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da vida no Brasil nas primeiras décadas do século 19. Nelas, vê-se o quão distintos eram os lugares hierárquicos que corpos brancos, negros e mestiços ocupavam na estrutura social do país àquela época. São imagens que o artista encontrou reproduzidas em tapeçarias, calendários, cédulas de dinheiro, cartões-postais, camisetas, quebra-cabeças, porcelanas e até mesmo em um cesto de lixo – todas descrevendo cenas de trabalho escravo. Em meio a esse perturbador conjunto de representações, o artista insere pequenos cartazes com trechos de depoimentos de pessoas negras que foram, em situações diversas, confundidas com serviçais de lugares que frequentavam como clientes. Em mais placas, enumera algumas das profissões desempenhadas, majoritariamente, por pessoas negras no Brasil – usualmente associadas a baixos salários e pouco prestígio social –, atestando a continuidade e transformação do racismo aberto que embasou a escravidão nas formas mais difusas, porém igualmente danosas e abusivas, do racismo estrutural que permeia as formas de sociabilidade no Brasil contemporâneo.
NECROBRASILIANA — MUSEU PARANAENSE
A representação de embates pela posse de territórios na obra de Jaime Lauriano reforça a articulação entre a violência dessas disputas no período colonial e a violência com que, no Brasil contemporâneo, são rechaçadas quaisquer tentativas de repactuar o direito à moradia e ao solo produtivo em estrutura fundiária estabelecida mediante coação e saque. Em Ocupação, palavras e imagens desenhadas sobre mapa antigo do país reproduzido em tecido vermelho articulam, em ricochete simbólico, processos e marcos que acentuam e preservam essa partição desigual de espaços para morar e produzir. Em Trabalho, Jaime Lauriano monta um painel com reproduções de pinturas, desenhos e gravuras que, concebidas por artistas como Jean-Baptiste Debret e Johan Moritz Rugendas, retratam aspectos variados