SEGUNDA NATUREZA
A instalação Segunda Natureza (2021), de Milla Jung, constituída por plantas, vídeo e neon, traz-nos uma imersão construída pela ambi ência na vitrine do Museu Paranaense, tecendo considerações que habitam a natureza e se movem em devir. Ali se interrogam as relações da tecnosfera como espaço de uma experiência contemporânea, onde o sujeito e a tecnologia criam virtualidades sobre estar no mundo, em campos transpostos e por vezes imperceptíveis de uma imersão genuína. Abrimos terreno para o imaginário, a mutação, a aceleração provo cada por nossos dias, em uma sociedade contemporânea consumida pela tecnologia e pela tela “azul Windows”, ao mesmo tempo que somos atravessados para a natureza composta pela artista como um lugar de comunhão, espaço para silêncio, para um tempo suspenso, de introspecção e subjetivações, que nos faz desejar e perceber o que escapa no cotidiano, numa zona de indiscernibilidade com o universo. Há em Segunda Natureza um prolongamento do tempo, uma extensão da percepção, um convite para diluir os contornos do corpo numa imersão na paisagem. Diante da natureza, a obra constitui uma totalidade orgânica e solitária, o corpo, aquele perante uma natureza deslocada, é condutor de imaginação, fusão e desintegração. Numa ecologia menor, para a qual a arte provoca rachaduras em que as espécies, os gêneros e os lugares têm seus contor nos desfeitos, constituindo linhas vivas, fluxos e modos de expressão que propiciam
CAPA, 1 E CONTRACAPA
Frames do vídeo que integra a obra Segunda Natureza (2021), de Milla Jung.
COVER, 1 AND BACK COVER
Video frames for the film Second Nature (2021), by Milla Jung.
a construção de modos de existências singulares1 , Milla propõe, no deslocamento e no detalhe, espaço da resistência e da diferença, geradoras de uma estética/ experiência que nos transpõe para blocos de sensações. U ma ecologia menor abre-se para o ser outro, para o devir, diz sim à vida e convida a invenções e encontros com o mundo, expandindo e experimentando novas formas de habitar, causando, pela remoção do ambiente, potências necessárias para que possamos, não apenas ser espectadores, mas perceptores do sublime que há no que hoje reforçamos como banal. O menor é uma prática que assume uma marginalidade em relação aos papéis representativos da Arte e que, em Segunda Natureza, ganham dimensões que expandem o espaço dos vidros, transpõem fronteiras e nos fazem penetrar.
Juliana Crispe
1 GODOY, Ana. A menor das ecologias. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008, p. 85.
SECOND NATURE
Milla Jung’s installation, Second Nature (2021), made up of plants, video, and neon, immerses us in the ambience of the Paraná Museum’s showcase, spinning thoughts that inhabit nature. They move, evolve, become. Here, relationships with the technosphere are interrogated as a space of contemporary experience in which the subject and technology create virtualities about our being in the world, in transposed and sometimes imperceptible fields of genuine immersion. We pave the way for the imagination, mutation, the accelerated speed of life today, in a society consumed by technology and the “blue Windows” screen. At the same time, we are seized by the nature that the artist composes as a place of communion, space for silence, for time suspended, for introspection and subjectivation, making us desire and perceive that which escapes everyday life, in a zone of indiscernibility with the universe.
Second Nature prolongs time, extends perception, and invites us to dissolve the contours of the body through immersion in landscape. Faced with nature, the work constitutes an organic and solitary totality, the body, confronting a displaced nature, conductor of imagination, fusion and disintegration.
Through a smaller ecology, for which art chisels fissures through which species, genders and places see their contours undone, their lines, flows and modes of expression coming to life in ways that encourage singular modes of existence 1 , Milla proposes, through displacement and
detail, a space of resistance and difference, generating an aesthetics/experience that moves us through blocks of sensations. A smaller ecology opens us up to the other, to becoming, says yes to life and invites inventions and encounters with the world, expanding and experimenting with new ways of inhabiting. By removing the environment, we attain the force we need to become, not mere spectators, but perceivers of the sublime that exists in what today is reinforced as banal. The small is a practice that inhabits the fringes, in relation to the representational roles of Art; in Second Nature, it takes us beyond windows and boundaries, lets us go deeply into.
1 GODOY, Ana. A menor das ecologias. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008, p. 85.
Juliana Crispe