& ARQUITETURA AÇO
ARQUITETURA AÇO
9 7 7 1 6 7 8 1 1 2 0 6 7 30
Uma publicação do Centro Brasileiro da Construção em Aço número 30 junho de 2012
Construção sustentável
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Uma edição inteiramente dedicada à construção sustentável! Para este número de Arquitetura & Aço, selecionamos, como sempre, obras nas quais o sistema construtivo em aço se mostrou a solução mais apropriada devido a características como flexibilidade, compatibilidade com outros materiais, alívio de carga nas fundações ou menor prazo de execução. Mas também, e principalmente, por incorporar diversas questões que contribuem para maior sustentabilidade na construção, tais como a redução de desperdício de material, redução de ruído e pó durante a obra, menor produção de entulho e necessidade de transporte. Sem contar que ao final do ciclo de vida destas edificações o aço será totalmente recuperado e reciclado. Um bom exemplo é a reformulação da sede do Escritório Zanettini, em São Paulo, com a desmontagem e reaproveitamento da estrutura do antigo prédio, para implantação em outro endereço. Buscamos apresentar obras de tipologias variadas, como o Centro de Distribuição da Avon, no interior de São Paulo, projeto de Roberto Loeb e Associados que, além da plasticidade e elegância, incorpora diversas soluções que lhe valeram o selo Leed Gold, do Green Building Council (GBC). Trazemos, ainda, o Edifício Nações Unidas, em São Paulo, que também recebeu certificação pelo GBC e o cuidadoso projeto da nova sede corporativa da Teckma. Outra obra significativa é a Praça Victor Civita, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. O projeto pioneiro de revitalização de uma área degradada tornou o espaço público uma referência em sustentabilidade no Brasil. Já a Casa Natura se destaca como obra certificada pelo processo Alta Qualidade Ambiental (AQUA), concedido pela Fundação Vanzolini, que propõe uma abordagem ampla e integrada da construção sustentável. Com os postos ecoeficientes da rede Ipiranga, mostramos a versatilidade e benefícios da construção com o sistema light steel framing. Apresentamos também uma entrevista com a professora Danielly Borges Garcia, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unileste (MG) e pesquisadora dos impactos ambientais gerados na construção civil.
Divulgação/Tom Fox, SWA Group
Para completar este número, a Academia de Ciências da Califórnia, totalmente reformulada pelo arquiteto Renzo Piano, mostra, na prática, uma visão integral de sustentabilidade aplicada a um museu e incorporada em seu dia a dia. Boa leitura!
ARQUITETURA&AÇO
1
Divulgação/Griffith Tim
Arquitetura & Aço nº 30 junho 2012
Foto da capa: Academia de Ciências da Califórnia – São Francisco (USA)
sumário 04.
06.
10.
14.
18.
22.
26.
28.
32.
34.
04.
Características que elevam o aço
acontece
36
ENDEREÇOS
38
à categoria de material sustentável.
06. Maior Centro de
10. Defensor incansável das construções ecoeficientes, Siegbert Zanettini fala sobre a reestruturação de sua sede. 14. Com a Praça Victor Civita, a Levisky Arquitetos recupera terreno contaminado e revitaliza espaço público. 18. Conforto ambiental e menores custos operacionais na nova sede da Teckma, na capital paulista. 22. Em Santo André (SP), Casa Natura foi construída em sintonia com os ideais da marca. 26. Em entrevista, a professora Danielly Borges Garcia, da Unileste (MG), fala sobre aço e sustentabilidade. 28. Distribuidora de combustível Ipiranga utiliza sistemas industrializados para a implantação de conceitos sustentáveis. 32. Edifício Nações Unidas integra rol de edifícios corporativos com certificação Leed Silver. 34. Reformulada por Renzo Piano, Academia Distribuição da Avon
tem certificado Leed.
de Ciências da Califórnia é o primeiro museu do mundo a receber o Leed Platinum Duplo.
O aço na construção da sustentabilidade Na
busca pela sustentabilidade na construção civil, é
essencial considerarmos todo o ciclo de vida da edificação, desde a concepção, até o final de sua vida útil. lidar com todas as etapas já na elaboração
É preciso do projeto,
trazendo soluções para responder de forma adequada aos importantes desafios ambientais, sociais e econômicos relacionados ao empreendimento.
São
questões amplas, que envolvem decisões desde a
escolha da implantação às condições e custos de operação; a seleção dos materiais utilizados, a avaliação do impacto da obra em seu entorno e definições do conforto térmico, acústico e visual proporcionado aos usuários.
Além
disso, há a atenção com os aspectos sociais relacionados aos trabalhadores envolvidos ou à comunidade.
É
neste
contexto que o aço revela todo o seu potencial para contribuir com o avanço da construção sustentável, apresentando vantagens como:
>N ão Polui o meio ambiente: o aço é obtido a partir do minério de
ferro, que é um dos elementos mais abundantes no planeta. Do processo de produção resulta um material homogêneo, que não libera substâncias que agridem o meio ambiente; >U so de coprodutos: os coprodutos resultantes da produção do
aço também podem ser utilizados na construção civil. Os agregados siderúrgicos são usados na produção de cimento e podem ser empregados na pavimentação de vias e como lastro em ferrovias; >E conomia de tempo na execução: o aço permite maior veloci-
dade da construção, visto que os componentes, na sua maioria, são produzidos fora do canteiro de obra. O tempo de construção é mais Fotos Acervo CBCA
curto, minimizando os incômodos causados à vizinhança;
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ARQUITETURA&AÇO
>E conomiza materiais e diminui os impactos: o menor peso da
estrutura em aço reduz as fundações e escavações, gerando menor retirada de terra que, consequentemente, diminui as viagens de caminhões para sua remoção e a necessidade de áreas para descarte;
1 Usuário
Descarte
2
Consumo Sucata
Produção de bens intensivos em aço Reciclagem
>M aximiza a iluminação natural com economia de energia:
a alta resistência do aço permite estruturas com vãos mais amplos.
3
Telhados e fachadas leves e transparentes favorecem a iluminação natural e, consequentemente, a economia de energia elétrica; >D urabilidade: existem diversas maneiras de proteção efetiva
do aço contra corrosão, seja por meio de revestimento metálico ou pintura, ou ambos, que são cada vez mais aplicados diretamente às chapas ou à estrutura durante o processo de fabricação; >F lexibilidade: edificações com estrutura em aço oferecem máxi-
ma liberdade ao empreendimento, tanto na fase de operação como em futuras adaptações. As construções podem ser facilmente modificadas ou ampliadas para se adaptarem a novos usos; >O aço é infinitamente reciclável: o aço pode ser reciclado em
sua totalidade sem perder nenhuma de suas qualidades. Devido a suas propriedades magnéticas, que não são encontradas em nenhum outro material, o aço é facilmente separado de outros materiais, possibilitando elevados índices de reciclagem.
Na página anterior, separação magnética de sucata de aço, que é incorporada à fabricação de um novo aço (foto 1). Este aço é solidificado em placas (foto2), e posteriormente conformado em produtos, como perfis estruturais (foto 3) ARQUITETURA&AÇO
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Hélvio Romero
Na entrada do Centro de Distribuição, um grande espelho d'água separa os ambientes e ajuda a melhorar o conforto térmico. A ponte em rampa e sua cobertura, projetadas em estrutura de aço, conectam a área de acesso e a de armazenamento
Leveza, flexibilidade, rapidez e precisão. Estas são as carac-
ce soluções de alto desempenho tanto
terísticas do aço apontadas pelo arquiteto Roberto Loeb para justi-
para isolamento térmico quanto para
ficar o uso do material em diversos elementos da obra do Centro de
isolamento acústico, gerando econo-
Distribuição (CD) da Avon, inaugurado em 2011 em Cabreúva, interior
mia de energia, entre outros fatores.
de São Paulo. “Em construções com grandes áreas e vãos e que usam
Como resultado, a obra recebeu o
em sua estrutura um misto de aço e concreto, o aço, especialmente
certificado Leadership in Energy and
por sua resistência, tem se mostrado muito adequado”, afirma.
Environmental Design (Leed Gold),
Outra opção pela utilização do material foi o conceito de sustentabilidade que envolve o projeto. Tudo foi pensado para garan-
Building Council (USGBC).
tir o máximo de eficiência energética, gestão e economia de água,
Considerado muito mais do que um
de resíduos, conforto termoacústico, entre outros aspectos que
galpão, o CD segue o conceito de uma
envolvem uma obra sustentável. Para Loeb, o aço entra neste
minivila. Localizado num terreno de 270 mil m2, são 94 mil m2 de área construída,
contexto porque tem longa vida útil, não produz resíduos, ofere6
concedido pelo United States Green
ARQUITETURA&AÇO
Exemplo de valor Além de atender à função operacional, maior Centro de Distribuição da A von no mundo , é o único com certificação L eed G old
sendo que só o CD, instalado num volume metálico, ocupa quase 60 mil m2.
forto térmico do ambiente. Uma rampa construída com estrutura
O restante são áreas de apoio, como
galpão. No seu interior, a passarela de 3 m de largura por 400 m de
escritórios, vestiários, refeitório, esta-
comprimento, feita com vigas metálicas e pilares e lajes de concre-
cionamento e até creche para os filhos
to, garante a interligação de todos os ambientes.
metálica, coberta por telha de aço e com forro em madeira, leva ao
dos funcionários. No total, a empre-
Atendendo a uma necessidade do cliente, uma parede corta-
sa anunciou investimentos de R$ 150
-fogo divide o espaço do galpão em dois setores: um para o estoque
milhões no projeto – o maior Centro
e outro para a expedição das encomendas. O local também conta com um mezanino metálico de aproximadamente 7 mil m2 e uma
de Distribuição da Avon no mundo e o único com certificado Leed.
área para operações de embalagem, com esteiras, de 42 mil m2.
Logo na entrada, após o estaciona-
Com área de cobertura e fechamento lateral estrutu-
mento, fica a recepção, sobre um espe-
rados em aço, o galpão principal conta com isolamento
lho d’água, que ajuda a garantir o con-
termoacústico, tanto nas laterais como na cobertura. Para um ARQUITETURA&AÇO
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melhor condicionamento, as laterais são compostas de telhas onduladas metálicas em sanduíche, com interstício preenchido por lã de rocha. Na cobertura, também com telhas ondu-
Fotos Hélvio Romero
ladas, o isolamento é feito com lã de vidro e revestidas na face inferior com laminado plástico, que fica aparente. Aberturas zenitais e brises na parte inferior das paredes garantem iluminação e ventilação naturais. Entretanto, para que sejam obtidos os resultados positivos de um projeto sustentável, são necessárias ações de grande complexidade, tais como: elaboração de estudos sobre impactos ambientais da construção, enquadramento e cumprimento da legislação ambiental e dos requisitos da certificação, estão entre os principais itens que precisam ser levados em conta. No CD da Avon, a interação com a comunidade local resultou em mais de 3,5 mil funcionários contratados. Já a adoção de um plano de gestão de resíduos desviou dos aterros sanitários locais Localizados em blocos diferentes, restaurante e escritórios conectam-se por rampas e passarelas. No bloco administrativo, os brises inclinados de madeira são apoiados por vigas metálicas. Abaixo, destaque para a passarela metálica no galpão principal. Ao lado, parede corta-fogo se sobressai na fachada
quase 100% dos resíduos gerados pela obra. Somam-se a estas estratégias outras como o controle de erosão e estudos de desempenho energético e análise do entorno. A própria escolha da cidade de Cabreúva foi feita por proporcionar facilidade de logística – o município está localizado próximo a quatro importantes mercados para a Avon: São Paulo, Campinas, Jundiaí e Sorocaba. (C.E.) M
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ARQUITETURA&AÇO
> Projeto
arquitetônico: Roberto Loeb e Luis Capote
> Área
do terreno: 270 mil m²
> Área
construída: 94 mil m²
>A ço
empregado: ASTM A572 GR42
> Volume >P rojeto
do aço: 2.600 t
estrutural: MHA Engenharia
>F ornecimento
da estrutura metálica: Codeme Engenharia
>E xecução
da obra: Serpal Engenharia e Construtora
> Local: > Data
Cabreúva, SP
do projeto: 2009
> Conclusão
da obra: 2011
Hélvio Romero
Corte
ARQUITETURA&AÇO
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A boa arquitetura Incansável defensor das construções ecoeficientes, para arquiteto S iegbert Z anettini a sustentabilidade é inerente
o a
bons projetos em qualquer época
Filho de marceneiro, desde cedo
Siegbert Zanettini faz parte da primeira geração de professores
teve contato com a matéria e entendi-
doutores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
mento da necessidade do conhecimen-
São Paulo (FAU-USP) que soube, desde sua formação, no final da
to dos materiais, seja a madeira, o aço
década de 1950, aliar conhecimento teórico à prática profissional.
ou o concreto. Para ele, a arquitetura é o
Autor de projetos como a Escola Panamericana de Arte, o Hospital
equilíbrio e a harmonia entre o mundo
Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e o Fórum Verde, em Brasília,
racional e a sensibilidade. Justamente
entre muitos outros, tem no Centro de Pesquisas da Petrobras
o que ele conseguiu colocar em práti-
(Cenpes), no Rio de Janeiro, o projeto que sintetiza os conceitos
ca no Cenpes: “Não fazemos arquite-
arquitetônicos aplicados no exercício da profissão. No Cenpes, o
tura independente das demais ciên-
arquiteto novamente explorou diversas possibilidades no uso do
cias, pois, se observadas globalmente,
aço, ao mesmo tempo investindo em inovação e sustentabilidade.
conferem visão sistêmica importante, Fotos Acervo Zanettini
Um dos Pioneiros no uso do aço no Brasil, o arquiteto
No Cenpes, vista interna do piso de ligação entre os blocos de laboratórios. No projeto ecoeficiente, o arquiteto explorou todas as possibilidades do aço
10 ARQUITETURA&AÇO
Redução de tempo e custos se somam à leveza da sede do escritório Siegbert Zanettini, construída em 1987, onde a opção pelo sistema industrial em aço respondeu à necessidade de projetar um espaço mutante
afinal uma obra não se resolve no can-
Apesar de essas discussões não serem novidade entre os pro-
teiro, é pré-resolvida, planejada e proje-
fissionais ou no próprio meio acadêmico, Zanettini continua sendo
tada”. Por outro lado, entende que não é
um incansável defensor da boa arquitetura que, a seu ver, é sempre
possível pensar a arquitetura sem sen-
sustentável. A plasticidade de um projeto, a maneira como se inte-
sibilidade. “A arquitetura precisa cau-
gra à paisagem, o contexto histórico e cultural no qual se insere,
sar encantamento, sonho. É necessário
bem como as possibilidades de reciclagem estão sempre presentes
estar além do tempo para pensar em
em suas obras e são a prova de que, quando bem-aplicados, os
sustentabilidade, em ecoeficiência.”
processos industrializados podem favorecer a sustentabilidade de
Quem conhece um pouco de sua
uma construção. “Além dos dados de implantação, relevo e clima,
obra sabe que os princípios fundamen-
é fundamental pensar que edifícios são feitos para pessoas, pois
tais que, hoje, são amplamente divul-
algumas vezes esquece-se disso”, conclui.
gados para as construções ecossustentáveis sempre nortearam todas as suas
Laboratório de inovações
criações. Em primeiro lugar, o projeto
A construção da sede do escritório Zanettini em São Paulo, edifi-
arquitetônico está inserido em um con-
cação erguida em 1987, a partir de um sistema industrializado em
texto urbano, que é único e específico.
aço, rápido, econômico e vantajoso, principalmente em função
“Além disso, cada projeto requer uma
da inflação galopante daquele período, foi considerada uma das
solução própria. Edifícios construídos
obras mais inovadoras da época. Para se ter ideia, foram necessá-
com grandes panos de vidro e que rece-
rios pouco mais de 20 dias para a montagem das estruturas, que
bem sol em todas as faces não são sus-
chegaram ao canteiro de obras com pintura final de fábrica.
tentáveis e são incompatíveis com as condições climáticas brasileiras”, diz.
O edifício foi composto por duas grandes treliças laterais contraventadas na horizontal pelas lajes. Zanettini destaca que tal ARQUITETURA&AÇO
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Fotos Acervo Zanettini
Estruturalmente, o edifício foi montado a partir de duas grandes treliças laterais, enquanto as lajes, feitas em duas etapas, ofereciam contraventamento e amarração à edificação. Abaixo, a sequência de imagens da desmontagem e, ao final, o armazenamento dos perfis para a nova obra
modulação criou a possibilidade de um espaço altamente flexível. E foi a partir desta obra, utilizada quase como um laboratório, que a avaliação do desempenho de diversos sistemas permitiu o aperfeiçoamento dos novos projetos, e também inovações, tais como o uso de elementos telescópios em esquadrias e painéis de fechamento para absorver sem patologias as dilatações e contrações da estrutura.
Montagem e desmontagem Após quase 25 anos, quando o arquiteto decidiu mudar de endereço, graças à racionalidade do projeto, 100% da estrutura metálica existente foi desmontada em apenas dez dias. Todos os componentes metálicos foram preservados para demonstrar, na prática, a sustentabilidade de toda a construção. Devido às mudanças na legislação e diversas exigências por parte da Prefeitura de São Paulo, de acordo com o arquiteto, o projeto para a reconstrução do edifício deverá ter algumas modificações. “Serão necessários recuos maiores, o que impede a montagem integral das duas grandes treliças que sustentam todo o edifício”, afirma. Em função do sistema estrutural em aço, as modificações necessárias poderão ser feitas com facilidade e a obra será concluída até 2013. (N.F.) M
12 ARQUITETURA&AÇO
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Espaço aberto
da sustentabilidade Com
a
Praça Victor Civita,
terreno contaminado
Divulgação
é recuperado e revitaliza espaço público
Um grande deque sustentado por estrutura metálica impede o contato com o solo contaminado. A Praça possui uma área verde com cerca de 80 árvores; um palco para espetáculos com arquibancada coberta para 300 pessoas; equipamentos de ginástica ao ar livre; pista de caminhada e centro de convivência para a terceira idade
14 ARQUITETURA&AÇO
> Projeto
arquitetônico: Levisky Arquitetos | Estratégia Urbana
> Área
construída: 2.650 m²
> Área
do terreno: 13.648 m²
> Aço
empregado: ASTM A572 GR50
> Volume
do aço: 135 t
> Projeto
estrutural: Heloisa Maringoni / Companhia de Projetos
> Fornecimento
da estrutura metálica: Jodi Estruturas Metálicas
> Local:
São Paulo, SP
do projeto: 2006/2007 da obra: 2008
Fotos Sidnei Palatnik
> Conclusão
Resgatar um terreno degradado pela atividade industrial no bairro paulistano de Pinheiros e devolvê-lo como área de lazer pública foi o objetivo do projeto da Praça Victor Civita, viabilizado por meio de uma parceria entre o Grupo Abril e a Prefeitura de São Paulo. Responsável pelo projeto, o Escritório Levisky Arquitetos utilizou o aço de forma intensiva para criar uma estrutura suspensa sobre o terreno contaminado pela incineração de medicamentos e pelo armazenamento de lixo. “O aço fez parte de todas as edificações, desde a fundação e estruturação do piso da Praça, passando pelas novas instalações e até as intervenções nos elementos estruturais existentes”, destaca a arquiteta Adriana Levisky. A Praça Victor Civita está instalada em uma área com mais de 13,6 mil m2, no qual um deque de 1.800 m2 dá acesso a várias edificações: uma arena coberta para eventos, ao Museu da Reabilitação, implantado no edifício do antigo incinerador, ao Centro da Terceira Idade, à Oficina de Educação Ambiental, ao Núcleo de Investigação de Águas e Solos subterrâneos e à Praça de Paralelepípedos. As atividades realizadas nestes equipamentos contribuem para a diversificação do uso público do espaço e para a disseminação de conhecimentos ligados à sustentabilidade.
Divulgação
> Data
da obra: Even Construtora
Sidnei Palatnik
> Execução
Praça-barco De acordo com a arquiteta, devido ao uso anterior do local e pelo fato de cinzas contaminadas do incinerador terem sido ali enterradas, não era possível remover os materiais e o contato com o solo deveria ser mínimo. Na verdade, foi preciso isolar o solo contaminado com uma nova camada posta sobre a anterior. A área também
ARQUITETURA&AÇO
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Detalhe 1 - corte tipo Deck 1
contava com árvores de raízes espalhadas e um solo característico
1 Entrada principal
da várzea do Rio Pinheiros. Devido a estas circunstâncias, a Praça
2 Equipamentos para ginástica
teve uma característica única: configura uma plataforma elevada flutuando sobre o solo, sem no entanto tocá-lo. Para isso, foram
3 Deque
utilizadas estacas e vigas metálicas.
4 Arquibancada e banheiros
“Os caminhos do deque de madeira se conectam ao piso elevado
5 Arena coberta
de concreto, também sobre estrutura metálica, e no mesmo nível,
6 Centro da 3ª Idade
levando às demais edificações e complementando o programa de
7 Antigo incinerador – Museu da Reabilitação
atividades da Praça”, explica Adriana Levisky. Segundo ela, a estrutura em aço facilitou tanto a modulação do projeto, quanto o apoio do deque de madeira, material escolhido para a maior parte do piso.
8 Praça de Paralelepípedos
Para os elementos arquitetônicos sobre a Praça, a arquiteta destaca
9 Oficina das Crianças
a obtenção de grandes vãos e formas arquitetônicas diferenciadas com o uso do aço.
9
5
4
7 3 6
2
1
16 ARQUITETURA&AÇO
Divulgação
8
A cobertura do auditório tem vão livre de 10,5 m e balanço frontal de 6,3 m. Já a arquibancada tem cobertura com vão livre de 20 m e 6,5 m de balanço frontal. Em ambas foram utilizadas treliças compostas por perfis tubulares, com diâmetros de 168 mm e 88 mm, e perfis de chapa dobrada. Na estrutura do deque foram utilizados perfis laminados com alturas de 150 mm e 250 mm. Por fim, os abrigos têm balanços de 3,3 m, compostos por perfis de altura variável e perfis de chapa dobrada. Além destes, os demais edifícios receberam reforços e complementos, tais como escadas e mezaninos em aço.
Paisagismo Além de todas as interferências do ponto de vista técnico para a recuperação do terreno e instalação de um espaço público sustentável, o projeto paisagístico também foi elaborado de acordo com princípios rigorosos. Assinado pelo arquiteto paisagista Benedito Abbud, baseia-se no Termo de Referência para desenvolvido pelos órgãos ambientais da Prefeitura de São Paulo. Em toda a Praça foram plantadas diferentes espécies originais da flora paulista. O local dispõe, ainda, de espaço para compostagem e uma horta circular, atividades que integram o
O projeto foi elaborado a partir de premissas sustentáveis visando a redução de entulho, baixo consumo de energia, utilização de materiais reciclados, legalizados e certificados, reuso de água, aquecimento solar e manutenção da permeabilidade do solo. Abaixo, imagem do deque que se estende na diagonal do terreno, propondo um percurso que enfatiza a perspectiva natural do espaço e convida o usuário a percorrer os caminhos da Praça Fotos Sidnei Palatnik
a recuperação de áreas degradadas,
programa de educação ambiental realizado com crianças e exibido ao público. Também integra o programa o plantio de culturas, a exemplo do algodão e do milho, acrescido de outras questões como as relativas à eficiência energética. (E.C.) M ARQUITETURA&AÇO
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Em benefício de todos industrializado , flexibilidade , conforto ambiental
e menores custos operacionais na nova sede da
A estrutura em aço conferiu esbeltez à fachada, que recebeu grandes panos de vidro em seu fechamento. Ao lado, o contraventamento em V e as instalações aparentes tornaram-se elementos de destaque na sala de reuniões, conferindo contemporaneidade ao espaço, bem como a todo o projeto
18 ARQUITETURA&AÇO
Teckma
Fotos Divulgação
Sistema
Depois de operar em diversas sedes
superiores. A área de atendimento a clientes e funcionários concen-
por ela reformadas, a Teckma, empresa
tra-se no térreo e no mezanino. No primeiro piso estão os departa-
de montagens eletromecânicas e ins-
mentos administrativos e no segundo, a equipe de engenharia.
talações industriais, resolveu investir em uma nova sede. A premissa era a
Instalações à mostra
de que o edifício, localizado na Mooca,
Segundo a arquiteta, o layout atendeu integralmente às necessida-
zona leste de São Paulo, deveria abri-
des da empresa, pois além de acomodar todos os departamentos
gar todas as necessidades da empre-
possibilita a realização de ampliações no número de pavimentos,
sa, ser sustentável e deixar o máximo
por exemplo, se houver aumento no número de funcionários. Esta
de instalações aparentes, reforçando
flexibilidade se deve à adoção do sistema estrutural em aço, a partir
a imagem corporativa da Teckma no
do térreo e com apenas os subsolos em concreto. Andrea afirma
mercado. O desafio foi assumido pela
que a estrutura em aço, além de mais rápida na execução, conferiu
arquiteta Andréa Gonzaga, que privi-
valor estético ao edifício e permitiu que as instalações hidráulicas,
legiou a criação de um edifício com
elétricas e de ar-condicionado ficassem aparentes. “Tivemos o cui-
um sistema estrutural em aço, além
dado para que estas instalações ficassem organizadas e estetica-
de diversos outros sistemas comple-
mente agradáveis nos ambientes”, destaca a profissional.
mentares industrializados, que garan-
Com o objetivo de tornar a estrutura ainda mais marcante,
tiram a redução do impacto ambiental
aplicou-se tinta intumescente na cor marrom, solução que conferiu
da construção.
ao aço cor e proteção ao fogo, simultaneamente. Os contraventa-
Em um terreno de 900 m2, a edifi-
mentos aparentes da estrutura, posicionados na caixa envidraçada
cação é composta por dois subsolos, tér-
dos elevadores e na sala de reuniões, também deram um aspecto
reo, mezanino e mais dois pavimentos
contemporâneo e arrojado à construção.
ARQUITETURA&AÇO
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Estrutura ideal O aço permitiu uma estrutura mais esbelta e, consequentemente, panos de vidro maiores e generosa entrada de luz natural. Dentro do edifício, os grandes vãos facilitam a circulação do ar, contribuindo para o conforto térmico. A busca por eficiência energética e conforto ambiental foi uma meta importante em todo o projeto. “Utilizamos vidros com proteção solar que reduzem em até 40% o custo de energia com ar-condicionado e 20% com iluminação”, ressalta a arquiteta. Ao todo, a economia de energia é da ordem de 1.200 kw/h por ano. Este tipo de revestimento, que bloqueia até 65% do calor externo, sem perda de qualidade óptica, assegurou a integração visual com o entorno e acesso à vista privilegiada do Parque da Mooca, vizinho à edificação. Brises foram instalados na face norte do edifício, diminuindo a incidência direta de raios solares e contribuindo na otimização dos sistemas de iluminação artificial e de ar-condicionado. Estes sistemas são automatizados, e, por isso, mais eficientes e econômicos. As informações de consumo são registradas e monitoradas com o intuito de promover o acompanhamento e a melhoria constante dos resultados. Outra premissa é o reaproveitamento de água pluvial, por meio de
cargas dos banheiros, irrigação e serviços de limpeza e jardinagem. O posicionamento estratégico das escadas visa privilegiar este meio de circulação em relação aos elevadores, economizando, assim, energia elétrica. A face sul do edifício recebeu dois terraços,
Divulgação
um sistema de captação e filtragem que conta com um reservatório de 50 m3 instalado no subsolo. A água é reaproveitada para as des-
O térreo tem pé-direito duplo e grande integração visual com o exterior
que ampliam a área de sombreamento e trazem mais conforto aos usuários. A cobertura conta com placas de poliuretano expandido, que impedem a transmissão do calor da laje do último piso para o interior do prédio. Figuram, ainda, no projeto paisagístico do edifício espécies típicas da flora brasileira, muitas vezes raras em grandes centros como São Paulo. De modo geral, pode-se dizer que o emprego de sistemas construtivos industrializados reduziu significativamente a produção de entulho. A solução, além de trazer menor impacto à vizinhança durante a fase de execução, reduzindo ruído, poeira e a movimentação de caminhões, tornou a construção mais rápida e econômica. Mesmo sem buscar certificação pelos selos conhecidos no mercado, a nova sede da Teckma incorpora os modernos conceitos da construção sustentável, desde a seleção dos materiais e métodos construtivos, até a busca por menores custos de operação. (E.C.) M 20 ARQUITETURA&AÇO
> Projeto
arquitetônico: Andréa Gonzaga
> Área
construída: 2.322,45 m²
> Área
do terreno: 900 m²
> Aço
empregado: ASTM A572
> Volume
do aço: 200 t
> Projeto
estrutural: Kurkdjian e Fruchtengarten Eng. Associados
> Fornecimento
da estrutura metálica: Engemetal
> Execução > Local: > Data
da obra: SM3 Engenharia
São Paulo,SP
do projeto: 2007
> Conclusão
da obra: 2009
In natura A
edificação foi construída em
Santo André
sob conceitos
sustentáveis e em sintonia com os ideais da marca
Um bom exemplo de aplicação dos princípios da construção
tura e sustentabilidade, que incluiu o
sustentável é encontrado na cidade de Santo André (SP), onde, em
uso do aço. Optar por soluções deste
agosto de 2010, foi inaugurada a Casa Natura, a sexta aberta pela
tipo também significou uma redução
companhia e a primeira a receber o selo Alta Qualidade Ambiental
do desperdício de material em relação
(AQUA). As demais provêm de obras preexistentes, reformadas para
à construção tradicional.
também serem dedicadas ao treinamento de quase 1 milhão de con-
“Trata-se de um dos sistemas estru-
sultoras que têm fortalecido a imagem da marca nos últimos anos. Com 250 m2, a unidade do ABC foi projetada pelo escritório
turais de grande porte com mais carac-
Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz (FGMF Arquitetos). Os profissio-
arquitetos, pois além de 100% reciclá-
nais explicam que substituíram as reformas por construções indus-
veis, as estruturas em aço proporcio-
trializadas, concebidas de acordo com os preceitos da boa arquite-
nam significativa redução de resíduos
Além das funções estruturais, as vigas metálicas aparentes se destacam como os primeiros elementos arquitetônicos no generoso recuo que separa as áreas pública e privada
22 ARQUITETURA&AÇO
terísticas sustentáveis”, afirmam os
na obra, além de serem produzidas de
dos, que inclui: auditórios para atividades de treinamento; área de
maneira exata e controlada.
exposição e experimentação dos produtos; área de convívio e área
A intenção era reforçar, por meio da
administrativa.
construção, os conceitos de sustentabi-
De acordo com os arquitetos, o emprego do aço nesta unidade
lidade, tão defendidos pela empresa.
foi associado a outros sistemas construtivos industrializados, que,
O mesmo projeto serve de modelo a
além de tornarem a obra mais rápida, econômica e menos traumá-
outras construções, e pode ser adaptado
tica para a vizinhança, tanto em relação ao nível de ruído da obra
e reproduzido. No caso de Santo André,
quanto da geração de pó, contribuiu com a criação de um canteiro
os arquitetos informam que por ser um
de obra limpo e com quase nenhuma geração de entulho.
lote alugado, a solução adotada foi a mais
No projeto, além das funções estruturais, as vigas metálicas
apropriada, uma vez que permite que o
aparentes se destacam como os primeiros elementos arquitetôni-
imóvel seja desmontado e reciclado.
cos no generoso recuo que separa as áreas pública e privada.
Sistema único
Certificação AQUA
A Casa Natura foi construída com estru-
A Casa Natura de Santo André foi a primeira construção comer-
tura em aço, sobre a qual os arquitetos
cial a receber o certificado de Alta Qualidade Ambiental (AQUA).
aplicaram de forma livre os fechamen-
Para merecer o selo, adaptado pela Fundação Vanzolini a partir da
tos, bem como brises-soleil e pergolados,
metodologia francesa Démarche Haute Qualité Environnementale
para configurar os ambientes, segundo
(HQE), a construção precisa receber boas notas numa avaliação que
um programa e linguagem padroniza-
observa nada menos que 14 quesitos: relação com o entorno; escolha
Fotos Fran Parente
Acesso ao segundo pavimento feito por escada e demais elementos metálicos
ARQUITETURA&AÇO
23
de produtos, sistemas e processo; canteiro de obras; gestão de ener-
adicional e novas obras de infraestru-
gia; gestão da água; gestão dos resíduos; manutenção; confortos
tura. Além disso, antes de escolher o
higrotérmico, acústico e olfativo; bem como qualidade sanitária dos
local de implantação, foi realizada aná-
ambientes, ar e água.
lise da região, considerando-se também
De acordo com a equipe, trata-se de um processo inteligente
a maneira como os usuários chegariam
de avaliação, uma vez que considera uma ampla gama de fatores
ao show-room e, principalmente, a dis-
relevantes à certificação. Para isso, foram realizados processos de
ponibilidade de transporte público, fator
auditorias presenciais, realizadas em todas as fases do projeto, em
que representa economia e uma opção
que todos os itens foram avaliados, segundo os níveis bom, supe-
menos poluente de mobilidade. (F.R.) M
rior e excelente. Os arquitetos lembram que nesta avaliação nada pode estar abaixo da categoria "bom".
Respeito à natureza A construção também presta atenção especial à orientação do sol e às condições de ventilação, a fim de favorecer a entrada de luz natural nos ambientes, ao mesmo tempo em que minimiza o uso do ar-condicionado. Os jardins foram compostos com espécies locais, melhor adaptadas ao ciclo pluviométrico da região, reduzindo a necessidade de regas. Outro cuidado em relação à escolha da vegetação foi que servisse à subsistência dos pássaros originários da fauna local. Do ponto de vista da sustentabilidade, a Casa Natura atendeu, de fato, a todas as solicitações. O projeto foi erguido em um terreno bem-estruturado, com disponibilidade de energia elétrica e saneamento básico. Os arquitetos lembram que este também é um quesito fundamental, pois solicitar estes serviços demanda tempo 24 ARQUITETURA&AÇO
> Projeto
arquitetônico: FGMF Arquitetos e Epigram Group
> Área
construída: 250 m2
> Aço
empregado: aço de maior resistência à corrosão
> Volume
do aço: 14 t
> Projeto
estrutural: Oppea Engenharia
> Fornecimento
da estrutura metálica: Grupo Imesul
> Execução
da obra: BR Construções
> Local: > Data
Santo André, SP
do projeto: 2009
> Conclusão
da obra: 2010
ARQUITETURA&AÇO
25
A verdadeira sustentabilidade
a professora Danielly Borges Garcia, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unileste (MG), defendeu, em 2011, sua tese de doutorado denominada "Metodologia de Avaliação de Sistemas Construtivos a partir da Avaliação de Ciclo de Vida – aplicação de um sistema estrutural em aço". Nesta entrevista, ela fala sobre o conceito de sustentabilidade aplicado ao uso do aço enquanto sistema construtivo. “O aço é um material reciclável podendo, uma vez esgotada a vida útil da edificação, retornar sob forma de sucata ao forno das usinas.” Neste contexto, para ela, o conceito deve ser entendido no seu sentido amplo, amplo, uma vez que engloba todas as atividades do ser humano e concilia aspectos ambientais, econômicos, sociais e culturais. AA – Em sua opinião, as empresas brasileiras estão de fato preocupadas com a sustentabilidade dos empreendimentos, ou apenas embarcam na causa como mera ferramenta de marketing? DG – A banalização do conceito de sustentabilidade é evidente, bem como os interesses mercadológicos que estão por trás do uso da “quali-
edifício deve ser observado com des-
dade dos edifícios”. Em primeiro lugar, deve-se identificar a qual aspec-
confiança, pois ainda não existe uma
to da sustentabilidade está se referindo. Erroneamente, o conceito está
regra para definir o grau de sustenta-
sendo ligado apenas ao aspecto ambiental, enquanto as dimensões
bilidade dos edifícios ou de produtos. O
sociais, econômicas e culturais são igualmente importantes dentro do
que existe são edifícios e produtos com
conceito. Mesmo considerando o aspecto ambiental, exaltar apenas
menores “impactos ambientais”.
características ou sistemas isolados nos empreendimentos é incorrer em “verniz verde”, ou greenwashing. A sustentabilidade ambiental
AA – O termo edifícios sustentáveis tal
passa por aspectos mais abrangentes, tais como uma implantação
como é aplicado no Brasil correspon-
com o mínimo de impacto para o entorno, seleção de materiais de
de aos edifícios verdes ou ecológicos. O
menor impacto no meio ambiente e formas alternativas de energia,
aspecto sustentabilidade nestes locais
só para citar alguns. Indiscutivelmente, o uso de aquecedores solares
é, na maioria das vezes, tratado como
e sistemas de utilização de água de chuva são benéficos, mas não são
nos países desenvolvidos?
suficientes para caracterizar um empreendimento como sustentável,
DG – Uma das principais atribuições
como em geral o mercado costuma classificar as edificações quando
destacadas nestes edifícios são as estra-
fazem uso de algum destes sistemas.
tégias para geração de energia e diminuição do gasto energético com cale-
AA – Até que ponto pode-se afirmar que um produto ou edifício é
fação. No Brasil, as preocupações são
sustentável e quando dizer que se trata de greenwash?
outras. A nossa matriz energética é de
DG – O greenwash está relacionado ao uso indevido ou exagerado
fonte renovável. E predomina a deman-
de uma característica de menor impacto ambiental de um produ-
da para refrigeração. Além disso, o alto
to, sem esclarecimentos e com a omissão de outras características
grau de industrialização da construção
que seriam importantes para o entendimento do grau ecológico do
civil nos países desenvolvidos traz can-
empreendimento. O uso do termo “sustentável” para um produto ou
teiros de obra mais limpos e com menor
26 ARQUITETURA&AÇO
desperdício. Esta deve ser considerada
demais componentes. O desmonte das estruturas em aço também é
a questão principal da construção civil
uma grande vantagem à medida que diminuiu a geração de resíduos.
brasileira, e que gera a maior mudança de pensamento em termos de projeto e
AA – Quer dizer, desta maneira é possível reduzir até a demanda pelo
de processos construtivos.
próprio material utilizado? DG – Sim. Em um futuro não muito distante, edifícios inteiros pode-
AA – Quais critérios devem ser consi-
rão ser desmontados e darão origem a novas construções. Mesmo ao
derados na especificação de materiais?
fim da vida útil do edifício, o aço é um dos materiais de mais fácil
DG – A especificação de materiais geral-
separação no montante de uma demolição. A utilização de sucata
mente tem sido baseada em algumas
na fabricação do material reduz significativamente a quantidade de
características ecológicas, definindo-se
minério de ferro extraído da natureza, por exemplo, e isso sem dúvida
materiais preferenciais, que produzam
traz vantagens ao meio ambiente.
menor impacto no meio ambiente. Os quesitos abordados pelos fabricantes
AA – É correto dizer que materiais com melhor desempenho são
estão relacionados à proximidade entre
mais caros? Como garantir o desempenho, por exemplo, em habita-
a fabricação dos materiais e a obra. Estes
ção de interesse social?
critérios podem ser úteis na ausência
DG – Os materiais por si só não garantem uma obra sustentável,
de informações mais precisas acerca do
mas sua utilização bem-concebida em um projeto pode assegurar
desempenho dos materiais, mas podem
desempenhos de segurança, habitabilidade e adequação ambiental.
gerar erros, ou descartar materiais que
Neste caso, é muito importante a compatibilização entre os materiais
sejam mais vantajosos, como no caso
e processos construtivos. Os materiais, por sua vez, devem passar pela
dos industrializados. O correto é avaliar
conformidade, mas atender ao desempenho estabelecido só quan-
ou obter informações sobre o impacto
do fazem parte de um sistema construtivo. O que é inaceitável é a
ambiental dos materiais ao longo do seu
economia feita com a falta de qualidade dos produtos. A garantia da
ciclo de vida, por meio da metodologia
qualidade deve vir antes mesmo da discussão sobre sustentabilidade
de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV).
e o simples atendimento às normalizações já representa um grande passo em direção à sustentabilidade na construção.
AA – Como o aço pode contribuir na construção sustentável?
AA – Como a Sra. avalia os sistemas de certificação da construção
DG – O detalhamento da estrutura valo-
sustentável no país?
riza a etapa de projeto e favorece a coor-
DG – Os sistemas de certificação, ou indicadores de sustentabilida-
denação modular, reduzindo desperdí-
de, são importantes para a difusão de parâmetros ecoeficientes nos
cios na obra. Mesmo quando há perda
empreendimentos. Entretanto, seu uso abarca uma parcela mínima
de material, este volta para o início do
da construção civil brasileira. O foco dos indicadores de sustentabili-
ciclo por meio de sucata, que abastece
dade são edifícios de alto padrão, a maioria comercial, cuja certifica-
os fornos elétricos. Além disso, o uso das
ção alia uma imagem ecoeficiente à empresa. Além disso, muito deve
estruturas metálicas cria demanda por
ser feito para adequar ou criar critérios que correspondam à realidade
sistemas construtivos compatíveis. Desta
brasileira. Uma iniciativa recente e importante é o selo Casa Azul
forma, são desenvolvidos e compatibi-
elaborado pela Caixa Econômica Federal para habitação popular. A
lizados novos sistemas pré-fabricados,
adesão ao selo é voluntária, e não está vinculada aos financiamentos
que acarretam na industrialização dos
dos empreendimentos. (N.F.) M ARQUITETURA&AÇO
27
Acervo Ipiranga
Ecoeficiência nos postos A
fim de reduzir os impactos ambientais , I piranga utiliza
sistemas industrializados na construção de novas unidades
O primeiro posto 100% ecoeficiente no Brasil foi construído em
da Flasan, empresa responsável pelo
Porto Alegre (RS) pela Ipiranga, uma das maiores distribuidoras de
fornecimento do steel framing, todos
combustível do país. De acordo com a companhia, mudanças nos
os perfis empregados são do tipo U
conceitos operacionais visaram aspectos ambientais e econômicos,
nas dimensões 90 x 40 x 12,5 mm, com
uma vez que é parte da estratégia da empresa buscar soluções para
espessuras de 0,80 mm e 0,95 mm e
melhorar o desenvolvimento sustentável da marca. A eficiência na
conformados a frio. Estes perfis, por
utilização de recursos naturais e o reaproveitamento de resíduos, por
sua vez, formam quadros estruturais
exemplo, são ações cada vez mais colocadas em prática pela Ipiranga.
contraventados, utilizados como pare-
As soluções para as obras civis que, a partir de então, formaram
des autoportantes, que sustentam
um novo conceito para este tipo de instalação, privilegiou o uso de
toda a construção.
sistemas pré-fabricados, como estruturas steel framing nas lojas e
Segundo a Ipiranga, além do ganho
instalações de apoio e coberturas single deck para a área de abas-
de tempo, visto que para a constru-
tecimento. Na unidade de Dourados (MS), entregue em 2010, e com 2 mil m2 de área, sendo 280 m2 destinados à loja, a pré-montagem
ção dos postos o sistema está sendo
das estruturas na fábrica levou cerca de dez dias e a montagem em
cional em alvenaria, um dos objetivos
canteiro foi feita em 12 dias, com equipe de apenas cinco homens.
no uso do steel framing foi minimizar
três vezes mais rápido que o conven-
Em todas as obras são utilizadas treliças, tesouras e lajes
os impactos da construção ao gerar
estruturais, montadas com os mesmos perfis leves. Segundo o
menos resíduos, aproveitando-se as
arquiteto Alexandre Santiago, gestor do departamento técnico
vantagens de uma obra a seco.
28 ARQUITETURA&AÇO
As unidades da Ipiranga ainda contam com sistemas de controle inteligente de iluminação, dispositivos de sombreamento de vitrines, ar-condicionado ecológico, domus de iluminação natural e aproveitamento de água da chuva, aquecimento solar de águas, venezianas de ventilação natural e exaustão no entreforro, coleta seletiva de resíduos,
Fotos Divulgação
no interior da loja, sistema de captação
coleta e destinação correta de resíduos de lubrificação, entre outros sistemas. A empresa está adaptando todos os seus postos de serviço aos conceitos de sustentabilidade. Para os 150 postos construídos recentemente, já foram adotados os novos padrões, e a expectativa é chegar, ainda em 2012, a 300 novos postos em todo o Brasil. (N.F.) M
Na página ao lado, loja em funcionamento em Maringá (PR), com recursos como controle de iluminação, ar-condicionado ecológico, sistema de captação de água da chuva, entre outros. Ao lado, etapa de montagem das estruturas da loja de Dourados (MS), em steel framing
> Projeto
arquitetônico: Ipiranga Petróleo
> Área
construída: 280 m² (loja)
>A ço
empregado: ZAR350 Z275 (aço galvanizado de alta resistência)
> Volume
do aço: 8,5 t
>P rojeto
estrutural: Francisco Carlos Rodrigues
>F ornecimento
da estrutura metálica: Flasan
> Execução > Local: >
da obra: 3R Engenharia
Dourados, MS
Data do projeto: abril de 2010
> Conclusão
da obra: julho de 2010
ARQUITETURA&AÇO
29
Carlos Guiller
Edifício
Nações Unidas Alto
desempenho do empreendimento garantiu certificação
Leed
na categoria
Silver
Localizado na Marginal Pinheiros, em São Paulo, o Edifício
conforto para os usuários e preocupa-
Nações Unidas é formado por duas torres (a Torre 1 com 16 pavimen-
ção com o meio ambiente. De acordo com o arquiteto respon-
tos e a Torre 2 com 14 pavimentos), além de quatro subsolos destinados a vagas de garagem, totalizando 64 mil m2 de área construída.
sável pela obra, Mauro Halluli, geren-
Em 2010, o empreendimento obteve a certificação Leadership In
te de projetos da Edo Rocha Espaços
Energy and Environonmental Design (Leed) na categoria Silver, con-
Corporativos, devido à localização do
cedido pelo United States Green Building Council (USGBC).
terreno – em via de tráfego intenso,
O selo foi concedido com base no desempenho obtido nas fases
com restrições físicas para a entrega de
de projeto e obra, cuja avaliação reconheceu soluções e tecnolo-
suprimentos devido à falta de espaço no
gias sustentáveis capazes de reduzir o impacto ambiental, con-
canteiro – e levando-se em considera-
siderando-se as áreas internas, comuns e fachadas de ambos os
ção os aspectos sustentáveis, a solução
edifícios. Projetado para ser um moderno conjunto comercial, o
estrutural mais apropriada foi a adoção
empreendimento cumpre os critérios que definem edifícios cor-
de estrutura mista em aço e concreto. “A
porativos com padrão internacional: materiais de alta qualidade,
velocidade de execução foi excepcional,
30 ARQUITETURA&AÇO
> Projeto
arquitetônico: Edo Rocha Espaços Corporativos
> Área
construída: 64 mil m²
> Aço
empregado: aço de maior resistência à corrosão; ASTM A572 G50
> Volume
>
formas utilizadas para os pilares eram de aço e não de madeira. “Basicamente, tentamos utilizar ao máximo o conceito de uma obra seca: divisórias em dry wall ou painéis de concreto celular, lajes tipo steel deck, fachada industrializada, com elementos prontos para montagem e caixilharia unitizada”, destaca.
do aço: 2.200 t (estrutura metálica) e 1.000 t (armaduras)
Outros aspectos sustentáveis
rojeto estrutural: Codeme P (estrutura metálica) e Engeserj (estrutura de concreto)
sos para economia energética e também hídrica. A cobertura vegetal
> Fornencimento
da estrutura metálica: Codeme
> Execução > Local: > Data
da obra: WTorre
São Paulo, SP
do projeto: 2007
> Conclusão
da obra: 2009
Para obter a certificação, a obra teve de dispor ainda de alguns recurexecutada sobre o telhado foi mais uma das soluções. Denominada green roof, ou telhado verde, auxilia na diminuição do calor e também tem a função de absorver o escoamento das águas pluviais. A vantagem é que, depois de armazenada, a água é tratada e utilizada para outras funções, como irrigação do jardim e lavagem de áreas comuns. Outro cuidado foi com o ar-condicionado, insuflado pelos pisos elevados dos andares. O arquiteto explica que na sequência o ar é
pois em cada andar as estruturas foram
retirado pelas luminárias e encaminhado aos fan coils, de onde é
montadas em quatro dias, sendo auto-
reciclado e reutilizado. Quanto aos fechamentos, nas fachadas, os
portantes até três pavimentos”, diz.
vidros adotados são reflexivos e não absorvem calor excessivo, pois,
Além disso, o sistema construtivo misto foi muito positivo em relação
apesar de permitirem a passagem da luz, bloqueiam a entrada do sol, que é responsável pelo aquecimento do ambiente.
à redução significativa de materiais
Para obter a certificação, o empreendimento teve de atender a
como madeira e concreto, quesito fun-
diversos requisitos de desempenho ambiental, tanto na fase de pro-
damental e indispensável aos precei-
jeto quanto na construção. Os mesmos devem ser mantidos durante
tos sustentáveis. Halluli explica, ainda,
toda a operação.
que, em função disso, a quantidade de
De um modo geral, pode-se dizer que a localização privilegiada do
resíduos gerados foi baixa. O uso de for-
empreendimento, somada à qualidade da concepção arquitetônica e
mas e cimbramentos também foram
dos materiais empregados conferiu ao conjunto posição de destaque
menores, sem contar que a maioria das
no cenário paulistano. (N.F.) M
Fotos Mauro Halluli
Abaixo, da esquerda para direita, estrutura mista em aço e concreto garantiu rapidez de execução, economia e proteção ao fogo nos pilares; detalhe da ponte de ligação entre os blocos em treliça de aço e laje steel deck; a estrutura de aço suporta a carga de montagem e depois, associada ao concreto, a carga de trabalho
ARQUITETURA&AÇO
31
Divulgação
Natureza protegida Reforma assinada por Renzo Piano transforma Academia de Ciências da Califórnia
Fotos Divulgação
em uma das obras mais sustentáveis do mundo
32 ARQUITETURA&AÇO
“Explorar, explicar e proteger o mundo natural.” O lema
Planetário Morrison, a Biosfera da
da Academia de Ciências da Califórnia, fundada em 1853, em São
Floresta Tropical do Museu de História
Francisco, e a primeira instituição científica no oeste dos Estados
Natural Kimball e o acesso ao Aquário
Unidos, nunca foi tão atual. Após a reformulação de suas insta-
Steinhart, que fica no subsolo. Juntos,
lações, comandada pelo arquiteto genovês Renzo Piano, o local é,
representam o espaço, a terra e o oceano.
hoje, símbolo máximo de construção sustentável e ostenta o título
O conjunto é unificado pela cobertura,
de primeiro museu do mundo que, em 2008, recebeu o certificado
onde estes espaços circulares produ-
Leadership In Energy and Environonmental Design (Leed) na cate-
zem como correspondência ondulações
goria Platinum, do United States Green Building Council (USGBC).
semiesféricas em sua superfície. Uma
Em 2011, após receber mais de 5 milhões de visitantes, tornou-se a
série de claraboias nas ondulações per-
primeira com um duplo certificado Leed Platinum. Localizada em uma área de 4 km2, no Parque Golden Gate, a obra tem 38 mil m2 de área construída e significou a demolição da
mite tanto a entrada de luz quanto a
maioria dos 11 prédios originais da Academia, erguidos entre 1916 e
telhado “verde”, composto de espécies
1976, que abrigavam aquário, planetário, museu de história natural,
resistentes à seca, que reduzem a rega, e
um habitat de florestas tropicais, além de ambientes administrati-
que utiliza como substrato bandejas de
vos, de serviços, áreas de exposição, entre outros – e sua aglutina-
fibra de coco, preenchidas com solo fértil.
ção em um único bloco, cujas funções são organizadas em volta de
Estruturado principalmente com
uma praça central, com a mesma orientação do conjunto original.
natural. A cobertura conta com um
pilares de aço de seção circular, elementos esbeltos que pouco interferem
Divulgação
Próximos a esta praça, em espaços circulares, ficam o Domo do
criação de um sistema de ventilação
Divulgação/ Mc Neal Jon
A cobertura viva ondulada serve de isolamento térmico, além de absorver 98% da chuva que cai sobre ela. Em todo o perímetro da cobertura, foram incorporadas 60 mil células fotovoltaicas que produzem 10% da energia consumida pela edificação
ARQUITETURA&AÇO
33
Divulgação/Ishida Shunji
Vista da fachada principal da edificação
no espaço interno, o museu tem uma forte integração com o exte-
tentável e do design inovador, estamos
rior por meio de grandes painéis de vidro transparente. A estrutura
adicionando um novo e vital elemento
em aço da cobertura acompanha a ondulação do teto.
ao Golden Gate Park e expressando
De acordo com a equipe de desenvolvimento do projeto, esta
a dedicação da Academia para com a
cobertura proporciona excelente isolamento ao manter a tempera-
responsabilidade ambiental”, comple-
tura interior cerca de 10 graus mais frio do que um telhado-padrão.
ta o arquiteto.
Além disso, outra função é a redução do efeito urbano de ilha de calor, permanecendo cerca de 40 graus mais frio do que um telhado normal.
Reaproveitamento do aço
Com esta abordagem, o edifício deverá consumir de 30% a 35%
Com base na premissa de reaproveita-
menos energia que o exigido pelo órgão certificador. Soma-se aos
mento, do total de aço utilizado, 12 mil
benefícios citados a absorção de 98% de todas as águas pluviais,
toneladas vieram da reciclagem da anti-
fato que impede o escoamento de poluentes no ecossistema. Outro
ga estrutura da Academia. Já o concreto
recurso interessante foi o uso de produtos à base de tecido tipo
– tanto o utilizado na obra quanto nas
"jeans" como isolamento de todas as paredes do edifício. O produto é
9 mil toneladas retiradas dos prédios
composto de 85% de conteúdo reciclado pós-industrial e usa algodão,
demolidos e destinadas à construção de
um recurso renovável, como um dos seus principais ingredientes.
uma estrada na cidade Richmond (oeste
“Com a nova Academia, estamos criando um museu que é
da Califórnia) – foi incrementado com
visualmente e funcionalmente conectado ao seu entorno, meta-
20% de agregado siderúrgico (coproduto
foricamente levantando um pedaço do parque e inserindo um
obtido do processo de produção do aço).
prédio por baixo”, diz Renzo Piano. “Por meio da arquitetura sus-
No total, mais de 90% dos resíduos de
34 ARQUITETURA&AÇO
Divulgação/Justin Lee
A fim de incentivar a criação de uma cultura sustentável, a Academia dispõe de outros recursos que vão além dos referentes à construção, arquitetura e design local. Ao chegar ao museu, por exemplo, o visitante encontra bicicletários e postos de abastecimento para veículos elétricos. Além disso, uma série de posturas, tais como reciclagem de materiais, reuso de água, sistemas de controle de energia e água, e mesmo o uso de transporte público ou bicicletas por parte de 70% dos funcionários, bem como um plano contínuo de ações sustentáveis asseguram que esta cultura veio para ficar.
Acima, a praça onde foram instalados dois domos. Um abriga o planetário em que são projetadas imagens fornecidas pela NASA; o outro é transparente e expõe ecossistemas de quatro diferentes florestas equatoriais e tropicais. A sustentabilidade foi uma das preocupações do arquiteto ao promover a reforma dos espaços
Divulgação/Rpbw
Para a geração de energia elétrica, em volta de toda a cobertura foi instalada uma faixa com 60.000 células fotovoltaicas. Estes painéis solares vão gerar cerca de 213.000 kw/h de energia por ano, o que significa o fornecimento de até 10% da eletricidade necessária. A utilização da energia solar evita também a emissão de gases geradores do efeito estufa para a atmosfera.
Divulgação/Griffith Tim
Divulgação/Mc Neal Jon
Cultura sustentável
demolição da antiga Academia foram reaproveitados. Sobre o espaço, o uso do aço se destaca por permitir sua produção fora do local da obra, o que ajudou a garantir velocidade, limpeza no canteiro de obra e redução da capacidade de armazenamento de materiais. A Academia de Ciências da Califórnia é um dos dez projetos-piloto do tipo "green building" desenvolvidos pela Secretaria do Meio Ambiente de São Francisco como modelos funcionais de arquitetura pública sustentável. “Ao aproveitarmos o uso dos recursos, reduzindo o impacto ambiental, nosso espaço serve como um modelo educacional e demonstra como os seres humanos podem viver e trabalhar em formas ambientalmente responsáveis”, afirma o diretor executivo da Academia, Gregory Farrington. Segundo ele, a nova unidade integra arquitetura e paisagem e ajuda a definir novos padrões de eficiência energética e de sistemas de engenharia ambientalmente responsáveis, em um prédio público. (C.E. e S.P.) M ARQUITETURA&AÇO
35
Divulgação
ACONTECE
Escola Superior de Conservação e Sustentabilidade (ESCAS) A primeira no Brasil a obter a certificação Alta Qualidade Ambiental (AQUA) na etapa de concepção, a futura Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas), projeto dos arquitetos Newton Massafumi e Tânia Regina Parma, é uma iniciativa de uma indústria fabricante de
cosméticos em parceria com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE). Inserida dentro de uma área de preservação ambiental, em Nazaré Paulista (SP), a edificação prioriza estratégias de arquitetura bioclimática e relacionamento com o seu entorno. Contudo, o desnível acentuado do lote se apresentou como
um desafio na implantação do programa. Para tanto, a partir do prolongamento dos terraços existentes e de um eixo estruturador no sentido transversal ao declive, foram dispostos os blocos edificados que se interligam por meio de duas transposições verticais, que dão acesso a todos os pavimentos.
captação da energia solar. Trata-se de um espaço dedicado às ciências, porém com formato diferenciado dos museus de história natural ou de ciência e tecnologia já conhecidos, que lidam com os vestígios do passado ou com as evidências do presente. Ao contrário, será um ambiente de experiências, com um percurso de visitação que permite vislumbrar possibilidades do futuro, perceber como será a vida dos seres humanos e a do planeta nos próximos 50 anos. O objetivo é a criação de um museu para que o homem possa trilhar o caminho do imaginário e realizar, de forma mais consciente e ética, suas escolhas para o amanhã.
Em seu entorno também será implantada uma grande área verde, com paisagismo desenvolvido pelo escritório carioca Burle Marx e Cia. Com cerca de 30 mil m2, o espaço terá, ainda, área de lazer, ciclovia e um espelho d’água, que envolverá todo o prédio. O Museu do Amanhã é uma iniciativa do Projeto Porto Maravilha da Prefeitura do Rio de Janeiro, com realização da Fundação Roberto Marinho, por meio de uma parceria do Governo do Estado e da Finep, apoio da Rede Globo e da Secretaria Especial de Portos. As obras foram iniciadas no final de 2011 e a inauguração está prevista para 1º semestre de 2014.
museu do amanhã Uma das âncoras do plano de revitalização da região portuária do Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã está sendo construído no Píer Mauá, ocupando uma área de 12,5 mil m2. O projeto concebido pelo renomado arquiteto espanhol Santiago Calatrava será uma construção sustentável, por isso a utilização de recursos naturais do local – a água da Baía de Guanabara, que será utilizada na climatização do interior do museu – e a captação de energia solar. O prédio terá, em sua parte superior externa, grandes estruturas em aço que se movimentam como asas contínuas e sequenciais, servindo ainda como base para placas fotovoltaicas, que farão a 36
Segundo os arquitetos, o efeito sinergético alcançado pela composição adequada de materiais resulta em ganhos, onde surgem soluções estruturais mais leves e econômicas, entre as quais o aço e a madeira. O sistema estrutural parte de poucos pontos de apoio no solo que se decompõem em ramos, que se abrem em direção às coberturas, formando unidades estruturais, semelhantemente à estrutura das árvores. “Toda a parte estrutural é composta por peças pré-fabricadas e montadas no local, gerando menor desperdício e maior controle técnico”, explicam
os profissionais. O emprego de uma única solução de estrutura, fechamento e cobertura, e que se repete em todas as edificações, representa maior economia no processo. Outros aspectos Ao longo das curvas de nível serão instalados reservatórios horizontais para captação e armazenamento da água da chuva, a fim de prover o solo da umidade necessária. O programa arquitetônico está distribuído em quatro blocos: administrativo, pedagógico, habitacional, lazer e serviços, além
das torres de transposição vertical. O conjunto das edificações está disposto no terreno de forma a tocar minimamente o solo. A orientação das edificações, sobretudo para as áreas de permanência prolongada, permite o aproveitamento da iluminação natural no interior dos ambientes, que também contarão com sistemas de ventilação permanente e controlada. Os vedos externos, a maioria com venezianas, deverão proporcionar a filtragem da incidência direta da luz, favorecendo, ao mesmo tempo, a circulação do ar nos ambientes internos.
Divulgação
Elevação longitudinal
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Endereços > Escritórios de Arquitetura Andréa Gonzaga End.: Alameda dos Jurupis, nº 1.005, cj 32, São Paulo (SP) Tel.: (11) 5533-5171 www.andreagonzaga.com.br
> SISTEMAS DE FECHAMENTO LATERAL, COBERTURAS E STEEL DECK Flasan End.: Av. Barão Homem de Melo, nº 2.400, Belo Horizonte (MG) Tel.: (31) 3078-2400 www.flasan.com.br
Edo Rocha Espaços Corporativos End.: Avenida das Nações Unidas, nº 11.857, 8º andar, São Paulo (SP) Tel.: (11) 5505-1255 www.edorocha.com.br
> PROJETO ESTRUTURAL Companhia de Projetos Ltda. End.: Rua Mourato Coelho, nº 69, 06, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3061-2603
FGMF Arquitetos End.: Rua Mourato Coelho, nº 923, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3032-2826 Ipiranga Petróleo www.ipiranga.com.br Levisky Arquitetos | Estratégia Urbana End.: Rua Luís Alberto Martins, nº 90, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3721-3296 www.leviskyarquitetos.com.br Renzo Piano End.: Via Rubens 29, 16158, Genova Italy Tel.: +39 010 61 711 E-mail: italy@rpbw.com www.rpbw.com Roberto Loeb e Associados End.: Rua José Maria Lisboa, nº 1.077, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3081-6344 E-mail: loeb@loebarquitetura. com.br www.loebarquitetura.com.br Zanettini Arquitetura Planejamento e Consultoria Ltda. End.: Rua Chilon, nº 310, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3849-0394 E-mail: zanettini@zanettini.com.br www.zanettini.com.br
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Francisco Carlos Rodrigues Tel.: (31) 3409-1044 Kurkdjian e Fruchtengarten Eng. Associados End.: Rua George Eastman, nº 160, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3758-8416 Oppea Engenharia End.: Av. Santo Amaro, nº 1.932, São Paulo (SP) Tel.: (11) 2589-1990 > ESTRUTURA METÁLICA Codeme Engenharia End.: BR 381, Km 421, Distrito Industrial Paulo Camilo, Betim (MG) Tel.: (31) 3303-9000 E-mail: codeme@codeme.com.br www.codeme.com.br Engemetal End.: Rua Pedro Paulo Celestino, nº 150, Diadema (SP) Tel.: (11) 4070-7070 www.engemetal.com.br Grupo Imesul Tel.: (67) 3411-5700 www.grupoimesul.com.br
Jodi Estruturas Metálicas End.: Rua Pedro Cubas, nº 86, Piqueri, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3991-0110 E-mail: jodi@jodi.com.br www.jodi.com.br > CONSTRUTORAS 3R Engenharia End.: Rua Lucídio Lago, nº 96, Rio de Janeiro (RJ) Tel.: (21) 2218-6090 BR Construções End.: Rua Dr. Eduardo Amaro, nº 239, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3254-8439 www.br-construcoes.com.br Even Construtora End.: Rua Hungria, nº 1.400, 3º andar, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3466-3836 www.even.com.br MHA Engenharia End.: Av. Maria Coelho Aguiar, nº 215, Bloco F, 8º andar, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3747-7711 E-mail: mha@mha.com.br www.mha.com.br Serpal Engenharia e Construtora End.: Av. Ibirapuera, nº 2.332, Torre 1, 9º andar, São Paulo (SP) Tel.: (11) 5087-6550 www.grupoadvento.com/serpal SM3 Engenharia End.: Rua Bernardino de Campos, nº 318, cj. 23/24, São Paulo (SP) Tel.: (11) 5533-3920 www.sm3engenharia.com.br WTorre S.A. End.: Rua George Eastman, nº 280, São Paulo (SP) Tel.: (11) 3759-3300 www.wtorre.com.br
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