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Memórias---do Amigo-----------Sempre--Bem-Humorado

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Quanta----Saudade

Quanta----Saudade

Pedro Caldeira Cabral

O nosso primeiro encontro decorreu em Paço d’Arcos, em 1965, por intermédio de um amigo de ambos que possuía uma cítara portuguesa e uma viola de João Pedro Grácio Júnior não sabendo tocar nenhum dos instrumentos.

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Nesse primeiro encontro, passado quase todo o tempo a rir com o humor contagiante do Zé Pracana, combinámos as reuniões e ensaios seguintes em casa do José Carlos da Maia (viola), em Caxias, e mais tarde, com regularidade, as idas ao fim de semana ao Cartola, ao Estribo e ao Galito, tudo casas de fado frequentadas por amadores na linha do Estoril, em Cascais e em Birre. Nesse tempo, o Zé Pracana ainda só cantava e contava anedotas e era eu que assegurava os acompanhamentos em conjunto com o Zé Maia.

Éramos todos ainda estudantes liceais e havia nessa altura muitas festas em casas particulares de amigos e conhecidos ao fim de semana. Quando todos já estavam cansados de dançar, vinha o momento de apresentação do Zé que geralmente se iniciava em tom de gozo, em jeito de imitador, por um fado do repertório do Vicente da Câmara e logo seguia a imitação do Carlos Ramos e do Marceneiro com todos os jeitos e trejeitos próprios de cada um deles e com a imitação vocal perfeita.

Passados os momentos de risota vinham então a apresentação de alguns fados em voga nos quais o talento artístico do Zé Pracana ficava totalmente confirmado.

Recordo também o período em que iniciou a aprendizagem da cítara portuguesa e me pedia para interceder junto do José Nunes para que este lhe desse lições, ao mesmo tempo que eu lhe explicava algumas digitações simples dos fados corrido e mouraria, etc. No período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, convivemos sobretudo em Cascais, no Arreda e em ocasionais tertúlias fadistas em casa de João Ferreira Rosa e de outros amigos comuns e sempre com a sua natural bonomia e curiosidade, que demonstrava pela minha evolução musical nas áreas diferentes em que me ia especializando.

Ao longo de muitos anos de convívio sempre me demonstrou a sua amizade e admiração pelo meu trabalho, tendo-me inclusive convidado para participar como solista numa série de programas para a RTP, que tiveram a sua direcção artística.

Recordo aqui o seu imenso talento musical e histriónico, com que tantas vezes nos brindava, e que ficou registado na memória de todos os que tiveram o gosto de assistir às suas participações em programas da RTP ou nos inúmeros espectáculos que realizou em Portugal e no estrangeiro.

Pedro Caldeira Cabral, 2019

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