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MODA
from MURAL 83
ENCONTRO COM STEPHANE ROLLAND
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texto DANIELE MAIA fotos MARCELO RUDUIT
Talvez você ainda não conheça este nome, mas com certeza seu “bird dress” chamou a sua atenção na série Emily in Paris, da Netflix, que há semanas está no topo do ranking das mais assistidas no planeta.
A série foi produzida por Darren Star, o mesmo autor de Sex and the City”, e tem como atriz principal Lily Collins, que faz o papel de Emily, uma jovem americana que descobre o estilo de vida do francês.
O ponto alto da série é um vestido branco escultural, que chama a atenção em vários episódios. A magnífica peça tem a assinatura do estilista francês de alta costura Stephane Rolland, que possui sua maison de couture no coração de Paris. O mais incrível é que seu atelier foi reproduzido para as fabulosas cenas. Uma delas é quando a protagonista visita o salão do estilista Pierre Cadault. Todas as roupas e acessórios icônicos que vemos na tela são das coleções de Stephane Rolland, uma bela homenagem ao mais parisiense dos estilistas da “Haute Couture”.
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Stephane Rolland é um estilista reconhecido por suas inspirações ligadas à arte e arquitetura modernas, um profissional com sensibilidade exponencial para capturar as nuances do espaço e da luz, criando obras de arte exclusivas que resultam em peças de luxo contemporâneo.
É importante dizer que a cada coleção, Stephane Rolland expande sua criatividade conferindo vida à criações com movimento e pureza em incríveis collabs com os mais renomados artesãos de Paris e artistas franceses.
Confira a entrevista exclusiva para Daniele Maia com Stephene Rolland
O estilista trabalha com novos materiais combinando sofisticação, arte e artesanato, representando um novo ideal estético, silhuetas complexas, gráficas e esculturais. Stephane Rolland veste celebridades, como Celine Dion, Rita Ora, Beyoncé, Lady Gaga e Cindy Bruna.
Stephane me recebeu pessoalmente em sua maison de couture em Paris para uma entrevista informal, durante a qual conversamos sobre sua carreira, série Emily in Paris e sobre o famoso vestido “the bird”. Na oportunidade, esse magnífico expoente da moda parisiense me apresentou com exclusividade e em avant-premeière sua nova coleção de prêt-à-porter, sua primeira coleção de bolsas e também parte do seu arquivo de alta costura.
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DANIELE MAIA | Como foi sua colaboração com a série Emily in Paris? STEPHENE ROLLAND | A produção da série estava procurando uma maison de couture e me contataram. Já possuo uma ligação sólida com o cinema. Eles vieram aqui na minha maison, fizeram um estudo do meu universo, códigos, desenhos e reproduziram um atelier para o personagem Pierre Cadault.
DANIELE | O que você pode nos falar sobre este personagem, o estilista Pierre Cadault? STEPHENE | Sem dúvida é um personagem caricato, excêntrico e com bastante exagero. Não é a realidade dos estilistas da nossa atualidade. Este personagem foi criado para cenas de humor, para o público realmente se divertir.
DANIELE | Você poderia nos contar mais sobre o vestido branco de Emily? Sua criação foi feita exclusivamente para a série? STEPHENE | A Emily precisava de um vestido glamuroso que combinasse com sua personalidade e morfologia. Lily Collins é mignon, com características da atriz Audrey Hepburn e muito jovial, então busquei nos meus arquivos um vestido curto. A escolha foi o “the bird dress” que remete a liberdade, combinando perfeitamente com a personagem e com a morfologia de Lily Collins. Para a cena da tinta no vestido reproduzi três cópias, porém, apenas um vestido foi usado, pois a primeira gravação saiu perfeita e não foram necessárias repetições. O vestido original continua intacto e de volta aos meus arquivos.
DANIELE | Na sua opinião qual o motivo desse sucesso mundial de “Emily in Paris”? STEPHENE | Além do produtor ser o “fera” Darren Star, da série Sex and the City, na minha opinião, com tudo o que estamos passando, o telespectador estava realmente precisando de uma série exatamente assim. Algo que o fizesse sonhar e ao mesmo tempo rir, parar de pensar em problemas e mergulhar nesse universo da Emily in Paris e do seu elenco maravilhoso! Um momento de puro “relax”.
DANIELE | Por falar nesse momento difícil que todos nós estamos passando, como você vê a moda caminhando daqui para frente? Será uma jornada digital? STEPHENE | Acredito que chegou o tempo para uma consciência urgente em relação ao planeta. Sem dúvida precisamos frear o ritmo que havíamos nos colocado. Porém, infelizmente o ser humano tem a tendência de esquecer rapidamente dos problemas quando existe uma solução. Estamos vivenciando um alerta do planeta e mudanças são necessárias. Em relação ao digital, é uma ferramenta indispensável na vida contemporânea, entretanto jamais substituirá as experiências presenciais, principalmente no universo da moda. O “ao vivo” é fundamental. Tocar um tecido faz toda a diferença e visualizar de perto os detalhes de uma coleção é poder compreender o trabalho da criação. Todos esses pormenores se perdem no digital, pois o show tem que continuar, mas de uma maneira mais desacelerada e, talvez, com coleções menores.
DANIELE | A pergunta que não quer calar: em que momento da sua vida você descobriu seu talento? STEPHENE | Tive a sorte de ter pais artistas que desde muito cedo perceberam minha sensibilidade estética e encorajaram a minha criatividade. Pela profissão do meu pai, eu tive uma vida de nômade, mudando com frequência e sem poder fazer laços sólidos de amizade. Para compensar essa falta, mergulhei no meu próprio mundo, um mix de moda, cinema, música e arte. Foi isso que construiu o meu DNA. Já os processos de criação, desenvolvo ao longo do meu percurso.
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DANIELE | Nos anos 80 você se tornou o diretor artístico mais jovem deste segmento. Como você lidava com isso na época? STEPHENE | Com apenas 21 anos me tornei o diretor artístico da coleção masculina de Balenciaga. Com essa idade não tinha muitas questões ou perguntas a fazer, simplesmente me dediquei totalmente ao trabalho, com verdadeiras maratonas diárias. Era um universo completamente novo para mim, pois nunca havia criado moda masculina. O meu objetivo era criar, não havia espaço para medo ou insegurança. Sempre encarei meus desafios assim, aprendendo com muito comprometimento e na certeza de que tudo iria dar certo.
DANIELE | Estou bastante surpresa por saber de suas diversas viagens ao Brasil. Qual a razão para o meu país constar na sua rota de férias? E como você vê a moda brasileira? STEPHENE | A minha paixão pelo Brasil já vem de algum tempo. Todos os anos, eu passo parte das minhas férias no Rio de Janeiro e também em Brasília. Sou um admirador das obras de Oscar Niemeyer, e muitas das minhas criações são inspiradas na geometria de curvas de suas obras. A moda brasileira é extremamente diversificada e isso me inspira. O Brasil é um dos países em que mais gosto de sair para fazer compras e adoro o dinamismo e a criatividade dos brasileiros. A mulher brasileira, na minha visão, é a mais feminina do planeta; ela possui um charme todo especial, referências dos anos 70 com o nosso mundo contemporâneo. Adoro esse mix que não encontramos em outros lugares. Quando tudo isso passar, só tenho uma certeza: meu primeiro destino será o Brasil!