Renda de Bilros de Peniche - Caderno de especificações para a certificação

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2.3.5.1) A Escola Industrial e Comercial D. Maria Pia O empreendimento escolar historicamente mais importante para as rendas de bilros de Peniche, no entanto, foi a Escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia, conhecida mais tarde como a Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos. A escola surge no contexto das reformas encetadas na segunda metade do século XIX no sentido de melhorar o ensino industrial no país. O acelerado processo de industrialização, com o seu cortejo de novas tecnologias e métodos de trabalho, e o sucesso das exposições internacionais, como a ocorrida em 1851 no Palácio de Cristal de Londres, encorajaram muitos países a enveredar por profundas reformas educativas, tendo o ensino profissional como centro, um papel que no antigo regime estava a cargo das corporações de ofício. Nas conclusões do Relatório Anual de 1850-1851 do Conselho Superior de Instrução Pública lê-se que“A instrução secundária e complementar carece de dilatar a esfera do ensino, na parte relativa às disciplinas industriais, adiantar os conhecimentos práticos e de aplicação, tão necessários para o progresso da agricultura e para o desenvolvimento de todas as artes e ofícios.” (MARTINHO: 2006, p. 54) Tratava-se então da necessidade de investir na instrução popular, nomeadamente no ensino vocacionado para a formação de técnicos, com o objetivo de aperfeiçoar os produtos industriais e agrícolas. Foram-se estabelecendo assim as condições legislativas necessárias para a criação de escolas industriais em diversas localidades do país, procurando adaptar-se a oferta formativa às especificidades dos lugares onde estavam inseridas. Emídio Navarro, Ministro das Obras Públicas, teria um papel preponderante nesta evolução, edificando novas escolas, ampliando aquelas já existentes e preocupando-se com a contratação de

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professores no estrangeiro. É no contexto deste afã legislativo que em 1887 é fundada, em Peniche, a Escola de Desenho Industrial de Peniche. Segundo as orientações emanadas do ministério de Emídio Navarro, as escolas de desenho industrial tinham como objetivo ensinar desenho com aplicação às indústrias predominantes dos locais onde eram criadas. A escola, que a partir de 1888 foi batizada de Escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia, ministrava formação em desenho elementar e industrial a crianças de ambos os sexos, possuindo também em funcionamento uma oficina de rendas, frequentada por 48 rendilheiras no ano letivo de 1889/1890. Estas, para além de receberem formação técnica especializada na arte das rendas de bilros, dividiam-se pelas aulas de desenho elementar e desenho industrial, que se subdividia, por sua vez, nas disciplinas de desenho geométrico e ornamental. O ensino do desenho era considerado a base para a produção de peças de qualidade técnica e estética elevada, que acrescentassem valor à produção e constituíssem ponto de viragem para a indústria da renda de bilros. O sucesso deste empreendimento contou com a atenção e o entusiamo de Fonseca de Benevides, o inspetor das escolas da circunscrição do sul a quem, na prática, coube organizar a escola de desenho e a oficina de rendas, inaugurada oficialmente a 26 de setembro de 1887. No relatório da sua autoria sobreas escolas industriais e de desenho industrial da circunscrição do sul relativos aos anos letivos de 1886-1887, Fonseca de Benevides explica: “Desde tempos remotos a indústria das rendas é, com a da pesca, o foco da vitalidade da vila de Peniche. É conhecida em todo o mundo civilizado a perfeição do trabalho das rendas de Peniche; entretanto, nestes últimos anos, a

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