Renda de Bilros de Peniche - Caderno de especificações para a certificação

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A manufatura das rendas perpetua-se nas famílias, conservando os mesmos padrões e os mesmos processos de trabalho. Os modelos sucessivamente transportados e alterados lentamente vão mudando de forma até apresentarem uma completa modificação, perdendo a graça e a originalidade. Modelos novos não os há geralmente. A variedade e o bom gosto dos padrões, que constituem um elemento de vida para esta indústria, são tidos em pouca conta em Peniche. A má escolha das matérias-primas contribui também para o seu estacionamento. O comércio das rendas é feito por duas ordens de intermediários que especulam com a pobreza das rendeiras. Há na localidade dez ou doze casas que compram, não diretamente às fabricantes, mas a mulheres que estão em contacto com elas e lhes fazem as encomendas. A necessidade obriga

as operárias a solicitar-lhes adiamentos que as põe numa sujeição completa, dando margem à agiotagem. A colocação das rendas no mercado é completamente descurada. A conservação e o aperfeiçoamento desta indústria depende essencialmente de uma organização metódica que, reunindo os elementos poderosos que existem, regule o trabalho e introduza no fabrico todos os aperfeiçoamentos de que tanto carece. Uma companhia que tomasse esta empresa levantaria esta indústria e auferiria por certo um juro remunerador para os seus capitais.” (PORTUGAL: 1881, p. –219-220) Foi com o objetivo de obviar a alguns destes constrangimentos que impendiam sobre a indústria de rendas de Peniche que foi criada, em 1887, a Escola Industrial e Comercial de Peniche.

2.3.5) O ensino das Rendas de Bilros Antes, porém, de falarmos acerca daquela importante escola, importa dizer que a formação das rendilheiras foi sendo, ao longo da história, uma atividade exercida no âmbito doméstico. O saber das mães, avós e tias, era transmitido às meninas mais novas da família, assegurando-se assim um vínculo entre as diversas gerações que preservou a arte das rendas de bilros da voragem do tempo. Na segunda metade do século XIX, porém, a formação já evidenciava um grau de maior formalidade, evidente nas 8 escolas particulares de rendas que então existiam na vila e nas quais as meninas, por volta dos 4 anos de idade, ingressavam. Lá aprendiam não apenas a fazer rendas de bilros, mas também outros lavores femininos, assim como lhes era ensinado a ler, a escrever, a contar e a rezar. Pedro Cerveira Figueira dá-nos conta do ambiente vivido numa dessas escolas no século XIX, no seguinte excerto:

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“(…) vê-se ali a mestra encruzada diante da almofada, tendo sempre junto de si uma longa cana; diante dela, em fileiras estão vinte ou mais raparigas, de costas para a mestra, sentadas às almofadas. A cada uma já foi destinada a empreitada ou tarefa que deve acabar num determinado espaço de tempo, e ai daquela que fala com a companheira, que lhe fica próxima, ou se distraia, porque se a mestra dá por isso lá vai a cana adverti-la.” (FIGUEIRAS: 1865, p. 3) Não queremos com isto dizer, naturalmente, que com o surgimento das escolas o ensino doméstico tenha sido interrompido. É óbvio que numa família de rendilheiras há sempre troca de experiências, sendo que as mais velhas ajudam sempre que podem as mais novas a melhorar a sua destreza e apuro técnico. Para além disso, nem todas as futuras rendilheiras passaram por aquelas –escolas-oficinas particulares, também chamadas de sujeição, pelo facto das crianças estarem sujeitas ao controlo e disciplina das mestras.

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