Renda de Bilros de Peniche - Caderno de especificações para a certificação

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Prefácio

RENDA DE BILROS DE PENICHE. UM PASSADO COM FUTURO Graça Ramos

Associação Portugal à Mão

As rendas de bilros afirmam-se, a partir do século XVII, como uma importante indústria artesanal em várias localidades costeiras portuguesas. Peniche, nessa época o segundo porto piscatório do país, é uma das localidades que recebeu esta influência, trazida por via marítima, a partir do norte da Europa. No entanto, as sucessivas proibições impostas pela coroa portuguesa ao uso de rendas nos séculos XVII e XVIII, tentando assim atalhar aos prejuízos e dívidas a que incorriam os súbditos na compra de artigos de luxo e excessos supérfluos, fizeram com que esta indústria tenha conhecido momentos difíceis e de incerteza, só ultrapassados em meados do século XVIII com a liberalização do fabrico e comercialização das rendas nacionais, permitindo a sua utilização sem restrições. Foi este momento de grande impulso das indústrias nacionais que permitiu o desenvolvimento da indústria artesanal da renda de bilros em Peniche, consolidando empregos de muitas mulheres e permitindo às famílias locais um complemento importante ao seu parco rendimento proveniente maioritariamente da pesca. Acresce ainda a proximidade do grande mercado de Lisboa que facilitou o escoamento da produção, possibilitando o desenvolvimento e o dinamismo em torno da produção de rendas de bilros em Peniche, ajudando à sua afirmação e reconhecimento.

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Pese embora o bom acolhimento que a renda de bilros de Peniche tinha quer em Portugal, quer no estrangeiro, na segunda metade do século XIX foram-se tornando notórios alguns problemas que a indústria das rendas enfrentava e que foram sendo responsáveis pela sua decadência. A desadequação entre as rendas produzidas e as demandas do mercado, a desqualificação do trabalho, sobretudo no que respeita às matérias-primas utilizadas e ao desenho que comprometia o resultado final da renda, a deficiente remuneração das rendilheiras e o circuito de comercialização montado para escoamento do produto (em que os intermediários ficavam com as maiores margens de lucro), foram fatores que contribuíram sobremaneira para o seu declínio. Na transição do século XIX para o século XX assistiu-se a um ressurgimento do interesse pela manufatura de renda de bilros com a criação de escolas técnicas onde se aliava o ensino da técnica dos bilros com a indispensável aprendizagem do desenho e onde a ênfase era colocada na qualificação estética das rendas produzidas. O sucesso deste empreendimento ficou a dever-se a inúmeras personalidades envolvidas, com especial destaque para Maria Augusta Bordalo Pinheiro, cuja cultura e sensibilidade foram determinantes na renovação e no novo rumo que esta produção então conheceu.

renda de bilros de peniche

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