Corpus Internacional da Língua Portuguesa 1. Modalidade: Língua falada 2. Tipo de texto: Conversação natural, assimétrica, tematicamente orientada. Código: CILP2BCPP20 3. Assunto: Transcrição de entrevista oral do tipo Documentador e Informante sobre diversos temas, incluindo infância, adoslescência, violência, esporte, educação, entretenimento 4. Autor: Anônimo 5. Qualificação do autor: Homem / 24 anos / Escolaridade média 6. Data do documento: 06 de outubro de 1998 7. Local de origem do documento / Dados de imprenta: Salvador, Bahia - Brasil 8. Local de depósito do documento: Arquivo Privado: Programa de Estudos do Português Popular de Salvador – PEPP - Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
9. Editor do documento: LOPES, Norma da Silva (Universidade do Estado da Bahia); SOUZA, Constância Maria Borges de (Universidade do Estado da Bahia); SOUZA, Emília Helena Portella Monteiro de (Universidade Federal da Bahia). Orientadora: Myrian Barbosa da Silva (Universidade Federal da Bahia) 10. Data de inserção no CILP: outubro de 2005 11. Número de palavras: 6.965
PROGRAMA DE ESTUDOS DO PORTUGUÊS POPULAR FALADO DE SALVADOR – PEPP
INQ Nº 20 – HOMEM – idade: 24 anos – Escolaridade: 2 grau DOCUMENTADOR: Norma Lopes DATA: 06/10/1998 TRANSCRIÇÃO: Alessandra Lopes Fontoura
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Boa tarde, eu sou ..., sou de Salvador e... e meus, meus pais também são daqui, e podemos começar. DOC: Bem, nós vamos conversar, primeiro eh... primeiro sobre a... sobre ... quando você era criança, você sempre morou em Salvador, mas como foi sua infância? 20 Praticamente minha infância ... em Salvador foi ótima, porque hoje você vê outras conseqüências da vida, né? Porque como eu estava analisando ultimamente, eu saía para brincar de gude, empinava arraia... DOC: Na rua, né? 20 Na rua. Brincava com o pessoal, era um bate lata. E hoje em dia você está vendo, totalmente diferente das coisas, as circunstâncias de hoje. Hoje você procura um lazer desse, ninguém, a maioria das pessoas, ninguém quer mais fazer isso, praticar, aquela infância como era antigamente, a educação que meus pais me deram. Hoje você vê muitas pessoas eh... fumando maconha ... DOC: É, os jovens né? 20 Os jovens hoje em dia. As agressões são freqüentemente, você vê pessoas de doze, treze, quatorze anos de idade ... se você brigar um com outro, antigamente apaziguava, deixava, do outros dias, nos outros dias vocês eram amigos, hoje em dia não, estão querendo já partir para a violência, querer matar, fazer outras coisas mais aí eu...tô eu tô... eu fico analisando assim, aquela educação que eu tive há... quinze anos atrás, eu acho que foi bem melhor do que hoje educações que os pais não estão passando para os próprios filhos, estão deixando muito liberal. DOC: Hum. Então seria a liberdade que está sendo dada, né? 20 É. DOC: Demais. 20 Dando muita liberdade hoje em dia. Eu acho que, hoje mesmo, vocês, vocês que têm seus filhos têm que parar para analisar um pouquinho que a violência está sendo muita. DOC: Hum. Você tem uma filha, né? 20 Tenho uma filha. DOC: O que é que você pretende para sua filha? 20
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Educar ... eu acho que vou dar a mesma educação que eu tive na minha infância, no, no que meus pais passaram para mim. DOC Hum. 20 Se não vai chegar um ponto, tudo bem que você vai dar liberdade, mas também falando o que, o que é o certo e o que é errado. Porque ela também ela vai aprender no dia –a – dia, pra ela também não se esbarrar daqui para frente em algumas coisas se, não venha me decepcionar. DOC: Você foi muito preso quando era criança? 20 Não. Sempre tinha liberdade de brincar, agora era liberdade em quê? Falar assim ... Como minha avó, ia para o colégio aí ia para a rua, ela falava assim: “Oh tal horário você tinha que estar aqui”. Eu respeitava. Aí eu sempre estava no horário que ela mandava. Isso não era ... DOC: Então havia mais ... (superp) 20 ... não era ser preso. DOC: Então havia mais respeito. 20 Mais respeito, porque hoje não há com respeito. Na minha concepção (inint) que estou vendo ... estou passando até... em termos até de amigos ou amigas mesmo que olho assim, não respeitam nem os próprios pais que eu fico até assim, “Pô, por que que naquele tempo não era nada disso e hoje mudaram?”. Quem sabe até o milênio está chegando, né? (risos) DOC: E você foi uma criança pintona? Foi, L... ? 20 Ah, sempre fui uma criança pintona. DOC: O que é que você fazia? 20 Ah, eu fazia o quê? Quando eu ia jogar bola, aí saía, né? Não avisava, minha avó sempre pegava, chegava falava assim “pô, minha avó, por que não pode deixar eu ficar jogando bola, que isso, que aquilo?”, “Você está muito novo ainda, você está muito novo”, mas sempre no... mantendo sempre respeito com ela, né? E ela, e no, na escola mesmo era muito abusado e sempre minha mãe recebia uma cartinha assim, “J..., eh... L... C... compareça com senhor seus pais, isso e aquilo.” Mas isso você sabe como era, aquele tempo era uma coisa, hoje em dia, sabe como é, tudo totalmente diferente. DOC: Então hoje os meninos são diferentes? 20 São diferentes. Com certeza. DOC: Eles são mais pintões hoje? 20 São ... são mais pintões e mais agressivos, eu não sei... DOC: Agressivos. 20 Agressividade. Tem muito. DOC: É o que você falou da violência. 20 Da violência. DOC: Então as pessoas já são mais agressivas. 20 Já são mais agressivas. Não sei porque, o que é que passa pelas cabeças deles. Você vê ... você vira e mexe, você vê na televisão pessoas de doze, nem doze, oito ou sete anos de idade com arma na mão, e vai ... comete um crime. Antigamente, na... naquele tempo não havia isso. Todo mundo brincava, até brigava com o outro,
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esticava a orelha tal, mas não havia e, essa violência que é hoje. Isso é triste até para, para a própria sociedade, de ver até para os próprios pais. Como já aconteceu, que aconteceu, que passou sobre um mendigo. DOC Hum ... 20 Acho que aquelas pessoas têm a cabeça formada para chegar aquele ponto, chegar a queimar uma pessoa num... num abrigo. Agente pensa assim “Como é que pode rapaz, até que ponto o ... brasileiro está chegando em termos de mentalidade.” DOC: Hum. 20 Muitas vezes pode ser até a droga, que vício influencia muito a capacidade de cada pessoa. DOC: Hum. E ... castigos? Antigamente havia mais castigos, não era? 20 Havia castigos, mas a gente aceitava, e chegava no outro dia estava todo mundo de bem. DOC: Então o próprio jovem já aceitava mais o castigo. 20 Aceitava mais o castigo do que hoje. Hoje em dia se você der um castigo ao seu filho, ou ele quer responder ou sai de casa e para voltar ... demora muito. Para ... isso cria até um ... termo de revolta, mas sempre quando a pessoa dá um castigo, é até por, por bem dele mesmo, porque ele, porque o que está acontecendo hoje em dia, se as mães não abri.. não abrirem os olhos deles próprios eles podem fazer coisas piores. DOC: Então é necessário que ... haja um pouco de controle dos pais. 20 Com certeza. Tem que ser, ... ter controle e também um respeitando o outro, quase sempre é bom o diálogo, que eu acho que eu tive na minha... na minha infância, houve sempre diálogo, sempre que minha avó conversava comigo, meus tios, minha mãe me ... saía para levar, me a, mostrava o que ... o que era certo o que era errado, então até hoje como eu estou aqui, nunca me envolvi em termos de drogas, bri ... brigas, eu acho que brigas bestas, mas chegar ao ponto de ir para a delegacia, nunca me envolvi. Pois tudo foi um fruto de educação que eu tive. Que muitas pessoas falam assim “Menino criado com avó é mimado, ou - como dizem que é homossexual ou viado, né?”, mas digo: Não, a criação que eu tive com minha avó e com minha mãe, eu agradeço a elas, que valeu, está valendo a pena e vai valer a pena até quando eu morrer. DOC: É isso mesmo, que bom que você reconhece, não é? R... deve saber disso, você reconhece, pra ela ficar mais contente. E me diga ... me diga uma coisa, eh... você ... havia mais castigos, você recebeu algum assim que tenha sido ... 20 Que eu me revoltasse ... alguma coisa ...? DOC: Eh ... Não. Que você tenha sido assim algo que merecesse você contar, ou foi muito pesado, ou foi engraçado o castigo, ou até, às vezes, a gente recebe um castigo e não foi merecido. 20 O que eu lembre assim, deixe eu ... o castigo que eu tive ... foi uma vez que eu fu... que minha avó me mandou para casa de minha mãe e eu fugi. DOC: Fugiu para onde? 20 Não fugi, eu fui para casa de minha mãe. Minha avó: “Você vai ficar morando lá na casa de sua mãe agora, aí eu fiquei morando quando deu de madrugada, eu saí
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correndo e voltei para casa de minha avó. Aí minha mãe ficou preocupada, veio de madrugada, aí voltou, aí minha avó sentiu. “Ah, não, que isso e aquilo, isso... isso é para você aprender, quando eu falar para você não sair você não sair, se não você vai morar com sua avó, com sua mãe. DOC: Com sua mãe. 20 Aí, eu acho que foi o único castigo que eu tive foi esse. Porque sempre a gente conversava, e uma vez que eu tomei, foi uma dúzia de bolo de meu pai, mas só que depois ele se arrependeu, porque não era para dar em mim ... o, o bolo, porque eu fiz uma coisa, ele ... e quem fez uma coisa foi o meu primo, ele pensou que foi eu. Aí entrou em contradição, ele me pegou e me bateu, mas normal. Não teve, não teve cas ... outro castigo que eu me lembrasse assim não. Só mais que eu me lembre foi esse mesmo, que eu estava pintando demais, aí minha avó “Você daí para casa de sua mãe”, aí eu fui para casa da minha mãe, mas não agüentei e fugi. Ela: “Está vendo você, da próxima vez já sabe”. Mas você sabe que naquele tempo, isto normal, não, não teve demais, não teve nada de mais não... DOC: Sim ... e você eh... não gostava muito de ficar na casa de sua mãe? 20 Não. Porque minha cria... acho que foi até ... tudo é questão de criação, porque minha mãe trabalhava, certo? DOC Hum ... 20 E não tinha quem tomasse conta de mim, aí eu, como recém – nascido, fiquei morando com a minha avó, aquele xodó todo e tal e tal e me acostumei, até hoje eu não saio para morar com minha mãe. (risos) DOC: E, de qualquer forma na casa de sua avó sua mãe também estava lá direto, né? 20 É. DOC: Então não havia grande diferença, não tinha separação da mãe, né? 20 É, eu sei. Mas sempre havia o ciúmes de meu pai, “Ah, porque a avó vai ficar porque J... não vai ... isso e aquilo”, mas sabe como é o pai, né? Que querr ficar sempre perto do filho. DOC: É. É isso mesmo. Sim ... Agora quando adolescente, compare a sua adolescência com a adolescência dos meninos de hoje. 20 Bom, assim, chegou num ponto bom. É isso ... (inint) adolescência ... como foi a adolescência... DOC: Quer dizer, sua adolescência, você está saindo da adolescência, você está bem assim recente, não é? 20 Sim, até no meu tempo de adolescência. DOC: Mais novo. 20 Mais novo, vou dizer assim, eu estou com vinte e quatro anos, hoje. Até, eu digo, os quinze aos vinte anos não, não tinha muitas coisas que você vê hoje, a gente brincava também, ainda tinha aqueles ... aquelas brincadeiras de você ir pra, pra a escola aí jogava um, uma bola, brincava de... de fruta ... sal ... esse negócio, é ... tudo o convívio como você também não vê na adolescência de hoje, que eles ... essas pessoas de hoje, da... de quinze como, eh... vou separando, de quinze até os vinte anos, na minha adolescência eu tinha, eu era, eu brincava de bola de manhã e de tarde. E hoje você vê as pessoas não... não praticam nem esporte, já ... já está
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muito forte em termos sabe de quê? Ah, eu acho que tudo entra aí a influência em termos de drogas, eu estou vendo ... eu... fico, eu fico até com medo até de meu irmão, de meu irmão, eu sempre converso com ele, que ele está chegando nessa idade agora que... vai chegar aos vinte anos, e essa... e essa é a idade que perturba muito, a influência, a pior coisa é a influência, a pessoa tem que ter uma cabeça formada, independente de tudo, porque hoje a maioria desse pessoal, tudo só quer saber (inint) de drogas, bebidas, né? Nem ...até estudo ninguém está estudando mais, e eu tento abrir a cabeça de meu irmão porque ... eu não quero, eu quero passar para ele o que eu passei, o que eu... o que eu, porque na minha adolescência, o que eu ... o que eu ... o que eu era não, o que eu sou ainda. Quero passar para ele porque se ele se juntar com as pessoas que não for certas ... e ele não tiver uma cabeça equilibrada ele segue o mesmo caminho, e depois vai ser tarde para ele fugir disso. Aí eu tento passar isso para ele porque pô ... eu me preocupo você vê eu estou do lado de lá, da casa de minha avó, mas eu me ... fico me preocupando muito com ele porque hoje em dia está muito difícil ... essas pessoas que a mãe não dá apoio que isso e aquilo, e parte para ser assaltante outro parte para outro, outro meio ... você sabe como é hoje, né? Hoje em dia, né? DOC: É, está difícil. 20 Fica difícil mesmo e há muita preocupação. Minha adolescência foi... foi boa como está sendo até hoje. Eu não vou dizer que eu sou um homem completamente, que eu ainda tenho que aprender um bocado de coisa, mas ... uma parte boa mesmo eu queria que voltasse, eu queria estar agora com quinze anos, dezes... DOC: Com menos responsabilidade, não é? 20 É. (inint) DOC: Mas hoje, você diz então que adolescência, viver adolescência hoje está mais perigoso. 20 Está mais perigoso do que naquele tempo, na, vamos dizer assim até em noventa, de noventa até noventa e três você poderia viver sua adolescência numa boa, mas hoje está muito arriscado. Você vê pessoas de doze anos já armado, se você ... antigamente era assim ... logo no começo como eu falei aqui, se você fosse para algum bairro, brigasse com alguém aí ficava todo mundo normal, controlava, mas hoje em dia não, você briga, você não pode nem andar, você tem que andar assim olhando para um lado e para o outro, porque aquela pessoa que você brigou vai querer fazer algo com você. Naquele tempo, na adolescência não. Você brigava aqui e tal, até jogando bola mesmo colega brigava num outro bairro, no outro dia todo mundo era amigo. Hoje em dia não. Não sei, como eu falei, está evoluindo de uma hora para outra. Isso aí que preocupa, até assim ... o cidadão brasileiro se preocupa muito, até... até suas filhas que vão crescendo hoje em dia dá aquele medo e você tem que ter aquela ... como é que se diz assim você tem que falar logo o que está acontecendo hoje no Brasil. Não generalizando só na Bahia não, no Brasil inteiro. DOC: Pois é, é um perigo mesmo, né? E ... a respeito desse diálogo que você disse que os pais devem ter com os filhos. Você acha que isso tem melhorado? 20 Aí, de alguns, alguns aspectos estão melhorados, não, não está piorando, mas estão melhorando, está, está melhorando, certo? Se ... agora tem que vir desde cedo
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porque se deixar o filho levar ... daqui que você chegue e venha num diálogo vai ser pior. Eu acho que você tem que começar desde cedo, você já ensinando, ensinando, ensinando o que é, aí ele vai começar a respeitar a si próprio. DOC: Mudando ... mudando ... 20 Da adolescência? DOC: É falou adolescência, mas vamos voltar agora à infância, mas agora falando mais a nível de escola mesmo. 20 Certo. DOC: Você entrou na escola bem criancinha. 20 Foi, no maternal. DOC: Desde o maternal. 20 Jardim, né? DOC: É, para você... você lembra de alguma coisa daquela época que você ... quando entrou na escola, que idéia você, você teve da escola naquele momento? Você lembra? 20 Lembrar?... Idéia é que ... em que sentido, é ...? DOC: Então nesse sentido assim... então pense ... 20 Pra frente ... DOC Já que você não lembrou da nada ... Por exemplo, você lembra daquelas professoras, primeiras? Aquelas... 20 Lembro. Me lembro de colegas, hoje, principalmente, essa minha noiva é minha cole... colega de escola. DOC: Dessa época do maternal? 20 Dessa época do maternal e... e, e tem outras também, outras pro, professoras que ainda falam comigo, colegas que ainda moram no mesmo bairro, e a gente sempre pára, assim, pára para conversar “E naquele tempo da gente, hein? Como está o tempo de hoje...”, o outro: “Ah é verdade”. Que era tudo ... você vê era uma família, era ali todo mundo era uma família, um brincava com o outro, um respeitava o outro. DOC: Na escola? 20 Na escola é. Era uma família, porque a gente desde o maternal até a quarta série. DOC: O mesmo grupo? 20 O mesmo grupo. DOC: A quarta série primária ou? 20 Primária. O mesmo grupo. DOC: E os professores? Como eram os professores naquela época? 20 Os professores eram ... eram bons professores. Eles passavam as melhores coisas possíveis para a gente. Você vê que a gente estava falando assim eh... questionando, você vê ... a educação daquele... daquele tempo dos professores que passaram para a gente eu acho que é a mesma idéia que todo mundo que estudou junto, a mesma concepção. Eu acho que tira de dedo as pessoas que ... se debandaram, foram prum lado e outras foram, como tem a direita e a esquerda, uns foram pra direita e outros foram pra esquerda. Eu acho que é a mesma filosofia dessas pessoas que estudou
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junto acho que tem essa mesma coisa, acho que foi até uma circunstância dos professores que passaram para a gente. DOC: Então eles faziam, além de ensinar, eles davam ... uma certa orientação. 20 É. Uma orientação. Lembro quando a diretora, pró L..., que era... que eu era muito perturbado, mas ela me dava um puxão de orelha, sabe para quê? Para me melhorar, para não... para eu não ser daqui no futuro ... como outras pessoas mesmo. Que ele, ela fazia questão de estar todo mundo junto, educar, ensinar o que era isso, o que era certo, “Não pegue, não... não faça isso, que isso é feio ...” Isso me incentivou a gente, pô, o que foi... a gente ... como eu te falei ...eu queria voltar ao tempo que era bem melhor do que... posso até estar enganado do que hoje, se você, até você saindo pra um lugar você fica preocupado de acontecer qualquer coisa, que acontece mesmo. DOC: É a insegurança. 20 Insegurança, é. DOC: Nos dias de hoje. 20 Com certeza. DOC: Sim, agora, naquela época também as escolas davam ca, castigos, você já foi castigado, você falou do puxão de orelha. 20 Foi. DOC: Sim. Mas havia esse ... esse tipo de coisa... 20 Ah, não, teve uma vez que ... ficar de joelho, sempre... DOC: Já ficou de joelho? 20 Já fiquei de joelho. Era muito pintão. DOC: Que motivos ... havia? 20 Ah, por que eu botei, pra você vê ... como são ... naquele tempo como era. Eu coloquei assim eh... : L... C... gosta de M.. Aí a menina não gostou, aí falou pra ela, pra professora, né? Aí falou para diretora “Mais L... C... disse aquilo, ah você vai ficar de castigo hoje ...” DOC Ah meu Deus ... 20 Foi (inint) ... ficar de joelhos”. Aí está tudo bem, mas depois normal. Brincadeira tudo. DOC: Castigo. 20 Castigo. DOC: Por você gostar da menina... 20 Por que eu gostar de uma menina. E aí começou a chorar “Olha para aí professora, olha para aí o que ele fez, que não sei o quê”, “Mas L... C... você não tem jeito mesmo, não é?”. Mas aí botou, mas tudo bem, não ... não era nada de mais não. DOC: Sim, eh ... você foi para a escola pequenininho mesmo, foi ... maternal. 20 Maternal. DOC: Mais ou menos ... três anos, dois anos? 20 Três anos, três ou dois anos. DOC: Hum. Fale algo sobre ... roupa, como era, eram diferentes as fardas, os livros de agora?
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Ah, era. A farda, minha farda era uma bermudona, uma camisa, um quichute e a meia branca, com uma mochilinha de pano do lado, uma merendeira ... botava tudo, e os livros do lado. DOC: Sim. Eh... eram mais... as roupas eram mais práticas do que agora ou? 20 Sim. DOC: Você gostava mais daquelas roupas do que as de, as que estão sendo usadas hoje? 20 Não. É tudo uma questão de tempo... o tempo vai, vai mudando, né? Então tudo vai inovando. Mas ... agora, aquele tempo daquela roupa era diferente pro tempo da roupa de hoje, dentro da escola. Agora são mais sofisticadas, mais bonitas, antigamente era um pano, um bocado de botãozinho e um shortinho com uns dois bolsinhos do lado, era um quichute mesmo e a meia, e a meia branca. DOC: Eh, eu acho que a camisa era feita em casa, costurada. 20 Era feita em casa, costurada, dava o pano, dava o modelo do pano na ... num papel ofício eu lembro como se fosse hoje, num papel ofício, aí dava para você fazer, e você ia para a escola. DOC: Era. Hoje essas fardas já são compradas prontas é. 20 Já são compradas prontas. Hoje em dia ninguém quer usar um quichute, nem usar um pano. Aí nego fala “Quero tênis de marca” mesmo que a mãe não tenha condição ela tem que se virar porque o filho só vai pra, pra escola se tiver o tênis de marca. DOC: É. 20 Naquele tempo não. DOC: E as calças de hoje são... jeans. 20 São jeans, são jeans. Se não tiver ...o jeans não foi bom não vai para a escola não. Eu tiro como meu irmão, mas ... sabe como é, aí vai crescendo os meninos, né? Porque as meninas tinha nota né? Porque tudo está mal vestido, aí fica... aí fica assim meio, não é? a verdade, a verdade é essa mesmo. DOC: Já começa na adolescência a preocupação. 20 Na adolescência, é isso ... a preocupação. DOC: Né? A preocupação em ficar bonito. 20 E a discriminação. DOC: É, sim ... Eh... Você tem alguma lembrança ... desta questão de... das fardas de não querer ir para a escola porque aquela farda era feia? Você já passou por essa experiência? 20 Não. Nunca passei por essa experiência. DOC: Não. Você também não rejeitou a ... 20 (superp) Não rejeitava, não .... DOC: .... a sua, a sua farda. 20 Não. DOC: O que é que você acha que ... 20 Era até... era até bom que pra a gente que as meninas era de sainha ou saião. (risos) DOC: O que você acha que a escola como um todo melhorou de lá para cá? Melhorou em que aspectos? 20 A escola ... 20
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DOC: Ou não melhorou? Em nada a escola melhorou ... de lá para cá? 20 Olha, em termos de educação ... algumas escolas de porte melhorou, mas outras escolas não. Outras estão dei,... deixando a desejar o próprio aluno. DOC: Então, você acha que pode ter havido uma melhora, mas não em todas as escolas. 20 Em todas as escolas não. DOC: Em que escolas você acha que melhorou? 20 Atualmente? Hoje? DOC: Sim. 20 Tira de dedo, porque, antigamente quando eu estudei tinha umas três melhores escolas que tinha aqui em Salvador, na Bahia, principalmente né, que temos o João Florêncio Gomes, o Costa e Silva, e acho que é o maior colégio da Bahia que é o ICEIA, onde eu estudei. Que ali o ensino era bom mesmo, e hoje em dia as pessoas que estão estudando lá me falam que não é a mesma coisa, que se ... porque faltam professores, entendeu? Estão tendo greve direto, então isso aí já diminui até eles aprenderem alguma coisa, se estão faltando professor, você não vai aprender, você vai pra a escola ... antigamente eram seis aulas, eram seis aulas que você assistia todos os dias DOC: Por turno, né? 20 Eh, eram seis aulas, seis aulas e hoje as pessoas que estudaram e falam “pô eu estudei nesse colégio, no ICEIA, e aí como está lá, poxa não está a mesma coisa” você vai para escola, hoje em dia você só assiste três aulas e as três aulas não assiste mais porque falta professor. Então a educação, como você vai aprender? Não aprende. Aí chega no final do ano, aí para passar. Está faltando a matéria (inint), você vai até janeiro, fevereiro para fazer as outras matérias que estão faltando. Então acho que isso aí já vem do professor. DOC: Então, as escolas que você considerava boas naquela época estão com problemas ... 20 Estão decaindo. DOC: E aquelas que você já achava mais ... 20 Você está falando colégio particular ou em geral? DOC: Não, eu estou falando em geral. Você está falando do colégio público porque é o que você conhece mais. 20 Eu conheço mais. DOC: Mas pode falar do que você conhece. 20 Não, porque no colégio... eu acho que nos colégios particulares hoje estão ganhando cem por cento direto está entendendo? Porque ali as pessoas se preocupam com os professores, então com a educação, porque já vem já professores de faculdade. DOC: É, mas você também estudou em escola particular. 20 Estudei em escola particular, e aprendi um bocado de coisa, ensinei aí, é isso que eu estou falando, porque, naquele tempo, aí eu estudei na... eu estudei no ICEIA, do ICEIA eu saí logo para uma escola particular direto, está entendendo? E aí você vê o que é uma escola do governo e uma escola particular. DOC: Muito diferente? 20 Muito diferente, em termos de educação muito diferente. DOC: Em que aspectos?
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Tem o aspecto dos professores mesmo que, são alguns, são formados, já sai do magistério e já vai ser e já vai para lá, né? E o outro, em colégio particular já tem uma formação em Universidade, então já passa as coisas melhores para a gente. Não desmerecendo ao professor que está assumindo... que tem professores excelentes em colégios estaduais que ganham até para professores de universidades, não é? Mas só que a formação de lado deles é bem melhor do que a formação do outro. DOC: Será que a cobrança também a nível de direção, coordenação não é maior entre as escolas particulares? 20 Talvez, mas também se ... se eles também cobrassem no colégio estadual, ia se nivelar, porque você vê, passou hoje na televisão que o professor agora vai ter que fazer curso universitário para ser professor mesmo, não vai ser mais magistério direto, por causa do ensino, dizem que os alunos não estão aprendendo. Eu acho que isso é, até isso vai ser até uma falta de desemprego que vai acontecer constantemente, eu penso isso. DOC: Ou as pessoas vão estudar ou vão perder. 20 É, vão perder. Porque você faz o curso do magistério e você praticamente já estava formado como professor, e agora você vai passar, fazer um curso universitário para conseguir entrar numa escola do governo. Só, só pode ensinar na escola do governo se você tiver um curso universitário. E aí, e quando não conseguir passar, vai ficar penando, penando, penando, por esses lados... DOC: Você falou aí do estudo das escolas, que as escolas ainda estão com alguns problemas, mas será que as crianças em casa não poderiam estudar também mais, as pessoas em casa não poderiam cobrar mais dessas crianças? 20 Concordo plenamente com a senhora. Isso aí já parte dos... dos, dos pais. Se cobrarem mais, eles vão aprender mais, se não cobrarem, também não adianta você cobrar do outro lado de lá do... do professor se você também não for cobrar dentro de casa. Que desde quando o professor passa um... um exercício para você, um dever de casa, aí, aí seus pais perguntam ao, ao filho “Trouxe dever?” aí os filhos “Ah, não tem dever hoje não”. Aí chega lá no colégio “Cadê o dever”? então tem que ter a cobrança também por parte dos pais, mas também tem o incentivo maior da educação pra ele aprender mais, e aí, o pai também pode ensinar o filho. DOC: Claro. 20 Está entendendo? Vai ser até melhor para ele, se partir também dos pais, eu acho que ele vai aprender muito mais com o professor e com os pais também. DOC: Com os pais. Você é contra aquela história das crianças terem aquele horário, horário rígido de estudo em casa? O que é que você acha disso? 20 O horário rígido eh... determinado assim que chega, chega da escola. DOC:À tarde só estudo. Não se brinca mais. Você concorda com isso? 20 Não, não concordo não, discordo. Eu acho que isso uma pressão e pode até prejudicar até o menino né. Eu acho que ele tem, primeiramente, ele, o, o filho também tem que ter responsabilidade desde quando o pai está passando para ele, fazendo assim “olhe, tudo bem você vai ter que estudar, agora...” não tem que determinar o horário dele estudar a tarde toda. Eu acho que isso aí já vem, aí vai ser uma pressão forte, tem muitas pessoas que não gostam, então o filho não vem 20
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também, aí chega “pô, meu pai, o que é isso? como é que pode? Vá estudar, vá estudar” aquela pressão. Eu acho que não, tem que saber conversar com o filho. “olhe, vá, vá estudar aí, fazer o seu dever, tal, aí depois você está liberado, isso e aquilo, ou depois, você vá brincar, mas depois você tem que fazer o seu dever, senão amanhã você não... você não vai fazer, então você não vai brincar” se ele não, não fazer o dever, e amanhã também, também não vai brincar, então ele vai começar a criar uma responsabilidade dentro de si, em si próprio ele vai criar uma responsabilidade, vai ser até melhor para ele. DOC: É uma forma de conquistar de outra maneira né? 20 É bom, bom senso né? É isso que eu estou falando, ...Inint... falta o diálogo. Se tiver o diálogo, eu acho que tudo vai dar certo. DOC: É, hoje existem outras coisas que tomam espaço dos filhos né, tomam o tempo dos meninos. 20 É o namoro... DOC: É, mas mesmo criança ainda, né? 20 Eh, Como é o quê, a televisão? Eh... tem os brinquedos que você vê nas ruas, os vídeo – games que eles se puder não vai nem para a escola. Que eles já vê logo assim com o menino aí já fica brincando de vídeo – game. Têm muitas vezes, tem muitos meninos que ainda são assim né? DOC: E o que é que você acha da televisão? 20 A televisão de hoje em dia? DOC: O efeito da televisão, você acha positivo, negativo? Fale alguma coisa sobre a televisão nas, para as crianças. 20 Olhe, como é que se diz... o efeito pode ser ... pode ser positivo e também pode ser negativo, porque o que estão passando hoje na televisão né, aí cabe cada... cada, cada, cada, cada pais, cada um dos pais falarem se deve assistir ou não, porque tem muitas coisas indecentes hoje que estão passando na televisão. DOC: O sexo. 20 O sexo mesmo, então você não pode, de poder você pode, agora depois você vai parar para conversar com seus filhos, porque são cenas, muitas cenas pesadas. E isso invoca até na escola que nego fala “pô, você viu aquilo que aconteceu na televisão? Isso e aquilo” aí fala, aí fala até a professora “mas menino, numa idade dessa você já está sabendo disso e mais aquilo” DOC: Os meninos hoje... 20 É. DOC: Sim, e, fale uma coisa... Eu queria perguntar uma coisa, agora não me ocorreu, mas você falou que a televisão realmente tem efeito, pode ser positivo. 20 Ou negativo. DOC: ... ou negativo, não é? Será que não está relacionado também a questão do, do que você falou no início, a violência. Pode ter, a televisão pode também incentivar, será? 20 Incentiva também. Se vê, como o menino vê, que é, como... como dizem, não é, eh... os meninos não aumentam, o que vê eles não aumentam, então se ele vê ele fica naquilo “pô, você viu minha mãe, o homem ali com o revólver na mão? “Aí você vê em sua casa, seu próprio pai tem um revólver e ele vê também. Se já passou
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na televisão aí ele vê também. “ah, meu pai, olhe o revólver ali” E o pai também já fica preocupado em não deixar no lugar porque fica aquele negócio, de querer até brincar e isso e quilo para saber como é, então muitas vezes a televisão prejudica até o ... o menino, em algumas partes, porque em outras partes também tem que ter o lazer dele, de assistir o desenho dele, assistir um programa ou um show, isso aí também incentiva o menino para se distrair também, né? Que ele não vai ficar totalmente preso ou bitolado a só um, um regime. DOC: Então tem algumas coisas que você consideraria positivas? 20 É, e outras coisas... DOC: Assistir, não é? 20 É. DOC: Assistir algumas coisas, então a família poderia selecionar, selecionar talvez? 20 É, selecionar é, eu acho que deveria. Não, no meu ponto de vista, deveria. DOC: Que coisas hoje na televisão você considera positivas? 20 Hoje coisas na televisão positivas? Questão de idades ou... DOC: Não, no geral, fique a vontade, ou pra adulto ou para criança. 20 Eh... tem tanta... tem tantas coisas, deixa eu ver uma, coisa positiva? Globo repórter. Uma coisa positiva que, deixa eu ver, o Fantástico. DOC: É. São coisas que acrescentam, né? 20 Que acrescenta, até no desenvolvimento da pessoa, quer ver? O programa de infantil pela manhã, que sendo, sendo, agora aí é que vem o problema, né? Que são várias emissoras, e se, que tem programa infantil pela manhã em um horário e se ele estudar pela manhã não pode assistir... DOC: O quê você consideraria, por exemplo, depende, você falou, depende da emissora. 20 É. DOC: Não é? Que emissora você vê traria alguma coisa positivo para a criança pela manhã, por exemplo? 20 Isso aí que varia, porque de repente, pela manhã pode ter um programa infantil no onze e aí pela tarde não tiver, e se tiver um programa infantil, está entendendo, aí diversifica, porque pode estudar de manhã e pode estudar pela tarde, não é? DOC: E... e negativos assim? Como você rotula os negativos? Dá alguns exemplos? 20 Negativos são, você vê começa a partir das novelas, né? Você vê muitas cenas, eu mesmo, eu na minha idade mesmo, eu fico olhando assim, eu estou assistindo a televisão com minha avó, eu vejo aquelas cenas assim aí eu fico assim, eu fico enver... eu fico envergonhado. “Mas rapaz, como é que pode?” Imagine sua filha assistindo, sua filha ou filho. Tudo bem, tem uns pais que aceitam, né? Bota ali o filho do lado para assistir, já ensinando, não sei, né? cada pai é um pai, cada formação é uma formação, tem gente que fica do lado e bota para assistir. E na minha concepção, eu fico olhando assim, tem muitas cenas assim, porque pela idade deles ainda não tá para aprender o que é aquilo... DOC: Inadequado, não é? 20 Não está adequado pra aprender o que é aquilo. DOC: Pois é, seria forçar demais. 20 Forçar muito a barra, muito cedo.
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DOC: É, a .... a .... a televisão é como se fosse uma aprendizagem, uma aula de, muito aberta, né? 20 É, muito aberta. DOC: Muitas coisas de vez. 20 Muitas coisas boas, mas tem coisas também que a gente, mas eles não podem mudar quem tem que mudar é a gente mesmo. DOC: Você na época de estudo você tinha acesso assim a televisão direto todos os dias? 20 Todos os dias só pela parte da noite, pela parte da tarde quando eu chegava eu ia jogar bola. E minha vó se retava. DOC: Ah, sua diversão era mais... 20 Era de jogar bola. DOC: Era mais o jogo. Você sempre gostou de? 20 Eu sempre jogava bola. DOC: É, hoje, os meninos ficam na televisão esquecem até do jogo. 20 Esquecem até do jogo e fica mais na rua. Você vê, muitas pessoas mesmo na rua, não, eu acho que televisão pra ele é o mínimo, não liga mesmo... DOC: O que é que você acha do esporte? Ajuda na educação? 20 Ajuda e muito. DOC: O que você acha aí? 20 Eu acho que se a maioria dos meninos hoje, vou dizer assim, 80% praticasse esporte ia ser bom para a saúde dele e para a mente. DOC: Mente? 20 É. desenvolve mais, aque... como é que se fala? Eh... ele vai se sentir mais livre, mais solto, fora de outros meios. Então o esporte ensina a você até a viver, a desenvolver na sua vida. Os 80% dos jovens que pensassem nisso, acho que ele ia estar sempre bem, mas hoje em dia eles não pensam isso, vai pelo outro jeito. Como eu falei, naquele tempo, a gente brincava todo dia, para mim todo dia era gude, era empinava arraia, era bate – lata, era garrafão e hoje em dia, não, você não vê ninguém fazer mais isso. Você vê pessoas de doze, dez, doze anos, você pessoas de barzinho bebendo, fumando. Você pode parar e você vê fumando assim em barzinho e... eu olho assim, rapaz! naquele tempo, imagine eu botar um copo de cerveja em minha... na boca, era porrada na hora. E hoje em dia está liberal mesmo, está liberal, você vê meninos de doze, doze, dez anos, você para no barzinho você vê eles namorando, com uma carteira de cigarro do lado, com uma cervejinha. É. DOC: As coisas estão bem diferentes hoje mesmo. 20 Estão bem diferentes. Mudou muito. DOC: Sim, você, eh... eu queria fazer o seguinte de você, você acha que tem ligação entre praticar esporte, né? E será que de alguma maneira praticar esporte reduz o consumo de drogas? 20 Reduz, reduz sim. DOC: Porque você acha que isso acontece? 20 Até o próprio professor ensina, educa, como... no meu tempo era assim, se você não tiver uma nota no boletim você não jogava no time. Então há preocupação, eles lá, os professores que, esses de basquete, de futebol, de handebol, de tênis, e outros
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esportes. Eles vão lá e ensinam a maneira de você ser, e eles passam que você não use drogas, não vai, não faz bem para a saúde. Não compre, que não vai fazer bem para a saúde, se você não praticar, você vai cansar, sua mente não vai aceitar, não vai... não vai ficar controlada. Então eles ensinam e como eu falei pra você, se eles praticassem o esporte ia mudar totalmente o índice até de drogas de alguns, algumas pessoas. Acho que o esporte ajuda muito o cidadão. DOC: Então. 20 Não é só crianças não, até pessoas adultas também, se pudesse praticar um esporte, quem já consumiu, quem já consome drogas, eu acho que ele ia diminuir, ou até parar, porque há um incentivo, eles sempre tem uma reunião em grupos, assim para... fazer debates que é que acha da droga, o que é que acha do sexo, que é que acha disso, que é que acha daquilo. Então isso, acho que o esporte incentiva o cidadão a não praticar o que... é pratique esporte, não pratique drogas. DOC: Então se houvesse um estimulo... 20 Um estimulo. DOC: ... ao esporte talvez até houvesse uma redução. 20 Uma redução. Partindo até de escolas mesmo, de professores que... não tem educação física? É obrigatória, né? Não sei hoje em dia, não sei. DOC: É. É obrigatória. 20 É obrigatória. Eles mesmo ensinam. Agora, é tudo é formação de cabeça, tem umas pessoas que ficam assim, e muitas pessoas são teleguiadas, hoje em dia essas pessoas são muito teleguiadas, são muito influenciadas. Ah, vambora aqui fazer aquilo, ah, só para experimentar, isso e aquilo. Acaba já num outro mundo, já num outro, quando vai ver já está viciado. E não deve ser assim. DOC: e me diga uma coisa, como os pais devem se comportar quanto a isso? Desses, dos amigos, as influências dos amigos, como o pai pode... o que é que você acha disso? Pode ajudar? 20 O pai pode ajudar não discriminando, porque eu acho que isso é até pior que eu vi até uma repo... uma reportagem, pode até ajudar uma pessoa que é viciado, pode até ajudar, agora você não deve se juntar. Os pais devem conversar com seu próprio filho, e chegar falar assim, “se ele te ofereceu alguma coisa, você sabe que é um viciado, não queira que vai lhe prejudicar, agora se você pegar, você está sabendo que você vai ser prejudicado e vai ser pior, então você tem que olhar qual é o melhor para você. Então se alguém chamar um viciado não faça isso, não pegue qualquer coisa que vai ser pior para você. Então o pai também tem que ajudar. É, e até incentivar “olhe, meu filho, esse lado não é bom não, pratique um esporte ou faça outra coisa ou procure se movimentar porque esse lado é, é negativo como que”. DOC: Pois é J..., nós já podemos parar por aqui, eu acho que a fita já está perto de acabar. Viu? Então eu vou agradecer pela... já relaxou mais ...