O Vale Sagrado - Património Religioso no Concelho de Valongo

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O VALE SAGRADO

PATRIMÓNIO RELIGIOSO NO CONCELHO DE VALONGO Joel Cleto (coord.), Márcia Barros, Suzana Faro, Nuno Ferreira Sérgio Jacques (fotografia)


Ao longo deste livro e para facilitar a descrição do interior das igrejas e capelas, bem assim como a localização de muitas das obras de arte aí existentes, utilizamos correntemente as referências “lado da Epístola” e “lado do Evangelho”. Estas indicações, muito correntes neste tipo de descriç es e inventários de Património Religioso, significam: Lado da Epístola – expressão utilizada para designar o lado (nave, absidíolo) direito de um templo, quando observado da entrada principal. Lado do Evangelho – expressão utilizada para indicar o lado (nave, absidíolo) esquerdo de um templo, quando observado da entrada principal.

Ficha Técnica Título: O Vale Sagrado – Património Religioso no Concelho de Valongo Autor: Joel Cleto (coord.), Márcia Barros, Suzana Faro, Nuno Ferreira Fotografia: Sérgio Jacques

Vídeo: Luís Morais

Coordenação geral: Tacitus. Património & História Edição: Câmara Municipal de Valongo Primeira Edição: Dezembro de 2023 Tiragem: 500 ex. Produção e Impressão: Tipografia Lessa – www.tipografialessa.pt ISBN: 978-989-35263-2-3 Depósito Legal: 525491/23


SUMÁRIO

PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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1.

INTRODU

O .................................................

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2.

SOBRE O PATRIM NIO IMATERIAL. Das devoç es, festas e prociss es e da necessidade de salvar a alma e afastar o demo . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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3.

AS FREGUESIAS E O SEU PATRIM NIO RELIGIOSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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3.1

Alfena Inventário do Património Religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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3.2

Campo Inventário do Património Religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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3.3

Ermesinde Inventário do Património Religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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3.3.1

O santuário de Santa Rita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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3.4

Sobrado Inventário do Património Religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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3.5

Valongo Inventário do Património Religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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4.

BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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5.

ÍNDICE DE FOTOGRAFIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Prefácio

“Mesmo que se fale somente de pedras ou de brisas a obra do artista vem sempre dizer-nos isto: que não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência, mas que somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser”. Sophia de Mello Breyner Andresen

O município de Valongo tem vindo a apostar no alargamento à comunidade científica e ao p blico em geral dos resultados da investigação e do trabalho desenvolvido, procurando constituir-se como uma plataforma de encontro. São indiscutíveis as repercuss es que as publicações trazem para o reconhecimento da importância na cultura e na história local, motivando, por isso, o interesse pelas diversas marcas. O património religioso, material e imaterial, é um elemento central e de diálogo intercultural no território de Valongo. E, por isso, constitui um bem cultural, social e espiritual indissociável da história, das vivências e das práticas religiosas das comunidades que, ao longo de séculos, edificaram os espaços de culto como expressão da sua religiosidade. A ideia de dar a conhecer o vasto património artístico e religioso do concelho começou a ganhar corpo em 2014 com a criação das logomarcas identitárias, numa invulgar assunção da marca

religiosa como vetor de promoção do município. O livro que agora se publica, da autoria do Dr. Joel Cleto, concretiza uma oportunidade nica de demonstrar a conciliação do valor patrimonial existente com a necessidade de preservar e salvaguardar este testemunho histórico, capaz de revelar a nossa identidade e fazer com que a nossa herança cultural seja um dos pilares para o nosso conhecimento. Trata-se de um levantamento histórico do património religioso que pretende ser uma viagem de descoberta pelo edificado, pela iconografia e pelas manifestaç es religiosas das cinco paróquias do concelho – Alfena, Campo, Ermesinde, Sobrado e Valongo e do Santuário de Santa Rita. Foram as igrejas, as capelas e o convento que determinaram, em muito boa parte, o crescimento urbano do concelho e até a composição social das áreas em que foram construídas. São bons exemplos de oficinas artísticas. E, se falamos em património religioso num contexto

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de liberdade de consciência e de culto, reportamo-nos a um acervo riquíssimo no concelho, que deve ser estudado, protegido e salvaguardado – tendo em mente a memória das diferentes pessoas, comunidades e culturas, que fizeram de um culto, parte importante da sua vida. Lembrando António Guterres, Secretário-Geral das Naç es Unidas, na cerimónia de entrega do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, Divulgação Património Cultural – 2020, a D. Tolentino de Mendonça, questionou-o “de que modo pode a cultura contribuir para a amizade social?”. O Cardeal respondeu em três palavras: “curiosidade, encontro e futuro”. Acrescentando, “a cultura ensina-nos o interesse pelos outros”. O património cultural é um motor indiscutível do presente e só com ele podemos pensar no futuro. É um património vivo que liga geraç es, cruza influências e assenta na evolução histórica, abrindo caminhos de diálogo e de cooperação entre as comunidades.

E todos somos chamados a assumir a capacidade de garantir que tudo quanto recebemos, de património material, natural ou construído, de património imaterial, bem como da própria criação contemporânea, deve ser preservado, protegido, beneficiado e transmitido nas melhores condiç es às gerações futuras. Esta publicação, que tive o gosto de acompanhar de perto, detém-se numa linguagem transversal, contextualizada do ponto de vista histórico, religioso e cultural, englobando diferentes áreas do conhecimento. Deixo uma palavra de felicitação e agradecimento ao trabalho desenvolvido, e faço votos para que cada geração se empenhe em cuidar desta nobre herança!

José Manuel Ribeiro Presidente da Câmara Municipal de Valongo

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Introdução

Território de xisto, de ouro, de serras, rios, bouças, vales e de pão, mas também de gente, Valongo cruza desde tempos imemoriais as suas crenças e devoções religiosas com essas características modeladoras e identitárias. O xisto com que se ergueram templos desde épocas ancestrais, o ouro que invadiu o interior desses espaços sagrados e que, de um modo exuberante desde o século XVIII passou a revestir, em finas folhas douradas, as madeiras provenientes dos seus bosques nas talhas dos altares erguidos à fé dos homens e mulheres numa religião que, há dois mil anos, adoptou também o Pão como um dos seus mais simbólicos esteios. Ocupando esse vale longo que se estende na base de serranias como as de Santa Justa e de Pias, banhadas pelas águas dos rios Ferreira e Sousa, encontra o visitante neste território de Valongo um misto de aglomerado urbano, de ruralidade ancestral e perenes marcas da natureza no seu estado natural. Uma trilogia que caracterizou a paisagem do Entre-Douro-e-Minho durante séculos, e que aqui se preserva de um modo notável, nomeadamente nas suas elevaç es que integram o Parque Serras do Porto (classificado como Paisagem Protegida – o “Pulmão Verde” da Área Metropolitana do Porto) e a Rede Natura 2000. Percorrer o território de Valongo é por isso um convite para aprazíveis passeios por trilhos pedonais ou para espreitar paisagens surpreendentes a partir da cumeada das serras – um ref gio para o Homem como para diversas espécies de fauna e flora que aqui encontram o seu ambiente natural. E certamente, desde épocas pré-históricas, espaços de referência para comunidades imbuídas de uma visão religiosa panteísta e que, nesses acidentes e fenómenos geológicos e naturais, montanhas, rios, fontes e bosques, encontravam as suas divindades ou as suas moradas.

Mas é também das entranhas dessas serras que se exploram desde há séculos riquezas minerais, com destaque para a lousa, utilizada ontem – e ainda hoje – como qualificado material de construção, e usada de igual modo, até um passado não tão longínquo, nas salas de aula, qual “tablet” de outros tempos em que o risco do pau de giz substituía o teclado digital. Mas já antes, há quase dois mil anos, das profundezas destas elevações se extraíam outras e mais valiosas riquezas, nomeadamente o ouro que fez arribar a estes nebulosos extremos do mundo ocidental e do então vasto Império romano, exploradores, engenheiros, comerciantes, altos funcionários e militares. E com eles, outras visões e práticas religiosas, politeístas, através das quais outros deuses, com as virtudes e os defeitos e pensados muito à figura dos homens, passaram a dominar este vale sagrado. A existência de ricos veios de quartzo aurífero motivou com efeito uma significativa mineração de ouro por parte dos romanos de que são prova, ainda nos nossos dias, os profundos poços e galerias visíveis a céu aberto em serras como a de Santa Justa, bem assim como extensas galerias subterr neas que, do alto da serra, se prolongam quase até à cidade dos nossos dias. A romanização veio, de resto, acentuar a import ncia de uma outra riqueza: a das suas férteis terras dos vales. Definitivamente o povoamento alicerçava-se aí, e nesses vastos terrenos agrícolas se produz desde tempos quase imemoriais o cereal para o tradicional fabrico do pão. Esse mesmo pão que, ainda durante a dominação romana, se tornará simbolicamente no “Pão da Vida” e em elemento central do ritual e da liturgia de uma revolucionária religião, monoteísta, que paulatinamente alastrará pelo vale e passará, até hoje, a marcar a sua sacralidade: o cristianismo. O pão que, de resto, desde cedo se tornará num dos

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mais identitários produtos de Valongo, até porque ao cereal local se juntará muito outro vindo de distantes paragens, já que este espaço se torna num dos mais dinâmicos centros produtores de panificação do país, beneficiando de um sábio “saber fazer” transmitido de geração em geração, com base também em m ltiplas e eficazes estruturas moageiras (nomeadamente de um grande n mero de moinhos e azenhas movidos pelos rios e ribeiras que cruzam o concelho), mas também em qualificadas nascentes de água, na abundante lenha retirada das serras e nas estratégicas vias que servem o território, com destaque para a estrada real que, vinda do interior, se dirigia para o Porto. Valongo especializar-se-á mesmo, e de um modo muito evidente desde o século XVII, como privilegiado centro de produção e abastecimento de pão à grande cidade, emergindo com especial evidência a afamada regueifa de Valongo – que ainda hoje dá nome à região. Ocupando pouco mais de 75 quilómetros quadrados (4,7 da superfície do aglomerado metropolitano do Grande Porto) e acolhendo cerca de 95 mil habitantes (6 da população residente na área metropolitana), o território é formado por cinco antigas e históricas freguesias que se alicerçaram como territórios profundamente identitários e

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autónomos com base em paróquias já existentes desde a Idade Média: Alfena, Ermesinde, Valongo, Campo e Sobrado, estas duas ltimas geridas, com base na ltima e muito recente revisão administrativa, como uma União de Freguesias. O acentuado crescimento urbano e demográfico dos ltimos anos, as velozes e modernas vias que cruzam o território e a malha urbana do que é hoje Valongo não permitem, num primeiro e apressado olhar, adivinhar a sua grande antiguidade e a intensa ruralidade que o caracterizam até aos dias de hoje. Mas basta repousar o olhar por breves instantes, perscrutar com atenção a paisagem que nos rodeia, e de imediato se tornam bem presentes as extensas áreas agrícolas que pontuam ainda a região, numa paisagem que o braço do homem foi construindo, enquanto esculpia a memória que define muito do seu perfil como comunidade. E por isso, e para lá do seu interessante património natural, percorrer a região é igualmente um convite para partir à descoberta de uma relevante herança cultural e humana, repleta de curiosas histórias e tradições, incluindo apelativas lendas cujas origens se perdem na neblina dos tempos. Disso mesmo é exemplo paradigmático o nome do território – Valongo – cuja génese está envolta em lendas que lhe adensam os mistérios e a curiosidade.


Lenda de Valongo Conta a lenda que em tempos antigos, nesses tempos em que o território seria povoado – como afinal em todos os tempos – de vidas cruzadas de amores tornados impossíveis por intolerâncias, desavenças e guerras, vivia no Porto um velho comerciante judeu, de seu nome Samuel. Convertido ao Cristianismo, fugira da sua cidade natal, nas margens do Mediterrâneo não muito longe de Jerusalém, quando os muçulmanos aí iniciaram uma feroz perseguição aos cristãos residentes na Terra Santa. Vi vo, desanimado, e apesar de ter resistido quanto p de, viu-se obrigado a partir com a sua filha Susana, ainda criança. Juntamente com outros companheiros, consegue escapar a bordo de uma embarcação que rumava em direção ao ocidente europeu onde muitos territórios eram ocupados por cristãos que os poderiam acolher. Aportados em Portucale, um povoado junto ao rio Douro, aí se estabeleceu e viveu ao longo de muitos anos, vendo tranquilamente crescer sua filha. Os profundos conhecimentos que tinha e a relevante prática comercial que adquirira no Mediterrâneo Oriental permitiram-lhe facilmente singrar no mundo dos negócios, cedo se tornando um conhecido, enriquecido e respeitado cidadão. No entanto, também o noroeste da Península Ibérica, disputado agora por cristãos e muçulmanos, conhecia novos e difíceis tempos de grande instabilidade, sendo o Morro da Pena Ventosa, onde vivia, ocupado pelos estandartes e pavilhões mouros. Encetada uma ativa perseguição religiosa, o clima era de enorme instabilidade na região, com repetidos ataques e surtidas militares até aos limites dos domínios cristãos, fazendo crescer o desânimo e o medo entre os habitantes do Porto e comprometendo o florescimento económico que a cidade sentira até então.

Tardando qualquer ajuda vinda das hostes cristãs do Norte, Samuel traçara um perigoso, mas astuto, plano: montou uma cilada com o auxílio de um pequeno grupo de amigos e raptou o filho do líder muçulmano que se instalara no Porto e dominava as cercanias – o jovem Domus – exigindo como resgate a paz, com a retirada das forças muçulmanas da cidade. Mas o carácter frio e insensível do líder mouro veio p r em causa o plano do velho judeu. Apesar das longas negociações e mesmo sob o risco do sacrifício do seu próprio filho, recusou-se a ceder. Aprisionado no interior da própria casa do negociante judeu, não longe do palácio de seu pai, Domus e Susana haviam-se aproximado e, entre eles, apesar das aparentemente inultrapassáveis diferenças, crescia um amor profundo. Como prova desse amor que os unia, Domus pede para ser batizado e casar com a jovem, fazendo cair irremediavelmente, a partir de então, qualquer possibilidade de negociação com seu pai. A fuga tornara-se, assim, a nica alternativa. Havia que recomeçar de novo, longe dali, num outro local onde pudessem viver pacificamente. Olhando a leste as distantes e desconhecidas montanhas que, ao longe, se vislumbravam desde o Porto, terras despovoadas de homens, repletas de vegetação e de animais bravios, Samuel decidiu que seria para lá que rumariam... Partiram durante a noite. Não que fosse muito elevada, mas a subida da serra, assegurada já à luz do dia, após longas horas de caminho na escuridão, foi demorada e penosa, por entre densa vegetação e caminhos por desbravar. Pese embora dominado pelo cansaço, Samuel não abdicava de assumir a dianteira incentivando o pequeno grupo. A encosta da serra permitia-lhes agora a distância suficiente da povoação e garantir que não haviam sido seguidos. Quando atingiram a cumeada, era ainda possível ver, ao longe, o mar, o Porto e os seus

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arrabaldes. Mas a partir daí, iniciando a descida, tudo isso ficaria para trás e uma nova vida teria lugar. Haveria que escolher um outro lugar para viver a partir de então. Era afinal de Portucale que fugia agora, esse mesmo povoado que o acolhera por tantos anos e sobre o qual, ao longe, a partir do alto desta serra, lançava agora um ltimo olhar. Nostálgico... Seguiam-no Susana e Domus. Espraiando o seu olhar sobre o verdejante e belo vale que serpenteava aos seus pés, demoraram-se a observá-lo. quela hora da tarde, repleto de sol, o vale era convidativamente belo em toda a sua surpreendente extensão. A imagem não passou indiferente à jovem Susana, que exclama: - Que belo É aqui que nos quedaremos. Neste bonito vale longo. Desceram. Instalaram-se. E aí… viveram felizes para sempre.

Capela de Susão

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Como todas as lendas, também esta, que explica não só a origem do topónimo Valongo, mas de igual modo, e em memória da bela Susana, a do lugar de Susão (considerado tradicionalmente o mais antigo da cidade), para lá da narrativa efabulada e repleta de maravilhoso, tem algo de credível. Neste caso a import ncia que este território definitivamente começa a protagonizar a partir dos tempos das origens da nacionalidade. Tempos em que aqui se cruzavam – como sublinha a lenda – cristãos, mouros e judeus. Diferentes fés, o mesmo território. E a sempre presente e necessária sacralização dos espaços. De facto, e associada aos saberes e ao “saber fazer” específicos desta comunidade, e à forma como se relacionaram com a envolvente, moldando e construindo paisagens, também a religiosidade das gentes de Valongo se alicerçou no seu percurso histórico e na sua afirmação identitária, ditando as suas devoções, moldando os seus gestos, transmitindo-se geração após geração em rituais enraizados, em que tantas vezes o sagrado e o profano caminham lado a lado, se confundem e se ajustam, e envolvendo, ainda nos nossos dias, uma parcela alargada da sua população. E assim o Vale…longo transformou-se também num vale sagrado. As manifestações religiosas de Valongo estão indissociavelmente ligadas a esta tradição rural do concelho, como bem evidencia a clara aproximação entre o ciclo agrícola e o calendário de festividades que vai acontecendo nas várias freguesias ao longo de cada ano. E se ainda hoje se cumprem os rituais, saem para a rua as gentes e os santos a cada celebração, se debruçam as colchas brocadas nas varandas em dia de procissão, se acendem as velas para alumiar o caminho sagrado na escuridão da noite ou nas alminhas dos caminhos para salvação dos que partiram ou para esconjurar o demo; um vasto património arquitetónico de igrejas e capelas (muitas delas particulares), nos locais hoje mais centrais como nos mais rec nditos, as in meras

imagens, paramentos, alfaias lit rgicas diversas que acolhem no seu interior, vêm atestar um longo percurso de enraizadas devoções em diálogo com a terra, a paisagem e o meio que rodeia a comunidade, mesmo quando este é marcado pelos acidentes e caprichos naturais. E porque esta sacralização do espaço é, também por isso, uma apropriação do território pelo Homem, fruto do acentuado crescimento de Valongo este processo é aqui bem notório, acompanhando o próprio desenvolvimento urbano, assistindo-se nos ltimos anos ao aparecimento de templos e espaços de manifestação religiosa em áreas que até há bem pouco tempo eram bouças e campos agrícolas, mas agora transformados em novas áreas residenciais. Nalguns casos estes novos espaços, impostos pela vontade dos habitantes de determinadas áreas em as verem igualmente providas de lugares de devoção, são já estruturas contempor neas com preocupaç es arquitetónicas (veja-se, a título de exemplo, o caso da Capela dos Sonhos em Ermesinde). Noutros casos, contudo, são ainda espaços muito embrionários, como é o caso de arrecadaç es ou garagens em casas de particulares, onde ao fim da tarde grupos de devotos se re nem para, junto de imagens e altares improvisados, se rezar o terço, numa estratégia de vizinhança, agrupando as pessoas destes bairros dos sub rbios (muitos deles desordenados e “clandestinos”, nascidos da pressão urbanística das décadas de 70 a 90 do século passado) que assim encontram uma resposta de proximidade evitando deslocaç es às velhas igrejas e capelas dos n cleos históricos que, não raras vezes, se encontram a dist ncias muito significativas destas novas áreas residenciais. Fenómenos de inegável interesse para estudos antropológicos, sociológicos e de geografia humana, estes emergentes e improvisados espaços religiosos contempor neos são, afinal, um importante testemunho dos fenómenos e do funcionamento dos mecanismos que, ao longo da História,

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levaram ao aparecimento de tantas outras igrejas e capelas que hoje possuem o estatuto de “históricas”. Quem sabe se, num outro livro sobre o Património Religioso de Valongo a editar daqui a algumas décadas ou séculos, alguns destas emergentes estruturas devocionais não terão já dado lugar a templos erguidos no século XXI O crescimento urbano e a necessidade por parte das comunidades em promover a sacralização dos novos território refletiu-se também, nas ltimas décadas, no aparecimento nessas novas zonas residenciais dos nichos consagrados a Nossa Senhora de Fátima que, obedecendo a uma tipologia relativamente homogénea, se multiplicaram um pouco por todo o país desde os finais do século XX. Importa, no entanto, sublinhar que alguns destes nichos surgem também associados a ermidas marianas bem mais antigas, como junto à capela da Senhora do Amparo, em Alfena, ou nas proximidades da capela do Senhor do Calvário em Valongo. Neste contexto importa, também, salvaguardar que, nestes ltimos decénios, surgiram no concelho de Valongo espaços de devoção (igrejas, salões de assembleias…) de outras expressões cristãs, que não exclusivamente católicas. Caso da Assembleia de Deus, das Testemunhas de Jeová e de recentes correntes neo-evangélicas que, por norma, ocupam edifícios já pré-existentes e, por isso, sem grande relevância histórica, artística ou patrimonial. Por tal motivo merece referência a igreja da Congregação Cristã em Portugal na rua da Liberdade, em Valongo, por se tratar de um templo construído de raiz. Este livro, resultante da vontade da Autarquia em produzir um conjunto de publicaç es que divulguem as características mais identitárias do território e da comunidade, vem por isso ao encontro de uma das dimens es em que tais particularidades mais se evidenciam. Porque se é verdade que vimos assistindo nas ltimas décadas a um decréscimo da prática religiosa na sociedade portuguesa, a

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que Valongo não é exceção, não deixa, no entanto, de ser um facto incontornável a import ncia que o Património religioso, material e imaterial, possui enquanto elemento agregador e identitário das gentes deste território. Um Património que, de um modo privilegiado, nos traça um percurso pela memória da comunidade, evidenciando os seus laços comunitários e de vizinhança, a sua capacidade de adaptação e resiliência, as suas emoções e devoç es, os gestos que se repetem desde um Passado não raras vezes longínquo, mas também os passos que alicerçam a construção de Futuro. Este é, por isso, um registo assumidamente datado. Ao longo dos tempos, e dos séculos, outros houve que escreveram já sobre as práticas religiosas e o património que lhes anda associado no concelho de Valongo. Não deixaremos ao longo das próximas páginas de evocar, aqui e ali, alguns desses “levantamentos” e descriç es. Mas este é um retrato dos nossos dias. E, porque atual, a sua preparação confrontou-se com as características (e nalguns casos adversidades) decorrentes do Presente. Os autores desta obra foram desafiados para esta abordagem em 2019 e, de imediato, viram-se limitados pela pandemia da covid19 que, não só obrigou a prolongados confinamentos das populaç es, mas também à suspensão, anulação ou reformulação de muitas das tradicionais manifestações religiosas (festas, romarias, procissões, pagamentos de promessas, o enfeitar de altares...). O próprio registo fotográfico, que sempre procurou dentro do possível enquadrar os elementos patrimoniais com a envolvente, dentro desta perspectiva de claramente identificar o Presente, não raras vezes é perfeitamente datável pela presença das máscaras faciais que durante dois anos fomos obrigados a utilizar. Este livro é, também por isso, uma outra forma de evocar e documentar um tempo “histórico” – o da pandemia – que o condicionou. E não só condicionou o trabalho, como promoveu também algumas alteraç es significativas. Com efeito, comparando os levantamentos efetuados


quia de Campo , que era afinal, na sua origem, uma Nossa Senhora das Graças, mas à qual foram retirados os raios que se lhe soltam da mão e que caracterizam a sua iconografia.

imediatamente antes e após a epidemia, confrontamo-nos com alteraç es que, nalguns casos, foram decorrentes do momento excepcional que se viveu e que motivaram reposicionamentos de imagens de santos nos altares, a proteção de alguns com vidros evitando a sua manipulação ou mesmo o beijo pelos devotos, e até o aparecimento de muitos pequenos “santinhos”, bem contempor neos e em plástico, denotando novas devoções ou a recuperação de algumas que, com evidentes objetivos de proteção à sa de, se encontravam adormecidas. Esta “manipulação” dos santos não é, contudo, um fenómeno dos nossos dias. Assim, e “dificultando” um pouco o trabalho de inventariação, não raras vezes, ao longo dos tempos e fruto das modas devocionais ou das afliç es de cada época, os altares foram conhecendo diversas imagens de santos e serviram de cenário para diferentes devoções. Aliás, e com base em antigos registos e descrições do interior de alguns dos espaços religiosos, constatamos até casos em que as próprias imagens foram modificadas para se adaptarem a novas devoções. É o caso, por exemplo, de um “suposto” Imaculado Coração de Maria, da paró-

A finalizar estas linhas introdutórias não podemos deixar de registar uns breves mas incontornáveis agradecimentos. Desde logo à Câmara Municipal de Valongo pelo desafio que nos foi lançado e pela sensibilidade que a Autarquia, e de um modo muito evidente o seu Presidente, José Manuel Ribeiro, vem demonstrando na valorização da História e do Património do município como instrumentos incontornáveis na promoção da qualidade de vida das comunidades e da afirmação e desenvolvimento dos seus territórios. Um agradecimento que estendemos à Vereadora Ana Maria Martins Rodrigues, responsável pelos pelouros da Cultura e Turismo, e aos diversos serviços municipais, permitindo-nos aqui destacar Manuela Ribeiro do Arquivo Municipal. Ao longo do trabalho contamos também com a colaboração de diversas instituiç es religiosas que possuem a tutela sobre m ltiplas capelas e altares. Imprescindível foi também o apoio dos vários párocos: Manuel Fernando Silva (Alfena); José Manuel Macedo e João Pedro Serra Mendes Bizarro (Campo), João da Silva Peixoto (Ermesinde), Avelino Silva (Santa Rita) Joaquim Samuel Ribeiro Guedes (Reitor de Santa Rita), Vicente António Nunes da Silva (Sobrado) e Luís Borges Martins (Valongo). Uma palavra ainda de agradecimento a José Macedo, José Gabriel, Micael Couceiro, Sebastião da Costa, ao Externato de Santa Joana, ao Instituto do Bom Pastor, à Santa Casa da Misericórdia de Valongo, ao Centro Hospitalar Universitário de S. João – Pólo Valongo ao Arquivo Municipal de Valongo, ao Museu Paroquial de Alfena, a todos os cuidadores do património e zeladores de capelas do concelho e a todos aqueles, das mais diferentes instituiç es e privados, que se disponibilizaram para nos abrir os seus espaços e partilhar os seus conhecimentos.

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Sobre o Património Imaterial

Das devoções, festas e procissões e da necessidade de salvar a alma e afastar o demo

O Património religioso do concelho de Valongo, nomeadamente na sua dimensão imaterial ditada pelo ciclo anual lit rgico, é um expressivo reflexo dos ritmos tradicionais sacros mas também profanos. Ao calendário religioso marcado pelas incontornáveis datas cristológicas e hagiográficas acrescenta-se o devir anual decorrente dos solstícios e equinócios e das tarefas agrícolas associadas às diferentes estações e períodos do ano. E, não raras vezes, o calendário religioso é, afinal, uma apropriação e cristianização das arreigadas, antiquíssimas e pré-cristãs formas de medir o tempo e de celebrar relevantes marcas temporais cíclicas. A Páscoa cristã, herdeira já da Páscoa judaica, é o momento crucial e de algum modo fundacional do cristianismo. Momento festivo e solene por excelência, assinalado por todo o território concelhio com manifestações dos Santos Passos, nele assenta a essência basilar da fé cristã, radicada na crença da Ressurreição. Essa mesma ressurreição que, nesse exato momento do ano – o da chegada da Primavera –, se comemora desde tempos pré-históricos. Porque este equinócio assinala, depois do longo Inverno, o renascer da Natureza. Ora, para o pagão – o homem do “pagus”, isto é, o homem do campo – este é de igual modo um momento crucial e fundamental do ciclo agrícola anual: o da crença e da esperança na ressurreição da natureza. E também por isso o solstício que marcará, três meses depois, a chegada do verão e com ele a época de uma esperada abund ncia, é assinalado e festejado desde tempos imemoriais. Cristianizado sob a forma de um dos mais destacados santos do cristianismo – São João Baptista, o nico cujo dia festivo é o do seu nascimento, e não o da sua morte, como acontece com todos os outros dias dos santos – este é, por isso, um dia que anda associado a arreigadas tradiç es e manifestações propiciatórias, práticas de magia

simpática através das quais se representa ou espelha o desejo dessa ambicionada abundância que a natureza e a prática agrícola deverá assegurar nas semanas e meses seguintes. E por isso as manifestações de notável cruzamento entre o sagrado e o profano que vemos ocorrer nesta data, de que são notável exemplo as festividades do S. João em Sobrado. Um período de exageros e transgress es que, sintomaticamente, havia sido já antecipado quando, por meados de fevereiro, a Natureza começara a dar os primeiros sinais de querer despontar da sua letárgica invernia. Momento – o tempo da Septuagésima ou Carnaval - aproveitado para, em práticas comunitárias, se partilhar ainda alguns dos excedentes e, em rituais não raras vezes de “passagem” da idade juvenil para a adulta, se festejar com alguma exageração e até crítica social (como veremos acontecer também no São João de Sobrado). Curiosa e resistente reminiscência dessas práticas e desse tempo do calendário é, em Ermesinde, o “Enterro do João”. Mas, pela frente, e depois do Carnaval, havia ainda que enfrentar as ltimas e, por isso, mais duras semanas de privação no calendário natural e agrícola – um período que, sintomaticamente e não coincidentemente, no anuário religioso se apresenta como o de jejum, abstinência e das mais difíceis provaç es: a quaresma. Período de contrição e introspeção que, também no concelho, adensam o contexto penitente e devocional que espoletará a Páscoa, com grande exuberância festiva, nomeadamente nos “Santos Passos” em Valongo. E o que dizer do Natal Esse outro solstício basilar do calendário anual. Aquela que sempre foi uma das maiores festividades pré-cristãs, com notável popularidade na Roma clássica, viu-se cristianizada do modo mais eficaz, associada ao próprio nascimento da figura central do cristianismo. E não

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foi por acaso ser este o momento escolhido para assinalar o advento de Jesus, já que se reveste de grande simbologia e analogia. Porque, da mesma forma que nessa noite solsticial o dia vence a noite, do mesmo modo que, a partir desta data os dias passam a retirar espaço à obscuridade, também, com o nascimento de Cristo, a Luz vence as Trevas. E Valongo não deixa, por tudo isto, de refletir este permanente cruzar do sacro e do profano, das tradições do anuário agrícola com o calendário religioso-lit rgico. E de um modo muito especial nessa dimensão imaterial do seu património religioso que são as prociss es e festividades. Algumas permanecem nos dias de hoje como momentos nicos e identitários da(s) comunidade(s), congregando milhares de pessoas e elevadas ao estatuto de “festas oficiais”. Outras, contudo, têm perdido o fulgor de épocas passadas, fruto da laicização e de um evidente crescimento, no ltimo meio século, do n mero daqueles, especialmente jovens, que já não se assumem como “católicos praticantes”. A crescente urbanização do concelho, o significativo aumento demográfico, a terciarização evidente do tecido produtivo inversamente ao declínio da prática agrícola, um inegável quebrar dos antigos laços comunitários e de vizinhança… são fatores que explicam como, sintomaticamente, um maior

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divórcio em relação aos antigos ritos e ritmos rurais conduziu também a um divórcio da comunidade para com as suas antigas festividades. Hoje, contudo, persistem muitas das práticas que no passado caracterizavam tais manifestaç es. Caso, por exemplo, de atos lit rgicos como as confiss es, novenas e mesmo missas e pregaç es que no dia ou dias anteriores ao da Festa se realizam nas igrejas ou capelas que centralizam a festividade. Permanece também o hábito, entre muitos, de no dia festivo se vestir a fatiota dos dias grandes. E entre alguns “forasteiros” que chegam de freguesias e paróquias vizinhas persiste ainda, no caso de algumas festas que mantêm um certo ambiente de romaria, a tradição do farnel. Mas já não são os fartos repastos de outras épocas em que a dist ncia, percorrida a pé, em mulas ou cavalo, obrigava a uma recompensadora refeição. O automóvel, os transportes p blicos e as modernas e rápidas vias de acesso simplificaram e por isso também relativizaram de modo evidente esta dimensão festiva, recreativa e de convivialidade de outros tempos. Em que, não raras vezes, quem vinha de locais mais distantes chegava em grupo e, nalguns casos, até com os seus próprios estandartes e bandeiras. Poderiam até trazer imagens em andores próprios, dos oragos das suas terras ou


dos santos a quem prestavam especial veneração – circunstância que revelava e acentuava a import ncia e a afirmação, também social, das irmandades e confrarias responsáveis por tais imagens e devoções. Hoje como no passado, para quem vem de fora, a deslocação à festividade religiosa, nomeadamente para acontecimentos grandes como a Festa das Rosas de Santa Rita ou as realizadas em sua honra, ou às prociss es do Senhor dos Passos em Valongo, a de Nossa Senhora do Amparo em Alfena, a de Nossa Senhora da Encarnação em Campo ou a de São João do Sobrado, faz-se numa aproximação ao recinto sacro que passa por deixar o meio de transporte a alguma distância - nos nossos dias

a viatura automóvel, se possível a uma sombra, à semelhança do que no passado se fazia com os animais. E, nesse caso, melhor ainda se ficassem próximos de uma fonte ou bica de água. A deslocação para o santuário, igreja ou para a mais ou menos singela capela que, por esses dias e nessas horas, são, todavia, o centro do mundo devocional, faz-se atualmente na sua maior parte por entre um ambiente claramente citadino. Mas persistem ainda os recintos, com os seus terreiros mais ou menos arborizados, que preservam muito do antigo ambiente destas festas. E se tal é evidente em capelas no alto das serras, como as de Santa Justa e Santa Rufina ou Nossa Senhora dos Chãos, também nos vales mais densamente urbanizados

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encontramos alguns desses resistentes espaços, como o envolvente à capela de São Bartolomeu na periferia da cidade de Valongo, ou o idílico parque de São Lázaro nas margens do Leça onde se localiza desde tempos medievais uma capela que anda associada a este santo. A aproximação ao templo continua a fazer-se, em muitas das festividades, por entre tendas de vendedores de todo o tipo de produtos, não muito diferentes dos que encontramos nas feiras e mercados. As frutas e doçaria regional, à qual se junta a tradicional regueifa do concelho, farturas e churros, e nas ltimas décadas as “gomas” e outras guloseimas, são acompanhadas pelas roulottes de bifanas, cachorros quentes, cervejas e todo o tipo

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de refrigerantes. Lado a lado com uma ou outra banca de pagelas, imagens de santos e velas para colocar nos altares, mas também das que aromatizam e refrescam o ambiente no lar. As produç es artesanais, essas deram lugar há já muitos anos, aos plásticos utilitários e aos brinquedos “made in China”. Resistem, aqui e ali, algumas das produç es locais dos tradicionais brinquedos em folha metálica – mais para saudoso gáudio dos adultos e colecionadores de artesanato, do que propriamente para a criançada. Mas é inegável, nestes ltimos anos, a valorização que vem sendo reconhecida a estes fabricos como marca identitária de Valongo. Já de outras paragens são os têxteis que marcam também presença significativa


nalgumas destas festividades e romarias. As feiras francas e os seus vendedores, importante fonte de receita para as “comiss es de festa” e outros organismos responsáveis pela sua realização, são há muito parte importante e incontornável deste património religioso imaterial onde, como já sublinhamos, o sagrado e o profano andam sempre “de mãos dadas”. Mesmo quando as prociss es são realizadas em períodos marcadamente outonais, invernosos e chuvosos, como acontece com os cortejos em honra de São Vicente em Alfena, em meados de janeiro, ou a São Martinho, em Campo, nos inícios de novembro. Igualmente herdeiras de práticas há muito arreigadas entre a comunidade, as decoraç es do recinto e não raras vezes das artérias que lhe dão acesso, são também uma presença habitual nas festas e solenidades religiosas do concelho. A aproximação à igreja ou capela, a subida ao santuário, é acompanhada por uma sinalização festiva que deixou há já muitos anos de se caracterizar por arcos de ramagens, flores e outras verduras, ou por bandeirolas e outros enfeites de papel colorido pacientemente trabalhados nas semanas anteriores pela comunidade. Mesmo alguma arquitetura efémera, montada por estes dias, como cruzeiros e arcos triunfais, também eles

concebidos e produzidos em materiais perecíveis, praticamente desapareceram. Durante o período em que realizamos este levantamento, só muito esporadicamente e pontualmente, fruto de iniciativas quase individuais, assistimos a produç es desse tipo. E, no entanto, até um passado muito recente havia algumas bem emblemáticas, como o levantar de um grande arco de festa “à minhota” no exterior da capela da Senhora da Encarnação, em São Martinho do Campo, durante as festas do lugar. Mas as decoraç es festivas e coloridas não desapareceram. Foram substituídas de um modo crescente, desde as ltimas décadas do século passado, por enfeites plásticos e iluminados por eletricidade, alugados e montados por empresas, algumas das quais de grande dimensão, que se especializaram neste tipo de serviço. Mas, deixadas para trás as bancas, tendas e roulottes dos feirantes, e as decoraç es mais ou menos feéricas e coloridas pelos elétricos néones, em dias festivos as ltimas dezenas de metros de aproximação ao templo continuam a fazer-se, na maior parte dos casos e tal como no passado, num ambiente já mais austero, grave, de crescente solenidade, num claro e consciente ato de romagem. Chegados ao pórtico do recinto ou à entrada do templo, que neste dia apresenta as suas portas

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francamente abertas, são ainda muitos, homens e mulheres, que se benzem antes de entrar. E, num raro boné que é retirado hoje da cabeça por um jovem devoto, revemos o gesto repetido à exaustão durante séculos daqueles, quase todos, que, ao entrar, se descobriam dos seus chapéus e boinas. Definitivamente o profano dá agora lugar ao sagrado. E se muitos procuram de imediato um lugar no interior do templo para se acomodarem antes da cerimónia religiosa ou da saída dos andores para a procissão que se anuncia, muitos outros, mal entrados no espaço sacro, de imediato se dirigem, quando é o caso, para os andores que se perfilam e preparam para a sua processional

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saída. Outros, contudo, nomeadamente no caso das festas com características de romaria e que atraem romeiros de paragens mais distantes, é para a capela ou altar-mor, sempre florido e bem iluminado, que se deslocam primeiramente. Aí abeiram-se das imagens dos padroeiros e, de um modo mais recatado, cumprem as suas devoç es pessoais, fazem os seus pedidos acompanhados pela oferta de ceras (não raras vezes figuradas e representando aquilo para que se está a pedir a proteção: órgão humano, figura de pessoas ou mesmo de animais ) e, porventura, pagam também as suas promessas e graças concedidas em rezas, em dinheiro, num ou outro objeto de ouro e em ex-votos que há muito deixaram de


ser as pequenas tábuas votivas pintadas que tão populares foram nos séculos XVIII e XIX, substituídas na atualidade por fotografias Os fiéis e devotos vão, entretanto, preenchendo o interior do templo. Nalguns casos em n mero tão significativo, como, entre outros exemplos, na Festa das Rosas em Ermesinde ou, na de São Mamede em Valongo, que a temperatura e o calor tornam o ambiente carregado e ainda mais austero, contrastando com o bulício refrescante que se vai desenrolando do lado de fora. E, como desde há séculos, às rezas e c nticos do interior, junta-se o espírito festivo do exterior, sublinhado aqui e ali por apontamentos musicais, ruidosos e alegres, que escapam ao controlo dos responsáveis religiosos. Hoje são as gravaç es da m sica da moda que jorram dos altifalantes dos vendedores e de um ou outro mais entusiasmado devoto. Mas já no passado este festivo e musical espírito era alimentado por diversos instrumentos musicais e c nticos dos grupos, especialmente de jovens, que em “rusgas” e através dos velhos caminhos rurais chegavam ao local. Na sua maioria tratava-se de grupos espont neos, mas havia também os tocadores recrutados e pagos pelos mordomos e confrarias responsáveis pela organização das festas. Foi apenas a partir das ltimas décadas

do século XIX que, no contexto das profundas transformações sociais e de costumes decorrentes do progressivo mundo industrial, e no quadro de um associativismo crescente e triunfante, que veremos multiplicarem-se pelo território nacional as bandas filarmónicas que, desde então, se tornarão presença obrigatória nestas manifestaç es religiosas. E, uma vez mais, assegurando a dimensão sacra, nomeadamente no acompanhamento grave das prociss es, mas também a dimensão profana, nas suas exibiç es nos coretos ou nos palcos improvisados e à volta dos quais se amontoavam e dançavam as gentes. E, a partir daí e até aos inícios da segunda metade do século XX, a afirmação e import ncia das festividades media-se também pela capacidade de se contratar afamadas bandas musicais. E, porque também neste caso “santos de casa não fazem milagres”, quanto mais longínqua fosse a proveniência da filarmónica, mais importante pareceria a festa. Isto apesar do concelho ter sido também alforge de relevantes associaç es musicais, das quais chegam aos dias de hoje instituições como a Banda Musical de S. Martinho do Campo, fundada em 1929, ou a Banda Musical de S. Vicente de Alfena de 1940, mas herdeira de duas outras anteriores e até aí rivais. Mas também já passou o tempo em

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que as bandas eram cabeça de cartaz. É se é certo que a referência à sua presença continua a figurar nos programas, cartazes, fl ers e na publicidade das festas nos sites do mundo virtual, contudo a primazia é dada agora aos cantores, dançarinos, dj’s e artistas da moda. Dois momentos, solenes e festivos, marcam as festas: a missa e também, na maior parte dos casos, a realização de procissão. A primeira, acompanhada pelo canto dos padres e devotos, tem como ponto alto o sermão assegurado pelo pároco local ou, idealmente, por um afamado pregador da região ou destacado dignatário na hierarquia da Igreja. Mas o grande momento da festa e da romaria continua, afinal, a ser o da procissão e da saída das imagens dos padroeiros para o exterior. Então todas as manifestações profanas cessam e se calam. O espírito religioso toma conta do

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recinto, alargando-se à área envolvente ao templo ou, mesmo, dependendo do percurso, a toda a cidade, como no caso dos impactantes cortejos processionais que decorrem nos centros urbanos de Valongo e Ermesinde nas festividades do Senhor dos Passos, na procissão de São Mamede ou na de São Lourenço. Quebrado apenas pelas rezas (nos ltimos anos amplificadas nalgumas procissões por ruidosos e pouco simpáticos megafones portáteis usados por celebrantes e acólitos) e pelas marchas compassadas e solenes das bandas filarmónicas, este é o mesmo silêncio reverencial que encontramos, todavia, noutras por vezes extensas prociss es que cruzam dist ncias consideráveis, descendo à noite pelo meio da serra (como no caso da procissão das velas de Nossa Senhora dos Chãos em Valongo) ou cruzando longos vales ainda marcados por vastos campos agrí-


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colas (como acontece nas celebraç es de Nossa Senhora do Amparo em Alfena). E é também nas cidades, espaço crescentemente anónimo e onde os laços de vizinhança se vão perdendo, que ainda assim se mantém viva e bem visível a tradição de engalanar casas, varandas e janelas, à passagem da hoste processional, com colchas, colgaduras e outros ricos panos de aparato. São ainda as fortes, resistentes e impactantes reminiscências do barroco. Cénico, exuberante, teatral Embora as origens das prociss es remontem à época Clássica, e mesmo que o andor do padroeiro São Loureço seja, em Ermesinde, levado aos ombros de motards na sua inconfundível indumentária de couro negro dos tempos atuais, nem por isso

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esta, como as restantes prociss es do concelho, como por todo o país, deixam de evidenciar essa persistência dos séculos XVII e XVIII. Ver passar uma procissão é, em larga medida, assistir a uma manifestação devocional, mas também artística e cenográfica barrocas. O espetáculo, o apego à exuber ncia e ao belo e o apelo aos sentidos, fazem parte dessa estratégia da Igreja, em grande parte já definida no concílio de Trento na segunda metade do século XVI, como forma de fidelizar e “prender” os fiéis face às críticas dos reformistas protestantes. Sinal dos tempos, contudo, muitas das antigas regras das prociss es e que persistiam até às ltimas décadas do século XX, praticamente já desapareceram. Desde logo a antiga orientação


de, hierarquicamente, e seguindo os andores, os homens se apresentarem à frente e as mulheres atrás. Mantém-se, no entanto, a tradição dos devotos e romeiros seguirem compostamente em duas filas. Entre essas alas, atrás dos andores, seguem com as suas bandeiras e pend es bem erguidos, os zeladores e representantes das diferentes irmandades e confrarias locais (e por vezes vizinhas) responsáveis pelas respetivas devoç es. A presença dos membros das confrarias é também evidenciada pelo uso que cada um faz de uma vara processional, quase sempre metálica e muitas vezes com a insígnia da instituição. A vara do juiz, figura máxima da confraria, distingue-se das restantes por ser, em regra, mais decorada e se possível em prata. A insígnia da confraria, um emblema em forma de medalhão com a representação do orago, é geralmente também utilizada através da sua aplicação nos paramentos, opas, capas e outras indumentárias usadas pelos confrades. A ordem de precedência dos andores e dos representantes das diferentes confrarias no cortejo é respeitada por todos e, por forma a evitar quebras de protocolo ou mesmo algum potencial desacato, alicerça-se por regra em antigas e reiteradas decis es. Indiscutível é ser a procissão precedida pelo

estandarte e pela cruz alçada da paróquia, por isso igualmente designada por cruz processional (e usada também nos enterros), apresentando a figura de Cristo numa das faces e a da Virgem ou de um santo na outra. Içada na procissão sobre uma haste, é esta mesma cruz que é habitualmente colocada numa base sob o altar da igreja. Juntamente com a cruz processional o cortejo é também aberto algumas vezes, nomeadamente para acompanhar o Santíssimo Sacramento ou o Viático, por uma campainha processional que adverte os transeuntes. Entre as duas alas que enformam a procissão, e atrás dos pend es e andores, seguem igualmente os “anjinhos”, grupo de crianças vestidas de anjos, com as suas asas artificiais, à semelhança, na atualidade, das flores que ornamentam as suas cabeças. Nos dias de hoje são também muito raros, mas ainda ocorrem, especialmente em grandes romarias como a de Santa Rita ou de dramático significado como as prociss es associadas à Paixão de Cristo, devotos que, como promessa ou já como pagamento de um voto, incorporam a procissão personificando e dramatizando os passos de Cristo, da Virgem ou de santos da sua particular devoção, envergando trajes relacionados com as respetivas iconografias e conferindo uma inegável, intensa,

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vivida e por vezes sofrida espiritualidade. As prociss es possuem, de resto, para os fiéis católicos, um profundo significado. Desde logo a crença de que, nessa caminhada cerimonial através da qual se transporta pelas ruas o Santíssimo Sacramento ou as imagens de Jesus Cristo, da Santíssima Trindade, da Virgem Maria ou dos santos, se espalham entre as gentes e o território percorrido as bênçãos proporcionadas pela fé. Por outro lado, seguir uma procissão até à Casa de Deus (a igreja ou a capela), nomeadamente de um modo penitente, é uma forma de procurar imitar a “procissão” de Jesus rumo ao calvário. Numa perspetiva mais erudita e teológica a procissão reveste-se também das características de Missão, levando o devoto a sair de casa, dando testemunho p blico da sua fé e anunciando o Evangelho. Por tudo isto, e ainda muito dentro da estética barroca que persiste e domina nas prociss es, um dos momentos mais importantes do cortejo é a passagem do pálio que, como sinal de distinção, assinala e cobre a pessoa e/ou o objeto que mais se pretende destacar e honrar na cerimónia. A sua ocorrência é acompanhada e antecipada, nomeadamente na presença do Santíssimo Sacramento, por lanternas processionais e tocheiros que, içados sobre hastes, se apresentam aos pares

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e com motivos decorativos religiosos. Também sustentado e transportado à mão através de varas, o pálio é uma espécie de dossel de formato tendencialmente retangular feito de pano de seda bordado e do qual pendem ricas franjas. Sob ele segue o membro do clero responsável por transportar o Santíssimo Sacramento ou um relicário portátil, um pequeno cofre que contém as relíquias do santo venerado ou outros objetos sagrados. Cada vez menos usual é a presença e a utilização da umbela – uma sombrinha que, como sinal de veneração, protegia do sol e da intempérie o Santíssimo ou altos dignatários da Igreja presentes no cortejo. semelhança dos pálios, também as cores das umbelas variam de acordo com o tempo lit rgico em que são usadas, podendo apresentar como tonalidade dominante o branco, roxo, verde, vermelho, rosa, preto, dourado ou prateado. Não muito distante do pálio, presença sempre notada nas prociss es é a dos representantes do Poder Local, símbolos maiores, nos nossos dias, da comunidade. Com efeito, e não obstante a laicidade do Estado português, definitivamente alicerçada há mais de cem anos com o triunfo do regime republicano em 1910, conscientes da import ncia identitária que estas festividades possuem junto das populaç es, é habitual a presença na procissão


de personalidades como os presidente da Junta de Freguesia e outros elementos do executivo e da sua Assembleia, e mesmo dos presidentes da C mara, vereadores e outros eleitos autárquicos, acompanhados por vezes de outras autoridades civis e militares locais e até nacionais. Outras corporaç es integram também o cortejo, com destaque para algumas que surgiram ao longo dos ltimos cem anos, como é o caso dos diferentes agrupamentos de Escuteiros e das associaç es de Bombeiros que, no caso dos Voluntários de Valongo recuam já a 1883 e nos Voluntários de Ermesinde a 1921. Uma tradição que persiste nos dias de hoje é o

colocar nas imagens que seguem na procissão, nomeadamente nas da Virgem, brincos e por vezes cord es de ouro com medalhas, oferecidas por devotos. Estas ofertas por vezes mantêm-se em exposição na imagem e no interior da igreja durante todo o ano e para lá das prociss es. É o caso de Nossa Senhora da Encarnação (Campo), Nossa Senhora da Hora (Valongo) ou o de Nossa Senhora do Amparo (Alfena). Neste ltimo caso, muitas de tais ofertas foram mais recentemente derretidas e com esse ouro foi produzida uma custódia. Depois da procissão percorrer o circuito definido, acompanhada de rezas, ladainhas, c nticos e, nalguns casos, por bandas filarmónicas, vive-se um

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outro momento intenso da festa: o seu “recolher”, com o regresso dos andores à igreja ou capela. É um instante solene para as ltimas invocaç es e a bênção geral, mas é também o momento em que a pirotecnia, com os seus estrondosos foguetes, como que marca e anuncia a passagem, de novo, da festa religiosa para a festa profana. Na sua generalidade as tradicionais festividades religiosas do concelho de Valongo, arreigadas em manifestações de carácter popular e arcaico às quais se foram somando e ampliando, até aos dias de hoje, modelos mais atualizados e eruditos, possuem uma limitada irradiação geográfica, congregando as comunidades das respetivas paróquias e as das mais próximas, num raio de muito curtas dezenas de quilómetros – o que é perfeitamente habitual neste tipo de festividades, profundamente enraizadas nos laços de vizinhança e ditadas pelos ritmos anuais dos trabalhos agrícolas. Há, no entanto, no território concelhio algumas express es festivas, profundamente identitárias e diferenciadores, e que também por isso acabaram por assumir uma faceta de “festas oficiais” locais e municipais e até como inegável produto de turismo cultural, e que possuem um impacto geográfico muito mais alargado, de escala regional e até nacional. É o caso da Bugiada

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de Sobrado, uma das mais notáveis e tradicionais festividades solsticiais de verão à escala mundial; ou das festas de São Mamede de Valongo, alcandoradas ao estatuto de Festas da Cidade; e, obviamente, a romaria em honra de Santa Rita em Ermesinde, associada a um santuário – o da Nossa Senhora do Bom Despacho da Mão Poderosa, conhecido por “Formiga” - cuja monumentalidade, em rigor anterior ao desenvolvimento da fortíssima devoção a Santa Rita de Cácia, teve um crucial apoio régio, nomeadamente da rainha Maria Ana de Áustria, esposa do poderoso D. João V. E se é verdade, como já referimos, que o património religioso do concelho de Valongo, nomeadamente no seu calendário religioso e festivo, é profundamente marcado pelos ritmos tradicionais das diferentes tarefas e ciclos agrícolas associados às diferentes estaç es e períodos do ano, também não deixa de ser verdade que algumas particularidades geomorfológicas e naturais do próprio território condicionaram e fizeram surgir devoç es que andam associadas a essas características. Veja-se, por exemplo, a associação das devoç es a Santa Justa e Santa Rufina no alto da serra de Valongo. A localização da capela, próximo das enormes e profundas cavidades resultantes da mineração


aurífera dos romanos há já quase dois mil anos, não é alheia à hagiografia das santas, nomeadamente da primeira, martirizada a mando de um imperador romano com o seu lançamento a um profundo poço. Mas é também a geografia, num território que desde épocas ancestrais se afirmou de igual modo pela import ncia das vias que o cruzam, que ditou o aparecimento de muitas das suas capelas. Paradigmática é a capela de São Lázaro em Alfena junto de uma antiquíssima ponte medieval, com prováveis origens romanas. Neste caso estamos perante um espaço que, pelo isolamento que o caracterizava no Passado, foi utilizado como gafaria – um hospital-asilo para onde, a fim de evitar o contágio, se enviavam os leprosos, também designados por lazarentos porque era a São Lázaro que se apegavam na esperança de uma cura. Mas,

porque associada a uma estrutura viária importante, nomeadamente uma ponte sobre o rio Leça, é também aqui que vemos ocorrer, até aos dias de hoje, a devoção a São Gonçalo de Amarante, um conhecido “construtor” de pontes e, igualmente, um padroeiro e protetor de viajantes, peregrinos e de quem se vê obrigado a cruzar pontes e rios. Noutros casos a implantação das capelas obedece a uma estratégia que visa, se possível, um forte impacto cénico e de grande domínio visual. É o que acontece, por exemplo, com as capelas de Nossa Senhora dos Chãos ou de Santa Justa em Valongo, ou com a de Nossa Senhora do Amparo em Alfena. Outras vezes, no entanto, os motivos que levam ao aparecimento de capelas, e mais ainda de cruzeiros e alminhas, está também relacionado com espaços que importava cristianizar, nomeadamente em lugares ermos ou cruzamentos mais

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ou menos afastados dos n cleos habitados, suscetíveis do aparecimento do demo para “desviar” o viajante do “bom caminho”. A necessidade de cristianizar e exorcizar tais locais levou, com efeito, ao aparecimento de tais estruturas. Manifestação relevante da religiosidade popular portuguesa, que em Valongo se materializa em dezenas de exemplares, merecem destaque as “alminhas do purgatório” que, para lá da sua singela arquitetura, andam associadas a uma interessante dimensão imaterial do fenómeno e do património religioso. De facto, no Cristianismo primitivo não havia purgatório, apenas o inferno e o paraíso. Mas qual o destino imediato das almas

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após a morte Se algumas, poucas, face ao que havia sido uma vida exemplar, poderiam ir diretamente para o céu, outras, contudo e dada a sua vida extremamente pecaminosa, desciam de imediato para as profundezas do inferno. Mas à maioria das almas, e porque todos temos consciência dos pecados que, com maior ou menor gravidade, vamos praticando, o que lhes acontecia até ao “final dos tempos” e ao Juízo Final É a esta d vida que, ainda nos primeiros séculos do cristianismo, alguns teólogos procuram dar resposta, equacionando um terceiro destino, transitório, onde as almas permanecerão a purificarem-se para uma posterior subida ao paraíso. E por isso o purgatório é o destino da esmagadora maioria das


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pessoas como sublinham, de um modo popular e naif, as representaç es pintadas nas “alminhas” mas também pinturas mais eruditas em retábulos e altares (como podemos observar no Museu da Paróquia de Alfena, no espaldar de uma caixa de esmolas proveniente provavelmente da antiga igreja paroquial), onde, ao lado de in meras e anónimas representaç es de almas, também vemos figuras coroadas de reis e rainhas, bispos e até papas. Outra representação significativa, e esta bem mais erudita, é a oitocentista pintura de Nossa Senhora das Almas/ Nossa Senhora da Purificação, da autoria do consagrado João Baptista Ribeiro, existente no Museu Municipal de Valongo e proveniente da igreja de São Mamede de Valongo.

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Apesar de teorizada por Santo Agostinho já no século IV, a ideia do purgatório demorará, contudo, quase mil anos a ser verdadeiramente aceite. Só no século XII, com Inocêncio IV veremos um papa a assumir, pela primeira vez, a sua existência. E o purgatório será, de resto, um elemento importante, poucos séculos depois, no confronto entre o movimento da Reforma (muitos dos protestantes não aceitam a sua existência) e a Igreja Católica. Será, aliás, o contrarreformista concílio de Trento, no século XVI, a assumir o purgatório definitivamente como um dogma. Descrito como um limbo, um local de passagem, o purgatório não é, para a Igreja Católica, um


lugar mas antes uma “condição de existência”. Contudo, para a cultura popular, e mesmo para alguma tradição erudita, trata-se de um lugar físico, bem mais próximo do Céu do que do inferno, mas ainda assim um espaço que, para expurgar as almas dos seus pecados, é de penitência e de sofrimento, dominado pelas chamas purificadoras que nos aparecem nas tradicionais representaç es do purgatório. Um doloroso fogo da purificação que, na descrição de Santo Agostinho, não se compara a nada que um homem possa sofrer em vida. Mas quanto tempo aí permanecem as almas E é esta d vida que nos conduz às “alminhas”. De facto, pelos ensinamento da Igreja, o destino e o “resgate” dos espíritos que estão no purgatório pode ser afetado pelas ações dos vivos: os mortos dependem dos vivos O maior ou menor tempo de permanência das almas nessas chamas resulta dos pecados que possuam, mas também da intercessão dos vivos, das oraç es e missas que mandem rezar pela salvação das almas, pelas esmolas que ofereçam e pelas penitências que estejam dispostos a fazer pelos falecidos. E porque as missas em sufrágio das almas eram vistas como especialmente eficazes no encurtar do tempo de sofrimento no purgatório, assim se explica a popularidade que durante largo tempo tiveram as confrarias das almas porque, se eventualmente

os familiares e amigos falharem nesses preceitos, a confraria tinha estatutariamente a missão e a obrigação de assegurar de um modo regular missas pela salvação das almas dos irmãos entretanto falecidos, e o acender de velas e candeias nos altares com o mesmo desiderato. E foi esta mesma preocupação dos vivos com a “salvação” das almas no purgatório que conduziu a essa expressão tão peculiar da religiosidade popular que são as “alminhas”. Muito populares em Portugal, no contexto da contrarreforma, desde o século XVII, elas funcionam como uma lembrança e chamada de atenção da necessidade de se rezar pela almas dos falecidos. E por isso, como memória, localizam-se muitas vezes em locais de mortes trágicas, de assassinatos, acidentes Veja-se, a esse propósito, o paradigmático exemplo de uma das mais recentes alminhas do concelho: a que, erguida em 1959 em Campo, na estrada para Penafiel, assinala o local do acidente rodoviário que vitimou o famoso Padre Américo. Bem menos conhecido e não sendo em boa verdade uma “alminha”, não deixa de ser interessante o obscuro “marco” junto a um rural caminho de pé-posto de Sobrado, datado de 1875 e que, segundo a lenda e tradição, assinala o local onde teve lugar um assassinato. Mas as alminhas aparecem também, e de um modo

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significativo, em cruzamentos e pontes (de novo a preocupação com o esconjurar do Belzebu) e nas bermas de estradas. Até porque, nomeadamente em épocas em que não existiam ainda os automóveis, os viajantes e utilizadores dessas antigas estradas tinham tempo de viagem pela frente e por isso o apelo nelas escritos para se rezar um Pai Nosso ou outra oração porque “Vós que por aqui passais, lembrai-vos de nós que penamos”. E, claro, um apelo também para se deixar uma moeda na caixa de esmolas para se mandar rezar missas, comprar velas e azeite para as candeias. Datadas de 1670, embora “restauradas” em 1971, as Alminhas da Estrada Velha, em Valongo e património da Confraria das Almas, são as mais antigas do

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concelho e umas das mais antigas do país. Uma outra importante, antiga e popular devoção é a que os católicos prestam às relíquias – fragmento do corpo de um santo, ou de um objeto que lhe pertenceu, tenha sido por ele manuseado ou usado para o seu suplício. Também em Valongo há relíquias geradoras de afeição e veneração com destaque, de um modo muito especial, para as de Santa Rita no santuário que lhe é consagrado em Ermesinde. Curiosamente é também neste templo que encontramos a mais recente das relíquias depositadas no concelho, constituída por cabelos do santo João Paulo II. Bem mais antigas são as de Santo André, objeto de devoção em Sobrado,


através de uma imagem relicário do Santo existente na igreja paroquial, mas também de um relicário portátil que, na atualidade, se encontra salvaguardado na residência paroquial. Não se tratando propriamente de uma relíquia – porque nos referimos a todo o seu corpo – é forçoso referir também a devoção prestada nos dias de hoje à freira beata Irmã Maria do Divino Coração, mais precisamente ao seu corpo ”mumificado” exposto na igreja do Bom Pastor, em Ermesinde, pertencente à Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor. Recordada no jardim exterior por uma escultura que a retrata, da autoria de Irene Vilar, é contudo o seu sarcófago em vidro no interior do templo que congrega todas as atenç es, oraç es e junto dele são também depositadas grande n mero de cartas, com pedidos mas também de agradecimento por graças concedidas, que revelam, nas suas m ltiplas línguas (com destaque para o alemão, francês e inglês) a proveniência em peregrinação de devotos das mais longínquas e diversificadas origens. Mas, voltemos às festas religiosas e à sua arti-

culação com os calendários anuais lit rgico, mas também profano e agrícola. E comecemos pelo fim. Pelo ltimo dia do ano, consagrado a São Silvestre que, segundo a sua hagiografia (a biografia do santo), morreu a 31 de dezembro do ano 335. Eleito bispo de Roma e papa em 314, a ele se atribuem importantes e relevantes inovaç es na Igreja, decorrentes do facto de ser contempor neo do imperador Constantino e do início do processo que levará o Império Romano a assumir o Cristianismo como a sua nica religião. A sua import ncia foi tão significativa que Silvestre é por vezes designado como o Isapóstolo, igual aos Apóstolos. Apesar de não ser um santo muito popular em Portugal, o seu nome fica incontornavelmente ligado a um dos momentos anuais mais festivos decorrente das celebraç es da noite da passagem de ano e que têm lugar um pouco por todo o lado. Festejos que, obviamente, nada têm a ver com o Santo a não ser o facto deste ser, no calendário religioso, o seu dia e noite. Uma das raras excepç es ocorre a cinco quilómetros de Viana do Castelo, no Monte e respetiva capela de São Silvestre, em Cardielos, com a organização nesse dia de uma festa, famosa por nela ocorrer uma bênção aos animais. Circunstância que decorre do Santo ser

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considerado um protetor do gado – atributo talvez surpreendente numa personalidade tão marcadamente erudita e urbana. Mas é provavelmente esta característica e atributo de São Silvestre, que assim se vê também ligado ao mundo rural, que explicará a sua enraizada e bem antiga devoção em Ermesinde. Objeto de um significativo processo de industrialização e acentuado desenvolvimento urbano ao longo do século XX, Ermesinde, a antiga S. Lourenço de Asmes, era ainda descrita em 1921 como tendo “condiç es naturais para se tornar uma das mais famosas estâncias campestres do País, para recreio da população abastada do Porto, o que em parte já vai sucedendo”. Enfim

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a Sintra do Porto E para isso muito contribuía, obviamente, todo o seu ambiente natural e rural, associado aos férteis terrenos irrigados pelo rio Leça, que não só asseguravam relevantes produç es agrícolas em grandes quintas, como fazia mover os rodízios e outras estruturas moageiras que produziam significativa farinha, mas também, desde épocas antigas, uma não menos interessante produção de gado. Não admira por isso que, cedo, os habitantes de S. Lourenço de Asmes se tenham apegado a São Silvestre e procurado a sua proteção. Para si e para os seus animais. Sabemos que a capela que lhe é dedicada bem no centro de Ermesinde, e considerada como a mais antiga


construção da cidade, já existia em 1623 (é citada no “Catálogo dos Bispos do Porto” de D. Rodrigo da Cunha). Hoje, num processo acentuado pela pandemia da Covid 19, o santo já aqui não tem festa. É apenas celebrado com uma missa em sua honra. Mas muitos advogam o seu regresso. A intermitência da realização das festas a São Silvestre em Ermesinde tem sido, aliás, uma característica desde os anos 70 do século XX. Anunciada muitas vezes como estando “morta”, ela vai manifestando uma curiosa tenacidade e ressurge, embora pequena e com a duração de um só dia, ao fim de alguns anos. Voltará a acontecer Certo é que a época do ano não é a mais convidativa para festejos. Depois do grande momento festivo natalício ocorrido apenas uma semana antes, de grande relev ncia e de forte investimento (também financeiro, especialmente no nosso tempo contempor neo e consumista), não há grandes disponibilidades para novas e profanas manifestaç es. Por outro lado é Inverno, período menos dado a festividades, convidando ao recolhimento sob um clima mais rigoroso de chuva e frio, tempo também, no passado, de abrandamento dos trabalhos nos campos. E se por tudo isto não há grande abertura para festejos, sobram para

as manifestaç es religiosas. Encontramo-nos, de resto, no designado “ciclo dos doze dias” instituído no Concílio de Tours, no já bem longínquo ano de 567, e que veio calendarizar as comemoraç es lit rgicas em torno de relevantes momentos da inf ncia de Jesus, desde o seu nascimento a 25 de dezembro até à Epifania, ou Dia (da Adoração) dos Reis (Magos), a 6 de janeiro, passando pela Festa do Menino que, no primeiro dia do ano, celebra a circuncisão de Jesus. Muito mais recente são as cerimónias que têm lugar no dia 1 de Janeiro, Dia Mundial da Paz, a Nossa Senhora da Paz. Uma devoção que, em Valongo, tem uma especial expressão em Alfena, na capela contempor nea consagrada a esta expressão mariana. Este é também um tempo de c nticos seculares de religiosidade popular – as Janeiras - que, muito provavelmente com origens pagãs mas entretanto cristianizados em torno das figuras de Jesus e dos Magos, se revestem de características propiciatórias para a comunidade, em torno de dádivas, pedidas por uns e oferecidas por outros, que se deseja simbolizem um bom aug rio para o novo ano que agora se inicia. Também em Valongo esta tradição, em que grupos de homens e mulheres eventualmente acompanhados por m sicos

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percorriam os caminhos rurais, batendo de porta em porta, pedindo oferendas em troca dos c nticos ao Menino ou aos Reis, caracterizou até há poucas décadas as noites invernosas deste período. Hoje o carácter espontaneamente popular desta tradição desapareceu, mas mantém-se viva a herança em iniciativas como os Encontros “Cantares das Janeiras”, promovidos nestes ltimos anos pela Casa das Artes de Sobrado, envolvendo agrupamentos como a Academia Sénior de Campo e Sobrado, Associação de Reformados e Pensionistas de Campo, Grupo de Cantares Rusga e Tradiç es, Grupo Etnográfico de Danças e Cantares do Norte, ou o Rancho de Santo André de Sobrado. O fim dos “Reis” e da Epifania continua, nos nossos dias, a marcar também o momento do calendário em que, em casa ou na igreja, se deverá desmontar o presépio marcando o definitivo fim do ciclo festivo, com a duração de um mês, em torno do solstício de Inverno e da sua cristianização com o Advento e o Natal. Sintomaticamente, no passado, o encerrar destas festividades andava associada em Ermesinde à “Festa do Menino Jesus dos Rapazes”, realizada no domingo seguinte aos “Reis” e durante a qual, em finais do século XIX, está documentada a tradição dos jovens de Ermesinde transportarem o “menino Deus” pelas ruas da localidade. Este manuseamento da imagem do “Menino” de algum modo chegou aos dias de hoje numa tradição que marca o Natal quando, retirada da sacristia, a imagem é colocada no presépio na nave da igreja. Escassos dias depois dos “Reis”, assinala-se, a 10 de janeiro, o dia de São Gonçalo de Amarante, um dos mais populares santos portugueses, na base de importantes festividades em vários locais do país, com destaque para as que têm lugar em Vila Nova de Gaia e, obviamente, junto do seu t mulo em Amarante. Figura associada às peregrinaç es, a Roma e à Terra Santa, este religioso português do século XIII ficará famoso por mila-

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gres que a tradição lhe atribui, envolvendo, entre outros, a construção de uma capela num rochedo sobre o rio T mega (onde será sepultado e dará origem, mais tarde, ao Mosteiro de Amarante) e o da edificação da célebre ponte sobre o mesmo rio. Para a celebridade do Santo, que logo após a sua morte, em 1262, começou a atrair multid es que rumavam (e continuam a rumar) até à sua sepultura, contribui também a circunst ncia de ser advogado dos ossos fraturados, dos peregrinos e viajantes que cruzam pontes, dos males da vida conjugal e dos casamentos “impossíveis” ou das “velhas”. E a sua intercessão nestes casos é de tal forma afamada que, em boa verdade, assistimos a uma “canonização popular” já que, oficialmente e em rigor, Gonçalo de Amarante não é santo. A Igreja beatificou-o em 1561 mas a sua canonização “ainda” não teve lugar. Indiferente a esta circunst ncia há séculos que o povo o considera santo e lhe presta grande devoção. Também em Valongo. A esse propósito é significativa a presença de uma sua imagem, como já referimos anteriormente, no interior da capela de São Lázaro, junto a uma velha ponte medieval em Alfena. A sua presença no interior deste pequeno templo, onde é uma das raras imagens aí devocionadas, e o pormenor da representação de uma ponte aos seus pés é, neste caso, elucidativo do seu papel como protetor de quem cruza este tipo de estruturas. Atributo que, provavelmente, não foi tido tão em conta na sua ocorrência também no interior da capela de Nossa Senhora da Hora em Valongo. Mas, se há local no concelho em que o santo é objeto de especial atenção, esse é, obviamente, o lugar de São Gonçalo em Sobrado, com a capela que lhe é consagrada. As capelas Já que, de facto, são duas. Uma muito recente, em betão e inaugurada em 1981 junto da histórica fábrica têxtil CIFA (1949-1983), e uma outra, bem mais singela e antiga, que tem a sua origem numa ermida que, já associada a São Gonçalo, era referen-


ciada nas “Memórias Paroquiais” de 1758. Nesses meados do século XVIII esta era mesmo a nica ermida existente na freguesia. Nela sabemos que se fazia festa, consagrada a São Gonçalo, em janeiro, mas não necessariamente no dia 10. Há registos que documentam, por exemplo, o dia 28. No século XIX sabemos também que a romaria congregava, vindos em procissão, habitantes das vizinhas paróquias de São Martinho do Campo e São Miguel de Gandra. Na década de 80 do século passado, quando foi construído o novo templo, capaz de responder ao crescimento demográfico da comunidade local para quem a velha capelinha se tornara manifestamente exígua, a festa continuava a reunir muita gente e incluía uma “tradi-

cional queima de uma vaca de fogo” e a procissão, com os andores de Nosso Senhor, São Gonçalo e São Roque, era acompanhada por banda de m sica. Mas, já nessa época, se assistira a uma curiosa alteração nesta tradição festiva: a romaria deixara de se realizar em janeiro, passando para uma época mais amena – abril, e já depois da Páscoa. Modificação de data que persiste até aos dias de hoje e nos quais as duas capelas continuam a servir de pano de fundo para uma festa que teima em resistir. Ainda em janeiro, e apesar do clima rigoroso pouco convidativo para manifestaç es festivas ao ar livre, os católicos portugueses expressam uma especial

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atenção a dois outros santos: a Santo Amaro, por volta do dia 15, e principalmente ao Mártir São Sebastião, a 20. E por vezes de um modo bem exuberante, como se pode constatar na Festa das Fogaceiras de Santa Maria da Feira consagrada a São Sebastião. Também em Valongo a popularidade e devoção a este santo, protetor das pestes, fica bem expressa na existência de várias imagens que o representam em diferentes igrejas e capelas. Caso, por exemplo, de uma datada do século XVII existente no Museu Paroquial de Alfena e provavelmente proveniente da antiga matriz, ou de uma outra atribuível ao século XVII/XVIII e já referida nas “Memórias Paroquiais” de 1758 e que persiste no interior da igreja paroquial de Campo, ou ainda de uma escultura do século XVIII, recolhida hoje na residência paroquial de Sobrado. Nesta mesma freguesia, e provando também a sobrevivência deste culto, regista-se a ocorrência de uma imagem de cronologia muito recente, na capela velha de São Gonçalo. Em janeiro, contudo, a mais importante festa que se realiza hoje no concelho é a que tem lugar em Alfena em honra do padroeiro da paróquia, São Vicente. Também padroeiro de Lisboa (apesar da maior e popular festa da capital ser dedicada a

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Santo António), Vicente, originário de Saragoça e martirizado em Valência nos inícios do século IV, possui a sua sepultura e relíquias salvaguardadas em Lisboa desde que, segundo a tradição, em 1173 Afonso Henriques as resgatou ao domínio mouro, sempre sob a vigil ncia protetora de corvos que, por tal motivo, são quase indissociáveis das suas representaç es iconográficas. A sua import ncia é sublinhada também pelo relevante facto de ser considerado o primeiro homem, com origem da Península Ibérica, canonizado. Ou seja, é o primeiro santo peninsular! A associação de São Vicente à freguesia é antiquíssima, reforçando assim as remotas origens desta paróquia que, inicialmente, se designava Queimadela. Uma curiosa lenda, de claro sabor popular, narra que São Vicente é irmão de São Lourenço, vizinho orago de Ermesinde que, como também já aqui foi dito, no passado se designava por Asmes. Ora, num dia em que os dois, com os seus fiéis, procuravam um local para a pregação depararam-se com uma cheia do rio Leça, aproveitando Vicente para cruzar este obstáculo através de uma ponte sobre o ribeiro de Asmes. São Lourenço, contudo, não o seguiu e, da outra margem, exortou-o a prossegui: “Vai Vicente para o teu Alfeno,


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que eu cá fico no meu Asmes”. E assim, segundo a tradição, teriam nascido os dois topónimos. As festividades ao Santo têm lugar no domingo mais próximo do dia que lhe é consagrado: 22 de janeiro. A igreja, templo bem amplo e contempor neo edificado entre 1964 e 1968 com projeto do arquiteto Alfredo Moreira da Silva, fica repleta. E, apesar do frio e da chuva que muitas das vezes marcam também presença, a área envolvente à igreja de São Vicente de Alfena está repleta de tendas e roulottes dos vendedores e o ambiente é marcadamente festivo. Interrompido, todavia, com a saída da procissão, composta por significativo n mero de andores e pela multidão que quase esvazia a matriz para acompanhar o cortejo, sob o olhar atento de tantos outros que ladeiam o caminho. A procissão compensa o curto circuito, limitado praticamente ao quarteirão do templo, com uma cadência lenta e compassada, se assim permitir São Pedro, que é como quem diz a meteorologia. Fevereiro começa, no dia 2, com a devoção e festas da Candelária, também designada por festa de Nossa Senhora das Candeias ou mesmo Nossa Senhora da Luz, e através da qual se comemora, 40 dias após o nascimento do Menino, a Purificação de Nossa Senhora, através da sua apresentação no Templo e no cumprimento dos preceitos do Antigo Testamento. Em comemoração deste acontecimento organizam-se nalguns locais, com destaque numa mais ampla visão regional para as festas de Ul em Oliveira de Azeméis ou as de Terroso na Póvoa de Varzim, festividades que podem incluir procissões solenes onde são levadas velas acesas. Era também, no passado, um dia propício para as parturientes, em deslocação aos templos, receberem uma bênção especial para si e os seus filhos. Mas, em Valongo, não há significativos registos a tais manifestaç es, apesar de a Nossa Senhora da Luz ser consagrada uma das históricas e centrais capelas da cidade, com uma

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bela imagem datada do século XVII. Contudo, a “colagem” que aqui ocorreu entre esta evocação mariana e a de Nossa Senhora das Neves, fez com que esta devoção se manifeste de um modo mais evidente apenas a 5 de agosto, dia da Senhora das Neves. O mesmo não acontece com o santo do dia seguinte, 3 de fevereiro, consagrado a São Brás. Afamado advogado dos males de garganta, este santo, cuja hagiografia o data dos séculos III e IV, descreve-o também como um médico que, convertido ao cristianismo e nomeado bispo (e a sua iconografia habitual apresenta-o vestido como tal), optou por viver isolado no meio dos montes, de onde descia apenas para tratar dos pobres e enfermos. Muito popular por toda a cristandade (só em Roma foram-lhe erguidas trinta e cinco igrejas ), São Brás tem notável devoção em Portugal sendo, habitualmente nos nossos dias, festejado no primeiro domingo após o dia 3 de fevereiro. Assim acontece, por exemplo, no afamado santuário de Monte São Brás em Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos. Ou em Vermoim, no vizinho concelho da Maia. Uma interessante imagem do Santo, datada do século XVIII e referenciada no Inventário dos Bens da Igreja de 1880, e hoje preservada na residência paroquial de Sobrado, é testemunha em Valongo dessa popular devoção que chega aos dias de hoje já que uma outra imagem do Santo, esta do nosso século XXI, foi colocada no interior da matriz de Sobrado. Mas fevereiro fica marcado um pouco por todo o concelho, como por todo o país, pelas celebraç es do Carnaval ou Entrudo, num misto de religiosidade e, bem mais, de paganismo. É também um momento em que, nos nossos dias, se assiste à resistência de antigos ritos e manifestações tradicionais do mundo rural face às novas práticas carnavalescas dos espaços urbanos, importadas de outras paragens, nomeadamente do sul-americano carnaval brasileiro. As origens dos festejos carnavalescos andarão


associadas às remotas festividades cíclicas do calendário da Antiguidade, e muito especialmente das Saturnais que, em Roma, eram consagradas a Saturno. E, já então, se assistia às representaç es “do mundo ao contrário” e à subversão das regras vigentes tão característico deste período onde a sátira tem de igual modo grande preponderância. Mas o Carnaval andará também associado a outras festividades da Antiguidade, ainda mais remotas e alicerçadas claramente no mundo rural e natural, como é o caso das Bacanais e festas Dionisíacas (consagradas à terra, ao vinho e às florestas) ou as Lupercais com as quais, na Roma Clássica, se celebrava Luperco, deus dos rebanhos. Certamente combatido pela Igreja durante muito tempo, devido ao seu claro fundo pagão, o Carnaval conhece uma acentuada “cristianização” a partir do século XVI, assumindo e permitindo nesta quadra alguns excessos festivos e alimentares, nomeadamente no consumo de carne de porco nos meios rurais. Uma permissividade que antecede e anuncia o tempo que se segue de imediato, marcado pela abstinência imposta pela Igreja, acompanhada de uma purificação obtida também por contenç es de todo o tipo e também por penitências. Em Valongo, na atualidade, persiste uma curiosa manifestação

associada a esta quadra permissiva: o “Enterro do João” em Ermesinde, que ocorre nas “Cinzas” (a quarta-feira das Cinzas é o primeiro dia do período que se segue: a Quaresma). Hoje, o “Enterro do João” é a nica manifestação deste tipo que sobrevive no concelho. Mas, até um passado muito recente, que nalguns casos foi já os inícios do século XXI, outros “enterros do Entrudo” eram organizados no concelho. Eminentemente popular, esta tradição sempre foi um momento, só possível por esta abertura libertária carnavalesca, de oportunidade para a crítica social, relativamente ao comportamento menos simpático ou recomendável de alguns vizinhos e muito especialmente do poder, fosse/seja ele o da Igreja ou o da política local. Tal jocosa avaliação é feita fundamentalmente através da leitura do “testamento” do finado que, obviamente, é um boneco trajado de humano, mas devidamente colocado num caixão e com direito a velório acompanhado por chorosas e carpideiras vi va(s ), filhas e filhos, familiares e amigos. Mas, para lá daqueles que assumidamente interpretam estas personagens, a generalidade dos muitos que continuam a ocorrer ao “enterro” embarca também nesta farsa teatral, contribuindo para um hilariante velório no qual, dada o grande n mero de presentes, não faltam

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os apertos e encontr es, que tornam difícil o aproximar ao féretro. No fim dos três dias de Carnaval o João vai a enterrar num concorrido e cómica cortejo funerário noturno até um descampado que, no passado e quando o crescimento urbano ainda o permitia, se procurava fosse nas margens do rio Leça, próximo da ponte da Travagem. Antes, na presença de um juiz, advogados, escrivães e ajudantes, faz-se o balanço da vida do falecido, numa sessão de tribunal na qual o seu testamento é debatido e os seus “bens” repartidos – oportunidade, como já foi referido, para uma evidente crítica social. Finalmente, no final do cortejo, o falecido acaba por não ser sepultado, mas, entre

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folia e reminiscentes práticas pagãs, é enforcado e queimado numa grande fogueira à volta da qual a multidão se junta, terminando num grande “estoiro” do João. E este estouro anuncia assim a Quaresma e a penitente aproximação da Páscoa. Período de recolhimento, reflexão e abstinência, as semanas seguintes de Quaresma não são, obviamente, um espaço temporal de festividades. Ainda assim, e do ponto de vista meramente religioso e devocional, uma vez que a dimensão profana da festa passa agora a ficar vedada, referência para a ocorrência em março, a 19, do dia consagrado a São José e que leva muitos devotos, nessa data, a diferentes igrejas e capelas do concelho onde


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residem mais de uma dezena de imagens do Santo, algumas das quais de notável interesse artístico e histórico. O termo Quaresma resulta do latim “quadragesima” e, marcando os 40 dias entre o Carnaval e a Páscoa, representa, afinal, o mesmo n mero de dias que Cristo, em jejum, deambulou pelo deserto antes de iniciar a sua missão apostólica. Os seis domingos que antecedem a Páscoa são, por isso, marcados por uma grande contenção e por liturgias e ritos que sublinham essa necessidade de recolhimento, ao mesmo tempo que vão anunciando o momento crucial que se aproxima e que, revestido de grande solenidade, é na calendarização católica o momento festivo de mais profundo significado do Cristianismo. Assim, e como por toda a cristandade, a Quaresma em Valongo fica associada a celebraç es e ritos como o do Domingo de Ramos, a cerimónia do “lava-pés” na Quinta-feira Santa, a comunhão na Sexta-feira Santa e, claro, as prociss es e serm es da Páscoa onde a Ressurreição de Cristo é celebrada com a maior das grandiosidades e glorificações – não fosse este o momento-chave de todo o Cristianismo, no qual, através da representação do sacrifício e morte de Jesus seguido do seu Mistério

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e no qual a Vida trunfa sobre a Morte, se consubstancia toda a essência da religião cristã. Mas o renascer comemorado nas Páscoas - seja o ressuscitar de Cristo na Páscoa cristã ou o renascer do povo judeu na sua passagem da vida de escravos para a de homens livres após a fuga do Egipto na Páscoa judaica – é, afinal, herdeiro de um momento festivo que desde há milhares de anos os nossos antepassados celebram de um modo significativo nesta época: o cíclico renascer, o repetido ressuscitar anual da Natureza neste momento. E que momento é esse A chegada da Primavera e, com ela, e após o longo e duro Inverno não raras vezes de pen ria, o regresso de uma época que se espera e deseja seja de abund ncia. E é por isso que a calendarização da Páscoa anda associada ao equinócio da Primavera (21 de março). Mas, demonstrando também a grande antiguidade desta festa, a data da Páscoa não é fixa, mas sim um feriado móvel que, embora dependendo do equinócio, se conjuga também com os ancestrais calendários que, antes de medirem o tempo através do ciclo anual do sol, o faziam através dos ciclos da lua. E é por isso que a Páscoa é móvel e ocorre no primeiro domingo da primeira lua cheia que se segue ao equinócio da Primavera. Motivo que explica porque é que no concelho, aquele que é um


dos mais notáveis momentos festivos do ano – o das festividades do Senhor dos Passos em Valongo – não tem uma data fixa, realizando-se no quarto domingo da Quaresma. A procissão que então tem lugar é das mais tocantes que se realizam na região e, organizada pela Confraria do Senhor dos Passos fundada em 1710 e erecta desde os inícios do século XVIII na respetiva capela localizada a curta dist ncia da igreja matriz de Valongo, recria os Passos da Paixão de Jesus, nomeadamente a caminho do Calvário. Estas celebraç es assumem uma especial import ncia e significado nas horas que as antecedem, nomeadamente na preparação dos andores e das imagens, muito especialmente a do Senhor dos Passos. Trata-se, com efeito, de

um momento revestido de grande tradição e de algum secretismo (que respeitamos neste livro, motivo pelo qual não apresentamos imagens) durante o qual e num ambiente de grande recato, só um pequeno grupo, exclusivamente composto por homens, veste e despe a Imagem de Cristo. A procissão, onde além dos andores desfilam personagens que evocam a Paixão de Cristo e representam personagens do julgamento, condenação e morte de Jesus, percorre diversas ruas da cidade e vai parando com grande solenidade em diferentes “estaç es” que, no passado, apresentavam pequenos nichos com alusões aos Passos da Paixão de Cristo. Mas, ainda nos dias de hoje, o itinerário coincide nalguns desses locais com

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imponentes ou antigos cruzeiros, como é o caso do do Senhor da Oliveira, ou de capelas como a de Nossa Senhora da Luz (ou das Neves) que, no dia anterior, recolhera uma outra procissão – com o andor da imagem de Nossa Senhora da Soledade - saída da igreja da matriz e que aqui “aguarda” pela passagem, na tarde do dia seguinte, da procissão do Senhor dos Passos. É, contudo, junto ao Padrão, que ocorre o momento mais relevante com o Sermão do Encontro, num espaço onde existiu uma pequena capela dedicada ao Encontro de Jesus com a Mãe, a Senhora da Soledade. Associadas à Paixão de Cristo e à Páscoa, embora utilizadas ao longo de todo o ano e servindo de cenário de passagem de muitas procissões que ocorrem noutros períodos do calendário e de outras manifestaç es devocionais, dever-se-á referir igualmente a existência por todo o concelho de diversas “vias-sacras” (também designadas sintomaticamente por “calvários”) constituídas por m ltiplos cruzeiros, algumas das quais de inegável impacto cénico, como é o caso do conjunto existente na elevação designada no passado como Translessa, nas traseiras da capela de Nossa Senhora do Amparo em Alfena, ou dos cruzeiros do Largo do T mulo em Valongo. A Páscoa e a Paixão

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de Cristo estão, também, na origem de in meras figuraç es cristológicas que povoam o interior dos templos do concelho, suscitando a devoção e incutindo, pela plástica dramática do sofrimento de Jesus, os sentimentos de piedade e arrependimento dos devotos. Caso, entre outros, das representaç es dos Cristos crucificados, presente em todas as igrejas e capelas; do Ecce Homo, como o da capela do Senhor dos Passos em Valongo; a representação do Calvário com a Virgem e São João Evangelista aos pés, como se pode observar no altar do Senhor da Cruz no santuário de Santa Rita, na capela do Senhor dos Passos de Valongo ou na sacristia da igreja paroquial de São Martinho do Campo; o Senhor Morto, venerado, por exemplo, nas matrizes de Ermesinde e Valongo; ou o Senhor dos Passos, na sua capela em Valongo ou, mesmo ao lado, na matriz. Embora seja agora o momento, intenso e trabalhoso, de preparar os campos e deitar as sementes à terra, entrados em tempos de primavera e Verão chegamos também a épocas mais propícias a celebraç es e festividades religiosas. Um clima mais ameno, os dias maiores e ensolarados criam, com efeito, um ambiente mais convidativo para tais manifestaç es de fé de braço dado com


demonstrações mais profanas. Nas “Memórias Paroquiais” de 1758 é referida a existência de uma concorrida celebração religiosa em honra de São Frutuoso na igreja matriz de Sobrado, em abril, com muita gente oriunda até das atuais paróquias de Agrela (Santo Tirso), Campo (Valongo) e Gandra (Paredes) que aqui vinham em procissão, festa essa que deixou de se realizar em meados do século XX. “Resiste”, no entanto, nos dias de hoje, a imagem do Santo no interior da igreja. Também em abril, a 25, São Marcos é um santo objeto de forte devoção e festa em diferentes locais do país. Neste concelho não se lhe conhecem festividades, mas o Santo ainda

assim suscita devoção, como comprova a sua imagem na matriz de Valongo. O início de Maio destaca-se pela celebração, na cidade de Valongo, de Nossa Senhora da Hora, festejada a 13 (ou no domingo mais próximo, embora nalguns anos, como em 2019, a data escolhida possa ser outra, como foi nesse caso o dia 1). Invocada para socorro no parto e como protetora das grávidas, Nossa Senhora da Hora possui um célebre santuário que lhe é dedicado no lugar, hoje cidade, com o seu nome no concelho de Matosinhos. Não obstante essa proximidade, as gentes de Valongo consagraram-lhe uma capela que, segundo a tradição, é das mais antigas do

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concelho. Mas, para lá desta proteção às grávidas, Nossa Senhora é evocada muito correntemente, sob outras express es marianas, como advogada de outras quest es relacionada com a sa de. Várias delas estão presentes no concelho e são objeto de devoção materializada em imagens dispersas um pouco por todo o território concelhio, como é o caso de Nossa Senhora da Cabeça, na capela de Santa Justa em Valongo; Nossa Senhora das Dores, na capela de Nossa Senhora do Amparo em Alfena, ou nas igrejas paroquiais de Campo, Ermesinde e Valongo; ou Nossa Senhora da Sa de na capela que lhe é dedicada em Valongo. Mas aquela que, em Portugal, se transformou ao longo do século XX na mais importante expressão do culto mariano – Nossa Senhora de Fátima – é também celebrada a 13 de maio. Com imagens suas presentes em todas as igrejas do concelho e em grande parte das suas capelas, é também esta Nossa Senhora que está representada em muitas das alminhas do concelho, nomeadamente num conjunto de pequenos oratórios/alminhas edificadas no final do século XX e já no início do século XXI e que, na freguesia de Ermesinde, estão na origem de uma procissão organizada neste dia e que passa por muitos destes locais de devoção

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a Nossa Senhora de Fátima. Até às “apariç es” de Fátima, em 1917, a mais importante devoção mariana em Portugal era dedicada a Nossa Senhora da Lapa que, curiosamente, parece estar ausente no concelho de Valongo. O mesmo não acontece com outras antigas devoç es à Virgem, de que são exemplo o Sagrado Coração de Maria evocada pela sua imagem na capela de São Silvestre em Ermesinde e na matriz de Alfena; Nossa Senhora do Pilar na matriz de Campo; Nossa Senhora do Rosário nas matrizes de Sobrado e Valongo; Nossa Senhora do Bom Despacho no santuário de Santa Rita em Ermesinde; Nossa Senhora das Graças, presente, entre outras, nas igrejas paroquiais de Campo e Sobrado; Nossa Senhora da Purificação na de Valongo; Nossa Senhora das Necessidades na capela que lhe é consagrada em Sobrado; e, claro, Nossa Senhora da Conceição que referiremos mais à frente. Entre as devoç es mais recentes, deveremos referir também Nossa Senhora de Lourdes, presente na capela, igualmente contempor nea, de Santa Justa e Santa Rufina em Valongo. Momento festivo especialmente marcante no mês de maio é, a 22, Dia de Santa Rita de Cássia, a Festa das Rosas que tem lugar no santuário que lhe é dedicado, anexo ao Colégio Diocesano de Erme-


sinde e que antecede a festa-romaria em honra da Santa que, em rigor, ocorre poucas semanas depois, no segundo domingo de junho. Esta comemoração em maio evoca um dos seus mais famosos milagres e, mais recentemente, depois da geminação em 2003 e 2004 entre as cidades de Cássia e Valongo com a presença dos respetivos autarcas, bispos e reitores dos dois santuários, “evoluiu” no sentido de se aproximar do modelo da celebração na cidade italiana de nascimento e morte de Santa Rita. Além de uma vigília, com a iluminação por velas do espaço envolvente do Colégio (em Cássia a cidade ilumina-se com milhares de velas durante toda a noite), o ponto

alto é a celebração solene da Bênção das rosas, que enche todo o interior do templo e é seguido da plantação das roseiras no colégio ou noutros espaços adjacentes. Ainda em maio, no ltimo domingo, Campo vive o ponto alto das festas em honra de Nossa Senhora da Encarnação, em torno da capela que lhe é consagrada. O facto de este ser um mês especialmente “mariano” explicará a escolha desta época para evocar Nossa Senhora associada ao Mistério da Encarnação: o momento em que encarna o seu filho, isto é, que o Verbo (Deus) se faz homem. Noutros lugares do país e do mundo, contudo, esta evocação de Maria é realizada em diferentes

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datas. Mas estas festas não se restringem ao domingo. Seguem, afinal, uma “programação” que, com ligeiras diferenças, caracterizam nos dias de hoje a generalidade das festas realizadas no concelho. Sirvam-nos pois, de exemplo, estas “Majestosas Festas em Honra de Nossa Senhora da Encarnação” que começam dois ou três dias antes, com missa e recitação diária do terço. Durante esses dias o recinto da festa, que abre com uma sessão de fogo de artifício, vai sendo permanentemente animado com m sica gravada a que, especialmente na sexta à noite e no sábado, se acrescenta a atuação de grupos de m sica, dj s e bandas pelas ruas da freguesia. No sábado ocorre também uma procissão de velas desde a capela até à igreja. No domingo, após a alvorada com foguetes, a atuação de bandas e fanfarras antecedem a missa na igreja paroquial após a qual se realiza uma procissão solene que, com partida da igreja, devolve a imagem à sua capela. As festividades, profanas, prolongam-se depois, até à noite, com concertos de m sica popular, bandas e fogo de artifício. Com a chegada de junho multiplicam-se as festividades pelo concelho. Hoje, como no passado, este é um momento especial, associado ao solstício do Verão e à chegada de um período de abund ncia. Aproximam-se as colheitas, as árvores de fruto estão recheadas… à ressurreição da natureza na Páscoa segue-se, agora, o que se espera ser uma época de fertilidade. E por isso desde tempos imemoriais este é um período festivo em que se assinala a entrada do Verão e se desenvolviam manifestações e práticas mágico-propiciatórias anunciando o que se espera seja mesmo um tempo fértil. Práticas pagãs que sobrevivem ainda em muitos dos festejos sanjoaninos do solstício espalhados um pouco por todo o lado, mas que em Valongo têm uma relevante persistência em torno das Bugiadas. Mas já lá vamos. Antes, no segundo domingo do mês, ocorrem como já refe-

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rimos anteriormente as festas em honra de Santa Rita no santuário que lhe é dedicado, em Ermesinde, no lugar da Formiga. Espaço de peregrinação muito frequentado ao longo de todo o ano por devotos da região do Porto e concelhos envolventes, é contudo por estes dias que o santuário e a sua festa, mais gente congrega, para cinco dias de intenso e animado arraial com a sua programação profana, mas que tem o ponto alto na manifestação religiosa associada à grandiosa procissão onde se incorporam pagadores de promessas não raras vezes vestidos com a indumentária característica da Santa, mas também antigos e fervorosos devotos e novos e “esperançados” romeiros, ou não fosse Santa Rita uma advogada de causas difíceis ou mesmo “impossíveis”. É também geralmente em junho que ocorrem as festividades do Corpus Christi. Em rigor, e tratando-se de uma data móvel dependente da Páscoa, já que acontece na segunda quinta-feira a seguir ao domingo de Pentecostes, o “Corpo de Deus” pode ter lugar entre 21 de maio e 24 de junho. Instituída por bula papal de Urbano IV em 1264, este feriado nacional é celebrado em Portugal, pelo menos desde 1282 e por ordem do rei D. Dinis. A solenização desta data, de enorme import ncia para os católicos que estão obrigados a participar nesse dia da Santa Missa, deu origem por toda a cristandade e também em Portugal a prociss es caracterizadas pelo seu grande esplendor e solenidade, já que se trata de um momento privilegiado de veneração do Corpo e Sangue de Cristo no que eles têm de profundamente simbólico e sagrado associados à ltima Ceia e à aliança aí alicerçada entre Deus e os homens, consubstanciado também num dos mais importantes sacramentos – o da Eucaristia – onde, para os católicos, se dá o Mistério da transformação não visível do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo. É no coração da sede do concelho que tem lugar a imponente procissão do Corpo de Deus de


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Valongo. Momento de grande fervor religioso, a solenidade, o mais profundo respeito e até a comoção marcam, acompanhado pelo baixar das cabeças ou mesmo do ajoelhar, a passagem do Santíssimo Sacramento que, com toda a sua procissão, percorre as principais artérias do centro da cidade, entre a igreja matriz e a praceta do Horto, passando por espaços identitários como as ruas do Padrão, de S. Mamede , Conde Ferreira, da Passagem, mas também de Alves Saldanha, Nunes da Ponte, Joaquim Marques dos Santos ou a avenida Oliveira Zina. De algum modo decorrente da solenidade do “Corpo de Deus”, e calendarizado para ocorrer na

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segunda sexta-feira após o Corpus Christi, importa salientar a data do Sagrado Coração de Jesus. Embora não esteja associado a qualquer festividade, a devoção a esta representação cristológica é muito viva no concelho, como comprova uma d zia de imagens, de diferentes épocas e estilos, espalhadas por todas as igrejas paroquiais e ainda por outras igrejas, santuários e capelas. E da mais profunda solenidade sacra, através da procissão do “Corpo de Deus”, Valongo parte, ainda em junho, para uma das mais fabulosas e cenográficas manifestaç es em todo o mundo de sincretismo entre o sagrado cristão e o profano decorrente de remotas práticas pagãs


de iniciação e passagem à vida adulta em associação a cultos de fertilidade associados ao solstício de Verão: a Bugiada ou Festas de São João que ocorrem em Sobrado no dia do Santo, a 24 de junho. Todo um outro livro justificaria uma abordagem mais cuidada e demorada a estas festas. Não é esse, contudo, o objetivo deste trabalho. Ainda assim importa sublinhar que sabemos da existência até há poucos séculos de outras festividades deste tipo noutros espaços do concelho, incluindo Valongo, mas que, certamente combatidas pela Igreja, acabaram por não sobreviver. As de Sobrado, que seriam até mais modestas que as restantes, encontraram contudo, na curiosa e

“sábia” associação à devoção a São João Baptista, uma forma de resistir e, até, de se afirmar de um modo evidente. Hoje são largos milhares os forasteiros que, todos os anos em n mero crescente, rumam até à freguesia para assistir e participar desta festa, mista de pagã e religiosa, em que os Bugios e os Mouriscos, envergando vistosos fatos engalanados de mil cores, disputam as atenç es da multidão. De facto, e como ocorre há muitas geraç es, nesse dia e desde manhã cedo, parte significativa da população encarna diferentes personagens e, até ao fim da tarde, faz reviver uma antiga lenda da região: um confronto entre mouros (os “Mouriscos“ ou “mourisqueiros”) e

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cristãos (os “bugios”) pela posse de uma imagem do santo festejado nesta data. Utilizando roupas e adereços que vão passando de geração em geração, perpetuando gestos, danças, diálogos e outras manifestaç es tradicionais repletas de cor, de sons e de memórias, a “Bugiada”, qual lenda viva, remontará a tempos imemoriais, mas, como em todas as lendas, também na sua representação “quem conta um conto acrescente um ponto”. E por isso, e apesar de ela se manter aparentemente imutável aos olhos de quem a vê ano após ano, a verdade é que esta representação vai incorporando regularmente novas aportações ou ligeiras transformaç es. Uma das mais evidentes e curiosas é o facto dos Mouriscos apresentarem uma indu-

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mentária que em vários pormenores, nomeadamente nos chapéus e nas cores do fardamento, fazem lembrar os uniformes do exército napoleónico. Representando os mourisqueiros as “forças do mal” é possível que, no início do século XIX e na sequência das Invas es Francesas, eles tenham passado a utilizar nos seus adereços evidentes referências aos malqueridos recém invasores de Napoleão. Mas, também do lado dos Bugios se assistiu, mais recentemente, a uma significativa alteração. As gentes mais idosas de Sobrado ainda se recordam que os “cristãos” - mas no fundo “endiabradas” personagens que, escondidas pelas suas máscaras,


passam o dia a dançar, a correr e a assustar quem os vê passar, com roupas coloridas, os seus gritos e os ruídos saídos dos guizos que proliferam pelas suas garridas e burlescas indumentárias - transportavam nas mãos, num passado ainda recente, ervas de cheiro e outros elementos naturais com que atiçavam quem com eles se cruzasse. Nas ltimas décadas, contudo, tais elementos naturais e vegetais foram sendo substituídos por peles e caudas de animais e, ainda mais recentemente, por bonecos de peluche Festa de origem pagã, a Bugiada não deixa igualmente de ter o seu lado sacro, incluindo uma majestosa e compenetrada procissão, dando origem ao

fenómeno mais pleno na relação do sagrado com o profano vivido ao longo deste intenso e longo dia. Mas este é também um momento em que a narrativa lendária se adapta de um modo extraordinário às características solenes do acto religioso. Com efeito, coincidindo na narrativa da lenda com o instante em que os mouros promovem a procissão à milagrosa imagem de São João, são os mourisqueiros que se integram na procissão e que transportam os andores. Os seus trajes, “militarizados” e ricos de ouro e de dourados (explicados na lenda pela abund ncia das riquezas que exploravam nas minas de Cucamacuca) são, obviamente, muito mais consentâneos com a solenidade da procissão

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do que os adereços, no fundo bem mais pagãos, dos Bugios que, obviamente, não integram este momento religioso. Mergulhando as suas raízes nas antiquíssimas festividades que assinalam o solstício de Verão, a Bugiada de Sobrado está repleta de sinais, manifestaç es e práticas que tornam bem evidentes esse seu fundo pagão e que se assemelham a muitas outras festas que têm lugar nesta altura do ano. A utilização, como elementos propiciatórios de fertilidade da natureza, das ervas de cheiro e de outras espécies bot nicas (hoje substituídos, como referimos, pelas caudas peludas e por bonecos de peluche) tem paralelos, por exemplo, na utilização dos manjericos ou dos alhos porros nas festas de São João do Porto (também eles substituídos nas ltimas décadas pelos martelinhos de plástico). De igual modo se deverá referir a questão do barulho e dos sons estridentes produzidos pelos Bugios como uma alusão à vontade de afastar os maus espíritos (aqui simbolizados pelos Mouriscos). Muito interessante na Bugiada são também as características, bem ancestrais, que ela encerra enquanto festa de iniciação e de transição dos jovens para a vida adulta. Com efeito os Mouriscos são, afinal, os jovens solteiros da comunidade. Só

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após o seu casamento é que passarão a integrar os Bugios, sendo habitual que - reforçando esta característica de festa de iniciação/transição para rei mouro seja escolhido um jovem que se sabe ir casar proximamente. Chegados a julho, mantém-se o intenso ciclo das festas de Verão, com destaque em Ermesinde para a festa de Nosso Senhor dos Aflitos, com celebraç es no primeiro domingo do mês junto da respetiva capela. Nestes ltimos anos a festividade tem-se realizado com alguma intermitência devido à inexistência de uma Comissão de Festas que assegure a sua concretização. Permanece, contudo, a missa em honra do Senhor. Resistentes e bem enraizadas na comunidade são as festividades que, bem no cume da serra de Santa Justa, designada também popularmente como de Cucamacuca, aí são consagradas a esta Santa, a sua irmã Santa Rufina e a Santo Sabino, no pen ltimo domingo do mês de Julho. Apesar do templo actual datar dos anos 30 do século XX, a devoção a Santa Justa no alto da serra já era referenciada em 1640 no “Catálogo dos Bispos do Porto” sendo muito provável que as suas origens andem associadas à necessidade de cristianizar um local caracterizado pelos imponentes e


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“mágicos” vestígios de época romana resultantes da mineração do ouro. A afirmação cristã sobre a monumentalidade de tal passado pagão terá utilizado, não por acaso, a hagiografia e a figura destas irmãs romanas que vendiam imagens de deuses mas que, após a sua conversão ao cristianismo, as destruíram. Da popularidade e antiguidade desta devoção no alto da serra de Valongo dão-nos testemunho referências do século XVIII indicando que aqui acorriam devotos pedindo proteção para as “malinas e dores de dentes”. Nos dias de hoje as festividades prolongam-se por quatro ou cinco dias no santuário que inclui não só a capela dedicada às duas mártires, mas também

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a capela consagrada a São Sabino, o bispo que a tradição indica ter auxiliado Santa Justa e Santa Rufina e que, entre os suplícios a que foi submetido, viu serem-lhe decepadas as mãos. Num espaço amplo, do qual se desfruta de uma bela panor mica sobre o Parque Natural das Serras do Porto e marcado pelas áreas verdes convidativas para as merendas e para a fruição festiva do espaço, as festas incluem não só as habituais animaç es com m sica gravada e atuaç es ao vivo de grupos de m sica popular, m sicos de baile, bandas e ranchos folclóricos, mas também três missas dedicadas a cada um dos santos entre domingo e terça.


No ltimo domingo do mês a protagonista das celebraç es e de uma das mais impactantes festividades do concelho é Nossa Senhora do Amparo, em Alfena, que duram mais de uma semana. Para tal contribui a circunst ncia do programa religioso incluir uma procissão que, ao longo de vários quilómetros, avança por ruas cobertas por impressionantes, coloridos e complexos tapetes de flores a que as laboriosas mãos da comunidade, com destaque para os mais jovens, orgulhosamente dão forma ao longo de toda a noite e madrugada. A procissão sai da igreja matriz e dirige-se para a capela da Senhora do Amparo, invertendo o sentido de uma outra, noturna e de velas que ocorrera oito dias antes. Neste domingo a procissão, que

incorpora m ltiplos andores, “devolve” à capela a imagem, seguida pelos fiéis que engrossam as hostes processionais, sob o olhar de tantos outros que ao longo das ruas esperam para ver passar a procissão. Mas o ltimo fim de semana de julho é também o momento, na cidade de Valongo, para as festas em honra de Nossa Senhora da Sa de e de Santa Eufémia espoletadas pela velha capela do lugar (antiga “aldeia”) de Susão, construída no século XVIII e então dedicada a Santa Eufémia, embora posteriormente aqui se tenha radicado uma forte devoção a Nossa Senhora da Sa de, na origem, em 1969, da respetiva confraria.

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Agosto, por excelência um mês de convívio, tempo de paragem e descanso, e de reencontro de familiares e amigos que residem mais afastados, é também época de importantes festividades religiosas centradas nas duas cidades do concelho: Valongo e Ermesinde. Logo no início do mês a sede do concelho celebra Nossa Senhora da Luz na capela que lhe é consagrada no centro da cidade, também conhecida como Nossa Senhora das Neves que tem festa lit rgica a 5 de agosto, dia em que, apesar de estarmos em pleno Verão, a tradição afiança ter nevado em Roma por intercessão da Virgem. Mas é na noite de 17, dia lit rgico de São Mamede de

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Cesareia, orago da freguesia, padroeiro da paróquia e feriado municipal, que tem lugar o ponto alto das Festas da Cidade que coincidem com esta festividade religiosa. Com efeito, à qualificada e vasta programação profana, que envolve não raras vezes grandes nomes nacionais da m sica e do espetáculo e que tem lugar durante vários dias, soma-se a componente religiosa na qual se destaca a procissão “do Triunfo do Padroeiro” que tem lugar na tarde do dia 17 e que, com especial enfase para o andor de São Mamede, percorre várias das ruas da cidade antes de recolher à igreja matriz, também ela, tal como o seu padroeiro, elemento profundamente identitário de Valongo, até porque para a sua edificação, nas primeiras


décadas do século XIX, contribuíram não só as monjas do mosteiro de São Bento de Avé Maria do Porto, mas, igualmente e de um modo significativo, os padeiros da povoação. A dimensão religiosa das festas a São Mamede tem contemplado, nalguns anos, na noite anterior, uma cenográfica procissão “via lucis” (de velas) que, com partida da capela do Senhor do Calvário, se estende até à matriz. E se o padroeiro de Valongo é festejado a 17, o de Ermesinde, São Lourenço, celebrado a 10 de agosto, tem o ponto alto das suas festas no segundo domingo do mês. O programa, atualmente, alarga-se ao longo de cinco dias, com características sacras e profanas não muito diferentes das já descritas para as outras festas concelhias, mas importa sublinhar a “majestosa” procissão em honra de São Lourenço, incorporando dezenas de andores e fazendo cortar ao trânsito as principais artérias da cidade que, em grande n mero, acorre aos passeios e às engalanadas varandas dos altos prédios que, não raras vezes, ladeiam as ruas por onde passa o desfile processional, naquela que é, seguramente, a mais “urbana” das prociss es de Valongo. Ainda em agosto, e de regresso à sede do concelho,

referência para as festas em honra de São Bartolomeu que ocorrem no final do mês (o seu dia lit rgico é a 24) nas proximidades do lugar de Susão e em torno da velha capela que lhe é consagrada e que, apesar de ser uma área pertencente à cidade, preserva um amplo espaço de arraial à sua volta, contribuindo para um cenário r stico que preserva ainda algum do ambiente rural que sempre terá caracterizado esta festa. Duas missas solenes, no início e no final das festividades, que se prolongam por quatro dias, são os momentos religiosos que se acrescentam aos comes-e-bebes e aos habituais bailaricos animados por m sica gravada ou pela atuação de grupos de m sica tradicional ou popular. Chegados a setembro e ao equinócio do Outono, as colheitas desta época e as vindimas deixam ainda tempo para algumas festas, com destaque para as celebraç es, no primeiro domingo do mês, em honra de Nossa Senhora dos Chãos, em Valongo. O programa estende-se ao longo do fim de semana e, nos nossos dias, contempla m sica gravada, atuação de bandas e disponibilidade de acesso a petiscos (com destaque nos ltimos anos para o “famoso e saboroso porco no espeto”) saboreados junto à capela que se implanta numa

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área planáltica da serra de Valongo, na origem da designação “dos Chãos”. É, contudo, a vertente religiosa a mais impactante destas festas, com a realização de duas prociss es que, num curto espaço de tempo, desce e sobe a serra. Especialmente cénica e evocativa de grande espiritualidade, é a que ocorre na noite de sábado, quando os altares saídos da capela, com destaque para o de Nossa Senhora dos Chãos sob a forma de um barco (numa alusão à lenda e ao voto que estarão na origem do templo), descem até à igreja matriz, iluminados pelas velas e acompanhados por rezas e c nticos através de áreas marcadamente florestais até se embrenharem num ambiente já mais

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humanizado através das ruas da zona dos Bacelos. Horas depois, já na manhã de domingo, e agora acompanhada por bombos, uma nova procissão regressa à capela, desta feita através da zona da Boavista, concluindo com missa solene na capela. No domingo seguinte, o segundo de setembro, têm lugar em Sobrado, centradas na respetiva capela e com a realização de uma grande procissão, as festas de celebração de Nossa Senhora das Necessidade que, de algum modo, encerram o grande ciclo das festas de Verão em Valongo. Aliás, em outubro não se registam festividades religiosas de notável destaque no concelho, a que não será alheio o facto do Outono ter chegado e


haver muitas tarefas a cumprir no mundo agrícola antes da chegada do Inverno. É o caso, por exemplo, nos inícios de novembro, da apanha da azeitona, fundamental também para a extração do azeite, de grande utilidade na economia tradicional. E se é certo que Valongo não tem grande tradição nesta produção, nem por isso deixava de se realizar e andar associada a algumas curiosas tradições populares algo festivas como era o caso, em Sobrado, dos apanhadores lançarem de oliveira para oliveira as “pulhas” (piadas), espoletando risos, brincadeiras e cantigas. Mas é São Martinho, celebrado a 11 de novembro, que no calendário concelhio volta a suscitar atenção festiva, nomeadamente na freguesia de Campo que possui este Santo como seu padroeiro. Contudo, e apesar de ciclicamente nesta época do ano o anticiclone dos Açores se deslocar para uma posição mais próxima dando origem ao bem conhecido “Verão de São Martinho”, a verdade é que as condições climatéricas já não são convidativas para grandes arraiais. Ainda assim em Campo as festas, que do ponto de vista religioso têm o seu momento de apogeu com uma grandiosa procissão no dia de São Martinho ou no domingo mais próximo, atraem bastantes pessoas para as ruas, não só para assistir às exibi-

ções dos grupos musicais e aos espectáculos pirotécnicos, mas também para usufruir das tasquinhas e do magusto no qual a Comissão de Festas oferece as castanhas e vinho. Também a vizinha freguesia de Sobrado acolhe as festas em honra do seu padroeiro, Santo André, em novembro, no último domingo do mês, com um programa eminentemente religioso, centrado na igreja matriz, de onde sai, na tarde desse domingo, uma procissão em honra de Santo André e dos santos patronos das capelas. Chegados a dezembro é incontornável a referência à devoção a Nossa Senhora da Conceição, celebrada no dia 8. A data remete-nos para a Imaculada (virginal) Conceição (concepção) de Maria que, apesar de só ter sido definitivamente assumida como um dogma pela Igreja Católica em1854, desde cedo teve grande aceitação no nosso país que, na sequência do voto do rei D. João IV após a Restauração da Independência em 1640, a elevou mesmo à categoria de “Padroeira de Portugal”. O dogma, de algum modo evocado nas representações das “Santas Mães” que podemos observar nas igrejas paroquiais de São Martinho do Campo e Santo André de Sobrado ou na capela do Senhor dos Passos em Valongo, é lembrado,

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obviamente, na figura protetora de Nossa Senhora da Conceição que ocorre em grande número de templos por todo o concelho, incluindo nas capelas que lhe são consagradas em Alfena e Valongo, esta última da Santa Casa da Misericórdia de que é igualmente, muitas vezes sob a forma de “Senhora do Manto”, protetora. Tempo de Advento e da Natividade, dezembro é também o momento que marca o triunfo da luz sobre as trevas, do dia sobre a noite, uma vez que a partir do solstício de Inverno os dias passam a crescer – simbolismo que não foi alheio à Igreja na escolha desta data para assinalar o nascimento de Cristo. O Natal é, por isso, o momento de celebrar

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o Menino, colocado nos presépios montados nas igrejas ou nas suas múltiplas representações ao colo das inúmeras imagens de Maria e José que povoam o interior de tantos templos de Valongo, além das figuras do “Menino Jesus de Praga” que igualmente se podem observar na matriz de Campo, no santuário de Santa Rita e na capela do Senhor dos Aflitos em Ermesinde, ou nas capelas de Nossa Senhora das Necessidades ou de Santo António da Balsa em Sobrado. Festa por excelência da família, mas também da partilha, e apesar dos festejos de Natal se centrarem fundamentalmente no ambiente doméstico, nem por isso os templos de Valongo deixam de promover, nesta quadra, iniciativas festivas, de caracter mais erudito ou


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profano (de que são exemplo os concertos de Natal) e igualmente religiosos, como as tradicionais Missas do Galo. O tempo frio e invernoso é agora dominante, convidando a um maior recolhimento, mas, antes do novo ano, há ainda espaço para celebrar São Silvestre e recomeçar o ciclo anual das festividades religiosas, parcela incontornável da Memória, da Identidade e da Herança das

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gentes de Valongo, que se materializa igualmente num notável conjunto de edifícios religiosos e nas mais diversas manifestações artísticas e patrimoniais que estes acolhem. Pretexto para avançarmos para uma visita/inventário pelas diversas freguesias do concelho.


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As freguesias e o seu património religioso

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3.1 | Alfena

SÃO VICENTE Considerado, segundo as tradicionais hagiografias, como o primeiro habitante da Península Ibérica a ser considerado santo, Vicente nasceu na povoação de Huesca, perto de Saragoça, na Hispânia romana durante a segunda metade do século III. Tendo passado a maior parte da sua vida na cidade de Saragoça, aí foi educado e ordenado diácono pelo bispo D. Valério, que o encarregou de pregar em toda a diocese. Durante a perseguição aos cristãos movida pelo imperador Diocleciano, Vicente, juntamente com o bispo, foi preso pela mão do governador Públio Daciano. E porque ambos recusaram a liberdade a troco da renúncia da fé, Valério seria exilado, e Vicente cruelmente torturado até à morte. Ainda assim, e apesar do sofrimento, terá convertido o carcereiro durante esse período. O mais antigo registo deste martírio consta de um poema escrito por Prudêncio na sua obra “Peristephanon”. Reza a lenda que corvos protegeram o cadáver de São Vicente de ser devorado por abutres até à chegada de cristãos que recuperaram o corpo e o levaram até ao cabo que hoje tem o seu nome - o Cabo de S. Vicente. O santuário erguido sobre a sua sepultura continuou a ser protegido por corvos, segundo os textos do geógrafo árabe Al-Idrisi que intitulou o templo de “Nakisah al-Ghurab (Igreja do Corvo)”. Posteriormente, e apesar do Cabo de S. Vicente, no Algarve, permanecer sob o domínio muçulmano, o primeiro rei português, Afonso Henriques, conseguiu exumar e resgatar as relíquias do santo em 1173. O seu transporte de barco para a catedral de Lisboa, sempre acompanhado por corvos, encontra-se retratado no brasão de armas de Lisboa. De resto, na iconografia de São Vicente é igualmente corrente a representação desta ave.

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INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO RELIGIOSO Alfena é delimitada a nordeste pelo concelho de Santo Tirso, pelo concelho da Maia a noroeste, a sudoeste por Ermesinde e por Valongo a sudeste. Atravessada pelo rio Leça, desenvolve-se e estrutura-se ao longo de um extenso vale num território de cerca de 11 km2 ocupado por uma população de 15.211 habitantes (Censo 2011), constituindo, juntamente com Campo e Sobrado, uma das freguesias menos populosas do concelho de Valongo e onde persistem tradições e práticas rurais lhe conferem uma identidade muito própria. É padroeiro de Alfena o mártir hispânico São Vicente, perseguido, torturado e morto na defesa da sua fé cristã, a quem são atribuídos numerosos milagres. Na sua iconografia, São Vicente apresenta-se envergando dalmática e protegido por corvos, já que terão sido estes, segundo a sua hagiografia, os responsáveis por sinalizar a sua sepultura original e acompanhar a trasladação do seu corpo, de barco, para Lisboa, em 1173, cidade da qual é também padroeiro. As festas de São Vicente celebram-se a 22 de janeiro (dia do Santo) com procissão saída da igreja matriz, percorrendo lentamente o território envolvente, acompanhada por in meros fiéis e sob o olhar de muitos outros que se amontoam ladeando as ruas para a ver passar.

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IGREJA MATRIZ DE ALFENA Rua da Igreja - Rua 1º de Agosto 4445-127 Alfena A antiga igreja matriz de Alfena, dedicada a São Vicente, é referida já em 1542 no Censual do Bispo do Porto. Designada então como igreja de São Vicente de Alfena de Queimadela, há registos de que recebe o altar de Nossa Senhora do Rosário em 1698. Em 1747 indicava o Padre Luís Cardoso que a igreja de Alfena se situava ao pé de um monte designado de Serra do Outeiro de Santa Margarida, fora da povoação, tratando-se de uma obra grosseira, construída em paredes de alvenaria e rasgada por uma “porta principal de um arco muito tosco e antigo”. As “Memórias Paroquiais” de 1758 indicam que: “Tem cinco altares, a saber, o do Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora, Santa Anna, Santo António, e Santa Chatarina”. O templo sofreu ainda profundas remodelações em 1884, sendo a sua fachada revestida de painéis de azulejos e edificada uma torre sineira lateral. Contudo, face às necessidades decorrentes do significativo aumento demográfico local registado em meados do século passado, um projeto da autoria do arquiteto Moreira da Silva aprovado em 1963, veio propor a construção de uma nova igreja, sendo o histórico edifício demolido no ano seguinte. A 23 de agosto de 1964 foi benzida a primeira pedra da nova igreja de São Vicente de Alfena, que virá a ser inaugurada em 1968. Do templo demolido resta apenas a capela-mor, que se encontra integrada no Centro Social Paroquial. Grande parte das alfaias litúrgicas e das imagens foram, contudo, transferidas para o novo templo. Dotada de inequívoca arquitetura contemporânea, a igreja de São Vicente é um elemento de relevância na paisagem da cidade de Alfena, não só pela sua volumetria e espacialidade, tanto no exterior como no interior, como também pela imponente torre sineira. Apresenta fachada com linhas simples, ritmada por uma sucessão de frestas e vitrais, dividida em dois níveis, rematada com uma cruz latina. A torre sineira ergue-se sobre a

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capela-mor com planta hexagonal. No interior da igreja, de planta longitudinal e de grandes dimensões, destaca-se a capela-mor onde sobressai um grande crucifixo sobre fundo forrado a cortiça com policromia vermelha. Assente num pilar junto ao arco cruzeiro, do lado da Epístola, está a imagem do padroeiro, São Vicente; no lado oposto a escultura de Santo António com o Menino. O sacrário, com porta em prata decorada com motivos religiosos, localiza-se no altar do Santíssimo Sacramento, do lado da Epístola, assentando num suporte em ferro esmaltado, obra do arquiteto A. Moreira da Silva. A imagem de Cristo Crucificado em madeira policromada que se destaca na matriz de Alfena tem datação atribuída ao século XVIII, sendo provavelmente proveniente da antiga igreja. Trata-se de uma escultura de vulto representando Jesus Cristo crucificado, com o corpo desnudo, coberto à cintura por um manto. O tronco apresenta uma perfeita estrutura muscular, pregado pelos pés e mãos na cruz, joelhos esfolados e uma ferida no peito. O pé direito está aposto sobre o esquerdo. A cabeça, ligeiramente pendente sobre a sua direita, exibe um rosto em sofrimento, envolvido pela barba ondulada. Encimado por uma cartela, ostenta uma decoração barroca, com a inscrição “INRI”. São Vicente, o padroeiro de Alfena, é representado numa escultura de vulto pleno datada do século XX. Apresenta-se de pé com vestes de diácono. Segura, na mão esquerda um livro e na direita uma folha de palma, símbolo do seu martírio. Possui aos pés, do lado esquerdo, um corvo, numa alusão à lenda que envolve o Santo. Localiza-se no arco cruzeiro, do lado da Epístola. Ainda do lado da Epístola, junto ao altar-mor, encontramos a imagem do Imaculado Coração de Maria. É uma escultura recente (século XX) atribuída ao arquiteto A. A. Moreira da Silva, esculpida em vulto pleno. Virgem Maria é representada em posição frontal, com o coração exposto, os braços ligeiramente fletidos e o corpo coberto por um manto azul.


Do lado oposto, junto ao altar-mor (lado do Evangelho), encontramos a imagem do Sagrado Coração de Jesus, obra igualmente atribuída ao mesmo arquiteto. O Sagrado Coração de Jesus é esculpido em vulto pleno, representado de pé e em posição frontal, com o coração exposto, apresentando os braços fletidos. Sobre os ombros tem um manto. É visível a ponta do seu pé direito, ligeiramente adiantado em relação ao pé esquerdo. A imagem de Santo António com o Menino (século XX) é uma escultura de vulto pleno. Figura de pé, em posição frontal, segurando o menino em pé na palma da mão esquerda, e na mão direita um livro. Localiza-se junto ao arco cruzeiro do lado do Evangelho. Integra ainda a igreja de São Vicente de Alfena uma imagem de Nossa Senhora de Fátima (século XX). Escultura de vulto pleno, representa Nossa Senhora de Fátima em posição frontal, de pé, com as mãos em posição de oração agarrando o terço. A Virgem enverga uma túnica branca, orlada a dourado sob manto branco que se estende da cabeça até aos pés, apresentando cercaduras ornamentadas com motivos vegetalistas matizados a dourado. Exibe na cabeça uma coroa em metal. O batistério, localizado na entrada da igreja matriz, é também uma obra do século XX. Apresentando planta octogonal, o espaço é fechado por um gradeamento. Já a pia batismal em granito é uma peça do século XVIII pertencente à igreja antiga.

CAPELA DE SÃO LÁZARO Rua de São Lázaro, 326 4445-206 Alfena O documento mais antigo que se conhece relativo a Alfena data de 1214, fazendo referência a uma gafaria - Hospital para Leprosos – identificando o local com a designação de Queimadela. A este hospital terá pertencido a antiga capela de São Lázaro, reconstruída em 1623, referida em documentação de 1706 pelo Padre António de Carvalho que informa que ali existia um Hospital de Lázaros; e de 1747, pelo Padre Luís Cardoso, que indica que a ermida de São Lázaro serve o Hospital dos Lázaros. As “Memórias Paroquiais” de 1758 referem a “Capela de São Lazaro: junto à ponte de Alfena”.

A Capela de São Lázaro é, pois, de origem medieval e encontra-se implantada na margem direita do rio Leça nas imediações da estratégica ponte de São Lázaro que, não obstante o seu perfil indiscutivelmente medieval, poderá ter origens na época romana. Já no século XX (1960) a capela foi alvo de uma grande intervenção de restauro. De planta longitudinal, com uma nave, apresenta a fachada principal simples com portal em arco de volta perfeita. Uma galilé antecede a porta principal, murada e com portão. A fachada lateral ostenta um campanário. O interior é de grande simplicidade e despojamento decorativo, salientando-se a imagem do padroeiro, restaurada por Alberto Ferreira, Ermesinde. A escultura representando São Lázaro apresenta o Santo de pé, com vestes de Bispo. A capa de asperges que enverga está ricamente decorada com um largo friso dourado, prendendo junto ao peito com um ostensivo firmal (ou pregadeira). Completam as vestes pontificais um par de luvas grená. Na sua mão direita segura o báculo prateado e dourado, e do lado oposto sustém um livro. A iconografia de São Lázaro, muito abundante na arte cristã de todos os tempos, representa-o coberto de chagas da lepra que terá contraído, sendo-lhe reconhecidos atributos na proteção dos leprosos. As mais das vezes, São Lázaro é mesmo representado a sair do túmulo, ou então com as vestes de Bispo, ou também como um mendigo ou leproso por clara influência da parábola do rico e do pobre Lázaro com quem, aliás, o Lázaro ressuscitado, nada tem de comum. E por esta razão, se tornou também patrono dos mendigos e dos leprosos. Interessante é igualmente a presença, nesta capela, e certamente em articulação com a vizinha ponte medieval, de uma imagem de São Gonçalo de Amarante, protetor de viajantes, peregrinos e de pontes. De resto, sabemos da existência, também junto à ponte, do lado oposto a esta capela de São Lázaro, de uma outra

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capela que era conhecida como “da Ponte”. Provavelmente também de origem medieval e entretanto desaparecida, esta capela ainda foi citada por D. Rodrigo da Cunha em 1623 e era também designada “dos Remédios”, podendo estar associada ao culto a Nossa Senhora dos Remédios que, de resto, é igualmente evocada nos nossos dias através da presença de uma pequena e votiva imagem desta expressão mariana.

CAPELA DE SÃO ROQUE Rua de São Roque, 115 4445-244 Alfena Mandada edificar entre 1599 e 1601, ao tempo de D. Filipe II, com o objetivo de impedir o alastramento do violento surto de peste que então grassava no território, encontramos ainda hoje em Alfena a capela de São Roque que, posteriormente, em 1758, é referida também nas “Memórias Paroquiais” – “Capela de São Roque: no lugar de Cordiceira”. Durante o século XX foi alvo de várias campanhas de obras de restauro e remodelação, conferindo-lhe o aspeto atual. Mais recentemente, em 2016, registou nova intervenção de restauro. Trata-se de uma capela de planta longitudinal, de nave única, com fachada principal em empena com cruz latina no vértice, rasgada por portal simples e reto, coroado por um pequeno nicho. As fachadas são rematadas em friso e cornija. O interior da capela é de grande simplicidade e despojamento decorativo. Realce para o altar-mor, retábulo barroco bastante adulterado (evidenciando-se o grande desequilíbrio de escalas entre as imagens e o retábulo), em madeira, com três registos: ao centro a imagem de São Roque, do lado do Evangelho a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem (“restaurada na Casa A. S. - David S. Barros. Rua Cruz de Pedra, 41, 43 Braga”) e do lado da Epístola São Bento. Conta a história que Roque, de origem francesa, partiu para Roma em peregrinação, auxiliando os enfermos da peste que em meados do século XIV assolava a cidade. Atingido ele próprio pela doença, decide refugiar-se num bosque, sendo milagrosamente alimentado por um cão que todos os dias lhe levava pão. Na sua iconografia São Roque é, por isso, representado acompanhado por um cão que transporta na boca um

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pão, assumindo-o como protetor contra a peste. A imagem de São Roque, atribuída ao século XVIII, é uma escultura em vulto pleno, de pé assente sobre uma base. Enverga vestes de peregrino, usando um chapéu de romeiro e exibindo na mão direta o cajado e a cabaça. Veste capa vermelha com decorações florais na face interior sobre uma camisa/t nica verde e dourada comprida cingida na cintura. Com o braço esquerdo ergue a camisa, expondo a perna esquerda de modo a mostrar a chaga nefasta. Ainda do seu lado esquerdo tem encostado o cão esculpido na vertical, com boca entreaberta. Igualmente atribuídas ao século XVIII são as imagens de São Bento e de Nossa Senhora da Boa Viagem. Representa São Bento uma escultura em madeira policromada e dourada de São Bento de Núrcia, em corpo inteiro e vulto pleno. O Santo é apresentado em pé, de pele clara e faces rosadas, tendo a mão direita em sinal de pregação e envergando o hábito da Ordem Beneditina. Uma escultura de vulto pleno em madeira policromada é identificada popularmente como Nossa Senhora da Boa Viagem, embora os seus atributos a aproximem de uma Nossa Senhora da Conceição. A Santa veste túnica comprida branca com cordão à cintura, ornamentada a dourado, envolvida por um manto azul. Apresenta o braço direito estendido e a mão esquerda sobre o peito, encontrando-se sobre uma meia-lua prateada decorada com cabeças de anjos e nuvens. Esta imagem foi restaurada pela “Casa Arte Sacra – David S. Barros. Rua Cruz de Pedra, 41-43, Braga”.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DO AMPARO (antiga) Largo de Nossa Senhora do Amparo 4445-155 Alfena A construção da primitiva capela de Nossa Senhora do Amparo data de 1697, sendo da responsabilidade


do capitão Gaspar Pinheiro de Carvalho. Degradada ao longo do tempo, foi reedificada em 1734 já numa nova linguagem arquitetónica: o barroco. É referida nas “Memórias Paroquiais” de 1758: “Capela de Nossa Senhora do Amparo: no lugar de Translessa; primeiro domingo de cada mês; nesses dias concorrem várias pessoas não só da freguesia mas também das circunvizinhas a trazer suas esmolas. E na dita capela se conta o terço e se dão uns rosários tirados por sorte”. Os altares da capela foram dourados mais recentemente, nos anos 60/70 do século XX, época em que o edifício teve grande intervenção de restauro. No entanto, a mais recente obra de restauro desta capela, que muito a qualificou e permitiu resgatar vestígios de fases anteriores que se encontravam ocultas, data de 2017. A fachada principal apresenta um portal ladeado por duas pequenas aberturas e um frontão circular, interrompido por um elemento esférico e encimado por uma janela. Remata com um campanário, coroado com uma cruz e enquadrado por dois pináculos. De planta longitudinal, com uma nave única, o interior da capela é preenchido com três altares de gosto barroco. A capela-mor, com altar-mor em talha dourada policromada, ostenta ao centro a escultura da padroeira da capela, Nossa Senhora do Amparo, imagem em madeira policromada do século XVIII, ladeada por um par de colunas coríntias decoradas com motivos de inspiração vegetalista. Apresenta do lado do Evangelho a imagem de São Pedro e do lado da Epístola a de São Luís de França, imagens do século XVIII/XIX. Completam a decoração dois retábulos, localizados na nave, dedicados a Santo António (lado do Evangelho) e Nossa Senhora das Dores (lado da Epístola). Todos os retábulos, em madeira policromada e talha,

ostentam uma grande proliferação de motivos decorativos vegetalistas e querubins característicos do período do barroco tardio. Destaque para o teto de madeira policromado com motivos florais e vegetalistas no coro alto. Uma escultura de vulto pleno representa São Pedro em pé, descalço, assente sobre uma peanha decorada com a cabeça de um querubim, com o pé direito ligeiramente avançado em relação ao esquerdo. Tem o braço esquerdo dobrado, segurando um livro, com o dedo polegar apoiado sobre o mesmo. O braço direito está fletido e segura uma chave. Veste uma t nica azul com debruns em dourado sob um manto colocado sobre os ombros de cor castanha com bordadura dourada. São Luís de França, esculpido em vulto pleno e em posição frontal, pousa sobre uma peanha de base irregular, decorada com querubim esculpido em relevo. A imagem apresenta-se com indumentárias reais ricamente tratadas em tons de rosa e branco. Sobre os ombros exibe um manto real vermelho decorado com uma pele de animal e um colar com medalha. Na mão direita segura um cetro dourado. A imagem de Santo António é do século XVIII. Trata-se de uma escultura de vulto pleno de Santo António com o Menino em madeira policromada. O Santo traja o hábito da ordem franciscana com uma capa com capuz, de cor castanha e orla dourada. À cintura exibe um cordão com três nós pendendo, do lado direito, um saco de pão. Com a mão direita segura um livro fechado onde está sentada a imagem do menino desnudo. Na mão do lado oposto exibe uma cruz dourada. Provavelmente também do século XVIII é uma imagem de vulto representando a Virgem com o Menino, sob a evocação de Nossa Senhora do Amparo, em madeira policromada com ornamentos dourados. Figura de pé, em posição frontal, segurando o Menino com o seu braço direito. A Santa traja uma túnica cor-de-rosa, enverga um manto azul pendendo dos ombros decorado com motivos vegetalistas em dourado. Tem a

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uma espada cravada no peito. Tem a cabeça coberta por um véu branco e um manto azul com decoração dourada e pedras de várias cores, que se prolonga até aos pés. As mãos entrelaçadas, em posição de oração, pousam sobre o peito.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DO AMPARO Rua de Nossa Senhora do Amparo 4445-155 Alfena Em 1978 uma nova capela dedicada a Nossa Senhora do Amparo foi edificada próximo da antiga, com projeto da autoria do arquiteto Alfredo Moreira da Silva que já concebera também a nova igreja paroquial. Esta nova capela caracteriza-se pela sua volumetria e pelas evidentes linhas arquitetónicas contemporâneas. O interior é amplo, revestido a madeira e iluminado por várias aberturas. Ao centro apresenta a imagem de Cristo Crucificado e do lado da Epístola a escultura de Nossa Senhora do Amparo. Datada do século XX, a imagem de Cristo Crucificado é uma escultura de vulto em madeira policromada, representando Jesus Cristo crucificado, com o corpo desnudo e com um manto enrolado na cintura. O tronco apresenta uma perfeita estrutura muscular. A cabeça apresenta-se ligeiramente inclinada sobre a sua direita. A imagem de Nossa Senhora do Amparo data de 1983 e é da autoria de Américo Lima. Trata-se de uma escultura pétrea representando Nossa Senhora que sustem, sobre o seu braço direito, o Menino vestindo uma túnica lisa, com os braços abertos num ternurento gesto de abraço. A imagem assenta numa base quadrangular. Nossa Senhora do Amparo veste uma longa túnica branca coberta por um manto, usa véu a enquadrar um rosto oval, de expressão serena. cabeça coberta por um véu branco encimado por uma coroa em filigrana. O Menino Jesus traja uma t nica branca ornada a dourado. Referência também para Nossa Senhora das Dores representada numa escultura do século XX que se pensa ter sido produzida pela Casa de Fânzeres, Braga. Escultura de vulto pleno em madeira policromada, Nossa Senhora das Dores é retratada em pé, tendo apenas

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Alfena celebra esta devoção mariana no último domingo de julho, com uma grande romaria e procissão.


CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PAZ Rua de S. Vicente 4445-416 Alfena A nova capela de Nossa Senhora da Paz, com obra iniciada em 1990 e inauguração em 1993, reflete as “exigências” decorrentes do aumento de população no lugar de Cabeda, tornando um antigo e pequeno templo privado já aí existente, insuficiente para o culto. A capela de Nossa Senhora da Paz é um edifício de grande volumetria, de estética arquitetónica inegavelmente contemporânea, com o interior amplo e iluminado por vários vãos. O altar-mor é revestido a lousa e madeira, assim como o teto de toda a capela. A imagem de Nossa Senhora da Paz, da autoria de Jaime Santos, data de 1981. É uma escultura de vulto, em madeira policromada, na qual Nossa Senhora se apresenta de corpo inteiro, coberta por um manto azul, de pé, olhando de frente, com o Menino Jesus suspenso por ambas as mãos. Veste uma túnica policromada sem decoração, que cai até aos pés descalços sobre um hemisfério. Na cabeça exibe uma coroa e o cabelo está coberto por um véu translúcido. O Menino está vestido com uma túnica lisa, olhando de frente, a mão direita levantada, com a qual segura uma palma com a palavra PAZ e a mão esquerda com os dois dedos levantados em sinal de abençoar. A Festa Litúrgica de Nossa Senhora da Paz realiza-se a 1 de janeiro.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE Rua Nossa Senhora da Piedade 4445-150 Alfena Privada e integrada na Quinta das Telheiras, esta capela, datada do século XVIII, é dedicada a Nossa Senhora da Piedade e nela se destaca uma imagem de Nossa Senhora que, evocando a “Pietá”, segura Cristo morto nos braços. A construção do portal e do edifício principal da capela é de 1740. Em 1758, as Memórias Paroquiais referem já a “Capela de Nossa Senhora da Piedade: na Quinta de D. Francisco de Paula Menezes”. Os elementos arquitetónicos que encontramos nesta capela apresentam, por isso, uma linguagem deco-

rativa do barroco dessa época e que tanto marcou o Entre-Douro-e-Minho. A fachada principal está enquadrada por duas pilastras que separam o edifício das estruturas anexas, rematando com um frontão curvo e coroado por dois pináculos. No frontão interrompido que remata o portal principal encontra-se, ao centro, uma cartela com a data da construção da capela: MDCC / XXXX (1740).

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O interior, de planta longitudinal, evidencia a exuberância decorativa do barroco nortenho no seu altar-mor em talha dourada, de grande envergadura, fundo azul com apontamentos de cor branca e decoração marcada a dourado. De planta convexa e três níveis, e com remate recortado, este retábulo apresenta ao centro um nicho em arco pleno que alberga a imagem da padroeira. Num segundo nível encontra-se um conjunto de seis esculturas de santos, distribuído por mísulas formadas por acantos e elementos fitomórficos. A já referida escultura retratando Nossa Senhora da Piedade data do século XVIII. Nela, a Virgem, em posição frontal, ampara no seu colo o Corpo de Cristo Morto. De rosto triste e olhar baixo, a Santa veste uma túnica roxa decorada a flores douradas e manto azul que cobre a cabeça. O corpo de Cristo, seminu, coroado de espinhos, exibe na sua débil estrutura anatómica as chagas. Na base estão expostos os instrumentos da paixão de Cristo. O conjunto escultórico de madeira policromada representa, da direita para a esquerda, São Luís, São Francisco, Santo Inácio de Loiola, Sagrado Coração de Jesus, São Domingos e São João Evangelista, imagens em vulto pleno de pé, assentes sobre peanha em talha dourada e pintada de branco, decoradas com temática vegetalista.

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São Luís de França, vestido com indumentárias reais cuidadosamente tratadas, veste túnica comprida de cor preta e uma “casula” em tons de vermelho. Sobre os ombros cai o manto real e um colar com medalha. São Francisco traja hábito franciscano com capuz, à cinta possui um cordão que dá duas voltas à cintura e pende do lado direito apresentando nós. Santo Inácio de Loiola levanta com a mão esquerda, ao nível da cintura, um livro fechado. Do lado oposto, com o braço erguido, seguraria provavelmente o seu atributo iconográfico, uma vara crucífera. Enverga uma capa sobre túnica preta longa. O Sagrado Coração de Jesus é uma figura em posição frontal, com o coração exposto e os braços fletidos. Veste t nica branca e sobre os ombros tem um manto vermelho com ornamentos em dourado. São Domingos apresenta-se vestindo o hábito da Ordem Dominicana, constituído por túnica branca, sobreposta de uma capa que aperta no pescoço, com capuz que cai para trás. Apresenta-se com os braços abertos em posição de segurar provavelmente os seus atributos que, contudo, atualmente já não possui. São João Evangelista, que veste túnica comprida envolvida por um manto, é esculpido de pé com a cabeça voltada para o lado direito e segura com a mão esquerda um livro.


CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO Rua Nossa Senhora Conceição, 4445-147 Alfena Dedicada a Nossa Senhora da Conceição, celebrada a 8 de dezembro, esta capela privada foi mandada construir na sua quinta, no lugar de Cabeda, em 1733 pelo capitão Vicente Ferreira e sua esposa Luzia Antónia. Numa época em que o lugar possuía perto de 25 fogos e implantada num meio rural rodeada por quintas e campos de cultivo, as “Memórias Paroquiais” de 1758 referem já a “Capela de Nossa Senhora da Conceição: no lugar de Cabeda na Quinta do capitão Vicente Ferreira Alfena”. De raiz vernacular, a capela caracteriza-se pela sua simplicidade, sobriedade e austeridade. Apresenta planta longitudinal composta por uma nave única antecedida por um alpendre aberto, com cobertura em telhado de duas águas. O acesso é feito através de uma pequena escadaria. A frontaria é rasgada pelo portal de lintel reto, a que se sobrepõe o frontão interrompido. No interior o destaque vai para um retábulo-mor de Nossa Senhora da Conceição, num barroco “fingido” que apresenta uma estrutura de cantaria em granito policromado com motivos vegetalistas e geométricos, composta por pilastras que suportam entablamento e frontão, rematando com uma pintura mural que nos parece representar a padroeira, Nossa Senhora da Conceição.

No nicho central encontra-se a imagem de Nossa Senhora da Conceição, ladeada pelas esculturas de São José, do lado da Epístola e de São Vicente Ferrer, do lado do Evangelho. A imagem de Nossa Senhora é uma escultura do século XVIII, em vulto pleno, executada em madeira policromada, estofada e dourada. Apresenta-se de pé, em posição frontal com as mãos colocadas no peito em oração e, sobre o seu lado esquerdo, segura um rosário. Veste uma túnica policromada com decoração floral de vários tons e dourada, com a cintura marcada por um cinto. Enverga também um manto de cor azul, que a envolve, preso por uma coroa sobre a cabeça em filigrana. Esta imagem tem como suporte um quarto crescente e três cabeças de querubins sobre o globo terreste, enrolado por uma serpente alada que pousa sobre uma base quadrada pintada. A presença da imagem de São Vicente Ferrer, igualmente do século XVIII, poderá estar relacionada, pela semelhança do nome, com o fundador e proprietário da capela, o Capitão Vicente Ferreira. Escultura de vulto, em madeira policromada e dourada, em forma de santo alado, representa São Vicente Ferrer de pé, ligeiramente inclinado sobre a sua direita, vestindo o hábito dominicano até aos pés. Tem as suas mãos abertas em posição que aparenta segurar algum dos seus atributos, que já não tem ou nunca existiram. Nas costas tem duas asas, pelo que é designado também como “santo alado” ou “anjo do apocalipse.” Aos seus pés,

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deitada sobre uma base, vemos uma mulher que veste uma túnica azul e possui uma touca cobrindo a cabeça.

prateado com uma pedra vermelha no centro. As suas vestes são de tons branco e dourado.

Atribuída ao século XVIII é também a imagem de São José. Escultura de madeira policromada, representa o Santo com o Menino Jesus deitado no seu braço esquerdo. Em vulto pleno, São José apresenta-se com barba e bigode castanhos e veste uma túnica verde lisa sob um manto de dupla face cor de laranja e branco. Com a sua mão esquerda segura uma haste de flores brancas – elemento habitual da sua iconografia. Após o restauro deste conjunto escultórico, ocorrido entre 2020 e 2023, foi colocada na imagem de São José uma pequena coroa dourada.

Também da primitiva matriz e datada do século XVIII é uma imagem do Menino Jesus, de vestir, em madeira policromada, representando o Menino de pé, ligeiramente inclinado, com o seu cotovelo esquerdo sobre uma coluna (símbolo da flagelação de Cristo), rematada por uma caveira. A mão direita da imagem está em falta. Assenta sobre uma peanha em madeira dourada ricamente ornamentada. O corpo enverga um vestido de cor púrpura bordado, com cinto dourado. Ostenta um resplendor circular dourado com uma pedra vermelha no centro. Tem os pés nus e levemente adiantados.

MUSEU DA PARÓQUIA DE ALFENA Rua do Centro Social, s/n 4445-066 Alfena O Museu da Paróquia de Alfena acolhe um rico e amplo património proveniente de vários locais da freguesia, com destaque para a antiga igreja matriz, pequenas capelas e alminhas. Do vastíssimo espólio permitimo-nos salientar algumas peças: A imagem das Santas Mães, datada do século XVIII, é uma das esculturas da primitiva matriz que aqui podemos encontrar. Escultura em vulto pleno representa as “Santas Mães” - Santa Ana, a Virgem Maria e o Menino Jesus. Conjunto escultórico em madeira estofada policromada, apresenta uma base composta por quatro querubins, de rostos gordinhos e faces rosadas, que espreitam por entre as nuvens. Do lado esquerdo ergue-se a Virgem que ostenta uma coroa de prata sobre cabelos castanhos, rosto de pele clara e faces rosadas. Aparece ricamente vestida, numa visão quase cortesã a julgar pela opulência das vestes que enverga, em tons de branco e azul com decoração dourada. Na sua mão direita segura uma maçã, símbolo iconográfico do pecado original. Ao seu colo segura o Menino Jesus debruçado sobre a avó, Santa Ana, que aparece majestaticamente sentada do lado direito da composição, com a mão direita sobre o peito e a esquerda segurando cachos de uva e algumas tâmaras, numa alusão ao futuro sacrifício do Redentor. Santa Ana apresenta sobre a cabeça um toucado de cor branca com faixa dourada a debruar, encimado por um resplendor

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Uma outra imagem do Menino Jesus em madeira policromada aqui exposta, com a mesma origem, igualmente de vestir e também atribuída ao século XVIII, representa o Menino Jesus Salvador do Mundo de pé e em posição frontal, com a mão direita levantada e abençoando. Enverga uma túnica em tecido branco com debruns dourados. Com os pés paralelos pisa um globo azul decorado com estrelas douradas. A escultura assenta numa pequena peanha dourada que aparenta reaproveitar um antigo capitel. Atribui-se igualmente ao século XVIII a imagem de Santa Luzia, também proveniente da primitiva matriz e aqui patente. Escultura estofada, de vulto em madeira policromada e dourada, representa Santa Luzia de pé, de frente, envergando vestido de cor azulada com a parte superior do corpete em vermelho e a saia comprida até aos pés calçados, de que apenas se vê a ponteira, e com decoração policroma de estofado. Enverga, sobreposta sobre as costas até aos pés, cobrindo-os, e caindo à frente sobre o seu braço direito, uma capa de cor avermelhada sublinhada com motivos vegetalistas dourados. Tem o rosto e as mãos em tom das carnações, com o cabelo castanho-escuro preso, uma composição de penteado natural da época. Na sua mão esquerda segura uma taça com pé, sobre a qual estariam pousados dois olhos (hoje desaparecidos), símbolos do seu martírio e seus atributos. Na mão direita segura um livro. A imagem de Nossa Senhora da Assunção, também pertencente ao acervo da primitiva matriz e exposta no Museu, data do século XVIII. A escultura, de vulto perfeito, em madeira estofada e policromada, apresen-


ta-se sobre uma base decorada com cabeças de querubins. Trata-se de uma imagem de corpo inteiro, em posição frontal. Nossa Senhora apresenta olhos escuros, boca pequena, cabelo escuro apanhado a meio, encimado por uma coroa em prata. Tem as mãos postas em oração encostadas ao peito. Enverga um vestido ricamente ornamentado e colorido, com motivos vegetalistas. Sobre os ombros cai, até aos pés, um manto luxuosamente trabalhado, de várias tonalidades com orla rendilhada. Já do século XIX/XX é a imagem de São José com o Menino, também ela oriunda da antiga matriz de Alfena. Escultura de madeira policromada, em vulto pleno, nela São José apresenta-se com barba e bigode castanhos, vestindo túnica verde lisa com debruns dourados e, sobre o ombro esquerdo, exibe um manto cor de laranja com decoraç es fitomórficas em dourado. Com a sua mão esquerda segura o Menino enquanto a direita segura na mão do Menino. Encontramos ainda no Museu Paroquial um conjunto escultórico datado do século XIX que integrou o altar de Nossa Senhora das Dores na antiga igreja de Alfena. Representa Cristo Morto junto de Nossa Senhora das Dores debaixo de um pálio com brocados dourados e laços, seguro por quatro varas e acompanhado por quatro lanternas de grandes dimensões. Nas paredes à sua volta encontram-se expostos diversos

paramentos litúrgicos. A imagem de Nossa Senhora das Dores é de roca, em madeira pintada. Sentada em lamentação, de braços abertos, vela o corpo jacente do filho. Veste uma t nica roxa com bordados a fio de ouro. Apresenta sobre a cabeça um resplendor em prata e um manto preto ornamentado. Na mão direita segura quatro espadas de prata. A escultura retratando Cristo Morto, em madeira policromada, com braços articulados em tamanho natural, está depositada sobre almofadas e uma toalha branca com rendas. Com o corpo desnudo, Cristo exibe as escoriações do seu martírio. Parece tratar-se não de um conjunto original, mas de uma “montagem expositiva” para o museu. Ainda pertencente à primitiva igreja matriz de Alfena, mas já do século XX, é a representação de Nossa Senhora das Graças, uma escultura em vulto pleno em madeira policromada. Figura de pé, tem o seu braço direito esticado e o esquerdo sobre o coração. Traja túnica branca decorada com motivos dourados e pedras de várias cores, sob um manto azul ornado com debrum e elementos fitomórficos dourados. Nas traseiras da base encontra-se uma inscrição: “Oficina de Pintura de António dos Santos Oliveira. Rua Conceição Fernandes nº 50 Mafamude Gaia. Abril 193?” (provavelmente 2). O acervo da primitiva matriz de Alfena integra ainda um conjunto de turíbulo, naveta e salva do século XIX, agora expostos no museu. O turíbulo em prata apresenta uma base circular decorada com ornatos vege-

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vulto pleno seguram a base do ostensório de secção circular. Mais antiga é a imagem de São Sebastião igualmente exposta no museu e que se atribui ao século XVII (1689). Escultura de vulto em madeira policromada, representa São Sebastião em ambiente naturalista e com os seus atributos iconográficos. O Mártir apresenta-se em posição frontal com a perna direita ligeiramente adiantada e a esquerda atada a uma árvore. Apresenta o tronco nu, apenas com um cendal atado à cintura, mostrando as marcas das setas do seu martírio. A imagem assenta sobre uma base de forma arredondada, de fundo castanho-claro e vegetação verde, de onde emerge, por detrás do seu corpo, um tronco de árvore verde com galhos cortados, ao qual o Santo está amarrado.

talistas. A parte superior é cónica, apresentando uma barra de elementos fitomórficos vazados. Remata num óvulo com anel saliente para encaixe de uma cadeia de suspensão. A naveta tem uma base circular alta, decorada com estrias relevadas. Apresenta haste abalaustrada, arrancando num friso de folhas. O corpo principal da peça tem a forma de uma nau e está ornado com elementos vegetalistas. Ao nível superior apresenta decoração floral estando dividida em duas partes separadas por uma secção alta sobre a qual se eleva uma cruz ricamente decorada. A salva em prata, de forma circular, apresenta um bordo ligeiramente relevado com decoração de ornatos vegetalistas e volutas. Também pertencente à igreja matriz, mas proveniente já do novo templo, é o conjunto de custódia e base para ostensório que encontramos agora no museu mas que anteriormente era pousado sobre a mesa do altar-mor. A custódia, de prata dourada, apresenta uma base redonda com estrias, haste em forma de urna alongada decorada com caneluras, e hostiário com viril de prata dourada e configuração circular, lunetas de vidro, circundado por resplendor de raios com dimensões variadas, sendo encimado por uma cruz latina. A base de ostensório, também em prata e prata dourada, é constituída por uma base de forma retangular suportada por quatro pés arredondados. A parte superior da base é decorada com faixa vazada com cornucópias, volutas e outros motivos florais. Em cima, dois anjos em

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Destaque para umas “Alminhas” (ou espaldar de caixa de esmolas) presentes no museu, de origem e datação desconhecidas e que apresentam uma pintura alusiva às Almas do Purgatório. Trata-se de um painel em madeira com composição de caráter popular/naïf. A pintura está dividida em dois registos: no primeiro plano aproximadamente seis almas (homens e mulheres) envolvidas pelas labaredas esticam os braços nus, pedindo auxílio/salvação a Cristo Crucificado que surge sobre fundo azul-celeste. A seu lado uma figura masculina envergando um traje militar romano assiste serenamente ao desenrolar da cena. Na inscrição pode ler-se “LEMBRAI-VOS DAS BENDITAS ALMAS PELO AMOR DE DEOS”. Do século XVIII é também a escultura de vulto, em madeira policromada, representando Nossa Senhora do Amparo com o Menino Jesus ao colo, proveniente da antiga capela de Nossa Senhora do Amparo. A Virgem apresenta-se de corpo inteiro, de pé, de frente, pousada sobre umas nuvens com dois anjos querubins. Tem o Menino Jesus pousado na sua mão esquerda e o seu braço direito estendido com a mão semiaberta. Possui um vestido em tons de rosa e manto azul esvoaçante, com decorações em dourado, caindo em drapeado sobre os pés. Protegida pelo manto da Virgem encontra-se uma criança ajoelhada em posição de oração. O Menino Jesus que Nossa Senhora sustenta na mão esquerda, seminu, segura com ambas as mãos um coração. A imagem de São João Baptista exposta no museu datará do século XIX (1861). Escultura de vulto, em


envolvida em nuvens, Nossa Senhora do Amparo com o Menino Jesus. Um outro ex-voto, datado de 1779, é igualmente dedicado a Nossa Senhora do Amparo pela graça de salvar a embarcação e seus tripulantes do iminente naufrágio provocado por uma intempérie. Pintura a óleo sobre madeira, de cariz popular/naïf, representa uma cena que se desenrola no alto mar, onde um barco de grande porte é fustigado pela força das ondas. À direita, aparece uma visão glorificada de Nossa Senhora do Amparo.

madeira policromada, representa São João Baptista em posição frontal, de pé. Veste uma pele de cordeiro envolvida por um manto rosado. Na mão esquerda segura, com o braço fletido, um livro, sobre o qual pousa um cordeiro. Carrega ainda uma haste com uma bandeirola com a inscrição: “ECCE AGUNS DEI”. Destaque ainda, no Museu da Paróquia de Alfena, para uma Piedade ou Pietá, escultura de vulto em madeira policromada. A Virgem Maria de corpo inteiro, sentada, sustenta o corpo inanimado de Cristo, segurando-lhe o braço com a mão esquerda. Veste uma túnica púrpura envergando sobre ela um manto azulado com friso dourado, que envolve toda a composição. O rosto é marcado por um grande dramatismo e dor. A figura de Jesus Cristo, estendido diagonalmente no regaço da mãe, apoia os pés moribundos no solo. Exibe ao longo do tronco desnudo os ferimentos do seu martírio. Destaque ainda para os ex-votos existentes no Museu da Paróquia de Alfena. Um ex-voto dedicado a Nossa Senhora do Amparo em agradecimento pelo milagre da cura de um doente, datado do século XVIII, é uma pintura a óleo sobre madeira, de cariz popular/naïf. A cena desenrola-se no interior de um quarto. À direita, vê-se uma cama com dossel vermelho onde se encontra o “escravo” enfermo; aos pés do leito, um homem rico joelha-se, juntamente com outro escravo, em posição de oração, pedindo auxílio milagroso a Nossa Senhora do Amparo. À esquerda aparece, em visão aureolada

A imagem de São Miguel Arcanjo, exposta no museu acompanhada por dois anjos de retábulo, data do século XIX. Trata-se de um conjunto de três esculturas de vulto, em madeira policromada, representando São Miguel Arcanjo triunfante sobre o Diabo, acompanhado por dois anjos vigilantes. São Miguel, ainda jovem, apresenta-se de corpo inteiro, de pé, com vestes de guerreiro e com uma cabeleira loira encimada por um turbante ricamente decorado, rematado com um esplendor redondo vazado. Tem os pés sobre as costas do Diabo, segurando-o por uma corrente com a mão esquerda. Na mão direita, erguida, deveria possuir uma lança, mas exibe um molho de palha. Também do século XIX é a representação de São Vicente. A imagem apresenta-se paramentada com vestes de diácono (dalmática vermelha), apresentando um resplendor em prata. Santa Margarida Maria de Alacoque - responsável pela divulgação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus - está igualmente representada numa escultura do século XIX existente no Museu da Paróquia de Alfena. Escultura de vulto pleno, é retratada de joelhos, com o olhar contemplativo direcionado para o céu. Enverga o hábito da Ordem da Visitação fundada por São Francisco de Sales. Um conjunto de cinco cruzes processionais datadas do século XIX/XX integra ainda o acervo do museu. A Cruz processional em prata dourada tem configuração latina, com terminações trilobadas decorada com volutas. Apresenta-se moldurada em todo o contorno e decorada com caneluras relevadas. Cristo é representado em vulto pleno, circundado de resplendor raiado. Este conjunto de cruzes processionais com atributos identificam várias confrarias: Almas, Senhora do Amparo, Paroquial, São Vicente e Santíssimo Sacramento.

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De entre o vasto acervo do Museu da Paróquia de Alfena destacamos ainda o conjunto da Caixa de Esmolas da Sagrada Família, grupo escultórico constituído por três figuras de vulto: Nossa Senhora, à nossa esquerda, São José à nossa direita e o Menino Jesus no centro. A cena invoca momentos da infância de Jesus. Segundo a tradição, este pequeno oratório de madeira, portátil, com uma gaveta na base onde eram depositadas as esmolas destinadas à celebração de intenções em honra da Sagrada Família, circulava de casa em casa, refletindo bem a religiosidade popular da comunidade. A imagem do século XVIII representando São Joaquim existente no Museu da Paróquia de Alfena, é uma escultura em madeira estofada e policromada, representando São Joaquim em vulto pleno. O Santo figura com barba, bigode e cabelos castanhos, exibindo sobre a cabeça um resplendor semicircular. Veste túnica verde decorada com motivos fitomórficos dourados sob manto vermelho ornado com motivos semelhantes aos de túnica em dourado, lançado da esquerda para a direita. A escultura retratando São Vicente do século XIX que encontramos igualmente no museu apresenta o Santo em vulto pleno, de pé, segurando com a mão direita uma folha de palma, símbolo de martírio, enquanto a mão esquerda segura um livro aberto. A imagem apresenta-se com vestes de diácono, decoradas com motivos fitomórficos e faixas em dourado. Tem um resplendor em prata de forma circular, com pedra colorida no centro. Junto ao pé esquerdo do Santo encontramos um corvo. Santo António, esculpido em vulto pleno, de pé e em posição frontal, é uma escultura igualmente datada do século XIX. Como atributo iconográfico apresenta um livro aberto que segura com a mão esquerda, sobre o qual estaria o Menino Jesus; na mão direita, tal como na esquerda, falta o símbolo iconográfico. Apresenta a cabeça tonsurada. Traja hábito franciscano com capuz, exibindo sobre o fundo escuro ornamentos florais em dourado. À cinta possui um cordão dourado com duas voltas e nós. Data também do século XX (1961) a pintura sobre tela, de grandes dimensões, representando a adoração do Santíssimo Sacramento, assinada pelo artista Lúcio Fânzeres e que terá pertencido à antiga igreja. Inicialmente a obra pictórica estava no altar-mor da primitiva igreja de São Vicente de Alfena, mas encontra-se

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hoje no Museu da Paróquia de Alfena. Ao centro está representado o Santíssimo Sacramento enquadrado por uma glória de dois anjos e dez querubins. Os dois anjos encontram-se representados em posição de oração e contemplação sobre um conjunto de nuvens. Trajam túnicas singelas em tons de rosa e bege. O Santíssimo é exibido numa custódia dourada, ricamente ornamentada, rodeada por uma luz dourada, espigas de trigo, parras e cachos de uvas. O plano superior é preenchido por um conjunto de nove querubins. Na parte inferior da tela, aparece um querubim, por entre as nuvens. Atribui-se ainda ao século XIX a imagem de São Simão existente no museu, esculpido em vulto pleno e em posição frontal. Segura na mão direita, com dois ou três dedos amputados, um serrote, símbolo iconográfico do seu martírio; e na mão esquerda um livro aberto com inscrições. Traja uma túnica lisa ornada com uma faixa em dourado, exibe um manto simples em tons de azul e verde, com remate em dourado. Junto ao pé direito do Santo encontra-se um dos dedos mutilados. Do século XIX é também um par de Anjos Tocheiros, escultura de vulto em madeira policromada, representando um anjo de lado com o joelho da sua perna direita no chão e a perna esquerda fletida. Segura com os braços uma tocha ou castiçal, ao alto sobre o seu lado esquerdo. Veste uma túnica com decoração simples policromada.


A escultura de São Francisco Xavier existente no museu é do século XVIII. Imagem de vulto em madeira policromada e dourada, representa São Francisco Xavier, um dos fundadores da Companhia de Jesus, em pé em posição frontal. Apresenta uma fisionomia jovem, ligeiramente voltado para o seu lado direito. Na mão esquerda sustenta um livro aberto e na direita exibe uma cruz latina simples. Traja batina negra e roquete branco, de mangas largas, rendado por cima. Ao pescoço ostenta uma estola vermelha decorada com motivos fitomórficos e franja em dourado. Assenta sobre uma base em forma de nuvem branca. Uma outra imagem de Santo António, já do século XX, em madeira policromada, retrata o Santo esculpido de pé, com o Menino Jesus. O conjunto apresenta auréola de metal. Tonsurado, Santo António veste hábito franciscano cingido pelo cinto mendicante de nós em dourado. O Menino traja uma túnica branca simples, encontrando-se de pé sobre o livro aberto, com o corpo em perfil. Do século XVIII é a escultura de vulto representando Jesus Cristo crucificado a corpo inteiro, desnudo, coberto à cintura por uma faixa branca. O corpo apresenta vários ferimentos e escoriações, estando pregado pelos pés e mãos na cruz. O pé direito está aposto sobre o esquerdo. A cabeça pende sobre a sua direita. A cruz processional de configuração latina, com terminações trilobadas decorada com volutas, datará do século XVIII/XIX. A cruz apresenta-se moldurada em todo o contorno e decorada com caneluras relevadas. Cristo é representado em vulto pleno de prata, circundado de resplendor raiado dourado. Apresenta na haste principal uma imagem de São Vicente em relevo, provavelmente para assinalar a pertença à confraria de São Vicente. Encontramos ainda no Museu da Paróquia de Alfena uma píxide em ouro cuja produção resultou da fundição de muitas das oferendas em ouro dos devotos, datada de 1968, de desenho contemporâneo, ornamentada com texturas em baixo relevo executadas através do trabalho manual de martelar o metal.

Data do seculo XVIII/XIX o conjunto de varas em metal, de secção circular, com aplicação de uma pequena cruz na parte superior, possivelmente usadas em procissões (vara do juiz). A Cruz Pascal (conjunto), igualmente do século XVIII/ XIX, é oriunda da igreja São Vicente Alfena. Trata-se de cruz processional em prata, de haste e braços de secção quadrada, rematados com elementos decorativos fitomórficos. Ao centro a figura de Cristo crucificado, com decoração raiada em dourado. Nó em forma de urna ricamente decorado. Vara em prata, tubular, simples. Uma escultura de vulto em madeira policromada (século XX) existente no museu representa o Mártir São Sebastião, apresentado em posição frontal com a sua perna direita ligeiramente adiantada e a esquerda atada a uma árvore. Apresenta o tronco nu, unicamente com um cendal azul atado à cintura por um cordão dourado, e tem setas cravadas no corpo, símbolo seu martírio. Sobre a base, de secção quadrangular, estão depositadas as seguintes peças: um escudo, um elmo e uma espada.

Apresenta base redonda, haste cónica e taça com tampa de forma arredondada. A tampa repete a estrutura e decoração da base e é rematada por uma cruz estilizada.

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CALVÁRIO DE CABEDA ou VIA-SACRA Rua do Calvário (entre as ruas da Aldeia Nova e da Vitória) 4445-052 Alfena A Via-Sacra de Cabeda constitui um dos registos de maior relevância na freguesia, não só pelo valor patrimonial do conjunto, mas também como elemento agregador de devoção e religiosidade popular. Construído na primeira metade do século XVIII, mais precisamente em 1733, é formado por sete Cruzes. Todas as Cruzes têm uma configuração semelhante, de tipo latino, assentes sobre plintos paralelepipédicos. Apenas os dois cruzeiros do final da Via-Sacra exibem plintos distintos, apresentando uma maior elaboração estética, com um talhe em forma geométrica. Existe ainda uma Cruz na rua da Aldeia Nova (Cruzeiro da Aldeia Nova), nas proximidades deste Calvário, e outras a caminho da Igreja Matriz, fazendo todo o conjunto parte da referida via-sacra. O local foi alvo de intervenção urbanística em 2005.

CALVÁRIO DA COSTA ou VIA-SACRA Largo da Costa 4445-078 Alfena À semelhança da Via-Sacra de Cabeda, a Via-Sacra da Costa é uma construção de raiz popular datada de 1776, composta por sete cruzes individualizadas, permanecendo seis localizadas na mesma área, organizadas em “cruz latina” e a última um pouco mais distante do conjunto devocional.

Cruzeiro colocado no largo principal da igreja matriz de Alfena do qual se desconhece a data de construção. Eleva-se como um exemplar imponente a partir de uma plataforma quadrangular, composta por degraus que servem de suporte a um pedestal formado por base, de secção quadrangular. Segue-se um fuste com decoração geométrica em relevo. Remata com uma esfera na qual assenta uma cruz latina.

CRUZEIRO DA RESTAURAÇÃO Rua de S. Vicente s/n (junto à entrada do cemitério de Alfena) 4445-210 Alfena

É também provavelmente de 1776 a cruz existente na Rua Central da Costa.

O Cruzeiro da Restauração ergue-se numa base de secção quadrangular de dois degraus de granito de tamanho decrescente. Com base em paralelepípedo apresenta, em cada uma das faces de mármore, inscrições relativas à Restauração. Sobre a base eleva-se uma coluna com caneluras, dividida em dois tramos, encimada por um capitel jónico rematado com globo que serve de base a uma cruz decorada com nós.

O conjunto teve uma intervenção de restauro em 1979.

A sua construção data de 1940, como comprovam as

Estilisticamente o Calvário da Costa, apresenta características idênticas formando uma Via-Sacra com origem na antiga igreja matriz de São Vicente de Alfena.

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CRUZEIRO “CAPELA MORTUÁRIA” Rua da Igreja (adro da Igreja Matriz de Alfena) 4445-127 Alfena


inscrições que ostenta: “1140 – 1640 – 1940 / ano de 1940 o povo de Alfena comemorou o VIII Centenário da Independência …. “.

ALMINHAS DE SÃO VICENTE Rua do Centro Social 4445 Alfena Desconhece-se a data de construção destas Alminhas. No entanto, o nicho de São Vicente, padroeiro de Alfena, é o exemplar com pormenores arquitetónicos mais elaborados da freguesia. Embora se trate de uma construção vernacular, exibe um remate de carácter erudito. Ostenta uma folha de acanto decorada com outros motivos vegetalistas, tratando-se provavelmente de um reaproveitamento. No interior, decorado com se fosse uma gruta, encontra-se uma imagem em mármore de pequenas dimensões, representativa de São Vicente, datada de 1933.

ALMINHAS DO PEREGRINO ou ALMINHAS NOVAS Rua de S. Vicente 4445 Alfena De edificação recente (2005), estas Alminhas apresentam uma estrutura de secção quadrangular, de alvenaria e granito, envidraçada, contendo no interior o conjunto escultórico de Nossa Senhora da Piedade. Esta escultura retrata a Piedade, policromada, em vulto pleno. Nossa Senhora em posição frontal, sentada, ampara no colo o corpo de Cristo Morto. A Virgem enverga uma túnica azul claro, caindo pesado da cabeça sobre os ombros um manto azul escuro. Cristo deitado no colo da Mãe, desnudo, exibe na cabeça uma coroa de espinhos.

ALMINHAS Rua das Alminhas 4445 Alfena Estas alminhas estão incorporadas no muro duma propriedade privada na Rua das Alminhas. Estruturalmente, compõem-se por uma base da qual arranca uma coluna granítica de configuração estreita e retangular que contém um nicho de talhe simples, com arco em volta perfeita coroado com uma cruz de tipologia latina. O seu interior é preenchido com azulejos poli-

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cromados, alusivos a Nossa Senhora do Carmo e das Alminhas do Purgatório. No painel azulejar a Santa é representada no centro, em posição soberana, acompanhada por dois Anjos que resgatam duas Almas do fogo. Na base encontra-se representado um conjunto de figuras humanas no Purgatório. O conjunto é encimado por azulejo padrão policromado de produção industrial. Apresenta uma portada em ferro com decoração eucarística. Tem a seguinte inscrição: “Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando.”

ALMINHAS DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS Parque de São Lazaro Rua de São Lazaro 4445 Alfena Não se trata propriamente de umas alminhas, mas antes de um nicho onde estava alojada a imagem de Nossa Senhora dos Remédios, não sendo possível determinar a respetiva data de edificação. Localiza-se junto ao rio Leça, na margem oposta da Capela de São Lázaro. O pequeno nicho é escavado na rocha, protegido com gradeamento em ferro forjado semicircular, estando atualmente ausente a imagem de Nossa Senhora dos Remédios. No interior encontra-se uma imagem de São Lazaro. O Santo é representado em pé, seminu, enfermo amparado por uma muleta do lado esquerdo, do seu lado direito encontra-se um cão. Segundo a sua iconografia o Santo é o padroeiro dos pobres, dos leprosos e dos cães. Como já foi referido, a propósito da capela de S. Lázaro, sabe-se que existiu neste local uma capela (a “da Ponte”) consagrada a Nossa Senhora dos Remédios, entretanto desaparecida, pelo que estas alminhas perpetuam a memória dessa antiga devoção no local.

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3.2 | Campo

SÃO MARTINHO Filho de um oficial do exército, Martinho nasceu, segundo a sua hagiografia, no ano 316 na província romana da Panónia, na atual Hungria, no seio de uma família pagã. Adolescente começou a frequentar uma igreja cristã, apesar da oposição do seu pai que, tentando mantê-lo afastado do Cristianismo, o mandou para a cavalaria do exército imperial. Tal não resultou, uma vez que, já cavaleiro, Martinho continuou a frequentar a igreja. Aos 20 anos foi destacado como militar para a Gália. Aí, é certo dia abordado por um mendigo que tremia de frio e lhe pede esmola. Não tendo dinheiro para dar, Martinho corta a sua capa ao meio e oferece metade ao pobre homem. Nessa mesma noite, é visitado em sonhos por Cristo que, usando a metade do manto que o cavaleiro havia dado ao mendigo, agradeceu-lhe por o ter aquecido. Martinho decide então abandonar o exército e dedicar-se à sua Fé. Batizado aos 22 anos, dedicou-se a uma vida de oração e reclusão, ficando na Gália como monge e sendo guiado pelo Bispo de Tours, Santo Hilário, que o viria a ordenar diácono e a doar-lhe um pedaço de terra em Ligugé, a 12 quilómetros de Poitiers. Nesse território Martinho funda uma comunidade monástica, considerado o primeiro mosteiro na Gália e na Europa Ocidental. Martinho e os seus monges levam a cabo um movimento de evangelização, visitando aldeias (onde persistiam as tradições do paganismo), pregando a Boa Nova e construindo igrejas e mosteiros. São-lhe atribuídos muitos milagres, curas e outros dons místicos que teriam ajudado na sua missão evangelizadora. Tornou-se bispo de Tours em 371 por aclamação do povo. Como bispo, manteve as suas peregrinações missionárias e viajou regularmente entre as várias paróquias. Morreu aos 81 anos de idade a 8 de novembro do ano 397, tendo sido sepultado a 11 de novembro.

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INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO RELIGIOSO Território tradicionalmente rural, Campo possui terras férteis onde se cultivava milho, vinho, feijão, batata e legumes. Mas o seu subsolo é dotado também de riquezas naturais diversas (como a ardósia, as quartzites, o antimónio, o volfrâmio) que não passaram despercebidas aos nossos antepassados. Mais recentemente a freguesia foi sendo igualmente palco de algumas ind strias transformadores que lhe foram definindo o perfil. O território de Campo, banhado pelo rio Ferreira, é delimitado a norte por Sobrado, a noroeste por Valongo e a sul pelo concelho de Paredes. Tal como Alfena e Sobrado, é das menos populosas e mais rurais freguesias do concelho, com uma área total de 13,3 km2 e uma população de 9.107 habitantes (dados do Censo 2011. O Censo de 2021 regista 15.924, mas para o conjunto da União de Freguesias Campo e Sobrado). São Martinho do Campo é referenciado já nas Inquirições de 1258 de D. Afonso III, pertencendo então a Aguiar de Sousa, vindo a integrar o concelho de Valongo desde a sua criação em 1836. O seu orago – São Martinho – anda habitualmente associado a paróquias com origens remotas e das mais antigas em Portugal. Sintomaticamente Campo é muitas vezes indicada, pela tradição, como sendo uma das – senão mesmo “a” – mais antiga de Valongo. Celebrado a 11 de novembro, São Martinho de Tours, a quem são atribuídos muitos milagres e curas, foi um santo que evocado por um outro São Martinho (o de Dume) se viu envolvido miraculosamente, neste nosso noroeste da Península Ibérica, na conversão dos suevos ao catolicismo. O Santo angariou também grande popularidade como padroeiro, entre outros, de curtidores, alfaiates e produtores de vinho. A sua iconografia representa-o tradicionalmente como um legionário romano, envergando capa e farda de campanha, capacete e espada, com um globo de fogo sobre a cabeça. Na igreja paroquial de Campo celebra-se o padroeiro em novembro, com procissão que tem lugar no domingo mais próximo de 11 de novembro.

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IGREJA MATRIZ Avenida Visconde de Oliveira 4440-037 Campo A igreja paroquial de São Martinho de Campo é um dos mais belos templos do concelho de Valongo, a que se associa um património artístico e religioso diversificado e de particular relevância, com algumas das mais antigas imagens do concelho e um rico espólio barroco que aqui se conserva desde o século XVIII. A sua arquitetura evidencia o longo percurso desta matriz, somando aos elementos barrocos pré-existentes, as aportações neoclássicas de inícios do século XX, bem como testemunhos modernos e contemporâneos resultantes de intervenções mais recentes.

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Com efeito, são deste período (séculos XVII e XVIII) diversas peças que chegam aos dias de hoje, incluindo retábulos, imagens e azulejos. O padroado da igreja foi, então, exercido por diversas instituições, incluindo o Bispado do Porto e o Mosteiro da Serra do Pilar. O templo foi novamente intervencionado na passagem do século XIX para o XX, sendo reconstruído e ampliado, principalmente com obras que decorreram entre 1902 e 1910 mantendo, contudo, parte significativa da anterior construção, nomeadamente elementos barrocos. Ao longo do século XX o imóvel foi sendo preservado e enriquecido com novas imagens e alfaias litúrgicas, e adaptado às diretrizes emanadas pelo Concílio do Vaticano II (anos 60/70).

Admite-se que a antiga igreja matriz de Campo, dedicada a São Martinho e de raízes medievais, teria sido erguida no local onde encontramos hoje a Quinta do Passal erguida por volta de 1900 e doada posteriormente à Paróquia de São Martinho do Campo. Talvez no futuro uma intervenção arqueológica no local nos possa confirmar ou elucidar desta possibilidade.

Já no século XXI (2005) o templo conheceu nova intervenção de requalificação e melhoramentos, com a introdução do órgão de tubos (oferecido por Moreira Gonçalves), a requalificação do espaço exterior da igreja matriz e da Quinta do Passal (agora pertencente à Paróquia de Campo, numa doação, por testamento, do mesmo benemérito Moreira Gonçalves).

No século XVI a igreja terá sido reconstruída já na atual localização, admitindo alguns autores que poderão datar desse período duas pedras localizadas na pequena escadaria para a mesa de altar no altar-mor. Admitindo a interpretação de que tais elementos pétreos são renascentistas ou maneiristas, poderão nesse caso ser resquícios dessa primeira reconstrução da igreja em Quinhentos. Bem mais evidentes, contudo, são as alterações registadas nos dois séculos seguintes.

Vista do exterior, a igreja é impactante. Templo de uma só nave, apresenta uma fachada neoclássica simples, revestida por um conjunto de azulejos azuis e brancos com simbologia eucarística, composta pelo corpo central com cantaria granítica e cinco janelas gradeadas, frontão triangular (com referência ao ano 1904) rematado por cruz latina. Completa o conjunto uma torre sineira igualmente neoclássica, com conjunto de sinos e relógio, revestida a azulejo que integra um


painel com a representação do orago – São Martinho. Mas é no seu interior que o templo mais surpreende. Desde logo pela exuberância da capela-mor, numa linguagem barroca que se estende simultaneamente aos retábulos do Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora das Graças, às pinturas do teto e ainda à sacristia. Posteriores são os retábulos de Nossa Senhora da Conceição e Senhor Crucificado, de inspiração neoclássica, e o guarda-vento. A nave comporta um vasto e enriquecedor conjunto de imagens. Dedicada ao Santíssimo Sacramento, a capela-mor é parcialmente herdeira da construção anterior às profundas reformas produzidas no início do século XX, incluindo os já referidos elementos atribuídas aos séculos XVI e XVII, somando a um provável estilo renascentista inicial elementos barrocos e neoclássicos traduzidos nos trabalhos da talha dourada, do granito, dos azulejos e das madeiras, destacando-se o retábulo-mor já referido nas “Memórias Paroquiais” de 1758. O conjunto, alvo de novas intervenções nos anos 60/70 do século XX, constitui o espaço artisticamente mais rico e mais interessante da matriz de Campo e, além do retábulo setecentista, inclui também o ambão, a mesa de altar, a cadeira presidencial, a peanha com base para santos, as sanefas, a divisória junto do retábulo, os assentos e os candeeiros, todos de inspiração barroca conferindo uma coerente linguagem artística do espaço. As paredes estão cobertas de azulejos com

representaç es de seis figuras do Antigo Testamento (acompanhados breves trechos bíblicos), pelicano e simbologia eucarística. O teto é composto por trinta caixotões em talha dourada, historiados com quinze pinturas alusivas aos mistérios do Rosário (vida de Cristo e de Nossa Senhora) e quinze pinturas alusivas à vida de São Martinho (padroeiro do templo). A técnica artística de pintura em caixotões caracteriza-se pela colocação de pinturas sobre madeira numa composição de divisões quadrangulares ou retangulares em talha dourada, distribuída em grelha nos tetos. Esta tipologia pictórica atinge o auge durante o período barroco, contribuindo para a transformação das igrejas em espaços de grande teatralidade cénica. Para além do cariz decorativo, a pintura em caixotões, desempenha funções fundamentais na evangelização. O teto da capela-mor é um relevante espaço da igreja de São Martinho de Campo, contribuindo de um modo muito relevante para o valor patrimonial do templo. Mas voltemos, agora com um pouco mais de atenção, para aquele que é o ex-libris desta igreja: o seu retábulo-mor. Datado do século XVIII, de estilo barroco e composto por talha dourada, apresenta-se ricamente ornamentado com, entre outros, relevos de uvas e folhas de videira, anjos putti, elementos vegetalistas, volutas e anjos atlantes, que no seu conjunto enquadram o sacrário (que inclui porta com pintura do Sagrado Coração de Jesus) e imagens de São João, São

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Caetano, bem assim como um crucifixo. Destacam-se, no plano central, as imagens de São Martinho (do lado do evangelho) e São Marçal (do lado da epístola) ladeando o trono eucarístico composto por seis degraus e encimado pela imagem do pelicano a coroar o trono eucarístico, símbolo da caridade. No plano superior, a eucaristia é representada por um relevo com uma custódia e hóstia sagrada. Ainda no retábulo-mor importa destacar que nele se encontra enrolada uma pintura de São Martinho, exibida apenas dia da festa do padroeiro. Pintura alusiva a São Martinho diante de Jesus Cristo, nela o santo, com trajes militares, está ajoelhado diante da figura de Cristo. Jesus encontra-se em cima de uma nuvem, vestindo túnica branca com manto azul. No canto inferior direito encontramos a assinatura do pintor: “Francisco Carvalho Sarmento. Porto”; a data da pintura ou da sua colocação do retábulo: “Pascoa de 1957”; e uma dedicatória: “Á memória de José Martins da Cruz OF.TA Verginia Pereira de Sousa”. Integra este retábulo a imagem de São João Baptista datada do século XVIII, já referenciada no altar principal da igreja nas “Memórias Paroquiais” de 1758. Obra barroca em madeira policromada e metal prateado, São João está representado descalço sobre uma rocha, com uma fl mula na mão esquerda em que se encontra a inscrição “Ecce Agnus Dei” e o indicador da mão direita apontando para o cordeiro branco que, olhando-o, repousa a seus pés. Com ar austero, enverga vestes tradicionalmente associadas ao Santo Precursor, nomeadamente uma túnica rosa com pele de camelo no rebordo sob um manto vermelho com ornamentação dourada. A escultura de São Caetano no retábulo do Santíssimo Sacramento é também do século XVIII e nessa época encontrava-se no altar principal, de acordo com as descrições das “Memórias Paroquiais” de 1758. Em madeira policromada, ao gosto barroco do seu tempo, a imagem apresenta o Santo com vestes litúrgicas (hábito preto, casula branca e estola dourada, sapatos pretos) e com idade avançada, adivinhada pelos cabelos e barba grisalhos. De expressão austera e firme, tem nas suas mãos um livro aberto (mão esquerda) e um crucifixo em madeira (mão direita), os seus principais atributos. São Martinho, padroeiro de Campo, está representado

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neste retábulo numa escultura barroca em madeira policromada e metal prateado do século XVIII, e tal como a de São Caetano, era já referenciada em 1758 e encontrava-se no altar principal. São Martinho é nesta imagem retratado como Bispo de Tours (França), sobressaindo na cabeça a mitra de bispo dourada, vestindo túnica branca rendilhada na parte inferior, estola vermelha e dourada, cíngulo dourado, capa vermelha e dourada, bem como luvas vermelhas. Indica com a mão direita o Alfa e Ómega e, na esquerda, segura o báculo prateado rematado em espiral dourado. No retábulo do Santíssimo Sacramento encontramos também uma escultura de São Marçal, datada do século XVIII e igualmente referenciada nas Memórias Paroquiais de 1758. Imagem barroca em madeira policromada e metal prateado, retrata-o enquanto Bispo de Limoges (França), ostentando na cabeça a mitra de bispo branca com um círculo dourado, usando túnica azul, casula branca, estola vermelha e dourada sob uma capa igualmente vermelha e dourada. Com a mão direita indica um edifício em chamas, um dos seus atributos, aludindo a um dos vários milagres que lhe é atribuído: ter apagado um incêndio com o Báculo de São Pedro. Na entrada da capela-mor, do lado da Epístola, colocada sobre um plinto em talha dourada, encontra-se a escultura de Nossa Senhora com o Menino, datada presumivelmente da passagem do século XIX para o XX. A Virgem esculpida de pé em posição frontal, segura no colo, sobre o braço esquerdo, o Menino Jesus, desnudo, que agarra com a mão esquerda e com a ajuda da Mãe, um globo azul. A Santa veste túnica branca decorada a motivos florais dourados, cingida no ventre por cinto também dourado. Tem a cabeça coberta por um véu dourado. Apresenta um manto sobre o ombro esquerdo em tons verde e rosa, ornamentado com folhas e faixa douradas que cai ao longo do corpo formando pregas. A imagem assenta sobre uma nuvem com quatro cabeças de querubins alados. A arquitetura e entalhamento do arco cruzeiro, atribuídos ao século XVIII, serão provavelmente provenientes da anterior fase da igreja, e aqui reimplantados aquando da reconstrução operada cerca de 1910, separando a capela-mor da nave. Ao estilo barroco da época, em pedra granítica e talha dourada, apresenta dimensões consideráveis e uma sanefa ricamente trabalhada em talha dourada, na qual se salienta a


mitra no centro, numa alusão ao bispado que, como já referimos, possuía o padroado desta igreja. O batistério, localizado num nicho no lado da Epístola, comporta uma pia batismal dupla, assente em dois pilares, atribuída ao século XVII e azulejos tipo maçaroca com motivos florais e vegetalistas em padrão de época posterior. Inclui ainda uma intervenção azulejar do século XX, localizada no nicho central, da autoria de F. Carvalho (de Castelo Branco) com representação do Batismo de Jesus – o momento bíblico no rio Jordão, com representação de São João de olhos fechados, segurando na mão esquerda a fl mula e na mão direita a concha com água com que batiza Cristo representado com roupas singelas; e do Espírito Santo, em forma de pomba. Predominam os tons em azul e branco e rebordo vegetalista. O teto, pintado, representa o céu. Interrompe o painel central de azulejos o Crismatório, adornado com um quadro vernáculo em que se lê “Todos aqui renascemos”. No centro do coro da igreja, adaptado para o acolher, encontra-se um órgão de tubos produzido por George Heintz nas cidades de Schittach (Alemanha) e Schwazw (Áustria), doado à igreja pelo benemérito Moreira Gonçalves e datado de 2005, ano em que foi inaugurado com um concerto pelo organista António Manuel Esteiteiro. Para lá dos já referidos, existentes no batistério, a

matriz de Campo apresenta ainda diversos conjuntos de azulejos na nave, na galeria exterior, na capela-mor e na sacristia, de diferentes cronologias e, consequentemente, diferentes linguagens artísticas que testemunham o seu percurso histórico. Na galeria exterior, junto da ante-sacristia, o painel de azulejos do século XX, obra de consideráveis proporções, produzida por Granijos, representa a viagem dos Reis Magos seguindo a orientação da “Estrela de Belém” (que uma das personagens aponta no céu) no meio do deserto. Ricamente vestidos e montados em camelos, são acompanhados por outros homens na viagem, identificando-se na paisagem envolvente motivos vegetalistas, incluindo palmeiras. Também aqui encontramos um conjunto escultórico com Presépio (madeira sobre peanha de pedra) e um outro painel de azulejos azul e branco representando as “Oferendas” dos Reis Magos, com o ouro, incenso e mirra bem identificados. São, igualmente, obras do século XX. Recentemente, foi colocada no corredor da ante-sacristia, uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, oferta de um devoto/paroquiano. Escultura de vulto pleno, policromada, de grandes dimensões, representando o Sagrado Coração de Jesus em posição frontal. As mãos, que apresentam cicatrizes, estão colocadas sobre o peito exibindo o coração, coroado de espinhos, em chamas, envolve o conjunto, um resplendor. Traja uma túnica azul e um manto vermelho, ambos com

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debrum dourado e motivos vegetalistas, também em tons dourados. A sacristia, à qual se acede através da capela-mor, é também, em parte, herdeira das antigas fases que o templo conheceu anteriores às profundas remodelações do início do século XX. Apresentando alguns apontamentos barroco e neoclássico, é construída em granito e forrada com azulejos figurativos do século XVIII, dispostos aleatoriamente, mas que ainda permitem identificar alguns episódios da vida de São Jerónimo. O lavatório em granito com face caricaturada, arcaz, o conjunto de cadeiras com relevo da mitra papal e chaves de São Pedro (gémeo do conjunto que se encontra na entrada do cartório) e espelho com moldura de madeira, enriquecem o espaço. Na sacristia, junto ao arcaz, encontra-se um Calvário, composto pelas imagens de Cristo na Cruz, Virgem Maria e São João Evangelista datadas do séc. XVIII. A escultura da Virgem Maria em madeira policromada, está esculpida de pé, representada com as duas mãos unidas à altura do peito. Tem cabeça coberta e inclinada para o seu lado esquerdo, veste túnica ricamente ornamentada com debrum dourado na orla. O manto, lançado sobre as costas, apresenta a mesma decoração em dourado. São João Evangelista esculpido de pé, apresenta a cabeça voltada para o lado superior direito. Tem a mão esquerda erguida e a mão direita sobre o peito. Descalço, enverga túnica e manto. A túnica de cor verde

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ornamentada com motivos fitomórficos em dourado. Sobre os ombros cai o manto vermelho decorado com motivos vegetalistas em dourado. Cristo Crucificado é uma escultura em madeira policromada que apresenta uma cruz lisa. Cristo tem os braços elevados e fixados através de cravos metálicos. De cabeça tombada para o lado esquerdo, apresenta cabelos ondulados que descaem para as costas e remata com uma coroa de espinhos. Traja um cendal atado nas ancas de cor branca e os pés sobrepõem-se e são igualmente cravados na haste vertical. Na sacristia das confrarias/cartório, São Martinho, o padroeiro de Campo, está representado numa obra do início do século XX, pintura a óleo sobre tela, alusiva ao seu milagre. A cena tem lugar numa estrada, onde o Santo surge vestido de soldado romano, montado num cavalo, e oferece a sua capa a um mendigo seminu para o proteger do frio. Segundo a hagiografia de São Martinho, nesse momento, o dia frio transformou-se num dia quente, tradição que leva a que ainda hoje este período à volta do dia de 11 de novembro seja designado por “Verão de São Martinho”. Trata-se de uma obra oferecida pelos filhos de Raphael e Raquel Moreira à paróquia em 1909, como indica uma inscrição existente na moldura da tela. Merecem igualmente destaque diversos outros retábulos e imagens existentes no interior do templo, evidenciando-se as mais antigas que, já existentes em fases anteriores do templo, poderão nalguns casos remontar ao século XVII.


Entrando no interior do templo, do lado da Epístola, encontramos a imagem barroca, em madeira policromada sob pedestal apresentando duas cabeças de anjo, de Nossa Senhora do Pilar. De acordo com as “Memórias Paroquiais” de 1758, encontrava-se então no altar principal da capela-mor. Datada presumivelmente da primeira metade do século XVIII, apresenta indumentária em tons de bege, azul e dourado sob um manto azul-escuro ricamente ornamentado em dourados e sobre o qual caem os seus longos cabelos destapados. Segura, na sua mão esquerda, a imagem do Menino sem vestes, de braços abertos, pernas cruzadas e cabelos ondulados castanhos. A presença desta devoção mariana em Campo, não deverá ser alheia ao padroado que aqui foi exercido pelo mosteiro agostinho da Serra do Pilar (Vila Nova de Gaia) que, desde o século XVII, passou a promover de um modo notório o culto a Nossa Senhora do Pilar, erguendo um altar que lhe é consagrado e dedicando-lhe uma concorrida festa e romaria – factos que estão na base da própria designação da elevação onde se localiza o mosteiro, desde então rebatizado como a serra do… Pilar. É também no lado da Epístola que encontramos uma imagem recente de um contemplativo São Pedro, em madeira policromada, representado com vestes em tons de azul e ornamentos dourados sob um manto debruado a dourado. Enquanto ergue a mão direita para o céu, segura na mão esquerda as chaves que o identificam.

Continuando a percorrer o lado da Epístola da igreja matriz encontramos o retábulo de Nossa Senhora da Conceição, pintado e emoldurado por talha policromada e dourada, de inspiração neoclássica e datado de inícios do século XX. No plano inferior encontramos uma mesa de altar com motivos vegetalistas, incluindo ao centro o símbolo da hóstia com o monograma de Maria, coroada por uma flor de lis. Erguem-se a partir daqui duas colunas coríntias douradas, em cada um dos lados, com coroamento e, ao centro, o nicho com rebordo dourado acolhendo as imagens de Nossa Senhora da Conceição, Santa Ana, Santa Luzia e Santa Apolónia e o Menino Deus (de vestir). O conjunto é rematado por estrutura em baldaquino, sob a sanefa com o monograma de Maria ao centro. Possui lampadário prateado suspenso. Neste retábulo a imagem em madeira policromada de Nossa Senhora da Conceição, sobre uma base que identifica a imagem, é atribuída ao século XVIII, sendo referenciada nas “Memórias Paroquiais” de 1758 que a sua localização era no altar colateral da Epístola. Encontra-se igualmente referenciada no “Inventário dos Bens da Igreja” de 1836. De estilo barroco, representa Nossa Senhora pisando uma serpente, com as mãos em modo de oração, envergando túnica branca sob manto azul, ambos decorados a dourado. Os seus longos cabelos dourados ostentam uma larga coroa em filigrana dourada rematada por cruz latina.

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A imagem barroca de Santa Luzia, igualmente neste retábulo de Nossa Senhora da Conceição, em madeira policromada e atribuída ao século XVII, é referenciada nas “Memórias Paroquiais” de 1758 que a localizavam no altar-mor. Escultura de pequenas dimensões, representa Santa Luzia com longos cabelos castanhos caídos sobre as costas, sobre vestes ricamente ornamentadas, segurando uma espécie de medalha na mão direita e, na esquerda, uma representação simbólica do seu martírio: um prato com os olhos. Atribuída ao século XVII, ou já do XVIII, é a imagem do Menino Deus (ainda neste retábulo de Nossa Senhora da Conceição), que as mesmas “Memórias Paroquiais” situavam no altar colateral do Evangelho. Em madeira policromada e talha dourada, esta imagem barroca assenta sobre uma peanha igualmente barroca com uma cabeça de anjo alado (provavelmente oriunda da antiga igreja). Apresenta o Menino descalço sobre um globo dourado, envergando ricas vestes brancas com bordados dourados e cíngulo dourado. De entre as mais antigas imagens, refira-se a imagem de Santa Ana (Santas Mães e o Menino). Num estilo que aparenta o gótico tardio ou já renascentista, atribui-se a esta obra uma cronologia que poderá recuar aos séculos XV/XVI, situando-a as “Memórias Paroquiais”, em 1758, no altar colateral da Epistola. Igualmente referenciada no “Inventário dos Bens da Igreja” de 1836, neste conjunto escultórico surgem as figuras de Santa Ana (a avó, sentada, abraçando Maria e Jesus) envergando vestes azuis e manto castanho debruado a dourado; Jesus, com cabelos castanhos, sem vestes e segurando nas mãos um globo azul; e Maria, a mãe, representada com longos cabelos castanhos destapados sobre túnica branca e manto azul com ornamentação dourada, e acariciando o pé do Menino. Provavelmente da mesma autoria da imagem de Santa Luzia (considerando as similaridades no trabalho de ambas) é a imagem de Santa Apolónia, atualmente no retábulo de Nossa Senhora da Conceição, também ela proveniente da antiga igreja e atribuída ao século XVIII. As “Memórias Paroquiais” de 1758 referem que se encontrava no altar principal. Em madeira policromada e de estilo barroco, esta pequena imagem representa Santa Apolónia com longos cabelos castanhos, exibiria na mão direita uma palma que, contudo, se terá perdido uma vez que dos dias de hoje não é visível. Veste uma túnica azul sob manto vermelho com rica ornamentação dourada.

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A nave da igreja matriz contempla ainda, deste mesmo lado, uma escultura de Santo António, cuja datação será já do século XX, pese embora as “Memórias Paroquiais” de 1758 referirem a existência de uma imagem de Santo António de Lisboa situada no altar principal, na capela-mor. Em madeira policromada, representa o Santo envergando um austero e singelo hábito franciscano com cíngulo amarelo. Segura nos braços o Menino, sem vestes, sentado sobre uma almofada branca e, na mão esquerda, um livro. O retábulo da Nossa Senhora das Graças já existiria na igreja de Campo antes das profundas reformas e ampliações do início do século passado, sendo referido nas “Memórias Paroquiais” de 1758 que a sua localização era num nicho da nave, junto do arco cruzeiro, onde ainda hoje se encontra. Obra do século XVIII em talha dourada barroca, apresenta na base uma mesa de altar ricamente ornamentada destacando-se um brasão com o coração de Maria trespassado por uma espada, provavelmente substituindo uma imagem anterior aí existente. Sobressaem no retábulo as duas colunas torsas que o ladeiam, com coroamento que inclui relevos de vinhas e anjos putti, além de outros elementos vegetalistas, sob uma sanefa e lampadário prateado suspenso. O espaço central do retábulo, rematado por conchas e volutas, é reservado à imagem de Nossa Senhora das Graças, obra em madeira policromada, provavelmente do século XIX e de inspiração


de pobreza, castidade e obediência). A mão esquerda, pousada sobre o peito, segura um crucifixo de madeira e, sob o braço, pendem as rosas da sua promessa. Um resplendor circular com estrelas de oito pontas envolve a cabeça de Santa Teresinha. Do lado do Evangelho, igualmente datada do século XX, podemos ver a imagem de Nossa Senhora de Fátima à qual, no século XXI, se juntaram as imagens dos pastorinhos Jacinta e Francisco. A imagem em madeira policromada de Nossa Senhora de Fátima apresenta-se envergando vestes brancas ricamente ornamentadas, descalça sobre uma nuvem, numa expressão maternal reforçada pelas mãos em oração. Completam o conjunto um rosário e uma coroa em filigrana. Jacinta e Francisco estão representados com as vestes usuais no mundo rural do início do século XX, permanecendo ajoelhados orando a Nossa Senhora.

neoclássica. A imagem de Nossa Senhora sobre uma nuvem que encima um globo azul estrelado circundado pela serpente, segura uma maçã, ou seja, o fruto proibido. Enverga um manto azul com estrelas bordadas a fio dourado sobre a t nica branca rendada e cíngulo de corda branco, bem como uma coroa prateada e o resplendor dourado sobre a cabeça. Sobressai no conjunto, em relevo, o coração de Maria, coroado por “chamas” douradas e rodeado de raios cor de prata. A imagem em posição frontal, representada de braços abertos, não tem os habituais raios (as Graças) que derrama das suas mãos, mas ainda é visível nas suas faces exteriores os suportes para a colocação deste seu atributo iconográfico. A escultura de São José em madeira policromada, atribuída ao século XIX/XX, do lado da Evangelho, representa o Santo com barbas e cabelos grisalhos, vestindo túnica azul e manto castanho decorado com elementos vegetalistas dourados. É acompanhado por um resplendor radiante prateado. Segura na mão direita uma vara florida com lírios e na esquerda o Menino, representado com cabelo castanho-claro, vestes brancas cobrindo a cintura, pernas cruzadas e um globo azul na mão. No lado direito do arco cruzeiro, na nave, pode ver-se a imagem de Santa Teresinha do Menino Jesus, obra do século XX em madeira policromada representando a Santa vestindo o hábito castanho dos carmelitas sob capa bege e véu preto (símbolo dos votos professados

A escultura de Santa Catarina de Alexandria ocupa igualmente o lado do Evangelho. Trata-se de uma imagem barroca atribuída ao século XVIII, em madeira policromada, já referenciada nas “Memórias Paroquiais” de 1758. Representada como mártir, tem como principais atributos a roda dentada quebrada e livro vermelho, que segura na mão esquerda, parte da espada na mão direita que espeta na cabeça do imperador Maximiliano, pousada a seus pés. Uma capa vermelha assenta sobre as suas vestes brancas e azuis decoradas a dourado. Proveniente também das fases antigas da igreja, é a imagem do Mártir São Sebastião (ainda no lado do Evangelho), atribuída ao século XVII/XVIII e localizada, em 1758, no altar colateral da Epístola, segundo as “Memórias Paroquiais” desse ano. Trabalho em madeira policromada de inspiração barroca, representa o Santo no seu primeiro martírio, com pulsos e perna esquerda atados a um “tronco” de árvore (aqui representado em madeira escura), envergando apenas vestes brancas e douradas cobrindo a cintura, e sete setas cravejadas no corpo. O rigor na representação da fisionomia humana é evidente na forma como apresenta os músculos e o pescoço. Continuando no lado do Evangelho encontramos agora o retábulo do Senhor Crucificado, datado do século XIX, em talha policromada. Trabalhado em azul e dourado, segue a linguagem artística neoclássica do retábulo de Nossa Senhora da Conceição, encontrando-se inserido num nicho em pedra granítica. No plano inferior temos

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século XVIII, já referido em meados desse século nas “Memórias Paroquiais”, localizado agora no lado do Evangelho, num nicho em pedra granítica junto do Arco Cruzeiro, é uma obra barroca em talha dourada similar ao retábulo de Nossa Senhora das Graças. A mesa de altar, no plano inferior, é ricamente ornamentada destacando-se um brasão com o coração de Jesus, simbologia que terá provavelmente sido alterada aquando da nova dedicação do retábulo, já que a imagem do Sagrado Coração de Jesus deverá ser do século XIX. Duas colunas torsas, em cada um dos lados, sobressaem no plano central, com coroamento e com relevos de vinhas, anjos putti e outros elementos vegetalistas. No centro desenvolve-se um sacrário e nicho com as imagens do Sagrado Coração de Jesus e Santa Margarida Maria Alacoque, sendo o conjunto rematado por conchas e volutas, bem como sanefa no plano superior. Possui igualmente lampadário prateado suspenso. a mesa de altar com motivos vegetalistas, ostentando ao centro o símbolo da hóstia com monograma de Jesus, coroado por flor de lis. Sobressaem no plano central do retábulo as duas colunas coríntias douradas, com coroamento. O nicho acolhe as imagens de Cristo Crucificado e, a seus pés, a de Nossa Senhora das Dores. O conjunto é rematado por uma estrutura em baldaquino, e encimado por sanefa com o monograma de Jesus ao centro. Possui lampadário prateado suspenso. A escultura de Cristo Crucificado em madeira policromada que encontramos neste retábulo é atribuída ao século XVIII e as “Memórias Paroquiais” de 1758 localizam-na num nicho lateral da nave. Jesus enverga vestes brancas presas por cordas cobrindo apenas a cintura. Pregado na cruz pelas mãos e pés, sobressai na sua cabeça uma coroa de espinhos. O seu corpo, representado com minúcia, ostenta os inúmeros ferimentos. No topo da cruz encontramos o acrónimo JNRJ- Jesus Nazareno, Rei dos Judeus. Sob a cruz de Cristo encontramos a já referida pequena imagem barroca de Nossa Senhora das Dores, igualmente atribuída ao século XVIII, em madeira policromada. Representa uma Nossa Senhora sentada, com as mãos cruzadas, sofredora, com seis espadas cravadas no peito. Enverga túnica castanha e dourada sob manto azul decorado a dourado. O retábulo do Sagrado Coração de Jesus, atribuído ao

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A escultura do Sagrado Coração de Jesus deste Retábulo, do século XIX, é de madeira policromada e estilo neoclássico. Jesus é representado com cabelos e barba cuidados, descalço sob uma nuvem, vestindo túnica singela de tom azul-claro e decoração nas mangas, manto vermelho e decoração vegetalista dourada alusivo à sua paixão. Exibe um resplendor circular, prateado e radiante, envolvendo a cabeça. Nas mãos são visíveis as chagas que simbolizam a sua crucificação. Também neste retábulo destaque para a escultura de Santa Margarida Maria Alacoque, uma imagem do século XX em madeira policromada, ajoelhada em oração frente à imagem do Sagrado Coração de Jesus representando, simbolicamente, o momento das aparições de Jesus. Usa hábito preto e véu branco. Segura nas suas mãos um rosário, uma vez que professou vida religiosa e foi mestra das noviças. Ainda relacionado com os retábulos colaterais, importa referir que durante os trabalhos de conservação, restauro e limpeza da talha dourada dos retábulos do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora das Graças foi possível observar nalgumas tábuas que compõem a estrutura retabular, pinturas de temáticas figurativas e vegetalistas (anjos, flores e uma cabeça de cordeiro), indiciando um evidente reaproveitamento de materiais da primitiva igreja. Ao longo das paredes da nave da igreja encontramos ainda o conjunto escultórico da Via-Sacra: obra do


século XX em madeira representando os últimos Passos de Cristo até ao Calvário, nela os catorze momentos ou estaç es são identificados em numeração romana e aludem aos momentos da Paixão. Do espólio artístico da igreja de São Martinho do Campo merece também referência uma notável peça de ourivesaria, constituída por uma custódia-cálice de base redonda do século XIX. Em prata-dourada, esta peça é também adornada por pedras e vidro, querubins e quatro pequenos sinos, um hostiário em forma de templete acompanhado de um resplendor e com pedras pendentes. Destinada às celebrações religiosas mais relevantes, bem como a adoração dos fiéis à Hóstia Consagrada (dupla função, uma vez que permite juntar o pão e o vinho eucarísticos), funciona como uma espécie de relicário. O coroamento da peça, na parte superior, é feito por uma cúpula com lanternim, sobressaindo a representação de Jesus Ressuscitado no remate da peça. Mais antigo, datado do século XVIII, e de grande interesse patrimonial, é o conjunto de caldeirinha e hissope: uma caldeira em prata para água benta com base circular de três registos. O bojo inferior é decorado com folhas/pétalas e o ostenta friso com folhas de acanto, cartelas e flores. A parte superior é lisa e afunilada e apresenta a asa presa por dobradiças. Ainda do século XVIII há também a destacar um conjunto de naveta e colher. A naveta, em prata com base circular alta, ergue-se em dois registos: tem a

haste em forma de campânula, formando um anel sob o nó em forma de esfera; o corpo principal da peça, em forma de uma nau, é decorado com folhas e flores. A peça é encimada por tampa em duas partes. Se a base e haste exibem ornamentos vegetalistas, já a cobertura é lisa com duas pequenas cartelas de flores relevadas. A colher está presa por corrente a um aro soldado num dos lados. Datado do século XVIII/XIX merece também referência um turíbulo com base circular em metal. A parte inferior do corpo principal está decorada com motivos fitomórficos e no bordo saliente tem três anéis onde prendem as correntes de suspensão. A parte superior é cónica, apresentando uma barra de elementos fitomórficos, seguida por sulcos vazados de diferentes tamanhos. Remata com uma pinha; sobre esta, tem uma argola para encaixe da quarta corrente de suspensão. Entre os paramentos guardados no templo, uma chamada de atenção para um conjunto de casula e estola datado do século XIX. A casula é formada por duas partes unidas nos ombros e com abertura em forma de V para a cabeça. Na parte da frente é recortada e as costas arredondadas e amplas. O corpo da peça é em seda branca bordada a fio de ouro e fio de seda de várias tonalidades, decorada com motivos florais estilizados e galão dourado. A estola é em seda com decoração vegetalista bordada em relevo, rematando com franjas metalizadas.

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construção da antiga matriz no local. Todavia é mais provável ter sido erguido em fases posteriores, coincidentes, ou não, com as obras de intervenção na igreja no século XVIII ou mesmo na última grande reconstrução do templo, ocorrida nos primórdios do século XX.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO Rua Nossa Senhora da Encarnação 4440-027 Campo Com provável origem nos finais do século XV, pertenceria então às freiras do Convento de São Bento de Avé-Maria da cidade do Porto. Em 1623 é referida a sua existência no “Catálogo e História dos Bispos do Porto” (vol. 2): “ erecida a Diogo opes de Sou a ... Por D. Rodrigo da Cunha bispo do Porto”. Nova referência em 1749 identifica a leira ou campo da Capela de Nossa Senhora da Encarnação num prazo a José Ferreira e Sofia Lopes. A capela é igualmente referenciada no “Inventário dos Bens da Igreja” de 1836. Durante a sua reconstrução, em 1915, foi encontrada junto do altar uma moeda do reinado de D. João V datada de 1713.

CRUZEIRO DA IGREJA Avenida Visconde de Oliveira 4440-037 Campo Completa o conjunto edificado da igreja paroquial de Campo um cruzeiro granítico em cruz latina floreada com base em forma de pedestal, que a tradição atribui, embora sem certeza, ao século XVI, aquando da

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A primitiva capela, de arquitetura religiosa de origem quinhentista, de grande simplicidade, planta longitudinal e torre sineira quadrangular, foi alterada ao longo dos séculos. Significativamente intervencionada em 2017, apresenta agora arquitetura contemporânea com planta retangular e linhas simétricas, revestida a pedra e lousa no exterior, sobressaindo uma cruz latina metálica de grandes proporções na fachada. O adro é aberto e lajeado a lousa, reforçando, através da opção deste material construtivo, uma relação identitária com a região. No interior destaca-se o retábulo barroco, provavelmente datado do século XVIII, com as imagens do Sagrado Coração de Jesus (do lado do Evangelho) e de Nossa Senhora de Fátima (do lado da Epístola), sobressaindo a imagem de Nossa Senhora da Encarnação no nicho central, para além do sacrário e crucifixo em madeira dourada. A imagem de Nossa Senhora da Encarnação existente no interior da capela, de inspiração barroca, aparece referenciada no “Inventário dos Bens da Igreja” de 1836, sendo atribuída ao século XVIII. Em madeira policromada, apresenta Nossa Senhora envergando uma túnica vermelha decorada a dourado, de onde pende um lenço verde, e um cinto dourado sob o estômago.


Sobre as vestes, uma capa de cor azul-escura com elementos vegetalistas dourados, sendo branca com elementos decorativos similares no forro. Com os braços (e a mão direita) segura o Menino desnudo. A coroa de filigrana rematada por uma cruz sobressai na cabeça da Virgem sobre longos cabelos. Esta devoção mariana é celebrada em Campo no último domingo de maio.

CAPELA DE SÃO JOÃO DA AZENHA Rua de São João 4440-004 Campo Atribui-se ao século XVII a construção desta capela privada e inserida na Quinta da Azenha (ou Quinta da Seara), dedicada a São João Baptista. Apesar da sua origem seiscentista, evidencia hoje o traço neoclássico de obras posteriores, nomeadamente do século XIX, bem como intervenç es de finais do século XX. Edifício de grande simplicidade, com campanário e nicho na fachada com imagem do seu padroeiro, viu aqui serem celebradas ao longo dos tempos missas e festas em honra de São João Baptista. Desenvolve-se numa planta longitudinal composta por nave única, capela-mor mais estreita e baixa do que a nave, escada de acesso ao coro e corpo retangular correspondente à sacristia. Construída em granito e coberta com telhado em telha, a capela apresenta a sua fachada enquadrada por pilastras toscanas encimadas por urnas com fogaréus, rematada por uma cruz latina, apresentando dois óculos ovais gradeados. A superfície da fachada é, também, revestida a azulejo industrial recente, em tons de azul. No interior a nave é simples e despojada, integrando um silhar de azulejos similares aos da fachada. O arco cruzeiro que separa a nave da capela-mor é em cantaria de volta perfeita assente sobre pilastras toscanas, com acesso por degrau de cantaria e protegida por guarda de madeira. Na capela-mor, o retábulo neoclássico, presumivelmente do século XIX, é de talha policromada a branco e azul com marcação dos decorativos a dourado. No plano central sobressai o nicho destinado à imagem do orago, ladeado por peanhas com imaginária. O acesso ao coro-alto, em madeira, faz-se pelo exterior. Vendida a quinta de São João da Azenha e a sua capela

em 1990, já em estado de ruína, foi entretanto restaurada pelos atuais proprietários. Hoje a capela não tem celebração de culto ou festividade associada, tendo sido substituída pela capela pública de São João Baptista.

CAPELA DE SÃO JOÃO BAPTISTA Rua de S. Domingos 4440-099 Campo Esta capela de meados do século XX (1956-1974) foi construída por vontade dos paroquianos em substituição da Capela de São João da Azenha, capela particular e que se manifestava já pequena. Apresenta dimensões generosas para uma capela, mas a sua estrutura em betão, pedra e vidro é simples, retangular, com uma só nave coberta por telhado de duas águas rematado por campanário encimado pelo sino e cruz latina. Na parte central da fachada, destaca-se a imagem pétrea de traço modernista de São João Baptista, bem como o relógio. O templo possui um amplo adro murado e com gradeamento, incluindo portão, em metal. Tal como o exterior, o interior da capela de São João Batista prima pela simplicidade de formas, sendo o

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acesso ao altar-mor feito através de três degraus. Na parede fundeira da capela-mor encontramos as imagens do Sagrado Coração de Jesus, Cristo Crucificado e Nossa Senhora de Fátima. São João Baptista, o padroeiro da capela, encontra-se num plinto em granito, do lado da Epístola, na entrada da capela-mor. Escultura em madeira policromada datada do século XX, de autoria de António M. Costa, de vulto pleno, apresenta-se de pé, segurando na mão esquerda uma cruz em metal com bandeira vermelha com uma inscrição em dourado: ”ECCE AGUNS DEI”. Veste apenas uma pele de cordeiro presa na cintura por um cinto em couro. Tem a mão direita erguida e em baixo um cordeiro branco. Do ombro esquerdo cai um manto vermelho ornamentado com motivos fitomórficos em dourado que cobre parte do corpo do cordeiro.

A imagem de Nossa Senhora de Fátima é esculpida em vulto pleno, em madeira policromada, de pé e em posição frontal. A Virgem veste túnica e manto branco, tem as mãos em posição de oração. Sobre a cabeça coberta, exibe um resplendor circular com estrelas.

A escultura de vulto pleno representando o Sagrado Coração de Jesus em posição frontal, assenta sobre uma peanha em granito do lado do Evangelho. Em madeira policromada e datada do século XX, a imagem apresenta-se descalça, sobre uma nuvem branca. Veste túnica branca, aberta no peito, exibindo o coração vermelho com chamas e aurela dourada. Enverga um manto vermelho com decorações em dourado e pedras coloridas sobre o seu ombro esquerdo. Na cabeça ostenta um resplendor em fora de flor com folhas e uma pedra vermelha no centro.

O conjunto arquitetónico, encimado por uma cruz latina granítica, inclui escadório, nicho e local para colocação de velas, um painel de azulejos dedicado às Almas do Purgatório e a Nossa Senhora do Carmo, um painel de azulejos dedicado ao Padre Américo e às Almas.

A representação de Cristo Crucificado em madeira policromada é do século XX. Sobre cruz lisa, ostenta os braços elevados e fixados através de cravos metálicos, a cabeça tombada para o lado direito e rematada com uma coroa de espinhos. Traja um cendal atado nas ancas de cor branca e os pés sobrepõem-se e são igualmente cravados.

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ALMINHAS DO PADRE AMÉRICO Rua Padre Américo 4440-118 Campo Datadas de 1959 (data referenciada na chave do nicho), estas alminhas foram erguidas no local do acidente de viação mortal do célebre Padre Américo, ocorrido a 16 de julho de 1956.

O painel de Nossa Senhora do Carmo, representando Nossa Senhora com coroa dourada, vestindo túnica castanha sob manto bege com rebordo dourado e estrelas, é da autoria da Fábrica da Aleluia, em Aveiro. Tem no colo o Menino já crescido e de braços abertos, com veste rosada e cabelos louros claros, segurando na mão esquerda o escapulário. Rodeando a imagem de Nossa Senhora do Carmo surgem cabeças de anjo aladas. No plano inferior encontra-se representado o Purgatório e o resgate das almas por anjos. No nicho encontra-se o local para ofertas com a descrição “As esmolas revertem a avor dos pobres” numa clara alusão a uma das missões do Padre Américo de auxílio aos pobres.


O painel de azulejos dedicado ao Padre Américo apresenta ao centro a sua fotografia ladeada por inscriç es: no lado esquerdo pode ler-se “ v s que ides passando embrai vos de n s ue estamos penando. no direito Socorrei almas pias As tristes almas fieis embrai vos que em breves dias No mesmo ogo esta reis.”. Desde a sua morte a figura do Padre Américo vem sendo objeto do que muitas vezes se designa como uma “canonização popular”, inserindo-se estas alminhas, à semelhança de outras estruturas de memória e monumentos que lhe são dedicados (como é o caso de uma estátua que o representa na Praça da República, no Porto), em autênticos espaços de “devoção”.

ALMINHAS DA PONTE FERREIRA Rua Ponte Ferreira 4440-221 Campo Com construção atribuída ao século XVIII, junto à ponte medieval sobre o rio Ferreira, estas alminhas encontram-se num local onde decorreu a tristemente famosa Batalha de Ponte Ferreira ocorrida a 23 de julho de 1832, no contexto do “Cerco do Porto” e da guerra civil entre liberais e absolutistas. Tradicionalmente dedicadas a Nossa Senhora do Carmo, atualmente apenas

existe a estrutura granítica e o portão de ferro, estando ausente qualquer imagem ou painel azulejar dedicado à padroeira. Possui uma cruz floreada no remate do nicho e duas pilastras em relevo. No âmbito das obras de restauro realizadas em 1997, e uma vez que já não havia nenhuma pintura dedicada a Nossa Senhora, realizou-se uma nova pintura com o tema de Nossa Senhora do Carmo rodeada de anjos, o fogo e almas do Purgatório, baseada nos testemunhos dos habitantes locais. Localizada hoje junto à entrada da Ponte Ferreira, a estrutura aparenta ter sido deslocada da sua implantação original.

CRUZEIRO DE MOIRAIS Rua Padre Magalhães 4440-037 Campo Requalificado em 2019, e podendo remontar aos séculos XVII ou XVIII, o granítico Cruzeiro de Moirais é uma cruz simples com extremidades rematadas em forma piramidal, assente numa base quadrangular onde é percetível a existência de antigas inscrições, infelizmente hoje ilegíveis, pelo que se desconhece o seu conteúdo. Poderá ter tido como função ser um marco limítrofe dos antigos terrenos dos passais afetos à paróquia.

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latina. No plano inferior existe apenas uma base retangular em forma de cruz decussada horizontal.

ALMINHAS DE SANTO ANTÓNIO Rua Central de Balselhas nº 574 4440-033 Campo

CRUZEIRO DO CALVÁRIO Travessa Padre António Vieira 4440-216 Campo O Cruzeiro do Calvário encontra-se junto de um cruzamento, numa elevação próxima da igreja paroquial. Trata-se de um cruzeiro simples, executado em cantaria granítica, sendo constituído por uma base quadrangular e uma cruz latina. Apresentando uma forma muito simples e rudimentar, na parte superior ostenta uma outra cruz, de pequeníssimas proporções, em arame.

ALMINHAS DE BALSELHAS OU DA TRAVESSA PONTE FERREIRA Travessa de Ponte Ferreira nº 171 4440-219 Campo As Alminhas de Balselhas ou da Travessa de Ponte Ferreira é um nicho em pedra granítica que se encontra inserido numa habitação particular. No plano superior destacam-se os dois coruchéus e a cruz latina. No plano central surge um nicho com gradeamento em metal, aparentemente bastante antigo, com uma abertura para a colocação de esmolas e uma referência à sua datação que aparenta ser 1828. No interior existe uma tábula em madeira, muito rudimentar, com uma cruz

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As Alminhas de Santo António é um nicho em pedra granítica que se encontra inserido numa habitação particular. O remate do nicho possui uma cruz latina. No plano central, protegido por um gradeamento em metal, encontra-se um painel de azulejos colorido dedicado a Santo António com a representação do respetivo Santo envergando o hábito franciscano, com uma auréola cinzenta sobre a cabeça, a mão esquerda sobre o peito e a direita segurando um livro aberto onde se encontra de pé, o Menino. Jesus, representado com túnica de tons claros e cabelos amarelados mira Santo António de frente. Debaixo da iconografia antonina encontra-se a legenda referente ao próprio Santo e, envolvendo a imagem, decoração ondulante e vegetalista.


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3.3 | Ermesinde

SÃO LOURENÇO Segundo a sua hagiografia, São Lourenço terá nascido a 31 de dezembro do ano 225, em Huesca (ou, noutras versões, em Valência), então parte da província romana de Hispania Tarraconensis. São tradicionalmente apontados como seus pais os mártires São Orencio e Santa Paciência. Lourenço encontrou o futuro Papa Sexto II, um famoso professor nascido na Grécia, em Caesaraugusta (hoje Saragoça), e acompanhou-o em viagem de Espanha até Roma. Quando Sexto se tornou Papa, em 257, ordenou Lourenço como diácono e mais tarde nomeou-o “arquidiácono de Roma”, cargo de grande confiança que incluía o cuidado do tesouro e das riquezas da Igreja e a distribuição de esmolas aos indigentes. Em agosto do ano 258, por édito do Imperador Valério, Sexto II foi capturado e executado. O Prefeito de Roma exigiu então a Lourenço que entregasse as riquezas da Igreja. Lourenço pediu três dias para as reunir, usando esse tempo para distribuir o máximo possível dos bens pelos pobres de forma a evitar que fossem confiscados. Ao terceiro dia, quando finalmente se apresentou ao Prefeito e este lhe exigiu os tesouros da igreja, o santo apresentou indigentes, aleijados, cegos, doentes e demais sofredores da cidade, declarando-os como os verdadeiros tesouros da Igreja. Foi preso e condenado ao martírio. Reza a lenda que, aquando da tortura sobre as brasas quentes, o santo terá dito, em tom de brincadeira e de provocação, para o virarem porque já estava bem cozinhado daquele lado. Deste episódio nasce a sua ligação aos cozinheiros e comediantes, de quem é padroeiro. Orago, desde tempos recuados, de Ermesinde, São Lourenço é celebrado a 10 de agosto (data da sua morte), e a cidade festeja o seu padroeiro no segundo domingo do mês de agosto.

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INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO RELIGIOSO O território de Ermesinde, com uma área de cerca de 7,6 km2 e 39.148 habitantes (Censos 2021), é a freguesia mais populosa do concelho. Localiza-se na parte noroeste do concelho, encostado às freguesias de Alfena e Valongo a nordeste e sudeste, respetivamente. A noroeste o território é delimitado pelo concelho da Maia e pelo de Gondomar a sul. Atravessado pelo rio Leça, Ermesinde desenvolve-se num território pouco acidentado e significativamente urbanizado, destacando-se como ponto mais elevado o lugar da Formiga nos seus singelos 140 metros de altitude. A sua designação vem substituir, em 1910, a antiga referência de S. Lourenço de Asmes, pese embora o topónimo Ermesinde apareça já referido nas Inquirições de Afonso III datadas de 1258. O local, que terá começado a ser significativamente povoado ainda na Alta Idade Média, manteve-se durante longos séculos como um território eminentemente rural e de abundantes áreas florestais ao qual as verdejantes e férteis margens do Leça conferiam um ambiente bucólico que, já no século XIX, despertou também o interesse da burguesia portuense que encontrava em Ermesinde um espaço privilegiado de vilegiatura, chegando a disputar com a freguesia de S. Mamede de Infesta, em Matosinhos, o título de “Sintra do Porto”. Contudo, com a chegada do comboio e a entrada em funcionamento das linhas ferroviárias do Douro e Minho em 1875, o território de Ermesinde conhecerá um rápido e acentuado desenvolvimento urbano, sendo elevado a vila em 1938 e a cidade em 1990. Tendo como orago, desde tempos recuados, São Lourenço, celebrado a 10 de agosto, Ermesinde festeja o seu padroeiro no segundo domingo do mês de agosto.

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IRGEJA MATRIZ DE ERMESINDE Rua da Igreja 4445-459 Ermesinde A igreja matriz de Ermesinde, inaugurada em 1981 pelo Bispo do Porto D. António Ferreira Gomes, ergue-se no local onde em 1968 foi demolido o templo anterior que remontava a 1870 e que, por sua vez, substituíra uma igreja anterior que a tradição diz aí ter sido construída em 1700. Esta, por sua vez, ainda segundo a lenda, teria vindo substituir o templo primitivo, medieval, que se localizava num outro local: o “Campo de Asmes”. Dedicada a São Lourenço, orago da paróquia, a atual igreja, de gosto contemporâneo, construída em betão armado e alvenaria, seguindo o projeto do arquiteto Alcino Costa, é elemento de referência na paisagem de Ermesinde, não só pela sua volumetria e espacialidade como também pela grandiosa torre sineira que se pode contemplar de quase toda a cidade Apresenta uma fachada de linhas simples, ritmada por uma sucessão de frestas, dividida em dois níveis e rematando com um painel relevado, de mármore branco, alusivo ao orago São Lourenço, datado de 1995 e da autoria do escultor Mário Silva. No nível inferior, onde se abre o portal principal, este é emoldurado por oito painéis de bronze em relevo e apresentando símbolos eucarísticos, obra do mesmo escultor. A fachada poente do templo evoca também o padroeiro de Ermesinde. Com efeito São Lourenço é aqui representado num alto-relevo em mármore branco da autoria de Mário Ferreira da Silva, datado de 1995. Neste painel, no lado direito, apresentam-se as figuras do Papa Sisto II e do Imperador romano Valeriano. Sisto II foi decapitado por ordem do Imperador que exigiu também, a São Lourenço, que entregasse todos os bens e riquezas da Igreja. No lado esquerdo surgem as figuras que representam os pobres, coxos, cegos e doentes apresentados por São Lourenço como o tesouro da Igreja. No plano central São Lourenço é representado com as mãos levantadas para o céu, bem assim como a grelha e as chamas, símbolos do seu martírio (ler caixa com a sua hagiografia). No interior da igreja, de planta longitudinal de grandes dimensões, destaca-se a capela-mor onde sobressaem as brancas colunas cúbicas de pedra oriunda de Porto de Mós, que se apresentam com alturas irregulares e encimadas por uma cruz com dois metros e meio de

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altura, em madeira de Riga, com uma imagem de Cristo Crucificado. De realçar ainda o batistério, o painel da Transfiguração bem como a escultura da Santíssima Trindade que marcou o jubileu do ano 2000. A escultura de “São Lourenço da Fuga” pertenceu à igreja primitiva, onde terá sido colocada segundo a tradição por volta de 1700. Trata-se de uma obra de linguagem barroca atribuída ao século XVII e constitui um dos elementos históricos e religiosos mais relevantes de Ermesinde, tendo sobrevivido ao tempo e às várias intervenções (construções e reconstruções) da sua igreja matriz. A sua antiguidade é reforçada pelo facto de andar associada à lenda da “Fuga de São Lourenço” que dá conta dos misteriosos desaparecimentos desta imagem do santo, do interior da igreja, reaparecendo no lugar onde, supostamente, estivera durante séculos. A sua “teimosia” só terminou, segundo a narrativa popular, quando lhe fizeram um pedestal na frontaria da nova igreja que lhe cabia inaugurar (o templo construído em 1700), para que pudesse enxergar o lugar onde a primitiva igreja se situaria (a de “Campo de Asmes”). Trata-se de uma imagem simples com vestes litúrgicas e um livro, faltando-lhe a mão direita onde possivelmente apresentaria outro dos seus atributos relativo ao seu martírio: a grelha do suplício. Uma outra imagem de São Lourenço, esta bem mais recente, localiza-se no altar de mármore da autoria de Alcino Costa localizado do lado do Evangelho. Obra do escultor Ferreira dos Santos, data de 1978 e foi executada em madeira policromada. Envergando vestes litúrgicas – uma túnica branca e uma dalmática em tons encarnados, sapatos pretos, São Lourenço apresenta uma expressão jovem mas austera, sem barba, com cabelos castanhos. O seu olhar encontra-se direcionado para a frente. Segura na mão esquerda um livro e na direita destacam-se um cacho de uvas roxas e folhas verdes, bem como a grelha prateada com que foi martirizado. Trata-se de uma imagem de grandes dimensões, seguindo uma linguagem modernista e simétrica. Data de 2000 a peça em metal e gesso da Santíssima Trindade existente no Transepto, da autoria de José Manuel Lopes Carneiro. A Santíssima Trindade encontra-se representada de uma forma totalmente arrojada e moderna, que impacta pela sua cenografia e dimensões. Criada para comemorar os dois mil anos do nascimento de Jesus, inclui as representações de Deus, Jesus e Espírito Santo. As mãos abertas e de grandes


proporções (com 2,5 metros e 700 kgs de peso) simbolizam as mãos de Deus: um Pai sempre com os braços abertos para seus filhos. Jesus encontra-se representado simbolicamente (uma vez que o seu corpo se encontra ausente) pela cruz latina dourada com 4 metros de cumprimento, colocada de forma inclinada e aparentemente tridimensional. Uma pomba branca inserida num círculo dourado que radia, com raios de 3,8 metros, em três direções distintas, representa o Espírito Santo. Junto ao altar-mor localiza-se o batistério, uma peça em cerâmica datada de 1981 e executada por Mário Ferreira da Silva. Obra em linguagem moderna, inclui o Paramento do Batistério e a Pia Batismal. O Paramento do Batistério consiste num mural relevado em grés cer mico policromado que representa a “Transfiguração do Senhor” no Monte Tabor, sendo visíveis as presenças de Elias e Moisés, estando Jesus ao centro,

debaixo de inúmeros raios. No plano inferior central, surge a inscrição “ n s somos trans ormados na mesma imagem ”. A pia batismal, em pedra e com um único pilar a servir de base, encontra-se uns degraus abaixo, numa alusão às primitivas piscinas de batismo por emersão. Também o sacrário é uma obra contemporânea, datado de 1981, em mármore e bronze e de autoria de Alcino Costa e Mário Ferreira da Silva. Executado em forma de resplendor, apresenta uma cruz latina radiante com um círculo ao centro para colocar as hóstias, estando guarnecido por uma porta de bronze igualmente radiante. No altar-mor a representação das “Chamas do Presbitério” é igualmente obra de 1981 da autoria de Alcino Costa e Mário Ferreira da Silva e executada em pedra branca de Porto de Mós. As Chamas do Presbitério constituem um dos elementos escultóricos e modernos mais

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impactantes do templo, servindo de parede de fundo da capela-mor que, como já referido anteriormente, é definido por colunas c bicas esguias e entrelaçadas, em pedra branca, dispostas por alturas distintas (a mais alta possui 7,6 metros) e com saliências côncavas e convexas. Aqui destaca-se igualmente a majestosa imagem de Cristo Crucificado, também de 1981 e da autoria do escultor Ferreira dos Santos, de São Mamede do Coronado, afamado centro produtor de imaginária religiosa. Executada em madeira de Riga, nela Jesus encontra-se representado pregado pelos pés e mãos a uma cruz latina com dois metros e meio de altura. Com corpo esguio e esquelético, o escultor evidenciou o sofrimento imposto durante a sua Paixão, especialmente na face. Possui coroa de espinhos de tons escuros e cintura está coberta por curtas vestes brancas. Ainda no interior da igreja, a imagem barroca, em madeira policromada, representando o Senhor Morto que se apresenta do lado da Epístola, data do século XVIII e pertence à Confraria do Senhor Morto de Ermesinde (cujos estatutos remontam a 1888, revistos em 1889 e 1913), e estava já exposta no templo anterior. Jesus encontra-se em posição horizontal, com vestes brancas cobrindo-lhe a cintura, sendo visíveis os seus ferimentos. Tem olhos fechados, estando o corpo protegido por uma mortalha branca. Os tecidos que se encontram por baixo do corpo apresentam desenhos alusivos à morte de Jesus. O túmulo em mármore e de tons escuros possui uma inscrição, citando o livro do apocalipse “ stive morto mas agora vivo para sempre. tenho as chaves da morte (Apo 1, 18)”. Neste mesmo altar, do mesmo período artístico e igualmente provenientes da antiga igreja, encontram-se também imagens de Jesus Crucificado e de Nossa Senhora das Dores. A imagem de Jesus Crucificado, obra do século XVIII, é uma representação modesta mas interessante, apresentando Cristo crucificado e morto na cruz latina de madeira, com um resplendor radiante prateado em redor da sua cabeça seguindo a iconografia típica desta temática. A Nossa Senhora das Dores integrada neste conjunto, localizada aos pés da cruz de Cristo, encontra-se representada numa escultura em madeira policromada do século XVIII, de pequenas dimensões, com expressão de sofrimento evidente no rosto e mãos. As suas vestes são castanhas e douradas com elementos dourados, sendo completadas com um manto primorosamente ornado com rebordos e elementos vegetalistas dourados. Tem o peito trespas-

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sado por espadas em representação das sete dores de Nossa Senhora e sobre a sua cabeça observa-se um belo resplendor dourado em forma de lua com três estrelas no seu interior. Esta imagem integra habitualmente a anual procissão de São Lourenço. A escultura da Virgem Maria, do lado do Evangelho, entre o altar de São Lourenço e o batistério, datada do século XX e da autoria do escultor Manuel Santos, encontra-se no altar de mármore da autoria do Arquiteto Alcino Costa. Nossa Senhora encontra-se retratada nesta imagem modernista, de linhas simples e simétricas, com um rosto angelical e cabeça ligeiramente inclinada. Possui uma túnica branca e um manto azul sem ornamentação, tendo um dos seus pés visível. A imagem encontra-se rematada com uma coroa dourada com uma cruz latina. Possui ainda dois rosários – um em relevo na túnica e outro que se encontra colocado nas mãos da Virgem – que estão em modo de oração. A imagem repousa sob uma nuvem branca. Ainda nas paredes da nave da matriz de Ermesinde encontramos uma Via Sacra e Símbolos Eucarísticos, obra em cerâmica e bronze de 1994 da autoria de Mário Ferreira da Silva. A Via Sacra é constituída por catorze quadros em cerâmica representando a paixão e morte de Cristo, bem como a sua ascensão ao céu. Estação 1: Jesus Cristo é condenado à morte;


Jesus dos Rapazes de Ermesinde, atribuída ao século XIX e também proveniente da antiga igreja paroquial. Em madeira estofada dourada e têxtil, o Menino Jesus encontra-se representado sobre uma peanha de madeira entalhada e dourada. Usa uma túnica branca bordada a fio dourado com ornamentação vegetalista e eucarística. Com expressão sorridente e inocente, possui cabelos loiros e olhos castanhos. A mão direita abençoa os crentes e com a esquerda segura uma cruz latina prateada, singela e fina. A imagem continua a ser objeto de culto no domingo seguinte aos Reis – a festa “Ao Menino Deus”, já com referências no século XIX.

Estação 2: Início do percurso. Jesus carrega a cruz às costas; Estação 3: Jesus cai pela primeira vez; Estação 4: Encontro entre Jesus Cristo e a sua mãe, a Virgem Maria; Estação 5: Simão de Cirene auxilia Jesus; Estação 6: Verônica limpa o rosto de Cristo; Estação 7: Jesus cai pela segunda vez; Estação 8: Encontro de Jesus com as mulheres de Jerusalém; Estação 9: Jesus cai pela terceira vez; Estação 10: Jesus é despojado de Suas vestes; Estação 11: Crucifixão. Jesus Cristo é pregado na cruz; Estação 12: Cristo morre na cruz; Estação 13: Descida da cruz na presença da Virgem Maria, São João Evangelista e Maria Madalena; Estação 14: Jesus Cristo é sepultado. Os Símbolos Eucarísticos apresentam-se em oito painéis em bronze relevado na entrada do templo. São eles: pão, vinho, trigo, uvas, cálice, patena, cordeiro de Deus e círio pascal. Já na sacristia merece referência a escultura do Menino

Uma antiga escultura de São Lourenço proveniente da antiga igreja, atribuída ao século XIX, em madeira policromada e metal prateado, encontra-se atualmente na sacristia. O santo encontra-se representado com vestes litúrgicas – túnica branca e uma dalmática em tons encarnados e dourados, calçando sapatos pretos. Possui ainda no pulso uma estola, com cores condizentes à dalmática. Com uma expressão séria e jovial, sem barba, apresenta cabelos ondulados e castanhos-claros. O seu olhar direciona-se para o livro de capa verde que segura na mão esquerda e que possui duplo significado: uma alusão à sua função de diácono e também de difusor do Evangelho. Na mão direita sobressaem os atributos do seu martírio, nomeadamente a palma de mártir, em tons de verde e a grelha prateada com que foi martirizado. Na base encontra-se a inscrição com a legenda da imagem: “S. ouren o”. Desconhece-se a proveniência da imagem de Santa Ana existente também na sacristia, igualmente do século XIX e que integra a procissão de São Lourenço. Santa Ana encontra-se representada nesta imagem com sua filha, Maria. Veste t nica verde em representação do milagre da gestação (ainda que em idade tardia) e um manto castanho. São visíveis os seus cabelos grisalhos e a feição anciã no rosto. Com o indicador direito aponta para o pergaminho e com a mão esquerda acaricia o ombro de sua filha. Possui um resplendor circular dourado ricamente ornado em relevo. Maria, por sua vez veste túnica similar à de sua mãe, cabelos longos e castanhos, segurando nas suas mãos um pergaminho que representa todos os ensinamentos de Santa Ana, numa alusão à função educadora das mães. A escultura do Sagrado Coração de Jesus, também localizada na sacristia, em madeira policromada, data já do século XX. Jesus encontra-se representado sobre

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uma nuvem branca e descalço. Enverga túnica azul-esverdeada com rebordos dourados e um interessante manto vermelho com elementos decorativos dourados. Possui ainda um cíngulo dourado. Com olhar sério e sofrido, possui barba e cabelos longos de cor castanha. Em ambas as mãos são visíveis as chagas resultantes de ter sido pregado na cruz, estando a esquerda aberta como que mostrando o ferimento, enquanto a direita aponta para o seu Sagrado Coração. O coração, em relevo e de cor vermelha, encontra-se rodeado de raios solares dourados, sobressaindo os espinhos da cruz, o fogo no remate do pormenor e a chaga, juntamente com uma cruz latina. A coroar a imagem encontra-se um notável resplendor em forma de cruz latina e radiante, com uma pedra vermelha ao centro. À semelhança das anteriores, também esta imagem costuma integrar a procissão de São Lourenço. Tal como a de Nossa Senhora de Fátima é colocada durante o mês de maio junto ao altar-mor, mas habitualmente permanece na sacristia. Nossa Senhora está aqui representada com vestes brancas, uma túnica e um manto, com rica ornamentação dourada e pedras brilhantes, destacando-se o monograma coroado de Maria no plano inferior da túnica. Calça sandálias castanhas e encontra-se sobre uma nuvem branca que possui cravado um brasão de Portugal. Possui um rosário que se encontra colocado suspenso nas suas mãos e uma auréola fina e dourada com dez estrelas de oito pontas douradas e com pedras brilhantes brancas.

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Ainda na sacristia encontram-se outras imagens: São Miguel Arcanjo, peça em madeira policromada estofada e metal dourado, datada do século XIX e que igualmente integra a procissão de São Lourenço. São Miguel encontra-se representado com um ar muito jovial, vestes brancas e douradas, calçando sandálias douradas. Por ser um arcanjo, possui duas asas de grande porte, igualmente douradas. Com ambas as mãos espeta uma lança fina e dourada num esmagado e submetido demónio que possui cores escuras, simbolizando o mal. São Nuno, padroeiro dos escuteiros de Ermesinde, é uma obra em madeira policromada já do século XXI e também ela vem integrando a procissão anual consagrada a São Lourenço. O santo encontra-se representado como Condestável do Reino e bastante jovem. Tem o rosto inclinado para o céu e cabelos castanhos-claros. Usa vestes militares, nomeadamente um arnês branco com a cruz vermelha e branca dos Pereira ao centro e flores de lis douradas nas extremidades. São também visíveis partes da armadura militar prateada que lhe cobrem os membros superiores e inferiores, bem como os pés. Com as duas mãos, segura uma espada prateada com punho dourado. A seus pés encontra-se o elmo prateado no lado esquerdo e a bandeira de São Nuno no lado direito. A bandeira branca com cruz vermelha ao centro, divide-se em quatro planos que


incluem representações de Santa Maria, São Jorge, São Tiago e da crucificação de Jesus. Os rebordos da bandeira e o mastro são dourados. Destaque ainda para a imagem em madeira policromada de Santa Rita, peça do século XX que integra igualmente a procissão de São Lourenço. Santa Rita encontra-se representada com o hábito preto de agostiniana com elementos decorativos dourados, que representam o milagre da sua entrada no convento com a ajuda divina de São João, São Francisco e São Nicolau. Tem o rosto jovem, inclinado para a cruz e apresenta um estigma na sua testa, uma vez que, segundo a sua hagiografia, um espinho da coroa de Jesus se desprendeu e perfurou a sua testa, ferimento esse que durou cerca de 15 anos, até à sua morte. Na mão esquerda segura um crucifixo de madeira e na direita rosas-douradas em alusão à roseira plantada por Santa Rita no jardim do convento onde pertencia e que brotava rosas no inverno, situação que continua a ocorrer nos dias de hoje. Esta é uma devoção muito importante em Ermesinde, conectada com o Santuário Diocesano de Santa Rita, no lugar da Formiga. Aquando da procissão anual de São Lourenço refira-se também uma imagem de São Marçal, pertença dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde, de quem é padroeiro. Escultura atribuída ao século XVIII em madeira policromada, participa não só na procissão

de São Lourenço em Ermesinde, mas também na de Nossa Senhora do Amparo em Alfena. São Marçal encontra-se retratado como Bispo de Limoges (França) usando uma túnica branca, uma capa vermelha com rica ornamentação dourada, ostentando um crucifixo em relevo. Calça luvas vermelhas e sapatos de igual cor. Com a mão direita abençoa e com a esquerda segura um báculo prateado com remate dourado. Na cabeça sobressai a mitra de Bispo, branca com decoração dourada. A seus pés, no lado direito, encontra-se um edifício em chamas, um dos seus atributos, já que um dos seus milagres foi ter apagado um incêndio com o Báculo de São Pedro. Na base apresenta a legenda da imagem. Integram também a igreja paroquial de Ermesinde várias peças de ourivesaria. Destaque para a custódia-cálice proveniente da antiga igreja, do século XIX e executada em prata dourada e vidro, uma peça com dupla funcionalidade já que permite juntar o pão e o vinho: destinando-se à celebração da eucaristia (cálice) e à exposição da hóstia consagrada para adoração dos fiéis (custódia). Sobre um cálice de base redonda encontra-se um hostiário em forma de templete acompanhado de um resplendor. Lateralmente é acompanhado por um par de colunas. A peça é coroada por uma cúpula com lanternim, encimado por uma cruz latina e revestida de motivos vegetalistas, folhas e flores.

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CRUZEIRO DA IGREJA MATRIZ Rua da Igreja 4445-459 Ermesinde Cruzeiro de “estilo barroco” atribuído ao século XVIII, erguido sobre uma base quadrangular, constituída por quatro degraus escalonados de bordo curvo. O cruzeiro assenta num plinto decorado com motivos vegetais e geométricos nas faces, coluna de fuste canelado e capitel coríntio, rematada por uma esfera e cruz latina. Na face voltada a Norte, foi colocada em 1940, no contexto nacionalista da época, e à semelhança do que ocorreu então em inúmeros monumentos e cruzeiros do país, uma placa de mármore comemorativa dos centenários relacionados com a origem de Portugal e a Restauração da independência, então ocorridos, com a inscrição: “A CRIST IRG P RT GA R C N CID ”.

CAPELA DE SÃO SILVESTRE Rua 5 de Outubro, 1126 4445-310 Ermesinde Referenciada já no “Catálogo dos Bispos do Porto” em 1625, a capela de São Silvestre exibe gravada no lintel da porta a data de 1711, correspondendo provavelmente a um período de obras de restauro. Poucos anos depois, também as “Memórias Paroquiais” de 1758 referem a “CAP A D S. SI STR lugar da ermida no seu dia no dia da sua esta concorre dita capela bastante povo em romagem”. Foram diversas as vicissitudes que, ao longo dos tempos, condicionaram a capela. No século XIX, enquanto se erguia o novo templo, funcionou como igreja matriz. Já nos finais desse século, contudo, o alpendre da capela foi usado com objetivos bem menos religiosos, nomeadamente como apoio para a construção da estrada nacional que liga Ermesinde a Alfena. E, pouco tempo depois, em 1911, e por certo dentro do profundo espírito anticlerical decorrente do triunfo do novo regime republicano, a capela esteve mesmo para ser demolida, substituída pela construção de uma creche. E de novo, em 1920, a sua destruição é prevista face a um projeto de edificação de uma escola primária no local. Sobreviveu, todavia. Contudo, em 1940 a capela de São Silvestre volta a ser notícia pelas piores razões, atingida por um

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incêndio espoletado por uma explosão num prédio do lado poente e que provocou a derrocada da capela-mor. Também os “restauros” promovidos na década de 90 do século passado se, por um lado qualificaram o monumento (com a substituição e colocação de iluminação, por exemplo), por outro lado fizeram desaparecer algumas das suas características iniciais (com a remoção de rebocos e colocação de pedra à vista no exterior e interior, a pavimentação moderna do adro, a substituição do forro de madeira e dos pavimentos). Longe vão também os tempos em que aqui se realizava a festa de São Silvestre, celebrado atualmente apenas com missa no local, no seu dia, a 31 de dezembro. Exemplar da arquitetura religiosa seis e setecentista, esta capela apresenta planta longitudinal simples, sendo composta por capela-mor, nave única, alpendre adossado à fachada principal e sacristia adossada lateralmente à fachada nordeste. Na fachada principal, antecedida por alpendre, rasgada por portal encimado por frontão triangular, apresenta no tímpano um pequeno nicho, protegido por grade de ferro, albergando a imagem de São Silvestre. Sobre o lintel surge epigrafada a data 1711 e uma flor-de-lis. Ladeando o portal principal observam-se duas pequenas janelas retangulares gradeadas. O alpendre, ao qual se acede através de uma granítica escadaria, é constituído por três arcos de volta perfeita, um em cada fachada, enquadrado na fachada principal.


Já no interior do templo, as paredes são parcialmente revestidas a azulejo de padrão industrial datado do século XX, pavimento com revestimento cerâmico e teto com reboco. À capela-mor, ligeiramente mais elevada, acede-se através de um degrau localizado sob o arco cruzeiro. O altar-mor, em talha policromada e dourada mas denotando já um gosto neoclássico, apresenta corpo nico e nicho central com Crucifixo e sacrário. A base é constituída por mesa de altar de forma retangular com decoração emoldurada, de cariz vegetalista e grutescos dourados sob fundo branco, no frontal. O centro é delimitado por colunas com base azul, decorações vegetalistas e douradas, fuste canelado e capitéis jónicos dourados. Do lado do Evangelho encontra-se a

escultura de Santiago e do lado da Epístola a de São Vicente. A imagem de Santiago, atribuída ao século XX, representa Santiago como peregrino, vestindo uma túnica verde onde assenta, sobre os ombros, uma esclavina preta com duas conchas de vieiras. A mão direita agarra o bordão ou bastão do peregrino, que possui uma cabaça na qual os peregrinos transportavam água ou vinho. Na mão esquerda o Santo segura um livro. Apresenta cabelos e barba compridos, bem como uma auréola prateada. Executada em madeira policromada e com datação atribuída ao século XVIII a imagem de São Vicente representa o santo como um jovem diácono, envergando uma túnica branca e uma dalmática vermelha com sumptuosa decoração dourada. Na sua mão direita segura uma palma verde, identificando-o como mártir, enquanto na mão esquerda segura

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um livro verde em alusão à sua função de diácono (gestor dos bens religiosos) bem como de conversão, batismo e catequização dos cristãos. Junto do seu pé esquerdo surge um corvo preto que representa a transferência do corpo de São Vicente de Saragoça para o Algarve e posteriormente para Lisboa. Segundo a lenda, um corvo (ou vários) protegeram o corpo do santo para que este não fosse atacado por animais selvagens, deram sinal a Afonso Henriques para que localizasse o sítio (Cabo de S. Vicente) onde este se encontrava, e acompanharam ainda a viagem destas relíquias, de barco, entre o Algarve e Lisboa. A imagem ostenta uma auréola prateada e um rosto jovial, mas sofrido. No interior destaca-se a imagem de São Silvestre, orago da capela, em madeira policromada, com uma datação atribuída ao século XVIII. São Silvestre encontra-se representado como Papa, de cabelos e barbas castanhas, vestindo uma túnica branca sobreposta por uma estola e uma capa magna de cor vermelha com rica ornamentação dourada. Ostenta sapatos e luvas encarnadas. Com a mão direita abençoa, apresentando os dedos representando o alfa e o ómega, e com a esquerda segura a férula papal, peça que é prateada no báculo e, no remate, com a cruz papal em dourado. Esta cruz representa o poder divino e temporal do Bispo de Roma, Papa. Aliás, e em rigor este Bispo de Roma, que exerceu o seu cargo durante cerca de 20 anos, foi o primeiro líder da Igreja a exercer as suas funções em liberdade, porque coincidente com a governação do imperador romano Constantino que terminou com as perseguições aos cristãos. E, a partir de Silvestre I, ao poder divino os papas foram somando também, crescentemente, o poder temporal – a influência de Roma e do Vaticano sobre o poder político e de governação. Esta imagem exibe ainda uma mitra papal branca ricamente ornada com elementos dourados. O seu rosto transmite simultaneamente tranquilidade e seriedade associados ao seu pontificado, que representou um período de crescimento e afirmação do cristianismo no seio do Império, tendo sido neste tempo que se construíram alguns dos principais templos cristãos, nomeadamente a Basílica de São João Latrão, em Roma, e a do Santo Sepulcro em Jerusalém. Esta imagem integra anualmente a grande procissão da cidade, consagrada a São Lourenço. Também a imagem de São José com o Menino em madeira policromada, atribuída ao século XIX, que se pode contemplar nesta capela, mas que é proveniente

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da antiga igreja de Ermesinde, integra essa anual procissão de São Lourenço. Nesta escultura, de vulto pleno, São José já com aspeto idoso, veste túnica azul e um manto castanho colocado sobre o ombro direito, ornado com uma faixa dourada. Com a mão direita segura uma haste de flores brancas e com o braço esquerdo segura o Menino que, adormecido, veste uma túnica em tons de rosa. Ainda no interior da capela encontramos uma imagem provavelmente do século XX do Imaculado Coração de Maria, em madeira policromada e metal dourado, representando Nossa Senhora com vestes brancas, nomeadamente túnica e manto, de traço simples mas com rebordo dourado, descalça sobre uma nuvem branca. A Virgem apresenta os braços abertos para os devotos, salientando-se em relevo o coração, de tons vermelhos. Na cabeça, destaca-se uma coroa dourada, singela e de reduzidas dimensões, rematada por uma cruz latina. Do século XX será também a imagem do Sagrado Coração de Jesus, em madeira policromada. Jesus encontra-se representado sobre uma nuvem branca, descalço, vestindo uma túnica branca com rebordos dourados e um interessante manto vermelho com elementos decorativos dourados. Sob a barba e cabelos longos de cor castanha, aparenta um olhar sério e um pouco sofrido. Em ambas as mãos são visíveis as chagas com que foi preso na cruz, sendo que a mão esquerda se encontra aberta abençoando, enquanto a direita aponta para o seu sagrado coração. O coração, em relevo e de cor vermelha, encontra-se rodeado por raios solares dourados, sobressaindo os espinhos da cruz, o fogo no remate do pormenor, juntamente com uma cruz latina. Igualmente atribuída ao século XX é uma escultura aqui existente de São Judas Tadeu, em madeira policromada. O santo encontra-se representado com uma túnica verde e um manto vermelho com elementos decorativos dourados. As vestes são referências ao seu martírio. A sua mão esquerda encontra-se ao peito junto de um medalhão com a face de Jesus enquanto a esquerda segura uma lança prateada, de igual modo símbolo do seu martírio. Apresenta cabelos e barba compridos e um ar jovial. Envolve a sua cabeça uma auréola. Também aqui encontramos uma imagem de Santa Rita, escultura em madeira policromada atribuída ao século XX e que integra a procissão de São Lourenço. Santa Rita encontra-se representada com o hábito preto de


agostiniana com elementos decorativos dourados, que representam o milagre da sua entrada no convento com a ajuda divina de São João, São Francisco e São Nicolau. O seu rosto, está inclinado para a cruz e apresenta um estigma na sua testa, simbolizando o espinho da coroa de Jesus. Na sua mão esquerda segura um crucifixo de madeira e na mão direita rosas-douradas em alusão à roseira plantada por Santa Rita no jardim do convento onde pertencia e que brotava rosas no inverno. Como já referimos, a propósito da sua imagem existente no interior da igreja paroquial, esta é uma devoção muito importante em Ermesinde, relacionada com o Santuário Diocesano de Santa Rita, no lugar próximo da Formiga. Completa o conjunto de imagens da Capela de São Silvestre uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e dos Pastorinhos, dos séculos XX e já do nosso XXI, executada em madeira policromada. Nossa Senhora está representada com vestes brancas ornamentadas com elementos vegetalistas e rebordos dourados. Calça sandálias e encontra-se sobre uma nuvem. Ostenta um rosário e no remate da imagem uma coroa dourada com um pequeno globo azulado e uma cruz latina. Merece também referência uma bandeira em cetim de cor vermelha, pintada com uma representação de São Silvestre ao centro, com vestes e insígnias de bispo. É ladeada por silvas de flores brancas, azuis e rosa, e

possui uma inscrição dourada na parte superior “S. SILVESTRE” e no fundo “ROGAI POR NÓS”. Possui um corte ondulado e é debruada com galão dourado, sendo rematada no fundo por três pendentes debruados com franja dourada. Era utilizado na procissão do padroeiro da capela.

CRUZEIROS DE SÃO SILVESTRE Rua 5 de Outubro, 1126 4445-310 Ermesinde Nas proximidades da Capela de São Silvestre existem três cruzeiros. Dois estão perto das alminhas de São Silvestre e o terceiro num jardim fronteiro. Os que se localizam junto às alminhas apresentam uma forma simples assente num plinto, em granítico, executado de forma vernácula e sem qualquer ornamentação. Ambos possuem inscrições na base: “VIVA JESUS JOSÉ E MARIA 1140/1640/1940.” Já o cruzeiro granítico localizado no jardim apresenta a mais-valia de se encontrar datado, com uma inscrição que refere 1771. Assente numa base circular com três pequenos degraus, ergue-se através de uma coluna simples encimada por uma cruz latina sem decoração. Numa das faces tem adossada uma cartela/brasão com as insígnias de Portugal e a inscrição “1140/1640/1940”.

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Na base apresenta duas outras inscrições: a já referida “1771” e “SALVE O VIRGEM DE PORTUGAL – Padroeira de Portugal – 1140/1640/1940”.

ALMINHAS DE SÃO SILVESTRE Rua 5 de Outubro 1126 4445-310 Ermesinde As alminhas de São Silvestre encontram-se adossadas no muro que separa a capela da via pública. Num bloco retangular de granito, esculpiu-se um nicho sobre uma mesa ligeiramente saliente. No interior, protegida por portada de ferro, um pequeno painel de azulejos reproduz a imagem de Cristo Crucificado e num plano inferior três anjos resgatam as almas de entre o fogo do Purgatório.

CAPELA DE NOSSO SENHOR DOS AFLITOS R. Simões Lopes, 269 4445-416 Ermesinde Terá sido no século XVIII (com base na inscrição “1756” gravada na fachada) que foi erguida em Ermesinde a capela de Nosso Senhor dos Aflitos, inserida num n cleo rural composto por cinco edifícios de exploração agrícola e de produção de milho graúdo. De planta longitudinal de nave única, a capela apresenta a fachada principal revestida de azulejos de padrão, azuis e brancos com dois painéis que evocam São Francisco e Nossa Senhora de Fátima. A cobertura de duas águas é rematada no vértice central por cruz latina e nos laterais por pináculos.

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O interior é rebocado e caiado de branco, com azulejo padrão contemporâneo e cobertura com revestimento em madeira. Na parede fundeira, na capela-mor, observa-se uma cruz com a representação do Senhor dos Aflitos, ladeado por Maria Madalena e Santa Rita assentes em pequenas mísulas. Na mesa de celebração está depositada a imagem de Nossa Senhora de Fátima. No local encontramos ainda o lampadário prateado, a mesa de altar bem como uma cruz, ambos em madeira e executados de forma muito singela e sem valor artístico. O Senhor dos Aflitos é uma representação de Jesus na cruz do século XX (em madeira policromada e metal dourado), pregado pelas mãos e pés, envergando vestes brancas na cintura, presas por cordas, tendo o resto do corpo despido. Sobressai na cabeça de Cristo a coroa de espinhos e um resplendor dourado de inegável efeito cénico. Com inúmeros ferimentos, o corpo de Jesus encontra-se detalhadamente representado, especialmente a musculatura e estrutura óssea. No topo da cruz, existe o acrónimo NR esus Na areno Rei dos udeus. Na nave existem as imagens de São Francisco de Assis e de São Joaquim, ambos em peanhas, junto do arco cruzeiro que revela a expansão da capela ocorrida no século XX. Ainda na nave há também imagens de Nossa Senhora de Fátima e do “Menino Reizinho” (Menino Jesus de Praga). A imagem de São Francisco de Assis em madeira policromada é do século XX. São Francisco encontra-se representado com hábito franciscano de cor castanha e cíngulo. Tem um ar jovem, mas com pouco cabelo e barba curta, ambos de tons castanhos. Na sua mão esquerda segura um crucifixo e com a direita, aberta,


convida os fiéis para o “novo templo”. Também do século XX é a escultura em madeira policromada representando São Joaquim. O Santo encontra-se representado com idade avançada, sublinhada pelos cabelos e barba grisalhos, usando hábito de tons púrpura claro com manto castanho. Na mão direita sobressai um cajado ligeiramente curvo na parte superior, enquanto na mão esquerda apresenta um cesto com uma pomba. No remate da imagem existe uma auréola prateada fina. A imagem integra habitualmente a grande procissão anual da cidade dedicada ao padroeiro da cidade, São Lourenço. Na imagem de Nossa Senhora de Fátima, em madeira policromada e do século XX, a Senhora está representada com vestes brancas ornamentadas com elementos vegetalistas e rebordos dourados. Calça sandálias e encontra-se sobre uma nuvem. Com as mãos em gesto de oração, ostenta um rosário e, no remate da imagem, uma coroa em filigrana com cruz latina. A imagem do Menino Jesus de Praga é em madeira policromada e metal dourado e data também do século XX. Jesus encontra-se representado na sua infância como Rei, como é percetível pela coroa dourada na sua cabeça, encimada por um pequenino globo e cruz latina. Veste túnica branca com rica ornamentação dourada, com rebordos, elementos vegetalistas e simbologia religiosa, e ainda uma belíssima capa encarnada também com decoração dourada. Possui em relevo um rosário sobre a túnica e um coração encarnado. A sua face inocente e jovial denota um leve sorriso sendo interessantes os seus cabelos castanhos alourados. Na mão esquerda segura o globo azul e dourado, encimado por uma cruz latina dourada, representando o seu poder. A direita, com os dedos juntos representando o alfa e o ómega, abençoa, simbolizando a sua natureza simul-

taneamente divina e humana. Também esta imagem incorpora a procissão de São Lourenço. A festa de Nosso Senhor dos Aflitos, uma evocação a Jesus Cristo, tem lugar na pequena capela no primeiro domingo de julho.

CRUZEIRO DO SENHOR DOS AFLITOS R. Simões Lopes, 269 4445-416 Ermesinde Localiza-se nas imediações da Capela do Senhor dos Aflitos, no lugar de S. Paio. Trata-se de uma peça em granito de grandes dimensões, embora denote grande simplicidade artística. Continua nos dias de hoje a revelar ser lugar de devoção.

IGREJA DO BOM PASTOR Igreja do Sagrado Coração de Jesus / Santuário do Coração de Jesus – Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor Largo das Oliveiras 4445-538 Ermesinde A Igreja do Bom Pastor e respetivo complexo residencial foram construídos entre 14 Julho de 1957 e 21 de Abril de 1966. A igreja é consagrada ao Sagrado Coração de Jesus de acordo com o voto da Irmã Maria do Divino Coração, condessa Droste Zu Vischering (Munster, 1863 – Porto, 1899), beatificada a 1 de novembro de 1975 pelo Papa Paulo VI. O seu túmulo encontra-se no interior da igreja sendo alvo de grande devoção e peregrinação.

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A congregação foi fundada por Maria Eufrásia Pelletier em França no século XIX. Atualmente é ainda ocupado pela Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor. A Igreja do Bom Pastor é um edifício de cariz religioso privado de relevância na paisagem da cidade de Ermesinde, não só pelas características da sua arquitetura contemporânea com também pela sua escala, volumetria e espacialidade, presentes tanto no exterior como no interior do edifício. A fachada principal inscrita num arco ogival, com pequenas frestas de iluminação alinhadas, remata com uma cruz. O interior de planta circular, destaca-se o altar-mor, colocado no centro e o túmulo, em vidro, da Beata Irmã Maria do Divino Coração. A imagem em madeira policromada do Sagrado Coração de Jesus é do século XX, provavelmente executada aquando da construção do templo. Jesus, representado com olhar ternurento, barba e cabelos longos, encaracolados e de tom acastanhado, encontra-se sobre uma nuvem branca, com os braços abertos derramando a sua bênção sobre os crentes. Os seus pés descalços possuem chagas, assim como as suas mãos. Veste túnica branca com sublimes rebordos dourados, complementadas com belo manto encarnado com elementos decorativos dourados e pedras brilhantes coloridas. O seu sagrado coração, em relevo e de cor vermelha, está rodeado de raios solares dourados,

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sobressaindo os espinhos da cruz e o fogo no remate do pormenor, juntamente com uma cruz latina, representando o amor puro, ardente e palpitante de Jesus por todos os homens. De forma discreta e singela, sobressai ainda a chaga no coração, ou seja, o ferimento e o derramamento de sangue, numa alusão ao sofrimento de Jesus mas também à sua vitória triunfal. A coroar a imagem encontra-se um notável resplendor em forma de cruz latina e radiante, com uma cruz de oito pontas no centro da imagem e uma pedra de cor vermelha. É uma imagem imponente, sublinhando tratar-se do orago do templo onde se encontra. Ainda no interior da capela encontra-se a imagem de Santa Maria Eufrásia, obra em madeira policromada e metal prateado do século XX. Representada com hábito da Congregação das Irmãs do Bom Pastor, uma vez que era a madre superior e fundadora da Congregação, veste hábito bege, cíngulo azul-esverdeado e véu preto. No seu hábito existe uma cruz latina e as suas mãos seguram um livro. No coroamento da imagem encontra-se uma auréola prateada. A escultura em madeira policromada e metal do Imaculado Coração de Maria, do século XX, representa Nossa Senhora de forma muito singela e semelhante às imagens de Nossa Senhora de Fátima. Possui uma túnica branca e um manto bege com elementos decorativos dourados, sobressaindo uma estrela no plano inferior da sua túnica. O seu coração em relevo é de


tons encarnados com chamas ardentes, representando o amor maternal, e uma espada, sendo circundado por espinhos verdes, em representação do seu sofrimento enquanto mãe. Encontra-se representada descalça sobre uma nuvem branca. Nas suas mãos abertas esperando por um abraço e abençoando, encontra-se um rosário e uma medalha da congregação. Sob a sua cabeça destaca-se uma simples e fina auréola prateada com uma inscrição “O meu coração imaculado será o teu refúgio”. Igualmente do século XX é a imagem em madeira policromada e metal representando São João Eudes já com alguma idade, especialmente percetível no seu rosto e com as vestes pretas típicas de presbítero, com uma gola branca. Na mão direita agarra um rolo de papel, numa alusão à formação clerical que se dedicou, bem como à propagação do culto aos corações de Maria e de Jesus, especialmente através de livros e publicações. Na mão esquerda segura o seu principal atributo, o coração, representando a sua missão e a sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, já que as primeiras festas a estas devoções se ficam a dever à sua iniciativa. Os cabelos grisalhos são cobertos por um solidéu preto. Não possui barba. A rematar a imagem encontra-se uma auréola prateada, simples e fina. São João Eudes foi uma figura religiosa e cultural incontornável do século XVII, declarado pelo Papa Pio X apóstolo da devoção aos Corações de Jesus e

de Maria. Foi fundador da Ordem de Nossa Senhora da Caridade do Refúgio, que dará origem, após reforma de Santa Maria Eufrásia, à Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, conhecida como as Irmãs do Bom Pastor. Imagem recente é a de São José, em madeira policromada e metal prateado, representado com túnica em tons de azul-escuro e manto castanho com rebordo e elementos vegetalistas dourados. Possui barbas e cabelos castanhos, acompanhado de uma simples auréola prateada e fina. Calça sandálias. Na mão direita segura uma vara florida com lírios, enquanto a esquerda segura carinhosamente o Menino que está representado com cabelos castanhos, vestes azul-claro, pernas cruzadas e um globo azul na mão esquerda, abençoando com a mão direita. Com datação atribuída a finais do século XIX e inícios do XX, a imagem de Jesus Bom Pastor, em madeira policromada, representa Jesus com túnica branca e manto encarnado, calçando sandálias, longos cabelos e barba castanhos. Encavalitado sobre os ombros encontra-se um cordeiro em representação do Agnus Dei. Jesus agarra e segura os membros do cordeiro com ambas as mãos. É uma imagem bem singular em termos iconográficos remetendo para a mensagem de que Jesus é o Bom Pastor e que cuida de suas ovelhas e do seu povo. Esta iconografia inspira-se ainda nas in meras representações do período primitivo do cristianismo e do

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período clássico, especialmente ao Hermes Kriophoros. A coroar o presbitério encontra-se a representação de Jesus Crucificado, escultura em madeira do século XX. Tal como nas representações habituais, Jesus encontra-se despido (com a exceção da cintura) pregado na cruz pelos pés e pelas mãos. Na cruz latina sobressai a inscrição que identifica Jesus de Nazaré como Rei dos Judeus. A imagem da Virgem Maria em pedra mármore é da autoria de Maria Teresa e data de 1953. A Virgem encontra-se representada em forma de oração, especialmente visível pela posição de suas mãos. Com vestes simples – túnica e manto que lhe cobre a cabeça e um cíngulo à cintura – tem um rosto delicado e jovial sobressaindo, ainda que discretos, os cabelos da Virgem. Destaca-se ainda a representação do rosário em relevo, bem como os pés descalços de Maria. No jardim destaca-se a escultura da Irmã Maria do Divino Coração da autoria da escultora Irene Vilar. Nos espaços internos da Congregação (celas, refeitório, capela privada…) existem outras imagens de devoção, algumas das quais foram oferecidas, desconhecendo-se a sua proveniência.

CAPELA DE SANTA JOANA Rua Rodrigues de Freitas, n.º 2037 4445-632 Ermesinde A Capela de Santa Joana insere-se no conjunto habitacional da quinta do palacete “Julião”, localizado junto à estação de comboio de Ermesinde. A propriedade pertencia ao Juiz Conselheiro Magalhães que, em 1936, vendeu à Superiora Geral da Congregação das Irmãs Hospitaleiras da Imaculada Conceição, para aí instalar o Colégio Missionário. Atualmente a Capela de Santa Joana integra o Externato Santa Joana, instituição de ensino, administrada pela Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (CONFHIC). Edifício de gosto eclético, apresenta uma fachada simples, com portal principal em arco de volta perfeita encimado por um vitral com a representação de Cristo Crucificado com São Francisco de Assis. Tem nave nica, com planta longitudinal com cobertura de duas águas

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forrada a madeira. O acesso ao coro alto faz-se a partir de um “varandim” no piso superior. A capela-mor, revestida a mármore, com a imagem de Cristo Crucificado, ao centro, é ladeada por duas esculturas: o do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora de Fátima, ambas datadas do século XX. A imagem do Sagrado Coração de Jesus em madeira policromada e metal prateado, do século XX, representa Jesus sobre uma nuvem branca, braços abertos derramando a sua bênção sobre os crentes, e pés descalços com chagas, que também apresenta nas suas mãos. Veste túnica branca e bege claro. A sua face séria ostenta barba e cabelos longos, encaracolados e de tons acastanhados. O seu Sagrado Coração, em relevo e de cor vermelha, está rodeado de raios solares dourados, de onde sobressaem os espinhos da cruz e o fogo no remate do pormenor, juntamente com uma cruz latina. Sobressai ainda a chaga no coração. Coroa a imagem um notável resplendor prateado. Uma escultura recente desta capela, já do século XXI e em madeira policromada, representa a Beata Maria Clara do Menino Jesus, fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, congregação a que pertence o Externato de Santa Joana. A Irmã Maria Clara, ou Mãe Clara como também é conhecida, encontra-se representada com hábito hospitaleiro de cor preta e siglo. A sua face sorri-


dente e carinhosa representa a sua entrega aos mais desfavorecidos. Apresenta-se emoldurada num cocar branco. Na mão esquerda tem uma lamparina que representa a luz e o calor que esta irmã e a sua Congregação trazem ao mundo através da sua missão social, enquanto na mão direita se encontra a representação do pão em alusão ao apoio aos pobres, que leva a que seja designada como “Irmã dos Pobres”. Ainda nesta capela encontramos uma estátua de Nossa Senhora de Fátima do século XX em madeira policromada. Nossa Senhora está representada com vestes brancas e ricamente ornamentadas com elementos vegetalistas e rebordos dourados. Calça sandálias e encontra-se sobre uma nuvem. O seu ar maternal perceciona-se nas expressões simples do seu rosto e na sua posição de oração. De forma discreta, surgem os seus cabelos castanhos. Ostenta um rosário e no remate da imagem uma coroa dourada com um pequeno globo azul e uma cruz latina. O altar-mor da capela, do século XX, em madeira e

metal prateado, inclui a mesa de altar e a cadeira presidencial, no plano inferior, ambos em madeira castanha e executados de forma simples. No plano central apresenta o sacrário em metal e com elementos decorativos em relevo. No plano superior encontramos a imagem de Jesus Crucificado numa cruz latina em madeira castanha e a representação de Jesus em tons claros. Com cabelos e barba compridos e a cintura coberta com vestes claras. Encontra-se pregado na cruz pelas mãos e pernas, tendo a cabeça inclinada para o céu.

ALMINHAS DA CANCELA Rua da Cancela 4445 Ermesinde As alminhas da Cancela são um exemplar de carácter vernacular datado de 1841, mas apresentam alguns pormenores arquitetónicos mais elaborados. O nicho tem uma base de onde arrancam duas pequenas pilas-

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tras compostas por soco e capitel que delimitam lateralmente a composição. Os pequenos capitéis servem de descarga a um frontispício onde se inscreve P. 1956. O conjunto é rematado por dois pináculos que o centralizam e enquadram. O painel de azulejos é uma produção da Casa Nun’Alvares – Porto. No centro da composição está a Nossa Senhora de Fátima com os Pastorinhos, num primeiro plano as almas entre o Inferno e o Purgatório. No interior do nicho é ainda possível ler: “S C RR I A AS PIAS AS TRIST S A AS I IS BRAI S BR S DIAS N S G STAR IS”.

ALMINHAS DA GANDRA Rua do Mercado 4445 Ermesinde Trata-se de uma estrutura recente coberta por azulejos de padrão regular, modestamente trabalhada, rematada com uma cruz de ferro e uma pequena placa com a data de inauguração: 12.01.1980. No interior do nicho apenas se observa um painel de azulejos policromado, com a representação de Nossa Senhora da Conceição e a data de 1976/1977.

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ALMINHAS DO BOM PASTOR Largo das Oliveiras 4445-538 Ermesinde No muro que ladeia o caminho de acesso à Igreja do Bom Pastor encontra-se embutido um singelo nicho com umas Alminhas. Nos azulejos, produção da Aleluia – Aveiro, figuram num plano superior Nossa Senhora de Fátima, rodeada pelos três Pastorinhos, e num plano ligeiramente inferior, dois anjos que ajudam a retirar as Almas do Purgatório. Na base uma mensagem: “NOSSA SENHORA DE FÁTIMA / QUANDO NA IRIA POISOU / A REZAR PELAS ALMINHAS / A PORTUGAL ENSINOU”.

ALMINHAS DE SANTO ANTÓNIO Rua Elias Garcia 4445 Ermesinde As Alminhas de Santo António são uma pequena ermida, provavelmente do século XX, em estrutura retangular em pedra com duas janelas e uma porta com gradeamento verde, bem como uma mini janela na lateral. No coroamento da estrutura sobressai uma pequena cruz latina inserida num círculo, ambos em metal. No seu interior destaca-se um interessante nicho em cantaria granítica, com cruz latina no plano superior e dois pináculos. A imagem de Santo António situa-se ao centro, sendo acompanhado por outras duas iconografias.


ALMINHAS DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA Montes da Costa – Ermesinde Confluência das Ruas Prof. Agostinho da Silva com a Rua Humberto Delgado 4445 Ermesinde Trata-se de um nicho moderno, inaugurado a 1 de maio de 2013 e executado de forma simplista, sendo composto por uma estrutura retangular protegido por uma porta de vidro possuindo a imagem de Nossa Senhora de Fátima no seu interior. Na parte superior do nicho sobressai a inscrição do lugar “Montes da Costa”. Nossa Senhora de Fátima encontra-se representada seguindo a iconografia habitual, sendo interessante a sua coroa dourada. A 12 de maio de cada ano esta imagem de Nossa Senhora sai em procissão até à Igreja Matriz de Ermesinde.

ALMINHAS DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA DA BELA OU NOSSA SENHORA DOS CAMINHOS Rua Ilha do Corvo 4445 Ermesinde Inauguradas a 8 de dezembro de 1992, as “alminhas” de Nossa Senhora de Fátima no lugar da Bela encontram-se situadas num terreno relvado de onde sobressai este oratório dedicado a Nossa Senhora. É composto

por quatro colunas retangulares sobrepostas por um telhado e coroado por uma cruz latina de pedra. O conjunto é ainda adornado com alguns degraus. Foi construído para celebrar os 75 anos das aparições, sendo esse o mote das inscrições que se encontram no plano inferior do conjunto “No septuag simo quinto aniversário das apari es”. Nossa Senhora encontra-se representada de forma angelical e esbranquiçada, com mãos em gesto de oração, sendo coroada por uma coroa dourada. A cada ano, no dia 12 de maio, a imagem de Nossa Senhora sai em procissão até à Igreja Matriz de Ermesinde.

ALMINHAS DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA DAS SAIBREIRAS Praceta Pedro Nunes 4445 Ermesinde As “alminhas” das Saibreiras, inauguradas a 22 de maio de 2011, seguem uma linguagem artística simplista e contemporânea, sendo compostas por um mural retangular com rebordo em pedra e adornado por azulejos singelos e acastanhados. Ao centro sobressai a imagem da Virgem por entre dois planos retangulares em pedra com vidro a proteger a imagem. Na parte superior surge a inscrição do lugar “Saibreiras”. A imagem de Nossa Senhora de Fátima segue a iconografia habitual,

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sendo interessantes as suas vestes, as pombas brancas no plano inferior da imagem e a coroa em filigrana. Tal como acontece noutros casos, anualmente, a 12 de maio, a imagem de Nossa Senhora sai em procissão até à Igreja Matriz de Ermesinde.

CRUZEIRO DA TRAVAGEM Rua Manuel Feliciano Vieira Silva Cruz 4445 Ermesinde Cruzeiro granítico executado de forma simples e vernácula, provavelmente construído no século XX. Encontra-se situado numa rotunda e assenta num escadório de três degraus, surgindo uma cruz latina. Não possui inscrições nem qualquer ornamentação.

CRUZEIRO DO CAMPO DO CALVÁRIO 4445 Ermesinde Integrado numa propriedade particular, este cruzeiro granítico faria parte do Calvário constituído por 14 cruzes com datação atribuída ao século XIX, altura em que integraria o passal, o conjunto arquitetónico e religioso da Igreja Matriz de São Lourenço de Asmes. Após a primeira República (1910) passou para a posse da junta de Freguesia de Ermesinde e depois para a CP – Comboios de Portugal, dada a sua integração nos terrenos junto ao rio Leça a poucos metros da linha ferroviária do Minho.

CRUZEIRO DO DUPLO CENTENÁRIO Rua Doutor João Rangel 4445-406 Ermesinde Edificado em 1940 no mbito do programa nacionalista de Comemoração dos Centenários (1140 – Batalha de Ourique e 1640 – Restauração da Independência), por iniciativa da Junta de Freguesia de Ermesinde. De arquitetura comemorativa novecentista, consiste num marco de celebração dos Centenários da Nacionalidade e da Restauração, de planta circular, composto por plataforma de dois degraus escalonados, base

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paralelepipédica e coluna torsa, encimada por cubo com os símbolos nacionais e a cruz de Cristo. Assenta numa base redonda de dois degraus redondos de granito de tamanho decrescente. A base em forma de paralelepípedo apresenta, em cada uma das faces, símbolos nacionais de vitória sobre o inimigo. Sobre ela ergue-se uma coluna torsa, encimada por um cubo com os símbolos nacionais e a Cruz de Cristo.


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3.3.1 | O Santuário de Santa Rita

SANTA RITA Oriunda de uma localidade italiana próxima de Cássia, na província de Úmbria, Margherita Lotti (1381-1457) desde cedo manifestou grande vocação religiosa e um grande número de virtudes. Freira agostiniana, foi beatificada em 1627 e canonizada em 1900, na sequência dos muitos milagres que lhe foram sendo atribuídos. Entre muitos outros terá salvo da peste e apenas através da oração o seu cunhado. Tendo casado por amor e “milagrosamente” graças à intervenção divina, pelo facto do seu marido ser oriundo de uma classe social muito diferente da sua, viu mais tarde o seu companheiro ser assassinado. Mesmo assim impediu os seus filhos de se vingarem, dizendo que os preferiria ver morrer a “derramarem mais sangue”. A lepra, no entanto, acabaria por matar os filhos. Vi va e sem filhos procurou então ingressar num mosteiro de agostinianas, mas não lho permitiram porque só aceitavam jovens solteiras. Passou, então, a cuidar de doentes e a curar muitos dos enfermos, até que, certa noite, foi protagonista de novo milagre: Santo Agostinho, São Nicolau e São João Baptista. apareceram-lhe e, pedindo-lhe que os seguisse, conduziram-na até ao mosteiro para o interior do qual, miraculosamente, a empurraram. Tendo caído em êxtase, quando voltou a si, estava no interior do mosteiro que mantivera sempre as portas trancadas. Perante tal milagre as freiras acabaram por a aceitar, tendo Rita aí vivido até ao final dos seus dias, quarenta anos depois. Pouco antes de morrer, reza a lenda que enferma, e apesar do inverno rigoroso, terá pedido que lhe trouxessem uma rosa que, surpreendentemente, surgiu entre a neve e que colocou junto duma imagem de Cristo. Santa Rita é por isso denominada como a Santa da “Rosa” mas também, tendo em conta a sua vida e os seus milagre, considerada como advogada das “causas impossíveis”. E por isso a sua popularidade…

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SANTUÁRIO DIOCESANO NOSSA SENHORA DO BOM DESPACHO E SANTA RITA / CONVENTO DA FORMIGA Avenida Eng.º Duarte Pacheco 4445-416 Ermesinde Um dos mais notáveis locais de culto e de grande devoção no concelho de Valongo, com inegável impacto regional e até nacional é, em Ermesinde, a igreja de Santa Rita e o respetivo antigo Convento da Formiga, hoje um estabelecimento privado de ensino. E se, em rigor, a designação do santuário evoca em primeiro lugar Nossa Senhora do Bom Despacho, o grande motivo de devoção é Santa Rita. De resto, o templo é protagonista das duas grandes festas de Ermesinde: a Festa de Bênção das Rosas, a 22 de maio, dia de Santa Rita, em que a comunidade enche a igreja de rosas para que sejam benzidas e numa evidente alusão à sua hagiografia (ver caixa). E as festividades com romaria e procissão, em honra da padroeira, Santa Rita, no segundo domingo do mês de junho. A edificação deste santuário remonta a 1749 quando, a 12 de outubro, foi lançada a primeira pedra, na Quinta da Mão Poderosa, situada no lugar da Formiga, freguesia de S. Lourenço de Asmes – uma quinta de recreio doada em 1745, pelo “capitalista” do Porto Francisco da Silva Guimarães e sua esposa, à Congregação dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho para que aí fosse fundada uma igreja e um convento, ou hospício, onde deveriam ser sepultados os seus doadores e respetivos descendentes, bem como rezadas missas pela salvação das suas almas. Diversos investigadores admitem que é provável que no local já existisse previamente uma pequena ermida. A 19 de Abril de 1747 a doação da quinta havia sido impugnada por Francisco Aranha Ferreira, sendo necessário recorrer ao rei D. João V para obterem a necessária autorização. Como reconhecimento do favor concedido pela Casa Real, a congregação religiosa pôs o convento sob a proteção da rainha, Dona Maria Ana d’Áustria, facto que explica a circunstância de se ter mandado colocar na frontaria da igreja as armas imperiais da casa de Áustria, incluindo a icónica águia bicéfala. De resto, e embora consagrado desde o seu início à Nossa Senhora do Bom Despacho, com inegável impacto nas devoções maiatas da região, a vontade dos “Agostinhos” em associar este convento à devoção a Santa Rita de Cássia não será alheia ao reconhecido apego que lhe tinha o rei D. João V. O monarca

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era, aliás, não só grande devoto, mas também um relevante benfeitor de Santa Rita, como atestam as obras que igualmente patrocinou no próprio Convento de Cássia, em Itália. Deste modo, e associando este seu convento na Mão Poderosa a Santa Rita, os Agostinhos não só obtinham um importante “aliado” nessa disputa pela propriedade, mas também um inegável protetor e financiador de todo o projeto conventual. E, de facto, durante as suas primeiras décadas de existência, ao longo da segunda metade do século XVIII, a igreja e o convento vão registar um pacífico desenvolvimento. Não passarão, contudo, incólumes à instabilidade política, social e até militar de Oitocentos e início do século XX. E são vários os episódios associados ao local ao longo desses tempos. Durante a guerra civil que opôs liberais e absolutistas, e nomeadamente durante o momento decisivo desse confronto – o “Cerco do Porto” (1832-33) – foi mesmo usado como hospital militar (o “Hospital da Formiga”) pelas tropas absolutistas. Em 1834, com a extinção das ordens religiosas em Portugal, imposta pelo triunfante regime liberal, termina o Real Convento de Nossa Senhora do Bom Despacho da Mão Poderosa, sendo o edifício comprado em hasta pública em 1842 por José Joaquim da Silva Pinto que aqui instalará o Colégio da Formiga que, embora tenha encerrado poucos anos depois, em 1848, dava início à missão do imóvel como espaço de ensino, vocação que se estende até aos dias de hoje. Com efeito, entre 1877 e 1910 é ocupado pela secção masculina do Colégio de Paço de Sousa, sob o nome de Colégio do Espírito Santo, que acabará por encerrar em 1910, na sequência da implantação do novo regime republicano. Dois anos depois, contudo, a 28 de dezembro, aí se instala um instituto particular de ensino secundário – o Colégio de Ermesinde – que, em 1948 e até aos nossos dias, passará para a posse da Diocese do Porto. Construído segundo os cânones do barroco da época, o convento é composto por igreja de planta longitudinal, implantada na transversal, com duas torres sineiras simétricas, nave única e capelas laterais, capela-mor retangular, mais baixa e estreita. A fachada do templo, apesar do gosto exuberante do barroco apre-


senta linhas relativamente simples e é rasgada por um pórtico central, rematado por um frontão triangular interrompido e encimado por nicho ricamente decorado, ladeado por dois janelões, com imagem em pedra de Santo Agostinho, representado em pé e com a cabeça mitrada levemente erguida. Na mão esquerda segura um coração, e com mão esquerda o báculo. O frontispício termina com a pedra de armas da Casa Imperial Austríaca, apresentando cabeças da águia que seguram no bico um cinto com uma fivela e um tinteiro com caneta de pena, símbolos da sabedoria e disciplina dos Agostinhos Descalços. As dependências conventuais, anexas ao templo, desenvolvem-se numa planta retangular e possuem dois claustros interiores. O portal de acesso ao colégio, bem como outras obras mais recentes que adaptaram o antigo convento ao moderno estabelecimento de

ensino, resultam de intervenção contemporânea da autoria do arquiteto Mário Morais Soares. O interior da igreja é amplo e revestido a azulejo padrão azul e amarelo. Apresenta seis altares laterais com decoração neoclássica em talha dourada, coroados por um conjunto de seis telas, de grandes dimensões, alusivas a episódios da vida de Santo Agostinho. O altar de Santo António, do lado da Epístola, foi outrora lugar de veneração a Santa Rita. Atualmente o culto a Santa Rita realiza-se numa capela lateral construída nos anos setenta do século XX. No interior, a separar a nave da capela-mor, o arco triunfal, de volta perfeita em granito, apresenta uma sanefa em talha dourada, ricamente decorada com o brasão de D. João V, grande devoto e benfeitor de Santa Rita, como foi já referido.

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A capela-mor, o lugar mais digno de qualquer igreja, situa-se no topo oposto à entrada principal do templo, o que cria, desde logo, as condições para que seja o ponto para onde converge o olhar de todos aqueles que acabam de penetrar no espaço sacro. O retábulo da capela-mor, data já do século XIX e veio substituir o original, de que se desconhece o paradeiro. Concebido em madeira, policromada a verde-claro e dourado, está organizado em três registos, decorado com motivos de gosto neoclássico. As colunas cilíndricas, ornamentadas com grinaldas de flores, assentam sobre pilastras e capiteis coríntios e na base, a mesa de altar retangular, em granito, encontra-se decorada com motivos geométricos. No corpo central encontra-se o trono eucarístico com a escultura de Nossa Senhora do Bom Despacho, estátua de madeira policromada e em vulto pleno. A imagem de Nossa Senhora com o Menino eleva-se sobre uma nuvem povoada por querubins, ladeada por dois registos com fundo verde-claro, com mísulas, destinadas às imagens de Santo Agostinho (com as insígnias de bispo que, na mão esquerda, segura o coração inflamado) e de Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho. Ainda no retábulo-mor, do lado do Evangelho, observa-se uma imagem em madeira policromada representando Santo Agostinho, Doutor da Igreja. Figura masculina de corpo inteiro, de pé, com mitra, apresenta um rosto com barba longa, vestes de bispo, com estola e capa de asperges que aperta no peito. A mão direita encontra-se levantada em sinal de bênção e a esquerda segura o báculo. Na mão direita segura um coração em chamas. O coração trespassado por uma flecha e em chamas é o atributo iconográfico de Santo Agostinho e da Ordem Agostiniana desde o século XV. O bispo de Hipona associou ao “coração” a sua imaginação pessoal desse espaço interior, onde o Homem encontra Deus. Ainda neste retábulo, do lado da Epístola, temos a imagem de Santa Mónica, uma escultura de vulto em madeira policromada, representando Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho, vestindo o hábito dos agostinhos, com túnica branca, capa e véu pretos. Segura na sua mão direita um crucifixo. A imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho também aqui existente é atribuída ao século XVIII. Trata-se de uma escultura de vulto, em madeira policromada, representando Nossa Senhora do Bom Despacho, com o Menino Jesus ao colo. A Virgem apresenta-se de corpo

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inteiro, de pé, de frente, pousada sobre base com anjos querubins. Tem o Menino pousado na sua mão esquerda e o seu braço direito estendido com a mão aberta. Veste vestido branco e capa azul com decoração estofada e dourada. O Menino, nu, está pousado no braço esquerdo da Virgem, segura com a sua mão esquerda um manuscrito, olhando também em frente. Ainda na capela-mor merecem atenção duas pinturas alusivas à Anunciação e Parentela. A segunda trata-se de uma pintura a óleo sobre tela, com moldura em madeira, de data e origem indeterminadas, alusiva à “família” de Jesus. No centro da composição encontra-se a Virgem Maria com o Menino em posição majestática. O Menino Jesus recebe um abraço do primo João Baptista, sob o olhar atento e contemplativo de sua Mãe e de Isabel. Ao lado de Isabel, o profeta Zacarias representado com vestes sacerdotais e com o turíbulo mão, espalha o incenso relembrando-nos do momento do anúncio do nascimento de João Baptista. Do lado oposto os pais da Virgem Maria: São Joaquim, ajoelhado, admira toda a cena; Santa Ana está curvada sobre os dois meninos expressando o seu amor de avó. Num plano mais recuado, São José apoiado na vara florida, assiste ao desenrolar dos acontecimentos familiares. No plano superior da pintura, está representada a figura de Deus Pai e o Espírito Santo. Entre estes dois registos, à direita, está uma figura masculina desconhecida, que observa todo o cenário da Santa Parentela.


Igualmente de data e origem desconhecidas, e ainda na capela-mor, encontramos a pintura retratando a Virgem Maria e o Anjo Gabriel no momento da Anunciação. As duas personagens preenchem o primeiro plano da obra. A Virgem recebe a mensagem de Gabriel, num espaço interior, ajoelhada e sob a cabeça uma coroa de doze estrelas. O Anjo, numa posição de veneração em cima de uma nuvem, levanta o braço em direção à Teofania, envolta em nuvens e anjos, que ocupa o plano superior da composição pictórica; no outro braço segura uma vara florida, atributo iconográfico de São José. No lado esquerdo, semelhante à pintura da Santa Parentela, surge uma figura feminina desconhecida. Não descartamos a hipótese de, num caso e no outro, se tratar de representações dos mecenas destas obras. Num plinto na entrada da capela-mor observa-se uma escultura de Santa Rita da autoria de Manuel Ferreira dos Santos, datada do século XX. Santa Rita encontra-se aqui representada com os seus atributos iconográficos mais habituais: o hábito agostiniano preto com ornamentação dourada, a cruz e o espinho na testa. A cruz latina que segura com as mãos, em madeira castanha, possui uma representação de Jesus Cristo. Apresenta ainda resplendor dourado em forma de meia-lua radiante. Na base uma placa identifica a autoria da imagem: “Manuel Ferreira dos Santos. Escultor de Arte Sacra. Vilar de Lila- S. Mamede de Coronado. Santo Tirso-Portugal.” Já na nave da igreja, os púlpitos, do século XVIII, estão colocados de um e outro lado do templo, em simetria.

Apresentam planta quadrangular em cantaria sustentada por uma mísula, adossada à parede, com guarda em madeira policromada, com aplicações vegetalistas ornamentadas a dourado. O batistério, do lado do Evangelho, encontra-se integrado numa pequena capela protegida por uma porta de vidro. Estrutura revestida de grande simbolismo para os cristãos, o batistério é a porta de entrada no “Reino dos Céus”, uma vez que é através do batismo que homens e mulheres se tornam cristãos. Neste caso o batistério é constituído não só pela pia batismal, mas também por um crucifixo, círio pascal e um ramo de flores. O círio pascal encontra-se colocado num tocheiro em talha dourada ao gosto barroco. A pia batismal, de claro gosto contemporâneo, apresenta o símbolo das águias bicéfalas que representa o santuário. O crucifixo, que se encontra numa posição superior à pia batismal, representa Jesus nos momentos finais da sua vida e morte. A cruz latina é de mármore branco e a imagem de Cristo foi executada em metal. No remate da cruz surge a inscrição “JNRJ” (Jesus de Nazaré Rei dos Judeus), também em metal. A floreira é de metal dourado e foi executada igualmente sob uma estética moderna, não condizendo, no entanto, com a pia batismal. Do lado da Epístola, e congregando a especial atenção de muitos dos que se deslocam a este santuário, temos a capela de Santa Rita, integrando uma antiga representação da Santa datada do século XVIII. Figura de pé, em posição frontal, segurando entre as mãos um crucifixo

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e, apoiado no antebraço, na direita, uma palma com três coroas. Traja hábito da Congregação das Agostinhas, sobre o qual assenta um resplendor dourado de raios em meia-lua, e a marcar a cintura alta possui um cinto com uma fivela, característico nos hábitos agostinhos. No rosto, ligeiramente inclinado e depositando o seu olhar na imagem de Cristo crucificado, é visível um espinho na testa, símbolo do seu amor e devoção da Paixão de Cristo. A palma, segundo a iconografia cristã, é uma insígnia de martírio e as três coroas representam as três grandes virtudes: humildade, sabedoria e fortaleza. No caso de Santa Rita, no entanto, é também uma alusão à sua gesta em três estados de vida: solteira, casada e monja. A escultura assenta sobre um plinto em madeira com campânula de vidro. Ainda nesta capela encontramos uma pintura, de proveniência desconhecida, alusiva à veneração de Santa Rita por Cristo crucificado. A Santa, envergando o

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hábito das agostinhas, encontra-se em primeiro plano, exibindo na mão esquerda a imagem de Cristo na cruz e na direita a palma com três coroas. À esquerda, um feixe de luz rompe as nuvens povoadas por querubins, iluminando-lhe o rosto. Peça muito interessante existente na capela de Santa Rita é uma cruz processional cuja parte superior poderá ter origem medieval. Fundida em bronze, com banho de prata, apresenta as extremidades trilobadas decoradas com motivos vegetalistas em baixo-relevo. A figura de Cristo, em relevo, encontra-se sobre um esplendor, de braços abertos e pernas paralelas, numa representação de tradição românica (século XII ou XIII). A cruz assenta numa esfera, de cronologia claramente posterior, com a representação de um querubim. Na outra face da Cruz, em relevo, estão representados os quatro evangelistas, segundo os seus atributos. O Leão corresponde ao evangelista São Marcos, a Águia remete-nos para


São João, o Touro representa São Lucas e a figura do Anjo invoca São Mateus. Em ambas as faces os braços são decorados com motivos fitomórficos. Na face posterior, no cruzamento dos braços, figura um “Agnus Dei”, donde parte um esplendor comum ao Cristo revelado na outra face. Continuando do lado da Epístola encontramos o retábulo com o altar de São Nicolau Tolentino. Trata-se de um retábulo de corpo único e de um só tramo com nicho no vão central, executado em madeira policromada e dourada, com elementos recortados e vazados em talha dourada com motivos vegetalistas. O nicho central é ladeado por um par de colunas com fuste liso e capitel coríntio. Remata com frontão interrompido decorado com folhas de acanto douradas em relevo. A mesa de altar em madeira, de secção retangular, tem função de suporte à parte superior ou corpo retabular. A escultura retratando São Nicolau Tolentino é em

madeira policromada, representando o Santo em vulto pleno, de pé, segurando com a mão direita uma haste de flores e folhas, enquanto com a mão esquerda segura um livro aberto. Apresenta a cabeça ligeiramente levantada em direção ao “céu”. Veste um hábito da ordem dos Agostinhos, com um cinto longo. São Nicolau Tolentino, que ingressou na Ordem dos Agostinhos em 1254, dedicou a sua vida ao cuidado de doentes e dos mais necessitados. Tornou-se um santo de especial veneração de Santa Rita que o tinha como seu protetor e modelo de virtude. Segundo a tradição, foi São Nicolau, juntamente com Santo Agostinho e São João Baptista, que em êxtase, introduziram Santa Rita no Coro do Convento de Santa Margarida de Cássia. A imagem de São Nicolau Tolentino, de madeira policromada do século XVIII, foi transitoriamente retirada do altar para dar lugar à imagem de São João Paulo II, produzida já no século XXI, assente num plinto e com vestes papais

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de cor branca com 33 botões que representam os anos da vida de Cristo, obra do escultor Bruno Marques, representando aquele que foi Papa, beatificado em 2011 e reconhecido como Santo em 2014. Possuindo uma faixa branca à cintura com o brasão papal, com a sua mão direita aberta convida os crentes e os jovens em especial, para a fé. Com a mão esquerda sobre o peito e sobre o crucifixo dourado, demonstra a fidelidade à sua missão. Na sua cabeça apresenta o solidéu branco, semelhante ao quipá judeu, inicialmente usado para proteger a cabeça do frio, mas que entretanto, na representação da hierarquia na Igreja Católica, passou a ser uma característica diferenciadora da indumentária dos papas. Os sapatos em madeira que esta escultura apresenta representam as imensas viagens que João Paulo II realizou ao longo do seu pontificado. Não são vermelhos, como habitual, uma vez que o Papa preteriu esta cor pela cor castanha. Na base encontram-se

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várias inscrições, nomeadamente a designação “São João Paulo II” na frente, “Karol Josef Wojtyla” o nome de batismo do Papa no lado esquerdo e “Bruno Marques”, o escultor, no lado direito. Canonizado recentemente, a iconografia deste Santo não está ainda “estabilizada”, pelo que a sua representação neste santuário em Ermesinde apresenta pormenores “arrojados” ou no mínimo pioneiros, pese embora represente fielmente o Papa. A imagem, em madeira, foi benzida a 22 de maio de 2014 por D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto, sendo, de facto, uma das primeiras imagens do Papa após a sua canonização, ocorrida no mesmo ano. Destaque ainda para o relicário de São João Paulo II, de 2019, de formato circular, com redoma, que guarda no seu interior dois cabelos, cruzados, do papa. Tal relíquia foi recebida no Santuário de Santa Rita, por via diplomática, no dia 21 de outubro de 2019, tendo sido apre-


sentada pela primeira vez, a todos os fiéis presentes “e ao mundo”, no dia 27 de outubro de 2019, na festa de celebração da sua memória. Ainda deste lado da Epístola, encontramos o altar de Santo António. Neste altar e durante muito tempo esteve em veneração a imagem de Santa Rita. Contudo, aquando das obras efetuadas nos anos ‘70 do século XX, esta imagem passou a ocupar a capela onde hoje se encontra para veneração dos fiéis. Em seu lugar optou-se por colocar a imagem de Santo António, também catalisador de grande devoção dos portugueses. É uma imagem de madeira proveniente das oficinas “STUDIO de N. Senhora de Fátima, Avelino Moreira Vinhais, Escultor, S. Mamede de Coronado – Portugal”. O retábulo é de corpo único e de um só tramo com nicho no vão central, em madeira policromada e dourada. Apresenta elementos recortados e vazados em talha dourada com motivos vegetalistas. O nicho

central é ladeado por um par de colunas com fuste liso e capitel coríntio. Remata com frontão interrompido decorado com folhas de acanto douradas em relevo. A mesa de altar é em madeira, de secção retangular e com função de suporte à parte superior ou corpo retabular. Santo António é representado numa escultura de vulto, em madeira policromada, com o Menino. O Santo apresenta-se de pé, de frente, veste túnica e capa com capuz da Ordem Franciscana caindo pelas costas, cingida na cintura por um cordão com quatro nós. Com o braço esquerdo o Santo segura o Menino Jesus com vestes brancas, sentado sobre um livro descerrado, com os braços abertos, agarrando com a mão esquerda o globo terrestre. O altar do Sagrado Coração de Jesus encontra-se num retábulo do século XVIII/XIX, do lado da Epístola. De corpo único e de um só tramo com nicho no vão central, é executado em madeira policromada e dourada, com

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elementos recortados e vazados em talha dourada com motivos vegetalistas. O nicho central é ladeado por um par de colunas com fuste liso e capitel coríntio. Remata com frontão interrompido decorado com folhas de acanto douradas em relevo. Tem mesa de altar em madeira de secção retangular e com função de suporte à parte superior ou corpo retabular. O altar do Sagrado Coração de Jesus representa o Coração de Cristo aberto na cruz, donde “saiu sangue e água”. Embora esta representação cristológica fosse já anteriormente usada pela Igreja Católica, como um símbolo e sinal do amor de Jesus, a devoção dos fiéis a esta “imagem” tomou grande incremento após a consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus por Leão XIII em 1899. E foi também a partir desses finais do século XIX que tal devoção dos fiéis ao Sagrado Coração de Jesus se passou a expressar de um modo relevante na igreja de Santa Rita, datando dessa época a imagem, de madeira policromada, que é venerada neste altar. Cristo apresenta-se em vulto pleno, em posição majestática com sinais da crucifixão. Figura de pé, em posição frontal, aponta com a mão esquerda para o seu coração em alto-relevo. Retratado com os cabelos castanhos compridos, barba, bigode e descalço, veste uma túnica esverdeada, cingida na cintura, sobre o ombro esquerdo cai um manto vermelho ornado a dourado com motivos fitomórficos junto à orla, seguidos de debrum também dourado. As vestes, repuxadas no peito com a mão esquerda, mostram o coração inflamado, envolto em

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espinhos sobre um esplendor dourado. A mão direita encontra-se estendida. Já do lado oposto, o do Evangelho, encontramos um retábulo, igualmente do século XVIII/XIX, de corpo único e de um só tramo com nicho no vão central, em madeira policromada e dourada, com elementos recortados e vazados em talha dourada com motivos vegetalistas. O nicho central é ladeado por um par de colunas com fuste liso e capitel coríntio, rematando com frontão interrompido decorado com folhas de acanto douradas em relevo. Apresenta ainda uma mesa de altar em madeira de secção retangular e com função de suporte à parte superior onde o altar apresenta uma imagem de Cristo Morto, suspenso na Cruz, corpo fletido, rosto sereno inclinado para a direita. Trata-se de uma bela imagem, também do século XVIII, em madeira, de grande valor artístico. Ao pé da cruz, num conjunto escultórico alusivo à cena bíblica do Calvário, duas imagens de Nossa Senhora das Dores e São João Evangelista, foram aí colocadas por iniciativa do Padre Haufemann, superior do Colégio/Seminário do Espírito Santo no século XIX. Na escultura de vulto em madeira policromada, intitulada Nossa Senhora das Dores (mas por vezes também designada por Virgem das Dores ou Virgem do Calvário), ou ‘Mater Dolorosa’, evidencia-se a sua expressão facial e a colocação das suas mãos, sobre o peito em sinal de dor. Enverga um vestido/ túnica, comprido, até aos pés calçados, leva sobre-


posta uma capa azul, também debruada a ouro, que a cobre, possuindo a cabeça coberta por um véu branco. A imagem de São João Evangelista é esculpida de pé, com a cabeça voltada para o lado superior direito, as mãos entrelaçadas sobre o colo, e descalço. Enverga túnica verde e manto de cor vermelha com debruns em dourado, que lhe cai sobre o ombro. Ainda do lado do Evangelho, logo após este, temos um outro retábulo do século XVIII/XIX, que neste caso abriga altar consagrado a São José e Sagrada Família. O retábulo é de corpo único e de um só tramo com nicho no vão central e, executado em madeira policromada e dourada, tem elementos recortados e vazados em talha dourada com motivos vegetalistas. O nicho central é ladeado por um par de colunas com fuste liso e capitel coríntio. Remata com frontão interrompido decorado com folhas de acanto douradas em relevo. A imagem de São José, de madeira policromada e datada do século XVIII, sobressai também pela sua beleza e policromia. Sustenta na mão direita a vara florida de lírios brancos do “tronco de Jessé” e no braço esquerdo o Deus Menino desnudo, em posição estática, de braços abertos para o mundo e o olhar no infinito. Em vulto pleno, São José apresenta-se numa figura com barba, bigode e cabelo castanho, de boca semiaberta e olhar distante, como contemplando o mistério em que Deus o envolveu. Veste túnica esverdeada e um manto alaranjado, ornado com motivos vegetalistas dourados. A representação da Sagrada Família que completa o altar na sua base, de pequenas dimensões e em madeira policromada, apresenta Maria e José com o Menino

pela mão, obra em madeira policromada. A Virgem veste vestido comprido até aos pés, cintado, branco, com orla de flores douradas. Exibe uma capa que tem sobre o vestido, posta pelas costas, enrolando, da sua direita para a frente, seguro pelo seu braço direito. A decoração da capa azul é a mesma do vestido. Nossa Senhora tem o cabelo de cor castanha e usa um véu. Dirige a expressão do seu olhar para o Menino Jesus, a que acompanha estendendo a sua mão esquerda. São José veste uma túnica azul comprida, com um manto branco na diagonal até aos joelhos. O Santo. de cabelos escuros, com barba e bigode, acompanha o Menino estendendo a sua mão direita. A figura do Menino Jesus apresenta-se vestido com uma túnica amarela, apenas calçado com umas alpercatas com tiras. A imagem do Menino Jesus a andar assenta numa base amovível que encaixa na base comum do conjunto escultórico. Também do lado do Evangelho encontramos o altar de Nossa Senhora de Fátima que apresenta uma imagem desta evocação mariana executada recentemente. O retábulo é de corpo único e de um só tramo com nicho no vão central. Executado em madeira policromada e dourada, tem elementos recortados e vazados em talha dourada com motivos vegetalistas. O nicho central é ladeado por um par de colunas com fuste liso e capitel coríntio, rematando com frontão interrompido decorado com folhas de acanto douradas em relevo. A mesa de altar é em madeira de secção retangular e com função de suporte à parte superior ou corpo retabular. Anteriormente a esta utilização como local de devoção a Nossa Senhora de Fátima, este altar era

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Igreja e é iluminado e auxiliado pelo Espírito Santo, aqui figurado pela presença de uma pomba e pelo sol, na parte superior da tela. Num cenário interior, Santo Agostinho está sentado atrás de uma secretária e, nas suas costas, os hereges Plágio, Donato e Fausto de Riez, são consumidos pelo fogo, atacados por serpentes e fulminados pelos raios disparados por um anjo.

dedicado ao Imaculado Coração de Maria que possuía especial relação e devoção neste santuário, já que Colégio/Seminário do Espírito Santo (1894 – 1910) era consagrado ao Imaculado Coração de Maria. Sintomaticamente foi nessa época que tal imagem foi colocada neste altar, por iniciativa dos superiores da Congregação, desconhecendo-se qual a imagem que aí estaria anteriormente. Nos dias de hoje é uma escultura em vulto de Nossa Senhora de Fátima que domina este altar. Apresenta-se de pé, com as mãos em oração, nelas se encontrando pousado um rosário. Traja uma túnica branca, sobre a qual cai, desde a cabeça, um manto branco decorado na orla com motivos florais e vidros, exibindo sob a cabeça uma coroa em metal dourado. Na nave central da igreja encontramos ainda um conjunto de seis pinturas que, reforçando a origem do convento na Ordem dos Agostinhos, representam cenas da vida de São Agostinho. São obras com data e origem desconhecidas, mas que se enquadram provavelmente na passagem do século XVIII para o XIX. Uma das pinturas, como as restantes executada a óleo sobre tela e com moldura dourada, ostenta a inscrição “S. AUGUSTINUS, doctor Ecclesiae eximus et acerrimus Haereticorum Malleus” (“S. Agostinho exímio Doutor da Igreja e (martelo) dos hereges”) e nela Santo Agostinho é representado sendo tentado pelos hereges. O Santo recorre aos seus escritos em proteção da doutrina da

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Entre essas pinturas, uma retrata a morte de Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho. A cena desenrola-se no interior do quarto onde a Santa, enferma, está deitada numa cama, rodeada pelo filho e três irmãos agostinhos, um dos quais segura um livro onde se lê: “Tauntum vos rogo ut ad Altare Domini memineritis mei” (“Apenas vos rogo que vos lembreis de mim junto do Altar do Senhor”). Sobre o leito eleva-se um céu celeste onde os anjos aguardam por Santa Mónica, possuindo o da esquerda, na mão, uma chave. Aos pés da cama está uma inscrição: “Cum esset apud Ostia Tyberina, febri correpta est, S. Mater Monica, die 9 defunta, est año aetatis sua 56, Augustino a genie 33 a mun.” (“Quando Agostinho chegou a Ostia Tiberina, S. Mãe Mónica, acometida de febre, faleceu ao 9º dia, foi sepultada com 56 anos de idade, 33º ano do nascimento de Agostinho).” Uma outra pintura representa Santo Agostinho como bispo reformador da Igreja. A cena tem lugar no interior da catedral de Hipona, onde Santo Agostinho, em posição frontal, apresenta a regra, apoiado por um acólito, com o livro aberto, onde se lê: “Antes de tudo, irmãos caríssimos, amai a Deus e ao Próximo”. O Santo encontra-se rodeado por irmãos ajoelhados, numa posição de veneração, sobre os quais se vislumbra no céu uma figura feminina que carrega uma nfora, na mão direita, e um pão na mão esquerda, símbolos de Misericórdia: “Dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede.” Ostenta a inscrição: “S. AUGUSTINUS decedentis in Aurelii locum actualier sussectus Episcopus Clerigos Regulares reformavit circa añum 396” (“S. Agostinho, eleito bispo de Aurelium (Hipona) reformou o clero regular cerca do ano 396”). A pintura alusiva à morte de Santo Agostinho representa-o ancião, deitado numa cama, tendo à sua volta os Irmãos Agostinhos que choram, rezam e velam o seu mentor. Aos pés da cama estão depositadas as insígnias do bispo e uma inscrição: “Mors Sanctissima Patris AUGUSTINI pretiosissima anno 430 a 28 Aug” (“Morte santíssima, preciosíssima do Padre Agostinho, 28 de


Agosto do ano 430”). Nas traseiras do grande crucifixo, do lado esquerdo, abre-se uma janela, onde é visível a cúpula de uma igreja, presumivelmente a catedral de Hipona. Sobre a figura jacente, envolta em nuvens brancas, a imagem do Santo, representada com vestes de bispo e elevado por um conjunto de querubins, segura na mão esquerda o coração inflamado sobre o olhar da Santíssima Trindade. Outro óleo representa Santo Agostinho com o coração inflamado no Amor Divino: “S. AUGUSTINI intensissimus in Deum amor (“Intentisíssimo amor a Deus de S. Agostinho”). A cena tem lugar no interior de uma sala, ao centro a figura de Santo Agostinho, amparada por um anjo, recebe de Cristo o coração, que voa diretamente para o seu peito. No desenrolar da cena, um Cupido, localizado no canto superior direito, tenta disparar uma seta sobre o coração desprendido de Cristo Salvador. Do lado esquerdo, sobre uma mesa, um excerto do livro “Confiss es” de Santo Agostinho: “tanto te amo, Senhor, que, se por impossível, eu fosse Deus e Tu Agostinho, eu escolheria ser Agostinho, para que Tu fizesses Deus.” É ainda Santo Agostinho que encontramos representado numa outra pintura e designado como bispo: “AUGUSTINUS invitus in Episcupum ordinatur sub finem anni 396” (“Santo Agostinho investido na Ordem Episcopal, nos finais do ano 396”). Num espaço interior sacro e ricamente ornamentado, Santo Agostinho, ajoelhado, recebe das mãos do seu superior a mitra, sob o olhar de Deus-Pai, que com um gesto confirma a ordenação episcopal.

Um outro conjunto de pinturas, merecedoras de especial atenção, é o que encontramos na sacristia da igreja, representando diversas figuras de religiosos da Ordem dos Agostinhos e que passamos a descrever: A pintura de Frei D. João de Sahagun data do século XIX e é da autoria de António Joaquim de Lima. D. João de Sahagun (originalmente João da Cunha Pinto Brandão) nasceu a 9 de abril de 1668 em Melres. Foi ordenado sacerdote na Ordem dos Agostinhos Descalços, tendo sido nomeado Bispo de S. Tomé em 1709. Um dos seus grandes feitos foi a reconstrução da igreja da Conceição em São Tomé no ano de 1719, após esta ter sido queimada pelos franceses. Ocupou o cargo até 1730, quando faleceu em S. Tomé a 12 de outubro. Encontra-se representado em postura majestática com vestes, religiosas e com um crucifixo ao peito. Na sua mão direita encontra-se um livro com capa vermelha e junto, numa mesa com toalha verde, a mitra de bispo de S. Tomé, um báculo bispal dourado, uma campainha e uma pena com tinteiro. No plano de fundo surge uma sala com livros, destacando-se uma coluna junto do bispo. No plano inferior encontra-se a seguinte legenda “Vera E gies do Ex.mo e Rev.mo Sr.D. João Sahagan natural de Melres, deixando o Morgado da sua Illustre Caza, de que era sr., Professou nesta Real Congreg.am a 22 de Julho de 1693: e sendo consumado em Letras e Virtudes foi Bispo de S. Thomé, e governador deste Bispado no Porto”. Igualmente do século XIX e do mesmo autor (António Joaquim de Lima) é a pintura de Frei Vicente do Espírito

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Santo, nascido em 1730 em Belém e ordenado sacerdote em 1755. Foi Bispo de S. Tomé (1778-1782) por nomeação da rainha D. Maria I e foi nomeado Bispo-Prelado de Goiás (1782-1788) não tendo tomado posse da prelazia por motivos de saúde, falecendo em Lisboa em 1788. Encontra-se representado em postura majestática com vestes religiosas com um crucifixo ao peito. Na sua mão direita encontra-se um livro com capa vermelha, enquanto a esquerda se encontra pousada sobre um pequeno baú castanho. Junto do baú, sobre uma mesa com toalha dourada, encontra-se a mitra de bispo, em alusão ao cargo por ele exercido, especialmente em S. Tomé. No plano inferior encontra-se a seguinte legenda “Vera E gies do Ex.mo e Rev.mo Sr. D. Fr. Vicente do Espírito Santo n.al de Bellem; Professou nesta Real Congreg.am a 2 de Abril de 1750; e depois de exercer o Magistério, e Cargos honoríficos da Ordem fo sagrado Bispo dos Goyazes na Capella Real da Bemposta a 2 de junho de 1779.” A referência temporal ao cargo de Bispo dos Goyazes está errada. A data refere-se, provavelmente, à sua sagração como Bispo de S. Tomé. Ainda com a mesma datação e autoria encontramos na sacristia de Santa Rita a pintura de Frei Custódio de Santa Ana, natural de Lamego e confessor da rainha D. Mariana Vitória, esposa do rei D. José. Custódio de Santa Ana esteve ligado à fundação deste convento da Mão Poderosa e foi ainda Arcebispo de S. Tomé entre 1805 e 1812, ano em que faleceu. Encontra-se representado

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de pé, com vestes lit rgicas e um crucifixo ao peito. sua esquerda, num móvel de madeira, encontra-se um livro (que o Frei toca de leve) e uma mitra bispal, numa alusão ao cargo por si exercido em S. Tomé e Príncipe. Na mão direita segura uma carta, que poderá ser o decreto da sua nomeação como bispo. No plano inferior encontra-se a seguinte legenda: “Vera E gies do Ex.mo e R.mo S.r D. Fr. Custódio de S.ta Anna natural da Cid.e do Porto; professou nesta Real Congre.am a 8 de Dez.bro de 1767; e tendo nella o grão de M.e., e exercido Prelaturas, e Cargos honoríficos da Orde foi Sagrado Bispo de S. Thomé na Igr.a do N.o conv. De Belle a 10 de Nov.bro de 1805.” Do mesmo autor e data é ainda a pintura de Frei António da Anunciação (Lamego 1691-?), fundador da igreja e Convento de Santa Rita. Eremita Descalço de Santo Agostinho, professou em 25 de Março 1715, Doutor em Teologia, Qualificador do Santo Ofício, Examinador das três Ordens Militares e Confessor da Rainha D. Mariana Victoria, mulher do rei D. José. Foi prior dos Conventos de Porto de Mós, de Montemor-o-Novo e de Lisboa, tendo exercido as funções de Vigário-Geral da Ordem dos Agostinhos Descalços e fundado colégios e conventos, nomeadamente, como já referimos, o de Nossa Senhora do Bom Despacho em Ermesinde. Encontra-se representado de pé, com vestes sacerdotais agostinianas e à sua esquerda, num móvel de madeira, encontram-se vários livros junto de uma cortina esverdeada. A mão


esquerda encontra-se sobre um livro que está aberto por cima de uma mesa com toalha dourada, e a mão esquerda segura uma pena que usa para escrever no livro que pode simbolizar as várias obras que publicou em vida, nomeadamente: Summae Summularum de ilosofia no idioma Portugue , Tom, I, Lisboa, 1730; Sermão da Bula da Santa Cru ada, Lisboa, 1752; Colle gium abbreviatum seu brevis institutio Philosophiae, 1752, 3 volumes e Vol. Primeiro, Coimbra, 1756; Sermão Panegírico do pai dos Pobres Santo Agostinho, Lisboa, 1739, e 2ª edição de 1752. No plano inferior encontra-se a seguinte legenda: “Vera E gies do N. R.mo P.e M.e Fr. Antonio d´Annunciação n.al de Lamego. Professou nesta Real Congre.am em 25 de Março de 1715. Foi D.or em Theologia, Confessor da Fidelis.ma Raynha a Snr.a D. Marianna Victoria M.er do S.r Rey D. Jozé 1.º, Examinador das Ordês Militares, do Padroado Real, da Nunciatura e Theologo della, Synodal do Patriarc.do de

Lx. , Qualific.dor do S.to O .o Protono.to de S. San.de, Preg.dor da Real Cap.ª da Bemp.ta Min.tro Consel.ro da Bulla da Cruz.da P.e mais Digno, Escriptor, e Geral Vig. ro desta M.ma Real Congreg.am dos Agostos. Desço., q governou p.r espaço de 11. Triénios interpolados, e n´um deles, em que cahio o anno de de 1745, conveio contratou, e aprovou a Fundação, e Estabelecim.to deste Conv.to da Mão Poderoza.” Também da autoria de António Joaquim de Lima, datado de 1830, é a tela de D. Frei Leandro da Piedade. Frei Leandro nasceu em Lisboa a 14 de novembro de 1688 e foi ordenado padre em 1712. Foi nomeado Bispo de S. Tomé em 1738, substituindo D. João de Sahagun, governando esta diocese até à sua morte em 1740. Um dos seus feitos foi o patrocínio do altar-mor da igreja do Convento dos Grilos em Lisboa. Nesta pintura Frei Leandro da Piedade encontra-se representado com vestes agostinianas pretas, inclusive o barrete eclesiás-

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tico. Com ambas as mãos, segura um livro aberto e o seu olhar fixo. A paisagem de fundo representa uma sala com uma pequena biblioteca junto de uma cortina encarnada. Sobressai uma mesa em pedra onde repousa a mitra de Bispo de S. Tomé, o báculo dourado e um tinteiro com uma pena. Junto da mesa, um pequeno banco de madeira com um livro pousado de capa castanha, sendo visível um marcador branco no seu interior. Lê-se uma legenda: “Vera E gies do Exmo. e Rev. Sr. D. Fr. Leandro da Piedade n.al de Lxª: professou nesta Real Congreg.ao a 18 de Set.bro de 1706, e sendo nella M.e Jubilado, e o 1º. Theologo Egidista. passou a ser Bispo de S. Thomé.” De 1830 e provavelmente da autoria de António Pires Lima é a obra representando Frei Luís da Conceição. Nascido a 25 de agosto de 1703 em Belém, integrou a Ordem dos Agostinhos Descalços e foi nomeado Bispo de S. Tomé e Príncipe em 1742, governando até à sua morte em 1744. Preocupou-se com o governo de S. Tomé, pedindo socorro para o seu bispado: não só pediu o envio de missionários, como referiu também a ruína de edifícios, falta de alfaias litúrgicas e paramentos bem como a desorganização administrativa do território. Acabou nomeado pelo rei como governador interino de S. Tomé. Nesta pintura, Frei Luís da Conceição encontra-se representado com vestes sacerdotais pretas, incluindo o barrete eclesiástico. A paisagem de fundo aparenta ser tropical numa clara alusão à ilha de S. Tomé. Na sala que serve de fundo, encontram-se vários livros numa estante que se encontra junto de uma cortina esverdeada, salientando-se ainda uma mesa com toalha dourada, onde se encontra a mitra de Bispo de S. Tomé e um chapéu, bem como uma pena para escrever. Tem a sua mão direita prostrada sobre uma vara castanha e na mão esquerda aponta para a paisagem de fundo. No plano inferior encontra-se a legenda com descrição da vida deste membro do clero, nomeadamente: “Vera E gies do Exmo. e Rev. Sr. D. Fr. Luiz da Com.ção n.al de Bellem: professou nesta Real Congreg.ao a 28 de Fevr.o de 1720, e sendo nella Doutor e M. Jubilado, co 1 Pro essor de Theologia Polemica passou a ser Bispo de S. Thomé , e Cappitão General da Costa de Guiné. Falleceu no anno de 1744.” A pintura de Frei António de Santa Clara é igualmente atribuída a 1830 e ao artista António Pires Lima. Frei António de Santa Clara nasceu em Lisboa, foi Vigário-Geral da Congregação dos Agostinhos Descalços, esteve presente no Concílio de Roma de 1725 e terá sido

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nomeado pelo Papa Bento XIII como Bispo Eleito de Tagaste (atual cidade de Souk-Ahras, na Argélia). Foi ainda teólogo do papa, tendo falecido em 1730. Nesta pintura encontra-se representado com vestes sacerdotais pretas, incluindo o barrete eclesiástico. Na sala que serve de fundo encontram-se vários livros numa estante que se encontra junto de uma cortina esverdeada, salientando-se ainda uma mesa com toalha dourada, onde se encontra a mitra de Bispo de Tagaste, algumas penas para escrever e um livro envolto num papel. Frei António tem a sua mão direita prostrada sobre o livro e na mão esquerda segura uma carta. No plano inferior encontra-se a legenda com descrição da vida deste membro do clero, nomeadamente: “Vera E ges do N. Rev. Pe. Me. Vigario Geral Fr. Antonio de Sta. Clara, Nal. De Lx , pro essou nesta Real Congregam. em 15 de abril de 1693. Foi hum dos 3 Theologos Portuguezes que assistiraõ no Concilio Romano em que prezidio o Papa Benedicto XIII em 1725, e o. Inmo. Sto. Pe. em attenção ao seu merecimento e literatura, o nomeou seu Theologo, e Bispo de Tagaste. Escreveo e traduzio elegantemente varias obras. efalleceu em 1730.” O mesmo acontece com a pintura de Frei António da Penha de França. Este religioso, nascido a 6 de novembro de 1649 em Lisboa, integrou a Ordem dos Agostinhos Descalços, tendo sido Vigário-Geral. Foi nomeado Bispo de S. Tomé e Príncipe em 1700, governando até à sua morte em 1702. Nesta pintura, Frei António encontra-se representado com vestes sacerdotais pretas, ostentando barrete eclesiástico. A paisagem de fundo é uma sala com uma estante com vários livros junto de uma cortina esverdeada. Existe ainda uma mesa com toalha dourada, onde se encontra a mitra de Bispo de S. Tomé, um livro aberto e uma pena inserida num tinteiro. A sua mão direita toca no crucifixo que possui ao peito, enquanto a mão esquerda toca no livro. No plano inferior encontra-se a legenda com descrição da vida deste membro do clero, nomeadamente: “Vera E gies do Exmo. e Rev. Sr. D. Fr. Antonio da Penha de França natural de Lisboa. professou nesta Real Congreg.ao a 15 d´Agosto de 1673, e sendo nella M.e Jubilado, Escriptor e seu 3.º Vigario Geral. passou a ser Bispo de S. Thomé.” Além das pinturas destes clérigos, na sacristia da igreja encontra-se também uma imagem de Santa Rita já do século XXI. A Santa encontra-se representada com os atributos iconográficos tradicionais, nomeadamente o hábito agostiniano com rica ornamentação dourada e sapatos pretos. Na fronte sobressai o espinho na testa


e a sua face apresenta uma feição sofredora mas um pouco consolada com a imagem de Jesus na cruz que aconchega com ambas as mãos. Na mão esquerda segura ainda uma palma de cor verde com três coroas douradas, em alusão ao seu matrimónio e seus dois filhos, mas também pode simbolizar os três estados de vida pelos quais passou: menina, esposa e religiosa. A imagem de médias dimensões assenta sobre uma base em madeira em tons claros com a legenda no centro. Entre o espólio artístico da igreja são de referir quatro lanternas processionais datadas de 1991 e executadas por Manuel Negrão. As quatro lanternas são transportadas durante as procissões e acompanham o Santíssimo Sacramento ou Viático. Fazem conjunto com a cruz e foram executadas em latão e com vidros nas quatros faces. Da mesma data é o Cálice neo-barroco, decorado em toda a sua superfície, executado em prata repuxada e cinzelada à mão na oficina de Joaquim Martinho, em Gondomar, mas igualmente da autoria de Manuel Negrão. A meio da copa, na face anterior, figuram as armas do colégio, também cinzeladas à mão. O interior da copa e a respetiva patena são em ouro. Na parte da copa, a toda a volta, tem gravada à mão a legenda: “MANDOU FAZER A IGREJA DE NOSSA SENHORA DO BOM DESPACHO DA MÃO PODEROSA”. O Crucifixo da Sacristia é do século XVIII e nele Jesus encontra-se representado morto na cruz, quase está-

tico, apresentando a cabeça um pouco inclinada para a direita e rosto sereno, como que dormente. A cruz é simples e em madeira. É percetível algum movimento pela ondulação das vestes de Cristo. Esta escultura, de madeira estofada e policromada, é uma peça de notável valor artístico, seguindo a linguagem barroca típica do período da sua concepção. No Santuário Diocesano de Santa Rita encontramos mais algumas peças que aqui merecem ser destacadas. Caso de uma imagem de Cristo Crucificado do século XVII, de autor desconhecido, escultura em vulto pleno em metal fundido e madeira policromada, de pequenas dimensões e destinado ao culto privado. Cristo encontra-se pregado a uma cruz de madeira orlada com relevos, com os pés paralelos. O conjunto assenta sobre peanha semicircular e a imagem possui cabeça coroada de espinhos e inclinada para a direita, com cabelos longos e ondulados caindo pelas costas, face delicada e com barba. O corpo, robusto e com boa representação anatómica, exibe as marcas do seu martírio. Apresenta também um pano com pregas delicadas, caindo pelo lado direito até ao joelho. Destaque ainda para uma capa de asperges atribuída ao século XVIII, em tecido lavrado a carmim, com elementos decorativos espolinados a fio de seda, fio e lâmina de metal dourado, ornado por um sebasto composto por dois painéis unidos no centro por galão

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dourado. O tecido apresenta decoração formada por elementos ligados à eucaristia, bem como outros elementos vegetalistas: flores “exóticas”, t lipas, rosas e folhas de acanto muito estilizadas, preenchendo quase por completo todo o tecido com decoração de grandes dimensões. Atribui-se também ao século XVIII uma casula existente no santuário, executada em damasco e seda carmim, e rematada com galão de seda dourada.

coloca a água, símbolo de Purificação, e o vinho, o sangue de Cristo. Tem pé circular de dois registos e asa encurvada com decoração relevada. A base apresenta um friso liso seguido de um outro decorado com motivos fitomórficos, a ligação base/bojo é feita através de um anel liso e todo o bojo é decorado até ao colo por motivos vegetalistas em relevo. A tampa é decorada por folhas relevadas e o colo e bico são lisos.

Embora de datação imprecisa, referência também para um cálice e paterna. O primeiro é de base circular ornamentada com elementos vegetalistas, com nó em forma de bala stre e copa com relevos fitomórficos. A Patena é circular, em metal e lisa. O conjunto tem ainda uma caixa em madeira com decoração vegetalista em relevo, em metal nos cantos e na fechadura.

Uma custódia do Santíssimo Sacramento aqui existente, em prata, prata dourada, vidro e pedras multicolores, é atribuída ao século XIX. A base é circular, estando ornada com frisos de motivos fitomórficos. A haste tem o nó alongado em balaústre, com elementos vegetalistas em relevo. Suporta o hostiário de secção circular em vidro, decorada com cornucópias e pedras de várias cores, e no seu contorno desenvolve-se um resplendor de raios de tamanhos diversos. Remata com decoração em folhas, volutas, um triângulo com um

Atribuída ao século XVIII, uma caixa guarda um conjunto de galhetas litúrgicas em prata com colher, onde se

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olho no centro, simbolizando o Espírito Santo, e cruz latina. Igualmente atribuída ao século XIX é uma bandeja de prata, de configuração oval, decorada no bordo com folhas de acanto intercaladas com volutas e fundo liso. Já o cibório aqui também existente datará do século XVIII. Destinada a receber as partículas (hóstias) para a distribuição aos fiéis, esta píxide, em madeira do século XVIII, possui características singelas desprovidas de qualquer adorno, encimando a peça apenas uma cruz dourada. No Santuário Diocesano encontramos ainda uma imagem de Santa Rita do século XVIII. Escultura de vulto, em madeira policromada e dourada, representa Santa Rita de Cássia. A imagem apresenta-se de pé, de frente, com o hábito de agostiniano constituído por túnica, capa e véu sobre coifa branca. A túnica de cor preta tem um cinto abaixo do peito do qual cai uma ponta ao meio. Por cima da túnica, pelas costas tem uma capa debruada por uma barra, larga, a ouro, decorada com estofado de motivos vegetalistas. A capa aperta à frente no peito, com um botão. Na cabeça leva uma coifa branca, sobre a qual tem um véu com debrum a dourado. Segura nas mãos uma cruz com Cristo. Também uma imagem do Menino Jesus aqui igualmente existente data do século XVIII. Trata-se de uma imagem de vestir representando o Menino em pé, de

frente, com a mão direita a abençoar e a mão esquerda fechada. Assenta sobre uma peanha em madeira, alta e dourada. A imagem tem carnações e braços em madeira de tom natural, e o corpo enverga um vestido de “seda lavrada” de cor branca, com gola de renda, com cinto dourado. O vestido remata com uma renda. Com a mesma datação temos ainda a imagem de Nossa Senhora da Conceição, escultura de vulto, em madeira policromada, estofada e dourada, representando Nossa Senhora da Conceição de pé, de frente com as mãos postas sobre o regaço. Veste um vestido branco, decorado com motivos dourados e pedras de várias cores, cingido por um cinto, que cai em pregas. Por cima tem um manto azulado que a envolve desde as costas até à frente. O penteado é de risca ao meio, com cabelos compridos até aos ombros, e a imagem exibe uma coroa sobre a cabeça. Assenta sobre uma base de secção circular, constituída por uma nuvem e pelas cabeças de três querubins. Uma curiosa lenda anda associada a esta imagem que, segundo a tradição, aqui terá sido colocada, durante a noite e na escadaria da igreja, por um individuo que a possuía mas que, tendo abandonado o catolicismo e tendo-se convertido a uma outra religião que não aceitava o culto de imagens, mas ainda assim “apegado” à imagem, ter-se-á desfeito dela desta forma na esperança de os responsáveis do santuário a recolherem.

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Bem mais antiga é a “Árvore de Jessé” proveniente desta igreja e que, embora seja pertença do Colégio de Ermesinde, se encontra exposta no Museu de Arte Sacra do Seminário Maior do Porto. Datada do segundo quartel do século XVI e classificada como uma obra de características flamengas e que se destaca no panorama artístico português, trata-se de uma pintura a óleo sobre madeira alusiva ao tema bíblico da Árvore de Jessé. A figura de Jessé encontra-se em primeiro plano, envolvido por uma paisagem rural, sentado num trono, adormecido, e do lado direito do seu peito brota uma imponente árvore que se ergue para o céu e em cujos longos ramos assentam os doze reis de Israel, representando a genealogia de Jesus Cristo. A representação da árvore de Jessé, com origens medievais, procura legitimar e representar artística e iconograficamente, e através de uma leitura fácil, Jesus como o Messias prometido. Com efeito, se nas Escrituras nos é (d)escrita uma longa genealogia de Cristo, nestas representações artísticas tal genealogia é encurtada, exibindo simbólica e unicamente os doze reis de Israel e, ao centro, coroando a árvore, a Virgem com o Menino, sublinhando a origem, igualmente real, de Cristo. Nesta “árvore” do convento da Mão Poderosa, Jessé enverga vestes do século XVI, assim como os outros retratados e é representado com uma longa barba branca atestando a sua avançada idade. Praticamente todos eles seguram na mão um ceptro, indicativo do seu poder real. Destaque-se entre os reis, ao centro, o rei David segurando uma harpa. No topo da árvore evidencia-se a figura de Nossa Senhora com o Menino ao colo, envolvida por uma auréola. A Virgem veste túnica rosada encontra-se envolvida por um manto azul, exibindo uma coroa sobre a cabeça. O Menino Jesus, desnudo, recebe da mão de sua mãe uma maçã, alegoria ao pecado original. Igualmente associada ao santuário durante largos anos e exposta no átrio do Colégio, mas ausente do mesmo durante a elaboração deste trabalho, por motivos de restauro, merece referência uma imagem de Nossa Senhora, dita do Bom Despacho, datada do século XVIII, considerada por D. Domingos de Pinho Brandão, antigo Bispo Auxiliar e profundo conhecedor e estudioso da arte sacra da região, como uma das mais belas imagens de Nossa Senhora em toda a Diocese do Porto.

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CRUZEIRO DE SANTA RITA Quinta da Formiga 4445-485 Ermesinde O Cruzeiro que se encontra no início do acesso à Igreja de Santa Rita foi construído e colocado em 1907 na estrada que liga Baguim do Monte a Ermesinde, junto da casa onde viveu José Joaquim Ribeiro Teles. Foi posteriormente transferido para o local atual. A sua construção deve-se ao reconhecimento que Ezequiel Vieira de Castro fez a seu sogro, José Joaquim Ribeiro Teles, pelo apoio à construção do Hospital da Ordem da Lapa em 1904. O cruzeiro granítico segue uma linguagem artística neoclássica, possuindo três degraus no plano inferior, seguindo-se uma base em forma retangular que possui inscrições com as iniciais E.V.C (Ezequiel Vieira de Castro) e a data 1907. Salienta-se ainda a bela e majestosa coluna, encimada pela cruz latina. A sua localização neste local constitui também um agradecimento a Ribeiro Teles pelo seu esforço na preservação e manutenção de todo o património da Quinta da Formiga, herdado pela sua esposa, bem como a sua posterior devolução à igreja via testamento. Com efeito José Joaquim Ribeiro Teles doou em testamento a Quinta da Formiga ao bispo do Porto D. António Castro Meireles que posteriormente a doou à Diocese.


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3.4 | Sobrado

SANTO ANDRÉ Nascido em Betsaida, na Galileia, André era filho de um pescador de seu nome Jonas, irmão de Pedro (Simão) e discípulo de João, com ele apregoando a chegada do Messias. Apesar do clima de ameaças e perseguições, André não abdicou nunca de proclamar a Fé cristã, nomeadamente na Palestina e Macedónia, onde criou a comunidade cristã de Patras. Crucificado em Patras de Acaia, na Macedónia, foi amarrado a uma cruz em forma de X que ficará conhecida como cruz de Santo André. As suas relíquias foram depois levadas para a igreja dos Apóstolos em Constantinopla, cidade da qual passou a ser padroeiro, e depois levadas para Itália no século XIII, onde ainda hoje permanecem. Protetor dos pescadores, ofício que segundo a sua hagiografia também ele abraçara até conhecer e seguir Cristo como seu apóstolo, Santo André é iconograficamente apresentado com uma cruz em forma de X, numa alusão ao seu martírio. 30 de novembro, data da sua morte, é o dia consagrado ao santo, motivo pelo qual, em Sobrado, é celebrado no último domingo do mês de novembro.

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INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO RELIGIOSO Referido nas Inquirições de 1258 de D. Afonso III como território do concelho de Aguiar de Sousa, Sobrado passa a integrar o concelho de Valongo à data da sua criação, em 1836. Tal como Campo, em Sobrado resiste um perfil marcadamente rural, embora o desenvolvimento industrial tenha vindo, paulatinamente, a criar novas estruturas e riqueza. Com uma área total de 22 km2, ocupada por uma população de 6.727 habitantes (2011), a freguesia é das menos povoadas do concelho. Os seus contornos geográficos são definidos pela freguesia de Valongo a noroeste, Campo a sul, Santo Tirso a norte e, a nordeste, pelos concelhos de Paços de Ferreira e de Paredes. Santo André, um dos doze Apóstolos de Cristo, é o padroeiro da paróquia de Sobrado, celebrado em festa no último domingo do mês de novembro. Todavia, pese embora o padroeiro da freguesia, destaca-se como grande celebração de Sobrado a festa da Bugiada e Mouriscada de S. João, a 24 de junho, manifestação popular com alegre e colorido cortejo iniciado junto à igreja paroquial, e romaria associada, num misto de religiosidade e paganismo que reúne todos os anos milhares de curiosos. Tradição muito antiga no território, enraizada numa lenda local que descreve um combate que alegadamente terá ocorrido na serra de Santa Justa, simula teatralmente essa luta entre cristãos (os Bugios) e mouros (os Mouriscos), num interessantíssimo e animado registo etnográfico.

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IGREJA MATRIZ DE SOBRADO Largo do Passal 4440-301 Sobrado As Inquirições de D. Afonso III referem a paróquia e igreja sob o padroado de D. Gil Martins de Riba de Vizela, sendo os registos paroquiais de Sobrado iniciados em 1588. É igualmente referida em 1631 o “Rol das Peças e Ornamentos da Igreja de Santo André de Sobrado deste Bispado do Porto” (Tombo), nas “Memórias Paroquiais” de 1758 e em vários sepultamentos ao longo deste século e seguinte, até à inauguração do seu cemitério em 1869. As já referidas “Memórias Paroquiais” de 1758 dão conta de cinco altares existentes na igreja: Santíssimo Sacramento, Senhora de Nazaré, Senhora do Rosário, Senhora do Pilar e do Menino Jesus. A atual igreja matriz de Sobrado, dedicada a Santo André, terá sido mandada edificar em 1671 a expensas da família Baldaia, então padroeira do edifício e da paróquia. Igreja de uma só nave, constitui-se como a mais antiga matriz edificada no concelho e nela se destaca a intervenção barroca dos séculos XVII e XVIII, a que acrescenta várias outras linguagens artísticas, entre o rococó, neoclássico e apontamentos mais contemporâneos. A fachada, singela, é composta por um frontão triangular interrompido pelas armas papais, dois nichos com imagens de São Francisco e Santo André e ainda dois óculos. A torre sineira neoclássica, posterior, foi construída em 1874 e, já no século XX, a fachada foi revestida a azulejo. Mais recentemente, entre 2010 e 2011, o templo teve obras de restauro da responsabilidade da empresa Signinum. A escultura em bronze sobre base de granito de São João Precursor, no lado esquerdo do adro da igreja, aí colocada e benzida em 2014, é da autoria de Bruno Marques da Cunha. São João Baptista é representado em tronco nu e vestes sobre a cintura, sentado com ar austero num penedo junto do Cordeiro, com os braços abertos num convite a que todos os cristãos entrem na igreja, numa clara alusão à missão precursora do santo-profeta a quem coube preparar os caminhos para a vinda de Jesus. Uma representação que pretende homenagear não apenas um santo, mas a religiosidade, a fé e a devoção desta comunidade simultaneamente com profunda ligação à festa pagã da Bugiada e Mouriscada.

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No nicho esquerdo da frontaria da igreja encontramos a escultura de Santo André da Frontaria em pedra, gesso policromado e madeira, provavelmente oriunda da primitiva igreja e com datação atribuída ao século XVI, restaurada em 2010. Santo André, de cabelos castanhos ondulados e barba, enverga um manto vermelho sobre uma túnica branca, segura na mão direita um livro e na esquerda uma cruz latina. Os pés, descalços e visíveis, assentam sobre uma base redonda. Ainda na frontaria, no nicho do lado direito, a imagem de São Francisco “da Frontaria” é da autoria de Ana Castro e data de 2011, representando São Francisco de forma austera e simples, em tons muito claros, em que se destaca o crucifixo moderno. Já no interior, destacam-se os azulejos seiscentistas, o retábulo-mor e o teto abobadado em talha dourada, em que vemos conjugar-se harmoniosamente o barroco joanino e o rococó. O remate do retábulo-mor apresenta as alegorias à Fé, Caridade e Esperança, sobrepostas pelo olho da Divina Providência. Possui o templo de Sobrado algumas das mais antigas e valiosas imagens de santos existentes no concelho, nomeadamente a de Nossa Senhora do Rosário, de Santo António, e de São Frutuoso, que descreveremos posteriormente. Destaque-se ainda a enigmática lápide epigrafada situada no arco-cruzeiro. O batistério encontra-se no lado do Evangelho. Com datação atribuída a 1671, consiste num nicho retangular estreito, provavelmente contemporâneo da construção inicial do edifício que integra a pia granítica original e resguardo em bronze, com simbologia do batismo. Foi restaurado em meados do século XX, acrescentando-se a pintura “Baptismo de Cristo” da autoria da Casa de Fânzeres (1966) que veio sobrepor-se à pintura anterior com a mesma designação. Uma nova intervenção e restauro em 2010/11 fez a remoção das pinturas destes “Baptismo de Cristo”, sendo então também colocado no local um tocheiro em latão dourado da autoria do arquiteto Bernardo de Brito e a pintura a óleo sobre tela em linho “Água do Espírito Santo”, integrando uma subtil pomba branca, da autoria de José Maia. Três anos depois, em 2014, são aí colocadas a tampa para resguardo da pia batismal com motivos associados às passagens bíblicas do Batismo de Cristo e a placa de bronze no crismatório, ambos da autoria de Bruno Marques Cunha, lendo-se na porta a seguinte inscrição: “Este é o meu filho muito amado” (Mt 3, 17).


A escultura de Santo Ovídio, no nicho lateral no lado do Evangelho, é provavelmente datada do século XVIII e já é mencionada no “Inventário dos Bens da Igreja” desde 1880. Em madeira policromada e de estilo barroco, representa Santo Ovídio de cabelo e olhos castanhos, com um livro vermelho na mão esquerda, enquanto a mão direita indica o ouvido (iconografia habitual que o atribui a Padroeiro dos surdos). Veste túnica, sobrecasaca e um barrete de tecido castanho com motivos florais dourados, remates listados e cinto da mesma cor. A justificação para a sua representação neste templo é desconhecida, não estando associado a festa em sua honra nem a nenhuma outra forma de devoção religiosa. A escultura de São Frutuoso, igualmente num nicho do lado do Evangelho, data do século XVIII. A escultura é já mencionada no Inventário dos Bens da Igreja desde 1880. Em madeira policromada e estilo barroco, retrata São Frutuoso com vestes litúrgicas, uma roseta a unir o seu pluvial e mitra na cabeça. Segura no braço esquerdo o báculo em prata enquanto a mão direita se encontra

em gesto de bênção. O livro dentro da sua túnica é uma alusão à Sagrada Escritura e às duas regras monásticas que escreveu. Nas “Memórias Paroquiais” de 1758 é referida a existência de uma concorrida celebração religiosa em honra de São Frutuoso na igreja matriz de Sobrado, em abril, com muita gente oriunda até das atuais paróquias de Agrela (Santo Tirso), Campo (Valongo) e Gandra (Paredes) que aqui vinham em procissão, festa que deixou de se realizar em meados do século XX. O retábulo hoje designado de Nossa Senhora de Fátima, que se encontra na nave, é barroco e datará do século XVII. Vem referido no “Inventário de Bens da Igreja” desde 1880. De madeira policromada em talha, correspondia ao altar de Nossa Senhora do Rosário (cuja imagem foi substituída pela de Nossa Senhora de Fátima no século XX) e era considerado “altar privilegiado”, como é ainda possível verificar na pedra à sua esquerda, dedicação que já era referida nas “Memórias Paroquiais” de 1758. Juntamente com o retábulo-mor, foi o que menos alterações sofreu ao longo dos últimos três séculos, tendo

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sido restaurado em 1966 e novamente em 2010-2011. A sua composição estética assemelha-se à do retábulo-mor, apresentando colunas salomónicas. Apresenta na parte superior um círculo irradiante que incorpora a Pomba do Espírito Santo e quatro cabeças de anjo. Destaque para as volutas e o nicho central. O sacrário apresenta a representação do coração, da cruz e das flores, encimado pela concha do batismo e, na parte inferior, observa-se um monograma de Maria. A escultura de Nossa Senhora de Fátima deste retábulo é em madeira policromada e datada de meados do século XX. Representa Nossa Senhora com vestes brancas ricamente ornamentadas, descalça sobre uma nuvem que ostenta cravado um brasão de Portugal. O seu rosto simples e em posição de oração, procura evidenciar um ar puro e maternal. O monograma de Maria apresenta-se em dois locais diferentes: um na parte inferior das vestes de Nossa Senhora e o outro na parte inferior da estrutura do retábulo. O rosário, tal como a coroa de Nossa Senhora, são objetos de prata e foram oferecidos por fiéis devotos. Ainda neste retábulo encontramos, provavelmente desde a sua criação, uma escultura barroca em madeira policromada de Santa Luzia datada do século XVII e referenciada desde 1880 no “Inventário de Bens da Igreja”. Santa Luzia é representada com vestes douradas e azuis, cabelos castanhos ondulados e olhos castanhos, segurando uma palma na mão direita e, na do lado esquerdo, um livro sobreposto por uma salva com dois olhos retratados, simbolizando o seu martírio

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em que os seus olhos “físicos” terão sido arrancados, mas, tal como é habitual, mantendo na face os olhos “da fé”. Marca ainda presença neste retábulo a escultura de São Caetano, uma obra barroca do século XVIII, em madeira policromada que o “Inventário de Bens da Igreja” referencia desde 1886. São Caetano, representado com vestes litúrgicas, cabelos e barba castanhos, apresenta um aspeto jovial e austero, relacionado com a ordem que fundou: os Teatinos. Segura uma cruz na mão direita e na mão esquerda um livro com inscrições relativas ao Credo. A data da sua canonização é aquela em que, alegadamente, terá sido construída a igreja matriz de Sobrado o que poderá justificar a sua representação nesta igreja. Num outro nicho do lado do Evangelho encontramos a imagem de Nossa Senhora do Rosário, uma peça barroca em madeira policromada já referenciada no “Inventário de Bens da Igreja” desde 1880. Nossa Senhora do Rosário está representada com um vestido pregueado e um manto azul com rica ornamentação dourada. Com o braço esquerdo segura o menino Jesus, despido, e na mão direita um fruto vermelho, possivelmente uma romã. O terço e a coroa em prata que complementam a imagem são da mesma época. Na parte inferior observam-se três cabeças de anjo, tipicamente barrocas, com a curiosidade de apresentarem os olhos de cor diferente. A nave da matriz de Sobrado, do lado do Evangelho, junto ao arco cruzeiro, acolhe também um retábulo


de Nossa Senhora das Graças similar ao retábulo do Sagrado Coração, indiciando a mesma autoria e datação – finais do século XVIII ou inícios do século XIX – e referido desde 1880 no “Inventário de Bens da Igreja”. De estilo barroco tardio, esta obra em madeira policromada apresenta colunas salomónicas, elementos vegetalistas, sendo o conjunto coroado por uma representação de um coração trespassado por uma espada inclinada. O altar colateral do lado do Evangelho é dedicado a Nossa Senhora das Graças. As “Memórias Paroquiais” de 1758 referiam já que um dos altares existentes na igreja era dedicado a Nossa Senhora da Nazareth e tudo aponta para que fosse este o retábulo referido nesse documento. A sua invocação terá sido alterada nos inícios do século XX, passando a ser dedicado a Nossa Senhora das Graças. O retábulo foi restaurado recentemente preservando as suas características estéticas.

A imagem de Nossa Senhora das Graças é uma escultura neoclássica do século XIX em madeira policromada. Inicialmente colocada no Altar das Almas, atualmente dedicado a São João, terá sido para aqui transferida no século XX. A Virgem é representada com coroa prateada, túnica branca com elementos decorativos dourados sob manto azul com interior rosa e, das suas mãos, surgem as 146 graças prateadas. Assenta num globo decorado com 12 estrelas rodeado por uma cobra segurando uma maçã que Nossa Senhora calca com o seu pé direito. A base ostenta a inscrição: “Restauradas nas oficinas”, desconhecendo-se, no entanto, a que oficinas se refere. A escultura de Nossa Senhora da Imaculada Conceição que se encontra no nicho do retábulo da Nossa Senhora das Graças é uma obra do século XXI da autoria de António Costa. Em madeira policromada, representa a

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descende de Jessé, tal como Jesus, que é a verdadeira flor”) e na esquerda o Menino, com o coração na mão esquerda enquanto a direita se encontra carinhosamente por baixo da barba castanha de São José, olhando São José que retribui com um olhar paternal.

Virgem com túnica branca sob manto azul com ornamentos dourados. Os seus cabelos são castanhos e as suas mãos estão em gesto de oração. Pousa os pés num globo com nuvens envolto por uma serpente que é calcada pelo pé esquerdo de Nossa Senhora. Percorrendo o lado da Epístola encontramos num nicho a escultura de Santo António, imagem do século XVIII já referenciada no “Inventário dos Bens da Igreja” desde 1880 e restaurada em 1952. De linguagem barroca, a escultura representa um jovem Santo António, de cabelo castanho, trajado com o hábito franciscano de cor castanha, mas que inclui ornamentação dourada, e um cordão amarrado à cintura, símbolo dos três votos perpétuos: obediência, pobreza e castidade. Apresenta ainda uma sobrecapa com decoração idêntica à do hábito, e sandálias castanhas. Ostenta na mão direita uma cruz latina e segura no braço esquerdo um livro vermelho sobre o qual está sentado o Menino Jesus sem vestes, de cabelos castanhos e olhos azuis. Do lado da Epístola temos ainda a imagem de São José, obra neoclássica do século XIX em madeira policromada. São José é representado com resplendor de 13 raios na cabeça, túnica castanha sob manto púrpura, calçando sandálias. Segura na mão direita uma vara florida (referência clara às palavras do profeta Isaías que disse que “Da rai de ess brotará uma vara e da rai desta vara sairá uma or”, uma vez que São José

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A escultura das Santas Mães e o Menino, durante longo tempo designada como “Sancta Anna”, é igualmente do século XVIII e já referida no “Inventário de Bens da Igreja” de 1880. Em madeira policromada e de linguagem barroca, representa as três diferentes gerações: Santa Ana (mãe de Maria), Maria e Jesus. Santa Ana é representada mais idosa, com cabelo grisalho e vestes claras, olhos postos no Menino, apoiando a Virgem Maria com o braço direito e segurando com a ponta dos dedos da mão esquerda uma maçã. Sentada ao colo de sua mãe, a Virgem Maria tem olhos castanhos e cabelos castanhos descobertos. Segura o Menino que se empoleira para Santa Ana, representado sem vestes, com os braços abertos tentando agarrar o fruto que Santa Ana tem na mão. O retábulo de São João Baptista é uma obra em madeira policromada em talha, de estilo barroco e provavelmente mais antigo que o retábulo-mor, atribuída ao século XVII. Referenciado nas “Memórias Paroquiais” de 1758 como dedicado a Nossa Senhora do Pilar e posteriormente às Almas, no século XX é alterado passando a estar dedicado e a albergar a imagem do Coração de Jesus. Foi restaurado em 1966 e novamente em 2010-2011, sendo-lhe retirado um pequeno sacrário que guardava as hóstias consagradas no período da Páscoa, uma sanefa oitocentista em talha dourada que rematava o retábulo e acrescentados alguns pormenores decorativos. Relevantes são os pormenores em talha que incluem anjos putti, flores, frutos e aves. No remate granítico do arco encontra-se um brasão desenhado na pedra (assemelhando-se ao brasão da família Pamplona) que aparenta ser de cariz religioso. Considerando a forte e enraizada devoção local a São João, a devoção deste retábulo foi alterada à data de restauro da igreja, passando a ser dedicado a São João Baptista, incorporando a imagem deste Santo. A escultura de “São João do Altar” (São João Baptista) aqui existente, em madeira policromada, é uma cópia recente inspirada na representação iconográfica da imagem de São João da Igreja de Gandra, Paredes. O Santo é retratado com cabelos e barba castanhos, faces rosadas, túnica de pele de carneiro dourada com


rebordo interior vermelho. A fl mula, na mão esquerda, está inclinada e tem a inscrição “Ecce Agnus Dei” (Este é o Cordeiro de Deus). Na mão direita o indicador aponta o cordeiro, símbolo de Jesus, que se encontra com a cabeça fixando São João. O retábulo do Coração de Jesus, igualmente junto ao arco-cruzeiro, mas já do lado da Epístola, em madeira policromada, é atribuído ao início do século XIX. Embora o altar colateral do lado da Epístola esteja dedicado, desde 2010-2011, ao Sagrado Coração de Jesus, as “Memórias Paroquiais” de 1758 referiam que um dos altares existentes na igreja era dedicado ao Menino Deus e tudo aponta para que deste retábulo se tratasse, tendo posteriormente a sua invocação sido alterada para o Senhor dos Aflitos. Numa linguagem de inspiração barroca, pese embora a sua existência ser certamente posterior ao retábulo-mor, apresenta colunas salomónicas e uma decoração peculiar, composto essencialmente por elementos vegetalistas, em que se destaca o nicho central. No coroamento do retábulo há uma representação do coração trespassado por uma espada inclinada. Neste retábulo encontra-se uma escultura do Sagrado Coração de Jesus, neoclássica, em madeira policromada e datada de 1902. Jesus é aqui representado envergando vestes brancas e vermelhas, cores alusivas à sua paixão, cabelos e barba castanhos. O retábulo integra ainda uma escultura em madeira policromada

de São Brás, uma obra já do século XXI da autoria de António Costa, representado como bispo, vestindo túnica branca e um pluvial vermelho com ornamentação vegetalista dourada e listados da mesma cor. Sobre o cabelo castanho ostenta uma mitra episcopal branca com decoração similar ao manto, exibindo também um resplendor prateado. Abençoa com a mão direita e na esquerda segura o báculo do Bispo, assim como um livro como símbolo da sua evangelização e pregação. São visíveis as chagas nas mãos, simbolizando a sua crucificação. Voltando agora a nossa atenção para o teto, na abóbada de berço que cobre a nave figura uma pintura de Santo André, padroeiro do templo e da comunidade, obra da autoria da Casa de Fânzeres datada de 1966, que veio substituir uma anterior pintura alusiva ao Cordeiro de Deus. Santo André, com os olhos direcionados para o céu, idoso e com longa barba, calça sandálias e enverga vestes vermelhas e brancas. Segura com a mão direita a cruz e mantém a esquerda colocada sobre o peito, demostrando a sua lealdade e empenho na evangelização. Junto do santo encontram-se onze anjos. A parte inferior da pintura, junto ao coro-alto, representa uma Bíblia e uma flor, enquanto na localização oposta, junto ao arco cruzeiro, se encontra a cruz latina e dois troncos da cruz de Santo André, unidas por uma coroa de flores. Merece particular referência, no plano superior do arco

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cruzeiro, uma lápide, obra do século XVIII coberta com talha dourada nos finais do século XIX. A intervenção de restauro levada a cabo em 2010-2011 permitiu remover a talha e identificar a pedra granítica inicial trabalhada, que constitui o pormenor mais interessante deste arco-cruzeiro, com uma referência à Basílica de São João de Latrão em Roma, a mãe e cabeça de todas as igrejas do mundo. A decoração da pedra ostenta um anjo barroco alado, as chaves e a mitra, numa clara representação do Papado, bem como dois trabalhos interpretados como pergaminho. A inscrição refere: “Sacro sanctae Lateranensis Ecclesiae” ou seja, “Sacro Santa Igreja de Latrão”. Desconhece-se o motivo da existência desta lápide e do símbolo papal na fachada da igreja, podendo eventualmente justificar-se pela relação da família Baldaia com esta igreja e pela constituição do padroado (refira-se que existe uma lápide semelhante na igreja matriz de Aguiar de Sousa). Escondida desde os finais do século XIX pela talha dourada que aí foi então colocada por benfeitoria do Comendador Jozé dos Santos Ferreira, foi redescoberta em 2011, durante o restauro da igreja optando-se por mantê-la visível dada a sua relevância. Separada da nave por um simples degrau e pelo arco-cruzeiro, a capela-mor da Igreja de Sobrado, com construção atribuída a 1671 mas cuja execução do retábulo e dos entalhamentos será já do século XVIII, é referida nas “Memórias Paroquiais” de 1758 e novamente mencionada em 1767 a propósito do sepultamento de D. Maria Clara Baldaia. Restaurada pela Casa de Fânzeres em 1966 e novamente em 2010-2011, para lá do seu dominante estilo barroco apresenta, por isso, apontamentos numa linguagem contemporânea. Constitui a parte mais monumental e sumptuosa da igreja, destacando-se o seu cenográfico retábulo, a abóbada do teto e os azulejos seiscentistas tipo maçaroca. As intervenções mais contemporâneas estão presentes no ambão, na cadeira presidencial e no altar. Nos seus tempos iniciais, quando era exercido o direito de padroado, este era um espaço privilegiado da família Baldaia já que, além dos abades, era aqui que eram sepultados membros desta família. A capela-mor acolhe o retábulo do Santíssimo Sacramento, obra barroca e rococó em madeira de talha policromada datada do século XVIII e referenciada nas “Memórias Paroquiais” de 1758 e no Inventário de Bens da Igreja desde 1880. Foi restaurado em 1945, em 1966 (pela Casa de Fânzeres) e novamente em 2010-2011.

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Obra de notáveis dimensões e de inegável valor artístico, o retábulo-mor de Sobrado é um relevante exemplar do barroco joanino português. As cores expressivas que apresenta atualmente ocultam os tons claros/brancos com adornos dourados que apresentaria originalmente. Nele destacam-se as imagens dos santos protetores Santo André e São Francisco, as colunas salomónicas, o sacrário, o trono eucarístico, as alegorias aos dogmas cristãos, coroados pela representação simbólica divina e transcendente do Olho de Deus que estabelece um elo de ligação divina entre o céu e a terra. A produção do retábulo, embora de autoria desconhecida, anda associada aos Baldaia, padroeiros da igreja e principais patrocinadores de todas as obras iniciais no espaço da igreja sob a sua tutela. Ainda neste retábulo encontramos a imagem de Santo André, obra barroca do século XVIII em madeira policromada na qual o Santo é representado com expressão austera, inclinado para o céu, cabelos escuros e longas barbas, envergando vestes douradas e azuis, o pé direito adiantado e visível, segurando na mão direita a cruz decussada (cruz de Santo André) – o seu maior atributo – enquanto o da esquerda segura um livro aberto, simbolizando a palavra de Cristo. A escultura de São Francisco do altar-mor é também do século XVIII, executada em madeira policromada e de linguagem barroca. Nesta peça, referenciada no “Inventário de Bens da Igreja” desde 1880, o santo é representado vestindo o hábito franciscano, cíngulo castanho-claro e elementos decorativos dourados nas vestes. Com a mão direita segura com firmeza, e de frente para o seu rosto, um crucifixo que representa Jesus Crucificado. Os seus cabelos são escuros, as barbas longas e a mão esquerda, pousada sobre o coração, apresenta os sinais das chagas. A escultura de Cristo Crucificado, ainda neste retábulo, data do século XIX e aparece referenciada no “Inventário de Bens da Igreja” desde 1880. Executada em madeira policromada, retrata Cristo em sacrifício, de olhos fechados, com pés e mãos pregados, mostrando as pernas e os braços ensanguentados por terem sido amarrados. Cobrem-lhe a cintura vestes brancas e inclui a inscrição com as siglas JNRJ está (Jesus Nazareno Rei dos Judeus). No século XIX e parte do XX esta imagem era designada como Senhor dos Aflitos e estava localizada no retábulo do Senhor dos Aflitos, já descrito e atualmente dedicado ao Coração de Jesus. A


escultura de um Cordeiro que encontramos ainda neste retábulo é obra do século XXI e da autoria de António Costa, adquirida aquando do recente restauro da igreja. Em madeira policromada, este cordeiro branco é representado deitado sobre um livro dourado com capa vermelha, com a cabeça erguida, segurando com a pata direita um estandarte cruciforme – uma bandeira vermelha com a inscrição “Ecce Agnus Dei” em letras douradas – que representa a sua divindade. A imagem assenta sobre um remate do sacrário, que nas recentes obras de restauro veio substituir um crucifixo dourado aí existente. Destaque para a abóbada da capela-mor em talha dourada, do século XVIII, numa linguagem que combina elementos do barroco e do rococó. Todos os pormenores conferem um interessante movimento ao conjunto, seja pela sua carga simbólica seja pela teatralidade das suas formas. Simbolizando o próprio céu, inclui na sua representação 12 anjos atlantes, 6 águias, 4 anjos músicos e 3 pináculos, num conjunto complementado pelo retábulo do Santíssimo Sacramento. Ainda no interior do templo, referência também para o órgão de tubos da igreja paroquial de Sobrado, localizado no coro-alto. Data de 1968, tendo sido construído em Landau, Alemanha, pela organaria Oberlinger a pedido do organista alemão Wilhelm Ernst Adalbert Krumbach (1937-2005). Produzido para uma casa particular em Landau, foi vendido pela família de Wilhelm Krumbach em 2010 e adquirido com o apoio de inúmeras ofertas e receita de eventos diversos, e insta-

lado na matriz em 2011. É um instrumento mecânico bem proporcionado, com três teclados, 15 registos e um pedal. Apesar da sua reduzida dimensão, a sua caixa revestida a madeira de balsa, como se uma caixa de violino se tratasse, confere-lhe uma excelente ressonância e uma particular sonoridade. O conjunto escultórico Via Sacra, na nave, é igualmente uma obra recente, de autoria de Manuel Alves Ferreira. Executado em metal e madeira pintada, o conjunto inclui as 14 estações, sendo cada elemento executado em forma de cruz grega e floreada nos braços em metal pintado dourado. Ao centro, apresenta um círculo pintado com a representação de cada momento da paixão do Senhor. Em termos decorativos sobressaem ornamentos em forma de flor de lis. Já na sacristia, encontramos num nicho a escultura de “São João da Sacristia”, uma obra recente, em madeira, da autoria de António Costa. Inspirada na escultura de São João Precursor, São João Baptista é representado sentado, com os pés visíveis e descalços pousados sobre um penedo. As suas vestes cobrem apenas a sua cintura e a sua mão direita está aberta em gesto de convite, enquanto a esquerda, fechada, segura a fl mula com a inscrição “Ecce Agnus Dei”. O seu olhar austero fixa, de frente, quem o olha. Um outro nicho na sacristia acolhe a escultura do Profeta Isaías, obra em madeira do mesmo autor, com a mesma linguagem artística, representando o Profeta Isaías de corpo inteiro e forma austera, com a referência ao seu nome e um filactério.

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Peça simples, do mesmo autor e ainda na sacristia, refira-se um crucifixo em madeira policromada com a escultura de Jesus Crucificado, com vestes brancas sobre a cintura e tronco desnudo. Já a escultura do Menino Deus, também presente na sacristia, é uma obra barroca do século XVIII, em madeira policromada, referida nas “Memórias Paroquiais” de 1758 e no “Inventário de Bens da Igreja” desde 1880. A inocência e simplicidade com que o Menino é retratado nesta imagem é uma das suas principais características, incluindo a nudez que sublinha a sua humanidade assemelhando-o aos filhos dos homens, assumindo a sua dupla natureza, simultaneamente divina e humana, dogma da religião cristã. De cabelos encaracolados de cor castanha e olhos azuis, encontra-se sobre um globo decorado com inúmeras estrelas, com a mão direita em modo de bênção. Entre as alfaias existentes na sacristia destaque para o Cálice “maneirista”, uma singela mas excelente peça em prata datada de 1687, sem qualquer adorno, com copa semi-esférica e base de onde sai a haste em forma de balaústre. Apresenta uma inscrição referente ao doador “Este vazo devoa 66 Desmola 1687 Frco Frª Marques”. A sacristia incorpora ainda uma âmbula do Óleo dos Enfermos do século XVII, peça de ourivesaria maneirista em prata, cuja função era o transporte do óleo destinado à unção dos doentes. Apresenta uma estrutura retangular e sem grande exuberância ou relevo decorativo, incluindo a singela ornamentação flores e aletas que sugerem movimento. Os olhais serviam para passar um cordão vermelho para suspender ao pescoço. Bem mais recente, datada de 1941, é uma caldeirinha de Água Benta, em prata, destinada a servir de depósito de água benzida. O bojo possui um friso com decoração vegetalista com folhas, e medalhões ovais envolvidos por aletas. No pé sobressai uma orla de folhas, enquanto na parte inferior a decoração é composta por nervuras em relevo. Na base existem inscrições alusivas ao doador “À Igreja de Sobrado de Valongo” “Oferece a família do moço de Sobrado de Cima- 1941- Pede-se uma Avé Maia”. Trata-se de uma peça que incorpora o património da festa da Bugiada e Mouriscada, uma vez que é usada pelos Velhos da Bugiada e Reimoeiros na bênção das suas fações. Uma singela píxide barroca do século XVIII, em prata

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e prata dourada, encontra-se também entre as alfaias guardadas na sacristia da matriz de Sobrado. Com copa e tampa circulares, assente em base de secção circular, é constituída por três partes: tampa, copa e pé. A base e a tampa apresentam decoração vegetalista em relevo executada em forma de folhas invertidas. A haste adota a forma de balaústre e a tampa é rematada por uma simples cruz. Peça de ourivesaria datada de 1816, a cruz processional existente na sacristia, executada em prata e prata dourada, pertencia à Confraria das Almas de Sobrado, tal como refere a inscrição nela existente. Executada ao gosto neoclássico com decoração vegetalista e aletas nos braços, as extremidades dos braços da cruz assumem um formato de tampas de urnas e possuem folhas em relevo. Jesus Crucificado sobressai ao centro, tendo a seus pés as imagens de Nossa Senhora e das Almas do Purgatório. O centro da cruz é engrandecido ainda por um resplendor dourado. O nó da cruz assume o formato de urna e a sua decoração é complementada com ramagens e perlados de médio volume. A residência paroquial, uma antiga casa senhorial, completa o conjunto edificado anexo ao templo, juntamente com uma fonte barroca em granito, no Largo do Passal – o centro cívico da freguesia e ponto de encontro da população. Nela encontram-se diversas obras dignas de nota, como é o caso de uma escultura de Nossa Senhora do Pilar do século XVII referida em 1758 nas “Memórias Paroquiais” e no “Inventário de Bens da Igreja” de 1880. Obra em madeira policromada de estilo barroco, representa Nossa Senhora do Pilar com um vestido castanho pregueado sob um manto azul com rebordo dourado e elementos decorativos dourados. Os seus cabelos são castanhos, compridos e encaracolados. Segura na mão esquerda o Menino sem vestes, de cabelos castanhos e segurando uma pomba em alusão ao Espírito Santo. A escultura de São João de Sobrado “do Andor”, igualmente existente na residência paroquial, é uma obra dos anos ‘80 do século XX, executada em madeira policromada por Avelino Moreira Vinhas do Studio Nª Sra de Fátima em S. Romão do Coronado. Conhecida como “o nosso santo”, trata-se de uma representação inspirada (quase copiada) de uma imagem do século XIX, ainda que de maiores dimensões, que os Mourisqueiros “roubam” no dia 24 de junho, na festa da Bugiada e Mouriscada. São João é representado como


um jovem de barba e cabelos aprumados, compridos e de cor castanha. A sua face está ligeiramente rosada e enverga uma túnica curta de pele de camelo, com o pelo voltado para o interior e só visível nas bordas. A túnica cingida com um cinto castanho, é complementada com uma capa vermelha, com elementos dourados e apertada no pescoço. A mão direita segura uma cruz latina em metal, com filactera vermelha em que se encontra a inscrição “Ecce Agnus Dei”. Segura na mão esquerda um livro aberto, símbolo de profeta e da pregação da Palavra. Apesar de não se tratar de uma peça originalmente de Sobrado, entre as obras presentes na residência paroquial merece especial referência pela sua antiguidade a escultura gótica de São João, em pedra de Ançã da região de Cantanhede e com datação que remontará ao final da Idade Média (séculos XIV/XV). Considerando a profunda ligação da comunidade de Sobrado a São João, com concorridas e identitárias festas anuais que lhe são dedicadas, foi opção da paróquia a aquisição desta imagem em recente leilão, reforçando deste modo o culto ao Santo. Escultura barroca em madeira policromada é a imagem de Santo André “do Relicário” que encontramos também na residência paroquial. Datada presumivelmente do século XVIII, Santo André é aqui representado com um resplendor castanho, vestindo túnica azul com elementos florais dourados sob um manto ocre com rebordo e motivos vegetalistas dourados. Calça sandálias e a barba e cabelos são encaracolados

de cor castanha. Junto do coração encontra-se uma cavidade-relicário, contudo sem relíquia. A cruz decussada, numa alusão ao martírio do santo, está simbolizada com dois troncos de árvore cruzados com galhos aparados, que Santo André abraça e segura com a mão direita. Na esquerda segura um livro aberto com capa vermelha. Também do século XVIII é a escultura de São Brás aqui existente, uma peça barroca em madeira policromada referenciada desde 1880 no “Inventário de Bens da Igreja e que representa o Santo de cabelo castanho, imberbe, vestindo túnica branca, com pluvial vermelho de ornamentação vegetalista dourada e remates listados da mesma cor, e ainda mitra branca com a decoração do manto. Debaixo do seu braço esquerdo existe um livro preto e dourado e a mão está posicionada para segurar o que deveria ser o báculo de Bispo, mas entretanto desaparecido. Ainda na residência paroquial podemos ver a escultura São João de Sobrado, obra em madeira policromada de inspiração barroca mas datada já do século XIX e integrada desde 1880 no “Inventário de Bens da Igreja”. São João Baptista é aqui representado com expressão austera, segurando na mão direita uma cruz latina, em metal, com filactera vermelha tendo a inscrição “Ecce Agnus Dei” em dourado. Na mão esquerda, em extensão, segura um livro aberto. Repousa sobre o seu pé esquerdo, descalço, um cordeiro branco. Os cabelos e barba do Santo Precursor são castanhos e compridos, veste túnica curta de pele de camelo, como é referen-

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ciado nas Sagradas Escrituras, estando cingida com cinto castanho. A túnica é complementada com uma capa vermelha com rebordo e ornamentos dourados, apertada junto do pescoço. Uma nova imagem, de maiores dimensões e adquirida no século XX, veio substituí-la, especialmente na procissão de São João, inserida nas festividades da Bugiada e Mouriscada. A escultura de Nossa Senhora da Nazareth removida da igreja durante as recentes obras de restauro encontra-se igualmente na residência paroquial. Obra do século XVIII, barroca e em madeira policromada, é referida nas “Memórias Paroquiais” de 1758 e integra desde 1880 o “Inventário de Bens da Igreja”. Nossa Senhora é representada com cabelos longos e castanhos e olhos da mesma cor. Possui um manto azul com elementos decorativos dourados, com interior cor-de-rosa salmão. Aos seus pés estão três cabeças de anjo entrepostas por nuvens. Com as suas mãos segura o Menino (também ele de cabelos e olhos castanho) que se encontra de pé e despojado de vestes, acariciando os cabelos de sua mãe. Oriunda da capela velha de São Gonçalo, e hoje na residência paroquial, é a escultura barroca em madeira policromada, datada do século XVIII, representando São Gonçalo, de olhos e cabelos castanhos, resplendor prateado, vestindo uma túnica branca sob uma capa preta de Dominicano. A peça, que integra desde 1880 o “Inventário de Bens da Igreja”, segura com a mão esquerda um livro e na direita um bastão dourado. Também do século XVIII e igualmente incluída no referido “Inventário” é a escultura barroca de São Sebastião que se apresenta retratado com vestes azuis claras com rebordos dourados sobre a cintura. São Sebastião tem as mãos e pé esquerdo amarrados a um tronco de árvore com cinco galhos, sendo evidentes os locais das cinco flechas (ausentes) e que recriam o momento do seu primeiro martírio. De tronco desnudo, cabelos longos e castanhos, face rosada, destaca-se pelo seu olhar em êxtase direcionado para o céu e a boca entreaberta. A representação inclui ainda uma gálea dourada (capacete de soldado romano) na sua cabeça. Posterior, do século XIX e integrada no “Inventário de Bens da Igreja” desde 1880, o Senhor da Cana Verde, obra neoclássica em madeira policromada, encontra-se também na residência paroquial. Assente sobre base redonda e evocando a coroação de espinhos, nela Jesus enverga vestes brancas com rebordo dourado

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com cíngulo dourado à cintura e uma corda em redor das mãos. As vestes cobrem-lhe apenas a cintura e apresenta-se com um ar débil e desnutrido. Os seus cabelos são longos e ondulados, a barba castanha e olhos igualmente castanhos. Entre as esculturas existentes na residência paroquial uma referência final para a de Santo André “da Procissão”, de autoria de António Costa e datada do século XXI. Obra em madeira policromada, representa o santo com um manto verde e dourado sobre uma túnica azul e dourada. Os seus olhos, as suas barbas e cabelos compridos são de cor castanha. Na mão esquerda segura a cruz decussada, símbolo do seu martírio e na direita um livro aberto. Mas não deixemos ainda a residência paroquial, porque, para lá da escultura, há outros motivos de interesse, nomeadamente o que concerne a pintura. E, desde logo, de autoria de um nome incontornável do nosso panorama artístico do final do século XIX, há que referir, datada de 1883, a obra “A Ceia de Christo” da autoria de Francisco José Resende. Óleo sobre tela de estilo neoclássico, foi retirada em 1966 do retábulo do Santíssimo Sacramento, onde podia ser observada pelos crentes a partir do retábulo-mor da igreja matriz, sendo aí substituída por uma tela dedicada à Eucaristia. Em primeiro plano temos o momento da Última Ceia de Jesus, em que Cristo institui a Eucaristia, tal como referem os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, bem como na 1ª Epístola aos Coríntios da autoria de São Paulo. Jesus dá graças, acompanhado por alguns apóstolos dos quais se destacam as suas expressões corporais, vestes e a sua localização junto do Salvador. Em segundo plano, para além da já referida coluna, destacam-se as cortinas vermelhas símbolo da Paixão de Cristo e o contraste claro-escuro, definindo o ambiente de fundo da composição. A pintura “A Santa Eucaristia”, também aqui existente, é uma obra de 1966 da autoria da Casa de Fânzeres. A tela é dedicada à Santa Eucaristia destacando-se em posição central uma custódia e o ostensório dourado com a hóstia sagrada, adornado por um resplendor circular e rematado por uma cruz latina dourada. Duas figuras angélicas aladas e com auréola dourada, um com vestes verdes e outro com vestes azuis, encontram-se sobre as nuvens, abrindo e segurando duas cortinas rosadas encimadas por uma coroa real. No plano superior da pintura encontram-se cinco cabeças


de anjo e a representação do Espírito Santo através de uma pomba branca que desce dos céus. A antiga pintura do Batismo de Jesus, redescoberta aquando das obras de reestruturação da igreja de Sobrado, encontra-se também na residência paroquial. Obra atribuída ao século XIX, e retirada do templo na intervenção de 1966, é um óleo sobre lençol, de linguagem neoclássica, representando João Baptista a batizar Cristo no rio Jordão. Ambos se encontram de cabeça baixa em sinal de humildade. O ato é testemunhado pelo Espírito Santo, representado em forma de pomba. O Batismo de Jesus é também o tema da pintura sobre madeira de 1966 executada pela Casa de Fânzeres, hoje na residência paroquial, mas que se encontrava no batistério onde testemunhou ao longo do tempo muitos baptismos. A pintura apresenta como cenário de fundo uma paisagem com o rio Jordão e, em primeiro plano, São João Baptista de cabelos castanho-escuro, envergando vestes castanhas e brancas, e pés descalços, o direito sobre uma pedra e o esquerdo assente sobre a terra. Com a mão esquerda segura a fl mula com a inscrição “Ecce Agnus Dei” enquanto a direita, segu-

rando uma concha, batiza Jesus Cristo que se encontra dentro do rio Jordão, trajando vestes vermelhas claras (cor alusiva à sua paixão) e apontando com o indicador para o repositório dos Santos Óleos (que ainda hoje se encontram no mesmo sítio). A pomba do Espírito Santo tem a sua cabeça inclinada para Jesus, mas os seus raios de luz descem sobre as duas figuras. Destaque ainda para algumas peças de ourivesaria existentes na residência paroquial. E, desde logo, para a custódia-cálice paroquial, peça maneirista em prata e prata dourada, datada de 1625, de enorme valor e, hoje, usada apenas em momentos de grande solenidade. Apresentando a dupla funcionalidade de permitir a adoração do Corpo e Sangue de Cristo – o Pão e o Vinho – é decorada com motivos vegetalistas à base de folhas de acanto e nervuras. O cálice, de base redonda, é decorado com quatro tintinábulos e sobre este encaixa o hostiário, disposto em forma de templete acompanhado de um par de colunas, cúpula, pendentes em forma de lança e lanternim encimado pela figura de Cristo ressuscitado com o estandarte da ressurreição. Presumivelmente também do século XVII é uma salva maneirista em prata, usada com grande probabili-

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dade para a recolha de ofertas durante as celebrações. Executada de forma muito simples mas com mestria, apresenta apenas como ornamentação um rebordo com perlado côncavo em forma elipsoidal e ranhuras incisas circulares em redor do centro com rebordo convexo. Também desse século será a píxide paroquial, peça de ourivesaria barroca em prata e prata dourada utilizada nos momentos mais emblemáticos da comunidade, que se destinava à distribuição da comunhão ou à adoração dos fiéis. Tipicamente barroca, apresenta uma silhueta curvada e contracurvada, assente em base com a mesma secção, e é ricamente decorada com motivos vegetalistas, nomeadamente folhas de acanto invertidas, conchas, cabeças de anjo, aletas, volutas e enrolamentos, bem como cartelas no bojo. Peça emblemática e identitária, merece especial referência a Cruz rococó do século XVIII, em prata e com um peso de 5,8 kg. Pela sua imponência e densidade é designada como “Cruz Paroquial” pese embora tratar-se de uma cruz processional. É a mais bela de Sobrado e usada apenas em procissões e em ocasiões muito especiais. Os ornamentos distribuem-se no nó de uma forma assimétrica e inclui volutas, contra volutas, aletas e palmetas. Jesus crucificado encontra-se colocado nos braços de uma cruz simples mas adornada em formato floreado nas extremidades. Salienta-se ainda o conjunto de resplendores que destacam a presença de Jesus. Integra ainda este acervo um cálice barroco do século XVIII, peça de ourivesaria em prata e prata dourada, repleto de motivos vegetalistas e medalhões alusivos à Paixão de Cristo na sua decoração. A base apresenta, em relevo, as uvas e espigas de trigo separados por duas flores. A haste tem a forma de bala stre e apresenta, em relevo, motivos da Paixão, nomeadamente a cruz, açoite, pregos, cana verde, esponja e lança. Oferta à Confraria do Santíssimo Sacramento pela família Baldaia, padroeira da igreja, a estante de missal aqui existente é uma peça de ourivesaria datada de 1714, barroca e executada em prata e prata dourada, madeira e veludo, usada para colocar o missal. A sua decoração inclui motivos vegetalistas, flores, folhas, e volutas, em prata. Ao centro, em prata dourada, encontra-se uma custódia com o Santíssimo Sacramento. Tal como a estante, também o missal, foi oferta da família Baldaia à Confraria do Santíssimo Sacramento e data de 1714. É uma alfaia litúrgica barroca executada em

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prata, de encadernação em madeira e couro vermelho com aplicações douradas (intervenção do século XX, mas que procurou seguir a linguagem artística da época, tendo pertencido a um outro missal que provavelmente se deteriorou ou caiu em desuso) e elementos decorativos em prata com ornamentação de volutas e contra volutas, elementos fitomórficos e cabeças de anjo. Um relicário barroco do século XVIII, em prata e prata dourada, utilizado na distribuição da comunhão aos doentes acamados, inclui também este conjunto de alfaias em ourivesaria de inegável interesse artístico e patrimonial. Inclui uma caixa cilíndrica simples assente num resplendor que lhe serve de base, tendo como remate uma cruz latina floreada e resplendor quadripartido. A tampa apresenta, em forma de gravura, uma custódia encimada por uma cruz também ela floreada. Já do século XIX é um turíbulo neoclássico em prata, destinado à combustão de incenso durante a liturgia. Decorado com relevos vegetalistas à base de folhas estilizadas em todo o seu corpo, apresenta na parte superior medalh es vazados com flores e as mesas folhas. Da mesma época é uma naveta igualmente neoclássica, em prata, usada para o transporte de incenso para a posterior combustão, durante a liturgia. O corpo da peça, em forma de pequena nave ou barco, apresenta uma decoração floreada na base e um friso com grinaldas de flores, destacando-se na parte central em ambos os lados, um medalhão circular com flor. A haste tem a forma de balaústre e o pé é decorado apenas com uma singela orla de folhas.


CRUZEIRO DO PASSAL Largo do Passal 4440-337 Sobrado Integrando o conjunto arquitetónico e religioso da igreja paroquial de Sobrado, o cruzeiro do Passal é uma estrutura simples, executado em cantaria granítica, sendo constituído por uma escadaria composta por dois degraus, uma base, uma coluna interrompida na parte superior e uma cruz latina floreada com decoração no centro dos braços da cruz. Desconhece-se a sua cronologia, admitindo-se que possa ter sido erigido aquando da construção da matriz no século XVII (1671) a mando da família Baldaia, padroeira da Igreja. Apesar de singelo, este cruzeiro tem grande impacto identitário entre a comunidade, até pelo protagonismo que possui na festa da Bugiada e Mouriscada, bem como nas inúmeras procissões que passam junto dele, em especial a de São João de Sobrado e a de Santo André, orago da paróquia.

ERMIDA DO CAMINHO NOVO E CRUZEIRO Rua Caminho Novo 4440-347 Sobrado Valongo Próximo do centro da freguesia, o conjunto arquitetónico composto pelo cruzeiro e ermida do Caminho Novo, para invocação das almas do purgatório, data de 1734. Peça barroca em cantaria granítica, portão de ferro e telha, consiste num pequeno oratório localizado no centro de Sobrado, junto da estrada nacional, marcando simbolicamente um dos extremos dos terrenos do Passal que outrora pertenciam à Paróquia. É constituído por um frontispício clássico, um pequeno templete revestido a azulejo e um pórtico defendido por uma grade. No seu interior, existe um painel de azulejos do século XX, produzido na fábrica Aleluia de Aveiro, tendo como tema as almas do Purgatório. Neste painel existem as representações de Cristo na cruz e o resgate de almas assegurado por dois anjos. Até à construção da capela mortuária, no início dos anos ‘90 do século XX, os velórios decorriam nas habitações dos defuntos ou nas capelas da Balsa, da Senhora das Necessidades e São Gonçalo. Os velórios provenientes de Sobrado de Cima e Balsa paravam, quase que obrigatoriamente, neste local para uma pequena oração já que o oratório é dedicado às almas do purgatório e no

painel de azulejos existe uma inscrição que refere: “Ó ALMAS PIEDOSAS/ QUE IDES PASSANDO/ LEMBRAI-VOS DE NÓS/ QUE ESTAMOS PENANDO”. Constitui atualmente um ponto de referência obrigatória na Festa de São João de Sobrado, pois é junto deste local que passa a Procissão de São João, bem como se principiam as Entrajadas e a Dança de Entrada dos Bugios e Mourisqueiros. O cruzeiro, situado Próximo da Ermida, ostenta na sua base a inscrição «PELAS ALMAS PN AVM 1734», lembrando a quem passava para a necessidade de rezar um Pai Nosso e uma Avé Maria por quem já tinha morrido.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS NECESSIDADES Rua da Capela 4440-315 Sobrado Data do século XIX (1868) a edificação da atual capela de Nossa Senhora das Necessidades, exemplar de arquitetura religiosa vernácula, com planta longitudinal de corpo único e sacristia, fachadas rebocadas e pintadas, e fachada principal revestida a azulejos de padrão, com torre sineira. São várias, contudo, as referências anteriores e históricas ao local, como espaço sacralizado. Um registo de 1781 refere um título de doação de leira para constituir o património da capela, edifício primitivo que aqui terá

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sido erguido ainda em finais desse século ou inícios do XIX e que andaria associado a um “Milagre de Nossa Senhora das Necessidades”, sobre o qual há referências posteriores datadas de 1799 e que teria ocorrido em Sobrado. Em 1864 foi doada em testamento de Joaquim da Costa Ferreira cem mil réis brasileiros, ocorrendo a (re)construção da capela entre 1868 e 1869, sendo inaugurada a 9 de setembro deste ano pelo abade António Thomé de Castro. A capela, que teve posteriores obras de reparação em 1896, foi também restaurada e ampliada em 1966. De estilo neoclássico, construída em granito e telha, localiza-se numa pequena elevação, inserindo-se num núcleo rural outrora designado como aldeia de Sobrado. Trata-se de um templo de reduzidas dimensões com corpo central, sacristia no lado esquerdo e um pequeno coro. A fachada apresenta sinais da já referida ampliação de 1966 e possui revestimento azulejar florido (branco e azul), bem como cantaria granítica. O pórtico, que ostenta a data da sua reconstrução, apresenta duas pequenas janelas no plano inferior e um óculo ao centro, semelhante ao da igreja paroquial, sob o qual se encontra a imagem da padroeira – Nossa Senhora das Necessidades – representada num painel azulejar. O remate da fachada é efetuado por três cruzes azuis e um singelo campanário que suporta uma sineta, que pode ser tocada através de uma corda ainda visível. O acesso ao coro é exterior e assegurado por escadaria. No interior do templo salienta-se o retábulo neoclássico oitocentista, com as imagens de São José, Nossa Senhora das Necessidades inserida no nicho central que inclui um painel de azulejos, e São Cristóvão. Referência também para dois painéis de azulejos dedicados ao

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Coração de Maria e Coração de Jesus, datados dos anos ‘60 do século XX, bem assim como ao altar e ambão, da autoria da Casa de Fânzeres e que, com a mesma data, se encontravam originalmente na igreja matriz, tendo para aqui sido transferidos. A capela apresenta também imagens do Divino Reizinho, Santa Teresinha do Menino Jesus (igualmente proveniente da igreja paroquial), Santo António, Nossa Senhora de Fátima, São Domingos, Cristo na Cruz e Nossa Senhora da Assunção. O teto era adornado por 50 estrelas, numa associação ao Rosário, mas serve atualmente de base para um candeeiro. A escultura de Nossa Senhora das Necessidades que se encontra no retábulo-mor da capela é uma obra neoclássica em madeira policromada datada do século XIX e já referenciada no “Inventário de Bens da Igreja” em 1880. Nossa Senhora é representada com vestes em diferentes tonalidades (predominando o cor-de-rosa na túnica e o azul no manto) repletas de elementos decorativos dourados e flores. Os seus pés estão cobertos e os seus cabelos são castanhos e longos, ostentando na sua cabeça uma sumptuosa coroa prateada com alguns relevos e uma cruz floreada. A expressão facial denota ang stia, com olhos em vidro castanhos fitando o céu, e boca ligeiramente aberta. Ampara com os braços o Menino desnudo e representado com cabelos e olhos castanho-claro, com o olhar direcionado para os crentes. A seus pés, na parte inferior da imagem, existem duas cabeças de anjo com cabelos e olhos castanho-claro. O anjo esquerdo contempla a Virgem e o Menino enquanto o anjo direito observa os devotos. Do lado da Epístola observa-se uma escultura de vulto pleno do Menino Jesus “Divino Reizinho”; datada do século XIX/XX, é representado em criança e enverga


vestes reais ricamente ornamentadas a dourado e com pedras. Com ambas as mãos erguidas, exibe na mão esquerda o globo terreste em azul e dourado encimado por uma cruz; e com a direita abençoa. Tem a cabeça coroada. Já do lado do Evangelho, e datada do século XX, observa-se imagem de Nossa Senhora de Fátima, escultura de vulto pleno, em posição frontal, de pé, com as mãos em oração segurando o rosário. Traja uma túnica branca e manto branco com as cercaduras embelezadas com motivos a dourado. Ainda no interior da capela merecem referência as imagens de São Cristovão e S. José. A primeira, datada do século XVIII/XIX, representa o santo descalço sobre uma base quadrangular, com torsão do corpo e levando o Menino sobre o seu ombro esquerdo. Na mão direita deveria segurar um bastão. Veste túnica escura cintada com fita apertada em nó. São José com o Menino, em vulto pleno e de madeira policromada, figura com barba e bigode, veste túnica esverdeada sobre a qual cai um manto em tons de castanho, decorado com motivos vegetalistas dourados. O Menino Jesus desnudo, possui cabelos castanhos, encontra-se sentado sobre o braço direito do Santo. Mais recente, do século XX, é uma escultura em vulto pleno de Santa Teresinha, em posição frontal, traja o hábito de Ordem dos Carmelitas Descalços; junto ao peito exibe um crucifixo decorado com flores. Na sacristia, de pequenas dimensões, pode ver-se um interessante ex-voto de 1799 que documenta um suposto milagre atribuído a Nossa Senhora das Necessidades. Em madeira pintada e num estilo barroco tardio, a peça ostenta a seguinte inscrição: “Milagre que fes N. Sra das Nececidades a Joze de Souza estando sua mulher desenganada dos cirurgiaoes, o infermeiro era sacerdote, por nao haver quem. No m.mo (mesmo) tempo chaio (caíu) na m.ma (mesma) doença desamparados da vida prezente, pedindo a N. Sra q (que) lhe dese (desse) saude. Logo em brebe (breve) tempo tiverao (tiveram) saude.” Anno de 1799”. No segundo domingo de setembro esta capela acolhe festa em torno desta devoção mariana.

CRUZEIRO DO PADRÃO Largo do Padrão 4440-315 Sobrado O cruzeiro do Padrão integra o conjunto arquitetónico e religioso da capela de Nossa Senhora das Necessidades, na antiga aldeia de Sobrado, e é um dos marcos da procissão que anualmente, em setembro, é feita em sua honra. Desconhece-se a origem deste cruzeiro simples executado em cantaria granítica e constituído por uma escadaria e coluna interrompida no plano superior com remate de cruz latina floreada, mas é provável que remonte ao século XIX. Aparenta ter tido também uma inscrição na base retangular, mas cujo conteúdo já não é possível decifrar.

ERMIDA E CRUZEIRO DE SÃO JOSÉ Rua São João de Sobrado 4440-339 Sobrado Construído em 1903 a mando de José Ferreira dos Santos Pinheiro, de estilo neoclássico, em pedra granítica, portão de ferro e telha, esta pequena ermida, filial da capela de Nossa Senhora das Necessidades, é retangular, executada com pedra granítica com reboco, possuindo telhado com telha cerâmica. Encontra-se revestida no exterior com azulejos em tons claros. No lado direito encontra-se uma lápide com inscrições referentes aos beneméritos da ermida e no lado esquerdo encontra-se outra lápide com inscrições associadas ao patrocinador desta capela e ao ano da sua construção. Na fachada possui uma porta em metal com um relevo em forma de cruz, destacando-se ainda o pequeno

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painel em azulejos, produzido na fábrica Aleluia, de Aveiro, com uma representação de São José com o Menino e no remate da ermida uma cruz granítica. O seu interior encontra-se revestido a azulejos coloridos e possui um pequeno altar com as imagens da Sagrada Família (Jesus, Maria e José), ostentando ainda um crucifixo em talha. O cruzeiro da Ermida de São José encontra-se situado junto desta pequena ermida, tendo sido construído em pedra granítica sendo composto por uma cruz e uma base com três degraus. Reveste-se de particular importância para a religiosidade da comunidade local quando, anualmente, no segundo domingo de setembro ele é contornado, tal como a capela, pela procissão em honra de Nossa Senhora das Necessidades. A construção do cruzeiro ocorreu no ano de 1903 aquando da edificação da capela.

CAPELA DE SÃO GONÇALO (Antiga) Rua São João de Sobrado 4440-339 Sobrado No lugar de São Gonçalo erguem-se duas capelas consagradas a este “santo” (em boa verdade, e apesar da sua “canonização popular”, apenas foi beatificado) de Amarante. A mais antiga, também designada por ermida de São Gonçalo, já referenciada nas “Memórias Paroquiais” de 1758 e com festa associada, é atribuída ao século XVII e foi reconstruída no século XIX por sete famílias padroeiras de Paço. Referida no “Inventário de Bens da Igreja” desde 1880, a capela de pequenas dimensões mescla o barroco original com traça neoclássica resultante da intervenção do século XIX. Construída em cantaria granítica, com portas de madeira e telhado em telha, na sua fachada salienta-se um portal em esquadria rematada por um frontão triangular liso, possuindo ainda uma janela retangular. O acesso ao coro é possível através de escadaria exterior. No seu interior, que inclui sacristia, destaca-se o retábulo-mor neoclássico, datado do mesmo período da reconstrução da capela.

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CAPELA DE SÃO GONÇALO Rua São João de Sobrado 4440-339 Sobrado A nova capela dedicada ao Santo, inaugurada em 1981 por D. Domingos de Pinho Brandão, é construída em betão armado e coberta por telha. Influenciada já pelas diretrizes do Concílio do Vaticano II, a sua arquitetura interior revela uma ampla estrutura convergente para o altar e interior elevado. O altar, sacrário e as imagens de Nossa Senhora de Fátima e do padroeiro São Gonçalo, envergando o hábito branco e negro da Ordem de São Domingos, foram executados de forma simples, mas de proporções consideráveis e em madeira escura. A imagem de Cristo Crucificado foi executado à semelhança das restantes imagens, mas em madeira policromada.

CRUZEIRO DE SÃO GONÇALO Capela de São Gonçalo 4440-339 Sobrado Um “cruzeiro de São Gonçalo” integra o conjunto arquitetónico e religioso constituído pelas capelas “velha” e “nova” de São Gonçalo. Estrutura simples, executada em cantaria granítica e constituída por uma escadaria composta por três degraus e uma cruz latina simples, desconhece-se a data de construção deste cruzeiro, sendo possível que a sua origem ande associada às obras de reconstrução da velha ermida no século XIX. Na árvore envolvente às capelas sobressaem também algumas frondosas árvores centenárias.

CAPELA DE SANTO ANTÓNIO DA BALSA Rua da Balsa 530 4440-443 Sobrado Data da segunda metade do século XIX a capela dedicada a Santo António da Balsa, templo privado construído nos terrenos da Quinta da Balsa onde, em 1860, foi construída uma das pioneiras unidades industriais da região: a Fábrica de Fiação da Balsa. A capela foi, de resto, construída no contexto do aparecimento e afirmação deste equipamento industrial, admitindo-se que

os proprietários da fábrica a terão erguido como inequívoco símbolo do seu poder económico e como forma de prestígio e de afirmação social, permitindo e facilitando o culto religioso aos trabalhadores da fábrica. Apesar de ser uma capela privada, a mesma foi, após um significativo restauro em 1984, aberta à comunidade para o culto. De estilo neoclássico, construída em pedra granítica, telhado em telha e frontaria revestida a azulejo, é um templo oitocentista de pequenas dimensões. No exterior, onde sobressai um pequeno sino mais antigo que o próprio templo, a fachada apresenta estrutura simples com um templete triangular rematado por cruz latina em granito e uma janela retangular, bem assim como duas lápides brancas com inscrições: no lado direito a data de 1800 que a tradição indica ser a da sua construção e 1984, referente à reconstrução; na esquerda a

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referência é à visita pastoral do Bispo Auxiliar do Porto, ocorrida em 1990. No interior da capela, todo ele em linguagem neoclássica, salientam-se o retábulo-mor com trono eucarístico e com as imagens de Santo António, Santa Teresinha do Menino Jesus, Cristo Crucificado e Santa Luzia; e os retábulos de Nossa Senhora de Fátima e de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, bem como o nicho de Santa Rita. O coro é pequeno e em madeira e no interior do templo existe um conjunto de azulejos comuns. A escultura de Santo António da Balsa do retábulo-mor é uma obra recente (século XXI) em madeira policromada da autoria de António Costa. Santo António está representado com vestes franciscanas de tons castanhos e um cíngulo castanho-claro à cintura. Na mão direita segura um lírio branco e na mão esquerda segura um livro de capa vermelha que ampara o Menino, que possui vestes brancas e tem o seu olhar direcionado para o Santo. A escultura de Nossa Senhora de Fátima, no retábulo que lhe é consagrado, é uma peça do século XX em madeira policromada, representando Nossa Senhora com expressão jovial e fitando os crentes de frente. Enverga vestes brancas com rebordos e elementos decorativos dourados, incluindo um monograma de Maria. Ostenta um rosário de pérolas e uma coroa de filigrana dourada encimada por uma cruz latina.

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A escultura de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, existente no retábulo que lhe é dedicado, é de estilo neoclássico, executada em madeira policromada e tem datação atribuída ao século XIX. Nossa Senhora é representada vestindo túnica branca e manto azul com elementos decorativos dourados incluindo estrelas e motivos vegetalistas. Serena, com as mãos cruzadas sobre o coração, fita o céu, ao mesmo tempo que, com o pé direito, calca a serpente que ostenta o fruto proibido na boca. Na base em forma de globo e coberta por nuvens, apresenta três anjos alados. Apresenta coroa de pequenas dimensões rematada por cruz latina dourada, e um resplendor circular estrelado. Junto a esta imagem localizam-se também as do Menino e de São José. A sacristia inclui pequenas esculturas de Santa Isabel de Portugal, São Cristóvão e a imagem de Santo António que outrora se encontrava no retábulo-mor.

ALMINHAS DO VILAR Rua da Aldeia nº 679 4440-312 Sobrado As alminhas do Vilar são constituídas por um pequeno nicho em cantaria granítica rematado por um frontão triangular, dois coruchéus e uma cruz latina, encontran-


do-se gradeadas com uma grade em metal pintada de branco. Ao centro do frontão, pintado de preto, encontra-se uma inscrição que refere o ano de construção deste nicho: 1954. Na lateral esquerda encontra-se um orifício para colocação de esmolas cuja dianteira, em pedra mármore, possui a inscrição “Auxiliai as Almas Santas” incentivando a oferenda de esmolas. No interior destaca-se um elaborado painel de azulejos dedicado ao resgate das almas do fogo do purgatório por anjos alados e na parte superior, em destaque, a representação do Arcanjo São Miguel que na mão esquerda segura a balança, um dos seus atributos, e na direita a espada empunhada com que matará o demónio, que está prostrado sob os seus pés. O rebordo do painel é em forma encaixilhada com decoração vegetalista. Embora voltadas para a rua, estaremos perante uma estrutura privada pertencente à casa nº 679, sendo zeladora, presentemente, a família Fonseca.

MEMORIAL DO QUELHO DA CRUZ Quelho da Cruz, junto da Rua de Ferreira 4440-333 Sobrado O Memorial do Quelho da Cruz ou Quelho do Meio é uma estrutura granítica com uma cruz latina em relevo e com a inscrição referente ao ano da sua construção. Junto a um caminho ou quelho, num plano mais elevado e envolto pela vegetação, localiza-se no sítio onde terá ocorrido um assassinato. Segundo a tradição, na festa de São João de Sobrado de 1874, dois bugios desentenderam-se a tal ponto que um, muito descontente retirou a máscara de bugio ao seu oponente, conhecendo-lhe o seu rosto. Logo teceu uma ameaça, afirmando que seria a última vez que participaria na festa de São João de Sobrado. Certo é que às 9 horas da tarde, segundo o registo de óbito, no dia 22 de junho de 1875, António d´Oliveira, natural de São Martinho de Campo e jornaleiro de profissão, foi assassinado provavelmente neste local, quando já havia completado 50 anos. Segundo as versões populares, o homicídio terá ocorrido à sacholada e nem São João conseguiu evitar o ocorrido. A ameaça de morte cumpriu-se e António d´Oliveira não dançou jamais na festa de São João. Seja pelo valor tradicional e patrimonial do memorial (que nos permite perceber os mecanismos que estão na origem de algumas “alminhas”), seja pela associação lendária

à festa da Bugiada e Mouriscada este monumento constitui um caso interessante do património religioso, de cariz profundamente popular, do concelho.

ALMINHAS DA PINGUELA Rua Central da Pinguela nº 10 4440-378 Sobrado As alminhas da Pinguela inserem-se num conjunto de alminhas construído na década de 1970 e que inclui também as alminhas da Balsa, Campelo e da Gandra. Construídas em 1976/77, em forma de uma casa e com telhado triangular, encontram-se totalmente revestidas a azulejo. Ao centro encontra-se o nicho protegido por duas portas de vidro. No seu interior destacam-se os painéis de azulejos dedicados à Sagrada Família (à esquerda), Nossa Senhora da Conceição (ao centro) e Nossa Senhora do Carmo com as almas (à direita) e uma escultura de Nossa Senhora da Conceição. O painel da Sagrada Família representa o Menino Jesus ao colo de sua mãe, estando Maria a beijá-lo na sua cabeça. São José apresenta-se como carpinteiro, estando na sua oficina a trabalhar, tendo a sua esposa e filho como companhia. Este painel foi executado por J. Gonçalves da Rua Gil Eanes em Gaia. O painel central dedicado a Nossa Senhora da Conceição possui um caixilho em azulejo de tons azuis

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e brancos com os brasões de Portugal (à esquerda) e do Papa Paulo VI (à direita), decoração vegetalista e eucarística, bem como a inscrição “Mater Purissima Ora Pro Nobis” e a datação de 1976-1977. Ao centro encontra-se Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, rodeada de anjos. O painel dedicado a Nossa Senhora do Carmo representa a virgem numa posição central e de destaque com o Menino Jesus ao colo segurando dois escapulários, existindo ainda, no plano inferior, o resgate das almas pelos anjos. No plano superior sobressai a inscrição “Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando.” A escultura de Nossa Senhora da Conceição completa o conjunto numa representação singela, com vestes brancas com rebordo dourado e manto azul com ornamentação dourada. Com a mão direita abençoa e a esquerda encontra-se sobre o peito. Aos seus pés encontram-se anjos que se erguem das nuvens.

ALMINHAS DE CAMPELO Rua Santo André nº 94 4440-337 Sobrado As alminhas de Campelo, juntamente com as da Balsa, Pinguela e da Gandra, inserem-se num conjunto de alminhas construído na década de 1970 e obedecendo a uma tipologia muito semelhante. Totalmente revestidas a azulejos, neste caso em mau estado, são construídas em forma de casa, com telhado triangular. Ao centro encontra-se um nicho protegido por uma porta de vidro e, no seu interior, destaca-se o painel de azulejos dedicado a Nossa Senhora da Conceição e imagens de Nossa Senhora de Fátima e de Nossa Senhora da Conceição. O painel dedicado a Nossa Senhora da Conceição possui um caixilho em azulejo de tons azuis e brancos com os brasões de Portugal, à esquerda, e do Papa Paulo VI à direita, decoração vegetalista e eucarística, bem como a inscrição “Mater Purissima Ora Pro Nobis” e a datação de 1976-1977. Ao centro encontra-se Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, rodeada de anjos. Esta escultura, atualmente em muito mau estado, é bastante singela representando Maria com as mãos cruzadas sobre o peito, túnica branca com rica ornamentação vegetalista e um manto azul também com decoração. Aos seus pés encontram-se

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anjos alados que se erguem das nuvens. A escultura de Nossa Senhora de Fátima é uma imagem de pequenas proporções e sem grande valor artístico, encontrando-se também em más condições de conservação.

ALMINHAS DA GANDRA OU DA PONTE DO AÇUDE Rua Ponte do Açude nº 111 4440-452 Sobrado À semelhança das anteriores, estas alminhas da Gandra ou de Ponte do Açude inserem-se num conjunto de alminhas construído na década de 1970 na freguesia. A sua tipologia é similar: edificadas em forma de casa, com telhado triangular, encontram-se totalmente revestidas a azulejos, apresentando ao centro um nicho protegido por uma porta de vidro e gradeamento em metal. No interior destacam-se painéis de azulejos dedicados a Nossa Senhora do Carmo (à esquerda), Nossa Senhora da Conceição (ao centro) e da Sagrada Família, à direita, e as imagens de Nossa Senhora da Conceição e de Nossa Senhora de Fátima. O painel dedicado a Nossa Senhora do Carmo, igual ao das alminhas da Pinguela, representa a Virgem numa posição central e de destaque com o Menino Jesus ao colo segurando dois escapulários, existindo ainda, no plano inferior, o resgate das almas pelos anjos. No plano superior sobressai a inscrição “Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando.” O painel central dedicado a Nossa Senhora da Conceição, igual ao da Pinguela ou de Campelo, possui um caixilho em azulejo de tons azuis e brancos com os brasões de Portugal, à esquerda, e do Papa Paulo VI à direita, decoração vegetalista e eucarística, bem como a inscrição “Mater Purissima Ora Pro Nobis” e a datação de 1976-1977. Ao centro encontra-se Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, rodeada de anjos. O painel da Sagrada Família representa Maria, José e Jesus a trabalhar na oficina de José. Esta representação foi executada em azulejos brancos e azuis com rebordo encaixilhado colorido e vegetalista, apresentando na parte inferior a legenda “S. Família”. A escultura de Nossa Senhora da Conceição, presentemente em muito mau estado, é interessante, mas apresenta já o braço direito da Virgem partido. Maria tem túnica branca e manto azulado, destacando-se os quatro anjos em relevo na nuvem sob os pés de Nossa Senhora. Sobres-


saem ainda os cabelos louros de Maria e um rosário envolto na imagem. A escultura de Nossa Senhora de Fátima é uma imagem de medianas proporções e sem grande valor artístico, possuindo também um rosário.

conservação, representa Maria com túnica branca com rebordos dourados e um manto em tom de azul, destacando-se os anjos que se encontram junto dos pés da Virgem e da nuvem. As mãos de Maria estão prostradas sobre o peito. A escultura de Nossa Senhora de Fátima é uma imagem de pequenas proporções e sem grande valor artístico.

ALMINHAS DA BALSA Quinta da Balsa 4440-452 Sobrado

A imagem de Santo António, padroeiro da Balsa, é um pouco diferente do habitual, especialmente no que diz respeito às feições do Santo e do próprio Menino. Descalço, possui hábito franciscano e na mão direita segura uma cruz latina de metal enquanto, na esquerda, sob um livro vermelho, está o Menino desnudo segurando um globo azul.

As Alminhas da Balsa inserem-se no mesmo conjunto de alminhas construído na freguesia na década de 1970, obedecendo à mesma tipologia e que inclui também as alminhas da Gandra, Pinguela e de Campelo. Encontra-se em boas condições de preservação. Construídas em forma de casa e revestidas a azulejos brancos e azuis e com telhado triangular. Um nicho central, protegido por uma porta de vidro e gradeamento em metal, abriga no interior painéis de azulejos dedicados a Nossa Senhora do Carmo e imagens de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Fátima e de Santo António. O painel dedicado a Nossa Senhora do Carmo, ao centro, é igual ao das alminhas da Pinguela e da Gandra, representando a Virgem, numa posição central e de destaque com o Menino Jesus ao colo segurando dois escapulários, existindo ainda, no plano inferior, o resgate das almas pelos anjos. No plano superior sobressai a inscrição “Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando.” A escultura de Nossa Senhora da Conceição, em excelente estado de

ALMINHAS DOS LUBRINHOS OU DO RIBEIRO DA PIORRA Rua de Vilar nº 3 4440-365 Sobrado As Alminhas dos Lubrinhos ou do Ribeiro da Piorra inserem-se no mesmo conjunto das anteriores, com a mesma tipologia e cronologia: a década de 1970. São igualmente construídas em forma de casa, possuindo telhado triangular e revestidas a azulejos brancos, azuis e amarelos. Ao centro, um nicho é protegido por uma porta de vidro e metal pintado de verde. No seu interior destacam-se os painéis de azulejos dedicados à Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora da Conceição, não possuindo, ao contrário das alminhas anteriormente

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esculturas de Nossa Senhora de Fátima e dos três pastorinhos (Francisco, Lúcia e Jacinta) sobre uma pedra, rodeados pelas ovelhas que evocam a ocupação das crianças aquando do seu miraculoso encontro. O ambiente rústico é reforçado pela presença de um poço. As esculturas são simples e brancas, estando os pastorinhos em modo de oração e prostrados de joelhos perante a imagem da Virgem, representada iconograficamente como é habitual nesta dimensão mariana. Maria possui uma pequena coroa dourada e um rosário.

ALMINHAS DE SÃO MIGUEL ARCANJO Rua Santo André nº 192 4440-337 Sobrado

descritas, quaisquer imagens. O painel inferior, dedicado a Nossa Senhora do Carmo, representa a virgem numa posição central e de destaque com o Menino Jesus ao colo segurando dois escapulários, existindo ainda, no plano inferior, o resgate das almas pelos anjos. No plano superior sobressai a inscrição “Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando.” O painel superior, dedicado a Nossa Senhora da Conceição, igual ao da Pinguela, Ponte do Açude ou de Campelo, possui um caixilho em azulejo de tons azuis e brancos com os brasões de Portugal à esquerda, e do Papa Paulo VI à direita, decoração vegetalista e eucarística, bem como a inscrição “Mater Purissima Ora Pro Nobis” e a datação de 1976-1977. Ao centro encontra-se Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, rodeada de anjos. Lubrinhos é a travessa que se encontra adjacente, mas o local é conhecido por Ribeiro da Piorra.

ALMINHAS DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA Rua da Costa nº 304 4440-318 Sobrado Datadas já do século XXI, estas alminhas são em boa verdade um pequeno oratório privado, recriando as aparições de Fátima. Neste conjunto são visíveis as

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As alminhas de São Miguel Arcanjo, datadas do século XX, localizam-se num nicho em cimento sob a forma de uma casa. Possui telhado triangular, estando as suas paredes revestidas a azulejo azul e branco. Ao centro destaca-se um painel de azulejos dedicado a São Miguel protegido por uma porta de vidro. Este painel representa o Arcanjo São Miguel com as suas vestes tradicionais. calcando e espetando uma lança no demónio que se encontra a seus pés e envolto nas chamas do inferno. No plano inferior do painel encontra-se a inscrição “S. Miguel Arcanjo Lembrai-vos das Almas Santas”.

ALMINHAS DA ALDEIA DE SOBRADO Rua Nossa Senhora das Necessidades, 200 4440-452 Sobrado Esta representação vernácula das Almas, num nicho em cantaria granítica aberto na fachada da casa da família Carneiro, construída em 1840, é provavelmente a mais antiga de Sobrado. Protegidas por uma pequena porta de ferro adornada por uma cruz tosca, o interior destas alminhas apresenta uma pintura no seu interior retratando quatro pessoas condenadas, embrenhadas no fogo do Purgatório e uma representação de Jesus na cruz, com vestes a cobrir a cintura e tronco nu, com uma coroa de espinhos, radiante em cor prateada e a inscrição INRI. No plano superior observam-se quatro cabeças de anjo aladas e, no inferior, encontra-se a inscrição “Rezai pelas almas”.


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3.5 | Valongo

SÃO MAMEDE Filho de pais cristãos condenados pela sua fé, Mamede nasceu na prisão e cedo ficou órfão. Após a execução dos progenitores, foi criado por uma viúva rica chamada Ammia, que morreria quando Mamede tinha 15 anos de idade. Segundo a lenda, também Mamede foi torturado devido à sua fé pelo governador de Cesareia e depois enviado ao imperador romano Aureliano, que o torturou novamente. A tradição hagiográfica acrescenta que, contudo, um anjo o libertou e lhe ordenou que se escondesse numa montanha perto de Cesareia, tendo assim início uma relação próxima de Mamede com montes e serras – circunstância que não é alheia ao facto de, posteriormente, ser este o santo escolhido como orago de muitas terras marcadas pela presença de importantes elevações, como será o caso de Valongo. Apesar de isolado na montanha, Mamede descia com alguma regularidade até aos vales, junto das comunidades, apoiando-as e pregando a Boa Nova. Tal acabaria por fazer com que novamente fosse capturado e atirado aos leões, dos quais todavia escaparia tornando as bestas dóceis quando lhes dirigia a palavra. Um dos leões permaneceria, inclusive, como seu companheiro. E foi na companhia desse leão que visitou o Duque Alexandre, que o condenou à morte. Atingido no estômago por um tridente, sangrando, Mamede arrastou-se para um local perto de um teatro antes da sua alma ser levada para o céu por anjos.

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INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO RELIGIOSO Território de grande ancestralidade, a freguesia de Valongo, sede do concelho, apresenta notáveis fenómenos geológicos e mineiros reveladores de remotas eras em que protagonizou o avanço e recuo das águas do mar e o erguer das elevações que modelam hoje a região. Serras, mas também vales, que cedo conheceram a ocupação humana, como nos atestam diversos achados arqueológicos, alguns dos quais remontam aos mais recuados tempos do Paleolítico. Terra fértil, com extensos campos agrícolas mas conhecida também pela sua produção panificadora, que de uma tradição manufatureira evoluiu para relevantes facetas industriais, Valongo é hoje caracterizada por uma significativa área urbana, mas onde são ainda evidentes os traços da sua ancestral ruralidade, seja no traçado do território, seja nos hábitos e devoções das suas gentes, revelando uma assinalável religiosidade, como o atestam múltiplos locais de culto existentes na freguesia. Com uma população de 25.920 habitantes (Censo 2021) e uma área total de 21,8 km2, a freguesia de Valongo confina com as freguesias de Ermesinde (a noroeste), Alfena (a norte), Sobrado (a nordeste) e Campo (a sudeste), encostando a sul ao concelho de Gondomar. É orago de Valongo São Mamede, um santo mártir cuja hagiografia, sintomaticamente, dá destaque à sua relação e vivência nas montanhas, das quais descia para evangelizar o vale.

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IGREJA MATRIZ DE VALONGO Rua Sousa Paupério 4440-452 Valongo A edificação da atual matriz de Valongo remonta ao final do século XVIII, com a demolição da velha igreja paroquial em 1794, na sequência de uma Provisão Régia que, em 1781, concedia a possibilidade de uma nova edificação face à vontade manifestada pelos moradores da freguesia em erguer um novo templo. Embora a sua construção tenha arrancando imediatamente após o derrube da velha matriz, os trabalhos prolongar-se-ão no tempo e por várias fases e confrontar-se-ão com várias vicissitudes incluindo, em 1809, a circunstância de ter sido ocupada como quartel pelas tropas napoleónicas. Nessa altura, e desde 1798, o templo já contava com a capela-mor. Após o período resultante da instabilidade das invasões francesas, assistir-se-á a um novo ímpeto nas obras, registando-se a compra dos dois sinos em 1822, a cobertura do telhado e a celebração de missa a partir de 1823, a execução do arco triunfal em 1828 e da abóbada da capela-mor em 1830. A guerra civil entre liberais e absolutistas, apesar do território de Valongo ter protagonizado alguns episódios importantes no momento decisivo do conflito – o Cerco do Porto entre 1832 e 1833 -, não impediu a continuação dos trabalhos. Curiosamente, e já fruto do novo e triunfante regime liberal e das profundas reformas administrativas que então tiveram lugar, a sacristia da igreja foi utilizada, em 1837, para a primeira reunião de Câmara aquando de elevação de Valongo a concelho. As obras e as aquisições artísticas prosseguirão durante

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as décadas seguintes, como testemunham a execução dos portões de ferro forjado em 1863, a pavimentação do adro a calçada portuguesa em 1877, ou a aquisição do órgão inglês a Peter Conacher & Achi – Huddersfield em 1880. E se é certo que o templo, de arquitetura de inspiração neoclássica (seguindo em parte a traça da igreja da Lapa no Porto) fica basicamente concluído no século XIX, também não deixa de ser verdade que ao longo do século seguinte registou igualmente algumas intervenç es, com destaque, pelo significativo impacto que teve na sua imagem exterior, para o revestimento azulejar da fachada e torres sineiras em 1965, ano em que igualmente se colocou o relógio na torre do lado Este. Este revestimento, a azulejo monocromático azul sobre fundo branco, apresenta cenas da vida de São Mamede e Alegorias da Eucaristia. As torres sineiras, de planta quadrangular, ligeiramente recuadas em relação à fachada principal, possuem dois registos: o primeiro, com painel de azulejos com representação de São Mamede, ornados por moldura decorada com elementos fitomórficos, possui no topo um relógio circular com fundo branco; o segundo, com quatro sineiras, em arco de volta perfeita, albergando os sinos, é rematada por guarda plena de cantaria, sobre o qual se eleva a cúpula octogonal facetada em cantaria. A igreja constitui-se com dois corpos – a nave e a capela-mor – aos quais surgem adossadas as sacristias e outras dependências de apoio. Salientamos a inexistência de transepto, permitindo uma interessante continuidade na “fruição” do espaço religioso.


Na concepção e construção da igreja envolveram-se importantes nomes, como foi o caso dos arquitetos Damião Pereira de Azevedo, Joaquim da Costa Lima Sampaio, José Francisco de Paiva e Teodoro de Sousa Maldonado. Os altares neoclássicos foram concebidos para receber esculturas e pinturas de conceituados artistas oitocentistas, da escola romântica do Porto, como João Baptista Ribeiro, João António Correia e Francisco José Resende. Disso mesmo são exemplo as seis telas dos altares laterais, usadas como velatio, representando Nossa Senhora da Purificação, Nossa Senhora do Rosário, Cristo em Agonia, Adoração da Custódia do Santíssimo Sacramento, São João e Santo António. Também as pinturas das telas do altar – “A Ascensão de Cristo” de João Batista Ribeiro – e do Batistério – “Batismo de Cristo” de Francisco José Resende – são obras de referência obrigatória. Aliás, e para lá da imponência da volumetria que se destaca na paisagem, no interior da igreja de Valongo encontramos um excelente espólio datado do século XIX. Voltemos, pois, a nossa atenção para o interior do templo: A nave divide-se em cinco tramos, marcados por pilastras dóricas, sendo o espaço entre cada tramo preenchido por retábulos ornamentados com elementos neoclássicos. Por cima dos altares rasgaram-se vãos de iluminação que apresentam varandim e sanefa em talha dourada. Os alçados são rebocados e exibem pinturas murais nas paredes sob fundo de tonalidade

verde na nave e cinzento na capela-mor, intercalando todos os vãos. As pinturas aparecem em forma de almofadas decoradas com desenhos de ferragens e querubins. Na capela-mor os registos pictóricos estão inseridos em molduras recortadas com elementos fitomórficos, e neles se exp em os instrumentos da Paixão. Na nave do lado do Evangelho localizam-se três “capelas retabulares” em arco pleno, dedicados a São João Baptista, a Nossa Senhora da Conceição e ao Sagrado Coração de Jesus. Do lado da Epístola, temos um retábulo dedicado a Nossa Senhora de Fátima, seguido de três retábulos de estrutura semelhante dedicados a Santo António, a Nossa Senhora do Rosário e a Cristo Crucificado. Todos os retábulos estão separados da nave por guarda em balaustrada de madeira, possuindo no seu interior pavimento em mármore. Do lado do Evangelho, acessível através de uma porta em ferro forjado, encontra-se o batistério. Do lado oposto uma porta, também em ferro forjado, permite a entrada no coro-alto por escadaria em pedra. O coro-alto está assente em dois arcos abatidos em granito, sustentados por quatro consolas decoradas, também em granito, com guarda em balaústres de madeira pintada a marmoreados fingidos a verde, rosa e castanho. Ao centro encontramos o órgão, sobre uma estrutura de madeira, ao qual regressaremos posteriormente dada a sua especial importância patrimonial e artística.

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A decoração dos tetos reúne um interessante conjunto de pinturas a fresco com motivos relacionados com os Evangelistas na capela-mor. Já a nave é decorada com atributos marianos e da Paixão de Cristo.

azul é adornado com elementos fitomórficos de várias cores. O banco, decorado com elementos vegetalistas apresenta, na base da tribuna, nicho envidraçado com a cabeça de São João Baptista.

Regressemos, pois, à nave e aos seus altares. A esse propósito vale a pena recordar, com base nas “Memórias Paroquiais” de 1758, quais eram as principais devoções no templo anterior, e de que forma subsistiram, ou não, até aos dias de hoje: “ tem a igre a cinco altares a saber o altar do Santíssimo Sacramento que esta na capela mor ( ). Tem o altar do senhor e us o altar de Nossa Senhora do rosário o altar das Almas o altar de Santo Ant nio. destes s este não tem irmandade os de mais sim.”

No interior do retábulo a imagem de São João Baptista é mais recente, datando de final do século XIX/século XX. Escultura de vulto pleno, em madeira pintada, representa São João Baptista em posição frontal com o joelho esquerdo ligeiramente fletido. O seu braço direito está erguido, tendo o dedo indicador a apontar para cima. A cabeça, inclinada para a esquerda, ostenta um resplendor com raios em forma de losango com uma pedra vermelha ao centro. Veste um manto a imitar pele de cordeiro azul e castanha nas bordaduras, colocado na diagonal, deixando grande parte do tronco nu. Sobre o ombro esquerdo cai um manto vermelho ornado com motivos vegetalistas dourados. Tem na mão esquerda o estandarte encimado por uma cruz com a inscrição: “ CC AGN S D I” do lado direito, o cordeiro em barro. A Cabeça de São João, colocada sob a imagem, é o maior símbolo do seu martírio: escultura em vulto pleno em madeira policromada, rosto com expressão realista, assente numa peanha de secção circular.

Nos dias de hoje, no interior da igreja, do lado do Evangelho, o retábulo de São João Baptista, do século XIX e encaixado em arco de volta perfeita, apresenta talha dourada policromada com marmoreados fingidos de cor avermelha, verde e castanho com decoração fitomórfica. Apresenta planta c ncava de um só eixo emoldurado por colunas de fuste estriado e capitéis jónicos, assentes em plintos paralelepipédicos, decorados com motivos vegetalistas, que seguram o entablamento, com um friso decorado com motivos fitomórficos e cornija recortada, encimado por semicúpula decorada com escamas, ladeada por dois anjos de vulto. Ao centro um nicho em arco de volta perfeita envolvido por moldura dourada com fecho de acantos. O fundo

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Ainda do lado do Evangelho encontramos o Retábulo do Sagrado Coração de Jesus, peça do século XIX inserida em arco de volta perfeita, com evocação ao Sagrado Coração de Jesus, encimado por semicúpula em talha dourada decorada com nervuras e motivos fitomór-


ficos. Em talha dourada com marmoreados fingidos a ocre, tem planta de cariz vazada e um só eixo encaixado por colunas de fuste canelado e capitéis jónicos, assentes em plintos paralelepipédicos, adornados com motivos vegetalistas. É coroado por semicúpula, decorada com escamas e dois anjos pequenos. Ao centro abre-se nicho onde se encontra o conjunto escultórico. Um banco decorado com elementos vegetalistas integra o sacrário, com porta decorada. O banco adossado ao altar-urna apresenta frontal decorado com a mesma temática de todo o retábulo.

Ainda do lado do Evangelho e igualmente datado do século XIX temos o retábulo de Nossa Senhora da Conceição, encaixado em arco de volta perfeita, em talha dourada policromada com marmoreados fingidos de cor vermelha, verde e castanho com decoração fitomórfica. De planta c ncava de um só eixo, é emoldurado por colunas de fuste estriado e capitéis jónicos, assentes em plintos paralelepipédicos, decorados com motivos vegetalistas, que seguram o entablamento, com um friso decorado com motivos fitomórficos e cornija recortada, encimado por semicúpula deco-

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rada com escamas, ladeada por dois anjos de vulto. Ao centro encontra-se um nicho em arco de volta perfeita envolvido por moldura dourada com fecho de acantos. O fundo é azul, adornado com elementos fitomórficos de várias cores (vermelho, verde, amarelo e azul). Encontramos ainda neste retábulo as imagens de Nossa Senhora da Conceição (provavelmente do século XVIII e pertencente à antiga Igreja), de Nossa Senhora da Purificação e de São José com o Menino Jesus, ambas do século XX. Nossa Senhora da Conceição, esculpida em vulto pleno e em posição frontal, ergue-se numa nuvem com quatro querubins, sobre globo cercado por uma serpente. Veste túnica branca, com barras douradas e com motivos vegetalistas sob manto azul exibindo estrelas douradas. Usa amículo branco com debrum dourado, que cobre parcialmente os cabelos, ostenta coroa de prata, encimada por cruz e auréola percorrida por estrelas. Nossa Senhora da Purificação é representada de pé, com o Menino ao colo, segurando-o com o braço esquerdo e

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tocando-lhe no pé com a mão direita. O Menino apresenta-se desnudo, sob uma manta. A Virgem veste uma túnica de cor rosa, ornada com motivos vegetalistas dourados, sob um manto azul traçado nas costas com estrelas e motivos dourados. Exibe na cabeça uma coroa de prata que remata por uma esfera encimada por uma cruz. Trata-se, de resto, de iconografia muito corrente nas alminhas do concelho, representada assim como “purificadora” das Almas. Escultura em madeira policromada é a representação de São José, de pé, com o Menino ao colo do lado esquerdo, contendo na mão direita uma vara com lírios brancos. São José veste túnica roxa, usando por cima manto castanho com orlas decoradas com motivos fitomórficos a dourado. Usa na cabeça um resplendor com vidro vermelho ao centro. O Menino enverga uma túnica branca debruada a dourado e tem sobre a cabeça um resplendor semelhante ao de São José. Com a mão esquerda segura o globo e com a mão direita abençoa. O conjunto do Sagrado Coração de Jesus e de Santa


Margarida Maria Alacoque data do século XIX/XX. O Sagrado Coração de Jesus, esculpido em madeira policromada, representa Jesus em vulto pleno e figura de pé. Aponta com a mão esquerda para o seu coração inflamado, relevado, envolto numa coroa de espinhos e resplendor. As mãos e os pés mostram as cicatrizes da crucificação. Enverga t nica verde com debrum dourado, embelezada com motivos vegetalistas. É também uma escultura de vulto pleno a representação de Santa Margarida Maria ajoelhada, com a cabeça inclinada para trás e os braços estendidos para a frente. Veste o hábito agostiniano e ostenta na cabeça um resplendor com pedraria colorida. Saliente-se que a vida desta Santa do século XVII está intimamente ligada às origens e à história da grande devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Destaque ainda neste altar para um par de anjos tocheiros que, para lá da sua função decorativa, assumem-se como suportes de iluminação. Esculturas em madeira policromada a dourado em vulto pleno repre-

sentam um Anjo de pé, segurando com a mão direita a luminária. Elevam-se sobre uma nuvem e usam indumentárias de guerreiro. A capela-mor exibe planta convexa de três eixos limitados por colunas de fuste canelado, com capitéis coríntios, assentes em duplos de plintos. O retábulo-mor, em talha dourada e marmoreados fingidos de cor verde, vermelho e cinzento, data de 1825. No eixo central desenvolve-se uma Tribuna com trono escalonado de seis degraus, decorado com motivos fitomórficos em dourado, por vezes e dependendo do calendário litúrgico, tapado pela pintura da Ascensão de Cristo. Remata com frontão triangular, com a alegoria ao Espírito Santo no tímpano, encimado por pelicano. Os registos laterais integram estatuária sobre mísulas: do lado do Evangelho a imagem do padroeiro, São Mamede, e do lado da Epístola São Pedro. A imagem de São Mamede, padroeiro desta igreja, data do século XIX. O Santo é esculpido em vulto pleno, em madeira policromada, de pé e em posição frontal. Veste túnica

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azul ornamentada com motivos florais estofados a dourados, usa um cinto com um laço à frente, calça sandálias de tiras castanhas, traz ao tiracolo uma sacola e possui um resplendor na cabeça. Segura um livro fechado na mão esquerda e um bordão de pastor na mão direita. O sacrário apresenta porta decorada com resplendor e é emoldurado por um par de colunas de fuste estriado, capitéis jónicos, com friso decorado, encimado por pares de urnas. Remata com falsa cúpula, decorada com escamas, sendo encimada pelo Agnus Dei com estandarte e inscrição “ECCE AGNUS DEI” e Cristo Crucificado. A escultura retratando São Pedro, também ela do século XIX, apresenta-o em vulto pleno, sobre base quadrangular. O Santo usa vestes de Papa, com tiara na cabeça, segurando na mão esquerda a cruz pontifical e na direita as chaves, seu atributo iconográfico. Deste lado da Epístola encontra-se o retábulo de Cristo Crucificado, datado do século XIX e encaixado em arco de volta perfeita. Trabalhado em talha dourada policromada com marmoreados fingidos de cor avermelhada, verde e castanho com decoração fitomórfica, apresenta planta côncava de um só eixo emoldurado por colunas de fuste estriado e capitéis jónicos, assentes em plintos paralelepipédicos, decorados com motivos vegetalistas. Seguram o entablamento, com um friso decorado com motivos fitomórficos e cornija recortada, encimado por semicúpula decorada com escamas, ladeada por dois anjos de vulto. Ao centro encontra-se um nicho em arco de volta perfeita envolvido por moldura dourada com fecho de acantos. O fundo azul é adornado com elementos fitomórficos de várias cores (vermelho, verde, amarelo e azul). No sotobanco o altar adossa-se em forma de urna com Cristo morto. O seu interior apresenta uma imagem de Cristo Crucificado e, abaixo deste, uma escultura de Nossa Senhora das Dores, ambas do século XIX. Destaque também para o retábulo de Nossa Senhora do Rosário do século XIX, localizado do lado da Epístola. Tal como os anteriores é um retábulo encaixado em arco de volta perfeita em talha dourada policromada com marmoreados fingidos de cor avermelhada, verde e castanho com decoração fitomórfica, e apresenta também planta côncava de um só eixo, emoldurado por colunas de fuste estriado e capitéis jónicos, assentes em plintos paralelepipédicos, decorados com

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motivos vegetalistas, segurando o entablamento, com um friso decorado com motivos fitomórficos e cornija recortada, encimado por semicúpula decorada com escamas, ladeada por dois anjos de vulto. Ao centro um nicho em arco de volta perfeita envolvido por moldura dourada com fecho de acantos. O banco é decorado com elementos vegetalistas, apresentando na base da tribuna nicho envidraçado com o Menino Jesus dentro de uma caixa em vidro. Atribui-se ao século XIX a imagem de Nossa Senhora do Rosário deste retábulo, esculpida em vulto pleno, em posição frontal, de pé, com o Menino Jesus no regaço, apoiado no ombro esquerdo, e tendo suspenso na mão direita um rosário. Enverga um vestido rosa orlado a dourado, embelezado com elementos vegetalistas e, sobre ele, manto azul, com decoração idêntica à túnica. O Menino veste túnica branca e segura um livro na mão esquerda. O retábulo de Santo António, também deste lado da Epístola, é igualmente do século XIX. Encaixado em arco de volta perfeita, este retábulo foi construído em talha dourada policromada com marmoreados fingidos de cor avermelhada, verde e castanho com decoração fitomórfica. Apresenta planta c ncava de um só eixo e as mesmas características arquitetónicas dos retábulos anteriormente descritos, apresentando, na base da tribuna, um nicho envidraçado com um cofre em madeira pintada. No seu interior a imagem de Santo António é também do século XIX. Trata-se de uma representação de Santo António com o Menino em vulto pleno. Figura em pé, em posição frontal, segura sobre o braço esquerdo o Menino e na mão direita uma cruz de metal. O Santo veste o hábito da sua ordem religiosa decorada com orla dourada com motivos vegetalistas. As duas imagens ostentam sobre a cabeça um resplendor de metal com vidro vermelho ao centro. Remata o lado da Epístola o retábulo de Nossa Senhora de Fátima, obra do século XX de planta reta, definido por nicho em arco pleno com moldura e filete pintados a dourado. No interior do nicho encontra-se pintada uma representação do Santuário de Fátima. Nossa Senhora de Fátima é aqui representada através de uma escultura do século XX, de vulto pleno e em posição frontal, de pé, com as mãos em oração segurando o terço. Traja uma túnica branca, orlada a dourado sob manto branco com as cercaduras embelezadas com motivos vegetalistas pintados a dourado. Exibe uma auréola


com doze estrelas. A Virgem descalça poisa sobre uma nuvem, numa alusão à descrição da sua aparição aos três pastorinhos. O órgão de tubos da Igreja de São Mamede de Valongo em madeira, cobre (flautas) e vidro, encomendado em 1880 e inaugurado a 6 de Fevereiro de 1881, foi adquirido em Inglaterra à empresa de organaria Peter Conacher e Companhia de Huddersfield pela soma total de duzentas e trinta libras esterlinas pagas à recepção» mais «a despesa com a condução do porto de embarque para esta igreja, direitos, seguro e assentamento» como atestam documentos da época. Apresenta policromia nas flautas em tons de azul, castanho, bege, vermelho, preto e dourado. Tem planta retangular, com consola em madeira envernizada, definida em perfis, com corpo em três castelos, o central saliente e em meia cana, e os laterais retilíneos, surgindo, entre eles, os nichos, com

pequenas rótulas em harpa. O teclado encontra-se na face lateral direita. O conjunto remata em cornija, tendo no centro uma imagem de anjo músico. Figuras representando as alegorias terão sido acrescentadas a posteriori. Na base apresenta uma inscrição: ”LEGADO DO BEMFEITOR DESTA IGREJA E NATURAL DESTA VILLA MANOEL ALVES DE OLIVEIRA QUEIROZ.” Este instrumento da igreja de Valongo, considerado um dos melhores da diocese, tem um só manual e uma pedaleira. O manual tem uma extensão de 56 notas, de Dó a Sol, e dispõe de 8 registos e a pedaleira tem uma extensão de 30 notas e um registo de 16’. A consola é lateral o que permite ao organista ter contato direto com o decorrer das celebrações. Devido às suas medidas e intonação específicas, tem uma sonoridade muito especial e através dos diferentes registos de 8’ e 4’ consegue-se uma variedade notável de timbres

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e volume. A existência de uma terceira na zona grave da Mixture empresta um carácter especial do baixo no Plenum. Inoperacional por volta de 1965, esta notável peça foi sujeita a diversas intervenções de restauro nas últimas décadas, culminando mais recentemente, entre 2009 e 2011, com trabalhos dirigidos pelo Mestre-Organeiro Pedro Guimarães Von Rohden. Além das visíveis nos altares e capelas, a igreja de Valongo possui ainda um notável conjunto de peças que constituem o seu “tesouro”, constituído também por imaginária, ourivesaria e paramentaria de confrarias associadas a alguns dos seus altares. Entre esse espólio permitimo-nos salientar:

Cruz Processional (século XIX – XX), em prata e prata dourada, de configuração latina e secção retangular, com acabamentos trilobados e nó piriforme adornado com volutas, concheados, cartelas ovaladas e asas em forma de volutas. A cruz exibe moldura em todo o limite, decorada com motivos vegetalistas nas extremidades. A imagem de Cristo moribundo, representado em vulto pleno de prata dourada, é rodeada de resplendor raiado de dimensões variadas. Pertencia à Confraria do Santíssimo Sacramento.

Pálio e oito laços (século XX). Conjunto em damasco branco lavrado e decorado com bordados a fio dourado. Sobre o fundo branco do tecido desenvolve-se uma decoração ornamental de motivos vegetalistas, de grande dimensão. O pálio é composto por doze quadros laterais, seis de cada lado, e oito painéis frontais, quatro de cada lado. Os laços, no mesmo tecido, apresentam decoração idêntica.

Cruz Processional (século XIX), de configuração latina e secção retangular, nó em forma de vaso, ornamentado na base junto à haste e no topo por flores de pétalas abertas, bojo embelezado por frisos de flores, folhas e grinaldas, e asas curvilíneas rematadas por volutas. A cruz, moldurada em todo o perímetro e preenchida por temas geométricos de recorte curvilíneo e marcas de punção, apresenta extremidades ornadas por composições de pétalas. A imagem de Cristo está representada em vulto pleno, de cabeça inclinada, em prata dourada, suspensa por três cravos e cercado por resplendor raiado, de dimensões variadas. Oferecida à Confraria do Santíssimo Sacramento da freguesia de Valongo por Manuel Alves Saldanha.

Píxide (século XX) de segmento circular, com base moldurada e gomada, haste em balaústre e copa em calote de globo embelezada com motivos vegetalistas. A tampa é erguida em dois registos, repetindo a deco-

Cruz Processional – Confraria de Nossa Senhora do Rosário (século XIX), de configuração latina em prata e prata dourada; nó em forma de vaso, adornado na base junto à haste e topo por flores de pétalas abertas,

Pano de altar (século XIX). Paramento em tecido branco com bordados a fio de ouro.

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ração da base, e é rematada por esfera com cruz.


bojo decorado por frisos de flores e folhas, grinaldas e duas asas encurvadas de extremos enrolados. A cruz, com moldura, apresenta as extremidades ornadas por composições de pétalas e a Nossa Senhora do Rosário aos pés de Cristo; em prata dourada, está representado em vulto pleno, suspenso por três cravos e circundado por resplendor riscado de dimensões variadas. Pertença da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, foi restaurada pela Confraria das Benditas Almas em 1964. Cruz Processional – Confraria das Almas. Cruz latina de secção retangular, nó piriforme decorado com volutas, vieiras, flores, folhas e querubins colocados lateralmente; na face frontal exibe as almas e na face posterior uma caveira; é rematada por cartela preenchida por motivos vegetalistas e cabeça de um querubim. A cruz ostenta as extremidades trilobadas e adornadas com elementos vegetalistas e querubins. Cristo, em prata dourada, está representado em vulto pleno, suspenso por três cravos e rodeado por resplendor raiado de dimensões variadas. Restaurada pela Confraria das Almas em Abril de 1963. A fundação da Confraria das Almas data de 1670. Turíbulo, com base circular decorada com uma barra de motivos fitomórficos. A parte superior é cónica, apresentando uma barra de elementos vegetalistas vazados. Remata num óvulo com anel saliente para encaixe de uma cadeia de suspensão em três dentes salientes.

Custódia (século XIX), neogótica em metal dourado e vidro, constituída por base redonda erguida em três registos, haste em balaústre com nó em urna e varão circular com lunetas de vidro protegendo lúnula; exibe decoração em frisos, com motivos geométricos, folhas e flores. O hostiário em templete apresenta planta quadrangular, sobrepujado por arco vegetalista formado por aletas simetricamente dispostas em canopial, rematado por cruz latina lisa e sustentado por dois esguios botaréus cogulhados, rematados por pináculos. Da base do hostiário pendem dois tintinábulos. Vara de Juiz (conjunto) (século XIX), de secção circular, formada por dois corpos que encaixam por meio de rosca, haste lisa com a imagem de Nossa Senhora do Rosário em relevo no cimo, remata com uma cruz latina com pontas trilobadas. Pertença da Confraria da Nossa Senhora do Rosário (iniciais S.V.R.). Contraste “Porto Coroa”. Vara de juiz de secção circular, composta por dois corpos que encaixam por meio de rosca, haste lisa com representação do Santíssimo Sacramento em relevo na extremidade superior, coroada por um pião invertido. Pertença da Confraria do Santíssimo Sacramento. Contraste “Porto Coroa”. Vara de juiz de secção circular, constituída por dois corpos que encaixam por meio de rosca, haste lisa com a imagem em relevo de Nossa Senhora com o Purga-

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tório aos pés, alegoria da Confraria das Almas; encimada por cruz latina envolvida por resplendor, com extremidades trilobadas. Propriedade da Confraria das Almas. Possui contraste. Cruz da Visita Pascal (século XX), em forma latina e secção retangular, nó com configuração de rombo e decoração vegetalista (girassóis e folhas de acanto), haste circular de encaixe na vara por rosca, e agarras em forma de volutas rematadas por querubins. A cruz, moldurada em todo o contorno e abundantemente embelezada com motivos geométricos e vegetalistas, apresenta extremidades trilobadas. Cristo é apresentado em prata dourada, em vulto pleno, suspenso por três cravos e cercado por resplendor raiado de dimensões variadas. Inscrição: “INRI”. Naveta e colher (século XIX), em prata com base circular alta, erguida em dois registos. Tem a haste em forma de campânula e formando dois anéis sob o nó em forma de esfera. O corpo principal da peça tem a forma de uma nau e é decorado com elementos vegetalistas, encimado por tampa em duas partes. Base e haste exibem adornos vegetalistas. O recipiente apresenta dois querubins nas extremidades. A cobertura é lisa com duas pequenas cartelas de flores relevadas. A colher está presa por corrente a aro soldado num dos lados junto ao querubim. Sineta (século XIX) de prata, circular, decorada na base

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e no topo por folhas e pétalas abertas. Ao centro a campânula apresenta dois registos, separados por tiras estriadas, o primeiro registo apresenta uma inscrição e no segundo o Santíssimo Sacramento e um ramo de espigas em relevo. A pega é encimada por globo com gomos e rematado com uma piorra. Inscrição: “Pertença da confraria do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Valongo, 1856” Custódia do Santíssimo Sacramento (1895), em prata, prata dourada e vidro, com base em forma semelhante à do prisma, decorada com volutas, flores, folhas, assente em quatro pés enrolados em forma de volutas, haste em forma de urna alongada e decorada com motivos florais, e hostiário circular, com lunetas de vidro e lúnula em querubim, cercado por resplendor de raios e com dimensões variadas. Oferta da “Exma. D. Maria Thereza Villar de Vallongo, 1895”. Contraste “javali do Porto”. Bandeja (conjunto) (século XIX) de prata, de configuração oval recortada, decorada no bordo com folhas de acanto e parras de uva, intercaladas com ovados e cartelas ornamentados com atributos da paixão. O fundo é liso, com inscrição: “oferecida pela Exma. Senhora Teresa da Vila de Valongo, em 1895”; “comprada pela confraria”. Ourives, J.A. Porto. Cálice e Patena (século XIX), cálice de base redonda e recortada, adornada com motivos florais inseridos em


cartelas formadas por volutas, haste em balaústre com nó em forma de urna, decorado com elementos vegetalistas. A base da copa é em prata lavrada e vazada com volutas, concheados e floreados, ao centro exibe pequenas cartelas com alegorias da paixão; a copa é lisa e dourada. A patena é em prata e prata dourada, de secção circular e lisa. Lanterna Processional – conjunto de oito peças (século XX). Lanterna processional em prata e vidro, formada por dois corpos articulados e ligados por dobradiça. A candeia, de formato hexagonal, é encimada por cúpula com lanternim e remata com uma cruz latina decorada com flores-de-lis nas extremidades das hastes; ostenta uma decoração em relevo vegetalista intercalada com motivos geométricos circulares e ovalados, vazados no corpo superior. O suporte é constituído por mastro para encaixe de vara e braços de ligação à luminária, lisos e cilíndricos com piorra ao centro. Inscrição: “Oferecidas pelo povo de Valongo ao Sagrado Santíssimo Sacramento em 1946”. Coroa de Nossa Senhora do Rosário (século XIX) em prata, de base circular lisa; cesto decorado por elementos fitomórficos e vegetalistas em relevo. Seguem-se quatro hastes curvas, ornamentadas com flores e folhas, que se unem na base de uma esfera lisa, encimada por cruz com braços trilobados. Era propriedade da extinta confraria de Nossa Senhora do Rosário.

Coroa – comemoração dos 75 anos das Aparições de nossa Senhora de Fátima (1998), de ouro e de secção circular e decoração vazada. Possui um anel dividido em dois registos, um friso de pedras, rubis, pérolas, esmeraldas e diamantes brilhantes; e um segundo completamente liso de onde saem oito hastes curvas, decoradas com pedras preciosas, que se unem na base de um círculo apresentando no centro uma perola branca. Remata com resplendor raiado em forma de cruz latina com pedras preciosas. A coroa está dentro de um estojo de madeira, revestido a veludo vermelho. Resplendor de Nosso Senhor do Calvário (século XVIII) em prata, prata dourada e pedras de cor púrpura, em forma de losangos sobrepostos e diferentes tamanhos, com feixes de raios prateados e dourados. Ao centro surge um elemento decorativo com pedras e uma cruz no meio. Em baixo, o resplendor possui espigão para colocação na imagem de Nosso Senhor do Calvário. Pertencia à extinta confraria. Jarro para a água (século XIX) em prata e com pé redondo, de dois registos e asa encurvada com pontas enroladas. Apresenta decoração em relevo com folhas, parras e cachos de uvas. O bojo é ornamentado com motivos vegetalistas relevados semelhantes aos da base. A asa é decorada por folhas de acanto em revelo; o colo e bico são planos. Inscrição: “Pertença da Confraria do Santíssimo Sacramento da Vila de Valongo, 1895”. Existe outro jarro de água, semelhante com a inscrição:

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“Dádiva da Exma. Senhora Maria Teresa da Vila de Valongo em 1895”. Ourives, J.R.T. Casula Romana (século XX) em seda ricamente decorada com bordados executados em seda de várias tonalidades e fio de ouro. Destaque para as costas da casula, que apresentam maior exuber ncia de bordados florais dispostos em cruz latina, e ao centro a inscrição IHS, em detrimento da frente. Dalmática e Alva (século XX), peça de vestuário que integra o traje litúrgico da Igreja Católica. É colocada sobre a alva (túnica), com aberturas dos lados, as mangas são largas e curtas. É em brocado branco com relevos em dourado enriquecido com debruns dourados. Casula Romana (século XX), em seda lavrada com motivos vegetalistas e ornamentada com galões dourados. Capa de asperges (século XX), capa de asperges/ pluvial, semicircular, com capuz. Tecido em seda com decoração de padrão floral e galão metalizado. Capuz no mesmo tecido, orlado com galão e franja em fio laminado de metal dourado. Aperta com fivela dourada na frente. A peça é forrada. Missal (1710), usado para a celebração da liturgia católica; com capa em veludo vermelho com embutidos em prata, decorados com motivos fitomórficos nos cantos e ao centro. Era propriedade da Confraria das Almas,

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como atesta a decoração, localizada no centro, em relevo, à Virgem da Purificação e às Almas do Purgatório. Estola, de dupla face em tecido decorado com motivos florais e brocado de cor purpura na outra face. Remata com franjas de várias cores. Alva, Casula Romana e Véu de Ombros ou Umeral (século XIX), o véu possui forma retangular de brocado branco e ouro formando decoração floral, formado por quatro panos. Guarnecido com debruns em fio de ouro. Tem duas fitas de cetim com borla dourada. Caldeirinha e Hissope (século XIX). Caldeira para água benta, em prata, de secção circular em três registos escadeados, decorada por friso de folículos. A base do bojo exibe decoração com pétalas abertas, encimada por um friso ornamentado com flores em botão, folhas de acanto, volutas e cartela com inscrição. A parte superior é afunilada e sem decoração. A pega prende-se por dobradiça ao colo e terminando em volutas. O hissope ostenta a mesma tipologia decorativa da base e bojo da caldeira. Inscrição: “Oferecida à Confraria do Santíssimo Sacramento da Vila de Valongo, por Manuel Thomaz José dos Santos em 1861”. Caldeirinha e Hissope (século XIX), caldeira em prata para água benta com base circular de três registos. O bojo inferior é decorado com gomos. O bojo superior ostenta friso florido, folhas e cartela com inscrição. A


parte superior é lisa e afunilada. A asa é em forma de volutas, presa por dobradiças. O hissope é liso. Inscrição: “Mandada fazer pela Confraria das Almas da Vila de Valongo em 1861, sendo tesoureiro J.C Neves e Silva”. Dalmática e Alva (século XIX). Peça do traje litúrgico, a dalmática é colocada sobre a alva (túnica branca). É aberta dos lados, com mangas largas e curtas, em brocado com relevos em fio de ouro. Pálio – Senhor dos Passos (século XIX?), de cor purpura e dourado, de oito varas, com 20 sanefas e oito laços. Paramento em seda ricamente bordado com motivos florais e cachos de uvas, em fio de ouro. Os contornos da peça são definidos com galão em fio de seda e fio laminado de metal dourado. As sanefas e os laços são igualmente guarnecidas com motivos florais e com franja, no mesmo material. É ainda usado na procissão do Senhor dos Passos. Bandeira da Irmandade do Senhor dos Passos em tecido de tonalidade púrpura com bordados em dourado. Possui uma frontaleira decorada com bordados de tema vegetalista e remata com franja em fio metálico. Ao centro ostenta um medalhão com a Cruz de Cristo. A bandeira é cortada no fundo em duas saliências, debruadas a dourado. Verdadeiro tesouro da igreja de Valongo é também um valioso conjunto de pinturas do século XIX, nomeadamente do notável pintor João Baptista Ribeiro (17901868), muitas das quais em depósito no Museu Municipal:

A Coroação da Virgem (século XVII). Pintura a óleo sobre tela e madeira, localizada na sacristia. Segundo a hagiografia da Virgem o tema aqui representado é a última etapa da vida de Maria: chegada ao Reino Celeste, recebe das mãos de Deus Pai a coroa que lhe irá conceder o título de Rainha. A Virgem Maria surge no centro da cena pictórica, veste um hábito branco de religiosa com a cruz de Malta no meio do peito. Com a sua mão direita segura o manto e com a esquerda ergue uma espada. Ladeada pela figura de Deus e de Cristo, sobre a sua cabeça surgem querubins e uma pomba branca, simbolizando o Espírito Santo. Desconhece-se a origem da obra. Cristo Crucificado (Cristo em Agonia) (século XIX), pintura a óleo sobre tela em depósito no Museu Municipal de Valongo. Autor: João António Correia (17901868). Pintura retratando o Calvário de Cristo pregado na cruz por quatro cravos, com os pés colocados lado a lado, assentes numa base em madeira. A figura de Cristo apresenta-o em agonia, com a cabeça elevada, coroada por espinhos e uma auréola luminosa. As feições do rosto exprimem o sentimento de martírio de Cristo. O tronco é exposto com um grande rigor anatómico, ligeiramente curvado e com grande realismo na representação dos ferimentos. O cendal branco está cruzado sobre a cintura deixando as pontas a esvoaçarem sobre o lado direito. O topo superior da cruz apresenta uma inscrição: “JES NAZAREN REX JUDEORUM” em várias línguas. A representação de Cristo surge envolvida por uma paisagem rural.

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Nossa Senhora do Rosário (século XIX), originário de um dos retábulos da nave, do lado da Epístola, atualmente encontra-se em depósito no Museu Municipal de Valongo. Autor: João Batista Ribeiro (1790-1868). Pintura a óleo sobre tela alusiva a Nossa Senhora do Rosário com o Menino no colo e São Domingos de Gusmão ajoelhado aos seus pés. No registo superior da pintura está representado, em várias tonalidades, o céu e dois querubins pendurados nas nuvens. A Virgem em posição majestática, sentada, veste uma túnica vermelha envolvida por um manto azul descaído sobre o ombro esquerdo, exibindo sobre a cabeça um véu branco que cobre parcialmente os cabelos atados, caindo sobre o ombro direito; na mão direita segura um rosário. O Menino encontra-se deitado no colo da Mãe, desnudo, com o braço direito estendido na direção de São Domingos. A figura de São Domingos, ajoelhado, traja o hábito dominicano com as mãos entrelaçadas segura um terço. Nossa Senhora das Almas (Nossa Senhora da Purificação) (século XIX), originário de um dos retábulos da

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nave, do lado do Evangelho, encontra-se atualmente em depósito no Museu Municipal de Valongo. Autor: João Batista Ribeiro (1790-1868). Pintura a óleo sobre tela alusiva a Nossa Senhora das Almas/Nossa Senhora da Purificação. Assente sobre uma pedra, aos pés da Virgem surgem as labaredas do Inferno e entre elas a representação das Almas do Purgatório. A Santa enverga uma túnica vermelha e sobre a cabeça e ombros cai um manto de cor azul, tem a mão direita erguida para o céu, como se estivesse a indicar o caminho celeste às Almas e a com a mão esquerda segura o Menino desnudo em posição de oração. No canto inferior esquerdo encontram-se dois anjos vestidos de vermelho. No plano inferior da composição podemos observar as Almas, com os braços erguidos em direção à Virgem, pedindo salvação do Inferno. São João Batista (século XIX), originário de um dos retábulos da nave, do lado do Evangelho, encontra-se atualmente em depósito no Museu Municipal de Valongo. Autor: João Batista Ribeiro (1790-1868). Pintura a óleo sobre tela alusiva ao jovem São João Baptista, sentado


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num penedo com as pernas tombadas para o lado esquerdo. O Santo veste um cerdal em pele, exibindo o tronco nu com grande perfeição anatómica. Ostenta a mão esquerda elevada, erguendo o dedo indicador. Do lado direito do Santo surge um cordeiro em posição frontal, é acarinhado pela mão direita de São João Baptista, que simultaneamente segura o estandarte com a inscrição: “ECCE AGNUS DEI”. Santo António com o Menino (século XIX), originário de um dos retábulos da nave, do lado da Epístola, atualmente encontra-se em depósito no Museu Municipal de Valongo. Autor: João Batista Ribeiro (1790-1868). Pintura a óleo sobre tela alusiva a Santo António, em posição frontal, com o Menino Jesus ao colo. Traja o hábito franciscano e exibe sandálias com tiras; com o braço direito segura um manto branco onde se encontra deitado o Menino nu e com a mão esquerda segura as pontas do manto e mostra um crucifixo. A coroar a cabeça do Santo encontra-se uma auréola. Santíssimo Sacramento (século XIX), originário de um dos retábulos da nave da igreja de Valongo, do lado da Epístola, atualmente encontra-se, à semelhança das anteriores, em depósito no Museu Municipal de Valongo. Autor: João Batista Ribeiro (1790-1868). Pintura a óleo sobre tela alusiva ao Santíssimo Sacramento que se apresenta rodeado por uma glória de dez anjos e seis querubins. No centro da composição

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pictórica ergue-se um anjo que agarra, com os braços esticados, o Santíssimo Sacramento; o anjo assenta numa base de madeira, sustentada por dois querubins. No registo inferior três anjos assintem à glorificação do Santíssimo Sacramento. Quadro das Indulgências (século XVIII, 1753), localizado na sacristia da igreja. Pintura a óleo sobre madeira de autor desconhecido. Quadro de indulgências da Confraria de Nossa Senhora da Purificação e ou Confraria das Benditas Almas de Valongo, escrito a ouro sobre fundo azul e moldura de madeira pintada a castanho, ornamentada nos cantos com folhas de acanto. Ascensão de Cristo (século XIX). Pintura a óleo sobre tela, localizado no retábulo da capela-mor, de autoria de João Baptista Ribeiro. Pintura alusiva à Ascensão de Cristo, nomeadamente a sua presença junto dos discípulos 40 dias após a Ressurreição. No plano inferior da composição pictórica surgem os doze apóstolos, em tamanho natural, divididos em dois grupos, com São Pedro a preencher o lugar de destaque na ligação entre os dois grupos que observam extasiados a figura de Jesus Cristo que surge num registo superior, a elevar-se sobre os apóstolos. Batismo de Cristo nas margens do rio Jordão (século XIX, 1878), tela de autoria de Francisco José de Resende, junto ao batistério, do lado do Evangelho. Pintura a


óleo sobre tela restaurada em 1957 e 2022, alusiva ao Batismo de Jesus Cristo nas margens do Rio Jordão acompanhado por São João Baptista. Na composição a figura de Cristo está de pé, em posição frontal, com água a cobrir os tornozelos, a cabeça curvada na direção de São João Baptista. Veste um manto branco colocado na diagonal, exibindo parte do corpo nu. São João Baptista é retratado de pé nas margens do rio Jordão, com as pernas afastadas e ligeiramente fletidas na direção de Cristo. Com a mão direita sobre a cabeça de Cristo derrama a água do batismo. O Santo enverga uma pele castanha, na diagonal, que cobre parte do corpo; com a mão esquerda segura o estandarte. No canto superior direito, surge uma pomba branca simbolizando o Espírito Santo. Merecem igualmente referência, na sacristia da igreja, algumas esculturas: – São Mamede ainda jovem (século XVII), em madeira policromada e estofada, em vulto pleno, de pé e em posição frontal. Na mão direita segura um livro de cor verde, veste túnica vermelha comprida com ramos de flores pintados em dourado, com orla também dourada. Calça botas escuras. Admite-se que a sua proveniência possa ser da antiga matriz de Valongo. – Quatro Evangelistas (São Marcos, São João Evangelista, São Mateus e São Lucas), datados do século XVIII. Conjunto escultórico em madeira dourada alusiva, os evangelistas apresentam-se em vulto pleno, de pé, sobre peanha de decoração tardo-barroca, de secção quadrangular. São Marcos é representado de barbas e cabelos ondulados, vestes esvoaçantes, segurando o livro do seu Evangelho na mão direita e a pena na mão esquerda. Como atributo tem o leão a seus pés. São João Evangelista o mais jovem, tem como atributo, para além da pena e evangelho, uma águia. São Mateus, apóstolo e autor do primeiro evangelho, iconograficamente segura o evangelho aberto na mão direita e a pena na mão esquerda e faz-se auxiliar por um anjo. São Lucas está exposto agarrando o Evangelho aberto na mão esquerda e faz-se acompanhar do seu atributo, um touro.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA HORA Largo Senhora da Hora 4440-507 Valongo Pretende a tradição que esta capela seja a mais antiga do concelho, erguida entre os séculos IX e XI e nesses tempos primordiais dedicada a Santo Antão. Trata-se, obviamente, de uma cronologia pouco credível. Contudo, esta narrativa e memória popular acabam por chamar a atenção para uma origem deste espaço sacro em épocas provavelmente muito anteriores aquelas que a atual fisionomia da capela efetivamente deixa transparecer, e que será resultado de reformas que o templo recebeu ao longo dos tempos, a última das quais em 2021. Celebrada a 13 de maio ou no domingo mais próximo dessa data, Nossa Senhora da Hora é invocada para socorro no parto como protetora das grávidas. A capela apresenta planta retangular e paredes graníticas caiadas. A nave única é coberta por telhado de duas águas, com cruz no vértice e pináculos nos extremos. Na fachada principal abre-se a porta de acesso, sobre a qual se encontra o sino, havendo outra na fachada lateral, com um nicho onde se insere a imagem de Nossa Senhora da Hora, protegida por uma grade de ferro e vidro, possuindo ainda caixa de esmolas. O retábulo-mor da capela, de gosto neoclássico e com

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Tem ainda um resplendor de metal com pedra vermelha sobre a cabeça. Atribuída ao mesmo período (séculos XVIII/XIX) é a imagem de São Gonçalo, escultura de vulto, em madeira policromada e dourada representando o Santo de corpo inteiro, de pé, hábito dominicano ornamentado com temas vegetalistas em dourado. Apresenta a mão direita erguida segurando báculo e na mão esquerda tem um livro aberto. Possui resplendor idêntico ao de São Simão. A imagem de Santo Antão, igualmente deste período, é uma escultura de vulto em madeira, representando o Santo com o hábito da Ordem Antoniana. Veste, por cima da túnica, uma capa, com capuz de gola levantada atrás no pescoço, de cor escura, com motivos vegetalistas dourados ao centro e rematada por um filete. No braço direito segura um báculo e com a mão segura um livro com capa castanha. provável datação do século XIX, é em madeira pintada de branco com elementos decorativos em dourado. No registo central destaca-se a imagem da padroeira da capela, Nossa Senhora da Hora, colocada num trono, ladeada por dois nichos com as imagens de São Simão e São Domingos. Escultura de vulto pleno, nela Nossa Senhora da Hora, em madeira policromada, enverga uma túnica simples cor-de-rosa e uma capa sobre os ombros azul com debrum dourado, tendo junto à orla uma barra com motivos vegetalistas. A Santa exibe uma coroa de metal dourado de onde cai um véu esbranquiçado. Com a mão direita segura um cetro dourado e no braço esquerdo carrega um pano branco, no qual está sentado o Menino nu, que exibe um resplendor circular dourado com uma pedra no centro. Nossa Senhora da Hora encontra-se adornada por um conjunto de joias, um par brincos e colar, em prata com cristais encrustados, oferta de uma devota em agradecimento por uma dádiva. Dos séculos XVIII/XIX é a imagem de São Simão. Escultura de vulto, em madeira policromada e dourada, São Simão veste uma túnica azul com motivos vegetalistas em dourado. Das suas costas sai uma capa que envolve parte do corpo, de cor vermelha com debrum dourado, tendo junto à orla uma barra com motivos vegetalistas. O Santo apresenta-se com os seus atributos: uma serra na mão esquerda e um livro entreaberto na mão direita.

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CAPELA DE NOSSA SENHORA DA LUZ Praça Machado dos Santos 4440-452 Valongo A capela de Nossa Senhora da Luz, também conhecida como Nossa Senhora das Neves, celebra esta evocação mariana a 5 de agosto. Referida no ”Catálogo dos Bispos do Porto” desde 1623, a sua construção remonta contudo ao ano de 1580, tendo sido restaurada em 1754 e reedificada em 1878. Apresenta uma fachada simples rematada por um frontão triangular, com revestimento a azulejo industrial verde de secção retangular. No eixo do corpo central dois degraus dão acesso à porta que é encimada por um janelão. A fachada fecha com uma cruz ladeada por dois pináculos cónicos. Do lado esquerdo encontra-se uma pequena torre sineira encimada por um arco de volta inteira granítico que alberga um sino. De planta retangular e nave única, tem o altar estucado, teto e paredes pintados com cenas da vida da padroeira. Tem a particularidade de ter sido desmontada e transferida do centro da praça para a atual localização em 1878. A praça já existia em 1594 como campo de Nossa Senhora da Luz e, com a implantação da República, é Machado dos Santos que lhe atribui a atual denominação. Mais recentemente, resultado de


intervenção de requalificação urbanística em 2000, passou a denominar-se também como Praça da Água. Lancemos um olhar ao interior da capela. Atribuído ao século XVIII, o retábulo-mor de Nossa Senhora das Neves/Luz é uma estrutura retabular com mesa de altar, marcenaria lavrada, dourada e com aplicação de camada cromática de cor branca. Apresenta estrutura arquitetónica com características rocaille, onde se destacam as folhas de acanto em enrolamentos de voluta com dourado. Os tramos laterais são ladeados por um par de pilastras lavradas. O remate superior apresenta elementos rocaille entalhados e dourados, enquadrados entre segmentos de frontão. Apresenta no centro uma cartela com o cálice eucarístico em relevo. O retábulo tem três nichos: ao centro a padroeira da capela, do lado do Evangelho a imagem do Sagrado Coração de Jesus e do lado da Epístola a figura do Imaculado Coração de Maria. A imagem de Nossa Senhora da Luz é atribuída ao século XVII. Escultura de vulto pleno, em madeira policromada, representa Nossa Senhora das Neves/Nossa Senhora da Luz de corpo inteiro, de pé, de frente, pousada sobre nuvens com quatro anjos querubins. Tem o Menino Jesus seguro pela sua mão esquerda e com a direta agarra o pé descalço do filho. Traja vestido e manto policromados, com decoração estofada e dourada com flores, em tons de azul e rosa. Sobre a cabeça cai um manto azul em seda, com bordados dourados que cobre toda a imagem. O Menino Jesus veste túnica verde com decoração em dourado.

O retábulo colateral de Santa Águeda e de Santa Teresinha do Menino Jesus data do século XIX/XX. Em madeira pintada de branco, exibe decoração exuberante, com volutas e cornucópias entrelaçadas, em dourado. Santa Águeda e Santa Teresa apresentam-se no centro, lado a lado, sobre duas peanhas. A escultura de vulto pleno em madeira policromada que representa Santa Águeda Mártir apresenta rosto arredondado com cabelos presos encimados por coroa em metal. Veste túnica e manto policromados com decorações em dourado. Ostenta, como atributo do seu martírio, uma bandeja circular com dois seios cortados, que segura pela sua mão esquerda, enquanto do lado contrário segura uma folha de palma. Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face (1873 – 1897) é esculpida em vulto pleno, em posição frontal, traja o hábito de Ordem das Carmelitas Descalças, segura sobre o peito um crucifixo decorado com flores de várias tonalidades. O retábulo colateral de Santa Apolónia e Santa Rita é do século XIX/XX. Em madeira pintada de branco, exibe decoração exuberante, com volutas e cornucópias entrelaçadas, em dourado. Santa Apolónia e Santa Rita apresentam-se no centro, lado a lado, sobre duas peanhas. A escultura de vulto pleno representando Santa Rita apresenta a cabeça inclinada para a esquerda, os braços fletidos, segura um crucifixo na mão direita e na esquerda uma palma com três coroas douradas enfiadas. Veste hábito da Ordem dos Agostinhos, túnica preta cintada, manto da mesma cor, com decorações douradas na base, que lhe cai sobre a cabeça. Santa Apolónia é representada em vulto pleno,

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Exibe na cabeça um resplendor semicircular, idêntico ao de Santa Ana; veste túnica verde sobre a qual cai um manto em tons de castanho e cor de laranja, decorado com motivos vegetalistas dourados. O Menino Jesus, desnudo, possui cabelos castanhos e encontra-se sentado sobre o braço esquerdo do Santo. A devoção a Santa Filomena de Roma remonta ao século XIX, após as escavações arqueológicas nas catacumbas de Priscilia em Roma. A sua escultura nesta capela é em vulto pleno retratando a jovem santa que apresenta uma coroa sobre os seus cabelos compridos. Veste uma túnica simples cor-de-rosa e branca e, na base, encontram-se as flechas e o arco/besta associadas ao seu martírio. Santo Amaro esculpido em vulto pleno, encontra-se de pé e em posição frontal, traja hábito de frade com o capuz sobre a cabeça. Na mão esquerda exibe um livro fechado e na mão direita o báculo. numa figura de pé, envergando vestes semelhantes a uma princesa. Exibe na mão esquerda uma tenaz com um dente, símbolo do seu martírio. Na parede do lado do Evangelho, assente numa peanha, encontra-se a imagem de Santo António. A escultura de vulto pleno representa o Santo com o Menino, em posição frontal. Veste o hábito de cor castanha escura debruado a dourado, exibe na base uma decoração vegetalista também em dourado com pedras vermelhas e brancas. Na cintura tem um cordão em dourado com nós e um rosário no seu lado esquerdo. O Menino Jesus está sentado sobre um livro de capa vermelha aberto. Esta imagem veio substituir uma outra, bem mais antiga, igualmente de Santo António, protetor dos pobres e dos padeiros, que foi roubada. No corredor de acesso à sacristia encontram-se algumas esculturas de cariz religioso, nomeadamente de Santa Ana, São José, Santa Filomena de Roma, Santo Amaro e São Joaquim. Santa Ana é representada com cabeça coberta, exibindo resplendor semicircular em metal com pedra vermelha, olhando para a esquerda. Tem a mão esquerda sobre o peito e mão direita levemente erguida e aberta; enverga túnica e manto policromados com muitos drapeados ornados a dourado. Assenta sobre pequena base. São José, com o Menino, é uma imagem em vulto pleno, de madeira policromada, com barba e bigode.

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Igualmente escultura de vulto, em madeira policromada e dourada, é a que representa São Joaquim. O Santo apresenta-se de pé, ligeiramente inclinado sobre o seu lado esquerdo, mão esquerda levantada, para segurar um atributo, uma vara; e a mão direita está colocada sobre o peito. Veste túnica azul e manto vermelho e laranja com orlas em dourado.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DOS CHÃOS Rua Nossa Senhora dos Chãos 4440-452 Valongo A capela de Nossa Senhora dos Chãos (celebrada com procissão no primeiro domingo de setembro), localizada num dos pontos mais altos de Valongo e de onde se possui uma ampla perspectiva que se estende até ao mar, foi edificada em 1625 como pagamento de uma promessa de um mareante, de seu nome Tomé António, à Virgem Maria, por sobreviver a uma tempestade em alto mar, como relata a inscrição colocada por cima do portal principal. Já referida nas “Memórias Paroquiais” de 1758, foi objeto de várias modificaç es e restauros ao longo dos tempos, tendo os últimos ocorrido entre 2022 e 2023. De planta retangular e nave única, a capela possui telhado de duas águas com cruz e pináculos, e a estrutura granítica é caiada. A fachada principal tem ao


centro uma porta com janela vidrada, que é ladeada por duas janelas. No interior, o altar-mor é do período barroco e inclui três registos: duas tábuas com pintura e ao centro a imagem de Nossa Senhora dos Chãos do século XVIII (restaurada entre 2020 e 2022). Escultura de vulto, em madeira policromada, representa Nossa Senhora dos Chãos com o Menino ao colo. A Virgem apresenta-se de corpo inteiro, de pé, de frente. O Menino Jesus, colocado sobre o braço esquerdo e amparado pela sua mão direita, veste um manto ricamente ornamentado, policromado, com decoração dourada de flores e motivos geométricos. O vestido da Virgem é verde e dourado sobre o qual cai em diagonal o manto azul, vermelho e dourado. Sobre os longos cabelos loiros exibe uma coroa de prata com pedras. O Menino Jesus, nu, de cabelo loiro, apresenta os dois braços abertos. Ainda no retábulo-mor, do lado da Epístola, observa-se uma Visitação: pintura alusiva ao encontro da Virgem e Santa Isabel, a cena decorre em primeiro plano, estando as duas figuras representadas no momento em que se abraçam, na origem da palavra “visitação”, que em Grego significa saudação, mas a que foi atribuído o sentido de “abraço”. Santa Isabel ajoelha-se junto de Maria, com a cabeça coberta por um véu branco, vestido vermelho e capa, abraçando a Virgem na cintura. Maria, em posição frontal, de pé, traja um vestido idêntico ao da prima, tem a cabeça coberta

com um véu branco coroado por uma auréola. Em segundo plano¸ espreitando por uma abertura, surge a cabeça de Zacarias, de cabelo e barbas brancas. Atrás da Virgem surge uma figura masculina, provavelmente São José, que veste túnica azul com capa castanha e com as mãos em posição de oração. Do lado do Evangelho o retábulo-Mor apresenta uma Anunciação, pintura representando o episódio da Anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem. Maria apresenta-se de corpo inteiro, num espaço interior, sentada com as mãos cruzadas à altura do peito e um livro aberto sobre a mesa. Enverga túnica vermelha e manto azul-escuro e, colocado sobre a cabeça, um véu branco. Do lado esquerdo, e num registo ligeiramente superior, Gabriel, o mensageiro divino, apresenta-se de pé, com túnica amarela e asas estilizadas, alongadas na vertical. No topo da composição pictórica surge uma pomba branca, símbolo do Espírito Santo.

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traja o hábito de Ordem dos Carmelitas Descalços, capa branca sobre os ombros ornamentada a dourado. Segura sobre o peito um crucifixo decorado com flores de várias tonalidades.

CAPELA DE SANTA EUFÉMIA DE SUSÃO (antiga) Rua Padre Miguel Paupério do Vale 4440-687 Valongo A antiga capela de Susão, dedicada a Santa Eufémia, foi edificada no final do século XVIII no n cleo rural do Susão, enquadrada por casas agrícolas. Tem planta retangular, nave única granítica, telhado de duas águas com cruz no vértice e um pequeno campanário. Apresenta uma galilé que cobre a porta principal, um muro e um portão com gradeamento. Integrava, no interior, um altar barroco mais antigo (provavelmente proveniente da primitiva Igreja Matriz de Valongo). No interior, recentemente restaurado (2019-2023), destaque para o retábulo-mor de estilo barroco nacional, em madeira lavrada com folha de ouro, policromada a branco, com fecho em arcos concêntricos de volta perfeita. O vão central do retábulo é preenchido por um fundo liso com uma escultura de Nossa Senhora assente sobre uma base suportada por dois anjos que alberga a caixa do sacrário, ricamente decorado. Um par de colunas de fuste espiralado delimitam o tramo central, decorado com folhas de parra, cachos de uvas e pássaros, que rematam com capitéis coríntios sobre os quais corre um entablamento. É do século XX a imagem de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face existente nesta capela. Santa Teresinha, esculpida em vulto pleno, em posição frontal,

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Outra escultura visível na capela é a de São José, datada do século XIX. Escultura de madeira policromada, representa São José com o Menino Jesus sentado no seu braço esquerdo que traja uma túnica branca lisa. Em vulto pleno, São José apresenta-se com barba e bigode castanhos, vestindo túnica azul sob manto castanho com uma faixa dourada, decorada com motivos vegetalistas. Com a sua mão esquerda segura uma haste de flores brancas.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA SAÚDE DE SUSÃO Rua da Outrela 4440-687 Valongo Mais recentemente, a capela de Susão (nova) dedicada a Nossa Senhora da Saúde (com festa no último domingo de julho também dedicada a Santa Eufémia), que teve a sua sagração em 1974 por D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, veio substituir no culto a velha capela de Susão, que passou desde então a designar-se como Capela Velha de Susão. Esta localiza-se a algumas dezenas de metros de distância do velho templo e apresenta planta retangular, nave única, telhado de duas águas irregular com cruz no vértice, e uma torre sineira quadrangular coberta por cobertura piramidal, do lado esquerdo do edifício. A fachada principal tem a porta encimada por óculo com vitral em forma de Cruz de Cristo, bem como revestimento a azulejo com dois painéis que lateralizam


a porta: à esquerda Nossa Senhora da Saúde e à direita Santa Eufémia. O interior da capela nova de Susão é bastante amplo e iluminado. O acesso à capela-mor é sublinhado por três degraus em granito. Do lado do Evangelho, numa peanha, está a imagem de Nossa Senhora da Saúde e do lado oposto, a de Santa Eufémia. Junto à mesa do altar encontra-se a escultura de grande envergadura de Cristo Crucificado.

tismo, ostentando os braços elevados e fixados através de cravos metálicos. Na cabeça, ligeiramente tombada para a esquerda, apresenta uma coroa de espinhos. Traja um cendal atado nas ancas através de um nó. Os pés sobrepõem-se e são igualmente cravados na haste vertical. Em todo o corpo são visíveis representações de ferimentos com corrimento de sangue.

A imagem de Nossa Senhora da Saúde datará dos séculos XVIII-XIX. É uma escultura de vulto, em madeira policromada, representando Nossa Senhora de corpo inteiro, de pé, olhando de frente, com o Menino Jesus no seu braço esquerdo, e a mão direita livre. Veste túnica policromada com decoração vegetalista, de cor branca, cingida na cintura, que cai até aos pés que se encontram calçados com sapatos dourados. Enverga também um manto azul lavrado em dourado, que a envolve, e ostenta na cabeça uma coroa em metal dourado. O Menino, nu e sentado sobre o braço esquerdo de Nossa Senhora, possui igualmente, sobre a cabeça, uma coroa em metal.

CAPELA DE NOSSO SENHOR DO CALVÁRIO Avenida 5 de Outubro 4440-503 Valongo

A imagem de Santa Eufémia é do século XIX. A escultura representa a Santa de corpo inteiro, de pé, com túnica branca, vestido verde ornamentado com motivos florais e atado à cintura com um cinto dourado. Sobre os ombros cai uma capa em tons avermelhados com decoração vegetalista em dourado. Segura, na sua mão esquerda, um livro fechado e, na mão direita a palma do martírio; sobre a cabeça encontra-se um resplendor semicircular com pedras coloridas.

A construção apresenta planta retangular, nave única, telhado de duas águas com cruz no vértice e pináculos nos extremos. O portal principal é encimado por uma janela.

A imagem de Cristo Crucificado, de grandes dimensões, é escultura de madeira representando Jesus Cristo crucificado em cruz lisa, numa figuração com drama-

Também a capela de Nosso Senhor do Calvário (ou da Restauração) foi mandada edificar no cumprimento de um voto, em 1813, de João Monteiro da Maia, pelo facto de a povoação de Valongo não ter sido afetada pela 3ª Invasão Francesa no início do século XIX. A capela foi ampliada e restaurada em 1871 com o apoio das famílias de brasileiros de “torna-viagem” de Valongo. Recentemente, em 2013, sofreu novas alterações, incluindo uma nova torre sineira de estrutura metálica.

Destaque, no seu interior, para o retábulo-mor neoclássico, de talha dourada e policromada, apresentando ao centro uma imagem de Jesus Crucificado datada do século XIX. Escultura de madeira, com dramática figuração crística, ostentando os braços elevados e fixados através de cravos metálicos e, na cabeça, uma coroa de espinhos. Veste um cendal atado na cintura através de um nó lateral. Os pés sobrepõem-se e são igualmente

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cravados. Em todo o corpo são visíveis representações de ferimentos com corrimento de sangue. Igualmente atribuída ao século XIX é a imagem de São Roque. Como é habitual na sua iconografia enverga vestes de peregrino, chapéu de abas dos romeiros, capa de pregas duras acompanhando o corpo, túnica comprida cingida na cintura. Mostra a perna esquerda rasgada, presa pela mão esquerda de modo a evidenciar a chaga (ou mancha escura revelando ter contraído a Peste Negra). No braço direito segura uma cabaça enquanto do lado esquerdo tem encostado um cão malhado com um pão na boca. Também deste período é a imagem de São Francisco de Assis, em madeira policromada, expondo um livro aberto na sua mão esquerda. A figura apresenta-se de corpo inteiro, de pé, usando barba. Enverga o hábito franciscano e exibe os estigmas que andam iconograficamente associados à sua hagiografia.

CAPELA DE NOSSO SENHOR DOS PASSOS Rua Sousa Paupério 4440-452 Valongo A pouca distância da igreja matriz de Valongo encontramos a capela do Senhor dos Passos (celebrado no quarto domingo da Quaresma, com procissão recriando os Passos de Jesus), mandada edificar em 1729 por um

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abastado habitante para representar o Calvário de Cristo. Tutelado pela confraria do Senhor dos Passos, fundada em 1710 e tendo como seu instituidor João Vieira de Mesquita, o templo serviu de igreja paroquial durante a (re)construção da matriz. De fachada simples rematada por um frontão triangular, apresenta um revestimento a azulejo industrial rosado de secção retangular. No seu interior destaque para o altar-mor de talha dourada com vários registos: um conjunto escultórico de Cristo Crucificado ladeado pela Virgem Maria, São João Evangelista e vários soldados romanos; uma imagem de Nossa Senhora da Soledade; uma imagem de Ecce Homo ou Senhor da Cana Verde; uma imagem do Senhor dos Passos; e um nicho das Santas Mães na parede do lado da Epístola. A imagem de Nossa Senhora da Soledade é atribuída ao século XIX. Imagem de roca, processional com estru-


tura em madeira, representa Nossa Senhora de pé, em posição frontal. O rosto e mãos apresentam carnações, os braços estão dobrados e as mãos entrelaçadas à frente, exibindo por baixo um laço. Traja um vestido roxo, decorado com fitas metálicas douradas. Sobre a cabeça enverga um manto azul claro adornado na borda com galão dourado. A representação do Senhor da Cana Verde é uma escultura em madeira, de vulto pleno, em tamanho natural, representando o “Ecce Homo”, um dos temas iconográficos mais angustiantes do ciclo da Paixão, que traduz a expressão latina que Pôncio Pilatos terá enunciado, na apresentação de Jesus flagelado aos judeus. Cristo é representado seguindo uma abordagem de sofrimento, seminu, com os ombros cobertos por uma capa vermelha. Exibe ao longo de todo o corpo as marcas dos ferimentos que sofreu. Ao pescoço traz pendurada uma corda com vários nós. Sobre a cabeça leva uma coroa de espinhos. De notar que tanto a corda como a cana verde são elementos “adicionados“ à escultura posteriormente. Atribuída ao século XIX, a escultura do Senhor dos Passos é igualmente uma imagem processional, representando Cristo vestido com túnica roxa em tecido lavrado, adornado com fitas douradas, ajoelhado e curvado sobre a frente. Apresenta o rosto com barbas e cabelos (peruca) compridos pretos que caem sobre os ombros. Sobre as costas, suporta uma cruz de madeira. Esta imagem processional tem um resplendor de prata e prata dourada. Sobre a cabeça exibe uma coroa de espinhos prateada. Ao pescoço traz, pendurada, uma corda com vários nós. Igualmente atribuída ao século XIX é um conjunto de sete imagens do Calvário de Cristo, em tamanho natural e em madeira policromada e dourada, com as figuras de Nossa Senhora do lado do Evangelho, São João Evangelista do lado da Epístola, acompanhados por quatro soldados com trajes romanos. No centro da composição destaca-se a imagem de Cristo Crucificado. Atribuído ao século XVIII/XIX, o oratório das Santas Mães consiste numa caixa paralelepipédica de secção retangular com três faces envidraçadas, emolduradas por pilastras em talha dourada, as quais fazem a união estrutural da caixa. Apresenta na retaguarda um painel com pintura no interior imitando um céu. Os vidros são contornados por molduras marmoreadas. A face prin-

cipal remata com frontão interrompido dourado, com decoração vazada de motivos concheados vegetalistas e anjo. O oratório está assente sobre pilar em pedra, do lado da Epístola. Este grupo escultórico é composto por Santa Ana, representada sentada, a Virgem Maria sentada do seu lado direito e o Menino Jesus, no eixo interior do centro compositivo. Santa Ana, de rosto singelo, apresenta a cabeça coberta por véu branco encimado por resplendor semicircular de prata, prata dourada e pedras. A Virgem, de cabeça coroada e cabelos soltos sobre as costas e ombros, veste manto vermelho e verde ornamentado a dourado sobre túnica lisa castanha-rosada. O Menino Jesus, nu, exibe na cabeça um resplendor dourado circular raiado, com pedra no centro. Tenta obter a maçã oferecida pela sua avó que, no colo, guarda um conjunto de frutas.

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CAPELA DE SÃO BARTOLOMEU Rua de São Bartolomeu 4440-595 Valongo

devotos. Uma inscrição no canto inferior direito revela que “S. Bartolomeu, um dos Apóstolos foi para a India e Arménia onde foi esfolado e decapitado.”

A capela de São Bartolomeu, celebrado a 24 de agosto, é a peça fulcral de uma pequena ermida edificada no extremo norte da freguesia, já próximo da paróquia de Alfena, e que poderá possuir, enquanto espaço sacralizado, remotas origens, uma vez que na base da sua construção, na sua fachada sul, se deteta uma ara romana com uma inscrição dedicada ao deus Aboco. Invocado como protetor das pestes, São Bartolomeu atrai aqui muita gente, como o atestam referências do século XVIII, nomeadamente as “Memórias Paroquiais” de 1758.

Mais antiga é a escultura de vulto de São Bartolomeu esculpido de pé e frontal, a olhar em frente, datada dos séculos XVIII/XIX. O Santo segura com a mão esquerda um livro aberto e, na direita, uma faca símbolo do seu martírio. Sobre a cabeça exibe um resplendor de raios em meia-lua decorado com vidros. Traja uma túnica escura decorada com folhas douradas e sobre o ombro esquerdo cai um manto vermelho decorado com motivos vegetalistas.

Capela de planta retangular, nave única, telhado de duas águas com cruz no vértice, tem a particularidade de possuir no exterior, adossado à fachada principal, um púlpito de granito. Na base deste uma pedra encontra-se epigrafada com a data de 1733. O interior prima pela simplicidade, com contemporâneo altar-mor em betão e tijolo que revela de um modo evidente significativas intervenç es registadas no século XX. Na parede do lado do Evangelho encontra-se uma pintura do Martírio de São Bartolomeu da autoria de Domingos Loureiro, datada presumivelmente dos séculos XIX/XX. Em primeiro plano destaca-se o corpo do Santo decapitado, sendo velado por um conjunto de

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Nas imediações da capela encontra-se implantado um cruzeiro com cercadura em ferro.

CAPELA DE SANTA JUSTA E SANTA RUFINA Rua Santo Sabino e Rua Padre Santos Loureiro 4440-690 Valongo Edificada em 1936 no cimo da Serra de Santa Justa, envolta por uma inspiradora paisagem, a capela de Santa Justa e Santa Rufina veio definitivamente cristianizar um espaço que, desde épocas remotas e relacionado com impressionantes vestígios das explorações mineiras aqui desenvolvidas na época romana (profundos e extensos poços e fojos), andaria asso-


ciado a antiquíssimas e persistentes devoções “pagãs”. De resto, sintomaticamente, ainda nos dias de hoje, este local continua a ser dos mais concorridos na Área Metropolitana do Porto, a par do Senhor da Pedra (Gulpilhares, Gaia) e S. Clemente das Penhas (Boa Nova, Matosinhos), como “santuário” de devoções e práticas sincréticas, relacionadas com antigas e novas crendices de “magia” ou mesmo “bruxaria”. A associação da capela precisamente à devoção a Santa Justa e Santa Rufina não será, de resto, inocente e alheia à estratégia de cristianizar este local, uma vez que a hagiografia das santas as associa a poços onde, nomeadamente a primeira, teria sido martirizada em época romana. Cidadãs romanas, convertidas ao cristianismo, as padroeiras atraem inúmeros devotos pedindo proteção contra diversos males, nomeadamente dos dentes, durante todo o ano e, de um modo especial, nas festas em sua honra que se realizam no terceiro domingo de julho. A capela, de nave única, possui planta retangular e telhado de duas águas rematados por pináculos boleados. A fachada principal tem nártex de onde nasce uma alta torre sineira quadrangular, coberta por telhado piramidal, encimado por esfera e cruz. A torre assenta em colunas dóricas, em betão, e nela abre-se uma fresta e as aberturas para os sinos. O interior apresenta nave única separada da cape-

la-mor por um arco cruzeiro e escadaria com três degraus. O altar-mor é de raiz neoclássica, em talha dourada policromada, apresentando no centro as imagens das padroeiras da capela, Santa Justa e Santa Rufina, datadas de 1936. A representação de Santa Rufina apresenta-a ricamente vestida com t nica verde debruada a ouro e decorada com raminhos de flores. Sobre esta enverga um manto de tom rosa, orlado a ouro, ostentando motivos florais. Com a mão esquerda segura um livro fechado e encadernado enquanto a mão direita ergue a palma de mártir. Sobre a cabeça exibe uma coroa em metal dourado. Santa Justa é representada numa imagem esculpida em madeira policromada e dourada, em vulto pleno, de pé. Apresenta-se com traje abastado e colorido, envergando um vestido verde e dourado, adornado com motivos florais sob um manto rosado e dourado decorado com flores. Na mão esquerda carrega um livro aberto e do lado oposto segura uma folha de palma, atributo do seu martírio. Da mesma data (1936) são as imagens de São Domingos e Santo Onofre. Escultura de vulto, em madeira estofada e policromada, São Domingos apresenta-se de corpo inteiro, de pé, de frente, vestido com o hábito dominicano decorado com motivos vegetalistas em dourado. Na mão esquerda segura um livro fechado e na direita agarra um bastão. A imagem de Santo Onofre, oferecida por uma devota como pagamento de

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promessa, apresenta-o esculpido em vulto pleno, de pé, seminu, com barba e cabelos longos, envergando veste amarrada à cintura de cor verde, mais curta do lado esquerdo, encontrando-se descalço. Carrega do lado direito uma bolsa e do lado esquerdo uma cabaça. Ainda de 1936 são as imagens de Santa Teresinha, da Rainha Santa Isabel e de Santa Luzia. A Rainha Santa Isabel é esculpida de pé, com a mão direita sobre o peito e a esquerda segurando a aba do manto onde se releva um braçado de rosas. Está representada com a cabeça coberta por véu e coroada, vestindo indumentária de rainha. Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face é esculpida em vulto pleno, em posição frontal, traja o hábito de Ordem dos Carmelitas Descalços, e segura sobre o peito um crucifixo decorado com flores. Santa Luzia é igualmente esculpida de pé, enverga um vestido de decote quadrado, cintado, com bainha larga dourada, e capa rosada, também com uma orla larga, sobre os ombros. Com as mãos mostra o prato com os olhos esculpidos em alto-relevo, seu atributo iconográfico. semelhança de Santo Onofre, também as imagens de Santa Luzia e Rainha Santa Isabel terão sido oferecidas por uma devota como pagamento de promessa. A imagem de São Sabino, da mesma data (1936), é uma escultura em madeira policromada e dourada, representando-o de pé, com a mão direita segurando um báculo dourado e com a mão esquerda um livro

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fechado e uma folha de palma. Apresenta-se com uma mitra episcopal decorada com uma cruz latina em tons branco e dourado. A completar o conjunto das vestes pontificais enverga uma rica capa pluvial, vermelha e dourada segura com um firmal dourado. Aos pés encontram-se as mãos decapitadas simbolizando o martírio do Santo. Do século XX é também a escultura de Nossa Senhora da Cabeça. Escultura de vulto pleno representa Nossa Senhora da Cabeça em posição frontal, de pé, com a mão direita sobre a cabeça e a mão esquerda sobre o peito. Traja uma túnica rosa e manto azul decorado com motivos vegetalistas em dourado na orla. Também do século XX é a imagem de Nossa Senhora de Fátima existente nesta capela, representada em posição frontal, de pé, com as mãos em oração segurando o rosário. Traja uma túnica branca e manto branco com as cercaduras embelezadas com motivos vegetalistas pintados a dourado. Do lado do Evangelho, referência para as imagens de Santo António e do Arcanjo São Miguel. A representação do primeiro é em vulto pleno e, sobre o braço esquerdo, segura o Menino. Traja o hábito da sua Ordem religiosa decorada com orla dourada com motivos vegetalistas. São Miguel Arcanjo é esculpido em poliestireno pintado. O Arcanjo alado, vestido de soldado romano, calça sandálias e na mão direita segura uma lança com que mata o diabo.


CAPELA DE SÃO SABINO Rua Santo Sabino e Rua Padre Santos Loureiro 4440-690 Valongo Próximo da capela anteriormente descrita, mas já a meia encosta, encontra-se a capela dedicada a São Sabino. Referido já nas “Memórias Paroquiais” de 1758, o templo é certamente anterior e inicialmente dedicado a Santa Justa. As suas origens, contudo, não remontarão ao século XI como pretende a tradição popular. Entre as múltiplas obras de restauro e ampliação que foi recebendo estão bem documentadas as que datam de 1870 e, mais recentemente, em 1998 quando foi requalificada e dedicada a São Sabino. Apresenta uma fachada simples, de planta retangular, nave única, telhado de duas águas e uma inscrição na fachada principal que alude à vida de São Sabino: “S. Sabino, advogado dos deficientes. Foi bispo de Sevilha até 304. Deceparam-lhe as mãos pelo fato de ter retirado os corpos, de Santa Justa do poço para onde tinham sido lançado juntamente com os restos mortais de sua irmã Santa Rufina, e sepultou-as no cemitério cristão no prado de Santa Justa. Esta capela foi edificada no séc. XI. Restaurada e ampliada em 1870 e reconstruída no ano de 1998”. Atribui-se ao século XIX o retábulo inserido na parede fundeira desta capela, em talha dourada com marmoreados fingidos a verde e rosa, de um só eixo encaixado por colunas de fuste canelado e capitéis dóricos, assentes em plintos, encimado por frontão triangular. Ao centro abre-se um nicho onde se encontra São Sabino. Do lado do Evangelho, num pequeno nicho, com características semelhantes ao retábulo, encon-

tramos a imagem de Santa Rufina e do lado da Epístola a de Santa Justa. A escultura, em madeira policromada e dourada, de São Sabino é atribuída ao século XIX, representando-o de pé, assente sobre um trono com dois degraus. A imagem do padroeiro está num nicho com fundo azul e nuvens brancas decorado com dois anjos. Na mão direita segura um báculo dourado e com a mão esquerda um livro e uma folha de palma. Apresenta-se toucado com uma mitra episcopal decorada com uma cruz latina em tons branco e dourado. A completar o conjunto das vestes pontificais enverga uma rica capa pluvial, vermelha e dourada, segura com um firmal dourado. Do mesmo período será a imagem de Santa Justa, esculpida em madeira policromada e dourada, representando-a em vulto pleno, de pé. A Santa apresenta-se com traje de mulher rica, cuidado, tratado e colorido. Veste túnica longa azul, verde e dourada, adornada de um modo vistoso com motivos florais. O manto vermelho e dourado apresenta uma decoração semelhante ao vestido. Exibe adereços ou joias em ouro. Na mão esquerda carrega um livro aberto e, do lado oposto, segura uma folha de palma, atributo do seu martírio. Esta imagem, que representa a Santa mártir de rosto ovalado, com feições suaves e de olhar tranquilo, apresenta-a também com uma cabeleira com penteado preso por uma fita dourada. A representação de Santa Rufina, que se atribui ao mesmo período, apresenta a Santa ricamente vestida com uma túnica longa, azul e verde, debruada a ouro, decorada com amplos motivos de cariz vegetalista. Sobre esta enverga um faustoso manto de tom rosa,

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orlado a ouro, ostentando motivos florais. Do lado esquerdo segura, contra a cintura alta marcada por um cinto dourado, um livro fechado e encadernado. Com a mão direita ergue a palma de mártir. Ainda atribuída ao século XIX é a escultura das mãos decepadas de São Sabino, de tamanho natural, atributo do seu martírio, colocadas sobre uma bandeja em frente ao altar-mor. As festas em honra de São Sabino têm lugar, juntamente com as festas em honra de Santa Justa e Santa Rufina, no terceiro domingo de julho.

CAPELA DE SÃO BRUNO / MUSEU MUNICIPAL DE VALONGO Rua de S. Mamede 4440-690 Valongo Em 1758 as “Memórias Paroquiais” referiam já este pequeno templo: “A cappella de San Bruno, da qual hé direito senhorio o capitam José Pereira Enes, e obrigado à sua fabrica e missa em Domingos e Dias Santos, (…).” Tratar-se-ia, no entanto, de uma estrutura muito modesta, uma vez que a sua “construção” anda também associada à edificação por Bernardo Martins da Nova, mas já nos inícios do século XIX, de um amplo edifício para habitação da sua família. 1825 é mesmo apontada como a data em que a capela de São Bruno

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foi acrescentada ao imóvel. Doze anos depois, e com a elevação de Valongo a concelho, este passou a albergar a Casa do Município que aqui se manteve por mais de um século até que, tendo em conta o seu valor histórico e arquitetónico, aqui se instalou o Museu Municipal e o Arquivo Histórico, inaugurados a 1 de Junho de 2001. A capela, desativada desde o século XIX, apresenta planta longitudinal de corpo único e a sua fachada principal é revestida a azulejos de padrão, rematada com frontão triangular encimado por uma cruz. Do seu espólio, em depósito no Museu de Valongo, fazem parte uma imagem de São Bruno atribuída ao século XVIII/ XIX; uma pintura a óleo sobre tela, de autor desconhecido e proveniente do retábulo da extinta capela apresentando a visão deste monge cartuxo, São Bruno, e da Virgem Maria com o Menino; uma imagem pintada de São Paulo e outra de São Pedro, ambas do século XVII; e uma pintura a óleo sobre madeira pertencente ao retábulo da extinta capela. A representação de São Bruno é de autor desconhecido e atribuída aos séculos XVIII/XIX. Trata-se de uma pintura a óleo sobre tela alusiva à visão de São Bruno da Virgem Maria com o Menino Jesus. O Santo é representado num primeiro plano, trajando o hábito de Ordem Cartuxa, de joelhos, e segura com os dois braços uma coroa de espinhos e duas lanças; em frente, um conjunto de anjos (putti) levam um ramo de flores e cachos de uvas. Por baixo observa-se um báculo e uma mitra episcopal,


nomeação que São Bruno recusou para se dedicar à ordem religiosa que fundou. Num plano superior surge a figura da Virgem, sentada sobre nuvens, rodeada por anjos, segurando com as duas mãos o Menino seminu. A Santa apresenta-se em posição soberana e veste uma túnica branca enrolada por um manto de cor azul. São Paulo é representado numa pintura a óleo sobre madeira do século XVII e também de autor desconhecido. Nesta obra, São Paulo é representado de corpo inteiro, com a cabeça inclinada sobre o lado direito envolta por um halo dourado. Segura com a mão direita o livro do Evangelho e com a esquerda uma espada. Enverga túnica verde e um manto vermelho. A pintura a óleo sobre madeira de São Pedro retrata-o com traços rudes e de barba branca sobre fundo azul, com moldura em branco e vermelho. O Santo apresenta a cabeça voltada para a esquerda e envolta numa aurela dourada. Traja uma túnica de cor verde, enrolada por um manto vermelho. Segura com a mão direita as chaves e tem a esquerda pousada sobre o peito. À capela pertenceria também uma escultura de São Miguel Arcanjo, do século XVIII, esculpida em madeira, estofada, dourada e policromada, representando-o em vulto pleno, de pé sobre base em forma de nuvem. O Arcanjo apresenta-se também com a cabeça ligeiramente inclinada para o lado esquerdo. Figura alada, vestido de soldado romano, enverga uma couraça, calça sandálias e tem capacete de plumas e manto vermelho. Na mão direita segura uma lança e na esquerda exibe um escudo com a inscrição: “Quem como Deus.” Da antiga Capela é ainda um Missal do século XVIII (1728), com capa em couro com ferragens em metal e, do século XIX, uma casula romana com decoração em relevos florais bordados a fio de ouro.

CAPELA DA MISERICÓRDIA DE VALONGO Rua Rainha Santa Isabel, nº 30 4440 – 569 Valongo Localizada no rés-do-chão de um dos edifícios da Santa Casa da Misericórdia de Valongo, esta capela é também conhecida por capela de Nossa Senhora da Conceição. Construída nos finais do século XX para substituir a capela do Hospital da Misericórdia, foi benzida a 8 de Dezembro de 1995, dia de Nossa Senhora da Conceição,

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pelo Bispo Auxiliar do Porto D. José Augusto Martins Fernandes Pedreira. Com traçado assumidamente contemporâneo, a capela prima pela simplicidade de formas arquitetónicas, sendo o interior desafogado e com uma ampla estrutura convergente para o altar-mor. Entre o seu espólio destaca-se uma escultura de madeira representando Jesus Cristo na cruz, datada do século XVIII/ XIX. Os braços da cruz rematam em ornamentos florais dourados. Cristo apresenta-se com os braços elevados e fixos através de cravos, apresentando na cabeça uma coroa de espinhos. Traja um cendal branco preso na cintura por uma corda. Os pés sobrepõem-se e são igualmente cravados. Apresenta escoriações nos membros superiores e inferiores e nos joelhos. Uma escultura datada do século XVIII/XIX, em madeira policromada, representa Nossa Senhora da Conceição em vulto pleno. A Santa figura com véu sobre a cabeça, encimado por uma coroa e um resplendor decorado com estrelas. Veste túnica branca que remata com faixa dourada nas mangas e decote. O manto é azul, ornado com motivos vegetalistas dourados, lançado da esquerda para a direita, apoiando o braço esquerdo. Tem as mãos em posição de oração sobre o peito. A imagem eleva-se sobre uma nuvem ocupada por quatro querubins; ao centro uma meia-lua e uma serpente junto do pé direito da Virgem. A escultura assenta numa base circular dourada. Uma escultura retratando o Sagrado Coração de Jesus, datada de meados do século XX, representa-o em vulto pleno, de pé, em madeira policromada. Enverga uma túnica branca com decorações em dourado, exibindo no peito um coração em relevo. Apresenta um manto vermelho ornamentado com motivos florais em dourado. Sobre a cabeça exibe um resplendor circular raiado com uma pedra no centro. Tem a mão direita sobre o coração e a esquerda aberta. Uma escultura-“relicário” setecentista, da qual se desconhece a proveniência e mesmo a quem é consagrada, evidencia que estaremos provavelmente perante uma representação de São Roque, tendo em conta alguns dos atributos iconográficos. Esta escultura, em madeira, estofada e policromada, retrata, com efeito, uma figura que se aparenta a São Roque, em vulto pleno, com a mão direita segurando a túnica expondo a coxa nua, enquanto com a mão esquerda segura um fragmento do cajado. Apresenta o rosto ligeiramente

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voltado para o lado direito, e uma cabeleira farta ondulada e barba cerrada. Enverga uma túnica exuberantemente decorada com motivos florais dourados sobre a qual tem uma capa azulada com decoração fitomórfica também dourada. Na parte superior do peito ostenta o recetáculo da relíquia.

CAPELA DO CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DE SÃO JOÃO – PÓLO VALONGO Rua da Misericórdia Valongo 4440-563 Até finais do século XX existia uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição que integrava o Hospital da Misericórdia de Valongo, demolida posteriormente para ampliação da nova unidade hospitalar. A atual capela encontra-se inserida na estrutura do hospital e localiza-se no primeiro andar da unidade de cuidados de saúde. O interior, de planta retangular, simples, de pequenas dimensões, apresenta do lado do Evangelho, numa peanha, a imagem de São Mamede e Nossa Senhora da Conceição. Escultura de vulto pleno em madeira com policromia, São Mamede, de pé, segura na mão direita o bordão e, com a mão esquerda, carrega um livro de capa vermelha, fechado. Veste uma t nica azul-claro ornamentada com motivos florais em dourado. Na base, do seu lado direito, encontra-se um cordeiro deitado. Apresenta também uma inscrição na base: “oferta escultor Zacarias Tedim. São Romão de Coronado - 2018”. A imagem de Nossa Senhora da Conceição, esculpida em vulto pleno e em posição frontal, traja túnica branca, sobre a qual cai um manto azul-escuro ornamentado com motivos fitomórficos e pedras de várias cores. Tem a cabeça coberta por um véu policromado e coroa de metal prateado. A escultura assenta sobre uma meia-lua dourada; a rodear o globo um conjunto de querubins e uma serpente. Na parede do lado da Epístola encontra-se uma via-sacra evocada através de um conjunto de quinze pequenas aguarelas. Referência também para uma escultura de madeira representando Jesus Cristo crucificado em cruz lisa policromada. Apresenta-se com os braços elevados e fixos através de cravos, ostentando na cabeça uma coroa de


espinhos. Traja um cendal atado na cintura através de um nó lateral. Os pés sobrepõem-se e são igualmente cravados.

CAPELA DE COUCE Aldeia de Couce Valongo 4440-498 A propósito da antiga e desaparecida capela de Nossa Senhora da Conceição no Hospital da Misericórdia, importa referir que, às portas de Valongo, no centro da pequena aldeia de Couce, localizada entre as serras de Santa Justa e Pias nas margens do rio Ferreira, é ainda possível observar os vestígios de uma outra capela praticamente já desaparecida. Privada e em acentuada ruína, integrava uma construção com características senhoriais, ainda que modesta. Possuía cruz e torre sineira exteriores.

ALMINHAS DO LARGO DO TÚMULO E CALVÁRIO Largo do Tumulo 4440 Valongo Estas alminhas e os cruzeiros anexos constituem um dos mais interessantes conjuntos devocionais do concelho de Valongo e integravam uma antiga via-sacra setecentista. Os nove cruzeiros, de feição idêntica, são compostos por cruz latina simples, assentam em bases com a forma de plinto e possuem gravados numa das faces símbolos da paixão de Cristo. O túmulo é a décima quarta estação, simbolizando o sepulcro de Cristo. Nas imediações, entre este local e a antiga capela da Santa Eufémia, encontram-se outras cruzes, pelo que a via-sacra deveria ter o seu início nesse templo. Um dos cruzeiros, na entrada do conjunto, incorpora um painel azulejar alusivo às Almas do Purgatório. No plano central está representada Nossa Senhora do Carmo com o Menino em pose majestática sobre uma nuvem, acompanhada por dois anjos que resgatam duas almas do purgatório. No plano inferior um conjunto de pessoas anseia pela salvação do fogo. O painel tem um caixilho em azulejos policromados com decoração vegetalista em tons de azul, amarelo e branco. Possui inscrição:” VÓS QUE IDES PASSANDO LEMBRAI-VOS DE NOS QUE ESTAMOS PENANDO”

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ALMINHAS DA ESTRADA VELHA Rua da Estrada Velha, 111/113 4440- 452 Valongo

ALMINHAS DA FONTE DA SENHORA Rotunda da Fonte da Senhora 4440-653 Valongo As Alminhas da Senhora da Fonte encontram-se inseridas no muro de uma habitação particular. Talhadas num bloco granítico retangular, onde se abre um nicho com um arco de volta perfeita encimado por uma cruz latina. Dentro do nicho encontra-se um painel de azulejos, que tem como figura principal Nossa Senhora da Purificação, padroeira da Confraria das Beneditas Almas de Valongo. Possui a uma inscrição: “AS ALMAS PEDEM / A QUEM PASSA NO CAMINHO / UM PAI NOSSO OU AVÉ-MARIA / REZAI POR ELAS BAIXINHO / N. SRA. DA PURIFICAÇÃO”.

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As Alminhas da Estrada Velha são, seguramente, um dos exemplares mais antigos do concelho de Valongo, edificadas em 1670 pela Confraria das Almas e restauradas em 1971. Adossada ao muro de duas moradias, é uma construção de granito e xisto, onde se abre um nicho de traçado retangular e protegido por portada de ferro. O conjunto é encimado por dois pináculos piramidais que centralizam uma cruz de tipologia latina. No interior, no painel azulejar, está representada a figura de Nossa Senhora e o Menino (Nossa Senhora do Carmo), ladeada por dois anjos, a resgatar almas das chamas do Purgatório. Possui a inscrição: OH! VÓS QUE IDES PASSANDO ALIVIAI-NOS / DESTE FOGO EM QUE ESTAMOS PENANDO”.

ALMINHAS E CRUZEIRO DE NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃO Largo do Souto 4440-452 Valongo O Cruzeiro e Alminhas de Nossa Senhora da Purificação, inserido num pequeno espaço jardinado entre o cruzamento de vários caminhos, possui cruz latina simples


assente sobre um plinto cúbico com decoração numa das suas quatro faces. Na face frontal revela-se uma incisão em forma de nicho preenchido com um painel azulejar dedicado a Nossa Senhora da Purificação e à salvação das Almas. O painel, todo em azul e branco, emoldurado por folhas de acanto e cornucópias, representa ao centro, num plano mais elevado, a figura de Nossa Senhora da Purificação com o Menino, ladeada por dois Anjos, que libertam as almas de entre o fogo do purgatório. No plano inferior numa inscrição lê-se: “Com vossas orações e ofertas alumiai as almas do Purgatório. Confraria das Benditas Almas. 2013”

ALMINHAS DA SERRA DE SANTA JUSTA Rua de Santo Sabino - Serra de Santa Justa 4440 Valongo É escassa a informação existente sobre estas alminhas que, atualmente, se encontram sem qualquer tipo de utilização religiosa. Trata-se de um nicho em granito assente em estrutura retangular ornamentada com painel azulejar bastante danificado que impede uma leitura mais pormenorizada.

ALMINHAS Avenida 5 de Outubro, 4440-503 Valongo As Alminhas ou oratório do Imaculado Coração de Maria localizam-se perto da capela do Senhor do Calvário. A estrutura de secção quadrangular, de alvenaria e betão pintado de branco, envidraçada, tem no interior uma imagem do Imaculado Coração de Maria que, em vulto pleno, de pé, veste túnica e manto de cor branca decorados com uma faixa em dourado. Na parte superior do peito ostenta um coração em relevo envolto em raios dourados. Sobre a cabeça exibe uma coroa em metal dourado.

CRUZEIRO E ALMINHAS Rua Dias Oliveira 4440 – 452 Valongo Cruzeiro situado na rua Dias de Oliveira, próximo da capela de Nossa Senhora da Hora, exibe gramaticas decorativas semelhantes ao Cruzeiro do Padrão. Ergue-se a partir de um pedestal de secção quadrangular, onde se encontra um painel azulejar alusivo à Salvação das Almas. Apresenta fuste monolítico de granito com um anel no centro, o capitel com decoração coríntia, e é encimado por uma esfera, sobre a qual assenta uma cruz emoldurada, de quatro faces decoradas por um rebordo alteado, com braços trevolados.

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No quadro de azulejos alusivo à devoção das “alminhas” está representada, no plano central, Nossa Senhora com o Menino em pose soberana sobre uma nuvem, acompanhada por dois anjos que resgatam duas almas do purgatório. No plano inferior um conjunto de pessoas anseia pela salvação do fogo. Tem inscrição:” VÓS QUE IDES PASSANDO LEMBRAI-VOS DE NOS QUE ESTAMOS PENANDO”

CRUZEIRO DO CANTINHO Rua Dias de Oliveira 4440 Valongo No centro do aglomerado urbano de Valongo, na via de ligação entre a igreja matriz e a capela de Nossa Senhora da Hora, localiza-se o Cruzeiro do Cantinho. A datação deste cruzeiro é atribuída ao século XVIII e integrava a via-sacra que saía da igreja matriz para as capelas de Nossa Senhora dos Chãos e de Santa Justa. É um cruzeiro em granito de configuração simples, assente sobre um plinto, a partir do qual se ergue uma cruz de tipologia latina. No entanto destaca-se pela representação pictórica de Cristo na cruz. De contorno naïf, Cristo é retratado de forma singela sem qualquer decoração, sob a cabeça coroada com espinhos de Cristo, existe uma inscrição: “INRI” Iesus Nazarenus Rex Iudeorum: “Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus”.

CRUZEIRO DO SENHOR DA OLIVEIRA Travessa Jorge Malta 4440-749 Valongo Inserido no antigo eixo viário da cidade de Valongo, o Cruzeiro do Senhor da Oliveira terá integrado a antiga via-sacra para o Calvário. Ainda nos dias de hoje, aquando da realização da procissão do Senhor dos Passos, é instalado neste local o quarto passo. Restaurado recentemente, expõe na sua composição pictórica, de contornos naïf, os símbolos da Paixão de Cristo. A cruz exibe o motivo principal de Cristo Crucificado e, sob os seus pés, existe um cálice, uma escada e folhas de oliveira que terão contribuído para a denominação popular deste cruzeiro.

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CRUZEIRO - CAPELA DE NOSSA SENHORA DOS CHÃOS Rua Nossa Senhora dos Chãos 4440-452 Valongo Este cruzeiro, localizado em frente à capela de Nossa Senhora dos Chãos, não revela elementos que permitam uma cabal datação, tratando-se de uma peça simples em granito cercada com gradeamento em ferro. Compõe-se por uma escadaria estruturada, onde assenta uma base quadrangular, seguida de pedestal para assentamento de uma cruz latina.

CRUZEIRO - CAPELA DE SÃO BARTOLOMEU Rua de São Bartolomeu 4440-595 Valongo Localizado no adro capela de São Bartolomeu, este cruzeiro é uma peça simples em granito assente numa base quadrangular, seguida de pedestal para colocação de uma cruz latina com terminações piramidais.

CRUZEIRO DO PADRÃO Rua Alves Saldanha 4440-665 Valongo Um dos mais belos, icónicos e identitários monumentos religiosos de Valongo, o barroco Cruzeiro do Padrão, datado do século XVIII (1754), ergue-se bem no centro da povoação e na antiga e estruturante via de comunicação entre o Porto e Penafiel, o que sempre lhe conferiu enorme visibilidade e protagonismo. Apresenta-se como um exemplar profusamente decorado e com pormenores dignos de realce, factores que terão contribuído também para a sua classificação como Monumento Nacional na precoce e pioneira listagem nacional de património histórico e artístico, datada de junho de 1910. Implantando-se de um modo imponente a partir de um pedestal quadrangular construído recentemente, é composto por uma coluna monolítica de granito com cerca de sete metros de altura, com capitel copiando o estilo clássico coríntio, encimado por uma esfera assente sobre volutas de gosto barroco. O conjunto remata com uma escultura alusiva a Cristo na qual a figura do Crucificado ostenta os braços elevados

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e fixos através de cravos; na cabeça uma coroa de espinhos e um resplendor em forma de losango. Traja um cendal atado na cintura através de um nó lateral. Os pés estão igualmente cravados. A cruz emoldurada, de quatro faces decoradas por um rebordo alteado, integra um resplendor. Os braços da cruz possuem remates trevolados, seguindo uma gramática decorativa barroca. Na base encontra-se a figura de Santo António em granito e a seguinte inscrição: “Bendito e Louvado seja o Santíssimo Sacramento da Eucaristia.”

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Índice das fotografias

Da esquerda para a direita na página. 8: Alfena. Ex-voto “Milagre de Nossa Senhora do Amparo. 1733.” Museu da Paróquia de Alfena. 10: Valongo. Capela de Susão (antiga). 13: Alfena. Preparação dos tapetes de flores para a procissão da Nossa Senhora do Amparo. 14: Valongo. Chegada da procissão com o andor da Nossa Senhora dos Chãos à igreja Matriz de Valongo. 16: Ermesinde. Procissão de São Lourenço com o andor do Sagrado Coração de Jesus. 17-1: Alfena. Procissão das velas dedicada a Nossa Senhora do Amparo. 17-2: Valongo. Igreja Matriz de Valongo, procissão noturna de São Mamede. 18-1: Sobrado. Procissão dedicada a S. João Batista. 18-2: Alfena. Procissão de São Vicente. 19: Alfena. Elaboração dos tapetes de flores e serrim para a procissão da Nossa Senhora do Amparo. 20-1: Campo. Interior da igreja Matriz. Andor de São Martinho com devota. 20-2: Campo. Interior da Sacristia. Calvário com ex-votos em cera. 21: Ermesinde. Banda de Música nas festas de Santa Rita. 22: Alfena. Interior da igreja Matriz durante as celebrações religiosas de São Vicente. 23: Alfena. Cortejo da Banda de Música durante as festas de Nossa Senhora do Amparo. 24-1: Valongo. Valongo. Pálio com Santíssimo Sacramento no interior da igreja matriz. 24-2: Ermesinde. Andor de São Lourenço. 25: Alfena. Procissão de Nossa Senhora do Amparo. 26: Campo. Saída da igreja Matriz da procissão de São Martinho. 27-1:Ermesinde. Procissão Santa Rita. 27-2: Saída da igreja Matriz de Valongo da Procissão de Nossa Senhora dos Chãos. 28: Valongo. Pálio com o Santíssimo Sacramento durante o cortejo religioso do Corpo de Deus. 29: Sobrado. Saída da igreja Matriz da procissão de São João Batista com o andor de Santo André. 30-1: Ermesinde. Procissão da Santa Rita. Devota com vestes de Santa Rita. 30-2: Alfena. Saída da procissão de Nossa Senhora do Amparo da Capela em direção à igreja de São Vicente. 31: Valongo. Procissão de São Mamede com andor de Cristo Crucificado. 32-1: Valongo. Alminhas e Cruzeiro de Nossa Senhora da Purificação – Largo do Souto. 32-2: Alfena. Espaldar de uma caixa de esmolas proveniente provavelmente da antiga igreja paroquial atualmente em exposição no Museu da Paróquia de Alfena. 33: Valongo. Procissão de Nossa Senhora dos Chãos. Percurso entre a igreja matriz de Valongo e a capela de Nossa Senhora dos Chãos. 34-1: Ermesinde. Procissão de Santa Rita. 34-2: Ermesinde. Interior da igreja do Bom Pastor. Túmulo da Beata Irmã Maria do Divino Coração e cartas com pedidos e agradecimentos. 35: Alfena. Andor de Nossa Senhora do Amparo. 36-1: Alfena. Escultura de Nossa Senhora da Paz. 36-2: Ermesinde. Imagem de São Silvestre. 37: Valongo. O acompanhamento musical por grupo de jovens permanece como tradição nas procissões. 39-1: Sobrado. Escultura de São Gonçalo; integrava o espólio da antiga Capela de São Gonçalo. 39-2: Alfena. Interior da igreja paroquial com andor de São Vicente. 40: Alfena. Preparativos para a procissão de São Vicente no interior da igreja Matriz de Alfena. 41: Alfena. Andor de São Vicente durante o cortejo religioso. 43: Ermesinde. Mulheres chorosas e carpideiras no “Enterro do João.” 44-1: Ermesinde. “Enterro do João.” 44-2: Ermesinde. O estoiro do “João”. 45: Valongo. Procissão do Senhor dos Passos junto ao Cruzeiro do Padrão. 46: Valongo. Andor do Senhor dos Passos durante as celebrações religiosas junto à Capela de Nossa Senhora das Neves/Nossa Senhora da Luz. 47-1: Valongo. Interior da igreja paroquial com o andor do Senhor dos Passos. 47-2: Valongo. Procissão do Senhor dos Passos com pálio. 48: Valongo. Procissão do Senhor dos Passos. Momento do encontro entre a procissão da Nossa Senhora das Dores e a procissão de Cristo carregando a Cruz. 49-1: Valongo. Escultura representando Nossa Senhora da Hora. 49-2: Ermesinde. Interior do Santuário de Santa Rita durante a bênção das rosas. 50: Ermesinde. Celebração religiosa da bênção das rosas. 51-1: Ermesinde. Entrada da igreja de Santa Rita e preparativos para a festa bênção das rosas. 51-2: Campo. Retábulo-mor da Capela de Nossa Senhora da Encarnação. 53: Valongo. Procissão do “Corpus Christi”. 54-1: Valongo. Procissão do Corpo de Deus. 54-2: Valongo. Celebrações religiosas de São Mamede junto da igreja matriz de Valongo. 55: Valongo. Pálio com Santíssimo Sacramento passando no adro da igreja paroquial durante a procissão do Corpo de Deus. 56-1: Sobrado. Devota com a bandeira de Santo André durante o cortejo religioso de São João Batista. 56-2: Sobrado. Cortejo dos Mouriscos e Bugios. 57: Traje dos Mouriscos que em vários pormenores, nomeadamente nos chapéus e nas cores do fardamento, fazem lembrar os uniformes do exército napoleónico. 58: Sobrado. Bugiada. 59: Sobrado. Cortejo da Bugiada. 60-1: Valongo. Escultura de Santa Justa no interior da Capela de São Sabino. 60-2: Alfena. Andor de Nossa Senhora do Amparo no interior da Capela. 61: Alfena. Procissão de Nossa Senhora do Amparo. 62-1: Valongo. Celebrações religiosas de São Mamede durante a noite de dia 17 de agosto junto à igreja paroquial. 62-2: Valongo. Procissão com os andores de Santa Rufina e São Sabino. 63: Valongo. Celebração no interior da igreja matriz de Valongo da Missa Solene de São Mamede com os andores de São Pedro e Nossa Senhora do Rosário decorados com flores.

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64-1: Ermesinde. Chegada do andor de São Silvestre à Igreja Matriz de Ermesinde. 64-2: Valongo. Andor de Nossa Senhora dos Chãos durante a procissão. 65: Valongo. Início da descida do andor de Nossa Senhora dos Chãos rumo à igreja matriz. Procissão de velas e acompanhada por rezas e cânticos. 66-1: Campo. Saída da procissão de São Martinho da igreja matriz. 66-2: Valongo. Andor de Nossa Senhora dos Chãos em forma de barco numa alusão à lenda na origem do templo. 67: Valongo. Chegada da procissão de Nossa Senhora dos Chão à capela. 68: Campo. Procissão de São Martinho no adro da igreja matriz. 69: Valongo. Procissão do Senhor dos Passos junto a capela é como uma primeira vigília, de caráter penitencial, preparando a Semana Santa. 72: Alfena. Andor de São Vicente no interior da igreja paroquial de Alfena. 74: Alfena. Igreja matriz de São Vicente, fachada principal. 76-1: Alfena. Interior da igreja paroquial, altar-mor. 76-2: Alfena. Celebração religiosa no interior da igreja paroquial. 77: Alfena. Capela de São Lázaro, fachada principal. 78: Alfena. Capela de São Roque, fachada principal. 79-1: Alfena. Interior da capela de Nossa Senhora do Amparo (antiga). 79-2: Alfena. Capela de Nossa Senhora do Amparo (antiga) e cruzeiro, fachada principal. 80-1: Alfena. Capela de Nossa Senhora do Amparo. 80-2: Alfena. Interior da capela de Nossa Senhora do Amparo. 81-1: Alfena. Capela de Nossa Senhora da Paz. 81-2: Alfena. Interior da capela de Nossa Senhora da Paz. 82-1: Alfena. Capela de Nossa Senhora da Piedade, fachada principal. 82-2: Alfena. Retábulo-mor da capela de Nossa Senhora da Piedade. 83-1: Alfena. Altar-mor de Nossa Senhora da Conceição. 83-2: Alfena. Capela de Nossa Senhora da Conceição. 85-1: Alfena. Escultura de Santa Luzia. Museu da Paróquia de Alfena. 85-2: Alfena. Imagem de Nossa Senhora da Assunção. Museu da Paróquia de Alfena. 86: Alfena. Capela-mor da igreja paroquial de São Vicente com um conjunto de cruzes pascais. Pormenor de painel esculturado em madeira da autoria do escultor Paulo Neves, século XXI. 88: Alfena. Conjunto escultórico das “Santas Mães.” Museu da Paróquia de Alfena. 89: Alfena. Píxide em ouro cuja produção resultou da fundição de muitas das oferendas em ouro dos devotos, datada de 1968. 90-1: Alfena. Calvário da Costa ou Via-Sacra. 90-2: Alfena. Alfena. Calvário da Costa ou Via-Sacra. 91-1: Alfena. Alfena. Cruzeiro da Capela Mortuária. 91-2: Alfena. Cruzeiro da Restauração. 92-1: Alfena. Alminhas de Nossa Senhora dos Remédios. 92-2: Alfena. Alminhas. 92-3: Alfena. Alminhas de São Vicente. 93: Alfena. Calvário ou Via-Sacra de Cabeda. 94: Campo. Andor de São Martinho. 96: Campo. Igreja matriz de São Martinho, fachada principal. 98: Campo. Interior da igreja paroquial de São Martinho. 99-1: Campo. Interior da capela-mor da igreja matriz de Campo. 99-2: Campo. Interior da nave da igreja matriz de Campo. 101-1: Campo. Devota no andor de São Martinho decorado com flores. 101-2: Campo. Retábulo de Cristo Crucificado e Nossa Senhora das Dores. 102: Campo. Custódia-cálice em prata dourada, datada do séc. XIX. Igreja paroquial de São Martinho de Campo. 103-1: Campo. Conjunto de caldeirinha e hissope em prata, datado do século XVIII. 103-2: Campo. Turíbulo. 104: Campo. Escultura de São Marinho. 105: Campo. Pormenor de paramento. 106: Campo. Procissão de São Martinho no adro da igreja paroquial. 107: Campo. Procissão de São Martinho no adro da igreja paroquial. 108-1: Campo. Cruzeiro da igreja de São Martinho. 108-2: Campo. Capela de Nossa Senhora da Encarnação, fachada principal. 109: Campo. Fachada principal da Capela de São João Batista. 110-1: Campo. Interior da capela de São João. 110-2: Campo. Escultura de São João Batista. 111-1: Campo. Alminhas do Padre Américo. 111-2: Campo. Alminhas da Ponte Ferreira. 112: Campo. Cruzeiro do Calvário. 113: Campo. Custódiacálice. 114: Ermesinde. Andor de São Lourenço, decorado com flores na procissão. 116: Ermesinde. Igreja paroquial de São Lourenço, fachada principal. 119: Ermesinde. Interior da igreja matriz de São Lourenço. 120: Ermesinde. Altar de São Lourenço, do lado do evangelho. 121: Ermesinde. Nave da igreja matriz de Ermesinde. 122-1: Ermesinde. São Miguel Arcanjo. Sacristia da paróquia de São Lourenço Ermesinde. 122-2: Ermesinde: Altar do Senhor morto, do lado da epístola. 123-1: Ermesinde. Custódia- cálice. 123-2: Ermesinde. Menino Jesus. Sacristia da igreja de S. Lourenço. 124: Ermesinde. Capela de São Silvestre. 125: Ermesinde. Interior da capela de São Silvestre. 127-1: Ermesinde. Capela de São Silvestre no dia da procissão de São Lourenço. 127-2: Ermesinde. Santiago. Retábulo-mor da capela de São Silvestre. 128-1: Ermesinde. Cruzeiro de São Silvestre. 128-2: Ermesinde. Alminhas de São Silvestre. 129-1: Ermesinde. Capela de Nosso Senhor dos Aflitos. 129-2: Ermesinde. Cruzeiro do Senhor dos Aflitos. 130: Ermesinde. Igreja do Sagrado Coração de Jesus / Santuário do Coração de Jesus – Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor. 131-1: Ermesinde. Interior da igreja do Bom Pastor. 131-2: Ermesinde. Escultura da Irmã Maria do Divino Coração da autoria da escultora Irene Vilar. 132: Ermesinde. Altar-mor da capela de Santa Joana, com a imagem de Cristo Crucificado e a escultura da Beata Maria Clara do Menino Jesus. 133: Ermesinde.

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Interior da capela de Santa Joana. 134-1: Ermesinde. Alminhas da Cancela. 134-2: Ermesinde. Alminhas da Gandra. 135-1: Ermesinde. Alminhas de Santo António. 135-2: Ermesinde. Alminhas de Nossa Senhora de Fátima. 136: Ermesinde. Cruzeiro do duplo centenário. 137: Ermesinde. Batistério igreja paroquial de São Lourenço. Mural cerâmico datado de 1981 da autora de Mário Ferreira da Silva. 138: Ermesinde. Santuário diocesano Nossa Senhora do Bom Despacho e Santa Rita. 141: Ermesinde. Saída do santuário da procissão de Santa Rita. 142: Ermesinde. Interior da igreja de Santa Rita em dia de procissão. 143: Ermesinde. Interior da nave da igreja de Santa Rita no dia da procissão. 144: Ermesinde. Interior da nave da igreja de Santa Rita do lado do evangelho. 145: Ermesinde. Interior da nave da igreja de Santa Rita do lado da epístola. 146: Ermesinde. Interior da igreja com preparativos para a procissão de Santa Rita. Altares laterais do Sagrado Coração de Jesus e Santo António com o Menino. Escultura de “São João Paulo II” da autoria de Bruno Marques. 147: Ermesinde. Altar do Sagrado Coração de Jesus no interior da igreja. 148-1: Ermesinde. Cruz processional, capela de Santa Rita. 148-2: Ermesinde. Escadaria de acesso ao santuário em dia de festa. 149: Ermesinde. Interior da igreja de Santa Rita. 150: Ermesinde. Andor decorado com flores dedicado a Santa Rita. 151: Ermesinde. Celebração da Benção das Rosas. 152-1 e 151-2: Ermesinde. Festa e procissão de Santa Rita. 153: Ermesinde. Devotas vestidas com os trajes e iconografia de Santa Rita. 155-1: Ermesinde. Crucifixo datado do séc. XVIII. 155-2: Ermesinde. Estojo com galhetas litúrgicas em prata e colher. 156: Ermesinde. Custódia do Santíssimo Sacramento, em prata, prata dourada, vidro e pedras multicolores, atribuída ao século XIX. 157-1: Escultura do Menino Jesus do séc. XVIII. 157-2: Ermesinde. Escultura de Nossa Senhora da Conceição. 158: Ermesinde. Cruzeiro de Santa Rita em dia de procissão. 159: Ermesinde. Capela de Santa Rita com devotos e peregrinos. 160: Sobrado. Igreja paroquial de Santo André em dia de procissão. 162: Sobrado. Igreja paroquial de Santo André e cemitério. 165: Sobrado. Igreja matriz de Santo André, fachada principal e adro. 166: Sobrado. Interior da igreja paroquial de Sobrado. 167: Sobrado. Capela-mor da igreja matriz com os altares de Nossa Senhora das Graças (lado do evangelho) e Sagrado coração de Jesus (lado da epístola). 168: Sobrado. Andor de São João Batista decorado com flores em dia de procissão. 169-1 e 169-2: Sobrado. Festas de São João. 171: Sobrado. Procissão de São João Batista com andor decorado com flores. 173: Sobrado. Cortejo de Bugiada e Mouriscada. 175: Sobrado. Festas dos Mouriscos e Bugios. 177: Sobrado. Ermida do caminho novo e cruzeiro. 178-1: Sobrado. Capela de Nossa Senhora das Necessidades. 178-2: Sobrado. Interior da capela das Necessidades. 179: Sobrado. Ermida e cruzeiro se São José. 180-1: Sobrado. Capela de São Gonçalo (antiga). 180-2: Sobrado. Capela de São Gonçalo e cruzeiro. 180-3: Sobrado. Interior da capela de São Gonçalo. 181: Sobrado. Capela de Santo António da Balsa. 181-1: Sobrado. Interior da capela de Santo António de Balsa. 181-2: Sobrado. Escultura de Santo António. Sacristia da capela da Balsa. 183: Sobrado. Memorial do Quelho da Cruz. 185: Sobrado. Ermida do Caminho novo durante o cortejo da Bugiada e Mouriscada. 186: Sobrado. Alminhas da aldeia de Sobrado. 187: Sobrado. Cortejo dos Bugios. 188: Valongo. Procissão de São Mamede. 190: Valongo. Igreja paroquial de São Mamede, fachada principal. 192: Valongo. Interior da igreja paroquial de São Mamede. 193-1: Valongo. Interior da igreja paroquial de Valongo em dia de procissão. 193-2: Valongo. Adro da igreja de São Mamede com tapete de flores. 194-1: Valongo. Ex-votos em cera no altar de Santo António. 194-2: Valongo. Batismo de Cristo nas margens do rio Jordão (século XIX, 1878), Francisco José de Resende, pintura localizada no batistério, do lado do Evangelho. 195: Valongo. Interior da igreja paroquial de São Mamede. 196-1: Valongo. São João Batista. Pintura. Séc. XIX, originário de um dos retábulos da nave, do lado do Evangelho, encontra-se atualmente em depósito no Museu Municipal de Valongo, da autoria de João Batista Ribeiro. 196-2: Valongo. Nossa Senhora das Almas/Nossa Senhora da Purificação. Pintura. Séc. XIX, proveniente da igreja matriz, encontra-se atualmente em depósito no Museu Municipal de Valongo da autoria de João Batista Ribeiro. 197-1: Valongo. Pintura a óleo sobre tela alusiva a Nossa Senhora do Rosário com o Menino e São Domingos de Gusmão ajoelhado aos seus pés, séc. XIX, autor João Batista Ribeiro. 197-2: Valongo. Santo António com o Menino, séc. XIX, originário de um dos retábulos da nave, do pintor João Batista Ribeiro. 199: Valongo. Órgão de tubos da igreja de São Mamede de Valongo. 200: Valongo. Píxide. 201-1: Valongo. Custódia neogótica. 201-2: Vara de juiz, conjunto. 202-1: Valongo. Custódia do Santíssimo Sacramento,1895. 202-2: Valongo. Cálice e Patena. 203-1: Valongo. Coroa de Nossa Senhora do Rosário (século XIX). 203-2: Valongo. Resplendor de Nosso Senhor do Calvário (século XVIII) em prata, prata dourada e pedras de cor púrpura. 204-1: Valongo. Jarro para a água (século XIX) em prata. 204-2: Valongo. Caldeirinha e Hissope. 205:

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Valongo. Missal (1710), usado para a celebração da liturgia católica; com capa em veludo vermelho com embutidos em prata. 206-1: Valongo. Cristo Crucificado / Cristo em Agonia, séc. XIX, pintura a óleo sobre tela em depósito no Museu Municipal de Valongo. Pintor: João António Correia. 206-2: Valongo. Santíssimo Sacramento. Pintura de João Batista Ribeiro, séc. XIX, originário de um dos retábulos da nave da igreja de Valongo. Em depósito no Museu Municipal de Valongo. 207: Valongo. Quadro de indulgências da Confraria de Nossa Senhora da Purificação e ou Confraria das Benditas Almas de Valongo, escrito a ouro sobre fundo azul e moldura de madeira pintada a castanho, datado de 1753. 208-1: Valongo. Anjo tocheiro, interior da igreja matriz de Valongo. 208-2: Valongo. Escultura de São Mamede, século XVII, admite-se que a sua proveniência possa ser da antiga matriz de Valongo. 209: Valongo. Capela de Nossa Senhora da Hora no dia da procissão do Corpo de Deus. 210: Valongo. Interior da capela de Nossa Senhora da Hora. 211: Valongo. Capela de Nossa Senhora da Luz/Neves, fachada principal. 212: Valongo. Interior da capela de Nossa Senhora da Luz ou Nossa Senhora das Neves. 213-1: Valongo. Capela de Nossa Senhora dos Chãos, fachada principal. 213-2: Valongo. Retábulo-mor da capela de Nossa Senhora dos Chãos. 214-1: Valongo. Capela de Susão antiga, dedicada a Santa Eufémia, interior. 214-2: Valongo. Capela de Nossa Senhora da Saúde, fachada principal. 215-1: Valongo. Interior da capela de Nossa Senhora da Saúde. 215-2: Valongo. Capela de Nosso Senhor do Calvário ou da Restauração. 216-1: Valongo. Interior da capela de Nosso Senhor do Calvário. 216-2: Valongo. Capela do Senhor dos Passos. 216-3: Valongo. Conjunto de lanternas de procissão. 217: Valongo. Retábulo-mor da capela do Senhor dos Passos. 218-1: Valongo. Capela de São Bartolomeu. 218-2: Valongo. Escultura de São Bartolomeu. 219-1: Valongo. Capela de Santa Justa e Santa Rufina. 219-2: Valongo. Interior da capela de Santa Justa e Santa Rufina. 220-1: Valongo. São Sabino, capela de Santa Justa e Santa Rufina. 220-2: Valongo. Capela de São Sabino, fachada principal. 221: Valongo. Retábulo-mor da capela de São Sabino. 222-1: Valongo. Extinta capela de São Bruno. 222-2: Valongo. Escultura de Nossa Senhora das Graças, espólio da extinta capela de São Bruno. 223: Valongo. Pintura alusiva à visão de São Bruno da Virgem Maria com o Menino Jesus. 225: Valongo. Alminhas e Cruzeiro do largo do Túmulo. 226-1: Valongo. Alminhas da Senhora da Fonte. 226-2: Valongo. Alminhas da estrada velha. 227: Valongo. Alminhas. 228: Valongo. Cruzeiro do cantinho. 229: Valongo. Cruzeiro, localizado em frente à capela de Nossa Senhora dos Chãos. 230: Valongo. Cruzeiro do Senhor da Oliveira. 231: Valongo. Cruzeiro do Padrão, datado do século XVIII (1754).

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O VALE SAGRADO

PATRIMÓNIO RELIGIOSO NO CONCELHO DE VALONGO Valongo 2023

Joel Cleto (coord.), Márcia Barros, Suzana Faro, Nuno Ferreira Sérgio Jacques (fotografia)


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