ENTREVISTA COM MAIS DE UM LOCUTOR / Cilp2pcw108

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Corpus Internacional da Língua Portuguesa

1. Modalidade: Língua falada 2. Tipo de texto: Entrevista com mais de um locutor. Código: CILP2PCW108 3. Assunto: A morte 4. Autor: Anônimo 5. Qualificação do autor: Homem/Profissional liberal/Português 6. Data do documento: 1970-1974 7. Local de origem do documento / Dados de imprenta: Lisboa-Portugal 8. Local de depósito do documento: Arquivo Privado: Projeto Português Falado (CLUL) – Universidade de Lisboa 9. Editor do documento: Bacelar, Maria Fernanda (coord.). Projeto Português Falado (CLUL). 4 CD 10. Data de inserção no CILP: novembro de 2005 11. Número de palavras: 583


X: A PROPÓSITO DE VELATÓRIOS: UMA OCASIÃO A MINHA MULHER FOI A UM VELATÓRIO (...) E ENTÃO FOI O, O CUNHADO DUMA COLEGA QUE ESTÁ LÁ MESMO A TRABALHAR, A TRABALHAR AO PÉ DELA. E NÃO PODIA DEIXAR DE NÃO IR, PÁ, PARECIA MAL NÃO IR. DE MANEIRA QUE FOI, TAL, TAL, ÀS DUAS POR TRÊS COMEÇAM A CONVERSAR, (...) TAL, TAL... NÃO SEI QUÊ, «O MEU CUNHADO... (...) DE QUE É QUE MORREU, DE QUE É QUE MORREU... AI, MORREU DE REPENTE E TAL. SABES QUE O MEU CUNHADO ERA EMPREGADO DA COMPANHIA NE... E ERA UMA PESSOA MUITO PENDULAR, NÃO É, MAS MESMO MUITO PENDULAR, TODOS OS DIAS ÀQUELA HORA SAÍA DE CASA, TODOS OS DIAS ÀQUELA HO[RA], À OUTRA HORA CHE(...), CHEGAVA A CASA, CALÇAVA AS PANTUFAS, LIA O JORNAL E TAL, ESPERAVA PELO JANTAR» [...] X: DE FORMA QUE TIVERAM A CONVERSAR, «O MEU CUNHADO E TAL, OLHA, MORREU DE REPENTE E TAL... PORQUE ELE TINHA UMA... UMA LIGAÇÃO AÍ COM UMA SENHORA E TAL E ENTÃO ACONTECIA ISTO: ELES SÓ DUAS VEZES POR SEMANA É QUE CHEGAVA MAIS (...), NÃO, IA MAIS CEDO, [...] X: ENTÃO IA, IA LÁ A CASA DAQUELA SENHORA QUE ELE JÁ TINHA HÁ MUITOS ANOS E TAL, E, E DEU-LHE LÁ UMA COISA E MORREU.» B: ONDE ERA? X: ERA NO NG, (...). B: (...) X: E A SENHORA MUITO ATRAPALHADA COITADA, NUMA AFLIÇÃO TERRÍVEL E TAL, «COMO É QUE HÁ-DE SER AGORA?» PENSOU LOGO NAS CONSEQUÊNCIAS, NÃO É. A: POIS. X: O QUE É QUE ELA FAZ? AGARRA NUM, NUMA CHAVE DE PARAFUSOS E METE-LHA NA MÃO. O SENHOR MORTO POR CIMA DA CAMA - OLÁ, SENHOR C, TÁ BOM? C: (...) PASSOU BEM? X: MUITO OBRIGADO. C: JÁ CÁ VENHO. X: AH, TÁ BEM, SIM SENHOR - ESTE É, É O BICHO, É UM LEÃO.


B: AI É? X: É MESMO UM LEÃO, O LEÃO [...] - E ENTÃO METE-LHE A CHAVE DE PARAFUSOS NA MÃO E CHAMA O CENTO E QUINZE. CHAMA O CENTO E QUINZE E TAL, OS POLÍCIAS, «QUE É QUE FOI..., QUE É QUE NÃO.» «AH, É UM SENHOR E TAL VEIO CÁ A CASA, NÃO SEI QUÊ, TÁ ALI, E TAL, DEU-LHE UMA COISA E TAL...» ELES VÃO LÁ, CHEGAM (...), VÊEM LOGO QUE O HOMEM COITADO JÁ TEM, TEM JÁ AQUELA PALIDEZ CADA[VÉRICA], CADAVÉRICA NÃO É, QUE O HOMEM TÁ MORTO, MAS TÁ EM CUECAS SÓ E EM... PEÚGAS. B: E COM UMA CHAVE DE PARAFUSOS... X: E COM UMA CHAVE DE PARAFUSOS NA MÃO. LEVAM O HOMEM E TAL E MAIS ASSIM E MAIS ASSADO, E FICA O GRADUADO E TAL: «MAS DE QUE É QUE FOI, NÃO FOI E TAL, MAS QUEM É?» «AH, FOI UM SENHOR QUE VEIO CÁ ARRANJAR A TELEFONIA MAS DEPOIS...» D: DESPIU-SE PARA ARRANJAR A TELEFONIA. B: UMA CORRENTE DE AR! X: «ENTÃO MAS ARRANJAR TELEFONIAS É PRECISO PÔR-SE EM CUECAS...» B: MAS QUE CENA! D: AI ISSO É DO PIOR QUE HÁ! X: E LÁ LEVARAM, DEPOIS A SENHORA FOI CHAMADA À ESQUADRA, NÃO É, DEPOIS O CHEFE LÁ DISSE: «ENTÃO MAS, ENTÃO MAS COMO É, COMO É...» É CLARO, PERCEBEU MUITO BEM O QUE ERA. SIM, (...). «SABE...» COMEÇA A CHORAR E TAL - «ERA UMA LIGAÇÃO QUE EU TINHA HÁ MUITOS ANOS E TAL E TAL, TAL, TAL.» MAS A, MAS A ATRAPALHAÇÃO DA CRIATURA: METEU-LHE UMA CHAVE DOS PARAFUSOS NA MÃO, O HOMEM EM CUECAS E SÓ... D: PODIA-O TER VESTIDO X: EM PEÚGAS.


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