Jornal da Ordem de Avis | Notícias Medievais . 8

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notĂ­cias medievais n.Âş 8 | 2018


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Elmo e a Espada de D. João I

2 Nesta oitava edição do Jornal da Ordem de Avis, fazemos referência a duas peças provenientes do Museu Militar de Lisboa que o Centro Interpretativo da Ordem de Avis tem a honra de apresentar temporariamente à fruição pública. O Elmo e a Espada atribuídos a D. João I, Séc. XIV/XV, constituem-se como duas emblemáticas peças de defesa pessoal daquele que ficaria para a história com o cognome de Rei de Boa Memória. Atualmente à guarda do Museu Militar de Lisboa e resultando de uma parceria entre esta instituição e o Município de Avis é possível vê-las em exposição no Centro durante o mês de Maio.

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lmo de justa atribuído a D. João I, Séc. XIV/XV

Defesa de cabeça forjada em duas peças principais: casco (subdividido em duas partes) e guarda-rosto. Apresenta 37cm de diâmetro no topo e 30cm na base. A parte de cima do casco cobre o topo da cabeça, sendo baixa e algo abobadada, atravessada ao centro por uma fina aresta; possui duas aberturas para reforço da vista e arejamento(...). A outra parte do casco defende a nuca e o pescoço, sendo ligeiramente abobadada e encurvada junto à nuca (assinalada por uma espessa aresta central); a sua zona mais recuada é vertical e um pouco côncava. Encontrase ligada à parte de cima por meio de uma fiada de rebites, e ao guarda-rosto através de cravação lateral. Cinco rugas discretas, de formato ondeado, percorrem a zona traseira. O guarda-rosto é vertical e um pouco côncavo, cobrindo toda a cara e sobrepondo-se à parte superior do casco por meio de grossos rebordos laterais. Rasgado do lado direito, por via de uma janela quadrangular (com 12,5

cm de lado) presa à parte traseira do casco por uma grossa dobradiça. O rebordo inferior está marcado por pequenos orif ícios, talvez para fixação de um forro. Da sua parte central inferior sai uma grossa fivela, presa por dois cravos de cabeça redonda e destinada a assegurar a ligação ao peitoral. A vista é formada pela fenda existente entre o bordo avançado da parte de cima do casco e o beiço projetado do guarda-rosto. Inv. Nº MML00067. (Nota cedida gentilmente pelo Museu Militar de Lisboa)

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spada atribuída a D. João I, Séc. XIV/XV

Espada de lâmina com aresta central e gume cortante a todo o comprimento terminando em ponta afiada. Pomo com oito faces (em forma de pêra). O Punho já não possui qualquer revestimento. As guardas são retas com pequena curvatura na extremidade. Esta espada é uma das mais importantes peças do nosso armamento medieval e crê-se que tenha sido retirada do túmulo do Rei no Mosteiro da Batalha. Inv.Nº MML00061. (Nota cedida gentilmente pelo Museu

Militar de Lisboa)

apas que concederam Bulas à Ordem de Avis

1391-01-27 - Bula “DIVINA DISPONENTE CLEMENTIA “do papa Bonifácio IX pela qual habilita o rei D. João I para ser rei de Portugal, sem embargo de ser adulterino, o confirma e a todos os seus descendentes, e dispensa e revalida o matrimónio que contraiu com a rainha D. Filipa de Lencastre, sendo mestre da Ordem de Avis, de cujo excesso o absolve. (PT/TT/BUL/0005/09). 1419-03-06 - Bula “AB EO QUI HUMANI” do Papa Martinho V dirigida ao rei D. João I, pela qual concede durante sete anos a todos os fiéis cristãos, que por motivo da guerra contra dos infiéis viverem em Ceuta ou ali permaneceram com demora, possam escolher confessor que, em perigo de vida, por autoridade apostólica, lhes conceda plenária remissão dos pecados (PT/TT/BUL/0005/08) 1421-03-05 - Bula “Gratie Divine Premium” do papa Martinho V dirigidas ao rei D. João I, a comunicar-lhe haver transferido D. Frei Aimaro, bispo de Marrocos, para bispo da cidade de Ceuta e a recomendá-lo à proteção do monarca (PT/TT/BUL/0005/10).


hancelaria Régia

A repartição responsável pela redação validação (mediante a aposição do selo régio) e posterior expedição de todos os atos escritos pelo Rei é designada Chancelaria Régia. Os seus serviços gozavam de autoridade para poderem reconhecer e conferir caracter público a documentos que sendo particulares eram sujeitos à Chancelaria para validação. O Chanceler do rei era quem presidia aos serviços da chancelaria (cancellarius ou notarius curiae) sendo a ele a quem estava confiado os selos régios sendo muito próximo do soberano. Inicialmente competia-lhe despachar diretamente com o Rei, mas à medida que se foi complexificando a administração e com o surgimento de outros cargos nomeadamente contadores, ouvidores e sobrejuizes, a atividade do chanceler especializou-se no exercício de competências técnico-jurídicas, quer na sua redação, quer na análise de diplomas régios e particulares por forma a não contrariarem as leis gerais ou os privilégios da coroa. No entanto, haveria de se manter como o representante formal da autoridade régia pois detinha os selos régios. Por volta dos séculos XIV-XV, houve uma associação do chanceler do Rei ao Tribunal da Casa da Suplicação, considerado então o mais alto tribunal do Reino, no sentido de que para que às decisões desse mesmo tribunal fossem conferidos maior valor e dignidade1.O chanceler era então o segundo magistrado do Reino, sendo o primeiro o “Regedor e Governador da Casa da Justiça da Corte de El-Rei”. 1 cfr. L.I, Tit. 2 das Ordenações Afonsinas.

3 Da chancelaria fazia parte, para além do chanceler, magistrado com elevada cultura jurídica, os oficiais próprios, como notários e escrivães, designados por “notários da chancelaria e escrivães da chancelaria”, embora nos primeiros reinados, se encontrem diplomas em que o chanceler é simultaneamente autor e redator da carta. A passagem de todas as cartas pela chancelaria implicava, para os requerentes, o pagamento de taxas sendo o primeiro Regimento conhecido2 atribuído ao reinado de D. Afonso IV (1325-1357), limitando-se este, quase exclusivamente, a regulamentar os direitos que deviam ser cobrados segundo as várias tipologias das cartas. Estas tipologias podem ser: Cartas de Apelação, Cartas de Citação, Inquirição, Obrigação, Testemunho, Rogo, Protesto, Recusa, Sentença interlocutória ou Definitiva, Quitação, de Confirmação de Doação, ou Privilégios, de Doações de foros, e de Coutos, e Cartas de Graça. O material do selo importava numa taxa diferente sendo pagas taxas mais elevadas por cartas firmadas com selo de chumbo do que por selos de cera. A chancelaria régia no século XIV passou a designar-se Chancelaria-Mor para a distinguir das chancelarias de outros serviços da Administração, como as da Casa dos Contos, da Casa do Cível, das Câmaras de Lisboa e Porto, das Correições das Comarcas e da Chancelaria da Rainha, entre outras. A partir de meados do século XVI a chancelaria régia passou a designar-se por Chancelaria-Mor da Corte e Reino. No que respeita aos registos de mercês, doações e of ícios da Chancelaria Régia, eram frequentemente objeto de incorporação sistemática e direta no Arquivo Real da Torre do Tombo, após o monarca respetivo falecer. 2 Cfr. Livro das Leis e Posturas registado na folhas 82-90.


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O seu conteúdo

A seguir o terramoto de 1755, e devido à ação enérgica de Manuel da Maia, que ocupava o cargo de guarda-mor, o património do Arquivo Real ficou guardado temporária e provisoriamente numa barraca de madeira, onde ficou até 1757, data em que foi transferido para o mosteiro de S. Bento da Saúde, ficando aí durante dois séculos e meio. Na sequência da reinstalação do Arquivo Nacional da Torre do Tombo na Cidade Universitária em 1990, esta documentação transita para as atuais instalações.

termo registo, na chancelaria medieval O portuguesa, refere-se aos livros ou rolos onde se registava uma lista ou tombo de proprie-

dades, uma relação de instituições, pessoas ou povoações obrigadas para com o rei em tributos ou serviços. Aqui era feito um inventário das instituições eclesiásticas em que o rei detinha, entre outros, o direito de padroado. A imprecisão ou confusão que se verifica na Idade Média quanto ao conteúdo de um registo de chancelaria termina por completo no final dessa época e, a partir dos séculos XV e XVI, já se refere apenas aos registos de diplomas que eram feitos em simultâneo à sua expedição.

Notícias do Reino 1471-10-26 - Foral do concelho de Avis, dado pelo mestre Martinho Fernandes ao Convento da Ordem de Avis3.

1270-05-20 - Carta de Doação feita por D. Afonso III da igreja de Santa Maria de Beja à Ordem de Avis7.

1496-01-13 - Perdão a Maria Álvares, solteira, moradora em Benavila, termo de Avis, por ter sido manceba de frei João, frade de missa do convento dessa vila, prior da igreja desse lugar4.

1255-11-06 - Carta de Composição entre a Ordem de Avis e o bispo e cabido de Évora, a respeito da igreja de Coruche8.

1264-03 - Carta de Doação que o convento da Ordem de Avis fez a D. Afonso III da Fortaleza de Alcácer-o-Novo em Évora, e pela qual lhes deu 1000 libras.5 1469-01-26 - Estatutos da Ordem de Avis (traslado dos), feitos no Convento de Santa Maria da Graça da mesma vila6. 3 PT/TT/CC/2/1/34, Corpo Cronológico, Parte II, mç. 1, n.º 34. 4 El-rei o mandou pelos doutores Fernão Rodrigues, do seu Conselho, Dião de Coimbra e Pero Vaz, seu capelão-mor, vigário de Tomar, desembargadores do Paço. João Afonso a fez. Chancelaria de D. Manuel I, liv. 33, fl. 80v, PT/TT/CHR/K/33/80-396V. 5 Gavetas, Gav. 14, mç. 4, n.º 6, Cópia microfilmada. Portugal, Torre do Tombo, mf. 7539, Item 23. 6 PT/TT/GAV/4/1/28 Gavetas, Gav. 4, mç. 1, n.º 28, Portugal, Torre do Tombo.

1260-04-28 - Carta de D. Afonso III pela qual fez mercê a D. Martim Fernandes, Mestre de Avis, do padroado das igrejas que ele tinha na vila de Estremoz9. 1261-03- Instrumento de Composição, feito entre o Mestre de [?] do reino de Castela, e o Mestre de Avis, a respeito dos termos de certas terras, acima do Guadiana10.

7 PT/TT/GAV/4/1/1, Tem selo de chumbo pendente por trancelim de fios verdes, amarelos e encarnados. Gavetas, Gav. 4, mç. 1, n.º 1 8 PT/TT/GAV/4/1/5, Tem vestígios de selos pendentes (apenas a perfuração do suporte). Gavetas, Gav. 4, mç. 1, n.º 5. 9 PT/TT/GAV/4/2/4, Tem selo de cera pendente por trancelim de fio castanho, Gavetas, Gav. 4, mç. 2, n.º 4. 10 PT/TT/GAV/4/1/24, Gavetas, Gav. 4, mç. 1, n.º 24


1270-05-20 - Carta de Doação feita por D. Afonso III da igreja de Santa Maria de Beja à Ordem de Avis11. 1277-08-02- Carta de Mandato de Sancha Pires, a seu pai Aires Martins para a outorga de uma propriedade em Palma, termo de Cabeço de Vide, à Ordem de Avis12. 1320-06-20 - Carta de Doação feita a D. Dinis pelo Convento da Ordem de Avis, da terça das rendas das igrejas de Serpa e Moura para se poderem fazer os Alcáceres das mesmas vilas13. 1319 - Carta de Quitação das rendas das igrejas de Serpa e Moura, feita pela Ordem de Avis ao rei D. Dinis14. 1297-05-02 - Carta de doação feita por D. Dinis a D. Lourenço Afonso, mestre de Avis, do padroado da igreja de Vila Viçosa com suas capelas15. 1317-11-12 - Carta de D. Dinis pela qual faz mercê à Ordem de Avis do padroado da igreja de Santa Maria de Olivença16. 1511 - Livro do Capítulo Geral da Ordem de Calatrava que se celebrou em Sevilha17 . 1379-05-06 - Carta pela qual D. Fernando dava procuração para se trocar com a Ordem de Avis a vila de Borba pela de Benavente18. 1384-02-21 - Carta do concelho da vila de Montemor-o-Novo pela qual se obrigava a dar a D. João, Mestre de Avis, a sisa do vinho e carnes, enquanto durasse a guerra com Castela19. 1384-10-10 - Carta de Doação de D. João, Mestre da Ordem de Avis, a Vasco Martins de Melo de todos os bens de Violante Afonso, aia da rainha de Castela, que possuía em Santarém e seu termo20. 1384-09-02 - Carta de Doação de D. João, Mestre da Ordem de Avis, ao Mosteiro de Alcobaça do Casal de Valverde, do termo de Torres Vedras para que dele tome posse21.

11 PT/TT/GAV/4/1/1, Portugal, Torre do Tombo, Gavetas, Gav. 4, mç. 1, n.º 1A. 12 PT/TT/OACSB/001/0002/00140, A outorga foi concedida a seu pai, para venda da dita propriedade ao Mestre de Avis, no mesmo ano, mês e dia. Feita pelo tabelião Fernão Fernandes de Cabeço de Vide. Ordem de Avis e Convento de São Bento de Avis, mç. 2, n.º 140. 13 (PT/TT/GAV/4/1/19), Gavetas, Gav. 4, mç. 1, n.º 19, Tem vestígios de selos pendentes (apenas a perfuração do suporte). 14 PT/TT/GAV/4/1/23, Gavetas, Gav. 4, mç. 1, n.º 23. 15 PT/TT/GAV/4/1/3 Portugal, Torre do Tombo, Gavetas, Gav. 4, mç. 1, n.º 3A. 16 PT/TT/GAV/4/2/8, Portugal, Torre do Tombo, Leitura Nova, liv. 53 (Livro de Mestrados), f. 202 v., coluna 2. 17 PT/TT/GAV/4/1/27, Portugal, Torre do Tombo, Reforma das Gavetas, liv. 8, f. 464. 18 PT/TT/GAV/4/2/2 Tem selos de cera pendentes por trancelim de fios verdes e encarnados. Portugal, Torre do Tombo, Leitura Nova, liv. 53 (Livro de Mestrados), f. 203, coluna 2. 19 PT/TT/GAV/4/2/3 Portugal, Torre do Tombo, Gavetas, Gav. 4, mç. 2, n.º 3A. 20 PT/TT/CESP/32/50 Colecção Especial, cx. 32, n.º 50 21 PT/TT/CESP/32/53, Colecção Especial, cx. 32, n.º 53.

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6 1446-05-05 - Carta de D. Afonso V de Nomeação, por cinco anos, a João Rodrigues, escudeiro do condestável, morador em Avis, para o cargo de coudel da vila de Avis e seu termo, em substituição de Gonçalo Vasques22. 1446-06-16 - Carta de Perdão de D. Afonso V de degredo a Fernão Pais, escudeiro do comendadormor da Ordem de Avis, que fora criado do prior de S. João e acompanhara a rainha D. Leonor de Aragão a Castela, a pedido do infante D. Henrique23. 1388-12-20 - Carta de Doação feita por D. João I à Ordem de Avis, das aldeias junto a São Vicente da Beira, isto é, Póvoa de Rio de Moinhos e Seia24. 1469-01-26 - Carta de Estatuto, feito capítulo geral da Ordem de Avis, onde se referem os lugares dados ao mestre25. 1533-11-30 - Alvará do mestre das Ordens de Santiago e de Avis a Brás Dias, vedor e recebedor das obras do paço de Setúbal, para que se fizesse o lajeamento do alpendre do Paço do trigo e da Casa do paceiro. 22 PT/TT/CHR/I/0005/441 Cópia microfilmada. Portugal, Torre do Tombo, mf. 1150, mf. 2549 Cópia em formato digital. 23 PT/TT/CHR/I/0005/514 Chancelaria de D. Afonso V, lv. 5, f. 55. 24 PT/TT/GAV/4/2/7 Gavetas, Gav. 4, mç. 2, n.º 7 Portugal, Torre do Tombo, Chancelaria D. João I, liv. 2, f. 41 v., coluna 1. 25 PT/TT/CC/2/186/000083 Corpo Cronológico, Parte II, mç. 186, n.º 83.

1597-05-15 - Carta de Pedro de Samillan para o regedor da vila de Avis, relativa ao envio de 101 toucinhos, e recibo26. 1476-07-16 - Carta de perdão sobre sentença de justiça régia de D. Afonso V a Inês Gonçalves, mulher solteira, moradora na vila de Avis, acusada de cometer adultério com Nicolau Coveira, morador em lisboa27 1476-01-25 - Carta de D. Afonso V de perdão de degredo de dois anos em Tânger a Salvador Vasques, barbeiro, morador na vila de Avis, acusado por Rodrigo Afonso, escudeiro e criado de João Correia, no Crato, de o ferir e por Vasco Lourenço, de dormir carnalmente com uma mulher de nome Beatriz, na sequência do perdão geral outorgado aos homiziados que foram servir para Castela28. 1476-06-20 - Carta de nomeação de D. Afonso V, por 3 anos, a Rui Vasques, cavaleiro da casa do príncipe D. João, morador na vila de Avis, para o cargo de coudel nessa vila e seu termo, em substituição de João Rodrigues, que terminara o tempo de exercício do mesmo29. 26 PT/TT/CC/2/284/00066 Corpo Cronológico, Parte II, mç. 284, doc. 66 . 27 PT/TT/CHR/I/0006/000101. 28 PT/TT/CHR/I/0006/000190 Chancelaria de D. Afonso V, lv. 6 f. 16. 29 PT/TT/CHR/I/0007/000709 D. Afonso V, lv. 7, f. 111, Portugal, Torre do Tombo, mf. 1177, mf. 2604. Cópia em formato digital.

udeus da Vila

1446-07-06 - Carta de perdão sobre justiça régia de D. Afonso V e concessão de carta de segurança a Josepe, contador, judeu, morador em Avis, pela fuga da prisão, contanto que se livre de direito do que era preso30.

30 PT/TT/CHR/I/0005/524 Chancelaria de D. Afonso V, lv. 5, f. 58.

1464-12-12 Carta de perdão sobre justiça régia de D. Afonso V a Mousem Raby, judeu, natural da vila de Avis, pela fuga da prisão31.

31 PT/TT/CHR/I/0008/001144 .Documento descrito no índice Portugal, Torre do Tombo,

Chancelaria de D. Afonso v: índice dos próprios, l 33, f. 20 (PT/TT/ID/1/33).


1464-12-29- Carta de privilégio de D. Afonso V a Josepe Alfarim, judeu, mercador, morador na vila de Avis, concedendo-lhe carta de contratos32. 1498-02-16 - A Pero Lopes de Azevedo, fidalgo da casa real, mercê do padrão de 12 832 reais, em compensação das rendas das Judiarias de Avis e Ponte de sôr33. 32 PT/TT/CHR/I/0008/000349. 33 PT/TT/CHR/K/31/89-331V Chancelaria de D. Manuel I, liv. 31, fl. 89v

artas de Privilégio, Nomeação e Mercê …

vila de Avis34.

1465-02-04 - Carta de privilégio de D. Afonso V de Estalajadeiro a João Vicente, morador no Bebedoiro da Margem, termo da

1451-07-30 - Carta de nomeação de D. Afonso V a Vasco Rodrigues, criado de Lopo Vasques de Avis, recebedor da Sisa régia das Távolas do Haver de Peso da cidade de Lisboa, para o cargo de requeredor dessa Sisa, em substituição de João André, que morrera35. 1514-08-10 - A Manuel de Sande, cavaleiro da casa Del-Rei, carta de mercê de Contador das Obras, Terças e Resíduos, e de Provedor dos Hospitais, Capelas e Albergarias, Confrarias e Órfãos nos almoxarifados de Portalegre e Estremoz, tirando os lugares de Evoramonte, Vimieiro, Cano, Sousel, Fronteira, Avis, Alandroal e Terena, com todos os seus termos, que se juntaram ao almoxarifado de Évora, para que o of ício fosse melhor servido e com mais diligência36.

34 PT/TT/CHR/I/0008/001165. 35 PT/TT/CHR/I/0011/001064 36 PT/TT/CHR/K/15/116-357V Com o qual of ício haveria os mesmos 12.000 rs. anuais que tinha Sebastião Vaz, então falecido, posto que sem o almoxarifado de Évora. [Não menciona o escrivão]. Chancelaria de D. Manuel I, liv. 15, fl. 116v

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irurgiões de Avis

1502-04-15 - Mestre Jerónimo, castelhano, morador em Avis foi autorizado a exercer a sua arte de cirurgia no lugar onde mora, depois de examinado por mestre Gil, f ísico e cirurgião-mor d’el-rei37. 1502-04-17 - Mestre Jerónimo, morador em Avis, é autorizado a usar das suas artes de curar, depois de examinado por Mestre António de Lucena, f ísico-mor d’el-rei38.

37 PT/TT/CHR/K/2/25-129V El-rei o mandou por mestre Gil, seu físico e cirurgião-mor. Diogo Álvares a fez. Chancelaria de D. Manuel I, liv. 2, fl. 25v. 38 PT/TT/CHR/K/2/26-134 Licença outorgada a pedido do beneficiário que, para o efeito, enviou carta à corte. El-rei o mandou por mestre António de Lucena, seu físico-mor. Mestre Rodrigo a fez. Chancelaria de D. Manuel I, liv. 2, fl. 26.

As

Teúdas e Manteúdas de Avis, Mancebas e outras Barregueiras

1496-01-13 - A Maria Álvares, solteira, morador em Benavila, termo de Avis, perdão por ter sido manceba de Frei João, frade de missa do convento dessa vila, prior da igreja desse lugar. El-rei o mandou pelos doutores Fernão Rodrigues, do seu Conselho, Dião de Coimbra e Pero Vaz, seu capelão-mor, vigário de Tomar, desembargadores do Paço39.

Cosméticos medievais Alvaiade - Cosmético (pó branco para a pele) Concela - Cosmético vermelho Revol - Cosmético rosado

1496-02-10 - Notícia de Gaspar Zuzarte, cavaleiro del-rei e Alcaide-mor de Avis, sendo casado, como então era, tivera por mancebas, teúdas e manteúdas a Mécia Fernandes, de Cabeço de Vide e Constança Vaz..., natural do Vimieiro e Catarina Soeiro, dessa vila e Margarida de Tomar, todas quatro mulheres solteiras. E porque era barregueiro público então se apartara delas e vivia honestamente. Pagou 500 reis para a [Arca da] Piedade a frei Fernando40. 1496-02-16 - Notícia de Catarina Soeira, mulher solteira, moradora na vila de Avis, ter sido manceba, teúda e manteúda de Gaspar Zuzarte, alcaide-mor da dita vila, homem casado41. 39 PT/TT/CHR/K/33/80-396V Chancelaria de D. Manuel I, liv. 33, fl. 80v 40 PT/TT/CHR/K/32/112-439, Chancelaria de D. Manuel I, liv. 32, fl. 112. 41 PT/TT/CHR/K/32/105-397V Instrumento de Pero Gonçalves, tabelião em Avis, a 18 Janeiro de 1496. El-rei a mandou pelos doutores. Rui Fernandes a fez. Chancelaria de D. Manuel I, liv. 32, fl. 105v


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Pero Garcia Burgalês

Cantiga de Escárnio e maldizer

Maria Negra, des[a]ventuirada! E por que quer tantas pissas comprar, pois lhe na mãa nom querem durar e lh’assi morrem aa malfada[da]? 5 E num caralho grande que comprou, o onte ao serãa o esfolou, e outra pissa tem já amormada. E já ela é probe tornada, comprando pissas, vedes que ventuira! 10 Pissa que compra pouco lhe dura, sol que a mete na sa pousada; ca lhi convém que ali moira entom de polmoeira ou de torcilhom, ou, per força, fica end’aaguada. 15 Muit’é pera ventuira menguada, de tantas pissas no ano perder, que compra caras, pois lhe vam morrer; e est’é pola casa molhada em que as mete, na estrabaria; 20 [e] pois lhe morrem, a velha sandia per pissas será em terra deitada42. 42 «…a soldadeira Maria Negra desta composição de Pero Garcia Burgalês, uma das mais obscenas do cancioneiro satírico. Servindo-se de uma linguagem direta, a cantiga é igualmente um repositório das doenças do gado cavalar, cujo conhecimento deveria ser, na época, do domínio comum. Na verdade, o trabalho de Carolina Michaelis sobre o vocabulário do Tratado de Alveitaria de Mestre Giraldo I permite compreender que há todo um equívoco erótico que assenta nos sintomas e manifestações específicas das várias doenças aludidas»., Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1910), “Mestre Giraldo e os seus tratados de Alveitaria e Cetraria”, in Revista Lusitana, XIII- in Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consulta em (indicar data da consulta)] Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>.

Martim Rubrica: Esta cantiga fez Martim [Afonso Mar...?]

De Martim Moia posfaçam as gentes e dizem-lhe por mal que é casado; nom lho dizem senom os maldizentes, ca o vej'eu assaz hom'ordinhado 5 e moi gram capa de coro trager; e os que lhe mal buscam por foder, nom lhe vam já mear o seu pecado. E posfaça del a gente sandia e non'o fazem senom com meíça, 10 ca o vej'eu no coro cada dia vestir [i] capa e sobrepeliça; e moito faça el i, moi melhor diz: se por foder ele é pecador, nom ham eles i a fazer justiça. Nota geral: Esta curiosa cantiga, dirigida ao trovador Martim Moxa, e criticando ironicamente a sua vida desregrada, tem sido lida como um auto-escárnio (e uma auto-defesa irónica), já que a leitura que tem sido feita da rubrica (Esta cantiga fez Martim a si mesmo) parecia indicar que, de facto, o seu autor seria o próprio Martim Moxa. No entanto, a leitura desta rubrica é tudo menos evidente, sobretudo nos termos que seguem o nome Martim, onde não seria impossível ler um sobrenome. De facto, não seria caso único nos Cancioneiros os compiladores terem acoplado às trovas de um trovador umas trovas a ele dirigidas. É o que acontece, por exemplo, com a cantiga que o jogral Aº Gomes dedica ao próprio Martim Moxa, com acusações muito semelhantes a estas e que antecede algumas cantigas do trovador, ou com a cantiga que João Romeu do Lugo fez a D. Lopo Lias e que vem no final das cantigas deste trovador. Um caso semelhante poderia, pois, acontecer aqui (o nome do jogral ou trovador podendo talvez ser Martim Afonso). No entanto, a leitura autobiográfica, ainda que um pouco estranha, talvez seja igualmente possível. Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consulta em (indicar data da consulta)] Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>.


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omendas da Ordem Coruche Vasco Fernandes (1334) João Rodrigues de Gouveia (1352) Rodrigues Aires II (1376) Álvaro Gonçalves II (1385) Gonçalo Martins (1393…) Lourenço Mendes Pestana (a.1395) Diogo Lopes de Brito (1405-1446) Covilhã Estevão Fernandes (1329) Gonçalo Lourenço (1338) Vasco Mouro (1352) Elvas Rui Martins (1333-1345) Gonçalo Esteves (1352) Gonçalo Vasques II (1362) Garcia Afonso do Sobrado (1376-1380) Estevão Lopes (1390-1396) Lopo Esteves da Gama (1405-1436) Pêro Rodrigues (1445)

Évora Rodrigo Aires de Ferreiros (1334) Gonçalo Lourenço (1352) Gomes Gonçalves (1364-1376) Gonçalo Martins (1401-1405) Afonso Anes Cinza (1435-1446) Jerumenha Gonçalo Anes Novais (1338) Gonçalo Garcia (1370-1376) Fernão Martins II (1379-1380) Vasco Afonso II (1384-1400) Nuno Martins de Barbudo (1405) Fernão Gomes (a. 1421) Fernão Gonçalves de Castelo Branco (1406-1432) Fernão Rodrigues de Sequeira (1436-1454)

astronomia Doçaria Conventual Bolo de Rodilhas43 Bata 6 gemas de ovos com 300 gr. de açúcar até que a mesma fique branca, seguidamente deite o sumo de um limão completo. A pouco e pouco adicione 300 gr. de farinha, mexendo sempre muito bem. De seguida bata 6 claras em castelo que deverá misturar à massa, sem preocupação em as unir muito bem. O conjunto do preparado deve ficar solto. Misture um pouco de manteiga com claras e barre uma lata de ir ao forno deixando o mesmo a cozer em lume brando. 43 SARAMAGO, Alfredo, Doçaria Conventual do Alentejo, as receitas e seu enquadramento histórico, Colares editora, Sintra, 4º ed. p.81.


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Glossário

Medieval

Aguazil - oficial de justiça a baldom - em abundância, realmente, na verdade a boa fé - cara a cara, rente à pele (a expressão é ainda corrente em Galego). a carom - propositadamente a derredo - atrás aleive - perf ídia, falsidade aleivoso - traidor, falso alacrã - lacrau alão - cão grande de caça alardo - revista anual das tropas alaxam - aleijão, aleijado alçar - erguer, levantar alcaria - quinta alegoria - arte, ciência aleive - perf ídia, falsidade aleivoso - traidor, falso alermã - arruda silvestre, planta de odor desagradável alfaia - objeto utilizado como adorno, enfeite alfaraz - cavalo árabe muito veloz alfolas - rico pano de seda, brocado alfreses - franjas ou borlas douradas ou prateadas almoeda - leilão aló - ali alongado - afastado, distante alongar/alongar-se - afastar/afastar-se alto rio - no seu curso no interior das terras alvaiade - cosmético (pó branco para a pele) alvaraz - tumor esponjoso alvíssaras - recompensa dada por notícia ou acontecimento feliz alvor - o romper da alva ambrar - menear as ancas chufa - escárnio, piada chufador - brincalhão, zombeteiro chufar - escarnecer, zombar conca - barrete eclesiástico, e também escudela confonder/cofonder - castigar, fulminar confonder-se - desgraçar-se guisado - adequadamente, de forma conveniente; guisamento - vestuário, adornos; guisar - arranjar maneira, conseguir, proporcionar; guisar-se - arranjar-se, vestir-se;


Bibliografia COELHO, Maria Helena da Cruz, O Baixo Mondego nos Finais da Idade Média (Estudo de História Rural), Coimbra, Faculdade de Letras, Vol. I, 1983, pág. 684 COELHO, Maria Helena da Cruz, D. João I Reis de Portugal -Temas e debates, Circulo de Leitores, Rio de Mouro 2008,p. 182-5 GALLEGO, Juan Maria Laboa, História dos Papas - Entre o reino de Deus e o poder terreno, Lisboa, A esfera do Livro, Lisboa, 2010, p.179 LAPA, Manuel Rodrigues (1970), Cantigas d´Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição, Vigo, Editorial Galaxia LOPES, Graça Videira, (Coordenação) e Manuel Pedro Ferreira, Nuno Júdice, Projeto Littera - edição, atualização e preservação do Património literário Medieval Português, FCT (PTDC/ELT/69985/2006 Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa- Base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas LOPES, Graça Videira (2012), “Algumas notas sobre a base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas”, Medievalista [Em linha]. Nº12, (Julho - Dezembro 2012), Lisboa, IEM/ FCSH-UNL) LUTTRELL, Anthony (1978), The Hospitallers in Cyprus, Rhodes, Greece and the West, 1291-1440 , Londres, Variorum. MORTON, David, Tem Excruciating Medical Treatments From The Middle Ages, in Oddee, 2009. Fonte: Massino Montanari, “Alessandro III”, in I Papi e gli Antipapi, Turim, Tea, 1993, pág. 71

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Ficha Técnica

Edição 8 | 2018 - Município de Avis | Diretor: Nuno Silva - Presidente da Câmara | Textos: Marta Alexandre, AHMA - CIOA Divisão de Desenvolvimento Sócio Cultural e Turismo | Design e Paginação: Tânia Deus Martins | Impressão: Gabinete de Informação e Comunicação | 150 exemplares Distribuição gratuita

Créditos de Imagem: in Apocalipse do Lorvão, Cancioneiro da Ajuda, fólios 4, 51v, 21, 33, 55v, 15 Grandes Crônicas da França. La vision de l’archevêque Turpin. Iluminura. Anterior a 1380. Biblioteca Nacional de Paris. CODEX MANESSE. Die Miniaturen der Großen Heidelberger. Liederhandschrift Insel. Herausgegeben und erläutert von INGO F. WALTHER unter Mitarbeit von GISELA SIEBERT. Frankfurt am Main, Insel Verlag, 1988 Psaltério de Macclesfield. Animais tocando órgão. 1330.


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