Jornal da Ordem de Avis | Notícias Medievais . 5

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notĂ­cias medievais n.Âş 5 | 2015


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A filiação de Avis a

Calatrava: duas visitações a Avis

A filiação dos freires de Avis a Calatrava terá ocorrido entre 1176, (data da primeira doação de D. Afonso Henriques aos freires de Évora) e 1187, momento em que os bens doados são mencionados na Bula como pertencendo à Ordem de Calatrava. Deste modo, os documentos mais antigos em cartório da Ordem de Avis referemse frequentemente aos cavaleiros de Calatrava em Portugal, aparecendo as referências a freires e a mestres intitulados de forma a confirmar esta dependência. Os freires de Évora regeramse desde o início pela Regra de Cister concedida a Calatrava, fazendo desta uma organização com uma matriz cisterciense, o que transformava a Ordem de Calatrava numa «filha» da abadia de Morimond e, como tal, sujeita às visitações e correição do abade, da mesma forma que, mais tarde, Avis ficaria sujeita aos preceitos da abadia mãe calatravense, após a filiação1. A Ordem de Avis, apesar de possuir bens próprios para se sustentar e intervir na defesa e conquista do território, precisava de uma regra aprovada pela Santa Sé, adaptada a monges guerreiros e que lhe permitisse gozar dos privilégios não só de Calatra-

va mas também de Cister, em cuja hierarquia esta se inseria. Assim sendo, não só era permitido ao mestre de Avis estar presente no capítulo calatravenho (eleição do mestre ou noutros eventos) mas também os representantes de calatrava estavam obrigados a vir a Avis, acompanhados de um monge cisterciense, para confirmarem a escolha do mestre de Avis. As duas visitações mais referenciadas são disso um bom exemplo: a primeira foi efetuada por D. Martim Rodriguez e pelo abade cisterciense de Sotos Albos, em 1238, confirmando o mestre de Avis eleito, D. Martim Fernandes, onde se «relembraram» os direitos do superior castelhano: receber a “promísíon así como lo fícíeron antes los Maestres de Avís e de Alcantara ao Mestre de Calatrava”, e dar o selo da Ordem ao novo Mestre, obrigado a ser eleito «en la casa de Avís» na presença do Mestre de Calatrava. A outra visita de um mestre castelhano ao convento de Avis data de 1342, momento em que foi eleito o Mestre D. João Rodrigues Pimentel, conforme os Estatutos, tendo sido provido de imediato, pelo visitador castelhano, da dignidade mestral.

1 CUNHA, Maria Cristina Almeida, Estudos sobre a Ordem de Avis(séc.xii e xv), Porto , 2009, p. 46.

O scriptorium e a sua função na Idade Média Scriptorium do Convento

Nas fontes documentais da época são escassas as referências quer à existência, quer à localização dos espaços destinados exclusivamente à escrita nos interiores domésticos, apresentando-se os existentes multifuncionais, onde as exíguas menções ao ato de escrever ou ler não são explícitas e identificam-se, alternadamente, como acontecendo nas «antecâmaras», «câmaras», nos «guardaroupas» ou, até mesmo, no «oratório». No que diz respeito aos paços reais, observamos a referência aos «oratórios», utilizados para rezar mas também para ler, e a pequenos sítios destinados à elaboração e guarda de documentação produzida pelos escrivães e secretários régios ligados à administração, normalmente localizados em zonas secundárias relativamente às outras

dependências mais ilustres, induzindo uma adequação de acordo com a disponibilidade funcional das dependências do edif ício. Também parece haver distinção entre a “caza de escrivães” e “caza de çequetaria”, sugerindo uma certa hierarquização entre as atividades da administração real, o que dará, posteriormente, origem a uma personalização de dependências como o gabinete relativamente a outros, tais como a secretaria ou o escritório, estes dois mais direcionados para as atividades dos escrivães e secretários. É também neste contexto que surgem as menções às livrarias, aqui mais associadas a uma zona de guarda de livros e de arquivo, quer reais quer conventuais, tratando-


3 que ynda agora está pintado de figuras de philosofos e profetas com seus almarios, he ladrilhada, forrada e pintada per cima, com hũa genelinha, pera claridade”. Esta descrição evidência bem o cuidado assumido com esta dependência do scriptorium, descrevendo-se também com clareza a tradicional sequência de “salla, antecâmara, câmara, e guarda roupa” que aqui era completada não pelo oratório, mas pelo “Scriptorium” ricamente decorado com pinturas murais de filósofos2.

arte da escrita

«era necessário matar o corpo para que a escrita nascesse» se, neste caso, das casas religiosas. No entanto, com o passar dos séculos, generaliza-se o termo “livraria” para designar também espaços utilizados não só para guarda de livros mas onde se procediam também às artes da escrita, espaço hoje designado por biblioteca. O que parece ser frequente é a multifuncionalidade das áreas destinadas à escrita, que se deslocalizam frequentemente, havendo, no entanto, no caso de mosteiros e conventos, uma constante referência ao «scriptorium». No caso do Convento de Avis, a menção à existência deste espaço é claramente assumida no tempo de D. Pedro (1424-1466), neto de D. João I, quando manda reconstruir parte de dependências do edif ício e edificar o Paço, onde o Scriptorium assume particular importância, como se verifica através da descrição pormenorizada, num tombo da Ordem, das várias dependências do mesmo. Enquanto Condestável do Reino, D. Pedro de Coimbra, à imagem do seu pai, o Infante D. Pedro, também ele homem de cultura ligado à poesia e às artes, intervém no edif ício conventual, deixando a marca dessa sensibilidade artística visível no bocal oitavado da Cisterna medieval existente no Claustro com a divisa «Paine pour Joie» (Pena por Glória), cujas armas foram também repetidas na entrada da antiga Torre de Menagem, entretanto desaparecida. Em resultado desta intervenção, o registo do Tombo de bens da Ordem do séc. xvi descreve assim as dependências do paço: “E da dita guarda roupa à mao direita vay hũa casinha pequena que serviu de Scriptorio,

O pergaminho como suporte Ao longo dos tempos foram vários os suportes da escrita utilizados pelo homem, desde madeira, argila, cascas, folhas, pedras ou mesmo placas de cera, papiro ou pergaminho. Os Chineses teriam sido os autores da invenção do papel, cerca de um século antes de Cristo, assumindo este na sua fabricação, o emprego de outros

2 Cfr. CARITA, Hélder , Do scriptorium ao gabinete e à casa da livraria. Espaços da escrita nos interiores da casa nobre em Portugal, Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de Lisboa)


canas de diversos diâmetros. A faca estava sempre à mão e servia para afiar a ponta da pena.

4 materiais associados que melhoravam as suas capacidades de resistência, nomeadamente, o trapo. Antes do emprego massificado do papel, a partir do séc. xv e xvi, o pergaminho é, de facto, o suporte da escrita preponderante utilizado com frequência no «scriptorium» conventual e cuja preparação obrigava o domínio de uma arte com a perícia apenas reservada aos monges. A sua origem Embora a sua origem seja desconhecida, é apontada como tendo sido em Bergamo, hoje na Turquia. Os fólios (folhas) utilizados como suporte de escrita, e posteriormente integrado na composição dos livros, eram feitos a partir de peles de animais (ovinos, caprinos e bovinos - sendo o de melhor qualidade feito a partir das peles dos animais jovens como cordeiros, cabritos e vitelos, ou de nados mortos). Devido às diversas técnicas e árduo trabalho associado à sua produção, o livro ficava demasiado caro, em parte pelos materiais empregues e pelo tempo despendido pelos monges copistas no trabalho de os copiar. O processo O fabrico era demorado. Depois de morto o animal, procedia-se ao esfolamento e raspagem das carnes e gorduras, seguia-se a lavagem da pele com água para limpar as impurezas, sendo depois polvilhada com cal. Seguidamente, providenciava-se o esticamento numa grade de madeira, onde ficava a secar para depois ser polida com pedra pomes, de forma a ficar lisa e brilhante. O corte dos fólios Era definida a área da folha, dobrada uma, duas ou três vezes, obtendo-se, deste modo, os formatos dos fólios. Na escrita, o copista normalmente usava uma pena de ganso ou pato, cuja ponta, previamente aguçada, era molhada na tinta, podendo também usar-se pequenas

As tintas A tinta era produzida com uma base de cinza de carvão, à qual se misturava goma ou substâncias metálicas para a tornar fluida e consistente. Era frequente, na Idade Média, utilizar uma mistura feita com a noz de galha ou bugalho de carvalho (rica em taninos) fervido em vinho, ao qual se juntavam minerais. A tinta preta era empregue no texto, tal como a sépia; a tinta vermelha (rubra) reservava-se aos títulos de capitulares e para partes do texto a realçar. As outras cores e o ouro eram usados nas iluminuras e para ornamentar as margens dos livros. Uma grande parte dos pigmentos para as várias cores era importada ou elaborada de forma artesanal.

Utensílios existentes no scriptorium:

Pele de peixe- empregue no polimento dos pergaminhos Pedra pomes- rocha vulcânica seca, serve para polir o pergaminho e afiar a pena Facas-cortar as peles, raspar o pergaminho, talhar penas Nozes de galha- bugalhos utilizados na elaboração da tinta Sulfato de ferro- sal metálico empregue na elaboração da tinta, juntamente com elemento tanino, a noz de galha Goma arábica- resina extraída a partir de diferentes árvores utilizada na elaboração de tinta Almofarizes e pilões- utilizados para macerar as gomas arábicas e os bugalhos na preparação das tintas.


Comendadores Mores

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Quem eram os Comendadores

e de onde provinham

Os reis e os mestres seriam responsáveis por cerca de um quarto de entradas de comendadores na Ordem, sendo frequente os comendadores terem antepassados pertencentes à milícia, como por exemplo Fernão Martins Teixeira (1328 e 1330), sobrinho- neto de um antigo comendador da Ordem. Por volta do século xv, verificam-se os primeiros costumes de sucessão entre pais comendadores e filhos comendadores. Até então, o que era frequente era que se registasse pelo menos uma geração de intervalo entre uns e outros. Grande parte dos homens das Ordens era escolhida entre a parentela de freires e comendadores, estimando-se que, entre 1330 e 1349, a admissão de comendadores com laços de parentesco aos freires correspondesse a cerca de 15% nas Ordens de Avis e de Santiago. Não só os mestres colocavam nas Ordens familiares seus como também os próprios freires que os influenciavam no momento de admissão de novos professos3. 3 Cfr. OLIVEIRA, Luis, A Coroa, os Mestres e os ComendadoresAs Ordens Militares de Avis e de Santiago (1330-1449), Universidade do Algarve, Arte Literatura e História, p.150.

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Têm o lugar de maior honra ao lado do mestre, tendo mesmo responsabilidade de levar o estoque em frente do Mestre, quando estes estão no campo de batalha. 1226- D. Simão Ermiges (Mestre D. Fernão Soares e D. Fernão Rodrigues Monteiro) 1260- D. Pedro Eanes (Mestre Martim Fernandes até ao Mestre D. Fernão Soares) 1268- D. Egas Martins (Mestre Fernão Soares e Mestre D. Simão Soares) 1290- D. João Martins (Mestre D. Simão Afonso) 1296-D. Lopes Afonso (Mestre D. Lourenço Afonso) 1300- D. Arias Peres (Mestre D. Vasco Afonso) 1321-D. Afonso Mendes (Mestre D. Garcia Peres) 1330- D. Vasco Esteves Ferraz (Mestre D. Gil Peres) 1332- D. João Soares (Mestre Afonso Mendes até ao Mestre D. Rodrigo Pimentel) 1430- D. Frey Martim (Infante D. Fernando e D. Pedro) 1349- D. Vasco Martins (Mestre D. Sancho Soares, D. Diogo Garcia, D. João Afonso, D. Egas Martins e D. Martim do Avelar, D. João I) 1370- D. Fernão Rodrigues de Sequeira (Mestre D. João, futuro rei) 1386- D. Lopes Vasques (administrou até 3 anos antes da morte do dito Mestre D. Fernão Rodrigues Sequeira, mestre até 1430) 1431- D. Garcia Rodrigues de Sequeira (sobrinho do mestre D. Rodrigo, filho de D. Fernão Rodrigues Sequeira) esteve na administração durante o mestrado do tio, durante o tempo de Cativeiro de D. Fernando e ainda no tempo de D. Pedro, filho do Infante D. Pedro. O que se sabe deste comendador é que terá lesado em muito o património da Ordem de Avis, concedendo inúmeros bens a seus filhos, sendo por esse motivo destituído do cargo por D. João II. 1492- D. Pedro da Silva (sendo o governador da Ordem D. Jorge, viveu até 4 de Fevereiro de 1512). 1514-D. Luís de Lencastre, filho do mesmo Mestre D. Jorge, mantendo-se ainda em funções em 15155.

4 De los Comendadores Mayores que a avido en la Cavalleria de Avis, Capítulo XIII, Historia das ínclitas Cavalarias de Cristo, Santiago e Avis, Militarium Ordinum Anacleta- Fontes para o Estudo das Ordens Religioso-Militares, p.261. 5 ROMAN, Jerónimo, Historia das ínclitas Cavalarias de Cristo , Santiago e Avis, p. 262.


da em Azóia e Talude, termo de Santarém, pelo foro anual da terça parte de todos os frutos e metade das décimas. 1256-08- Carta de composição entre os reitores e clérigos das igrejas de Santarém e o mestre da Ordem de Avis sobre a divisão das décimas dos lugares de Gualdim e de Azóia, termo de Santarém, de que cada uma das partes receberia metade. 1271-11-05- Carta de confirmação de D. Afonso III, rei de Portugal, ao mestre da Ordem de Avis, D. Simão, da doação feita a D. Martinho Fernandes do padroado das igrejas de Borba.

Notícias do Reino:

Doações e Confirmações

1237-05-05- Carta de doação de D. Sancho II, rei de Portugal, a D. Fernando Rodrigues Monteiro, mestre de Avis, do castelo de Juromenha, a troco da vila de Mafra e seu termo. 1248-11-04- Carta de doação de D. Afonso III, rei de Portugal, ao mestre da Ordem de Avis, D. Martinho Fernandes, do padroado das igrejas de Coruche. 1248-01-15- Carta de doação de D. Fernando III, rei de Castela, a D. Martinho Fernandes, mestre da Ordem de Avis, de 2000 morabitinos pequenos, se ganhasse Sevilha, com promessa de os trocar por herdades e lugares que os valessem de renda e de lhes dar casa em Sevilha. 1250-03-01- Carta de doação de D. Afonso III, rei de Portugal, a D. Martinho Fernandes, mestre de Avis e à sua Ordem, do castelo de Albufeira e seu termo. 1253-06-07- Carta de doação de D. Afonso X, rei de Castela, a D. Nuno Gonçalves, mestre da Ordem de Avis, das casas que tinham sido do mestre de Avis, em Sevilha. 1255-08-01- Carta de aforamento concedida por D. Martinho Fernandes, mestre da Ordem de Avis, a Martinho João Sangalho e Dórdia Soares, sua mulher e a Pedro João Sangalho e sua mulher Marina Pais de uma herdade situa-

1271-11-05- Carta de confirmação de D. Afonso III, rei de Portugal, ao mestre da Ordem de Avis, D. Simão, da doação feita a D. Martinho Fernandes de um campo em Santarém, no lugar de Farregenal.

G

estão de terras: designaçõe

Bens dos Concelhos

Proveniência: régia aos con por espaços desocupados; p pagamento de foro ao conc

Terras incultas; D. Manuel res dos concelhos - visando Maninhos vo; pertenciam maioritaria (supervisão de sesmeiro) chaparrais, posteriormente recolha de madeira, mel. Baldios

Áreas incultas de usufruto clero e nobreza pressionava sivamente

Coutadas

De dois tipos: a coutada re mel); e a coutada apenas a u sobre o território - forma efi

Reguengos

Terras do rei, resultantes d podiam abranger grandes á

Herdades

Grandes propriedades rúst entidades; normalmente oc olival e outras culturas inte

Ferragiais

Local de produção intensiv

Rossio

Espaço de utilização públic de pão, silos de armazenam


1271-11-05- Carta de confirmação de D. Afonso III, rei de Portugal, ao mestre da Ordem de Avis, D. Simão, da doação feita a D. Martinho Fernandes do padroado das igrejas do termo de Estremoz. 1274-12-09- Carta de comissão do arcebispo de Sevilha a Miguel Rodrigues e Mendo Afonso, para fazerem cumprir a bula de Gregório x “Ad audientiam”, que determina que sejam restituídos à Ordem de Avis os bens que indevidamente lhe foram alienados. 1274-12-08- Carta de mandato do bispo de Sevilha para que não fosse permitido a ninguém, de acordo com a bula do Papa Gregório X “Sub religionis”, molestar os freires da Ordem de Avis. 1327-02-01- Carta de sentença, dada por mandado de D. Afonso IV, rei de Portugal, no litígio entre o mestre da Ordem de Avis e seu conven-

es das formas de exploração

ncelhos; territórios das reconquistas constituídos podiam ser explorados por particulares mediante celho.

l (1512) ordena a divisão das terras pelos moradoo promover desbravamento da terra e o seu cultiamente a grandes senhores - aqui desenvolviam-se e transformados em montados, terrenos de caça;

comum distribuídas; atividades como o pastoreio; am os concelhos para os poderem explorar exclu-

elativamente a todos os bens (caça, lenha, bolota, um bem; representavam um instrumento de poder ficaz de estabelecer o domínio senhorial.

da reconquista: quem as cultivava pagava tributo; áreas do concelho.

ticas do Alentejo, pertencentes a particulares ou cupadas por montado de sobro e azinho, vinha, ensivas, como cereais.

va de cereais para alimentação de gado.

ca, numa localidade, onde se faziam as feiras, eiras mento.

7 to, de uma parte, e o concelho de Avis, da outra, em demanda sobre a construção de lagares de azeite em Avis, e a cobrança de dízimo sobre a azeitona, igualdade de lagarem e de maquias, referindo-se também aos lagares e à criação de porcos em Benavila, Canha, Ervedal, e Galveias.

4 Papas que concederam Bulas à Ordem de Avis Papa Martinho V Concede, em 1428-02-27, Bula “Nuper pro causa” dirigida ao mestre da Ordem de Avis, Fernando Rodrigues de Sequeira, para que, nas terras da mesma Ordem, coadjuvasse os seus emissários na coleta da décima destinada à guerra contra os “boémios heréticos”. Papa Eugénio IV Concede, em 1434-09-09, Bula “Sincere devotionis”, confirmando D. Fernando, filho de D. João I, como mestre da Ordem de Avis. Papa Paulo II Concede, em 1464-09-10, a Bula “Cessante nuper”, confirmando a nomeação de D. João, filho de D. Afonso V, como administrador da Ordem de Avis. Papa Alexandre VI Em 1492-08-26 concede Bula “Salvator noster”, exortando o mestre e freires da Ordem de Avis a que rezassem pela sua vitória na guerra contra os turcos e outros infiéis. Em 1503-03-09 Transumpto da bula “Romani pontificis sacri apostolatus” isentando os frades da Ordem de Avis do voto de castidade e permitindo-lhes o casamento, à semelhança do determinado para os da Ordem de Santiago de Espada.


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Pedras e suas propriedades Dolomite- Esta pedra era muito utilizada por alquimistas na Idade Média como remédio contra doenças da pele e dos ossos. Acreditavase que passada sobre a pele ou utilizada na água prevenia micoses e infecções da pele, protegia o pâncreas, a tiróide, os ovários e os testículos. Água Marinha- Encontra-se entre as pedras de adorno e cura mais procuradas desde a Antiguidade. Símbolo de limpeza, amor e proteção da sorte do matrimónio. Indicada para os gânglios linfáticos, perturbações do metabolismo, pescoço, potencia a clareza de pensamento e a tolerância. Amazonite- Contra dores do peito, acalmando os nervos e o coração. Indicada para dores de cabeça, enxaquecas e nervosismo. Liberta de sentimentos de egoísmo e cobiça, estimulando as capacidades criativas6.

Terminologia da poética trovadoresca

Rui Pais de Ribela Comendador, u m’eu quitei de vós e vos encomendei a mia molher, per quant’eu sei que lhi vós fezestes d’amor, tenhades vós, comendador, comendad’o Demo maior. Ca muito a fostes servir, nom vo-lo poss’eu gracir; mais, poila vós fostes comprir de quant’ela houve sabor, tenhades vós, comendador, comendad’o Demo maior. E dizer-vos quer’ũa rem: ela por servida se tem de vós; e, pois que vos quer bem como quer a mim ou melhor, tenhades vós, comendador, comendad’o Demo maior7.

Gesta de maldizer- cantiga de maldizer em forma de gesta, ou seja, parodiando o género épico medieval (a narração dos feitos de um herói). Pranto- cantiga elegíaca por ocasião da morte de alguém, que se homenageia. Pranto de escárnio- cantiga satírica em forma de paródia ao pranto.

6 STARK, Karl, Weber E. Meier, Prevenção e cura com pedras- A energia mais Pura, Dinalivro, 1ºed, Lisboa , 2009.p.41-91

7 «Rui Pais de Ribela denunciaria aqui um comendador (de uma Ordem militar) que, na sua ausência, teria tido um excesso de “zelo” para com a sua própria mulher… Note-se ainda o jogo que a cantiga faz com os termos comendador, comendar e encomendar.» LOPES, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA.


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Cantigas de Escárnio e maldizer Pero Garcia de Ambroa Os beesteiros daquesta fronteira, pero que cuidam que tiram mui bem, quero-lhis eu conselhar ũa rem: que nom tirem com Maria Balteira; ca todos quantos ali tira[ro]m todos se dela com mal partirom8 assi é sabedor e arteira. Tirou ela com ũũ beesteiro, destes d’el-rei, que sabem bem tirar; e primeira vez, polo escaentar, leixou-s’i logo perder um dinheiro e des i outr’; e pois esqueentado, tirou com el[e], e há del levado quanto tragia [a]t(?) no bragueiro. Os beesteiros dos dous carreirões tiraram com ela, e[m]pós o sinal; nem os outros, que tiravam mui mal, acertarom a dous dos pipeões; e forom tirando e bevendo do vinho; o beesteiro, com’era mininho, nom catou quando s’achou nos colhões!9

8 «O verso é equívoco: todos se saíram mal com ela/todos se partiram dela com mal (o “mal” sendo provavelmente venéreo)» in Projeto Littera-edição, actualização e preservação do Património literário Medieval Português, FCT(PTDC/ELT/69985/2006 Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa- Base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas, coordenada por Graça Videira Lopes, Manuel Pedro Ferreira, Nuno Júdice. 9 «Maria Peres Balteira - Famosa soldadeira galega, ativa nas cortes castelhanas de Fernando III e Afonso X. Provavelmente originária da povoação de Armea (Betanzos, A Coruña), na Galiza, Maria Peres terá nascido numa família da pequena nobreza, de quem vai herdar algumas propriedades. Do documento de venda de uma dessa suas herdades ao mosteiro galego de Sobrado, datado de 1257, se depreende que deve ter acabado confortavelmente os seus dias como familiar deste mosteiro, e isto atendendo aos termos em que é feito o acordo, e que indiciam um certo desafogo económico. De resto, e embora no referido documento não conste o nome Balteira, como nele se refere explicitamente que a transação é feita com vista a uma cruzada a realizar por Maria Peres, e a cruzada da Balteira é um dos motivos das cantigas que os trovadores afonsinos lhe dirigem, os investigadores, desde Martínez Salazar, têm identificado a referida dona com a soldadeira. Já sobre o percurso posterior de Maria Balteira não há certezas, mas é possível que ainda fosse viva no início da década de oitenta do século XIII», Martínez Salazar, A. (1898), “Una gallega célebre en el siglo XIII”, in Algunos temas gallegos, A Coruña, Moret, idem, ibidem.


Glossário Medieval

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Saúde e Beleza através dos Óleos Rouquidão: gargarejos feitos com água à qual se juntou uma colher de mel, uma gota de essência de salva e uma gota de essência de alfazema. Piolhos: fricções de vinagre de alfazema. Feridas - chagas: lavar com vinagre de alfazema, desinfetar com gotas de essência de tomilho vermelho ou alfazema fina.Para ativar a cicatrização aplicar duas gotas de bagas de zimbro10.

Almotacé

Competia ao almotacé a polícia económica do município, traduzida na inspeção dos pesos e medidas, em providências relativas ao abastecimento da cidade, na taxação de preços e regulamentos dos of ícios mecânicos. Também zelar pela limpeza da cidade ou o prever à realização de certas obras públicas, nomeadamente a regulamentação de diversos aspetos da construção civil estavam na sua área de competências.

10 ROUVIÈRE, André, A Saúde pelos óleos Essenciais, Como viver melhor, nº15, Porto,1985.p.91.

bafordar- praticar o bafordo (exercício de armas) bailia- baile, dança cobrar-se- recuperar, recobrar forças cochõa- mulher do povo (feminino de cochom, vilão) cochom- vilão (galicismo com o sentido de homem vil, grosseiro) coirmã- prima coita- sofrimento, mágoa, apoquentação, aflição cufiar- passar a mão pelo pêlo, coçar capelo- espécie de capuz capom- galo capão chufa- escárnio, piada chufador- brincalhão, zombeteiro chufar- escarnecer, zombar escaentar- esquentar, aquecer escançam- funcionário encarregado dos vinhos escantar- esconjurar contra o mau olhado escarmentar- escarnecer, castigar escarnir- escarnecer em concelho- publicamente em cós- sem manto, em corpo bem feito em forte ponto- em má hora em mao ponto- em má hora em osso- sem sela em preito- a tratar de em puridade- intimamente, particularmente em saia- sem manto, em corpo bem feito folgar- descansar, ter prazer fareleiro- grande cão de guarda gargantom- comilão garnacha- vestidura talar, espécie de gabão garrida- alegre, que dá nas vistas gasalhado- abrigo, casa, conforto genete- cavaleiro berbere girom- parte da indumentária da cinta aos joelhos juntar preito- levar por diante um negócio juso- em baixo, para baixo lorbaga- planta purgativa loriga- saio de malha metálica do cavaleiro


11 louçana- bonita, formosa loução- belo, viçoso lousinhar- lisonjear, afagar louvamĩares- louvaminhas, adulações maloutia- moléstia, doença (em geral, venérea) maltrager- maltratar maltreito- maltratado malvaz- malvado manceba- criada mandadeiro- mensageiro meirinho- autoridade administrativa e judicial mesela- miserável, desgraçada mesnada- tropas de um cavaleiro (rico-homem ou infanção) mesquinho- infeliz, desgraçado messar- arrepelar os cabelos mester- arte, técnica mester- of ício, profissão monteiro- guarda de caça monteiro maior- monteiro-mor, chefe dos guardas das matas e coutadas moordomo- administrador da casa postura- lei, regulamento pousada- casa, hospedaria pousadeiro- funcionário encarregado das dormidas rabejar- dar ao rabo rabialçada- lampeira (com o rabo alçado) reposte- secção das roupas e baixela de uma casa nobre revol- cosmético rosado ribas- margens rica dona- mulher da alta nobreza rico-homem- classe superior da nobreza rocim- cavalo solaz- prazer soldada- pagamento (em soldos), venda a retalho soldadeira- mulher a soldo (prostituta, ou, por vezes, cantora e bailarina) soldão- sultão soldo- moeda (de valor não muito elevado)


Bibliografia COELHO, Maria Helena da Cruz, O Baixo Mondego nos Finais da Idade Média (Estudo de História Rural), Coimbra, Faculdade de Letras, Vol. I, 1983, pág. 684 GALLEGO, Juan Maria Laboa, História dos Papas - Entre o reino de Deus e o poder terreno, Lisboa, A esfera do Livro, Lisboa, 2010, p.179 LOPES, Graça Videira, (Coordenação) e Manuel Pedro Ferreira, Nuno Júdice, Projeto Littera-edição, atualização e preservação do Património literário Medieval Português, FCT (PTDC/ELT/69985/2006 Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa- Base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas MORTON, David, Tem Excruciating Medical Treatments From The Middle Ages,in Oddee, 2009. Fonte: Massino Montanari, “Alessandro III”, in I Papi e gli Antipapi, Turim, Tea, 1993, pág. 71 OLIVEIRA, Luis, A Coroa, os Mestres e os Comendadores- As Ordens Militares de Avis e de Santiago (1330-1449), Universidade do Algarve, Arte Literatura e História, p.150. OLIVEIRA, Luís Filipe, «As Definições da Ordem de Avis» Universidade o Algarve, in As Ordens Militares Freires, Guerreiros, Cavaleiros, GESOS, Coleção Ordens Militares. 7 Vol.1, Município de Palmela, p. 373 RODRIGUES, Maria Teresa Campos, Livro das Posturas Antigas, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1974, pág. VIII da Nota Prévia ROMAN, Jerónimo, História das ínclitas Cavalarias de Cristo, Santiago e Avis, p. 267 ROUVIERE, André, A Saúde pelos óleos Essenciais, Lisboa, 1987, p. 54-68 Aquisição e Restauros (1991-1992)- Guia da Exposição, Lisboa, Arquino Nacional da Torre do Tombo, pp.17 a 26.cit. O Sentido das Imagens, Escultura e Arte em Portugal (1300-1500), Ministério da Cultura, Instituto Português de Museus, Museu Nacional de Arte Antiga Fontes: IAN/TT, MC.O., Ordem de Avis/C.S.B., CX. 14 Mç.10, nº874 (1338-VII-6) e Ibidem, Cx. 10, Mç. 705. fl .7 citado por OLIVEIRA, Idem, Ibidem, p. 220

Ficha Técnica

Edição 5 - Município de Avis | Diretor: Nuno Silva - Presidente da Câmara | Textos: Marta Alexandre, AHMA - CIOA - Divisão de Desenvolvimento Sócio Cultural e Turismo | Design e Paginação: Tânia Deus Martins | Impressão: Gabinete de Informação e Comunicação | 100 exemplares Distribuição gratuita

Definições da Ordem de Avis, 1327, Janeiro, M.N.A.,Ms/ COD/18 (Tombo de direitos e propriedades pertencentes à Ordem de Avis, documento transcrito por Luis OLIVEIRA, As Definições da Ordem de Avis, Universidade do Algarve, I.E.M. Regra e Statutos e definições da Ordem de S. Bento de Avis, Cap. III Dos sellos & insígnias da Ordem : Do Habito desta Ordem, fl . 5 ROMAN, Jerónimo, História das ínclitas Cavalarias de Cristo, Santiago e Avis, p. 266 http://www.ricardocosta.com/artigo/corpoalma-vida-morte-na-medicina-ibericamedieval-o-regimento-proveitoso-contrapestilencia#sthash.Qd6Ua7xd.dpuf (MICHEAU, 1991: 61). - http://www. ricardocosta.com/artigo/corpo-alma-vidamorte-na-medicina-iberica-medieval-o-regimento-proveitoso-contra-pestilencia#sthash. clojg8Af.dpuf in Projeto Littera-edição, actualização e preservação do Património literário Medieval Português, FCT(PTDC/ELT/69985/2006 Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa- Base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas, coordenada por Graça Videira Lopes, Manuel Pedro Ferreira, Nuno Júdice. Créditos de Imagem: in Apocalipse do Lorvão, Cancioneiro da Ajuda, fólios 4, 51v, 21, 33, 55v, 15 Grandes Crônicas da França. La vision de l’archevêque Turpin. Iluminura. Anterior a 1380. Biblioteca Nacional de Paris. CODEX MANESSE. Die Miniaturen der Großen Heidelberger. Liederhandschrift Insel. Herausgegeben und erläutert von INGO F. WALTHER unter Mitarbeit von GISELA SIEBERT. Frankfurt am Main, Insel Verlag, 1988 Psaltério de Macclesfield. Animais tocando órgão. 1330.


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