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O Alasca sempre gerou um forte fascínio em Sylvio Gomide, diretor de um grupo educacional em São Paulo. “Desde garoto sonhava conhecer aquele lugar”, conta ele, que neste 2022, ao completar 70 anos, decidiu que já estava mais do que na hora de tirar este antigo sonho do papel.

O presente de aniversário, entretanto, viria em uma embalagem mais do que especial: ele é um experiente viajante de moto e então, é claro, a chegada ao destino tão desejado teria de ser sobre duas rodas.

Os companheiros de jornada representaram uma espécie de cereja do bolo: além de dois bons amigos que já viajaram de moto com ele em outras oportunidades, pela primeira vez Sylvio teria na estrada a companhia do filho caçula, de 39 anos, e do neto, com 15 anos.

Os cinco contrataram uma empresa especializada neste tipo de aventura, a MotoAtacama, que desenhou um roteiro completo e forneceu um guia, Eduardo Generali, que os acompanharia por toda a viagem.

Eles saíram de São Paulo em 11 de maio e embarcaram de avião para Portland, nos Estados Unidos. No dia 13 retiraram cinco motos BMW 1200 Big Trail da empresa MotoQuest e já seguiram direto rumo a Vancouver, no Canadá, em um trajeto de 500 quilômetros, passando por Seattle pela Highway 5 e cruzando a fronteira pelo Arco da Paz.

O comboio foi formado também por um carro de apoio, que levava as malas: o grande – e necessário – volume de casacos e roupas quentes dos cinco viajantes ia no automóvel, deixando as motos mais leves. Sylvio, como um bom pai protetor, seguiu com sua moto (e seu capacete réplica do utilizado por Nelson Piquet nos tempos de Fórmula 1 pela equipe Benetton) sempre atrás do filho, que por sua vez levava o neto na garupa.

“Eu já tenho uma boa experiência em viagens de moto, mas no caso do meu filho foi a primeira vez”, explica Sylvio, que com amigos já rodou de São Paulo a dezenas de destinos tão diversos e interessantes como Punta del Este, no Uruguai, Bonito, no Mato Grosso do Sul, Maceió, em Alagoas, e as cidades históricas de Minas Gerais, por exemplo.

Para preparar melhor o caçula à aventura que estava por vir, antes de partir para o Alasca os dois fizeram viagens curtas de moto para cidades próximas à capital paulista, como Itu e Serra

Conhecer o Alasca era um sonho de infância de Sylvio. Ao completar 70 anos ele conseguiu realizá-lo ao lado de dois amigos, seu filho e neto

Negra. “Saindo de Portland, ele e o meu neto na garupa foram muito bem por todo o trajeto, com muita tranquilidade e segurança.”

Cenário montanhoso e selvagem

O segundo dia de viagem foi até Quesnel, trecho de 650 quilômetros. “Mantivemos um ritmo bom e constante. Parávamos para abastecer e comer algo mais ou menos a cada duas horas”, conta Sylvio. Era fim da primavera e começo do verão na região, mas mesmo assim os termômetros marcavam temperaturas na casa de um dígito ou, quando muito, algo próximo de 13 graus.

Uma boa noite de sono – e aqui Sylvio conta um segredo: “Quartos separados, sempre, porque o pessoal ronca muito e aí ninguém dorme” – e mais 520 quilômetros de estrada à frente até

Dawson Creek pela John Hart Highway, com o cenário começando a ficar mais montanhoso.

O dia a seguir foi o mais difícil da viagem: até Fort Nelson, 455 quilômetros de distância, o tempo não ajudou. Os cinco enfrentaram chuva torrencial, neve e temperatura de três graus negativos. Mas ninguém parou: seguiram todos em velocidade baixa, cerca de 50 km/h, o que fez com que um trecho que seria percorrido em 1h30 levasse quatro horas para ser superado. “Foi um pouco duro, mas nessas horas a moto ajuda, pois você pode selecionar o Modo Chuva e a suspensão ativa ajusta um setup mais seguro para essa condição”, explica ele.

Em compensação todos os dias à frente foram de sol e condições ótimas para a viagem, o que os ajudou a descobrir em sua total plenitude as belezas da Alaska Highway, estrada aberta pelo exército americano na época da Segunda Guerra Mundial (e liberada ao público somente em 1948).

A cada quilômetro rodado o cenário se torna mais inóspito e bucólico, com direito a vasta vida selvagem, o que inclui ursos, bisões e outros animais de grande porte passeando tranquilamente pelos arredores da estrada. O caminho seguiu rumo a Watson Lake, distante 500 quilômetros, cruzando com lagos e rios de água cristalina. “Por diversas vezes paramos as motos e ficamos simplesmente admirando a beleza do cenário”, recorda o viajante.

A perna seguinte da viagem foi de 630 quilômetros, no quinto dia seguido de pilotagem das motos. Sylvio atesta que, apesar do equipamento permitir, “a paisagem era tão deslumbrante que nem dava vontade de correr”. Neste trecho os cinco cruzaram parte do território de Yukon, famoso pela corrida do ouro ocorrida há mais de um século, mas que manteve ares de uma espécie de velho oeste canadense.

O dia seguinte foi um dos mais aguardados, pois finalmente os aventureiros e suas motos cruzariam a fronteira do Canadá com o Alasca, passando pelo Parque Nacional de Kluane e suas cachoeiras em meio às montanhas nevadas. O trecho total foi de 600 quilômetros e a pernoite em Tok ocorreu em cabanas típicas da região, uma vez que não há hotéis tradicionais por ali. Mas havia um detalhe: o sol se punha perto das dez horas da noite.

Rumo a Anchorage

O trecho do dia seguinte foi um pouco mais curto, 400 quilômetros atravessando o maior parque natural dos Estados Unidos, o Wrangell St. Elias National Park, chegando até Valdez, já com vista para o mar, em pleno Golfo do Alasca.

O último dia de estrada os aguardava rumo a Anchorage, destino final 480 quilômetros à frente. Sylvio relembra que “o cenário em todas as direções era tão deslumbrante que tínhamos que tomar cuidado para não nos distrairmos demais e acabarmos caindo com as motos”. Depois de 4.500 quilômetros percorridos, os aventureiros finalmente completaram o roteiro e devolveram as motos na filial da MotoQuest na cidade.

A viagem, porém, não terminaria aí. Os cinco permaneceram mais algum tempo em Anchorage e fizeram um passeio de barco de um dia inteiro para as monumentais geleiras da região, com direito a ver bem de perto a vida selvagem marinha, com focas e baleias praticamente se exibindo aos turistas. “Eu ficava bobo a cada minuto, não sabia nem para onde olhar”, tenta descrever Sylvio.

Depois de quinze dias no frio, enfrentando temperaturas gélidas, os cinco resolveram partir em busca de calor: voltaram direto de avião do Alasca para Los Angeles, onde “era só praia e bermuda”. E lá permaneceram por mais quatro dias até o retorno a São Paulo.

A vontade de viajar pelo Alasca, entretanto, não foi totalmente saciada. Aparentemente, aliás, o efeito foi o oposto: Sylvio já está planejando a próxima aventura de moto por lá, mas desta vez saindo direto de Anchorage para continuar subindo o inóspito estado americano até, quem sabe, encontrar o Oceano Ártico.

Antes, porém, ele já tem outra viagem de moto agendada ainda neste 2022 para Antofagasta, no Chile, saindo de São Paulo, em grupo de 11 amigos – são mais de seis mil quilômetros somando o trajeto de ida e volta. E ele ainda quer, possivelmente em 2024, percorrer Marrocos e a região Norte da África de moto saindo de Barcelona, na Espanha.

Quem segura esse setentão?

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