agrários, a cidade se conformou a partir das diferentes indústrias criadas: Buettner, Renaux, Schloesser, Souza Cruz. Analisando o mapa de 1959 observa-se que a malha urbana liga as fábricas, bem como as saídas da cidade, o que delimita o principal traçado da cidade até os dias atuais. Apesar de seu papel estruturador na cidade, atualmente três dessas empresas declararam falência deixando sua massa edificada entregue aos efeitos do tempo.

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mapa primeiras indústrias 1959 sem escala fonte: Sala brusque virtual

Indústria Buettner

Indústria Renaux Indústria de tecidos Schlösser

Souza Cruz S.A.

Fábrica de tecidos Carlos Renaux

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N


fรกbrica de tecidos carlos renaux 1930 fonte: brusque memรณria

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Complexo A massa edificada da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux não passa despercebida por quem percorre a avenida Primeiro de Maio. Marcada por uma arquitetura eclética com predominância de elementos do estilo Art Deco, a fábrica possui prédios grandiosos, uma chaminé de 48 metros de altura que sobressai o gabarito de seu entorno e alguns dos palacetes que restaram, estes últimos, residência dos presidentes e principais figuras da fábrica em seu tempo. Os galpões sobressaem-se não só pelo seu estilo singular e qualidade arquitetônica em um parque fabril, mas também pela preocupação contemporânea de fazer telhados tipo “shed” que utilizam muito mais da luz solar diminuindo os gastos com energia artificial. A fábrica era cercada de jardins, hortas e vegetação, ideais trazidos por Carlos Renaux de sua ascendência européia. E os diferentes galpões se espalham pela área e também pela cidade, sendo sua característica marcante não só a arquitetura mas também a cor.

“(…) pintada com tinta preparada à base de barro, da qual adquiria a cor alaranjada característica da fábrica”.

(RENAUX, 2010)

A cor alaranjada é perceptível até mesmo na antiga fiação, hoje pertencente à uma empresa metalúrgica, Fischer S.A., mas que preserva a coloração original em alguns de seus galpões. Os projetos feitos nos anos de 1930 são do arquiteto alemão Simão Gramlich, responsável

também por alguns projetos de demasiada importância na cidade, como o Santuário de Azambuja. Esse arquiteto foi responsável pelo projeto de alguns dos principais galpões que delimitaram o estilo a ser replicado nos que viriam posteriormente e que seriam executados por outros arquitetos. Mas, além dos galpões, outros elementos que tornam o parque único aos olhos da população são os casarões presentes em seu interior, que segundo o próprio Carlos Renaux:

“(…) esses palácios são o espelho de nossa sociedade. Eles pretendem à nossa representação, à nossa bem fundada sociedade anônima (…)”.

(MOSIMANN, 2006) Dentre eles, dois ainda remanescentes são ainda hoje palco de curiosidade e discussões na comunidade brusquense. A Villa |da, cenário de um crime que abalou a comunidade brusquense no ano de 1949, mistério que permanece até hoje sem resposta e que motiva livros e peças teatrais. E a Villa Goucky, que atualmente está em processo judicial para decidir sua propriedade. Ambas as casas possuem estes nomes devido à tradição de nomea-los Villas seguidos pelo nome das esposas da casa. Sabe-se de um segundo arquiteto alemão a projetar o parque fabril: Eugen Rombach veio ao Brasil nos anos 30 por convite do próprio Cônsul Carlos Renaux para projetar sua residência, a anteriormente mencionada Villa Goucky.

fundos do complexo 2017 fonte: arquivo pessoal

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fonte: brusque memória

Fábrica renaux 1930

33 fonte: brusque memória

Fábrica renaux 1930

fonte: brusque memória

Fábrica renaux nos primeiros anos do séc. XX


Villa ida.

construída em 1920. fonte: brusque memória

Villa Goucky.

construída em 1932. última residência de Carlos Renaux. fonte: brusque memória

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1860 Início da colonização do médio vale do rio Itajaí-Mirim liderados pelo Barão Von Schneeburg.

1881 “Colônia de Itajahy” é instituída como município.

1890 Vila recebe seu nome atual de Brusque, em homenagem ao presidente da província. Imigrantes poloneses chegam à vila.

1892 Instala-se a F;ábrica de Tecidos Carlos Renaux, com a associação dos imigrantes poloneses e o ventedeiro Carlos Renaux.

1900 Carlos Renaux decide abrir fiação própria para quebrar a dependência do fio importado.

1918 Empresa vira uma sociedade anônima sob a presidência de Otto Renaux, filho de Carlos Renaux.

1959 Malha urbana da cidade é composta de diversas indústrias que direcionam seu crescimento. Sendo elas Renaux, Schlösser, Buettner, Souza Cruz.

2013 A crise que vinha acometendo muitas das empresas leva a Fábrica de Tecidos Renaux à decretar auto-falência. Sendo seguida e precedida por outras das anteriormente citadas.

2017 Após anos sendo administrado pela massa falida, o parque fabril da Fábrica de Tecidos Renaux é vendido para Luciano Hang, proprietário das lojas Havan.

SITUAÇÃO ATUAL Recentemente, após anos sob a administração da massa falida e de disputas judiciais, as propriedades da antiga Fábrica de Tecidos Carlos Renaux foram vendidas para Luciano Hang, proprietário das lojas Havan. Hang pretende transformar o espaço, porém mantendo sua tradição. Segundo o projeto, o espaço se transformará no Centro Industrial Renaux CIR -, ou seja, os galpões serão locados para empresas de qualquer etapa do ramo têxtil, preservando seu uso original mas inserindo-o novamente na economia da cidade. O empresário já havia adquirido em 2016 outra fábrica de tecidos centenária, a Schlösser, transformada em uma faculdade. Os projetos de reforma e restauração dos galpões da Renaux já estão em andamento e espera-se conclusão das obras até o final do presente ano.

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Inserção

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O parque fabril da antiga Fábrica de Tecidos Carlos Renaux localiza-se na porção leste da cidade, na avenida Primeiro de Maio, bairro Primeiro de Maio. Afastado aproximadamente 5 km do centro da cidade, a área em que está situado é composta principalmente por residências e pequenos comércios. Há escolas e igreja nas proximidades, no entanto, não em seu entorno imediato. A avenida conecta o centro de Brusque com os municípios de Nova Trento e São João Batista, é de fluxo intenso, porém comporta com dificuldade o trânsito ao qual está sujeita. A fábrica é cercada por uma densa mata e é cortada por uma vertente do rio Itajaí-Mirim. Para que qualquer modificação ocorra na área deverá haver também uma remodelação urbana de fora a abrigar qualquer aumento no fluxo para a área. Dentre ss poucas linhas de ônibus que transitam na cidade, algumas contemplam a avenida. Uma ciclovia percorre quase toda sua totalidade dando à população mais um meio de percorre-la. Como visto anteriormente, Carlos Renaux instalou a empresa nessa localidade para aproveitar do rio para gerar eletricidade. Na época foi construída uma ferrovia que levava mercadorias entre o local e o centro da cidade, porém com sua demolição e a expansão da área sem planejamento a conexão ficou prejudicada. O complexo localizado na beira da avenida é visto por todos que por ali passa, e ainda, seus casarões despertam a curiosidade dos cidadãos. A vegetação que circundou a fábrica por muitos anos a proporcionava uma atmosfera que diferenciava de todas as outras existentes na cidade. Atualmente a fábrica passa por grandes reformas e boa parte de sua vegetação foi removida, mas as incríveis construções ecléticas e o mistério que envolve a sua casa central (Villa Ida) incitam visi-


mapa BRUSQUE SEM ESCALA

MAPA FÁBRICA RENAUX

N

ESCALA 1 100

N

Edificações fábrica

Villa Goucky

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centro administrativo

centro de eventos centro da cidade centro comercial I

Fรกbrica de Tecidos Carlos Renaux

mapa zonas centrais recorte centro - renaux 1 150

39


mapa usos recorte centro - renaux 1 150

Fábrica de Tecidos Carlos Renaux

LEGENDA área verde

eventos

praça

educação

esportivo

transporte

Saúde

administração

religioso

segurança

40


1.

Villa Ida

1 Chaminé

2.

2

3

Expedição

3. Expedição

mapa complexo principal sem escala fonte: google maps


4.

Fiação Sede

Setor de acabamento

Almoxarifado

Tinturaria fios

3 4

6.

7.

5 6 7

Oficina de manutenção

Vertente rio Itajaí - Mirim

5.


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1. cONCLUSÃO

A demolição não é a única solução para os edifícios obsoletos, tampouco a restauração é para os patrimônios históricos. A ressignificação debatida ao longo desse trabalho de conclusão de curso é a proposta para o objeto de estudo, a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. Transformar esse local que possui uma enorme massa edificada e fazer dele não só um testemunho de vários tempos, mas também de usos. Apesar de a especulação imobiliária e a impunidade imperarem na cidade de Brusque, onde patrimônios edificados são demolidos durante a madrugada para dar vez a galpões e prédios, uma parcela de sua história edificada ainda se mantém. A fábrica discutida é parte integrante da memória não só de todos os seus trabalhadores, como também de todos que passam pela avenida Primeiro de Maio em seu cotidiano. A arquitetura eclética imponente na beirada da rua já não comporta mais o fluxo que exige seu uso original sem uma reestruturação urbana, entretanto seu enorme parque fabril quando repensado poderia dar vez a inúmeros usos que a integrariam novamente com a cidade. Durante toda a discussão do semestre, o conceito de pluralidade sempre foi presente, um local se propor a um único grupo ou a uma única utilidade, especialmente quando falado sobre o remanescente de uma indústria de tal porte seria simplório. O novo projeto deve ser voltado a todos, o público e o privado devem entrar em comum acordo para que o espaço receba a dinâmica pensada. A pluralidade norteará a intervenção de forma que várias escalas de uso, de materialidades e de tempos farão parte do projeto. Como debatido em capítulos anteriores, as intervenções farão parte de sua época, e não tentar remeter ao que um dia foi. A próxima parte desse trabalho irá propor a reconversão dessa massa falida, levando em conta o projeto em andamento atualmente por parte de seu novo proprietário, porém adaptando-o de forma a preservar a memória e a identidade. A cidade complexa será pensada em uma escala de bairro, uma demonstração do que poderia vir a ser uma cidade que preserva sua história por meio de suas edificações mas sem deixá-las entregues à degradação.

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8. biliografia CHOAY, Françoise. A alegoria do Patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade, 2006. CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Ubu Editora, 2016. RENAUX, Maria Luiza. Colonização e indústria no Vale do Itajaí: O modelo catarinense de desenvolvimento. Florianópolis: Instituto Carl Hoepcke, 2010. CHOAY, Françoise. O patrimônio em questão: Antologia para um combate. Belo Horizonte: Fino Traço, 2011. MOSIMANN, João Carlos. Tragédia e Mistério na Villa Renaux. Florianópolis: Reimpressão, 2006. JONES, Rennie. Clássicos da Arquitetura: Museu Tate Modern / Herzog & de Meuron. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/795096/classicos-da-arquitetura-museu-tate-modernherzog-and-de-meuron>. Acesso em: 02 jul. 2018. MÜNSTERMANN, Marius. O que será do terreno RAW. Disponível em: <https://www.zitty.de/ weichenstellung-am-raw-gelaende/>. Acesso em: 02 jul. 2018. KÜHL, Beatriz Mugayar. Algumas questões relativas ao patrimônio industrial e à sua preservação. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/algumas_questoes_relativas_ao_patrimonio.pdf>. Acesso em: 03 jul. 2018. TICCIH. CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMÓNIO INDUSTRIAL. Disponível em: <http:// ticcih.org/wp-content/uploads/2013/04/NTagilPortuguese.pdf>. Acesso em: 03 jul. 2018. ARTEMEL, Aj. Como o escritório RAAAF está redefinindo a preservação do patrimônio histórico. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/804363/como-o-escritorio-raaaf-esta-redefinindo-a-preservacao-do-patrimonio-historico>. Acesso em: 03 jul. 2018. PETROSYAN, Anahit. Adaptative Reuse Keeps the Story of Berlin Alive. Disponível em: <http:// www.cardiganrow.com/urban/adaptive-reuse-keeps-story-berlin-alive>. Acesso em: 28 jun. 2018. GALRÃO, Inês Filipa das Neves. Diálogo entre memória e contemporaneidade. 2013. 1 v. Dissertação (Mestrado) - Curso de Estudos Arquitetônicos, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2013. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/358440221/DISSERTACAO-Dialogo-Entre-Memoria-e-Contemporaneidade-Uma-Proposta-de-Reconversao-Do-Convento-e-Fabrica-de-Sao-Paulo>. Acesso em: 28 jun. 2018. CAPUTE, Bernardo Nogueira. Sustentabilidade e patrimônio cultural urbano: indicadores. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/787693/sustentabilidade-e-patrimonio-cultural-urbano-indicadores-bernardo-nogueira-capute>. Acesso em: 28 jun. 2018. KÜHL, Betriz Mugayar. Patrimônio industrial: algumas questões em aberto. Disponível em: <http://www.usjt.br/arq.urb/numero_03/3arqurb3-beatriz.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2018. FERREIRA, Maria Leticia Mazzucchi. Patrimônio industrial: lugares de trabalho, lugares de memória. Disponível em: <http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/ article/viewFile/43/23>. Acesso em: 28 jun. 2018.

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“Quando construímos, pensamos que construímos para a eternidade, que não é somente pelo prazer do momento, nem somente para o uso imediato”. John Ruskin



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