DENÁRIO DE JULIUS CAESAR | Castro de S. Lourenço
NUMISMÁTICA Denário de Julius Caesar | 46-45 a.C., moeda de prata, cunhagem militar itinerante Anverso: busto de Vénus à direita com um diadema e atrás pequeno Cupido. Reverso: troféu de armas gaulesas, composto de capacete e couraça, escudo oval, lanças e trombetas de guerra (carnyx) em cada mão, no meio de dois cativos sentados sob o troféu; exergo: CAESAR Classificação: Crawford 468/1; CRI 58; Sydenham 1014; RSC 13
CONTEXTO DESCOBERTA Esta moeda integra um tesouro monetário, composto por 19 denários republicanos, descoberto nas escavações arqueológicas do Castro de S. Lourenço em 1988. Foi encontrado no piso do edifício castrejo C4, do setor M (1), o qual está relacionado com um lajeado associado às restantes casas do núcleo habitacional. Deste modo, o tesouro monetário composto por 19 denários republicanos, através da moeda mais recente, permitiu datar a destruição da C4 e a reformulação do núcleo. Trata-se da primeira fase de ocupação deste espaço, que inclui três edifícios circulares construídos no decurso do séc. I a.C. Após a destruição de uma das casas por incêndio, regista-se uma reformulação do espaço.
Interpretação da iconografia Esta moeda, de cunhagem militar itinerante na Hispânia, mostra dois cativos nus e amarrados sentados de cada lado de um troféu feito de escudos gauleses, lanças e trombetas de guerra (carnyx) capturados.
Anverso (cara)
1
Busto de Vénus: deusa da beleza e da fertilidade, usando um diadema (1) - que César alegou ser sua antepassada - e atrás pequeno Cupido (2) - o deus do amor, não muito percetível.
2
Reverso (coroa) Cativos: à esquerda uma mulher em atitude de desânimo (3) e à direita um homem com as mãos amarradas atrás das 6
costas (4); o tipo de escudo (5) e carnyx (6) identifica-os
5
como gauleses e refere-se às vitórias de César sobre eles. 3
4
Troféu: após uma batalha vitoriosa, era hábito os gregos erguerem um troféu no campo de batalha e dedicarem-no aos deuses. Este consistia colocação das armas do exército derrotado num poste ou num tronco de árvore, costume que foi adotado pelos romanos.
Contextualização da cunhagem da moeda A partir de 48 a.C., Júlio César emitiu uma série de moedas comemorativas das suas vitórias decorrentes da conquista na Gália (51 a.C.). Com o início de sua campanha contra Pompeu, as moedas serviram como “lembranças” das anteriores conquistas militares de César, inspirando as suas legiões e/ ou servindo como um aviso aos seus inimigos. Após a morte de Pompeu (48 a.C.), a luta contra César passou para seus filhos Gneu Pompeu e Sexto Pompeu. Em 46 a.C., César foi à Hispânia para enfrentar os seus exércitos, servindo esta emissão monetária provavelmente para ajudar a financiar estas campanhas militares. Durante o período de lutas entre Pompeu e César ocorreram aqui emissões monetárias alusivas aos dois militares, produzidas por artífices itinerantes, integrados nas próprias legiões.
Mas o que é um “carnyx?”!
O carnyx era um instrumento de sopro usado entre c. 200 a.C. e c. 200 d.C., seria utilizado em cerimónias e na guerra, onde provavelmente serviria para incitar ou orientar os guerreiros no combate e intimidar os inimigos, conforme relata Políbio. Carnyx e escudo Pormenor de altar romano (Nîmes, França)
Semelhante a um trompete de bronze, em forma de S alongado, com a parte central longa e reta e a seção final do bocal curta. O sino, situado na parte muito mais larga e oposta ao bocal, tinha a forma da cabeça de um javali (de boca aberta) ou de outro animal. A altura significativa deste instrumento permitia que fosse ouvido sobre as cabeças dos participantes.
Curiosidades… O som de um carnyx! Clicar na imagem Carnyx de Deskford (Escócia)
Construção da réplica do carnyx de Deskford (Escócia) Clicar na imagem (inglês | + 2’50 mins)
🖐 Réplica do carnyx de Deskford