Museu da Língua Portuguesa
DESAFIOS NO ESTUDO DA LINGUA FALADA Ataliba Teixeira de Castilho Professor Emérito da FFLCH da USP Professor Titular aposentado da Unicamp e da USP Assessor Linguístico do Museu da Língua Portuguesa 1. Primórdios dos estudos da língua falada no Brasil A Linguística nunca deixou de considerar que a língua falada é a manifestação primordial de uma língua natural, e muitas vezes sua manifestação único, no caso dos povos ágrafos, como os indígenas do Brasil. Documentar, transcrever e descrever a língua falada é uma atividade que se acelerou grandemente depois dos anos 70, graças ao desenvolvimento do Estruturalismo linguístico. Outros modelos teóricos que se sucederam continuaram a demonstrar a conveniência do estudo dessa variedade. Enquanto a língua escrita é a língua do Estado, adquirida nos bancos escolares, a língua falada é a língua da família, e a primeira que adquirimos em nossa infância. Se nos perguntarmos sobre como é que a mente humana cria uma língua, sem dúvida as respostas estão na observação atenta da língua falada. Os estudos da oralidade no Brasil decorreram de um conjunto de fatores desencadeados nos anos 70 e 80: a expansão dos cursos pós-graduados de Linguística,o surgimento dos projetos coletivos de pesquisa e a insistência de vários linguistasem que passássemos a dispor de descrições mais atentas ao uso brasileiro da língua portuguesa. Em 1969 foi fundada a Associação Brasileira de Linguística, e a partir de1972 passaram a ser implantados os Programas de Pós-Graduação em Linguísticae Língua Portuguesa, hoje em grande número. Essefato novo na vida universitária brasileira teve diversas consequências: (i) o surgimentoda Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Letras eLinguística, em 1984, (ii) a fundação de dezenas de revistas especializadas em Linguística, compublicação regular, (iii) a concessão de bolsas de estudo a muitos jovens brasileiros, que partiram para o exterior, em busca de doutorado em áreas aindanão existentes no Brasil, e, finalmente, (iv) a organização sistemática de