Índice
Biodiversidade As águas da Nascente
terapia . balnear . fluvial . termal . medicinal . piscina
Habitado desde a Pré-História Serviços e equipamentos
“Rodeado de montes de pequena cota, goza o Agroal dum ar puríssimo, seco e balsâmico por abundante vegetação de plantas aromáticas, o que concorre para que o seu clima seja muito tónico, conjuntamente por estar no meio de frondosas matas de pinheiral, onde se pode fazer continuamente vida de ar livre…. Tem origem numa formosa região alpina da freguesia de Formigais, concelho de Vila Nova de Ourém, na margem esquerda do Nabão…” Vieira Guimarães (1933) in A Capital
Biodiversidade
O Agroal é um espaço de características singulares e de uma beleza natural extraordinária, situado na envolvente da nascente mais significativa do Rio Nabão, a poucos quilómetros do limite do concelho de Ourém. A riqueza paisagística e a diversidade biológica da área envolvente têm despertado a atenção de ambientalistas e investigadores e atualmente está integrada na Rede Natura 2000, no Sítio “Sicó-Alvaiázere”. A natureza calcária associada a uma abundância de água criou excelentes condições de habitats que suportam uma complexa biodiversidade. Inclui das maiores e mais bem conservadas áreas do País de carvalhal de carvalho-português e manchas notáveis de azinhais, também em bom estado de conservação, nas zonas mais secas. Nas margens do Nabão existem notáveis galerias ripícolas de amieiros, freixos e salgueiros. Os muitos afloramentos rochosos são colonizados por comunidades casmofíticas num reticulado de fendas, e os prados associados são propícios a diversas espécies de orquídeas. Ocorrem também cascalheiras calcárias, pobres em vegetação quer pela instabilidade do substrato quer pela ausência de solo à superfície. Esta é uma das áreas mais importantes para a conservação da flora calcícola, sendo de realçar o Juncus valvatus, um endemismo lusitano. A nível da fauna, o Rio Nabão é um dos locais de ocorrência confirmada da lampreia-de-riacho (Lampetra planeri/ fluviatilis) que se constituiu como um ex-líbris e bandeira dos ambientalistas locais. Existem ainda vários abrigos de morcegos importantes a nível nacional, que albergam colónias de criação de morcego-rato-grande, de hibernação de morcego-de-ferradura-grande e de criação e hibernação de morcego-de-peluche.
“Joaquim Francisco Alves, facultativo municipal em Vila Nova de Ourem, atesto que tenho feito uso das águas do Agroal e quási sempre com óptimo resultado, nas doenças de pele, nas nevralgias e nas doenças dos olhos, sendo também de aconselhar nas doenças do estomago e intestinos. Por ser verdade a me ser pedido, passo o presente atestado que assino.” Vila Nova de Ourem, 22 de Julho de 1930
As águas da Nascente terapia . balnear . fluvial . termal . medicinal . piscina
A nascente do Rio Nabão, muito concorrida como estância balnear, é famosa pelas propriedades terapêuticas atribuídas às suas águas, amplamente difundidas ao longo do séc. XX. Em 1917, Aquiles Machado classifica esta exsurgência cársica como minero-medicinal, tese reforçada em 1931, na publicação Le Portugal Hydrologique et Climatologique. Foi ainda objeto de uma comunicação proferida por Vieira Guimarães em 1931 no Congresso de Hidrologia, Climatologia e Geologia Médica, beneficiando dos testemunhos de médicos e pacientes atestando o seu efeito curativo. A água é fria (18 ºC), bicarbonatada e sulfatada cálcica (Contreiras, 1951), destacando-se a presença de sílica, à qual alguns especialistas atribuíram as suas qualidades cicatrizantes. Popularizado o papel medicinal das «termas» do Agroal, foram várias as licenças de concessão atribuídas para a exploração comercial desta nascente, cuja oferta seria complementada com banhos quentes e alojamento. Atualmente esta piscina natural é muito frequentada por pessoas com idades e de locais de proveniência diversos, mas também com interesses e motivações distintos, que vão da convicção na cura de maleitas à fruição desta estância de lazer e do património natural e cultural que a emoldura.
Excertos de Vieira Guimarães: As Águas do Agroal: Comunicação feita em 26 de outubro 1932 no congresso de Hidrologia, Climatologia e Geologia Médica “José da Costa Pinto, médico municipal de Freixianda da Camara de Vila Nova de Ourem, declaro por minha honra que as águas do Agroal situadas na área do meu partido e muito concorridas pelos povos desta região e dos concelhos de Alvaiázere, Pombal, Leiria, Ancião, Thomar; Ferreira do Zêzere são de prodigioso efeito nos tratamentos de enterocolite e das conjuntivites. Também conheço casos de cura em certas dermatoses especialmente eritemas...” Freixianda, 20 de Julho de 1930 “Eu abaixo assinado, bacharel formado em medicina pela Universidade de Coimbra e clínico em Thomar há trinta e oito anos, atesto, sôbre minha honra, que conheço numerosos casos de acção terapêutica e mesmo curativa das águas do Agroal, nascente importante do rio Nabão, a 10 quilómetros de distância da cidade de Thomar, em doenças de pele e do aparelho digestivo. Entre as doenças da pele vi casos de eczema, psoriases,
piodermites, nas quais variados tratamentos foram, sem eficácia, empregados e as ditas águas do Agroal melhoraram ou curaram. Entre as doenças do aparelho digestivo vi casos de variada forma de dispepsia e de entero-colite crónicas melhorarem sensivelmente pelas mesmas águas.” Thomar, 27 de Julho de 1930. Augusto Correia Júnior. “Meu Colega e Bom Amigo: Recebi o seu pedido e venho dizer-lhe o que sei quanto à fonte do Agroal. Não sou só eu em Lisboa que conheço a fonte do Agroal, pois de mais um colega nosso tenho ciência certa, conhece-a também o nosso colega Sr. Conde de Mafra, o Sr. Dr. Mello Brevner. Sei de suas qualidades curativas — da Agua é claro — verdadeiras maravilhas. São tantos os casos miríficos senão em leprosos, que eu, sempre desconfiado com a hidrologia — muitas vezes artigo comercial de exploração turística, — de cura que me tem enchido de admiração. Sei por minha observação directa de curas brilhantes de osagre, reumatismo crónico — não deformante empétigo pródigo até por mim
diagnosticados e seguidos no seu decurso que, repito, me maravilharam. Não foi empregado qualquer medicamento galénico ou qualquer outro, apenas as águas do Agroal, produziram seus efeitos… Como vê eu sou um devotado admirador das qualidades termais do Agroal, ainda que as não saiba explicar — pois são águas puríssimas, creio que de mineralização insignificante, mas que estou convencido que de qualidade radio activas especialíssimas, qualidades estas que suponho irem buscar aos preciosos jazigos de pirites de ferro e barita dos últimos filões da serra de Alvaiázere que perto lhe passa e faz também o Agroal parte da dita serra. As maravilhas terapêuticas da nascente do Agroal não cabem nestas desataviadas linhas e o meu colega Amigo melhor saberá e poderá destrinçar o caso. Estou certo que com um bocadinho de amor pelas nossas coisas— a fonte do Agroal abundante, fresca e deleitosa — daria a saúde e a vida a muita gente e a fortuna a quem de alma e coração a elas se dedicasse.” Colega Amigo e Admirador Artur Braga Lisboa, 24 de Julho de 1930 Avenida Fontes Pereira de Melo, 15 - Lisboa
Bibliografia Calado (1995), Contreiras (1937), Contreiras (1951), GuimarĂŁes (1932), Lepierre (1931), Machado (1917), Torres (1918), Ă guas e Termas portuguesas (1910), Le Portugal hidrologique e Climatique (1930-42).
Sítios arqueológicos Buraco do Velho Tipo do sítio: Gruta/Necrópole Cronologia: Pré-História Vestígios: Material osteológico humano e cerâmica
Palmaria Cronologia: Pré-História Vestígios: Núcleo cortical e três lascas corticais em sílex e uma em quartzite, fragmento distal de uma lâmina em sílex
Lapa dos Furos Tipo do sítio: Gruta / Necrópole Cronologia: Paleolítico Médio/Calcolítico, Idade do Bronze, Ferro, Romano e Idade Média Vestígios: Materiais osteológicos de animais; contas de cor verde; contas discoidais; cerâmica manual carenada; pregos em ferro; machado e anzol de cobre, cerâmica de construção e pontas de seta em sílex de base triangular, material de debitagem levallois.
Habitado desde a Pré-história
A área que abraça a nascente é povoada por vestígios arqueológicos que atravessam uma longa sucessão de períodos ocupação humana, desde a pré-história até à atualidade. O Agroal foi objeto de investigações conduzidas por especialistas nacionais e estrangeiros (sobretudo desde 1970) que identificaram vários povoados distribuídos por Formigais, com relativa proximidade ao Nabão. Estações arqueológicas como o Castro do Agroal, o Porto Velho, a Lapa dos Furos, ou mesmo a Palmaria, ilustram os quotidianos das populações que habitaram o Agroal desde há milhares de anos, cujas campanhas de estudo originaram publicações em Portugal e no estrangeiro. Alguns vestígios inscrevem-se em locais com vegetação densa e de difícil acesso, o que dificulta a visualização destes vestígios arqueológicos.
Sobral Tipo do sítio: Estação ao ar livre | Cronologia: Neolítico (?) Vestígios: Matéria-prima (sílex cinzento); núcleos diversos; lascas corticais; esquíolas; lamelas.
Vale Casal 1 e 2 Tipo do sítio: Estação ao ar livre | Cronologia: Neolítico (?) Vestígios: Material lítico em sílex e quartzito (lascas, lâminas, lamelas, restos de talhe e furador).
Porto Velho 1 Tipo do sítio: Estação ao ar livre / Villa Cronologia: Neolítico Final/ Calcolítico Inicial / Romano (Alto Império) Vestígios: Grande quantidade de material lítico, núcleos, lamelas, lascas e dois furadores, lâmina com entalhe; fragmentos de cerâmica manual pré-histórica com ungulações no bordo; tégulas; pesos de tear; ânforas; cerâmica comum. Alicerces; sepulturas, lajes e forno.
Castro do Agroal Tipo do sítio: Povoado / Casal Romano e Medieval Cronologia: Neolítico Final / Calcolítico / Bronze Inicial e Final / Idade do Ferro / Romano / Baixa Idade Média
Vestígios: Recipientes em cerâmica, um fuso, uma ponta de sílex, um anzol de cobre e um machado, restos de mós, fragmento de enxó e abundantes ossos de animais domésticos, a nossa prospecção revelou cerâmica de construção e doméstica. Muros de habitação e muralhas.
Outeiro do Milho Cronologia: Calcolítico | Vestígios: Cerâmica; líticos
Abrigo do Agroal Tipo do sítio: Gruta | Cronologia: Calcolítico / Idade do Bronze | Vestígios: Cerâmica; líticos
Abrigo do Castelo Tipo do sítio: Castro romanizado Cronologia: Idade do Ferro / Romano Vestígios: Cerâmica comum calcítica e de paredes finas (Séc. I d.C.); mós; pesos de bronze com anagrama MP; cerâmica de construção e pesos de tear romanos. Pequeno alinhamento de muralha com cerca de 5 m. Fonte: Carta Arqueológica do Concelho de Ourém (2006), ed. Câmara Municipal de Ourém.
Bibliografia: ALARCÃO (988, 1992); ALVES (2001); Araújo, et all (1987); BATATA et all (1993); BERNARDES (1985); CASTRO (1973); CORREIA (1982); CRUZ (1997); GASPAR (1992); KUST (1995); LILIOS (1991); OOSTERBEEK (1997); PONTE e SILVA (1982); Sociedade Portuguesa de Espeleologia (1974); ZILHÃO et all (1987); ZILHÃO (1992, 1994, 1997). ARKEOS. Vale do Nabão do Neolítico à Idade do Bronze (1997); Achegas para a carta arqueológica – Tomar/Portugália (1995); Carta Arqueológica do Concelho de Ourém (2006); Excavations at Bronze Age settlement of Agroal/Yale Graduate Journal of Antropology (1989); Results from the second season of excavations at Agroal/Old World Archaeology Newsletter (1989).
Serviços e Equipamentos
O Município de Ourém, em articulação com a Ouremviva-EEM, a Junta de Freguesia de Formigais e empreendedores locais, aposta num modelo integrado de gestão e promoção do Turismo Natureza do Agroal, que compreende o Parque de Natureza e a zona balnear do Agroal. A zona balnear, classificada com o estatuto de “Praia Fluvial”, é vigiada na época balnear e dispõe de um conjunto de equipamentos destinados à fruição pelo público, que incluem: - Uma área para banhistas com balneários e sanitários; - Um anfiteatro ao ar livre; - Um espaço de lazer com estruturas de recreio e de apoio a refeições; - Uma cafetaria com um núcleo interpretativo do Agroal.
Centro de Interpretação do Alto Nabão
Parque Natureza do Agroal T. 249 544 315 | M. 911 010 111 geral@ouremviva.pt
O Parque Natureza tem por missão fomentar o conhecimento dos patrimónios naturais e culturais, refletidos designadamente na biodiversidade, sensibilizar o cidadão para os valores ambientais e promover a fruição de atividades de turismo de natureza e o convívio entre os participantes. No interior deste Parque, com estacionamento e acesso sujeito a agendamento, está instalado o Centro de Interpretação Ambiental do Alto Nabão, que integra as seguintes valências: - Jardim temático com a flora da região - Área de exposição alusiva aos valores naturais do Nabão e mini-auditório para visionamento de vídeos temáticos. - Uma sala polivalente para a realização das dinâmicas culturais e pedagógicas, integradas nomeadamente em programas de férias educativas e percursos interpretativos; - Espaço, acantonamento, com equipamento de apoio a refeições, instalações sanitárias e balneários; - Recinto exterior de atividades de ar-livre e de educação ambiental. - Área de acampada, mediante marcação prévia. A partir do Centro de Interpretação Ambiental inicia-se um percurso pedestre sobre os temas da geologia, da flora, da fauna e da arqueologia. Esta rota propõe duas modalidades alternativas de itinerário: uma, mais extensa (8 Km) bastante panorâmica e com maior densidade de informação, auxiliada por um folheto de apoio e 3 painéis interpretativos; e outra (2 Km), com uma duração mais curta.