Revista Arquitetura e Aço - 22

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ARQUITETURA AÇO

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Uma publicação do Centro Brasileiro da Construção em Aço número 22 junho de 2010

Copa 2010



Arquitetura vitoriosa ESTÁDIOS, GRANDES PALCOS ESPORTIVOS do planeta, tornam-se o foco de todos os olhares durante a Copa do Mundo em um modelo arquitetônico atualizado: o de arenas multiuso. Amplas, seguras e aptas a receber multidões de torcedores durante as partidas de futebol, mas também de continuar servindo a sua comunidade em outras modalidades – como o rúgbi, no caso da África do Sul –, as arenas construídas ou reformadas para este torneio confirmam o uso do aço como uma tendência irrevogável para esta tipologia, nas palavras do arquiteto Robert Hormes, do GMP, a “catedral contemporânea”. Destacado nas imensas e engenhosas coberturas, o material viabilizou obras monumentais, realizadas em tempo recorde no país africano. Sua versatilidade permitiu com que adaptações reversíveis – como arquibancadas que devem ser desmontadas após o evento, sem custo ou impacto no edifício – fossem erguidas para a Copa do Mundo 2010. Elas são de baixo impacto ambiental, mas de alto impacto cultural, legando ao país belos edifícios que interagem positivamente com a paisagem. Para além das “catedrais”, o aço foi essencial para ampliações da infraestrutura – aeroportuária, comercial e turística. Ampliações estas necessárias para a realização do evento e que contribuem para o aprimoramento urbano do país. Nossa maior torcida é que desta Copa o Brasil traga não só o troféu, mas a lição da construção racional, limpa e voltada para as questões funda-

Marcus Bredt

mentais do país. E faça bonito também em 2014.

ARQUITETURA&AÇO

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Marcus Bredt

Arquitetura & Aรงo nยบ 22 junho 2010

sumรกrio Foto de capa: Estรกdio Moses Mabhida, Durban, ร frica do Sul

04.

14.

20.

24.

30.

34.


04. Coberturas monumentais e soluções versáteis que priorizam a segurança marcam o uso do aço nos estádios da Copa de 2010. 14. A grande demanda por voos e o curto espaço de tempo para as obras pautou a remodelação da estrutura aeroportuária sul-africana. 20. Em entrevista, Piet Boer fala de como o aço foi vital para a construção do Soccer City, arena-símbolo do evento internacional. 24. Tradição e modernidade foram aspectos valorizados na remodelação dos espaços comerciais do país-sede. 30. Robert Hormes, do GMP, conta porque o escritório alemão faz das arenas grandes obras de arquitetura contemporânea. 34. Matéria técnica mostra porque as vigas casteladas e celulares são ideais para o vencimento de grandes vãos.


Os craques

Bruce Sutherland

que ganharam a África

Vista aérea da Cidade do Cabo, na África do Sul. A Copa do Mundo impulsiona a revitalização da cidade, que tem no Estádio Green Point uma de suas maiores atrações para o evento


OS

ESTÁDIOS DA

EM

2006,

NA

COPA 2010 CONFIRMAM UMA TENDÊNCIA EVIDENCIADA ALEMANHA: O AÇO VEM SE IMPONDO COMO O MATERIAL MAIS

APROPRIADO PARA ATENDER ÀS ESPECIFICIDADES DA TIPOLOGIA

ARQUITETURA&AÇO

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Eneida Jardim

Silvia Scalzo

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DOS DEZ ESTÁDIOS que vão receber a Copa, os quatro apresen-

“Os canteiros eram grandes expe-

tados nessa edição mostram especialmente a capacidade do aço

riências de globalização”, diz a arquite-

para vencer grandes vãos e sua flexibilidade, que foi utilizada em

ta Miriam Sayeg, coordenadora de pro-

projetos que se adaptam às características climáticas e culturais

jetos no Brasil da Schlaich Bergermann

das regiões em que foram instalados. Além dos estádios novos, o

und Partner, empresa responsável

aço viabilizou o retrofit de estádios existentes como o Ellis Park e

pela engenharia estrutural de está-

o Loftus Versfeld que ganharam novas coberturas e tiveram arqui-

dios sul-africanos e alguns brasileiros

bancadas ampliadas.

que receberão a Copa de 2014. “Houve

Milhares de pessoas estiveram envolvidas na construção e

um salto qualitativo na mão-de-obra

reforma dessas arenas esportivas. Para que as exigências do cader-

da África do Sul. Como o material era

no de encargos da FIFA fossem cumpridas, a África do Sul teve de

pouco, era preciso usá-lo bem. Foram

treinar os trabalhadores – vindos de todas as partes do mundo – e

realizados inúmeros estudos de per-

capacitá-los de modo a se tornarem capazes de aplicar os avanços

formance das estruturas, que foram

ocorridos na construção de estádios.

criadas com as mais novas tecnologias

ARQUITETURA&AÇO


Na página ao lado, a fachada do Soccer City, com seus tradicionais tons de terracota. Nesta página, o interior do estádio em que se sobressaem a estrutura em aço que sustenta a fachada e seu encontro com as treliças metálicas da cobertura. No detalhe abaixo, os perfis leves de aço galvanizado onde estão fixados os painéis de fachada

disponíveis. Essa é uma lição que o Brasil deveria aprender [para a Copa de 2014]”, afirma. Uma das arenas sul-africanas mais importantes, na qual a tecnologia ajudou a expressar parte da cultura nacional é o Soccer City. Palco da primeira partida e da grande final do torneio, está localizado em Johannesburgo, capital da África do Sul. A construção do novo estádio começou em janeiro de 2007 e foi finalizada em março deste ano. “Foi um enorme desafio cuidar do projeto de um estádio tão intimamente ligado à África do Sul”, diz Piet Boer, arquiteto responsável pela reconstrução do Soccer City (leia

Silvia Scalzo

a entrevista na p. 20). O estádio recebeu o primeiro discurso de Nelson Mandela, ao sair da prisão, em 1990; e foi lá onde milhares de sul-africanos despediram-se de Chris Hani, ativista político assassinado que lutou contra o apartheid. ARQUITETURA&AÇO

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O novo Soccer City é uma tentativa de conciliação. O design do

a Cidade do Cabo foi escolhida para

estádio é inspirado na calabash, argila típica do continente africa-

receber o estádio Green Point, também

no. Foram usadas oito cores para que se recriassem as sombras e

projetado pelo GMP. A concha exter-

as texturas do barro. As perfurações na fachada – ora abertas, ora

na do estádio foi desenhada como

revestidas por vidro – criam dois efeitos distintos: para os especta-

uma estrutura cuja silhueta ondulan-

dores que assistem a um evento durante o dia, a luz natural entra

te dá movimento ao estádio e o liga

também por esses espaços, clareando os acessos às arquibanca-

ao seu entorno. A malha de fibra de

das. A impressão é inversa à noite: a luz dos refletores, colocados

vidro que percorre a estrutura produz

na extremidade da cobertura, vaza pelas aberturas e pela parte

uma fachada uniforme, um envelope

inferior do estádio (suas áreas de acesso), como se o pote de argila

que segue o contorno delineado. Essa

repousasse sobre uma fogueira acesa.

superfície translúcida absorve e refle-

A cobertura em aço levou apenas nove meses para ser montada

te a luz natural.

e é sustentada por uma enorme treliça em forma de anel, revestida

A estrutura da cobertura de 36 mil

em politetrafluoretileno (PTFE). O estádio, cuja área construída é de 62 mil m2, tem capacidade aproximada de 90 mil lugares.

m2 do Green Point é formada por um

Em Port Elizabeth foi erguido um estádio cujo nome já é uma

à roda de uma bicicleta – a combina-

homenagem à busca pela união do povo sul-africano. O Nelson

ção de uma cobertura suspensa com

Mandela Bay Stadium está localizado à margem do lago North End.

sistemas de treliças radiais. Todos os

Conhecida como “cidade do vento”, Port Elizabeth precisava

seus elementos são tensionados. O

de um estádio capaz de atenuar o impacto dos seus constantes

anel interno, que parece flutuar sobre

sistema de anéis e aros semelhante

e violentos ventos marítimos. O formato de “folha” da cobertura foi desenhado com esse propósito. As 36 treliças triangulares que compõem a estrutura da cobertura, de 3.500 toneladas, são revestidas por chapas metálicas perfuradas e membranas tensionadas. “Somente o aço, material leve e versátil, poderia ser empregado na confecção dessa cobertura, que foi pensada como um escudo para os espectadores”, diz Ralf Amann, do GMP Arquitetos, escritório que, ao lado da empresa sul-africana BKS, esteve encarregado do projeto do estádio, o qual poderá receber mais de 48 mil espectadores em suas duas filas de arquibancadas. O design do Nelson Mandela Bay Stadium levou em conta não apenas aspectos climáticos e técnicos, mas também fatores culturais. Na fachada, realizado por artesões locais, há um painel com 700 m de comprimento com elementos tradicionais e modernos da cultura africana. Também a revitalização da área urbana foi consiCopa. Os locais destinados à imprensa poderão ser convertidos em escritórios e áreas de lazer para a população. Uma área aberta nas imediações do estádio oferece recreação aquática. A expectativa é que o parque Príncipe Albert, onde o estádio está instalado, torne-se um dos destinos favoritos das excursões turísticas na África do Sul. Localizada também ao sul do país, a oeste de Port Elizabeth, 8

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Silvia Scalzo

derada: o estádio deve ser amplamente utilizado após as partidas da

Todos os guarda-corpos do estádio Nelson Mandela Bay são galvanizados e realizados em barras de aço de espessuras adequadas para alta resistência a impactos e deformações


dos cabos pré-manufaturados na Alemanha, ao anel externo, o qual, tensionado, tende a ser puxado para

Fotos Marcus Bredt

o gramado, prende-se, por meio

o centro do estádio. Um anel de compressão retrai essa segunda estrutura, dando a rigidez necessária para que a cobertura, revestida por uma membrana de vidro laminado e PVC, se debruce sobre parte da arquibancada e do gramado. Cada uma das treliças precisou de apenas um dia para ser montada. A cobertura ficou pronta em dez meses. “O uso do aço é uma consequência natural da tipologia dos estádios”,

Cobertura e arquibancadas do Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth. Os fortes ventos da região foram determinantes para a concepção da cobertura, sustentada por treliças triangulares. Acima, visão externa da proeminente cobertura do estádio, que está localizado às margens do lago North End

ARQUITETURA&AÇO

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Fotos Marcus Bredt

Ao lado e acima, o arco bifurcado do Moses Mabhida, composto de 56 seções de aço, alusão à bandeira da África do Sul

alguns assentos darão lugar a camarotes para os jogos de rúgbi que o estádio vai receber – garantindo, assim, a sua viabilidade econômica. diz Amann. “No caso do Green Point, ele era o material que se adaptava com maior precisão às exigências da sua cobertura.”

Localizado sobre uma plataforma, o estádio multifuncional Moses Mabhida

Foram utilizadas 7 mil toneladas de aço estrutural na cobertura

está acessível ao visitante na entrada

do Green Point. Na cobertura, o espaço entre o revestimento de

sul através de uma larga escadaria. É

vidro e a membrana comporta sistemas de alto-falantes e de ilumi-

lá que descem as duas pontas do arco

nação. Parte das arquibancadas são compostas de perfil galvanizado

de 340 m que atravessa toda a exten-

conformado a frio, sobre uma estrutura tubular. O material está pre-

são do estádio, referência à bandeira

sente também nos guarda-corpos feitos em aço galvanizado. Com

da África do Sul e à integração do seu

suas arquibancadas removíveis, o Moses Mabhida pode ter a sua

povo. Um teleférico na extremidade

capacidade de 70 mil assentos reduzida para 56 mil. Após a Copa,

norte leva-o à parte mais alta do arco,

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Fotos Silvia Scalzo

A manta em PTFE da cobertura filtra a luz solar e acompanha a fachada do estádio. A membrana permeável acompanha a estrutura externa do estádio. Ao lado as arquibancadas removíveis que permitem com que a capacidade do estádio seja reduzida de 70 mil assentos para 56 mil

de onde tem-se uma visão panorâmica do Oceano Índico e de Durban, cidade onde o Moses Mabhida foi construído. “A montagem do arco foi estudada passo a passo, em todas as suas eta-

o anel de compressão e o arco. Eles estão presos na extremidade

pas”, diz Miriam Sayeg.

interna da cobertura. A manta em PTFE da cobertura deixa passar

A geometria da cobertura foi deter-

metade da luz externa, protegendo os espectadores do ofuscamen-

minada pelo conceito arquitetônico

to. A membrana permeável da fachada acompanha os contornos

do estádio, desenvolvido pelo escritó-

do estádio e abriga do sol e do vento os espaços de circulação de

rio GMP. O arco possui 56 seções, com

pessoas no seu interior.

peso médio de 40 toneladas cada – ao

Participaram da construção do estádio sete grandes construto-

todo, a estrutura em aço da cobertura é feita de 5.500 toneladas. Uma série de

res e 30 empresas, entre as quais destacam-se a Group 5, WBHO e Pandev. Quase 94 mil m2 de lajes protendidas foram usadas, e 1.866

cabos radiais full lock foi fixada entre

estacas empregadas em suas fundações. (F.A.) M ARQUITETURA&AÇO

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NAS COBERTURAS O AÇO É PROTAGONISTA Se o aço é cada vez mais visível nos elementos dos novíssimos estádios de futebol, é nos enormes vãos de suas coberturas que a expressividade e a versatilidade do material são ainda mais patentes. Elas têm um papel fundamental da concepção estrutural ao resultado visual das arenas. A empresa alemã Schlaich Bergermann und Partner (SBP) projetou as coberturas do Soccer City, Port Elizabeth, Durban e Cidade do Cabo, e participará da modernização de alguns dos estádios brasileiros que receberão a Copa de 2014.

Marcus Bredt

Marcus Bredt

Eneida Jardim

Silvia Scalzo

Abaixo, detalhe das treliças de aço do Soccer City. No centro, a solução aerodinâmica do Mandela Bay, em Port Elizabeth, e destaque da cobertura do Moses Mabhida. Ao fundo, a cobertura do Green Point

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Arquitetura: HYPE STUDIO SANTINI & ROCHA ARQUITETOS

Aço CSN no Esporte

O CSN Steelcolors já está em campo, ou melhor, já está na fachada de uma das mais importantes arenas que receberá os jogos da Copa do Mundo de 2014, o Estádio Beira Rio. Este produto possui a mais moderna tecnologia em aços pré-pintados, proporcionando beleza, versatilidade, fácil manutenção e variedade de cores e formas para aplicações internas e externas. A CSN oferece soluções em aço para construção civil e para a preparação do Brasil para a Copa do Mundo, tratam-se de soluções que proporcionam velocidade construtiva, flexibilidade e sustentabilidade para obras de infraestrutura, construção e revitalização de estádios.

www.csnsteelcolors.com.br

(11) 3049-7355


Boas-vindas


POR

QUASE SEIS ANOS , O GOVERNO SUL - AFRICANO

Fotos Silvia Scalzo

INVESTIU EM MELHORIAS NO SEU SISTEMA AEROPORTUÁRIO . NOS AEROPORTOS DAS CIDADES DE JOHANNESBURGO E CIDADE DO CABO FORAM CONSTRUÍDOS NOVOS TERMINAIS DE PASSAGEIROS E D URBAN GANHOU UM AEROPORTO TOTALMENTE NOVO , TUDO PARA DAR A MELHOR RECEPÇÃO POSSÍVEL AOS TURISTAS DURANTE A C OPA DO M UNDO 2010

PARA RECEBER OS MILHARES DE TURISTAS e todas as equipes dos diversos países que disputam a Copa do Mundo de 2010, o governo da África do Sul investiu R$ 5,2 bilhões na revitalização de seus dois maiores aeroportos, Johannesburgo e Cidade do Cabo, e outros R$ 7,9 bilhões na construção do novo aeroporto de Durban. Só no aeroporto de Johannesburgo, o O. R. Tambo International Airport, principal porta de entrada para a Copa, foram investidos R$ 3,5 bilhões na sua ampliação. A maior inovação no terminal de passageiros do O. R. Tambo está no projeto de arquitetura, que inclui o uso de um átrio para combinar os quatro diferentes pisos, conectados por rampas, elevadores e escadas. A presença mais forte do aço está principalmente na área de embarque, marcada por colunas de aço. A fachada sul é em aço e painéis de vidro. Passarelas em steel deck oferecem acesso ao terminal. Já a fachada oeste é protegida por um teto abobadado. Com a ampliação, o O. R. Tambo International Airport passou a ocupar uma área de 17.730 m2, tendo sua capacidade aumentada de dois para 10 milhões de passageiros por ano. Seu terminal passou a oferecer uma ampla variedade de restaurantes e lojas, um shopping para passageiros internacionais, um centro de conferências e suporte para negócios, tecnologia wireless e um centro médico. Além disso, o novo terminal de passageiros recebeu, em 2008, um prêmio do Instituto do Aço da África do Sul, na categoria Projeto.

No aeroporto de Johannesburgo, o átrio integra visualmente os diversos setores do terminal de passageiros, interligados por rampas, elevadores e escadas, recebendo os turistas com conforto e modernidade. De cima para baixo: vista exterior da cobertura do átrio do aeroporto; o aço está presente nas fachadas e cobertura do estacionamento; passarelas metálicas do aeroporto e o aço inox reveste as colunas e é utilizado nos guarda-corpos


O consórcio de escritórios de arquitetura,, que inclui a Bentel

“Nosso desejo era construir um termi-

Associates International (BAI), Osmond Lange & Partners, Syakha

nal que fosse um marco na cidade, com

Architects e Shabangu Architects, assumiu o desafio da fase 1 e 2 da

uma imagem forte e uma identidade

ampliação, que continuaria com o tráfego na pista existente duran-

que remetesse ao ato de voar. Para isso,

te as obras. A solução foi usar estruturas em aço e bases de concreto,

desenhamos um telhado longo e curvo

reduzindo o impacto nos serviços.

em todo o hall de check-in, o coração

De acordo com a equipe da BAI, a premiação do Instituto veio

do aeroporto, que recebeu a forma de

reforçar o reconhecimento da excelência no uso da estrutura em

asa de avião." O resultado é um espaço

aço. “Os materiais e o partido arquitetônico foram cuidadosamente

em que o passageiro se ambienta e se

escolhidos seguindo requisitos de construtibilidade, segurança, pla-

movimenta com facilidade. O terminal

nejamento e logística, resultando em uma obra de alta qualidade.”

é dividido em setores, hall de entrada, térreo e quatro andares. “O passagei-

Aço e transparência

ro tem uma ampla visão da área de

O plano e o diagrama da ampliação do terminal de passageiros do

check-in, da área de segurança, das pis-

Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo precisavam ser extrema-

tas e da praça de alimentação, no piso

mente robustos e flexíveis para atender ao programa estabelecido

superior. Essa facilidade visual lhe dá a

pelo cliente e ao mesmo tempo antecipar necessidades de futuras

sensação de conforto e segurança. Esta

ampliações. O desafio foi assumido pelo arquiteto Jed Kritzinger,

transparência do partido arquitetôni-

CEO do Kritzinger and Partners, escritório responsável pelo projeto

co ainda oferece ao passageiro uma

do novo terminal de passageiros do aeroporto da Cidade do Cabo.

visão de 360° do entorno do aeroporto,

Fotos Silvia Scalzo

À direita, hall principal de check-in do terminal de passageiros do aeroporto da Cidade do Cabo: viga mestra em aço, apoiada em três colunas também de aço, proporciona um grande vão, além de suportar o teto em aço. No destaque abaixo, coluna em aço suporta as estruturas do telhado, de 22.420 m2, que receberam 1.360 t de aço

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ARQUITETURA&AÇO

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permitindo visualizar as belezas naturais da região, como a Table

de aço foram utilizadas na ampliação

Mountain”, destaca Kritzinger.

do terminal de passageiros.

Segundo o arquiteto, o aço foi o material escolhido para solucionar os desafios estruturais e acelerar a construção, com base em

Um novo aeroporto para Durban

um programa rigoroso, iniciado em junho de 2005 e finalizado em setembro de 2009. O hall principal do check-in tem 7.300 m2 e foi

King Shaka International Airport, o

construído com uma viga mestra suportada por três colunas, todas

funcionamento em 1° de maio de 2010,

em aço, e com um grande vão entre elas.

a poucos dias do início da Copa.

novo aeroporto de Durban, entrou em

As colunas e as estruturas horizontais em aço foram usadas

Três vezes maior que o Durban

como suporte para o envelope do terminal, suportando também

International Airport, tem capacida-

a fachada em vidro. Portais estruturados em aço e revestidos em

de para receber as maiores aeronaves

pedra compõem as entradas de embarque, no segundo piso, e de

da atualidade, como o airbus A380,

desembarque, no térreo.

e recepcionar 7,5 milhões de pas-

A cobertura do Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo tem 22.420 m2. Sua estrutura em aço pesa 1.360 toneladas. O forro do

sageiros por ano. O novo aeroporto

terminal também merece ser destacado. No total, 3.000 toneladas

tro de Durban e a 55 km distante do

Fotos divulgação

está situado a 35 km ao norte do cen-

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antigo aeroporto, que foi desativado para voos internacionais. O King Shaka International Airport faz parte do Dube TradePort, estruturado pelo governo para dar suporte de infraestrutura no desenvolvimento econômico e turístico da região de Durban. É composto por área aeroportuária, Zona de Comércio e Cyberport. O terminal de passageiros tem uma área de 103 mil m2, uma pista de taxiamento de 400 mil m2 e um estacionamento para 6.500 carros. No total, foram utilizadas 4.900 toneladas de aço – metade do que foi usado na construção da Torre Eiffel. O terminal de cargas tem 15.500 m2, com instalações de processamento de carga totalmente automatizadas para cerca de 100 mil toneladas por ano na primeira fase de desenvolvimento. Uma área de serviços com 12 hectares ao sul do terminal de pas-

À esquerda, entrada para o hall do King Shaka International Airport, inaugurado em 1º de maio de 2010. Acima, destaque para a coluna em aço que suporta a cobertura e, abaixo, vista aérea do aeroporto, que faz parte de um grande projeto de revitalização econômica de Durban

sageiros também foi incluída no projeto do King Shaka. Ela se destina a abrigar centros de conferências, hotéis e parques industriais para atender à Zona de Comércio. Tecnologia de ponta e critérios de eficiência energética foram utilizados para transformar o novo aeroporto de Durban em um dos mais modernos do mundo. Com projeto do escritório Osmond Lange Architects and Planners, o King Shaka segue o padrão internacional de Aeroshopping, e conta com 55 lojas. As áreas de chegada e partida são separadas das áreas de descanso, de forma a melhor entreter os passageiros enquanto esperam por seus voos. (D.P.) M

ARQUITETURA&AÇO

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Arquitetura da união

LOCALIZADO EM JOHANNESBURGO, O S OCCER C ITY É UMA DAS MAIS AVANÇADAS E IMPRESSIONANTES ARENAS ESPORTIVAS DA DO

SUL. A

ÁFRICA

TECNOLOGIA DE PONTA ,

ENCONTRADA DESDE A FACHADA ATÉ O GRAMADO , FAZ USO DE ELEMENTOS REGIONAIS PARA CRIAR A IDENTIDADE VISUAL ÚNICA DO ESTÁDIO . O S ARQUITETOS SUL -AFRICANOS PIET BOER E BOB VAN BEBBER SÃO OS RESPONSÁVEIS POR ESSE OUSADO PROJETO . A OS 33 ANOS, BOER É DIRETOR DO BOOGERTMAN URBAN EDGE AND PARTNERS, ESCRITÓRIO QUE TEM EM SEU PORTFÓLIO , ENTRE OUTRAS OBRAS , A T ORRE D OHA , NO C ATAR , E O CENTRO COMERCIAL M ELROSE ARCH – PREMIADO EM 2009 PELO INSTITUTO SUL-AFRICANO DA CONSTRUÇÃO EM AÇO (LEIA SOBRE O PROJETO NA PÁGINA 26)

NA ENTREVISTA A SEGUIR, Boer fala sobre as possibilidades construtivas viabilizadas pelo aço e sobre a influência que os elementos históricos e sociais da África do Sul tiveram na concepção do Soccer City. AA – Quais os maiores desafios que tiveram de ser superados na construção do Soccer City? Qual a importância do aço para que o projeto pudesse ser

Divulgação

finalizado no curto prazo estipulado? O arquiteto sul-africano Piet Boer, autor dos projetos do píer do Aeroporto Internacional de Johannesburgo e do centro comercial Melrose Arch, na mesma cidade. “O Soccer City é, de longe, o nosso maior e mais ambicioso projeto”, diz

PB – Um dos aspectos mais importantes do processo construtivo na África do Sul era o curto espaço de tempo de que dispúnhamos para trabalhar. Isto significa que tivemos de desenhar todos os aspectos do estádio enquanto ainda


o estávamos construindo. Isso implicava em tomar todas as decisões certas logo no início e amarrá-las ao design e conceitos gerais à medida que o projeto progredia. O uso do aço foi decisivo para a realização do conceito de argila africana. Ele era o único material que nos oferecia o desempenho exigido para vencer os vãos necessários e flexibilidade suficiente para dar a forma final do estádio. Nós tivemos ajuda extensiva na resolução do design por parte dos engenheiros da PD Naidoo & Associates (PDNA) e da Schlaich Bergermann und Partner (SBP), que eram parte integral do time de design do estádio.

tivesse também uma iluminação de dentro para fora, como uma grande luminária. Para isso, lâmpadas foram instaladas em sua estrutura, “perfurada” com esquadrias e chapas de aço. Qual será o efeito visual que isso terá para a cidade a partir da inauguração

Usar o aço é construir com extrema eficiência, o que possibilita o desempenho necessário em termos de design e construção

AA – O senhor queria que o Soccer City

do estádio? PB – Uma das características mais facilFotos Silvia Scalzo

mente reconhecíveis da calabash (técnica tradicional de cerâmica do país) é a ideia de que ela cria um padrão. Este padrão pode identificar culturas, contar histórias ou apenas estabelecer o contexto específico no qual a argila foi feita. Nós fazemos referência a essa ideia primeiramente ao introduzir uma gradação de cores sobre a fachada, gradação essa que se torna o padrão principal durante o dia. À noite, entretanto, isso se inverte, e as aberturas na fachada tornam-se o padrão, com as luzes internas acesas. Para conseguir o efeito aparentemente

No topo da página, a estrutura original foi pintada de cinza para diferenciá-la das novas estruturas. Acima, na entrada do estádio, um pórtico em aço dá a volta no estádio, onde temos os portões de entrada

ARQUITETURA&AÇO

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PB – O estádio tem uma memória rica e

volver uma estrutura de apoio que nos desse flexibilidade

colorida. Como você disse, ele foi palco

para ajustar essa padronização em todas as direções. Isso

de inúmeras partidas épicas e de even-

foi possível graças a uma grade de sustentação em aço, pré-

tos determinantes para a história de

-fabricada e montada no local antes da instalação no estádio.

nosso país. Foi uma honra para nós trabalhar num local tão importante, que

AA – O Soccer City é inspirado na calabash. Outro importante estádio

é parte inextrincável de nossa histó-

no país, o Mbombela, em Nelspruit, usa motivos também tipicamen-

ria. Nós celebramos o estádio original

te africanos – as estruturas em forma de girafa. Num momento em

criando um código de cores para todos

que as arenas esportivas no mundo estão ficando cada vez mais tec-

os elementos remanescentes que inte-

nológicas e sofisticadas, o senhor acredita que a arquitetura tem um

gram o novo estádio. A estrutura pré-

papel a desempenhar na expressão das características tradicionais

via a oeste foi pintada de cinza para

de um país ou uma região?

diferenciá-la das novas estruturas e

PB – O conceito inicial do Soccer City, a argila africana, foi escolhido

para mostrar a dimensão do que ficou

como elemento unificador em toda a África, um artigo reconhecível

para trás. Nós também incorporamos

a todas as culturas no continente. O design do estádio é essen-

a memória de Johannesburgo no uso

cialmente uma referência a isso. O ideal é que o estádio aja como

de cores na fachada e na cobertura,

elemento de união para as pessoas na África do Sul e estabeleça um

como uma ligação com a rica história

ícone com o qual todos possam se relacionar e aceitar como perten-

mineradora da cidade. Até o túnel dos

cente a eles próprios.

jogadores é uma referência aos poços de minas e à memória das pessoas que

AA – O aço pode ser um aliado importante para arquitetos preocupa-

construíram essa cidade. Ainda sobre

dos com a construção de arenas esportivas sustentáveis?

o conceito da argila africana: em nossa

PB – Sem dúvida. De início, o aço é completamente reciclável, o que

cultura, a caneca de cerveja é passada

permite que o impacto da estrutura sobre o ambiente seja reduzido

de mão em mão em uma roda de pes-

substancialmente. Ele também dá aos arquitetos a liberdade de

soas, para que todos bebam do mesmo

desenhar vãos gigantescos e contornos de formas variáveis com

recipiente. É uma descortesia baixar

as estruturas de apoio e o revestimento da edificação. Trata-se de

a caneca até que ela esteja vazia e

construir com extrema eficiência, o que possibilita o desempenho

todas as pessoas tenham bebido dela.

necessário em termos de design e construção.

O Soccer City carrega a mesma analogia. É a união de pessoas, um espaço

AA – Além das partidas decisivas que recebeu, o Soccer City está

onde povos e culturas podem se reunir

profundamente ligado à história da África do Sul. Foi lá, por exem-

e beber dos espetáculos e dos eventos

plo, que aconteceu o primeiro discurso de Nelson Mandela após sua

futebolísticos e das realizações de uma

libertação, em 1990. O senhor tentou de alguma forma preservar essa

nação. Ele é parte de nossa história e de

característica histórica na reformulação do estádio?

nosso futuro. (F.A.) M

22 ARQUITETURA&AÇO

Divulgação

aleatório das aberturas na fachada, nós tivemos de desen-


O aço Usiminas estará presente na Copa de 2014. Nos estádios e em qualquer outro projeto que precise de soluções completas em aço.

Uma equipe de profissionais jogando juntos para oferecer soluções completas e sob medida para construções em aço. É com esse time que a Usiminas está preparada para executar, do começo ao fim e em todas as etapas, os projetos que irão preparar o Brasil para a Copa de 2014. Unindo alta capacidade técnica e tecnologia de ponta, a Usiminas transforma cada obra em uma referência de agilidade, qualidade e sustentabilidade. Afinal, o aço Usiminas significa baixo desperdício, potencial de reciclabilidade acima de 90% e flexibilidade para se adaptar com facilidade a outros materiais, permitindo sua utilização no fechamento, cobertura e acabamento da obra. Usiminas. Fazendo a diferença nos estádios e onde quer que você precise.

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24 ARQUITETURA&AÇO


Estética e funcionalidade O

CONCEITO DE HOSPITALIDADE PASSA NECESSARIAMENTE

PELOS CENTROS COMERCIAIS E SHOPPING CENTERS DE UMA CIDADE OU PAÍS. NA ÁFRICA DO SUL O AÇO É UM DOS ELEMENTOS CONSTRUTIVOS MAIS UTILIZADOS NESTA TIPOLOGIA Fotos Boogertman+Partners

OS TURISTAS QUE DESEMBARCAREM na África do Sul para assistir aos jogos da Copa do Mundo 2010 se surpreenderão com a variedade de centros comerciais construídos nos últimos anos. A variedade impressiona pela preocupação estética e pela funcionalidade. De shopping centers tradicionais a centros comerciais de rua, com suas cores, sons e sabores, os sul-africanos investiram no que há de mais moderno nesta tipologia. E o aço, no país que está entre os maiores produtores do

O teto em geodésica do Melrose Arch, em Johannesburgo, revela a criatividade e beleza estética do uso do aço

mundo, não poderia se ausentar. A revista Arquitetura & Aço sele-

Wellington, usados durante a Segunda Guerra Mundial. O projeto

cionou três projetos que se destacam

recebeu em 2009 o prêmio do Instituto do Aço da África do Sul –

devido à qualidade estética no uso do

Southern African Institute of Steel Construction (SAISC) –, na cate-

aço, pelo partido arquitetônico e que

goria Estrutura Tubular

privilegiam o bem-estar das pessoas.

O Melrose Arch retoma o conceito de shoppings “high street”,

em Johannesburgo, é um excelente

isto é, uma galeria com ruas cobertas, permitindo a entrada de luz natural, e compreende mais de 60.000 m2 formados por lojas

exemplo do desempenho que a estru-

e escritórios.

O primeiro deles, o Melrose Arch,

tura tubular em aço tem, principal-

O telhado da Piazza Galleria, com cerca de 2.400 m2 e um vão de

mente quando utilizada com criativi-

17 m, foi concebido como uma pele de vidro triangular, apoiada em

dade e inovação. O design da cobertura

uma grade quadrada com as diagonais em tubos de aço soldados.

na nova Piazza Galleria é inspirado nas

A geometria final permitiu a modulação dos painéis de vidro e aço,

cúpulas geodésicas do teto da cabine

fundamental para que a equipe de arquitetos atendesse às rigoro-

dos bombardeiros ingleses Vickers

sas restrições de tempo e custo. ARQUITETURA&AÇO

25


Inicialmente, pensou-se em uma cobertura de vidro. A esco-

empresário sul-africano que começou

lha foi considerada pelos proprietários como algo muito comum.

a carreira em uma loja de departamen-

Os arquitetos responsáveis, reunidos no consórcio Boogertman +

tos no setor exclusivo para negros e um

Partners Architects (Pty), também autores do projeto do estádio

grande adversário do apartheid, que

Soccer City (ver matéria na página 20), decidiram então pela malha

se tornou realidade em setembro de

geodésica em estrutura tubular de aço e vidro. Apesar dos desafios

2007, após mais de duas décadas: criar

estruturais implicados nesta cobertura, como o escoamento da

o primeiro megashopping center para

água na cobertura de formato curvo, ela provou-se inovadora, fun-

a população de Soweto.

cional e de forte composição estética.

Localizado na Old Potchestroom

Para reforçar a concepção visual da geodésica, um tubo de diâ-

Road, principal rota para o subúrbio de

metro uniforme foi utilizado em diferentes espessuras nos elemen-

Kliptown, o Maponya Mall possui uma

tos estruturais de apoio. A equipe desenvolveu uma estrutura que

estética arquitetônica diferenciada dos

permitiu a pré-fabricação dos grandes segmentos do telhado, com

centros comerciais da África do Sul, e

conexões soldadas no local e aparafusadas.

seus elementos estruturais e decorativos incluem o uso intensivo do aço.

Shopping de classe mundial

O arquiteto Luis Araujo, do escri-

Outro projeto premiado pelo Instituto do Aço da África do Sul

tório Bentel Associates International

impressiona por suas linhas modernas. É o Maponya Mall, o pri-

(BAI), responsável pelo projeto do

meiro complexo comercial de classe mundial de Soweto, o bairro-

centro comercial, afirma que tanto os

-símbolo do apartheid de Johannesburgo.

designers quanto os desenvolvedores do projeto não mediram esforços para

Getty Images/Stephane de Sakutin

O Maponya Mall foi um sonho do visionário Richard Maponya,

26 ARQUITETURA&AÇO


Getty Images/Alexander Joe

dar a este empreendimento um alto padrão de qualidade. "O briefing para o projeto exigia um compromisso com a

À esquerda e acima, detalhes do Maponya Mall em Soweto: símbolo do apartheid ganha um democrático shopping center, cujos detalhes em aço mereceram premiação do Instituto do Aço da África do Sul. Abaixo, detalhe da ponte estaiada de Waterfront com a Tower Clock ao fundo

o que foi conseguido pela grande praça com iluminação natural que domina o programa arquitetônico. A equipe de profissionais criou um espaço central luminoso e arejado, com claraboias, janelas e coberturas curvas."

Charme portuário do V&A Waterfront Em 1652, um século e meio após a descoberta da Rota Marítima do Cabo, a Companhia Holandesa das Índias Orientais fundou uma estação de abastecimento, que mais tarde viria ser a Cidade do Cabo. E é na Cidade do Cabo, situado entre a Robben Island e a Table Mountain, no coração do porto, que está localizado o charmoso centro comercial Victoria & Alfred Waterfront, o destino turístico mais visitado da África do Sul,

Divulgacão V&A

criação de um senso de comunidade –


recheado de atrações como pubs, restaurantes, lojas especializadas,

moderna e com estrutura funcional”,

mercado de artesanato, teatros e cinemas.

observa Henry Fagan.

Nos últimos 140 anos, a arquitetura vitoriana industrial do porto

O elemento construtivo que mais

passou por diversas mudanças, principalmente nas três últimas déca-

se adequou aos requisitos descritos

das, e continua sendo revitalizada até hoje. Dois ícones que remon-

por Fagan foi o aço. “Apenas uma estru-

tam à construção das docas são a Clock Tower e a Time Ball Tower.

tura em aço poderia ser tão econômi-

Em estilo gótico vitoriano, a Clock Tower, concluída em 1882,

ca, permitir a execução em um espaço

tinha como função abrigar o escritório para o capitão do porto.

de tempo tão curto – foram apenas 15

Trata-se de um ícone das antigas docas e sua restauração termi-

meses – e ainda ser estruturalmente

nou no final de 1997. Já a Time Ball, criada pelo capitão Robert

tão efetiva, delicada e com apelo esté-

Wauchope e construída em 1984, é um tipo de farol que mostra o

tico. Ela é um excelente exemplo da

horário para os navios cronometrarem a entrada no porto.

versatilidade do aço”, completa. Por estar localizada à beira-mar,

estaiada de 34 metros de extensão para pedestres que liga o pré-

em uma atmosfera muito agressiva, a

dio Port Captain à Clock Tower e foi fabricada em quatro seções,

estrutura metálica da ponte recebeu

transportadas separadamente para a montagem no local. De acor-

proteção de duas camadas de primer

do com Henry Fagan, da Henry Fagan & Partners, escritório de

à base de zinco, uma camada interme-

engenharia civil e consultoria estrutural, o conceito principal era

diária de tinta epoxy e duas demãos

de que a ponte não deveria ser no estilo vitoriano, holandês ou

finais de poliuretano. A cor branca da

pós-modernista. “Percebemos que o design deveria usar como prin-

estrutura permite à ponte se “mistu-

cipais motivadores os princípios ambientais, e materiais e técni-

rar” ao ambiente náutico e receber os

cas construtivas modernas para dar forma à criação. Por sorte, o

turistas sem tirar o encanto vitoriano

cliente nos apoiou para que fizéssemos uma ponte despretensiosa,

do V&A Waterfront. (D.P.) M

Divulgacão V&A

O destaque no uso do aço no V&A Waterfront é a ponte móvel

O estilo vitoriano do V&A Waterfront, na Cidade do Cabo, atrai visitantes do mundo. A ponte de pedestres em aço se insere na paisagem sem ferir a estética arquitetônica do centro comercial

28 ARQUITETURA&AÇO


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beretta.com.br

A PROTEÇÃO MAIS EFICAZ PARA A COPA DE 2014

GALVANIZAÇÃO A FOGO!


Terry February

Catedrais do Futebol

RESPONSÁVEL PELO PROJETO DO ESTÁDIO GREEN POINT, NA CIDADE DO CABO, O ARQUITETO R OBERT H ORMES , DO ESCRITÓRIO VON G ERKAN , M ARG UND PARTNER ARCHITEKTEN (GMP), TEM À FRENTE UMA MISSÃO NÃO MENOS OUSADA: A REFORMA DOS ESTÁDIOS M ANÉ G ARRINCHA , EM B RASÍLIA , M INEIRÃO , EM B ELO HORIZONTE, E MORUMBI, O ENDEREÇO EM SÃO PAULO DA COPA DE 2014

NESTA ENTREVISTA, Hormes fala sobre o novo conceito de está-

empenharem nos preparativos para a

dios, a importância do aço para viabilizar as demandas das arenas

Copa, tenho certeza de que serão bem-

esportivas e os preparativos para a Copa do Mundo que será sedia-

-sucedidos. O entusiasmo pelo esporte

da pelo Brasil.

certamente vai ajudar.

AA – A FIFA tem expressado preocupação quanto à capacidade do

AA – Como o aço pode ajudar o Brasil a

Brasil de entregar os estádios a tempo para a Copa de 2014. Você com-

cumprir as exigências de um país-sede

partilha desse receio?

da Copa do Mundo?

RH – A Copa de 2014 será a minha terceira Copa do Mundo, e o cená-

RH – O tempo é essencial em cada pre-

rio aqui não é muito diferente da África do Sul ou da Alemanha.

paração para a Copa do Mundo, e o aço é

A preparação para uma Copa nunca é tranquila e nunca deve ser

um material fantástico para estruturas

subestimada. Começar o processo e mantê-lo em ordem é metade

muito eficientes. Elas podem ser pré-fa-

do caminho, e eu entendo perfeitamente a posição da FIFA em fazer

bricadas sob condições ideais num prazo

essa advertência no estágio inicial.

curto de montagem. A construção dos

Ninguém acreditava que a África do Sul fosse capaz de entre-

estádios da Copa do Mundo no Brasil

gar estádios tão fantásticos. Foi necessário um imenso esforço

não acontecerá, e certamente não será

conjunto para provar o contrário. Quando todos os brasileiros se

possível, sem o uso de estruturas de aço.

30 ARQUITETURA&AÇO


O aço não transforma o projeto; um projeto inteligente escolhe o material certo para sua aplicação certa. No caso dos estádios da Copa do Mundo, o aço foi de fato o material mais adequado

mas também requer novos materiais para que ele se torne realidade. O aço é um material de muita força e de enorme potencial, especialmente quando usado como um elemento estrutural sob tensão. Ele pode ser usado com grande precisão e manufaturado e montado por meio de diversos processos automatizados. Novas técnicas, usadas às vezes em ramos como a indústria automotiva, acabam por ajudar no desenvolvimento de novas formas e construções que não eram imagináveis antes. O ritmo de quatro anos de eventos como a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos requer um período muito curto de projeto, planejamento e construção para construções enormes – as quais precisam ser, também, únicas. Grandes estruturas de aço podem ser manufaturadas em partes e montadas in loco, com grande agilidade. A produção pode ser feita em um processo industrial controlado, longe das intempéries, com mecânica altamente especializada e precisão no processo. O modelamento tridimensional possibilita uma rápida

AA – Um dos traços mais visíveis dos

transição de um projeto complexo para o processo de fabricação.

recém-construídos estádios da África do Sul é a preocupação com o uso que

AA – Estádios como o Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, pare-

eles terão após a Copa. Você acredita

cem usar as condições climáticas adversas (no caso, os ventos fortes

que essa é uma tendência mundial? O

da região) em seu próprio benefício, criando estruturas visualmente

aço é um material importante quando

dinâmicas. Até que ponto as condições climáticas determinam o

se trata de construir arenas esportivas

aspecto visual dos estádios?

que sejam duradouras e versáteis?

RH – Em nossa filosofia de projeto, arquitetura é diálogo: diálogo

RH – Os estádios de hoje são frequente-

com o cliente, com a comunidade, com os investidores, com o tecido

mente chamados de catedrais do sécu-

urbano e a paisagem urbana, com a história e o futuro de um lugar.

lo 21. Isso significa que eles são mais

E, claro, diálogo com o clima. Nós tentamos trazer à tona todos os

do que lugares para eventos esporti-

fatores conjuntamente, analisá-los e encontrar uma solução com-

vos. Estádios são hoje polos sociais e

pleta e única para aquele contexto.

não têm apenas de suprir, de várias

Nessa abordagem, um estádio construído na tropical Durban e

formas, as necessidades específicas de

outro sob os ventos de Port Elizabeth não podem ter a mesma apa-

uma comunidade. Além disso, eles têm

rência. O clima é certamente um dos parâmetros mais caracterís-

de expressar a identidade, o espírito

ticos de uma localidade, e um projeto adaptado a essas condições

da comunidade.

certamente aumenta a unidade entre edificação e contexto. Isso

Enquanto as catedrais levaram décadas para serem construídas, a partir

não significa que o resultado é necessariamente dinâmico e sim único e apropriado.

de pedras, os estádios modernos são as catedrais de uma sociedade altamente

AA – Anéis de compressão foram usados nas coberturas dos está-

tecnológica e computadorizada, cons-

dios Green Point e Moses Mabhida, e o aço foi usado abundante-

truídos muito mais rapidamente.

mente em outros estádios da África do Sul. Como esse material está

O projeto, nesse ambiente, permite que novos caminhos sejam trilhados,

transformando o conceito arquitetônico de arenas esportivas ao redor do mundo? ARQUITETURA&AÇO

31


Silvia Scalzo

O cercamento do estádio Green Point, na Cidade do Cabo, foi feito em tela de aço galvanizado. Depois da Copa, uma das arquibancadas do anel em aço deve ser substituída por camarotes de partidas de rúgbi

inteligente escolhe o material certo para a sua aplicação certa. No caso dos estádios da Copa do Mundo, o aço foi de fato o material mais adequado. AA – O projeto do Green Point pretende melhorar não apenas o seu entorno,

mas a cidade de Cidade do cabo como

O tempo é essencial em cada preparação para a Copa do Mundo, e o aço é um material fantástico para estruturas muito eficientes. A construção dos estádios da Copa do Mundo no Brasil não será possível sem o uso de estruturas em aço

um todo. Quais responsabilidades sociais devem permear a concepção e a construção de um estádio? RH – Apenas pelo seu tamanho, a construção de um estádio já afeta um grande número de pessoas. Enormes quantias de dinheiro público são investidas em projetos de estádios, motivo suficiente para provocar uma discussão intensa sobre seus projetos e benefícios para toda a comunidade. A maior moti-

vação para sediar um evento como a RH – É obrigação do arquiteto criar projetos de forma inteligente

Copa do Mundo é a publicidade gerada

para que recursos sejam poupados e os materiais sejam utilizados

para uma cidade. O evento deve ter o

de forma mais eficiente possível. Cidade do Cabo e Durban, com

caráter específico da cidade-sede, fun-

capacidade para aproximadamente 70 mil espectadores, têm arqui-

cionar adequadamente e servir como

bancadas de até 70 m de profundidade. Uma estrutura em balanço

vitrine para a sua promoção. Isso torna

da cobertura, que deve estar sobre as arquibancadas, torna-se

o projeto especialmente difícil, já que

menos eficiente à medida que seu vão aumenta. A equipe da GMP,

todos os aspectos da comunidade que

juntamente com os nossos parceiros da Schlaich, Bergermann und

recebe o evento têm de ser contempla-

Partners-SBP (Stuttgart, Alemanha), buscou soluções que fizessem

dos e, tanto quanto possível, refletidos

uso do aço da forma mais inteligente possível, criando uma estru-

no projeto.

tura leve. O número de elementos sob compressão foi limitado ao

Temas atuais, como o uso racional

máximo, e tanto na Cidade do Cabo como em Durban esses ele-

de recursos, sustentabilidade ou efi-

mentos se agregam em um grande anel de compressão.

ciência energética precisam ser consi-

Lógica e funcionalidade são muito importantes para a nossa filo-

derados juntamente com o desejo de

sofia de projeto. Nós tentamos não lutar contra as leis da física ou os

um marco com alguma expressão sim-

requisitos estruturais, mas antes usar essas premissas para encon-

bólica. A pressão sobre os arquitetos é

trar novas formas. Estrutura e arquitetura fundem-se, e uma não

imensa, e ele é monitorado pelo públi-

pode existir sem a outra. O aço não transforma o projeto; um projeto

co durante todo o processo. (F.A.) M

32 ARQUITETURA&AÇO



Vigas casteladas e celulares

para vencer grandes vãos Por Fernando Ottoboni Pinho

AS VIGAS CASTELADAS (com aberturas em hexágonos) e celulares (com aberturas circulares), resultantes do desdobramento de perfis tipo I, têm como principal característica o aumento da resistência por meio do aumento da altura da viga original, sem alteração de seu peso. Essas vigas, utilizadas em pisos ou coberturas, permitem vencer grandes vãos com grande economia.

FABRICAÇÃO DAS VIGAS CASTELADAS E CELULARES Abaixo, o passo a passo do processo de produção desde o perfil original até a viga castelada ou celular montada.

Vigas casteladas – aberturas em hexágonos

Vigas celulares – aberturas em círculos

Corte d C do perfil fil em ziguezague i sem nenhuma h perda d d de material i l

Corte do perfil em círculos com uma pequena perda de material

Separação das partes

Separação das partes

Deslocamento alinhando as partes que serão soldadas

Deslocamento alinhando as partes que serão soldadas

Junção e solda de composição da viga castelada e acerto das extremidades

Junção e solda de composição da viga celular e acerto das extremidades

34 ARQUITETURA&AÇO


VANTAGENS E DESVANTAGENS

PRINCIPAIS APLICAÇÕES

As vantagens das vigas casteladas e celulares são quase sempre

As principais aplicações para as vigas

maiores do que as desvantagens, dentre as quais estão:

casteladas são situações com vãos grandes e cargas baixas, e ainda quan-

Vigas mais resistentes e menos sensíveis a deformações

do as aberturas são importantes para

As vigas casteladas e celulares formam vigas com uma altura até

estético para a obra. M

a passagem de dutos ou como partido

50% maior do que o perfil original. Uma viga mais alta significa um maior momento de inércia, podendo receber cargas maiores e/ou atingir maiores vãos livres, sem aumentar o peso da viga.

Vigas de coberturas e pisos para vencimento de grandes vãos

Vigas mais leves, reduzindo o peso médio das estruturas As vigas casteladas são sempre mais leves do que um perfil de alma cheia de mesma resistência, mas não se pode esquecer que existem os custos de corte e solda de composição, o que exigirá um tempo adicional de produção.

Maiores vãos livres, reduzindo o número pilares e fundações Outro aspecto para ser levado em consideração é que vãos maiores significam menos pilares e menos pontos de fundação.

Redução do espaço estrutural pela passagem de dutos nas aberturas As vigas casteladas e celulares, embora mais altas do que as vigas laminadas originais, possuem aberturas generosas na alma, que permitem a passagem da maior parte dos dutos de ar-condicio-

Vigas de piso de edifícios garagem e concessionárias

nado e tubulações, diferentemente das vigas de alma cheia, onde esses dutos e tubulações têm de passar abaixo das vigas.

Engenheiro Fernando Pinho, consultor do CBCA

ARQUITETURA&AÇO

35


expediente

NÚMEROS ANTERIORES: Os números anteriores da revista Arquitetura & Aço estão disponíveis para download na área de biblioteca do site: www.cbca-iabr.org.br

Revista Arquitetura & Aço Uma publicação trimestral da Roma Editora para o CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço) CBCA: Av. Rio Branco, 181 – 28º andar 20040-007 – Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 3445-6332 cbca@acobrasil.org.br www.cbca-iabr.org.br Conselho Editorial Catia Mac Cord Simões Coelho – CBCA/IABr Marcelo Micali – CSN Paulo César Arcoverde Lellis – Grupo Usiminas Roberto Inaba – Grupo Usiminas Ronaldo do Carmo Soares – Gerdau Açominas Silvia Scalzo – ArcelorMittal Tubarão

PRÓXIMAS EDIÇÕES: Habitação de Interesse Social – setembro de 2010 Obras Metroviárias – dezembro de 2010 ADENDO DA EDIÇÃO N° 21: a fabricação e montagem da estrutura metálica da cobertura elíptica do conector do aeroporto Santos-Dumont foi da Construmet Engenharia e Construções Metálicas Ltda., com responsabilidade técnica do engenheiro Wilson Ramos da Silva Filho. Construmet: Avenida Jorge João Saad, n° 1.120, São Paulo. Contatos: (11) 3842-5622 / 3846-1339; e-mail construmet@construmet.com.br.

MATERIAL PARA PUBLICAÇÃO: Contribuições para as próximas edições podem ser enviadas para o CBCA e serão avaliadas pelo Conselho Editorial de Arquitetura & Aço. Entretanto, não nos comprometemos com a sua publicação. O material enviado deverá ser acompanhado de uma autorização para a sua publicação nesta revista ou no site do CBCA, em versão eletrônica. Todo o material recebido será arquivado e não será devolvido. Caso seja possível publicá-lo, o autor será comunicado. É necessário o envio das seguintes informações em mídia digital: desenhos técnicos do projeto, fotos da obra, dados do projeto (local, cliente, data do projeto e da construção, autor

Supervisão Técnica Sidnei Palatnik Publicidade Ricardo Werneck tel: (21) 3445-6332 cbca@acobrasil.org.br Roma Editora Rua Lisboa, 493 – 05413-000 – São Paulo/SP Tel.: (11) 2808-6000 cbca@arcdesign.com.br Direção Cristiano S. Barata Coordenação Editorial Ana Weiss Redação Ana Weiss, Deborah Peleias e Fabrício Andrade Revisão Deborah Peleias Editoração Cibele Cipola e Luciane Stocco (edição de arte), Mariana Zanarelli e Rafael Carrochi (estagiários) Pré-impressão e Impressão www.graficamundo.com.br Endereço para envio de material: Revista Arquitetura & Aço – CBCA Av. Rio Branco, 181 – 28º andar 20040-007 – Rio de Janeiro/RJ cbca@quadried.com.br

do projeto, projetista estrutural e construtor) e dados do arquiteto (endereço, telefone de contato e e-mail).

36 ARQUITETURA&AÇO

É permitida a reprodução total dos textos, desde que mencionada a fonte. É proibida a reprodução das fotos e desenhos, exceto mediante autorização expressa do autor.


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