Material Educativo Heidi Lierbermann

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EducaBruno Zorzal

A terra quieta a terra inquieta


Bruno Zorzal Sobre Heidi Liebermann Heidi Liebermann nasceu em Hamburgo, na Alemanha. Foi em sua cidade natal que ela cresceu e estudou artes plásticas. Depois disso, começou uma carreira em artes gráficas com algumas das principais agências de publicidade do pais. O trabalho como artista plástica começou nesta época, mas foi um dado de sua biografia pessoal que faria sua vida tomar uma direção diferente, rumo ao Brasil e a uma dedicação maior à pintura Heidi conheceu o arquiteto brasileiro de origem síria Ramis Rayes, nascido em Marília (SP) e que na época vivia e trabalhava na Alemanha. Depois de nove anos na Alemanha, em 1974 o casal se mudou para o Brasil e se fixou na Praia da Costa em Vila Velha. No Brasil, Heidi começou a se dedicar com mais intensidade a pintura e a desenvolver sua marca autoral como pintora.

A terra quieta a terra inquieta

Sobre Bruno Zorzal Nascido em Afonso Cláudio, ES, em julho de 1979, vive e trabalha em Vitória e Paris. Bruno Zorzal é pós-graduado em fotografia, mestre em Artes Plásticas e Fotografia e doutorando em Estética, Ciências e Tecnologia das Artes Plásticas e Fotografia pela Universidade Paris 8, na França. Fotógrafo, artista e pesquisador Bruno Zorzal vem explorando as potencialidades estéticas e teóricas singulares e paradigmáticas da fotografia como meio de expressão. Experiências com diferentes dispositivos, exploração de fotografias já existentes, convergências na fotografia de outras artes como vídeo e pintura, são alguns dos caminhos que vem investigando nestes últimos anos.


Meu território Seu Território: uma poética da alteridade Está em suas mãos o material educativo das exposições MEU PAÍS TROPICAL: Heidi Liebermann e A TERRA QUIETA A TERRA INQUIETA: Bruno Zorzal, realizadas por meio da Secretaria de Estado da Cultura – ES, com curadoria de Lobo Pasolini e Rosa-Nina Liebermann.   O conteúdo trabalhado é direcionado a professores, arte-educadores, mediadores, estudantes e interessados. Foi pensado e elaborado de forma colaborativa com a equipe do Educativo do MAES, através de encontros e conversas que proporcionaram o intercâmbio de diferentes abordagens a partir das reflexões e discussões inerentes a exposição.   Partindo do título da exposição MEU PAÍS TROPICAL – que dialoga, por sua vez, com a exposição de Bruno Zorzal – buscou-se pensar nas indagações do EU com relação ao que é MEU, SEU, percorrendo os lugares dos nossos afetos. Como na visão de um antropólogo, que investiga entre estranhamentos e aproximações, buscando um contato por vezes próximo, às vezes à distancia, o material é resultado da exploração das temáticas que envolvem nosso lugar, nossas histórias, nossas experiências. Como lidamos com nossos repertórios individuais frente à necessidade de uma vivência coletiva, de uma poética da alteridade?

O que é tropical? O que é meu país? É possível um MEU igual ao SEU? A proposta aqui é tornar a experiência de cada leitor um processo de ativação crítica da memória e do corpo, que seguem no fluxo dos territórios destituídos de identidade, no constante devir.   Para a equipe de mediadores, “...pra mim, poderia definir minha opinião em uma só palavra: PLURAL.” “Um lugar onde a beleza só esconde a realidade.” “Me dá a impressão de que é um lugar constantemente a procura de salvação.” “O território que eu transito é tão estável quanto um pudim.”   Para a continuidade da construção dessa rede expansiva, perguntamos, agora, a você: Que Brasil é seu Brasil? Quais os limites e as fronteiras do seu país? Em quais territórios você transita? Quais as vozes que não escutamos? Quais corpos são embalsamados? Como reconstruir um território nesse mundo movediço?   Abraçando a prática do avesso, buscamos aqui compreender as diversas histórias nesse plano incansável e controverso chamado Brasil, longe de compor uma identidade marcada. É possível uniformidade na fusão de vontades íntimas, experiências únicas, vivências diversas e ideais contraditórios? É possível uma ética da idiossincrasia?   No dicionário, “avesso [...] ∆ virar pelo vesso a. 1 virar (peça de vistuário, etc.), pondo o lado de dentro à mostra 2 fig. Analisar, estudar (caso, assunto) exaustivamente 3 fig. Fazer intensa busca em (aposento, móvel, etc.), para encontrar algo que se perdeu <virou as gavetas pelo avesso e não achou o documento>”

Você irá observar que cada ficha possui uma imagem e no verso uma rede com palavras, expressões e citações.   As fichas podem, unidas, sugerir uma grande rede, onde as conexões podem ativar exercícios e vivências em sala de aula, na sua casa ou no próprio museu.   A ideia é transformar o avesso das fichas em uma plataforma de encontros e discussões, criando interlocuções que questionem e conversem sobre a profundidade da história de uma nação e o que a contempla.

Renan Andrade Silva Núcleo de Ação Cultural Educativa do MAES Carla Borba Formação e Projeto Educativo Equipe de Mediadores Emanuela Viana Jolyan Mariane Juán Gonçalves Nathalia Prattes Vanderson dos Passos



Meu país tropical, 2013-14 • acrílico sobre tela • 450 x 250 cm

O tríptico “Meu país tropical”, que dá nome à exposição, parece nos contar diversas histórias. Que momentos e aspectos conhecidos da história do nosso país podemos perceber na imagem?   A artista atenta para diversas referências que constroem o que ela percebe, em sua relação com o país, enquanto um país tropical ou, o próprio, Brasil.   É possível em uma só imagem contarmos todas as histórias, muitas vezes cruéis, tantas outras triunfantes, que um país pode conter?

ANTROPOFAGIA Prática dos índios tupis que consistia em devorar seus inimigos, mas não qualquer um, apenas os bravos guerreiros. Ritualizava-se assim uma certa relação com a alteridade: selecionar seus outros desejados a ponto de absorvê-los no corpo, para que partículas de sua virtude se integrassem à química da alma e promovessem seu refinamento.   O ritual antropofágico dos tupinambás fazia parte de um processo social, determinado por um código de honra e de vingança, praticado contra seus inimigos.

Poética da Alteridade é o espaço criativo da autoreflexão, da relação arte/ vida, assim como o espaço para reflexão e discussão das formas de ‘estarmos juntos’. Trata-se de um processo em que estética e responsabilidade se misturam.

O filme “Hans Staden” narra a história de um soldado e marinheiro alemão que, no início do século XVI, trabalhou para a coroa portuguesa e que, antes de voltar para a Europa, foi capturado por uma tribo indígena brasileira, os Tupinambás. Como estes eram inimigos dos portugueses, prenderam-no com o objetivo de matá-lo e devorá-lo. A partir de então Hans Staden passa a ter que arranjar meios para convencer os índios a não devorá-lo e permanecer vivo. Para assistir o filme, acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=GZqWvibgvDs

Ouvir/gravar

Você pode gravar, por alguns instantes, o som da sala de aula e/ou da sala de sua casa, ou de um outro lugar que faz parte de sua rotina. Após a coleta dos sons, escute atentamente e tente descobrir sons velados pelo turbilhão de ruídos – ar condicionado, buzina, construção. Esse exercício pode ser uma possibilidade do encontro com o outro, com o imprevisível.

Cor cambiante Cor que varia segundo o ângulo em que o observador está em relação ao objeto colorido.



Pedrinho, 2010-14 • acrílico sobre lona / dupla face • 155 x 187 cm

No trabalho da artista, intitulado “Pedrinho” acompanhamos o amadurecimento do filho da família Pereira assim como testemunhamos, no avesso da pintura, marcas em um corpo, no nosso corpo, no corpo de Pedrinho.   Que marcas são essas?   Marcas que indicam o fim de um devir-outro, de um devir-poesia. Fim de um espaço de troca e diálogo, de conversas infinitas.

“Ultrapassar os limites do Museu”

ESTRANHAMENTO Racionais Mc’s Mágico de Oz (...)Aquele moleque, sobrevive como manda o dia a dia, tá na correria, como vive a maioria, preto desde nascença escuro de sol, eu tô pra ver ali igual no futebol, sair um dia das ruas é a meta final viver descente, sem ter na mente o mal, tem o instinto, que a liberdade deu, tem a malicia, que a cada esquina deu (...)

Museu: Forma – Fôrma – Formato. Tirania do significante – a política da representação.

Marcar/lembrar

Existe um hábito que algumas pessoas tem de marcar em alguma parte do seu corpo, normalmente na mão, um sinal, um símbolo (muito pessoal) para quando olhá -lo lembrar o que deve fazer. Muitos casos, referem-se a ações imprescindíveis, como ligar para alguém, comprar um remédio, lembrar de uma reunião, etc. Nossa sugestão é que durante sua visita à exposição você faça uma marca como essa em seu corpo. Uma lembrança que a partir da exposição irá refletir em uma ação fora do museu.

(...)queria que Deus ouvisse a minha voz e transformasse aqui no mundo mágico de Oz(...) (...)queria fazer, rezei pra um moleque que pediu, qualquer trocado qualquer moeda, me ajuda tio? pra mim não faz falta, uma moeda não neguei, e não quero saber, o que que pega se eu errei, independente a minha parte eu fiz, tirei um sorriso ingênuo, fiquei um terço feliz, se diz que moleque de rua rouba, o governo, a polícia no Brasil quem não rouba?(...) Para assistir o clip da música, acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=xNItful76jw

Cor crua Cor pura, que não apresenta gradações.



That is the question, Oswald, 2013-14 • acrílico sobre tela • 130 x 150 cm

A questão Tupi or not Tupi, that is the question, foi introduzida pelo escritor modernista Oswald de Andrade em seu “Manifesto Antropófago”, publicado na primeira edição da Revista de Antropofagia, em maio de 1928.

Existem 305 etnias indígenas e são faladas 274 línguas no território brasileiro (conforme dados do Censo do IBGE 2010).

“Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

896,9 MIL INDÍGENAS NO BRASIL (IBGE 2010)

Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

Ser-outro/ser-vivo

Na sua rua, cidade ou bairro deve existir algum lugar que você não conheça. O nosso convite é que você entre neste lugar. Converse com alguém, caso houver alguma pessoa. Tente perceber o ritmo do ambiente, se possível, sente, se apoie e fique ali por algum tempo. Dessa experiência perceba o instante em que o desconhecido o torne mais vivo e atento ao outro.

“Minha bisavó era índia, mas nada sei sobre ela”

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. [...]”

A cor vive e pulsa em todos os trabalhos presentes nesse material. A cor, na verdade, não tem existência matérica: é apenas sensação produzida por certas organizações nevorsas sob a ação da luz. Sua presença está condicionada à luz e ao olho. A percepção da cor é bem mais complexa do que o da sensação que se tem de uma cor, pois nela os dados psicológicos alteram substancialmente a qualidade do que se vê. Apesar da identidade básica de funcionamento dos elementos no ato de provocar a sensação colorida (os objetos físicos estimulando o órgão visual), a cor possui uma infinidade de variedades que são geradas por particularidades dos estímulos. Nesse material traremos alguns exemplos de cores que dizem respeito à percepção, pois quanto às sensações geradas pelas cores de Heidi Liebermann e Bruno Zorzal deixaremos para você decifrar e sentir.

Cor local Conjunto de dados e circunstâncias que, numa obra de arte, caracteriza o lugar e o tempo.



Pátria amada, 2014 • acrílico sobre tela • 130 x 150 cm

Trecho incial do texto BRASIL DIARRÉIA de Hélio Oiticica, lançado em 1970.

“Falar o essencial”

Amar/armar

Em uma praça, pátio ou sacada, ou seja, em algum lugar ao ar livre, convide amigos, colegas, alunos, sua família para montar uma barraca/ tenda, pode ser com lençois, cangas, toalhas. Durante a montagem faça a seguinte pergunta a todos: qual a melhor lembrança que cada um tem de sua infância, casou houver criança, a pergunta pode ser reformulada, mas com foco na lembrança. Depois da montagem sugira, quando for o momento, que cada um conte sua história.

“O QUE IMPORTA: a criação de uma linguagem: o destino da modernidade do Brasil pede a criação desta linguagem: as relações, deglutições, toda a fenomenologia desse processo (com, inclusive, as outras linguagens internacionais), pede e exige (sob pena de se consumir num academicismo conservador, não o faça) essa linguagem: o conceitual deveria submeter-se ao fenômeno vivo: o deboche ao “sério”: quem ousará enfrentar o surrealismo brasileiro? Quem sou eu pra determinar qual ou como será essa linguagem? Ou será um nada (conservação-diluição)? Sei lá. A diluição está aí - a convi-conivência (doença típica brasileira) parece consumir a maior parte das idéias idéias? Frágeis e perecíveis, aspirações ou idéias?Assumir uma posição crítica: a aspirina ou a cura? Ou a curra: ao paternalismo, à inibição, à culpa.”

Foto: Mídia Ninja http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/03/veja-e-um-obstaculo-ao -amplo-direito-de-expressao-diz-advogados-ativistas/

Cor dióptrica Cor produzida pela dispersão de luz sobre os vários corpos refratores: prisma, lâminas delgadas (bolhas de sabão, manchas de óleo sobre a água) etc



Doce Amargo · A sala dos milagres, 2014 • técnica mista sobre tela, gesso, isopor, colagem

Se Jesus Cristo provou o fel na sua crucificação, como nós, reles mortais, também não provaremos do amargo? O amargo da fé, da vida ou até mesmo da doçura?   A dicotomia doce versus amargo esta intríseca no nosso comportamento e nos sabores das religões. Do Shabat à Semana Santa, do Ramadã (prática de jejum da cultura muçulmana) às oferendas das culturas afro-brasileiras. De uma forma ou de outra, nessa relação de paradoxos gustativos, os amores se unem, as crenças se mantêm e o doce, mesmo sendo amargo, nos dá água na boca.   Os símbolos de todas as crenças, no trabalho da artista, retificam a presença da multiplicidade religiosa no Brasil. No tríptico “Doce Amargo” a artista nos mostra os diferentes ícones que compõe a complexidade da existência Divina. Ícone (francês icône, do grego eikón, -ónos) substantivo masculino 1. Imagem que representa uma personagem ou cena sagrada, geralmente de Cristo, da Virgem, dos Santos, na Igreja de rito cristão oriental. 2. Signo que tem uma relação de semelhança com aquilo que está a representar. 3. Figura simbólica ou representativa de algo (ex.: ícone pop). 4. [Informática] Elemento gráfico da interface de um programa ou sistema operacional. http://www.priberam.pt/DLPO/%C3%ADcone [consultado em 27-04-2014]

Na instalação Sala dos Milagres, composta por objetos místicos da cultura e pelo tríptico Doce Amargo, a imagem do orixá africano Iemanjá convive com a boneca Barbie e imagem do personagem de desenho animado norte-americano Mickey Mouse. Qual a relação com o simbólico? UMA FIGURA QUE SIMBOLIZA O QUE ALMEJAMOS, um modelo de transcendência?

IMAGEM “a transposição em imagem [...] é o melhor que acontece ao homem do Ocidente porque sua imagem é a sua melhor parte: seu ego imunizado, colocado em lugar seguro. Por ela, o vivo apreende o morto”.

O Peregríno: enquanto a mística do tempo apaga os rastros à medida que progride, a mística peregrina recolhe, ao progredir, uma carga crescente de quinquilharias humanas. O bom romeiro tem muitas histórias para contar. O lugar santo é um imenso depósito de desejos e lamentos. O corpo do romeiro, vai se construindo no caminho, no ato de caminhar em busca de seu lugar sagrado, o lugar de pagar a promessa ou ir ter com o santo para a demostração e testemunho de sua devoção.

Poéticas da Alteridade Eis uma das mais belas versões sobre a feitura do mundo. O demiurgo, conta Platão, teria misturado dois ingredientes que já existiam, o Mesmo e o Outro. Quando a mistura parecia mais ou menos pronta, o Outro escapuliu. Rebelde por natureza, ele fazia com que tudo que era de um jeito virasse de outro. O demiurgo se viu em muita dificuldade para contê-lo, acuá-lo, a fim de conseguir que o mundo tivesse um mínimo de estabilidade. Uns dizem que ele conseguiu, outros acham que essa vitória foi provisória, pois o Outro acabou tomando a revanche e o mundo virou esse Caos que nós conhecemos. Tem quem diga que o Outro é o tempo.

Cor falsa A cor que destoa do conjunto.



Saudade, 2010 • acrílico sobre tela • 240 x 160 cm

Registrar/apagar

Trecho inicial do texto do músico, compositor e escritor Vitor Ramil sobre sua proposição da “Estética do frio”. “Em Copacabana, num dia muito quente do mês de junho (justamente quando começa o inverno no Brasil), eu tomava meu chimarrão e assistia, em um jornal na televisão, à transmissão de cenas de um carnaval fora de época, no Nordeste, região em que faz calor o ano inteiro (o carnaval brasileiro é uma festa de rua que acontece em todo o país durante o verão). As imagens mostravam um caminhão de som que reunia à sua volta milhares de pessoas seminuas a dançar, cantar e suar sob sol forte. O âncora do jornal, falando para todo o país de um estúdio localizado ali no Rio de Janeiro, descrevia a cena com um tom de absoluta normalidade, como se fosse natural que aquilo acontecesse em junho, como se o fato fizesse parte do dia-a-dia de todo brasileiro [...] A seguir, o mesmo telejornal mostrou a chegada do frio no Sul, antecipando um inverno rigoroso. Vi o Rio Grande do Sul: campos cobertos de geada na luz branca da manhã, crianças escrevendo com o dedo no gelo depositado nos vidros dos carros, homens de poncho (um grosso agasalho de lã) andando de bicicleta, águas congeladas, a expectativa de neve na serra, um chimarrão fumegando tal qual o meu. [...]O âncora, por sua vez, adotara um tom de quase incredulidade, descrevendo aquelas imagens do frio como se retratassem outro país (chegou a defini-las como de “clima europeu”). Aquilo tudo causou em mim um forte estranhamento. Eu me senti isolado, distante (...)” http://www.vitorramil.com.br/textos/estetica_p.htm

MARCAS

“sentir saudade é saber que tem alguém que gosta muito de você do outro lado da redoma, só que há um porém: por algum motivo, você não pode quebrar essa redoma”.

Durante o período de um dia propomos que você anote, escreva, desenhe, rabisque numa folha de papel, ou em um caderno, aquilo que você estiver vendo, ouvindo, sentindo, fazendo...Esteja com os cinco sentidos bem atentos! Como um detetive, que persegue e recolhe os registros da vida de outra pessoa, mas no caso essa outra pessoa é você mesmo.Ao final do dia terá um ‘dossiê’ de seu dia. No dia seguinte, o exercício será o avesso, apague tudo que anotou. Pegue uma borracha e, aos poucos, vai apagando, os desenhos, as anotações, as descrições de sensações, até ficar com a folha novamente em branco. Qual será a sensação de apagar um registro de um dia? O que você não conseguiu apagar, ou o que você demorou para apagar?

Cor natural Coloração existente na natureza. Para sua reprodução, de infintas veriedades, são necessárias as cores primárias, o preto e o branco.



Maria Bahia, 2013-14 • acrílico sobre tela • 246 x 204 cm

O avesso da pintura “Maria Bahia”, pode estar na imagem repetida da atriz hollywoodiana Marilyn Monroe, título de um dos trabalhos de Andy Warhol, artista central da Pop Arte norte -americana. Atraves da repetição, em serigrafia, de figuras públicas, ídolos da cultura de massa, Andy transforma os retratos em figuras vazias e impessoais.   Heidi, nessa obra, preenche de significado a figura da maria-bahia? Transforma a figura repetida em um produto? Massifica? Endeusa? Planifica? Cola? Multiplica?   Problemáticas da pintura e da pop arte.

Colagem: A invenção da colagem é a mais significativa das invenções da arte no século XX. Ao colar pedaços de papel, pano e outros fragmentos do mundo real na superfície das telas, os artistas da época deram ainda mais força à função imitativa da arte e localizaram a “realidade” ainda mais enfaticamente dentro da própria pintura.

MESTIÇAGEM INFINITA

Cosplay: (コスプレ, Kosupure?) é a abreviação de costume play ou ainda de costume roleplay (ambos do inglês) que pode traduzir-se por “representação de personagem a caráter”, “disfarce” ou “fantasia” e tem sido utilizado no original, como neologismo. Embora já conste doutras bases , para referir-se a atividade lúdica praticada principalmente (porém não exclusivamente) por jovens e que consiste em disfarçar-se ou fantasiarse de algum personagem real ou ficcional, concreto ou abstrato, como, por exemplo, animes, mangás, comics, videojogos ou ainda de grupos musicais — acompanhado da tentativa de interpretá-los na medida do possível. Os participantes (ou jogadores) dessa atividade chamam-se, por isso, cosplayer.

Reconfigurar/colar

Na maioria das revistas voltadas para o mundo feminino as capas sempre apresentam a imagem de uma mulher que condiz com os cânones de beleza, de sua época. Nossa sugestão de exercício é o seguinte: quando você encontrar uma dessas revistas transforme e reconfigura a figura da capa. Através da colagem, conceda à imagem dessa mulher um respiro de vida. Humanize a imagem dando-lhe a liberdade de devir-imagem-outra.



Vereda, Guerra Cabocla, 2013 • Fotografia
Impressão em jato de pigmento mineral sobre papel de fibra de algodão 80 x 80 cm • 80 x 80 cm • Ed. 3+1

Punctum: conceito elaborado pelo escritor e filósofo francês, Roland Barthes no livro “A câmara clara”, 1980, um clássico da teoria fotográfica. Para o autor o punctum tem caráter subjetivo, é um interesse que se impõe a quem olha a foto, diz respeito a detalhes que tocam emocionalmente o espectador e variam de pessoa para pessoa, é o que instiga na foto, o que fere o apreciador.   O punctum interessa justamente porque é a própria subjetividade do leitor: ele é pessoal e intransferível, cada um enxergará o seu. E porque realmente atinge, ele faz a foto viver no interior de quem a observa. Confere ao spectator (observador) uma voz, a oportunidade de colocar sua opinião.

Estranhar/viajar

PERSPECTIVA Viajante: o escritor Ítalo Calvino, em seu livro “Cidades Invisíveis” Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos. [...] Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e que não terá.”

Saudade: o sentimento da saudade se manifesta em uma espécie de irrealismo da pessoa que a sente, pois para ter saudade esquecemos o momento presente e voltamos inconscientemente para o passado. A partir de uma consciência saudosa rememoramos o que foi vivido e regressamos no tempo para momentos que existiram e ainda virão a existir como uma ausência que se faz presença através da imaginação. Como uma doce solidão, ela se manifesta como um desejo com lembrança de algo.

Desbravar terras desconhecidas é a nossa proposta de ação. Como? Muito simples. Leia aquele livro que parece para você inacessível, ou por sua complexidade ou por ser muito extenso. A tarefa exige força de vontade e organização. Atitudes importantes de um viajante. Não esqueça, estranhar faz parte do desafio, mas torcemos por você!

Cor retiniana: Cor caracterizada pela maior participação da retina em sua produção, transmitindo ao cérebro impressões que retêm, alteram, sintetizam ou totalizam o efeito dos estímulos recebidos. São cores retinianas as imagens posteriores, as misturas ópticas, os efeitos de deslumbramento e as sensações coloridas produzidas por pressão à base do globo ocular etc.



Sem título #2, 2014 • Fotografia
Impressão em jato de pigmento mineral sobre papel de fibra de algodão 80 x 240 cm (em três módulos de 80 x 80 cm cada) • Ed. 3+1

Bruno Zorzal passou três anos coletando imagens no interior do Espírito Santo, Rio Grande do Sul e agreste de Pernambuco. Motivado pela curiosidade e pela investigação, afinou seu olhar, que tornou-se decidido, captando imagens conforme as oportunidades do devir. Seu interesse permaneceu nos indícios da presença a partir da ausência. Sua inquietude podia reverberar quietude.   Aqui, no convívio com os trabalhos de Heidi, o artista envolveu-se num problema sobre a existência: o que é MEU? Que memórias e valores afetivos posso transpor em imagens no momento fotográfico, quando o contato com a realidade nos chama a olhar e reolhar, sujeito às intempéries, o que nos rodeia e nos participa? Segundo o artista, “não escolhemos nossa nacionalidade, então isso faz com que qualquer lugar do mundo possa ser nosso lugar, um pouco do nosso país”

PINTURA - FOTOGRAFIA

A partir da coleção de fotos e momentos, particulares, que se instaura, Bruno se aproxima da ação pictórica, da colagem, das camadas, dos encontros. Reobserva as fotografias e incorpora uma ressignificação da imagem, propondo sua união com outras, distantes geográfica e contextualmente entre si. Tal combinação faz emergir uma terceira imagem, obscurecendo as referências primárias, possibilitando que voltemos a atenção para a imagem em si. Uma experiência estética.

Referências bibligráficas do material: BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990 DEBRAY, Régis. Vida e Morte da imagem: uma história do olhar no ocidente. Petrópolis: Vozes, 1993. HOUAISS, Antônio e Villar, Moura de Salles. Dicionário Houaiss de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. LOURENÇO, Eduardo. Mitologia da Saudade.São Paulo: Companhia das Letras, 1999. PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2010.


Material Educativo das exposições Heidi Liebermann meu país tropical Bruno Zorzal a terra quieta a terra inquieta De 25 de abril a 13 de julho de 2014 Núcleo de Ação Cultural e Educativa Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo - MAES Av. Jerônimo Monteiro, 631, Centro, Vitória - ES 55 27 3132-8393 museudeartes.wordpress.com

Educativo


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