Corpus Internacional da Língua Portuguesa
1. Modalidade: Língua falada 2. Tipo de texto: Conferência. Código: CILP2BCW037 3. Assunto: O poema “Trem de ferro”, de Manuel Bandeira 4. Autor: Pasquale Cipro Neto 5. Qualificação do autor: Homem/Profissional de rádio/Brasileiro 6. Data do documento: 1995 7. Local de origem do documento / Dados de imprenta: São Paulo-Brasil 8. Local de depósito do documento: Arquivo Privado: Projeto Português Falado (CLUL) – Universidade de Lisboa 9. Editor do documento: Bacelar, Maria Fernanda (coord.). Projeto Português Falado (CLUL). 4 CD 10. Data de inserção no CILP: novembro de 2005 11. Número de palavras: 491
-> eu vou começar o programa lendo um poema do Manuel Bandeira, poeta brasileiro falecido em 1968, grande, grande Manuel Bandeira, tido por muitos como o poeta da simplicidade, aquele que conseguia dizer as coisas mais... profundas da forma mais... simples, poeta que caiu realmente na, no gosto do povo, caiu na, na, na, na linguagem do povo, quem é que não conhece a frase "vou-me embora pra Pasárgada"? quem escreveu isso foi Manuel Bandeira: vou-me embora pra Pasárgada l(á sou) amigo do rei lá tenho a mulher que quero na cama que escolherei. -> todo o mundo conhece isso. eu vou ler um poema do Bandeira então e você pelo poema vai desconfiar do tema, certamente você vai descobrir qual é o tema do programa. café com pão café com pão café com pão virge maria que foi isso maquinista? agora sim café com pão agora sim voa, fumaça corre, cerca ai seu foguista bota fogo na fornalha que eu preciso muita força muita força muita força trem de ferro trem de ferro oô... foge, bicho foge povo passa ponte passa poste passa pasto passa boi passa boiada
passa galho de ingazeira debruçada no riacho que vontade de cantar! oô... café com pão é muito bom quando me prendero no canaviá cada pé de cana era um oficiá oô... menina bonita do vestido verde me dá tua boca pra matá minha sede oô... vou m'imbora vou m'imbora não gosto daqui nasci no sertão sou de ouricuri oô... vou depressa vou correndo vou na toda que só (levo) pouca gente pouca gente pouca gente... trem de ferro trem de ferro -> trata-se do poema, do genial poema, do antológico poema, do memorável poema "Trem de Ferro", do Manuel Bandeira, poema que tem por si só toda a sonoridade de um trem, de um trem de ferro, trem directamente ligado à história do Brasil, à história do interior do Brasil, o Brasil que, por incrível que pareça, já andou de trem. do Brasil que depois genialmente, entre aspas esse genialmente, descobriu que o trem não presta, que o ideal é
andar de ónibus, andar de caminhão; então num país continental como este, nós carregamos mercadoria em Porto Alegre e mandamos para Fortaleza num caminhão; lá vai o caminhão andando quatro mil quilómetros, um cidadão coitado sozinho, não é, nesse interiorzão do Brasil por estradas maravilhosas, nenhum buraco, nada, tudo maravilhoso, de primeira, lá vai o cidadão gastando energia, gastando pneu, gastando tudo, para carregar trinta toneladas, quando um trem sozinho, só, só um vagão, não é, leva oitenta, noventa, cem toneladas, imagine quanto não leva um trem desses de carga; o Brasil já andou de trem, não só na base da carga, os passageiros também. o trem está directamente ligado à história do Brasil, especialmente à história do interior do Brasil. os nossos avós andaram de trem, os nossos pais andaram de trem e o trem foi cantado em prosa e verso.