Corpus Internacional da Língua Portuguesa 1. Modalidade: Língua falada 2. Tipo de texto: Conversação natural, assimétrica, tematicamente orientada. Código: CILP2BCPP15 3. Assunto: Transcrição de entrevista oral do tipo Documentador e Informante sobre diversos temas, incluindo infância, trabalho, relacionamento pessoal, educação, lazer, violência 4. Autor: Anônimo 5. Qualificação do autor: Homem / 54 anos / Escolaridade média 6. Data do documento: 05 de novembro de 1999 7. Local de origem do documento / Dados de imprenta: Salvador, Bahia - Brasil 8. Local de depósito do documento: Arquivo Privado: Programa de Estudos do Português Popular de Salvador – PEPP - Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
9. Editor do documento: LOPES, Norma da Silva (Universidade do Estado da Bahia); SOUZA, Constância Maria Borges de (Universidade do Estado da Bahia); SOUZA, Emília Helena Portella Monteiro de (Universidade Federal da Bahia). Orientadora: Myrian Barbosa da Silva (Universidade Federal da Bahia) 10. Data de inserção no CILP: outubro de 2005 11. Número de palavras: 7.832
PROGRAMA DE ESTUDOS DO PORTUGUÊS POPULAR FALADO DE SALVADOR – PEPP
INQ Nº 15 – Homem – idade: 54 anos – Escolaridade: 2º Grau DOCUMENTADOR: EMÍLIA HELENA SOUZA DATA: 05/11/1999 TRANSCRIÇÃO: Alessandra Fontoura 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34
DOC2 :A gente está começando e você pode estar prosseguindo. DOC : Bem, nós gostaríamos que você falasse um pouco a respeito da sua infância, se foi uma, uma criança traquina, você deu muito trabalho. 15: Pior que eu fui o pior viu de minha casa, eu aprontei, aprontei um bocado, todas as queixas que chegavam lá em casa era eu, é o gordinho, é o gordinho, a velha, eu fui muito abusado dentro da minha infância, por sinal eu parei um pouquinho aos, os catorze anos eu tive princípio de tétano, fiquei internado no Couto Maia um mês, só não morri porque eu prestava, daí pra cá eu, eu saí do hospital, passei um período mesmo trabalhando... DOC2 :Que idade? 15: Catorze anos, tive um princípio de tétano, quando eu saí do hospital comecei a aprender a andar de novo, que tétano... DOC2 :Foi motivado porque? Queda, corte... 15: Furei o pé em madeira, numa madeira velha, e furei na hora que eu já estava quieto, já estava na oficina trabalhando de ajudante de mecânico, eu disse, “olhe, D.... eu não mais lhe abusar”, que eu não chamava de mãe não, “agora eu vou ser mecânico”, como eu procurei o certo... DOC : Foi no próprio local de trabalho que você furou o pé? 15: Furei o pé, aí eu não liguei, furei esse pé daqui, furou, bati, (...inint...) na hora de bater com a madeira saiu sangue aqui sabe, depois de oito dias adoece a (...inint...), quase eu morro. DOC : Quantos irmãos você tem? 15: Cinco, tem um que faleceu, faleceu em oitenta, a velha em oitenta e oito, em noventa, foi o terceiro, porque eu sou o segundo. DOC : Quantos homens? 15: Tudo homem. DOC : Todos, e você se dava bem na infância com os seus irmãos? 15: Graças à Deus até hoje, não brigava, seis homens juntos não brigavam, a gente brigava assim com inimigo, era seis pra um, dois, aí sempre saía na frente. DOC2 :Você se lembra de alguma briga dessas, alguma coisa assim aprontada por vocês? 15: Ah, me lembro. DOC2 :Pode contar pra gente? 15: Posso, foi uma vez que eu estava com, foi o pé cor, eu cortei o pé jogando bola.... DOC2 :É chegado né?
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Aí tomei acho que foi seis pontos, tinha tirado os pontos estava recentemente, então eu tive que ficar deitado, não sei o que, eu fiquei dentro de casa aí um, um maluco em casa botaram o apelido dele de sapato verde, aí eu estava dentro de casa, ele chegou eu estava dentro de casa mesmo, ele chegou disse, “dona D...., o filho da senhora na escola”, ele disse assim, “o gordinho, está me botando apelido e me deu uma pedrada”, aí D... entrou e disse, mandou ele entrar, ela, ela entrou, “foi esse?”, ele pediu milhões de desculpas né, eu disse, “agora você vai pagar pelo seu erro”, ele foi embora, passou uns três dias, aí a velha estava conversando na frente eu saí pela porta do fundo pra atentar fiquei lá no muro daquela maternidade, Ticília Balbino, passei, lá vem ele, aí eu apanhei meio tijolo, meti por dentro dele, ele caiu, aí eu voltei pro (...inint...) correndo e me deitei, aí eu vi o zum, zum, zum na frente, “D... você não sabe o que aconteceu, deram uma pedrada em sapato verde”, ela disse assim, “graças a Deus que não foi o gordinho”, tinha sido eu, eu fiquei quieto, ela disse, “está dormindo”, eu digo, “tá”, já estava enrolando, “deram uma pedrada em sapato verde aí, disse que quase ele morre”, eu disse, “eu estava aqui não foi?”, ela disse, “foi meu filho graças a Deus”, eu olhei pra velha assim, mas quando passou um bocado de tempo eu disse a ela foi eu, ela aí pegou a, estava na cosinha até, mexendo a comida, aí quando eu disse isso a ela, disse assim, “espera aí”, pegou a colher de pau, quando ela arrumou foi logo que deu nas costas, aí bateu a, caiu a concha, aí eu apanhei a concha ela aí, dei a ela, “agora tem que colar”, ela aí, “meu filho, nunca mais eu lhe bato”, aí eu, daí pra frente... DOC : E como os seus pais reagiam a essas pintanças suas? 15: Ah o velho era mais duro, a velha era sempre dar aqueles tapas, mas o velho de vez em quando botava de dar os bolos, não gostava, dois bolos, aí procurava não fa, não errar, negócio de ir pro cemitério, (...inint...), eu ia empinar arraia no cemitério, ficava no cemitério em cima daqueles telhados, a gente empinava arraia, e de casa ela conhecia, quando eu chegava, “ah, você estava lá”, digo, “ah, só foi essa vez, não vou mais não”, aí eu fui crescendo... DOC : E, e a escola, como foi você na escola? 15: Não, no, no, quando eu passei pro ginásio ali no Cruzeiro do Sul eu era abusado, foi brincadeira mesmo, mas (...inint...) era muito abusado, e meu irmão mais velho é que trazia o recado, “olha eu disse ao rapaz que você vai ficar quieto se não eu vou falar com D...”, “olhe a partir de hoje eu não vou abusar mais”, aí eu parava... DOC2 :Você só prometia. 15: Mas eu parei, eu fiquei de castigo na sala dele com uma manga na mão, eu joguei a pasta, joguei a manga ali no Cruzeiro do Sul que era na, na Sete Portas, tinha um ginásio Cruzeiro do Sul que tinha uma banda de música ali, as meninas ensaia a banda, compraram até uma linha (...inint...).... DOC : E você tem alguma lembrança assim de colegas, de professoras do primário? 15: Tenho um bocado de professora que eu me lembro, quando eu estudei também no Getúlio Vargas, A .... eu me lembro bem dela, eu levava os livros pra ela, (...inint...) DOC : Como eram elas? Eram severas? Que tipo de ensino? O que é que você lembra assim daquela época em relação até com a situação de hoje com os meninos? 15:
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Não, até eu acho que eu tive, só tomava se tivesse com alguma coisa rude, esses negócios, alguma coisa, brinquedo que você levava, botão, que eu gostava de levar botão, elas tomavam, mas quando chegava o final de ano ela devolvia, só não queria na aula certo, a gente aí... DOC : Você gostava de estudar? 15: Olhe se eu gostasse, gostasse mesmo de estudar um bocado eu acho que eu... DOC2 :Não gostava não. 15: Era outro, eu estudava porque tinha que estudar, tinha que ser alguém, aí a velha dizia, “rapaz você tem que estudar, porque sem estudo não vai pra lugar nenhum”, aí eu fui, fui, quando eu cheguei no ginásio eu, chegou a época de servir o exército, eu servi naquela revolução, não é como é hoje que é meio turno, servi na revolução de sessenta e quatro, aí que (...inint...), mesmo assim eu trabalhando, já casado ainda fui pro, estudei no, no GEMPA no IAPI, depois fui pro Duque de Caxias pra concluir o segundo grau, já depois de casado. DOC : Que bom. 15: Ela forçando,(...inint...), não quero mais não, (...inint...), vou pro Senai pra vocês não me abusarem, no Senai passei quinze meses, fiz um curso de tornei, de torneiro em sessenta e oito parece, daí pra cá só tenho a família mesmo. DOC2 :A mesma, você ficou com a mesma profissão de seu pai. 15: Não, meu pai era vidraceiro, quem seguiu foi um irmão meu, ele trabalhava aí na, no porto. DOC 2:Ah, eu pensei que o seu pai também era torneiro mecânico. 15: Não, torneiro mecânico na minha casa só eu. DOC2 :Certo. 15: Porque eu era ajudante de produção, aí, aí um cara lá disse assim, “rapaz você, apesar de você ser abusado”, porque eu era abusado um pouquinho (...inint...), “eu vou te dar uma oportunidade, você vai pra o Senai que eu lhe classifico como torneiro mecânico”, aí eu fui, passei quinze meses, saía da Baixa de Quintas andando até Água de Meninos e pegava um ônibus pra ir lá pro SENAI, a empresa era, funcionava pela empresa de Ribeira, Barroquinha, Pássaro Azul, que o dinheiro era pouco, eu descia andando a Baixa de Quintas, andava aquela estrada da Rainha toda, descia a Água Brusca e pegava o ônibus, agora de volta que eu pegava dois ônibus porque era perigoso, subir a Água Brusca assim de noite, ela disse “não venha não, venha de, pegue dois, pegue um indo e dois voltando”, passei quinze meses nessa batuta, mas graças a Deus o que eu tenho... DOC : Venceu. 15: Eu agradeço a ser um torneiro mecânico. DOC : Agora vamos voltar ainda eh, falar sobre a educação da, da infância compare com a educação dos filhos de hoje, seus filhos fizeram a mesma coisa, fizeram as mesas coisas que você? 15: Não, eles saíram mais na frente, que pelo menos tem duas já na faculdade, o menino não. DOC : São quantos? 15: Três, teve muita oportunidade pra estudar e... 15:
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DOC2 :Mas está trabalhando. 15: Está trabalhando, está, praticamente ele me acompanhou não quis tanto com o estudo não, mas as meninas graças a Deus as duas, ele não, está, está trabalhando na editora Moderna, vai pra lá, vai pra cá, “rapaz vai estudar”, agora, diz ele agora que vai fazer vestibular, M... disse que ele vai fazer. DOC 2:É, vai chegando num ponto, você falou que ele já está com... 15: Vinte e nove. DOC 2:Quase trinta né? 15: É. DOC2 :Aí só ele mesmo que vai decidir. 15: Conselho a mãe dá, eu dou, agora, “olhe, o caminho não é esse”, vai abrir a cabeça dele pra botar o caminho é esse, (...inint...) dá tudo, eu já disse a ele, “olha, você teve tudo, e está jogando tudo fora, quando você, Deus me livre guarde, você desacertar da vida primeiro você vai sofrer pra depois eu lhe dá apoio, quando eu vê que você caiu lá na decadência eu vou logo lhe dando a mão não, você vai sofrer primeiro pra depois eu dar apoio a você, não, você achou tudo, jogou tudo fora, porque você quer na mão agora, não”. DOC2 :Porque comparando com o que você teve você teve mais dificuldade. 15: Eu tive mais dificuldade, porque pro estudo mesmo quem se interessava mais era a minha mãe, o certo era isso, meu pai não, eu acho que o meu pai é daquele tempo do pessoal que trabalhava nas docas, uma, duas, três mulher botou (...inint...) está bom, mas não é por aí, por ele a gente não ia pra lugar nenhum, mas a velha sempre combateu, levava pro colégio, ter que ir, ia vigiar se estava vaziando aula porque o, o que morreu mesmo era... DOC : Era o mais, o mais velho? 15: Não, foi o terceiro... CIRC: Boa tarde. 15: Botava o livro debaixo do braço e (...inint...), aí tanto que o quarto voltou a estudar pra segurar ele no colégio, mesmo assim ele caia fora, não tinha fim. DOC : Agora me, me diga uma coisa, eh, você comparando o tipo de ensino daquela época com o de hoje você tem como comparar? (superp/inint) DOC2 :O ensino melhorou, piorou, quem era mais autoritário, em que é que melhorou as, melhorou alguma coisa...? 15: Eu acho que o ensino de hoje em relação ao ante, anteri, o anterior é mais cheguei, isso aí o menino quando eu ligo aí, cadê (...inint...)... DOC 2:Mais cheguei você diz assim era melhor? 15: O anterior? DOC2 :O anterior. 15: Eu achava que era, evoluiu outras coisas, apareceu computação, um bocado de coisas, mas o estudo em si você saia pra fazer as quatro operações você sabia mesmo, hoje tem meninos formados aí que não sabe fazer uma conta de dividir, se aperta com, por bobagem, porque naquele tempo, aquele tempo era base, naquele tempo você saía, usava, eu não sem nem se existe mais tabuada. DOC2 :É, também não sei não.
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15: Não sei. DOC : Mas eu acho que ainda existe. 15: Os meninos hoje em dia você vê no colégio os meninos só de brinquinho, com as roupas, as meninas (...inint...), foram essa semana com short, eu digo, “olha, você vai pra praia ou pro colégio, pra faculdade?”, ela disse, “ah meu pai”, “não é melhor você vestir um shortinho mais compridinho”, ela disse que eu estava pegando no pé. DOC2 :Porque é, fardamento é bem diferente, como eram as fardas de antigamente, você lembra? 15: Era, era, era calça, no meu tempo era calça curta, que é por causa do joelho que chama bermudão, e a camisa por dentro das calças e o tênis, se não fosse fardado não entrava, hoje em dia é chinelo, é não sei o que, evoluiu, pra mim o, o interior é mais, não sei se formava no, digamos assim em mil novecentos e antigamente você se formava mesmo, hoje em dia não sei o que, não sei o que, eu não vejo nada, (...inint...) se atrapalha. DOC2 :E, em relação a essa questão da escola, eh, o respeito você acha que mudou de lá pra cá? 15: Mudou, antigamente tinha respeito, hoje não, eu estava numa matrícula agora, essa pré-matrícula eu tra, trabalhei nesse colégio aqui do cabula, o professor de educação sentado no chão, as meninas chutando a bola em cima dele, antigamente fazia isso? Não, só porque ele é professor, é moderno, as meninas tudo chutando, pegando a bola botava na direção dele e chutava, outra vez chutou o caderno e ele fica, eu olhei assim, eu digo, “olhe eu vou sair daqui, não tenha nada...” DOC 2:E ele não dizia nada. 15: Nada, parecendo um palhaço ali no meio, aqui nesse colégio Otávio Mangabeira, aí oh, eu acho que sei lá, muita, muita liberdade. DOC2 :Antigamente você.... 15: Antigamente... DOC2 :Tinha esse tipo, como era a relação então com os, o aluno com o professor? 15: Era bem diferente, não tinha essa abertura toda, diz que é abertura, era mais pra, a professora te chamava pra sentar na, na carteira dela pra lhe reprimir era mais seguro, ela falava, passava a olhar, é isso, isso, e você cumpre, e hoje em dia não, como eu vi ali eu acho que bate até nele, professor de educação física que eu vi ali no Otávio Mangabeira. DOC : Mas a, a relação dos, dos pais também com os filhos eu acho que mudou bastante, você não acha não? 15: Mudou, mudou. DOC : O que é que você, qual é o seu ponto de vista sobre... 15: Eu acho que melho, melhorou. DOC : Em que sentido? 15: O filho se aproximar mais do pai, porque antigamente bastava o pai atravessar já saía pelo lado, hoje em dia não, você pra lá, você pra cá e o respeito continua, antigamente não... DOC : A forma de tratamento mudou?
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A forma de tratamento mudou, que o meu pai me dizia assim, “olhe não é pra ir pra rua”, bastava olhar, todo mundo se tremia, hoje não, eu digo, “você não vai não”, aí, “meu pai, não sei o que”, ele aí chega daqui, eu digo, “ é, vá”, e antigamente na minha casa mesmo a gente não tinha essa onda não. DOC : Me diga uma coisa, e em termos assim de diversão o que é que o estudante, com que o estudante se divertia na... 15: Antigamente? DOC : Sim. 15: Ah eu, antes eu não sei se a, a população era menor, porque a mente era outra, a mesma bola, dar pedrada na mangueira dos outros, correr atrás de arraia, ou correr atrás do outro, hoje, não é a maioria mas a vida de hoje só corre atrás de droga, você vê no cantinho está rolando alguma coisa, aí é errado... DOC2 :Isso está, está perigoso né? 15: Aí é perigoso, e os caras estão fumando abertamente, (...inint...) eu fumo, cheio de tatuagem, esse daqui mesmo esse colégio daqui eh, Francisco, os caras aí está de bermudão, de chapéu, aquelas máscaras de, (...inint...)... DOC2 :Parecendo que é de assaltante né? 15: Parecendo que é assaltante, com aquelas camisas que esconde a mão, que eu sou invocado com esses caras que anda com a camisa escondendo a mão, e antigamente não era isso, não tinha. DOC : E como era o bairro onde você morava? 15: Olha, era menos, menos populoso, menos gente, brincava mais, tinha mais liberdade, tinha, qual, qual... DOC : Pé de fruta. 15: Qual é o esporte, ir pra roça dos outros, o cara de lá, o vizinho mesmo dava manga pra eu levar pra D..., “aqui a manda de dona D...”, eu disse “não daqui a pouco eu vou dar pedrada”, e ia e dava, e ele não dizia nada, eu dizia que derrubar era melhor, hoje em dia tem... DOC2 :Aventura né? 15: Eh, um grupinho de menina que eu vi aqui no... DOC : Mas era mais sadio. 15: Era mais sadia, a brincadeira era mais sadia, hoje eu vi ali no Francisco, Francisco não, foi no Mangabeira, eu vi um bocado de menina assim no, no, num, num grupo assim, aí eu parei o carro, eu tinha acesso a escola aí pronto, aí eu parei o carro, a outra disse assim, “é vem o, o, o, o motorista da, da supervisora, é melhor parar”, o que estava fazendo eu não sei, dentro do colégio. DOC2 :Você ouviu isso ainda né? 15: Aqui no Otávio Mangabeira, o outro saiu na mão na quadra o, o vigilante levou pra diretora, ele quase que vinha, pelo que vinha ele ia bater na diretora, só que ele não ia bater não ia deixar, ela disse, “você está errado, você está suspenso”, acho que foi dez dias, um negócio desse, “e você vá pra”, (...inint...), “e você vá pra casa que depois eu lhe acerto”, e ele com o dedo dando testa, eu digo, “ah, encoste a mão um pouquinho, enquanto ele está discutindo está bom, mas se ele for agredir ela quem vai agredir sou eu”. 15:
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DOC : E você atribui a que esse estado de coisas que... 15: Eu só posso, eu só tenho em minha mente que é droga, aquele cara não, pra dar testa assim como estava dando a diretora alguma coisa ele tinha. DOC : Essa situação eh, dos alunos.... 15: Os alunos estão muito valentes agora, se a professora der (...inint...) eles querem bater, botam uma vigilância dentro do colégio, que a vigilância.... DOC2 :Não resolve nada. 15: Não, antigamente tinha polícia no, no colégio? DOC : Não. 15: Todos têm agora um PM... DOC : Que situação. 15: Tem a vigilância do colégio e tem um PM. DOC : Mas você atribui a que, uma questão familiar, é uma questão da sociedade, o que você acha? 15: Eu acho que, eu acho que a própria sociedade que, os próprios governantes sei lá, não tem controle de nada está tudo, o país sem governo. DOC : O que é que, o que é que você acha que pode ser feito pra melhorar isso? 15: Eu acho que não tem melhora não, só se acabar tudo pra começar tudo de novo, eu acho que não tem, não tem mais retorno não, por exemplo, na minha, na minha fase eu não vou ver retorno, a tendência é piorar. DOC : Porque no, no seu momento foi um momento sadio, de infância, as brincadeiras né? 15: E hoje não existe isso. DOC 2:Brincadeira por exemplo de infância era mais solta na rua. 15: Era mais solta, era correr, (...inint...)... DOC2 :Não tinha tanta violência não é isso, as pessoas podiam ficar a vontade na rua, hoje está todo mundo mais preso dentro de casa, e tem uma outra coisa, a televisão por exemplo, o que é que você acha da televisão? 15: Eu acho o pior veículo pra, pra esses lances aí é a televisão, a televisão agora está abertamente, não tem controle, antigamente aqueles filmes de Tarzan, (...inint...), era o Zorro, hoje em dia é o que, umas novelinhas aí que você não pode proibir, está dentro de casa então eu vou desligar a televisão, ele sai e vai assistir em outro lugar, e aí? DOC : É verdade, fale um pouco também de sua experiência de trabalho como torneiro mecânico. 15: A minha experiência foi boa, eu trabalhei vinte e três anos e meio só em uma firma, começou como Brafip, passou pra Rio de (...inint...), depois pra (...inint...), depois fechou e... DOC2 :Porque desde novinho você trabalha né? 15: Começou, assim que eu saí, fui licenciado, eu servi um ano aqui no dezenove BC, fui licenciado e fui pra essa indústria, entrei como ajudante, saí como encarregado. DOC : Cresceu na empresa. 15: Não fui mais porque acabou, entrou o (...inint...) que é uma empresa Argentina, entrou a (...inint...) infelizmente o nosso sangue brasileiro, você vê que chegou a um
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ponto a empresa é Argentina, a Petrobrás aqui na Bahia, a empresa é aqui na Bahia, a Petrobrás comprava brota mais barato lá do que aqui, vai pra onde? Acabou. DOC2 :Mais aí é um pouco do, desse problema que você estava falando, da, da política né, do governo... 15: Do governo. DOC2 :A política econômica que tem criado... 15: Criado esse tipo de problema. DOC2 :Os problemas maiores, não é? DOC : E, e depois dessa empresa? 15: Depois da, da, da, eu, eu me aposentei em noventa e quatro, nessa empresa mesmo, fui, fui gastar o dinheiro. DOC : Bem jovem. 15: Aproveitei naquele tempo que, como é o nome, que diz que quem se aposenta com menos de cinqüenta é vagabundo. DOC : Vagabundo (risos). 15: Ele mesmo fala isso, aí eu fiquei em casa e enjoei de ficar em casa e fui rodar táxi, rodei táxi quase dois anos ou foi um ano e meio, fui assaltado duas vezes. DOC : É isso que eu queria falar, fale um pouco da experiência como taxista, porque eu acho que é uma coisa assim interessante porque entra em contato com a população. 15: Taxi é a melhor coisa do mundo, todo mundo que entra num taxi tem um problema, todo mundo que senta no taxi tem um problema.... DOC : E sempre conta. 15: Se o taxeiro falar pronto, queira ou não queira a gente puxa conversa, aí se... DOC2 :Vira uma, um divã de psicanalista. 15: Correto, aí, aí porque isso assim, aconteceu isso comigo, aí você vai também contando, aí vai, vai, você conhece gente famoso, entra vagabundo em seu carro, como duas vezes comigo (...inint...), o dinheiro... DOC : Assaltou foi? 15: Foi no posto ali na, no Dique, aquele posto, vindo do, da Vasco da Gama subindo pra Fonte Nova não tem um posto do lado esquerdo. DOC2 :Com arma? 15: Escopeta, mas levou o dinheiro, está tudo bem, depois eu peguei outro, o outro foram três, uma mulher e dois caras. DOC : Entraram, chegaram a entrar no táxi? 15: Entraram, se passa, se é passageiro, você passa com o seu carro lá a mão você não sabe quem você pega, e a mulher que estava atrás aí, acho que ela estava bem drogada porque ela disse, “não dá fim logo nesse taxeiro”, aí o cara, “não o cara já deu o dinheiro é legal, pra que isso, nós vamos pra uma parada ali no Rio Vermelho, se der tudo certo a gente”, fui pra, pro Nordeste de Amaralina dirigindo pra eles. DOC2 :Mais nada? 15: Não, (...inint...) DOC : E qual foi a sua reação, e sua reação como você se sentiu? 15: Só, eu não sei nem como eu me senti, eu acho que eu fiquei calmo, porque ele disse, “não vai te acontecer nada não, vumbora, uma parada lá no Nordeste de Amaralina”,
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ele foi buscar o, o fumo na certa, chegou lá ficou dois no carro e um foi, daqui a pouco voltou e, “tudo ok, vamos em frente”, quando chegou no, ali no quartel de Amaralina ele disse, “para aí”, defronte ao cara do quartel, o segurança. DOC : Hum, que coragem.... 15: Aí eu parei ele disse, “olhe, tudo bem pode ir embora”, aí que a perna tremeu. DOC2 :Depois que acabou a história. 15: Depois que a acabou a história a perna tremeu, eu vim eu casa todo mundo que botava a mão eu virava a cara, e com a bandeira livre. DOC : Você não teve nem mais coragem de trabalhar. 15: Não, não, parei, aí eu disse, “olhe, está meio ruim”, aí um colega meu de (...inint...) me chamou pra a gente trabalhar com gás lá em Mataripe, “ah porque o gás estoura!, não sei o que”, eu digo, “eu vou ser estourado”, aí eu fui pra Brasilgás lá em Mataripe, morei dois anos lá. DOC : Hum, com a família? 15: Sozinho, mas eu vinha de quinze em quinze... DOC2 :Indo e voltando, tra, trabalhando lá e voltando. 15: Não eu não vinha todo o dia não, eu aluguei uma casinha lá, porque não dava (...inint...), era duro trabalhar em cima de gás, plataforma de gás. DOC : Mas faz o que, você fazia o que com o gás? 15: Eu era supervisor, tomava conta de sessenta, sessenta funcionários, uma linha de produção de engarrafamento. DOC : Eu sei, e como foi a experiência? DOC 2:Que agora tem até vários né? Vários distribuidoras? 15: Tem Butano, Novo Gás, tem um bocado aí, Bahia Gás, sei lá, um bocado de... DOC2 :Todas no mesmo local, todas em Mataripe? 15: Aqui só é depósito, a única que estava engarrafando aqui era ainda a Brasilgás, acabou, não engarrafa mais ali não, ali agora passou a ser depósito, agora tudo é lá em Mataripe, ampliou, (...inint...) de sessenta. DOC : E como foi a experiência, foi boa? 15: Pra mim foi boa porque eu já vim de indústria, não ia de encontro a ninguém, peão sumia da plataforma, chegava eu senta aqui numa boa, não é por aí, não sei o que, porque lá era o seguinte, o supervisor que ia de encontro era, “vou lhe pegar em Candeias, vou lhe pegar em Madre de Deus”, eu ia fazer o que. DOC2 :Ameaça direto né? 15: Teve um supervisou que trabalhou comigo que ela alugou a casa em ma, eu fiquei em Madre de Deus, ele ficou mais em cima, os caras foi na casa dele e cortou a barriga dele, disse assim, “olhe, é só um alerta a você, eu não lhe matar não”, ele pegou cortou, cortou, não deu ponto em nada, só fez cortar, pra você ver, “da próxima eu lhe mato, está me entregando”, aí não... DOC : Tinha que ter jogo de cintura. 15: Teve um dia que ela falou que eu fui beber mais os peão, eu disse, “fui mesmo”, porque chegou uma carreta, uma carreta pra pegar, dava mil e trezentos P treze, e estava quase na hora deles irem embora, faltava mais de meia hora, quarenta minutos, aí...
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DOC2 :P treze são aqueles... DOC : E não ia ter tempo, não ia ter tempo... 15: Não ia dar tempo. DOC2 :P treze são aqueles de... 15: De cozinha. DOC 2:Botijões de cozinha, ah de cozinha. 15: Aí eu disse a ele assim, “olhe ali”, porque de vez em quando eu vou no, na roça que ele tem lá em Muritiba, eu disse, “oh meu velho essa carreta tem que sair em meu turno”, ele disse, “meu velho não dá não”, eu disse assim, “olhe, se você carregar eu dou uma caixa, se você carregar essa carreta eu dou uma caixa”, (...inint...) DOC2 :Já pra... 15: Acho que foi menos de trinta, a carreta estava pronta, aí eu disse, “valeu, me espere em Madre de Deus”, eu ia trabalhar (...inint...), em Madre de Deus num barzinho, disse, “cerveja aí”, “não, primeiro tem que ser um tubo de cinqüenta e um”, eu digo, “bota dois”, “você não vai não?”, eu digo, “não, eu só tomo cerveja”, aí disse na hora de cerveja colo, aí botaram o meu apelido lá em Madre de Deus além... DOC2 :Além? 15: Disse além só toma cerveja, tomei os dois copos quando cheguei aqui, disse, “ah você está saindo com peão”, eu que não fosse não, aí torção, e eu tenho uma amizade boa, quando eu chego em Madre de Deus ela vê os colegas de Madre de Deus como é, além, além... DOC2 :Já são, já são seus, seus guarda costas né? 15: Oh, porque o outro brigava, entregava, ou entregava e tal, assumia, tanto que eu não, eu não quis mais essa, chamei o gerente, “olha você tem que me botar pra fora”, ele disse, “você é maluco rapaz”, “ninguém vai saber, bota (...inint...), bota o outro e me bota pra fora”, quem ia sair era o outro, eu ir ficar, eu disse “não rapaz bote o Z... e”, “você não vai falar com ninguém?”, eu trouxe ele aqui em casa, comeu caranguejo aqui. DOC : Preparou toda situação. 15: Preparei, eu disse assim, “eu confio em você”, aí virou, tirou o nome do cara e botou o meu, “mas você ir embora porque?”, (...inint...), parei a plataforma e disse, “olha, além vai adiante”, “porque”, eu digo, “vou pra outros ares”, fica (...inint...) todo mundo aí, (...inint...)... DOC : Chegou o seu momento. 15: “Mas você vai entregar a roupa?”, o capacete, eu entreguei tudo no mesmo dia, “não, deixe pra vim sábado”, aí o gerente, “mas V... você, você sabe o que está fazendo?”, eu disse, “sei”, “eu acho que o você, o senhor deve adiantar pra assinar logo isso aí pra pegar o ônibus”, porque já estava vindo pra Salvador, aí ele ficou, ficou, “mas sabe o que está fazendo?”, eu digo, “estou”, eu vim embora, vim passei, uns seis meses sem fazer nada, aí apareceu um paradão no Pólo umas semanas. DOC : O que? 15: Paradão no Pólo. DOC2 :Paradão.
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Aí disse, “você vai?”, eu digo, “vou”, pro motorista, eu digo, “vou”, passei mais um ano e seis meses no Pólo, no Pólo... DOC : Novamente, mas fazendo outra coisa já. 15: Motorista, eu era motorista, lá eu tinha trocado a carteira pra sair com os caminhão de lá tinha que ser D. DOC2 :Muda a categoria né? 15: É, eu só rodava dentro do terminal, eu digo, “eu rodo com esses caminhão aqui, cada caminhão grande, eu quero ir pra outra, levar esses caminhão pra Madre de Deus”, aí tirei a carteira, cheguei na portaria pra passar o cara disse, “você não pode passar não V... você não sabe que a sua carteira é B?”, eu disse, “era”, e agora meu (...inint...) pra Madre de Deus, (...inint...) seria pro Pólo. DOC : E como foi esse experiência, foi boa, você gostou? 15: Gostei, foi boa, gostava. DOC : E carregava o que? 15: Bujão de gás, manobrava na rua, porque antes eu ficava manobrando dentro do terminal, eu queria ir pra rua com o caminhão, pra Candeias, pra Madre de Deus. DOC 2:Perigoso né? 15: Não só, perigoso não, o negócio é ir a primeira, tudo tem uma primeira vez. DOC2 :Mas essa história de transporte de carga que todo mundo fala que é perigoso? 15: Agora que é, antigamente tinha isso? Caminhoneiro sumia? DOC : De jeito nenhum. 15: Hoje em dia some caminhão, caminhoneiro e carga. DOC : E carga. 15: E o pior, podia poupar o homem, não mata o homem enterra ninguém sabe onde. DOC : É verdade, mas você ia do Pólo pra Madre de Deus e voltava de Madre de Deus pro Pólo, era assim? 15: Quando eu fui pro Pólo? Não, quando eu andava na Brasilgás? Não rodava em Candeias e Madre de Deus, quando eu fui pra o Pólo eu rodava aqui, esses interiores todo, Alagoinhas, Catu, Pojuca, (...inint...). DOC : Entregando também gás? 15: Não, entregando pessoal, eu já tinha mudado, passei a rodar com Topic, Besta, esses negócios, eu ficava ferrado, que me davam a Besta e tudo mais, eu levava onze homens em casa, e os cara ficava, “vumbora motor”, eu não gosto disso não motor. (risos) Porque eles ficam no tronco, você sabe que essa (...inint...) é tronco, se você mora no digamos no Pau Miúdo você desce pra Baixa do Cabula, quem mora lá por baixo vem pra aqui que o ônibus passa aqui, e quando eles fica lá a gente tinha que levar em casa, aí ia pra aqueles buracos lá em Catu, Candeias, (...inint...) boca quente eu não gostava não. DOC : Mas era perigoso andar com, com... 15: Não porque o carro ia cheio, perigoso era quando você vinha só, largava todo mundo e vinha só, aí trancava os vidros, fechava a porta, trancava os vidros e Deus me ajude. DOC : Normalmente a noite não era? 15: A noite. 15:
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DOC2 :Madrugada até. 15: Madrugada. DOC : É perigoso. 15: Que era uma semana de dia e uma semana de noite, do Pólo eu, o mercante que foi pra lá teve um, uma reunião de motoristas que ele chegou lá, quando chega um novato nego quer pisar, mas o meu problema não foi esse, aí tinha a revisão dos carros, aí eu vi o cara dizer assim pro outro, “rapaz chegou um novato aí, eu vou botar o meu carro na revisão vou deixar óleo baixo, tudo”, eu senti que o cara chegou não tinha nada a ver com ele, sabe? “(...inint...) o peru, vou livrar a pele desse cara”, aí chamei ele, “(...inint...) venha cá, é passado isso, isso, isso e isso, você não toca meu nome, que eu sou motorista também, não bota meu nome, que está fazendo um, um favor pra você”, não cita meu nome e pronto, esse mesmo me trouxe pra cá, que ele saiu de lá e me trouxe, eu estou com ele aí... DOC2 :Localiza... DOC : Quer dizer saiu de lá já pra esse emprego daí. 15: Que ele saiu de lá também, ele saiu primeiro. DOC : Eu sei. 15: Demorou mais uns três meses. DOC2 :Também com essa experiência que você pegou lhe abriu assim né, graças a Deus, um monte de portas né. DOC : Uma vasta experiência. 15: Tem horas que eu desligo o, o telefone (...inint...), desligo aqui, quando tocar pra aqui eu digo que estou no celular, que tem só oito free lancers, mas tem hora que enche, se eu não dar, (...inint...)... DOC : E, e, e qual, qual é a sua atividade aí na, na Localiza? 15: Viajar. DOC2 :Agora, viajar também, transportar. 15: Viajar, fazer especial, quando, quando morre gente famosa você vai com aqueles carrão com paletó e gravata, até paletó eu estou usando (risos). Eu só usei pra casar, agora eu estou usando paletó, no sepultamento de Luis Eduardo, na posso agora do (...inint...) aqui, aqueles caras alto, segurança e tudo, eu fico olhando, eu fico olhando como são as coisas, pra entrar na catedral não podia entrar ninguém, e não pode parar nem sequer ali no passeio, eu com o carrão, o cara aí assim (...inint...)... DOC2 :Por que botou aí? 15: (...inint...) Quando eu chego na Base Aérea pra o sepultamento de Luis Eduardo, polícia tudo, (...inint...) eu não sou nada, eu estava com o cara (...inint...) e Marta Suplicy. DOC2 :Ah, você já entrou no, já entrou no grupo. 15: Já, e, e passou na televisão M... disse, “meu pai você estava prestando atenção no, no, no sepultamento do homem ou estava olhando pra cima”, eu estava na pista olhando um avião que ia passando, eu estava olhando pra cima aí o, o cortejo ia passando nas minhas costas, aí ela aí, “mas meu pai você estava olhando o que?”, eu digo, “olhando a vida do avião, o cara já morreu”. DOC : Muitas experiências né?
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DOC2 :Agora eu queria voltar a uma coisa, agora que você perguntou a ele a respeito da educação, da escola em relação a relação pais e filhos né, e aí eu queria que você reforçasse mais um pouquinho, você começou a falar, mas eu queria mais alguma coisa em relação que orientação e que tipo de trabalho você teve com os seus filhos, se foi o mesmo tipo de trabalho, você começou a falar mas você parou aí, eu queria ouvir mais alguma coisa. 15: Os meninos aqui? DOC2 :Em termos de orientação, de ensinar dever, tipo de conversas né, o que é que você tem mais. 15: Ah aqui a gente, quem se, quem puxava mais, por exemplo eu cobrava, mas quem puxava mais era C... porque ela tinha mais tempo e minha vida era agitada pouco parava, teve semanas mesmo aí que eu passei quase quinze dias em Conquista, Conquista, Brumado, lá pelo fim (...inint...) quem cobra aí é ela, eu, “já pagou a, a, a mensalidade de C..., falta o que, falta caderno, falta lápis, caneta”, a dali mesmo cobra mais caneta, (...inint...) mais caneta, “meu pai cadê as canetas de propaganda?”, eu digo, “todas as canetas que eu ganho não é pra você (...inint...)?” DOC2 :Ela quer uma lembrança. 15: Agora quem é ligada mais assim, final de semana eu chegava também agora tinha menos tempo, ela dentro de casa tinha mais tempo, (...inint...) quem corria atrás pra vigiar se ele estava indo pro colégio era ela, como pegou uma vez de ele ir pro colégio e ia pra academia. DOC : Quantos anos ele tem? 15: Tem vinte e nove agora, na época... DOC 2:Ninguém casou ainda não né? 15: Não, casar pra trazer neto aqui pra eu dar comida é ruim (risos), é melhor não casar. DOC2 :Antigamente os filhos saíam mais cedo de casa né? 15: A vida era outra, hoje em dia eu, teve um caso aqui mesmo o cara casou aí em baixo, desmaiou três vezes pra assinar o documento, quando ia pra assinar o documento caía, dava água com açúcar, quando ele voltou a si que assinou, não deu seis meses e ele já foi embora, então não adianta, pra que? Melhor ficar aí, porque eu disse a ela assim, “olhe M...”, teve uma época que M... ela falou que só (...inint...) namorar no colégio, eu disse, “M... senta aqui, C... fica aí também, M... mas C... casamento não é futuro pra mulher nenhuma, você tem que ser independente, estudar, se formar, comprar o seu apartamento, se puder comprar um carro compre, mas não vá atrás de namorinho, vai chegar a época de você namorar, todo mundo tem a sua fase, mas, porque homem não presta”, aí M... disse assim, “mas meu pai você presta”, aí eu chamei C..., “olhe diga a ela que eu não presto”, aí desceu a madeira em minha cabeça, “viu M... que homem eu não presta”, graças a Deus só, estão tudo aí bem, mas tem namorado, namora, todas as duas estão namorando, mas pelo menos se pender pro lado errado não foi falta de conselho. DOC : Com certeza. DOC2 :Mas elas são meninas ajuizadas. 15: Bom, agora vou pra Sauipe pra casa de meu namorado, Sauipe é aqui, (...inint...) tem vinte e três anos, chorou, esperneou...
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DOC2 :Porque queria passar... 15: Três dias lá na casa dos parentes do namorado, não conheço quem é, não sei quem é, agora não que ele já foi lá em Sauipe, tem que correr atrás também, elas estavam, ela foi pra lá, ele, foi no sete de setembro, (...inint...) Sauipe, com, com a mochila no carro, chegou em Sauipe, “meu pai, minha mãe”, “passei por aqui por que eu ia lá pra cima aí vim lhe ver”, é mentira você tem que... DOC : Ir lá né. 15: Olhar, sair por, por (...inint...), você tem que vim por trás, (...inint...), “deixe o telefone onde você está, onde você vai”, “ah meu pai é assim”, deixe aí... DOC : Mas isso é importante, porque tem pais que as vezes abandonam, os, os filhos fazem qualquer coisa. 15: Elas foram pro forró no, no colégio delas, eu disse, “na hora ligue que eu vou, chegar a hora ligue que eu vou buscar”, deu onze horas, deu meia noite, “olha C... o que está havendo aí” DOC2 :Nada. 15: Já fica assombrando, quando chegou duas horas da manhã com a cara quebrada, deram uma pedrada no ônibus, tomou quatro pontos aqui. DOC : Em quem? DOC2 :Mas hoje ela ensina né? 15: Ensina a caçula, aconteceu no ônibus, deram uma pedrada no ônibus de Tancredo ali na Vasco da Gama, cortou aqui, deu quatro pontos, arriscada a ficar cega, chegou toda melada de sangue aí. DOC : Meu Deus, que susto pra vocês né? 15: Chegar duas horas da manhã, mas como ela tem conhecimento que estagiou no pronto socorro, fez a sutura direitinho, aí... DOC : Ficou tudo bem. 15: Graças a Deus ficou, estava com umas dores de cabeça foi pra o neurologista, eu conseqüência da pedrada, e a pedrada deu sorte porque primeiro bateu pra depois atingir ela, não foi bateu direto nela não, aí quando saí eu fico com medo, apesar de que está... DOC2 :A mais nova estuda o que agora? 15: Educação física, para o ano já tem formatura por aqui. DOC : É que bom, que ótimo. DOC2 :Todo mundo encaminhado na vida, e você agora faltando.... 15: Mas eu gosto de viajar.... DOC2 :É mas está na hora de ter neto né? DOC : Quando ela perguntou sobre a diversão você falou em viagem, eh, essas viagens que você tem feito são viagens, eh, de trabalho (superp) DOC2 :Passeio.... DOC : Passeio. 15: É de trabalho mas se transforma em passeio que as vezes eu vou pra um lugar não dá pra vim, eu fico lá, durmo lá, vou pra rua, (...inint...), eu estava em Lençóis, ia levar ela agora pra Lençóis, conhecer Lençóis, mas (superp/inint)... DOC2 :Aí a (...inint...) leva o pessoal também?
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15: Não, essas viagens longas assim... DOC2 :Não, não dá pra levar. 15: É, só você só, não pode dar carona, não pode levar ninguém, só, só a serviço mesmo. DOC2 :Se for a pessoa tem que ir a parte pra encontrar lá. 15: Como eu ia fazer em sete de setembro, não, eu ia com o meu carro, não era carro da localiza não, mas só que... DOC2 :Eu falei o seguinte, se você tivesse a trabalho e aí pra associar, como ela perguntou, férias, trabalho com diversão se parentes, filhos, esposa podia ir a parte encontrar você por lá. 15: Não porque eu não ia ter tempo, porque eu tenho, digamos que eu vou fazer um SOS, o carro quebrou lá, eu vou pegar o carro quebrado e dar um bônus ao cliente, sabe como é, então (...inint...) pra ver o que eu vou fazer com ele, ver se ele está bom, dava pra ir se elas quiserem mas só que eh, em cima do trabalho é o, é o tipo da coisa, é pá e bola, pra trazer aquele carro assim na estrada pra consertar pra... DOC2 :Não dá tempo nesse caso de você se dedicar a família. 15: Ah não dá, não dá tempo não. DOC : E quando você está aqui em casa fim de semana, eh, qual foi a diversão assim que vocês, o que é que vocês (...inint...)? 15: (...inint...) é visitar um, é visitar outro, digo eu se eu pudesse fim de semana ficava em cima de televisão, só esporte (...inint...), por fim ficava só lá mesmo... DOC : Ficava em casa descansando. 15: Descansando e assistindo televisão, pelo menos não ia tomar tiro a toa, você não pode ir pra um barzinho, não pode ir mais pra um cinema não, o cara fez (...inint...), não pode passear no shopping, você bota o carro está estourado, não sei, fica dentro de casa, primeira coisa que você faz bota uma grade em sua porta que você já está seguro. DOC2 :Já esta fechado. 15: Eu fico trancado. DOC2 :Isso é verdade. 15: É melhor evitar. DOC : E você achou, você acha que Salvador, você que tem passeado um pouco, ido a muitas outras cidades, a muitos outros lugares, você, como é que você está vendo Salvador, mudou muito esses (...inint...)? 15: Olhe Salvador em, em ritmo de violência acho que não tem tanta violência como tem aí fora não, Conquista, Jequié.... DOC : As cidades de interior? 15: Ainda tem pistoleiro, o cara simplesmente, “lhe dou vinte a trinta reais pra você matar aquele rapaz lá”, ele mata, e aí, e aqui você não vê em Salvador, porque Salvador é grande também, não deixa de acontecer as coisas, Salvador não é pequenininho, vá pra ali pra Feira de Santana.... DOC : Quer dizer que as cidades do interior estão piores... DOC2 :Mais violentas.
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É violenta, é pior do que aqui, o centro aqui, essa violência ali do, do, do Bradesco, esses bichos não devem ser nem daqui, que matou a pobrezinha e matou o sub gerente lá em Ondina, deve ser de fora, aqui não tem negócio de dizer que o cara está dominando o morro, não existe isso em Salvador. DOC : Não tem isso, não. 15: No Rio a polícia não sobe, um lugar que estava perigoso e agora aquietou foi o Nordeste de Amaralina. DOC : É, mas não, não mais ouviu falar. 15: Aquietou, o outro que estava perigoso é... DOC : (...inint...)no noticiário né. 15: O Arenoso aquietou, pronto... DOC : Mas isso você acha que é o que, ação da polícia é, da, da, do, da prefeitura, o que é que você acha que melhorou isso aí? 15: É o governo daqui, porque Antônio Carlos Magalhães diz que a violência tem que ser cobrada, vagabundo tem que ser tratado como vagabundo, se der vacilo ele mata, (...inint...), não surge um vagabundo famoso aqui em Salvador que não morra, repare no Rio ele domina morro, é dono de não sei o que, fecha o morro, não sobe ninguém. DOC2 :São quase que, é a história do governo paralelo né? 15: É. DOC : Mas aqui você acha que a ação dele, você sente isso você que entra em contato com muita gente que ...inint...)... 15: Aqui é ação, ação da polícia aqui (...inint...), se está errado tem que morrer, vida de vagabundo é mais curta do que vida de jogador de futebol, não sai de vinte e cinco anos repare. DOC2 :É verdade. 15: O governo da gente... DOC : E aqui, e aqui se mata mesmo né? 15: Mata, mata, agora ninguém sabe, tanta gente que morre e ninguém sabe, quando vai sair um famoso vai chegando, morre.... DOC2 :A gente vai querer lhe agradecer, que a gente já tomou um bocado de tempo, mas praticamente eh... 15: