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APRESENTAÇÃO SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO – SESC, reforçando sua ação educativa, vem divulgando a produção artística, principalmente em suas vertentes Moderna e Contemporânea, junto a sua clientela e comunidade em geral. O Projeto ArteSESC, por meio dos Departamentos Regionais da Entidade, realiza exposições itinerantes em centros urbanos, tornando conhecidos os acervos de instituições culturais e obras de artistas plásticos de várias partes do país. Nesta oportunidade, o SESC se associa ao Museu Lasar Segall, visando oferecer ao público uma oportunidade privilegiada de apreciar a obra gráfica desse grande artista plástico.

Departamento Nacional do SESC

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Serviço Social do Comércio Presidência do Conselho Nacional Antonio Oliveira Santos Departamento Nacional Direção-Geral Maron Emile Abi-Abib Divisão Administrativa e Financeira João Carlos Gomes Roldão Divisão de Planejamento e Desenvolvimento Álvaro de Melo Salmito Divisão de Programas Sociais Nivaldo da Costa Pereira Consultoria da Direção-Geral Juvenal Ferreira Fortes Filho Projeto e Publicação Gerência de Cultura | DPS Gerência Márcia Leite Equipe de Artes Visuais Caroline Soares de Souza Leidiane Alves de Carvalho Lúcia Helena Cardoso de Mattos

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Impresso em junho de 2012

Consultoria para as atividades Sabrina Rosas

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A gr avur a de

Poesia da linha e do corte

rganizada a partir de matrizes originais de Lasar Segall, especialmente reimpressas pelo Museu Lasar Segall, em São Paulo, esta exposição reúne 16 gravuras em metal e 19 xilogravuras realizadas pelo artista entre 1913 e 1930. A litografia, meio a que se dedicou com afinco durante seu período alemão, permanece ausente desta mostra, à medida que a pedra litográfica, trabalhada via de regra em ateliês coletivos, é sempre polida e reaproveitada. Estas 35 estampas, no entanto, bastam para revelar aqui um duplo movimento. Por um lado confrontam as distintas abordagens que a figura humana adquiriu na obra de Segall; por outro, evidenciam o modo como a gráfica se fez presente em momentos cruciais de sua trajetória. Viúva, 1919 - xilogravura - 32 x 32 cm

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Retrato de T, 1920 - ponta-seca - 21,5 x 25,5 cm

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Afinal, foi precisamente na gravura que o artista primeiro logrou uma nova forma plástica, concisa e concentrada, que dava conta tanto do seu lirismo nostálgico como da dramaticidade que as primeiras décadas do século anunciavam. Não por acaso, em 1910, Segall transfere-se de Berlim para Dresden. Ali, na cidade que vira nascer o grupo A ponte (1905), um dos precursores do movimento expressionista na Alemanha, Segall assimilaria, de uma vez por todas, a energia ímpar da imagem gráfica, nascida da urgência do corte, num jogo áspero de brancos e negros. É surpreendente observar como, a partir desse contato com o círculo artístico de Dresden, Segall encontraria uma via de expressão extremamente pessoal, capaz de discernir com exatidão as possibilidades plásticas inerentes a cada meio. Por isso, quando quer fixar a singularidade de alguém que lhe interessa como indivíduo, recorre ao sulco no metal – como no estupendo Retrato de T (1920) – em que um desenho brusco, feito de saltos, supressões e cortes, acaba abrindo o acesso à interioridade do modelo. Viúva, 1919 - xilogravura - 32 x 32 cm

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Quando, ao contrário, busca o recorte impactante, mas genérico da condição humana, corta a imagem no bloco compacto de madeira, criando estampas como Mendigo (1913), Viúva (1919) e outras. Importa notar aí a monumentalidade que consegue inscrever mesmo numa peça diminuta como Cabeça de olhos vazados (1921) ou o emprego brutal da goiva e do formão – em Mãe e filho (1921) – ressaltando o duro desamparo comum. Vale observar ainda a síntese poderosa que se abate sobre esses rostos. O nariz reduz-se a um único eixo, no topo do qual se equilibram dois olhos turvos, esvaziados. Duas janelas da alma – conforme o dito agostiniano –, dando a entrever, em sua assimetria e deslocamento, uma arquitetura exasperada, toda sombras e arestas, que muito lembra os ângulos e corredores instáveis de um filme como O gabinete do doutor Caligari, do alemão Wiene, de 1919. De fato, não é nem pouco difícil reconhecer nesses retratos despojados aquilo que Anatol Rosenfeld sublinhava como traço fundamental do expressionismo: a intenção de “projetar a realidade ‘essencial’ de uma consciência reduzida às estruturas básicas do ser humano em situação extrema. Não se trata, pois, de seres matizados, situados em contexto histórico, mas de arquétipos – portadores quase abstratos de visões apocalípticas ou utópicas (…)” Distintas, no entanto, serão as figures que Segall irá traçar na segunda metade da década de 1920, depois de ter-se instalado no Brasil. Nas gravuras que realizou entre

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Marinheiro deitado com cachimbo, 1930 - ponta-seca - 29 x 36 cm

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1926 e 1929 sobre o Mangue, a célebre zona de prostituição do Rio de Janeiro, o tratamento dado às moças e ao seu ambiente é bastante diverso do lirismo agônico, lunar e desesperado que move homens e mulheres do período de Dresden. No lugar de seres mirrados, com traços secos e segmentados, agora os planos de dilatam e os corpos se impõem em contornos nitidamente delineados. Desse modo, no quartinho das prostitutas, o que o interessa não são os estados de rupturas – a depressão, a orgia, o gozo –, mas a humana condição da espera. O calor, os colares, os leques, o jogo de baralho, o fonógrafo, as persianas: índices de um cotidiano de quem tem de se haver, passo a passo, com o tempo. Analogamente, a composição já não se vaza naquela urgência desesperada de suas visões anteriores, de caráter quase alucinatório. Ao contrario: sólidos retângulos de portas, paredes e janelas emolduram o quadro, como que amparando uma penetração mais lenta e ponderada no mistério humano. Na realidade, essas moças à espera de seus clientes não são muito diferentes das famílias de imigrantes, largadas ao relento nos navios – série que Segall também gravava naquele período. Talvez a única nota a escapar do tom docemente melancólico que envolve essas imagens seja a figura daquele marinheiro, deitado no convés, fumando seu cachimbo, num alegre e silencioso diálogo com o sol. O idílio, porem, não faz esquecer as forças impessoais da produção – lá estão as imperiosas chaminés, os respiradouros ambíguos feito telescópios vigilantes, e, do outro lado, acachapados pelas dimensões do navio, os cidadãos de terceira classe, apinhados ao longo da murada. Outra estampa – Marinheiro e chaminé – comprova que o momento de trégua

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não podia mesmo durar. Com incrível economia de recursos, Segall explora a massa de negro própria da xilogravura para traduzir a monumentalidade esmagadora da chaminé, que pesa e empurra o rosto humano para fora do quadro. No fundo, é essa capacidade de combinar em alto grau a força e o lirismo, respondendo em liberdade às exigências de sua poética e de seu tempo, que faz da gravura de Segall um dos grandes legados da arte brasileira e um impulso para a renovação da nossa gráfica. Alberto Martins.

Marinheiro e chaminé, 1930 - xilogravura - 24 x 18 cm

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Bibliografia básica sobre Lasar Segall BARDI, Pietro Maria. Lasar Segall. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 1952. Il. BECCARI, Vera d’Horta. Lasar Segall e o modernismo paulista. São Paulo: Brasiliense, 1984. Il. LASAR Segall: textos, depoimentos e exposições. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1991. LASAR Segall. São Paulo: Círculo do livro, 1985. 72p. Il. (Grandes artistas brasileiros) LASAR Segall: antologia de textos nacionais sobre a obra e o artista. Rio de Janeiro: Funarte, 1982, 158p. O MUSEU Lasar Segall. São Paulo: Banco Safra, 1991, 319p. Il. O DESENHO de Lasar Segall. São Paulo: Museu Lasar Segall, 191. 169p. Il. A GRAVURA de Lasar Segall. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1988. 183p. Il. MATTOS, Cláudia Valladão de. Lasar Segall. São Paulo. EDUSP, 1997. 192p. Il. (Arte Brasileira 7). Por caminhadas ainda mais distantes: as emigrações artísticas de Lasar Segall. Chicago: The David and Smart Museum of Art, São Paulo: Museu Lasar Segall, 1997, 284p. Il.

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Gravuras de Lasar Segall que compõem esta mostra 1. Mulher de braços cruzados, 1913 Xilogravura 21,5 x 15,5 cm

13. Retrato de T, 1919 Ponta-seca 21,5 x 17,5 cm

25. Mulheres do Mangue com baralho, 1929 Ponta-seca 30,5 x 20,5 cm

2. Mendigo, 1913 Xilogravura 30 x 23 cm

14. Retrato Sra. Dr. W, 1919 Ponta-seca 30 x 24 cm

26. Dois marinheiros acompanhados, 1929 Ponta-seca 30 x 24 cm

3. Oração lunar, 1918 Xilogravura 25 x 30 cm

15. Mulher do Mangue com espelho, 1926 Xilogravura 31 x 24,5 cm

27. Emigrantes com lua, 1926 Xilogravura 24,5 x 18 cm

4. Cabeça de rabino, 1919 Xilogravura 24 x 21,5 cm

16. Cabeça de negro, 1929 Xilogravura 20 x 15 cm

28. Ondas, 1929 Xilogravura 25,5 x 32,5 cm

5. Mulheres errantes, 1919 Xilogravura 16 x 12 cm

17. Cabeça de negra, 1929 Xilogravura 24 x 18 cm

29. Emigrante debruçado na amurada, 1929 Xilogravura 18 x 24,5 cm

6. Mulheres errantes – II versão, 1919 Xilogravura 23 x 29 cm

18. Casal do Mangue com persiana I, 1929 Xilogravura 26,5 x 20,5 cm

30. Marinheiro e chaminé, 1929 Xilogravura 24 x 18 cm

7. Viúva, 1919 Xilogravura 32 x 22 cm

19. Casal do Mangue, 1929 Xilogravura 24 x 18 cm

31v Emigrantes com lua, c. 1926 Ponta-seca 25,5 x 32,5 cm

8. Cabeça de olhos vazados, c. 1921 Xilogravura 12 x 9 cm

20. Casa do Mangue, 1929 Xilogravura 31,5 x 42 cm

32. Emigrantes, 1929 Ponta-seca 28,5 x 34,5 cm

9. Mãe e filho, 1921 Xilogravura 28 x 22,5 cm

21. Carnaval, c. 1926 Ponta-seca 28 x 22 cm

33. Marinheiro deitado com cachimbo, 1930 Ponta-seca 29 x 36 cm

10. Mulher adormecida, c.1913 Água-forte 12 x 16 cm

22. Duas mulheres do Mangue com persiana, 1928 Ponta-seca 23,5 x 17,5 cm

34. Cabeça de marinheiro e chaminés, 1930 Ponta-seca 22 x 28 cm

11. Moça de Vilna, 1916 Ponta-seca 17 x 13,5 cm

23. Duas mulheres do Mangue com cactos, 1928 Ponta-seca 28 x 20 cm

35. Navio e montanhas, 1930 Ponta-seca 28 x 41,5 cm

12. Jovem de Vilna, 1916 Ponta-seca 19,5 x 14,5 cm

24. Mulheres do Mangue com fonógrafo Ponta-seca 28 x 21,5 cm

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