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Formação

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Expressão da Fé

Expressão da Fé

A formação permanente de cristãos comprometidos

Minha memória traz presente, ao escrever este artigo, a palavra de um Professor Doutor em Teologia, o qual tive a honra de ser sua aluna no curso de Mestrado, em Ciências da Religião, que nos motivou a ler sobre os Padres do Deserto, os Padres da Igreja e, também, sobre a vida dos Santos. Dizia ele: “Aprender com os mestres da vida cristã nos torna melhores”. Lição que levei muito a sério e, desde então, leio de vez em quando sobre a vida ou ensinamentos de um deles: Santa

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Tereza D’Ávila, São João da Cruz, São Josemaria Escrivá, São Francisco de Assis, São Vicente

Pallotti... E muitos outros.

Diz a boa fama que a teoria faz o teólogo, mas é a prática quem faz o cristão!

“Aí onde estão nossos irmãos, os homens, aí onde estão as nossas aspirações, nosso trabalho, nossos amores – aí está o lugar do nosso encontro com Cristo!” (São Josemaria Escrivá).

Propondo-nos um caminho de unidade na diversidade – pelo sonho de unir todos a Cristo, o Movimento de Cursilho nos faz refletir, interroganos a todos e nos propõe a humildade, a santidade, o profetismo, o diálogo, a escuta, a oração, o amor fraterno, a amizade sincera, a familiaridade ao conteúdo divino da Palavra, da misericórdia, da bondade, da passividade... como vias seguras para chegar ao Coração do Altíssimo.

Quando buscamos nos lábios do “Mestre dos mestres” a fonte inspiradora do nosso jeito de viver (vida cristã), tal saber partilhado convida-nos a ouvir a voz do silêncio, a voz de Deus, voz que tudo sabe e que tudo ensina. Foi essa atenção ao mistério que levou aqueles que hoje são santos aos altares do Senhor, a ocupar tamanha honra e tamanha graça.

É muito comum a tentação de amar a prática e desprezar a teoria. O executar, o fazer nos traz um prazer imediato; o ato de gerir algo, de colocar, literalmente, a ‘mão na massa’ nos impele a ações nem sempre bem planejadas, coordenadas e eficazes, mas o ímpeto é grande. É assim, no nosso dia a dia, executamos centenas de funções, sem saber, muitas vezes, o básico sobre o que nos debruçamos. Exemplo clássico disso é a internet e seus recursos disponíveis, redes sociais e ambiente virtual. Não questionamos, não aprofundamos, não buscamos as entranhas da informação, mas vamos passando e repassando... Mesmo que tenhamos apenas um conhecimento superficial daquilo que falamos. A fácil disseminação da informação dá-nos a impressão de que já sabemos tudo. E assim, vamos, atabalhoadamente, percorrendo temas, conteúdos, informações, apenas com base na funcionalidade do recurso tecnológico.

Algumas características da pós-modernidade contribuem para nossa inquietação, busca sedenta do novo pelo novo. Geralmente, a teoria é algo enfadonho, cansativo, tornando a aprendizagem um grande desafio em todos os níveis de formação. Sentar e escutar alguém explanando sobre algo que, só no fim, apontará para uma ação

concreta, para muita gente, é difícil de engolir. Será que não trazemos conosco uma carga imensa da experiência de educação que recebemos desde a mais tenra idade? Sempre fomos levados a executar, nunca a pensar. Não nos sentamos em um jardim para apreciar e admirar a beleza e a diversidade de cores e formas das plantas, mas para arrancar, revirar a terra, enfim, fazer algo naquele espaço e não para comentar, observar a respeito dele. Assim foi com o andar, o falar, o comer...

Esse hábito trazemos conosco ainda hoje. Na verdade, teoria e prática são atos diferentes numa ação coordenada, eficaz e próspera, isto é, que gere frutos e frutos que permaneçam... Teoria e prática se completam numa formação continuada e permanente, para o desempenho sólido de uma formação consciente e eficiente, de excelência. Nossas ações devem ser pautadas por um exercício de observação, adequação e reflexão a cerca dos outros e da natureza, iluminadas pela fé que professamos, pela luz do Santo Evangelho de Cristo e, nesse processo, vamos progredindo, amadurecendo, partilhando, ensinando e aprendendo. Não podemos perder de vista que o processo de aprender é sempre um grande desafio, em qualquer tempo, em qualquer idade.

Formar não é colocar todos em uma forma, tudo igual; nossa Igreja Católica testemunha isso, pois ela sempre se preocupou com a formação de seu povo, mas sempre mencionou “unidade na diversidade”, por isso, acolhe uma diversidade de carismas e dons em Pastorais, Movimentos e serviços, deixando que todos sejam linhas, veias pulsantes em seu coração de Mãe e Mestra. Embora mantenha a unidade da fé, respeita a catolicidade do povo de Deus, que ela guia e orienta rumo ao Reino definitivo.

Uma verdadeira formação na fé implica, também, sair do automático. Ou seja, parar, pensar, refletir, aprofundar, dando um tempo para a maturação de tudo. Com o MCC não é diferente. Ele nasceu num clima de formação e sempre zelou, com muito esmero, da formação de seus seguidores. Começamos mal quando fazemos sem entender ou sem refletir sobre o que vamos executar.

Necessitamos reformular nossas práticas, continuamente: ver, rever, atualizar. E, assim, nos tornarmos aquilo que o Senhor nos pede, discípulos missionários seus e não apenas meros imitadores ou copistas, mas pessoas que, encontrando-se com Cristo, o conhecendo como ovelha que conhece O Pastor, possa apresentáLo aos demais. “Façamos conhecer Jesus Cris-

to, Ele não é amado porque não é conhecido”

(Santa Madalena de Canossa).

Lucília Alves Cunha

EVANGELISTA MARCOS

Na Igreja Católica, o ciclo litúrgico anual se divide em três momentos: ciclos A, B e C.

Assim, temos como método catequético que as leituras bíblicas, proclamadas na Liturgia Dominical, voltassem a ser lidas, novamente, após três anos.

Ciclo A. Lemos o Evangelho de Mateus;

Ciclo B. Lemos o Evangelho de Marcos;

Ciclo C. Lemos o Evangelho de Lucas.

O Evangelho de João é reservado para ocasiões especiais, principalmente festas e solenidades.

No ano de 2021, estamos no ciclo B, cujos textos do Evangelho são do Evangelista Marcos, figura bastante enigmática na literatura religiosa, é venerado como Santo em várias igrejas cristãs, entre elas a Igreja Católica, a Igreja Ortodoxa e a Igreja Copta, que é de origem grega, que considera Marcos como patriarca e primeiro Bispo de Alexandria.

Marcos não chegou a ser discípulo de Jesus, mas, segundo narrações tradicionais, em sua juventude teria ouvido falar ou, até mesmo, conhecido Jesus Cristo pessoalmente.

Alguns autores, principalmente na tradição da Igreja ortodoxa, afirmam que Marcos seria aquele rapaz, filho da viúva Maria, que coberto somente com um lençol, seguia Jesus depois da sua prisão no Jardim das Oliveiras (Mc 14,51-52).

Maria, a viúva mãe de Marcos, era a dona da casa onde Jesus se reuniu com seus discípulos para a celebração da Páscoa, na quinta-feira antes da sua paixão, morte e ressurreição.

Ali, também segundo tradição, Jesus teria ido, após sua ressurreição, quando o Espírito Santo pousou sobre os Apóstolos na Solenidade de Pentecostes dando, assim, início ao grande processo de evangelização da Igreja de Cristo nos primeiros séculos do Cristianismo.

Marcos, jovem de família judaica nobre, era da linhagem da tribo sacerdotal. Os descendentes dessa família eram responsáveis pela administração e ordem do templo em Jerusalém, função designada a um dos filhos de Jacó, Levi. Portanto, Marcos é de descendência levítica, primo de

Barnabé (Col 4,10), família de tradição religiosa Cristã, como encontramos narrado em At 12,12-17.

Como Marcos era de origem judaica, ele recebeu dois nomes, um hebreu (João) e outro romano-grego (Marcos). Isso era muito comum entre os hebreus e por essa razão, algumas vezes, encontramos o seu nome citado nas escrituras como João Marcos.

Marcos foi companheiro de evangelização de Paulo, tendo-o conhecido em Jerusalém, com o qual foi a Chipre e, depois, a Roma.

No ano 66, São Paulo escreveu a Timóteo, da prisão romana: “Procure Marcos e traga-o com você, porque ele pode ajudar-me no ministério” (2Tm 4,11).

Com o martírio de Paulo na capital do império, Marcos se coloca a serviço do Apóstolo Pedro, acompanhando-o em sua missão, tornando-se assim um verdadeiro discípulo daquele a quem Jesus tinha designado como responsável pela obra evangelizadora da Igreja nos primeiros séculos. Era uma espécie de escrivão de Pedro, deixando documentado tudo aquilo que Pedro dizia sobre o Mestre Jesus. Por isso, o Evangelho de Marcos tem como característica o anúncio querigmático, porque ele não escreve aquilo que ouviu de Jesus, mas sim tudo aquilo que o seu mestre Pedro dizia a respeito de Jesus, o anúncio do querigma.

Pedro citou várias vezes o nome de Marcos. Na sua primeira carta, por exemplo, lemos: ”A comunidade que vive em Babilônia (era muito comum entre os discípulos da Igreja dos primeiros séculos denominar Roma como Babilônia), escolhida como vocês, manda saudações. Marcos, meu filho, também” (1Pd 5,13). E ainda, nos Atos dos Apóstolos, após a libertação “milagrosa” de Pedro da prisão: “Pedro então refletiu e foi para a casa de Maria, mãe de João, também chamado de Marcos, onde muitos se haviam reunido para rezar” (At 12,12).

Por um determinado período, Pedro teve que se ausentar de Roma e, então, entregou a vigilância da jovem Igreja a seu discípulo Marcos. Atendendo aos pedidos dos primeiros cristãos de Roma, de deixar-lhes um documento escrito que contivesse tudo o que ouviram da doutrina, dos milagres e da morte de Jesus, São Marcos escreveu o Evangelho que recebeu seu nome, com a finalidade precisa de responder à pergunta: “Quem é Jesus?”.

Depois de ter passado alguns anos em Roma, São Marcos foi enviado pelo próprio Pedro para evangelizar Aquiléia, uma cidade romana de considerável tamanho no norte da Itália, com grande potencial econômico e comercial. Por isso, ali se encontravam pessoas de várias regiões como, por exemplo, Grécia, Síria, Egito, Judeus e Celtas, onde ele conseguiu formar uma forte comunidade Cristã.

Em seguida, foi enviado para evangelizar o Egito. Marcos desembarcou, a princípio, em Cirene, na Pentápolis, esteve na Líbia e em Tebaida e, finalmente, chegou em Alexandria, onde fixou residência permanecendo por 19 anos.

Depois de várias perseguições e dois anos ausente da cidade, ao retornar, foi perseguido pelos pagãos que estavam ressentidos com a propagação da religião Cristã.

Ao prendê-lo, colocaram uma corda em seu pescoço e o arrastaram pelas ruas da cidade por dois dias, até sua morte, segundo tradição.

Em 828 dC., relíquias que se acredita serem de São Marcos foram roubadas em Alexandria por dois mercantes venezianos e levadas para Veneza, para serem colocadas em um edifício construído para guardar as relíquias do Santo Evangelista.

Do evangelista Marcos podemos fazer a seguinte observação: ele apenas relata a prática

ou atividade de Jesus, fazendo compreender que Jesus é o Messias, o filho de Deus. Marcos deixa claro que sua obra não é completa e que o leitor, através de sua própria vida, torna-se discípulo de Jesus.

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