Jornal da Ordem de Avis | Notícias Medievais . 7

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notĂ­cias medievais n.Âş 7 | 2017


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dministradores da Ordem Infante D. Fernando, filho do rei D. João I, foi o primeiro Administrador da Ordem, instituído pelo rei D. Duarte através de Bula Apostólica de Eugénio IV, passada no ano de 1434. O Infante consegue isenção de obediência em relação a Calatrava e realiza um Capítulo Geral. Fica cativo em Fez, no ano de 1437, onde viria a morrer a 5 de Junho de 1443, tendo o seu corpo sido transferido para Lisboa. Atualmente está sepultado no Mosteiro da Batalha, na Capela Real. D. Pedro, o Condestável, filho primogénito do Infante D. Pedro e sobrinho do Rei D. Duarte, foi nomeado pelo Rei Afonso V, seu primo. Ascendeu ao cargo de governador do mestrado por Bula de Eugénio IV, emitida a 29 de Março de 1444. Viveu no Convento de Avis e edificou o Palácio dos Mestres, celebrou Capítulo Geral em 1445 e ofereceu um Relicário ao Convento, do Santo Lenho com os ossos de S. Pedro e S. Paulo. Neste Capítulo Geral recebe dos freires procuração para representar a Ordem nos «preitos e demandas necessários». A sua atenção dirigiu-se mormente para os castelos

N a Catalunha encontram-se ainda os seguin-

tes nomes ligados à Ordem de Avis

ANTT, Ordem de Avis, n.º 883 (26 de Fevereiro de 1478) e n.º 834 (18 de Maio de 1480) Afonso Eanes João Eanes Pedro Eanes Rodrigo Eanes Álvaro Gonçalves Fernão Gonçalves Aires de Oliveira Vasco de Oliveira Álvaro Eanes de Póvoa Fernão Rodrigues Gonçalo Soeiro Pedro de Sousa

da fronteira castelhana, o que viria a justificar a compilação de «um caderno das menagens dos castelos da Ordem» no qual se referenciavam as homenagens prestadas pelos diversos alcaides1. D. Pedro está à frente da Ordem como governador entre 1448 a 1449. Por volta de 1456 regressa a Portugal depois do exílio, tendo-lhe sido restituído o mestrado de Avis, que lhe havia sido retirado na contenda com o rei Afonso V, seu primo direito e cunhado. Foi Condestável do Reino e candidato ao trono da Catalunha2 por ser bisneto do rei D. Pedro IV de Aragão. Terá sido envenenado em 1466.

1 OLIVEIRA, Luis Filipe, A Coroa, Os Mestres e os ComendadoresAs Ordens Militares de Avis e de Santiago (1330-1449)(….)p.252-53 2 Tal como nos refere Luis Adão da Fonseca, Algumas considerações a Propósito da Documentação existente em Barcelona (...) , p. 28 , onde afirma que D. Fernando terá sido nomeado a 9 de Setembro de 1434 (...)


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poiantes do Condestável D. Pedro à Causa da Catalunha: Fernão Álvares, Comendador Mor de Mora Lopo Álvares, Comendador de Seda Pedro de Ataíde, Diogo de Azambuja, Comendador de Alter Pedroso Álvaro Mendes Cerveja, Comendador de Beja Fernão Gil, Vedor da Casa do Condestável Frei João, Freire professo do Convento de Avis (talvez Frei João de Lisboa que, como Prior de Albufeira, participou no Capítulo de 1445) Gomes Leitão, Freire conventual de Avis Diogo Raposo, Alcaide do Castelo de Vieiros Afonso Rigo, Freire conventual que mais tarde seria Prior da Igreja Conventual de Avis Fernão Rodrigues Sequeira, mais tarde Comendador de Jerumenha Fernão Vaz de Sequeira, Governador da Casa do Condestável Brás Soares, mais tarde seria Prior de Estremoz Fernando Vaz de Castelo Branco, Comendador de Cabeço de Vide

Pero Vaz, Comendador de Aveiro Diogo Velho, Freire conventual de Avis Fernando Eanes, escudeiro da Casa do Condestável e, em Barcelona, chegou a ser lugar-tenente do tesoureiro real João de Castelo Branco Lopo Matela Afonso Homem Rui Vaz, escrivão da Puridade do Condestável antes de 1464 e seu secretário na Catalunha, sendo posteriormente contador e arrendador das terras do Mestrado de Avis como Cavaleiro da Casa de D. João II3

3 FONSECA, Luis Adão da Fonseca,. Algumas considerações a propósito da Documentação existente em Barcelona respeitante à Ordem de Avis (...)Revista da Faculdade de Letras , II série , Vol II, Porto, 1984, Vol I, Universidade do Porto, p. 30.


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Notícias do Reino D oações e Confirmações

1395-01-17 - Carta de testemunho de Afonso Domingues, armeiro, morador no Lumiar, em como as vinhas e herdades que trazia de renda eram da Ordem de Avis. 1397-07-12 - Cópia autêntica de carta de mercê de D. Afonso IV, rei de Portugal, para que a Ordem de Avis pudesse colocar meirinhos e sesmeiros nas terras onde tinha jurisdição. 1435-01-12 - Carta de confirmação de D. Duarte, rei de Portugal, a D. Leonor Álvares de Queirós, filha de Fernão Álvares de Queirós e viúva de Vasco Fernandes de Gouveia, da doação a este último, por parte de D. João I, seu pai, da vila de Valhelhas. 1443-01-04 - Auto de posse de Fernando Álvares, representando a Ordem de Avis, de um pedaço de terra pertencente à quintã dos Amarelos, filhado por Gonçalo Vasques e cuja entrega havia sido determinada por sentença. 1444-08-04 - Carta de aforamento de Diogo Lopes de Brito, craveiro da Ordem de Avis e comendador em Coruche, a João Eanes, filho de João Dias e Margarida Peres, sua mulher, moradores na mesma vila, de uma terra e mata da Ordem, situada na ribeira do Divor, em termo da dita vila, pelo foro anual de dois dízimos de pão, linho e legumes que nela se obtivessem. 1446-07-22 - Carta de mandado de D. Pedro, o Condestável, governador da Ordem de Avis, a Diogo Lopes de Brito, comendador de Coruche e aos homens-bons do mesmo lugar, para que usas-

sem como sempre o tinham feito a quinta parte das guardas das terras e outros direitos, bem como o que se referia à passagem da barca do Sorraia. 1446-10-16 - Carta de encampação de João Lourenço, morador em Avis, filho de Lourenço Anes, a Pedro Rodrigues, provedor e administrador da capela instituída na Sé de Lisboa por João Lourenço, de um chão da referida capela, situado em Benfica, que seu pai trouxera emprazado, renunciando ele a todo o direito ao emprazamento. 1446-11-28 - Carta de sentença de Pedro Esteves, escolar em Direito Canónico e vigário-geral da vila e arcediagado de Santarém, no pleito e demanda entre Fr Afonso, prior da igreja de Santo Ildefonso de Montargil e Gil Esteves, morador no mesmo lugar, sobre o pagamento da conhecença à igreja de Montargil, relativa a um moinho construído no ribeiro do Carvalheiro, afluente do Sor. 1449-07-28 - Carta de emprazamento de Fr Martinho, prior do convento da Ordem de Avis, a Diogo Gonçalves, escudeiro do infante D. Henrique e mais duas vidas, de umas casas pertencentes à Ordem, situadas na Rua das Esteiras, em Lisboa, pela renda anual de 250 reais, pagos pelo Natal. 1449-11-07 - Carta de aforamento de Fr Martinho, prior do convento da Ordem de Avis na localidade deste nome, a Álvaro Vaz e duas pessoas depois dele, de umas casas da Ordem situadas na praça de S. Martinho, em Leiria, pelo foro de 30 reais cada ano e uma galinha e uma dúzia de ovos, a pagar em dia de São João. 1457-08-22 - Carta de emprazamento de D. Pedro, governador da Ordem de Avis a Rui Vasques, escrivão da puridade e mais duas vidas, da quintã chamada do Paço do Mestre, situada no Lumiar, termo de Lisboa, pelo foro anual de 4.000 reais brancos, a pagar em dia de São João.


5 1457-09-27- Carta de emprazamento por D. Pedro, governador e mestre da Ordem de Avis, dos bens integrados na Ordem pelo mestre D. Fernando Rodrigues a seu sobrinho Fernão Nunes Homem, morador em São Vicente da Beira, que deles usufruía sem comprovativos e a eles renunciou para de novo os receber, emprazados em 3 vidas, pagando anualmente 500 reais de foro. 1459-08-29 - Carta de arrendamento, por Vasco Eanes de Castelo Branco, procurador do mestre de Avis, de uma quintã a par do Lumiar, termo de Lisboa, a Mousem Amarilho, judeu, que ofereceu 500 reais brancos, de dez réis cada um, por tempo de um ano. 1461-02-13 - Carta de escambo entre D. Pedro, Condestável, governador da Ordem de Avis, de um lado e o concelho de Veiros do outro, representado por Lopo Martins, Gomes Vasques, Álvaro Gil Tinoco, dando a Ordem um machial na mesma vila, na ribeira de Anha Loura, abaixo da ponte. 1461-02-28 - Carta de emprazamento de D. Pedro, Condestável, governador da Ordem de Avis, a Álvaro de Teivas, de umas casas em Lisboa,

s Priores da Ordem A Dignidade de D. Prior 1349 - Dom Frei Gonçalo (Mestre João Rodrigues Pimentel) 1406 - Dom Fernando (Mestre Fernão Rodrigues de Sequeira) 1430 - Dom Frei Martim, que foi freire conventual (Mestre Infante D. Fernando e Senhor D. Pedro e também no ano em que celebrou D. João, no ano de 1469) terá sido prior durante sessenta e três anos. 1480 - Dom Diogo, capelão de El Rei D. João II, durante o qual se celebrou capítulo em Évora o dito rei, em 1482 e 1488. 1503 - D. Frei Afonso realiza-se um Capítulo em Setúbal por D. Jorge.

na cerca da Câmara, que partiam com o hospital do conde D. Pedro e com a azinhaga que ia ter às casas do Conde de Abranches, por 3 vidas, pagando por cada ano 500 reais brancos correntes, no dia de S. João Baptista. 1461-03-22 - Auto de posse, pela Ordem de Avis, de uma herdade nos termos de Veiros que D. Pedro, mestre da Ordem de Avis, havia escambado com o concelho de Veiros, pela herdade do Machial (Chaparral). 1463-08-16 - Auto de posse, dado a Afonso Anes, com procuração de D. Pedro, mestre de Avis, da comenda-mor da Ordem, retirada a Garcia Rodrigues de Sequeira, “por erros que cometera” e da igreja de São Brás, como cabeça da comenda. 1464-05-10 - Carta de mercê de D. Pedro, rei de Aragão, conde de Barcelona e governador da Ordem de Avis, a Diogo Velho, cavaleiro da mesma Ordem, dando-lhe a comenda de Aveiro e as rendas de Santa Maria de Terena. [1464] Certidão obtida pela Ordem de Avis em Roma obrigando os lavradores de Estremoz a pagar o dízimo do azeite à Ordem.

1506- D. Frei Nuno Cordeiro 1510- D. Frei Álvaro 1530- D. Frei António Preto foi o último prior mor eleito entre conventuais porque depois passam a ser designados pelo governador, como foi o caso quando, após dezasseis anos como prior mor do convento de Avis, é substituído pelo governador D. Jorge que coloca como prior mor o seu filho D. Jorge. 1547-77 - D. Jorge de Lencastre, filho de D. Jorge, governou trinta e sete anos. Morre a dezassete de Setembro de 1577 e está sepultado numa campa rasa no convento que diz: «Aqui Jaz Dom Jorge de Lencastre Dom Prior que foi deste Convento filho de D. Jorge Mestre de Santiago e de Avis e neto de El Rey D. João II».


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apas que concederam Bulas à Ordem de Avis Papa Adriano VI Concede em 1523-05-04 a Bula “Dum intra nostrae mentis” concedendo ao imperador Carlos V a administração dos mestrados das Ordens de Santiago de Espada, de Calatrava e de Alcântara.

Papa Paulo III 1539-09-22 Cópia autêntica da executória do cardeal diácono Guido Ascãnio Sforza, da isenção concedida às ordens de Avis e de Santiago de Espada do pagamento das décimas impostas pela bula “Considerantes et animo revolventes” do Papa Paulo III. Em 1546-08-16 é atribuída cópia autêntica do breve «Honestius petentium” concedendo às ordens de Santiago de Espada e de Avis o privilégio de poderem constituir conservadores, defensores e juízes próprios.

apítulo celebrado em Avis: Os principais assuntos tratados neste Capítulo giravam em torno das posses das comendas e das rendas da Ordem.

4.º Capítulo 1469, 16 de Janeiro, Avis Administrador o Príncipe D. João, que consta não ter estado presente Dom Frei Garcia Rodrigues Sequeira, Comendador Mor Frei Pedro Vaz Claveiro e Comendador de Aveiro, Seda e Penela Frei Fernão Rodrigues de Sequeira, Comendador de Jerumenha

Frei Pedro Rodrigues, Comendador de Elvas Frei Fernão Vas de Castel Branco, Comendador de Cabeço de Vide Frei Gomes Leitão Cavaleiro Conventual Frei Gil Martins Teixeira, Comendador das Galveias, Benavila e Alcaide do Castelo de Alcanede. Frei Diogo de Azambuja, Comendador das coutadas de Pedroso Frei Diogo Velho, Cavaleiro conventual Frei Álvaro Mendes, Comendador de Beja


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Frei Fernão Sezar, Cavaleiro Conventual Frei Lopes Dias, Comendador de Coruche Don Frei Martin, Prior do dito convento e de Seda Frei João Peres, Sacristão Frei Brás, Prior de Estremoz Frei Afonso Rijo, Prior de Santa Maria de Avis Frei Gonçalo, Prior de Alcáçova de Elvas Frei Diogo, Prior de Montargil Frei Fernando, Prior de Alandroal Frei João Charneco, Prior de Aveiros

Frei Lopo, Prior de Vila Viçosa Frei Gomes, Prior de Fronteira Frei Lourenço, Prior de Portalegre Frei João de Monforte, Freire conventual Frei Vasco Gisado, Vigário de Alcáçova de Santarém Frei Álvaro de Coruche Frei Diogo Charneco Frei João Franco Frei Diogo Moço, todos Freires conventuais

omendas da Ordem

Borba Vasco Fernandes II (1370-1394) Cabeço de Vide Estevão Fernandes II (1338) João Rodrigues de Gouveia (1346) Gonçalo Peres (1352) Gil II (1360) Gonçalo Afonso (1362) Martim Afonso (1376) Fernão Gonçalves (1396-1405) Fernão Vasques de Castelo Branco (1450) Cabeção Aires Peres (1329-1330) João Soares (1334) Cano Gonçalo Lourenço (1334) Gonçalo Gomes II (1338) Loures Juzarte (1344) Afonso Esteves II (1349) Lourenço Nogueira (1362-1371)

Afonso Esteves III (1376-1380) Fernão Gonçalves de Castelo Branco (1412) Casal Álvaro Gonçalves Borges (1375) Fernão Nunes de Homem (1384-1420) Lopo Vasques de Sequeira II (1436-1445) Álvaro de Faria (1450-1459) Comenda-mor (Figueira) Gil Peres de Noudar (1329) Vasco Esteves Ferram (1330-1336) João Soares (1338-1342) João Rodrigues de Gouveia (1343-1344) Vasco Martins Pimentel (1346-1352) Rui Lourenço Buval (1362-1364) Pedro Álvares do Avelar (1367) Vasco Porcalho (1371-1384) Fernão Rodrigues (1385-1387) Lopo Vasques de Sequeira (1396-1457)


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Saúde e Beleza através dos óleos Óleo Calmante Óleo de amêndoas doces: 100ml Essência de alfazema fina: 2ml Essência de laranja doce: 2 ml Essência de manjerona: 1 ml Essência de matricária: 10 gotas Queimaduras Essência de Eucalipto: 10 gotas Hortelã doce: 2 gotas Cedro: 5 gotas Alfazema fina selvagem: 3 gotas Bagas de zimbro: 2 gotas Este bálsamo cicatrizante pode ser empregue igualmente para as frieiras das mãos, pés e insolações4. 4

ROUVIÉRE, André e Marie- Claire Meyer, A Saúde

pelos óleos essenciais, Litexa Portugal, p.92.

Gastronomia Bacalhau à Bruxa (6 a 8 pessoas)

1 kg de bacalhau grosso dessalgado e sem pele nem espinhas 6 cebolas cortadas às rodelas 1 ramo de salsa 1 g de pimenta moída 2 alhos cortados às tiras 1 dl azeite

1 colher sopa de manteiga de vaca 50 g de toucinho 300 g batatas cortadas rodelas 3 colheres de sopa de vinagre branco 3 colheres de sopa de farinha trigo Dispõem-se no fundo do tacho a cebola, seguidamente, por cima o bacalhau, batatas e toucinho. Seguem-se os condimentos. Por cada camada deitam-se as colheres de farinha e a última camada será de batatas. Tapa-se o tacho.


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Cantigas de Escárnio e maldizer Estêvão da Guarda Pois cata per u m'espeite com sas razões d'engano e me quer meter a dano, por end', antes que mo deite, deitar quer'eu todavia o ma[s]tique a Dom Macia. Pois me tenta de tal provo, per que m'há já esperado, eu, com'home de recado, em véspera d'Ano Novo, deitar quer'eu todavia o ma[s]tique a Dom Macia.

Nota geral: Cantiga que é relativa a um escudeiro do mestre da Ordem Militar de Alcântara. O mástique, termo que aparece no refrão, era uma espécie de goma ou cola para apanhar insetos ou pequenas aves. Desta forma percebe-se o sentido do refrão: «vou tratar de deitar-lhe o laço, antes que ele mo deite». Pelas explicações deve talvez entender-se que quem fala aqui é o rei. Cláudio Neto considera que a cantiga é do período da guerra luso-castelhana que opôs Afonso IV ao seu genro Afonso XI de Castela (13361338), e durante a qual a Ordem de Alcântara, cujos domínios estavam estrategicamente situados na fronteira entre os dois reinos, teve um papel crucial. Na dependência da coroa castelhana, mas com vastos domínios em território português, os seus mestres procuraram manter um certo afastamento no conflito procurando servir de mediação entre as partes, como foi o caso, muito particularmente, de Gonzalo Martínez de Oviedo, possivelmente o mestre referido na cantiga. A ser assim, ela poderá ser ou dos finais de 1337, já que em Dezembro desse ano há registo do mestre ter iniciado negociações com o monarca português, ou dos finais de 1338, data em que as relações de D. Gonzalo com o monarca castelhano se deterioram de maneira irreversível, chegando o mestre a oferecer então as suas fortalezas a Afonso IV, que, em troca, lhe promete o mestrado de Avis. De qualquer modo, D. Macia seria certamente um dos enviados de D. Gonzalo (que, diga-se, acabou deposto, cercado pelas tropas castelhanas e executado em 1339). in Neto, Cláudio (2012), As Ordens Militares na cultura escrita da Nobreza - 1240-1350. Representações nas cantigas de escárnio e de maldizer, FCSH-UNL, Dissertação de Mestrado, 85-94.

E pois ele, às primeiras, quer de mim levar o meu, come engador judeu, em vésperas de Janeiras, deitar quer'eu todavia o ma[s]tique a Dom Macia.


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Ordem de Alcântara Ordem militar castelhano-leonesa, sediada em Alcántara, a oeste da província de Cáceres, na margem esquerda do rio Tejo e na fronteira com Portugal. A sua origem remonta a uma confraria de cavaleiros sediada no vale do Côa, perto de S. Julião do Pereiro, território sobre domínio leonês até ao final do século XIII, altura em que passa a integrar a região da Beira Alta portuguesa por meio do acordo de Alcanizes, em 1297. A primeira menção a estes cavaleiros de Pereiro data de um documento de Janeiro 1176, quando Fernando II de Leão reconhece e sanciona a existência da confraria, confirmando-lhe o território onde estava implantada desde cerca de 1170. Em 1183 a ordem apresenta uma organização complexa, adoptando a regra cisterciense, o que a coloca sob a alçada da Ordem de Calatrava1. Foi esta relação que lhes garantiu a obtenção dos domínios calatravos no território leonês, entre os quais figurava Alcántara, conquistada definitivamente por Afonso IX de Leão, em 1213. Gradualmente a sua antiga designação vai sendo abandonada em função do estabelecimento da sede da ordem nesta fortaleza. Foi uma das ordens envolvidas na consolidação do avanço cristão para a Andaluzia durante o século XIII, a par das outras ordens militares presentes neste período na península. Em 1253, os seus mestres designam-se já mestres da Ordem de Alcántara, senhores de um território situado na Extremadura espanhola, estendendo-se ao norte e ao sul do rio Tejo ao longo da fronteira portuguesa, a oeste de Coria e a norte de Badajoz, as suas principais praças - Alcántara e Valência de Alcántara. A ordem possuía também um domínio a sul do Guadiana, situado a sul de Trujillo, incorporando Magacela, Benquerencia e Zalamea2. O poder da ordem e a sua situação na fronteira com o reino português tornou-a alvo de tentativas de controlo por parte dos monarcas castelhano-leoneses, que logram esta ingerência ao longo do século XIV. Até ao final de Trezentos, a ordem desempenhará um importante papel nos conflitos que se intensificam entre Portugal e Castela neste período.

1 Josserand, Philippe (2009), "Alcantara, ordre de" in Philippe Josserand; Nicole Beriou (dirs.) - Prier et Combattre. Dictionnaire européen des ordres militaires au Moyen Âge, Paris, Fayard e 2 Ayala Martínez, Carlos de (2007), Las órdenes militares hispánicas en la Edad Media (siglos XII-XV) , Madrid, Marcial Pons/La Torre Literaria.


11 Vasco Gil, Pero Martins - Pero Martiins, ora por caridade, vós, que vos teedes por sabedor, dizede-mi quem é comendador eno Espital, ora da escassidade, ou na fraqueza, ou quem no forniz, ou quem em quanto mal se faz e diz. Se o sabedes, dizede verdade. - Pois, Dom Vaasc', um pouco m'ascoitade: os que mal fazem e dizem som mil: eno forniz é[ste] Dom Roi Gil e Roi Martiins ena falsidade, e ena escasseza é o seu priol. Nom vos pod'hom'esto partir melhor; se mais quiserdes, por mais preguntade. - Pero Martiins, mui bem respondestes, pero sabia-m'eu esto per mim, ca todos três eram senhores i das comendas - comendadores estes! E partistes-mi-o tam bem, que m'é mal; mais ar quer'ora de vós saber al: que mi digades de quen'o aprendestes.

- Vós, Dom Vaasc', ora me cometestes doutros preitos; des i, ar dig'assi: nom mi deu algo, pero lho pedi, o priol; e fodi e vós fodestes ( não se trata de homossexualidade, mas de companheirismo na má vida) com Roi Gil; e meus preitos talhei (fiz meus acordos) com Frei Rodrig'e mentiu-mi-os; e sei, per aquest', a sa fazenda daquestes. - Pero Martiins, respondestes tam bem em tod'esto, que fostes i com sem e trobador; e cuid'eu que leestes. - [De] vós, Dom Vaasco, tod'esso m'é bem; hei sis'e sei trobar e leo bem; mais que tárdi que mi o vós entendestes!

Ordem do Hospital de S. João de Jerusalém Ordem religioso-militar fundada em Jerusalém após a primeira cruzada. A sua fundação remonta à instituição de um hospital para peregrinos em Jerusalém por volta de meados do século XI. Até meados do século XII, esta ordem dedicou-se essencialmente ao acolhimento e assistência a peregrinos, através da atividade que mantinha no seu hospital da cidade1. Em 1113, o papa Pascoal II reconhece a ordem do Hospital, dando-lhe dimensão internacional. Sofrendo um processo de militarização a partir de meados do século XII, os Hospitalários permanecerão na Terra Santa até à queda de Acre em 1291. A partir daí, os Hospitalários continuarão a sua missão de combate ao Islão na bacia do Mediterrâneo a partir da sua sede em Rodes e, mais tarde em Malta2. A Ordem tinha-se expandido entretanto pelo Ocidente medieval, acumulando património e legados na maioria dos reinos e principados cristãos da Europa feudal3. É neste contexto que a ordem se vem fixar na Península Ibérica, sendo que uma das suas primeiras casas terá sido o Mosteiro de Leça, por doação da condessa D. Teresa, em 11284. Dedicada, numa primeira fase, às funções assistenciais, o empenho na chamada "reconquista" cristã terá começado por volta do último quartel do século XII. Em Portugal, a ordem receberá doação de terras na Beira Baixa e Alto Alentejo, ficando responsável pela defesa da linha do Tejo. Mas em toda a Península a Ordem não deixou de se tornar num dos elementos mais importantes do xadrez político, devido ao seu poder económico e militar(…)cfr. 1 Riley-Smith, Jonathan (1967), The Knights of Saint John in Jerusalem and Cyprus, c. 1050-1310, Londres, Macmillan. 2 Luttrell, Anthony (1978), The Hospitallers in Cyprus, Rhodes, Greece and the West, 1291-1440 , Londres, Variorum. 3 Sarnowsky, Jürgen (2009), "Hôpital, ordre de l´" in Philippe Josserand; Nicole Beriou (dirs.) - Prier et Combattre. Dictionnaire européen des ordres militaires au Moyen Âge, Paris, Fayard. 4 Oliveira, Luís Filipe (2006), "Ordem do Hospital" in Bernardo Vasconcelos e Sousa et. al. (org.), Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento. Guia Histórico, Lisboa, Horizonte. ). In Neto, Cláudio (2012), As Ordens Militares na cultura escrita da Nobreza - 1240-1350. Representações nas cantigas de escárnio e de maldizer, FCSH-UNL, Dissertação de Mestrado, 85-94.


Bibliografia COELHO, Maria Helena da Cruz, O Baixo Mondego nos Finais da Idade Média (Estudo de História Rural), Coimbra, Faculdade de Letras, Vol. I, 1983, pág. 684 COELHO, Maria Helena da Cruz, D. João I Reis de Portugal -Temas e debates, Circulo de Leitores, Rio de Mouro 2008,p. 182-5 GALLEGO, Juan Maria Laboa, História dos Papas - Entre o reino de Deus e o poder terreno, Lisboa, A esfera do Livro, Lisboa, 2010, p.179 LAPA, Manuel Rodrigues (1970), Cantigas d´Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição, Vigo, Editorial Galaxia LOPES, Graça Videira, (Coordenação) e Manuel Pedro Ferreira, Nuno Júdice, Projeto Littera - edição, atualização e preservação do Património literário Medieval Português, FCT (PTDC/ELT/69985/2006 Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa- Base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas LOPES, Graça Videira (2012), “Algumas notas sobre a base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas”, Medievalista [Em linha]. Nº12, (Julho - Dezembro 2012), Lisboa, IEM/ FCSH-UNL) LUTTRELL, Anthony (1978), The Hospitallers in Cyprus, Rhodes, Greece and the West, 1291-1440 , Londres, Variorum. MORTON, David, Tem Excruciating Medical Treatments From The Middle Ages, in Oddee, 2009. Fonte: Massino Montanari, “Alessandro III”, in I Papi e gli Antipapi, Turim, Tea, 1993, pág. 71

et. al. (org.), Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento. Guia Histórico, Lisboa, Horizonte). RILEY-SMITH, Jonathan (1967), The Knights of Saint John in Jerusalem and Cyprus, c. 1050-1310, Londres, Macmillan. ROMAN, Jerónimo, História das ínclitas Cavalarias de Cristo, Santiago e Avis, p. 266-267 ROUVIERE, André, A Saúde pelos óleos Essenciais, Lisboa, 1987, p. 54-68 SARNOWSKY, Jürgen (2009), "Hôpital, ordre de l´" in Philippe Josserand; Nicole Beriou (dirs.) - Prier et Combattre. Dictionnaire européen des ordres militaires au Moyen Âge, Paris, Fayard. Aquisição e Restauros (1991-1992)- Guia da Exposição, Lisboa, Arquino Nacional da Torre do Tombo, pp.17 a 26.cit. O Sentido das Imagens, Escultura e Arte em Portugal (1300-1500), Ministério da Cultura, Instituto Português de Museus, Museu Nacional de Arte Antiga Fontes: Definições da Ordem de Avis, 1327, Janeiro, M.N.A.,Ms/ COD/18 (Tombo de direitos e propriedades pertencentes à Ordem de Avis, documento transcrito por Luis OLIVEIRA, As Definições da Ordem de Avis, Universidade do Algarve, I.E.M. Regra e Statutos e definições da Ordem de S. Bento de Avis, Cap. III Dos sellos & insígnias da Ordem : Do Habito desta Ordem, fl . 5 http://www.ricardocosta.com/artigo/corpoalma-vida-morte-na-medicina-ibericamedieval-o-regimento-proveitoso-contrapestilencia#sthash.Qd6Ua7xd.dpuf

NETO, Cláudio (2012), As Ordens Militares na cultura escrita da Nobreza - 1240-1350. Representações nas cantigas de escárnio e de maldizer, FCSH-UNL, Dissertação de Mestrado

(MICHEAU, 1991: 61). - http://www. ricardocosta.com/artigo/corpo-alma-vidamorte-na-medicina-iberica-medieval-o-regimento-proveitoso-contra-pestilencia#sthash. clojg8Af.dpuf

OLIVEIRA, Luis, A Coroa, os Mestres e os Comendadores - As Ordens Militares de Avis e de Santiago (1330-1449), Universidade do Algarve, Arte Literatura e História, p.150.

in Projeto Littera - edição, actualização e preservação do Património literário Medieval Português, FCT(PTDC/ELT/69985/2006 Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa- Base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas, coordenada por Graça Videira Lopes, Manuel Pedro Ferreira, Nuno Júdice.

OLIVEIRA, Luís Filipe, «As Definições da Ordem de Avis» Universidade o Algarve, in As Ordens Militares Freires, Guerreiros, Cavaleiros, GESOS, Coleção Ordens Militares. 7 Vol.1, Município de Palmela, p. 373 OLIVEIRA, Luís Filipe (2006), "Ordem do Hospital" in Bernardo Vasconcelos e Sousa

Ficha Técnica

Edição 7 | 2017 - Município de Avis | Diretor: Nuno Silva - Presidente da Câmara | Textos: Marta Alexandre, AHMA - CIOA Divisão de Desenvolvimento Sócio Cultural e Turismo | Design e Paginação: Tânia Deus Martins | Impressão: Gabinete de Informação e Comunicação | 100 exemplares Distribuição gratuita

Créditos de Imagem: in Apocalipse do Lorvão, Cancioneiro da Ajuda, fólios 4, 51v, 21, 33, 55v, 15 Grandes Crônicas da França. La vision de l’archevêque Turpin. Iluminura. Anterior a 1380. Biblioteca Nacional de Paris. CODEX MANESSE. Die Miniaturen der Großen Heidelberger. Liederhandschrift Insel. Herausgegeben und erläutert von INGO F. WALTHER unter Mitarbeit von GISELA SIEBERT. Frankfurt am Main, Insel Verlag, 1988 Psaltério de Macclesfield. Animais tocando órgão. 1330.


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