Sax & Metais #4

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MAIS TÉCNICA!

TECO CARDOSO

shops de Confira os work Marcelo s, ve al Jefferson Gonç Moraes e l he ic M , iro Monte o Ubaldo Versolat

Ele deixou a medicina e hoje é um dos instrumentistas mais respeitados no Brasil e no exterior

TESTES SAX&METAIS•2006•Nº 4•R$ 8,50

Clarinete Júpiter JCL631NT ótimo acabamento satisfaz o estudante Sax Alto Arena o polivalente da RMV

GOSPEL

André Paganelli: um músico ligado em tecnologia e gravações

CAIO MESQUITA

Revelação do sax aos 16 anos

FLAUTA + SAX

O perfil camaleão de David Ganc

ABC DA BOQUILHA DANIEL D’A LCÂNTARA

Herança musical que fez a diferença

E MAIS: Homenagem ao maestro Moacir Santos Capa_Sax&Metais 4.indd 1

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EDITORIAL

O IMPORTANTE É TER ESTILO

C

onversando com os leitores, seja por e-mail, carta ou em telefonemas que recebo na redação, noto um número cada vez maior de estudantes propensos a seguir carreira profissional na música. Se por um lado, é muito bom, pois desenvolve, a médio e longo prazos, a cultura de um país, por outro, tornar-se músico profissional exige dedicação, estudo e orientação. É preciso definir que estilo musical que se quer seguir, quais são as referências, para então se aprofundar. Para ajudar os inúmeros aspirantes a profissionais (ou quem já está na estrada) a se encontrar nesta caminhada musical, buscamos o que há de melhor e mais importante neste meio. A começar pela matéria de capa, com o saxofonista e flautista Teco Cardoso, que dispensa maiores apresentações. O interessante é que ele, assim como muitos instrumentistas de sucesso hoje, chegou a enveredar para outra área, antes de se tornar músico profissional. Teco fez cinco anos de medicina e não se arrepende: aproveitou a experiência para se aprimorar como músico, como ele nos conta na entrevista da página 22. Visitamos a oficina do luthier Norberto, um dos mais solicitados de São Paulo e trouxemos de lá 25 dicas para você escolher bem uma boquilha (e cuidar dela). Trazemos também uma homenagem póstuma ao grande maestro Moacir Santos, que nos deixou no começo de agosto. Porém, sua obra permanecerá eterna, influenciando ainda muitas gerações de músicos brasileiros. Confira também os workshops deste mês, com dicas e técnicas para melhorar sua sonoridade, sua articulação e tocar melhor. Quem escreve nesta edição são os músicos Ubaldo Versolato (sax), Marcelo Monteiro (flauta), Michel Moraes (clarinete) e Jefferson Gonçalves (gaita). Na seção de análises, nossos colaboradores testaram o sax alto Arena e o clarinete Júpiter JCL631NT. Aproveite bastante e até o mês que vem! Um abraço, Regina Valente ajuda@saxemetais.com.br 4

Esta revista apóia Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima Diretora de Redação Regina Valente MTB: 36.640 Edição Técnica Débora de Aquino Revisão Hebe Ester Lucas Departamento Comercial Marina Markoff Eduarda Lopes Administrativo / Financeiro Carla Anne Direção de Arte Dawis Roos Impressão e Acabamento Gráfica PROL Fotos Daniel Neves, Dani Godoy (capa), Maria Stela Martins, Marcelo Rossi Colaboradores Erik H. Pais, Ludmila Curi (texto); Edu Amaral, Domingos Elias Iunes (análises); Jefferson Gonçalves, Marcelo Monteiro, Michel Moraes, Ubaldo Versolato (workshops) Distribuição Nacional para todo o Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 - Grajaú CEP: 20563-900 - Rio de Janeiro / RJ Tel.: (21) 2195-3200 Assessoria Edicase Soluções para Editores Sax & Metais (ISSN 1809-5410) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Administração, Redação e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 Brooklin Novo • CEP: 04569-001 São Paulo / SP / Brasil Todos os direitos reservados. Publicidade Anuncie na Sax & Metais saxemetais@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.saxemetais.com.br e-mail: ajuda@saxemetais.com.br

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SAX & METAIS ABRIL / 2006

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ÍNDICE SEÇÕES 4 Editorial 8 Cartas 10 Live! Shows, projetos e novidades do universo do sopro 13 Vida de músico Caio Mesquita 36 Análises Sax Alto RMV Arena e Clarinete Júpiter JCL631NT 38 Reviews CDs, DVD e Livro

MATÉRIAS 14 Gospel: André Paganelli, um músico ligado em tecnologia, gravações e técnica 16 Perfil: David Ganc, um instrumentista versátil com mais de 100 gravações com diversos artistas 20 O especialista Erik Pais, do Conservatório de Tatuí, sugere 4 exercícios para aprimorar o estilo erudito no saxofone

28 25 dicas do Norberto: visitamos a oficina do badalado luthier de boquilhas de São Paulo, que revelou truques para conseguir um bom som 32 Daniel D’Alcântara: trompetista que vem de família musical mostra a importância de saber direcionar a carreira 34 Festival de Búzios reúne grandes nomes da música instrumental brasileira

16 Luthier Norberto

WORKSHOPS 40

Ubaldo Versolato (SAXOFONE) Fala sobre emoção e expressividade na música Years of Solitude

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Exercícios para você aprimorar a

22 Teco Cardoso Respeitado no Brasil e no exterior, o saxofonista e flautista fala sobre a experiência de deixar o curso de medicina para se tornar músico profissional, revela seus projetos e dá alguns toques sobre como trocar de embocadura

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Marcelo Monteiro (FLAUTA) sonoridade no instrumento

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Michel Moraes (CLARINETE) Dicas para melhorar o staccato

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Jefferson Gonçalves (GAITA) 6 sugestões para treinar a articulação

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CARTAS

Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para: ajuda@saxemetais.com.br ou escreva para: Rua Guaraiúva, 644 - Brooklin Novo - CEP: 04569-001 - São Paulo / SP - Brasil

Material sobre trompete

Análise de marcas

Estou aprendendo a tocar trompete e gosto muito de flauta também. Onde encontro livros e videoaulas de trompete? Como faço para comprar os CDs da flautista Andréa Ernest Dias? Aproveito para agradecer a toda equipe da S&M pela maravilhosa revista. Geralino Emidio Lagoa da Prata (MG)

Tenho acompanhado a revista e está me ajudando muito. Gostaria de saber se os saxofones das marcas Shelter, Scavone e Eanstam são bons. Diego Lima São Miguel Arcanjo (SP)

Prezado Geralino, algumas lojas vendem métodos e aulas de trompete e de outros instrumentos de sopro, de diversos autores: Free Note - (11) 3085-4690 ou www.freenote.com.br Irmãos Vitale - (11) 5081-9499 ou www.vitale.com.br Musimed - (61) 3244-9799 ou www.livrariamusimed.com.br O CD da flautista Andréa Ernest Dias pode ser encontrado nas principais lojas especializadas. Para mais informações, contate as gravadoras Biscoito Fino - (21) 2240-5150 (www. biscoitofino.com.br) ou Kuarup Discos (21) 2220-1623 (www.kuarup.com.br).

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Prezado Diego, qualquer marca tem seus prós e contras e por isso, temos a seção de Testes para indicar qual a finalidade de cada instrumento: para estudo, gravações, apresentações ao vivo, para profissionais. Suas sugestões foram anotadas e aguarde as próximas edições que traremos estas marcas com análises detalhadas sobre os instrumentos.

Clarinete Comprei os três números da Sax & Metais e senti falta de reportagens sobre clarinete. Estou aprendendo este instrumento e gostaria de obter material a respeito. Roberto de Paula Salvador (BA)

Prezado Roberto, nesta edição, você tem clarinete em dose dupla: um workshop sobre como melhorar o stacatto, com o músico Michel Moraes, do quinteto Madeira de Vento e, na seção de Testes, o clarinetista Domingos Elias analisou um modelo da Júpiter.

Fã de Coltrane Adoro John Coltrane e a matéria sobre a obra deste incrível saxofonista ficou ótima. Continuem assim, a Sax & Metais está cada vez melhor. Abraços e sucesso! Cláudio Souza Rio de Janeiro (RJ)

Comunidade Sax & Metais no Orkut, participe! www.orkut.com/ Community.aspx? cmm=12315174

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Marcelo Coelho

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

SAX & METAIS - VINCENT GARDNER E MARCELO CORLHO: JAZZ E IMPROVISO

LIVE!

Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

Vincent Gardner

Vincent Gardner e Marcelo Coelho: jazz e improviso O trombonista americano Vincent Gardner, integrante da Lincoln Center Jazz Orchestra, comandada pelo trompetista Wynton Marsalis, se apresentou com o saxofonista brasileiro Marcelo Coelho e seu quarteto, o MC4, no teatro Crowne Plaza, em São Paulo. O espetáculo teve como marca músicas com sonoridade moderna, com destaque para as improvisações. “Trata-se de uma ge-

ração de músicos brasileiros que mostra nas suas composições e performances o resultado de várias influências, que vão de José Gramani e Nivaldo Ornelas a Ron Miller e David Liebman”, comenta Marcelo Coelho, que participou, recentemente, de uma série de aulas e experimentações sobre cromatismo com o saxofonista David Liebman. O MC4 é formado por Marcelo Coelho (saxofones), Lupa Santiago (guitarra), Guto Brambilla (baixo) e Carlos Ezequiel (bateria).

NOTAS RÁPIDAS • O flautista e saxofonista Zé Canuto se apresenta no dia 29 de setembro no Espaço Bis (Rua Frei Leandro, 20 - Jd. Botânico - Rio de Janeiro, (21) 2226-1038) com o pianista Ricardo Leão, em turnê de divulgação do CD Idas e Vindas. • A Spok Frevo Orquestra recebeu o prêmio TIM na categoria revelação pelo CD Passo de Anjo. • O multiinstrumentista Ivan Meyer passou o mês de agosto viajando de moto pelo Peru e

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Bolívia, onde fez apresentações de saxofone em plena Cordilheira dos Andes, para deleite dos turistas europeus que por lá passaram. • O saxofonista Rafael Velloso apresenta seu novo trabalho, inspirado na cultura cubana, o projeto Santa Latina, da banda Rio Latin Jazz. Os shows acontecem todos os domingos de setembro, a partir das 19 horas no Casarão do Hermê (Rua Hermenegildo de Barros, 193, Santa Teresa, (21) 2253-2358), no Rio de Janeiro.

MÚSICA ERUDITA GRATUITA Os próximos Concertos Itaú Personnalité, novo nome dos Concertos BankBoston, contarão com a presença de vários instrumentistas de sopro na Série Pinacoteca. As apresentações são aos domingos, às 16 horas, no Auditório da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 24 de setembro, toca o Bruch Trio (Marta Vidigal, clarinete, Machado, piano e Marcelo Jaffé, viola). Em 22 de outubro é a vez do trio formado por Félix Alonso Morales, clarinete, Norma Lilian, violoncelo e Maria de los Angeles Iglesias, no piano. E no dia 26 de novembro se apresenta o grupo Os Músicos da Capella (Natália Alves Chahin, oboé barroco, Luís Otávio Santos, violino barroco, Lívia Lanfranchi, traverso, João Guilherme Figueiredo, violoncelo barroco e Alessandro Santoro, cravo). Os concertos levarão atrações da música de câmara brasileira e internacional também para Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília. Para mais informações, ligue para (11) 3081.1911 ou acesse http://www.interartemusica.com.br/ concertositaupersonnalite/2006/.

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Diversão e arte no 5º Blues Beer Festival O primeiro era para ser um churrasco, mas tomou forma de um festival anual e pelo palco do Blues Beer Festival já passaram Prado Blues Band, Los Mocambos, Melk Rocha e André Carlini, entre outros. Em sua quinta edição, que aconteceu no Clube Sírio Libanês, em Santos, litoral paulista, no final de julho, o festival contou com a apresentação de cinco bandas, convidados especiais, público estimado em 300 pessoas e 11 gaitistas na Jam Session. Sem fins lucrativos, o BBF é promovido pelo Gaita-bs, grupo de gaitistas da Baixada Santista. A Traffic Jam, formada dentro do Gaita-bs, apresentou músicas conhecidas, além de repertório próprio. Da cena paulistana vieram a Marafa Blues, pela primeira vez no BBF e a Black Coffee, que repetiu o sucesso da edição anterior. O gaitista André Hohmer afirmou que foi a melhor apresentação

DANIEL D’ALCÂNTARA PREPARA SEGUNDO CD

O trompetista, que já tem um álbum em parceria com o baterista Edu Ribeiro, chamado Horizonte (2001, selo Mix House), está gravando seu novo CD. Batizado Lote 502, o trabalho terá a participação de Alexandre Mihanovich (guitarra), Cuca Teixeira (bateria), Wilson Teixeira (sax), Thiago Alves (baixo), Gustavo Bugni e Pepe Cisneros (piano) e Paulo Malheiros (trombone) e será lançado pelo selo do Mihanovich, Mendigo Records. O making off do álbum está disponível no link www.youtube.com/ watch?v=kBueXlTQKwE.

da banda em termos de diversão. “Só é possível tocar quando o público responde”, disse. Oswaldo Moraes, o gaitista Cachorro Loiro da banda Black Coffee, vê dois aspectos importantes em um festival como o BBF: a divulgação do instrumento, que para muitos ainda pode parecer brinquedo,

e a oportunidade que o gaitista tem de testar sem medo o trabalho que ele desenvolve sozinho. “O BBF é simples, singelo, as pessoas se apresentam sem querer aparecer, coisa que falta demais nos festivais. Não há ostentação, pratica-se a simplicidade na gaita e na música.” Por Luciana Vaz

Morre aos 78 anos o trompetista Maynard Ferguson

Aos 78 anos, morre Maynard Ferguson, um dos maiores trompetistas do jazz. O canadense tocou com algumas das lendas do jazz em seus mais de 60 anos de carreira, entre elas Count Basie, Dizzy Gillespie, Jimmy Dorsey, Charlie Barnett e Stan Kenton. Mas ganhou fama ao gravar o tema que foi incluído na trilha sonora dos filmes da série Rocky, intitulado Gonna Fly Now. Ferguson se destacou pela sua enorme habilidade técnica e capacidade de executar

solos como ninguém, sempre firme e por períodos longos, inclusive notas mais agudas. Nascido em Montreal, o trompetista iniciou a carreira musical aos 13 anos, se apresentando na Canadian Broadcasting Company e, com apenas 17 anos, já tinha uma banda própria em sua cidade natal. Anos depois, mudou-se para a Califórnia, nos Estados Unidos, quando passou a compor também para trilhas sonoras de filmes. O músico deixa mais de 60 álbuns gravados. SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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LIVE!

Tr i b u t o

Adeus ao maestro Moacir Santos

Por Débora de Aquino Fotos Rachel Guedes

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA

SAX & METAIS: ADEUS AO MAESTRO MOACIR SANTOS

REVIEW

Moacir Santos, saxofonista, compositor, arranjador e maestro, faleceu na Califórnia (EUA), onde morava desde 1967. O maestro já havia sofrido um derrame nos anos 1990, que deixou seqüelas na fala e o impediu de continuar tocando. No dia 6 de agosto, foi vítima de um segundo derrame e veio a falecer no dia 8, aos 80 anos.

LIVE!

“A

bênção, maestro Moacir Santos / Que não és um só / És tantos, tantos como o meu Brasil de todos os santos”. (Vinícius de Moraes) Esses foram os versos proferidos pelo poeta Vinícius de Moraes ao amigo Moacir Santos em 1962, já antevendo a importância do maestro para a música brasileira. Santos foi professor de João Donato, Baden Powell, Dori Caymmi, Oscar Castro Neves, Paulo Moura, Sérgio Mendes e tantos outros. Nasceu no meio do sertão de Pernambuco em 26 de julho de 1926. Aos 2 anos de idade mudou-se para a cidade de

Moacir Santos ★ 26.07.1926 / ✝ 08.08.2006

Flores de Pajeú, onde cresceu. A pequena cidade transbordava música e Moacir foi sendo apresentado às flautas, trompetes, violões. Qualquer instrumento que caísse em suas mãos ele saía tocando. A fama do garoto se espalhou até que foi convidado a tocar na Orquestra do Cassino Tabariz. Porém, no primeiro ensaio se deu mal, estava nervoso em meio a tantos músicos acostumados com leitura musical. Chorou, e percebeu que somente seu enorme talento não bastava. Prometeu a si mesmo estudar e ser muito bom naquilo tudo. Foi exímio saxofonista da Rádio Na-

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cional e, mais tarde, aos 25 anos, tornouse maestro efetivo na mesma rádio. Uma de suas primeiras orquestrações foi Na Baixa do Sapateiro. Seu primeiro grande trabalho como compositor foi com o LP Coisas, em 1965. Esse álbum é considerado um dos mais importantes para a história da música brasileira, com arranjos diferentes, ousados e com um misto de popular e erudito, mas nunca se esquecendo das tradições afro-brasileiras. Moacir seguiu fazendo trilhas para diversos filmes nacionais da época do Cinema Novo, até que fez a música do filme americano Love

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TRIBUTO A

MOACIR SANTOS

in the Pacific. A partir de então surgiu a oportunidade de ir para os Estados Unidos, onde viveu todos esses anos. A distância fez com que a música de Moacir Santos fosse quase que abandonada por aqui. Seus discos gravados nos Estados Unidos raramente chegavam ao Brasil. Sua última gravação foi em 1978. Assim, tudo caminhava para que o maestro fosse esquecido em seu país. É aí que entram a dedicação e a vontade do compositor Mário Adnet e do saxofonista Zé Nogueira, que resolveram fazer um resgate das obras de Moacir. Em 2001 a história começa a ser reescrita com o surgimento do projeto Ouro Negro e, felizmente, Moacir Santos recebeu todas as homenagens em vida. O projeto, patrocinado pela Petrobras, começou com um grandioso trabalho de reconstituição dos principais arranjos do maestro, por Adnet e Nogueira, já que as partituras originais foram perdidas. O trabalho foi possível graças ao registro feito originalmente para a gravadora Blue Note, dos Estados Unidos. O processo seguiu-se com a gravação do CD duplo, com a orquestra tendo a mesma formação inventada por Moacir e composta com o que há de melhor no cenário instrumental brasileiro. O show de lançamento foi um tributo a Moacir Santos, onde o próprio marcou presença emocionada, no Teatro João Caetano, Rio de Janeiro. As homenagens não pararam por aí. Seguiu-se, depois, a confecção de três songbooks batizados de Cancioneiro Moacir Santos. A coleção traz as partituras de Ouro Negro, Coisas e do CD mais recente, Choros e Alegria, lançado em outubro de 2005. Também em 2005 houve a gravação do show Ouro Negro, no teatro do Sesc Pinheiros, em São Paulo, para o lançamento do DVD. O teatro aplaudiu o maestro em pé – Moacir foi levado ao palco e reverenciado por uma platéia lotada. Então ele falou: “Parece um sonho, embora eu saiba que é realidade”. Por todos esses trabalhos, Moacir Santos ainda foi agraciado no mês de julho deste ano com o Prêmio Shell de Música. O júri, composto por jornalistas e músicos do quilate de Hermínio Bello de Carvalho, concedeu com unanimidade o prêmio ao maestro. Um merecido reconhecimento para quem foi responsável pela formação de grandes músicos brasileiros.

O maestro deixa uma grande obra que continuará influenciando as próximas gerações de instrumentistas

REPERCUSSÃO “É uma pena que Pernambuco não conheça a obra desse ilustre filho da terra. Foi ouvindo seu trabalho, no final da década de 1970, que compreendi a importância da música popular brasileira no cenário internacional e aprendi que jazz é qualquer música, de qualquer lugar, em que se possa expressar com liberdade os nossos sentimentos. Ouvir Moacir é aprender a cada audição.” Zé da Flauta, Spok Frevo Orquestra Recife “Moacir Santos foi um ‘pai musical’ para mim. Ouvia falar dele muito antes de começar a estudar música pra valer. A primeira vez que tomei contato foi por meio de um disco do Djavan, Samurai, com arranjos do maestro para a música Quermesse. Lembro que quando ouvi, fiquei olhando as fotos do Moacir no encarte e me transportei para lá. Fiquei pensando em como tinha vontade de conhecê-lo e de poder estar ao

lado dele. Foi uma experiência dessas que a gente não sabe explicar. Anos depois, eu o conheci nos Estados Unidos, por meio do Renato Neto. Agora, temos de aproveitar todo o material que ficou para perpetuar essa obra. Estou aqui para isso, sou um dos responsáveis, e quem trabalha com a música instrumental também.” Marcelo Martins, saxofonista Rio de Janeiro “Ouro Negro foi um trabalho muito bemfeito. Uma banda da pesada, de gente escolhida a dedo, todo mundo superfã do Moacir. Foi uma honra participar, pois sabia que aquilo era um momento histórico. A nossa existência já estava justificada. Tudo isso abriu o Moacir Santos de novo para o Brasil. Ele pôde ser reconhecido aqui e redescoberto lá fora.” Teco Cardoso, saxofonista e flautista São Paulo SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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JOVENS TALENTOS

Vida de Músico

CAIO MESQUITA

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TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

JOVENS TALENTOS: CAIO MESQUITA, SUCESSO AOS 16 ANOS

pós participar de programa de calouros, jovem músico lança seu primeiro CD e atinge topo das listas dos álbuns mais vendidos nas lojas.

LIVE!

É provável que nunca tenha passado pela cabeça deste adolescente de 16 anos que um convite para participar do programa Raul Gil teria tamanha repercussão, especialmente quando se fala em música instrumental, que tem o estigma de ‘difícil’ e ’pouco popular’ no Brasil. Mas o jovem saxofonista Caio Mesquita conseguiu um feito interessante: depois de oito meses se apresentando no show de calouros em 2005, sempre trazendo canções brasileiras e estrangeiras apenas com base instrumental, conquistou uma série de fãs e despertou a atenção das gravadoras e da mídia. Resultado: lançou seu primeiro CD este ano e, apenas duas semanas após chegar às lojas, o álbum Jovem Brasilidade (Luar Music) já ocupava o segundo lugar em vendas, tornando-se um dos novos fenômenos da música nacional. O adolescente de Santos, que estuda saxofone desde os 11 anos, conversou com Sax & Metais sobre o sucesso repentino, projetos e carreira. > Sax & Metais: Como é lidar com o sucesso ainda tão jovem? Como você se sente? Caio Mesquita: Bom, tudo ainda é muito novo para mim, mas esse sucesso do CD foi algo inesperado para todos. Estou muito feliz em ver um CD instrumental no topo das listas de CDs mais vendidos. > Você já toca sax e gosta de música instrumental, algo pouco comum para adolescentes da sua idade. De onde veio o gosto por este estilo musical? Sempre gostei de todos os tipos de música, mas como comecei a estudar piano muito cedo, a música instrumental me atraiu mais, por ser mais rica harmonicamente, e em outros aspectos também. Aos 5 anos ganhei um teclado de brinquedo da minha avó. Comecei a brincar e tirava algumas coisas sozinho. Uma tia minha, professora de pia-

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Sucesso aos 16 anos no, me viu tocando e resolveu me dar aulas. Aprendi a parte técnica e a teórica, mas fui me interessando por outros instrumentos. Aos 9, passei para a aula de teclado e me formei em teoria. Comecei a tocar sax com 11 anos, incentivado pela música Pense em Mim, de Leandro e Leonardo, que tem um solo no começo. Na minha família mesmo ninguém seguiu pelo caminho da música. > Quem são seus músicos preferidos? Kenny G, em primeiro lugar e sempre, apesar de ser muito criticado no meio musical por fazer melodias simples, David Sanborn, Léo Gandelman, César Camargo Mariano e Milton Guedes.

O ÁLBUM-SOLO DE CAIO MESQUITA APRESENTA 13 CLÁSSICOS DA MPB Com novos arranjos apontando influências de estilos como drum’n bass, samba, funk, bolero e bossa nova. Na maioria das canções, Caio usa sax alto, mas em duas músicas a opção foi pelo sax soprano (Sozinho e Só nos resta viver). > Como você chegou ao programa do Raul Gil? Fui levado por uma caloura chamada Jacqueline Muller, que participava do quadro ‘Quem sabe canta, quem não sabe dança’. Fiquei tocando um longo tempo com ela, depois o quadro acabou e continuei no programa.

> Como você vê esse sucesso todo de um CD de música instrumental? Acredito que vai abrir muitas portas. Estou levando a música instrumental para as pessoas de todos os níveis econômicos, sociais, e creio que outros músicos também poderão fazer isso. As pessoas não tinham oportunidade de conhecer a música instrumental, pois a mídia só colocava coisas comerciais. A partir de agora, esse estilo de música passou a ser também um meio comercial na mídia. Isso foi bom não só para mim, mas para todos os instrumentistas brasileiros. > Que instrumento você usa? Um sax alto Yamaha 32 e um soprano Weril Spectra II. No alto, uso uma boquilha Ton Krisley 3 com palheta Vandoren JAVA 1,5. No soprano, uso uma boquilha Rico 5 com palheta Plasticover 1,5. > Você participou da escolha do repertório e dos arranjos do CD. Como foi essa experiência? Foi muito bom, gostei muito. Tive total liberdade de fazer o CD do jeito que eu quisesse. Há vários arranjos que foram idéias minhas, lapidadas pelo maestro Djalma Wolff, e o repertório foi uma escolha em conjunto, entre mim, meu pai e o Raulzinho (Gil, produtor do programa Raul Gil), que teve a grande idéia de fazer um CD de músicas nacionais. > E o que você espera daqui pra frente? Conquistar cada vez mais o público com a minha música, e continuar abrindo portas para todos. Quero muito também ter a oportunidade de fazer trabalhos com meus ídolos.

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CINCO MINUTOS COM:

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ANDRÉ PAGANELLI POR DÉBORA DE AQUINO FOTOS: DIVULGAÇÃO

ANDRÉ PAGANELLI

Gospel: Imagem Valorizada

CINCO MINUTOS COM

André Paganelli Seu maior orgulho é ter sido o primeiro músico gospel a garantir um contrato de exclusividade com uma grande gravadora, abrindo assim o caminho para vários músicos do segmento

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indo de família com avô e mãe instrumentistas, André Paganelli começou a ter contato com a música cedo e, aos 8 anos, já estudava teoria musical. Seu primeiro instrumento foi um saxhorn, mas aos 11 anos passou para o clarinete, instrumento ao qual se dedicou por muitos anos. Somente em 1995, então com 23 anos, é que decidiu adotar o saxofone como seu instrumento ‘oficial’. A partir daí estudou com renomados professores e cursou a Universidade Livre de Música (ULM), em São Paulo. Desde então não parou mais. Paganelli soma hoje dez CDs gravados, sendo três coletâneas e participações em diversos álbuns de cantores e bandas consagradas no cenário evangélico. Após gravar seu segundo álbum, Paganelli mudou-se para Los Angeles, EUA, onde instalou sua base para atender a inúmeros convites internacionais. Ficou por lá alguns anos. Vale destacar que o saxofonista sempre se preocupou em fazer seu marketing pessoal. “Antes de mim, poucos acreditavam na música instrumental gospel”, conta Paganelli, que conseguiu um feito até então inédito de lotar o Olympia, tradicional casa de shows da capital paulista, em plena quarta-feira. Isso fez saltar os olhos de empresários que correram para contratá-lo. “Já tinha três CDs independentes e o sucesso do show no Olympia rendeu meu primeiro contrato com a gravadora Paradoxx Music”, lembra o músico.

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S&M - Você começou pelo sax soprano, que é considerado um dos mais difíceis da família do saxofone. André Paganelli - Sim, porque eu já tocava clarinete, que é mais próximo do soprano e também é reto. Como a embocadura é mais parecida, não tive problemas. Mas para quem começa do zero realmente é mais difícil. Depois passei para o sax alto e foi brincadeira, tirar os superagudos foi bem fácil. Uma coisa com que sempre me preocupei foi com linguagem de cada sax. Por isso sempre estudei o alto e o soprano de maneiras diferentes, preocupando-

DISCOGRAFIA 1. Spirit and Art (1998) - PPD 2. Spirit and Art (1999) - PPD 3. Instrumental de Natal (2000) – PPD 4. Instrumental Praise 3 (2000) – Aliança Produções 5. CD Multimídia André Paganelli – NVI Concert (2001) - PPD/SBI - Coletânea 6. Love by Grace (2001) – Paradoxx Music 7. Clássicos do Gospel (2202) – PPD - Coletânea 8. Caminhando Para o Alvo (2003) – Bompastor 9. Meditação Instrumental (2005) – Bompastor 10. Sax For Christ (2005) – Coletânea

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ESPÍRITO PIONEIRO

ANDRÉ PAGANELLI

FIM

de visita, só assim vão saber como você toca. Sempre me dediquei a quatro áreas de atuação: gravação em estúdios; cachês em eventos e cerimônias de casamento; venda de CDs e workshops no meio gospel. Foi me valorizando como uma personalidade que consegue tocar em casamentos e me destaquei. A pessoa não está contratando um músico, mas sim o artista André Paganelli. Com esse diferencial o cachê também é mais alto.

me com fraseado, estilo, se não fica tudo muito igual. Já tentei tocar tenor, mas não consegui encontrar o estilo, a linha. É preferível tocar bem poucos instrumentos, do que tocar um monte sem personalidade. Quais são suas influências musicais? Sempre gostei muito da técnica do Kenny G, curtia demais a forma de segurar as notas e tudo. Achava ruim não ter nenhum brasileiro que fosse nessa linha. Sempre gostei mais de fazer música para as massas, música que as pessoas entendem mais, diferente do jazz com muito improviso. Procuro tocar os temas e buscar minha forma de interpretar. No sax alto minha principal influência foi Eric Marienthal. Também gosto de Nelson Rangel, Dave Koz, Warren Hill, Everett Harp e David Sanborn, para citar alguns. Você já foi diversas vezes para fora do País. Como aconteceram essas oportunidades? Sou uma pessoa de muitos contatos e amigos. Sempre valorizei muito o meu trabalho, procurando me apresentar como ‘o André Paganelli’, não como um músico que estava ali, simplesmente. Sempre procurei me respeitar como profissional, escolhendo os trabalhos que queria fazer. Por exemplo, em casamentos só toco na cerimônia, não na festa. Não toco em lugares nos quais não prestem atenção à minha música ou não a valorizem. Dessa forma, fui criando o meu caminho. Sou muito discreto na forma de interpretar uma música, buscando contar uma história, criar um clima. Com tudo isso, passei a receber cada vez mais convites para tocar em eventos de empresas, e por aí consegui fazer alguns contatos internacionais. Fiz uma turnê de 30 dias pelos EUA, tocando em várias Igrejas, depois tive contato com a Europa, e lá passei cem dias, visitei 17 cidades sem parar, fui unindo um contato no outro. Sempre tive o canal aberto também por falar outros idiomas. Em uma dessas viagens você teve a oportunidade de acompanhar uma gravação do Eric Marienthal. Como foi isso? Foi por meio de uma funcionária do consulado brasileiro em Los Angeles, que sempre me convidava para tocar. Uma vez ela fez contato com o violonista Zezo Ribeiro, brasileiro que mora na Espanha, e disse que queria que eu tocasse com ele em um show, misturando música flamenca com brasileira. Ele estava gravando na época com o percus-

sionista brasileiro Paulinho da Costa e o Eric Marienthal, no estúdio do Chick Korea em Beverly Hills. Comentei que sonhava em conhecer o Eric, e ele me convidou para a gravação. Fiquei o dia inteiro lá acompanhando as gravações e pude conversar um pouco com ele. Ele é muito simples, muito humilde. Tirei fotos e, em uma delas, ele está segurando o meu CD e fazendo sinal de positivo, aprovando meu trabalho. O que você tem a dizer para quem está começando? Que sax é um instrumento difícil. O resultado vem com o tempo, com horas de vôo. Procuro mostrar para os alunos a realidade de que existem altos e baixos. Tem de ter perseverança. Às vezes pode dar vontade de abandonar o instrumento por uns dias. Nessas horas, compre um CD ou DVD de alguém que você curta muito, isso dá uma injeção de ânimo, faz você correr atrás, ficar com vontade de tocar. Num momento de crise, isso é muito bom. E dá para viver bem de música? Dá, mas tocar bem é 40% do trabalho. Tem de pensar numa série de capacitações. Ser humilde, bem-humorado, marcar presença onde quer que seja, saber escolher os trabalhos, enfim, saber o que você quer, inclusive ser marqueteiro (risos). É necessário ter uma série de estratégias para as pessoas te acharem importante. O CD é um grande cartão

Fale um pouco sobre seus dois lançamentos de 2005. Na verdade, não foram novas produções, um deles é uma coletânea. Juntei-me a três amigos do Rio de Janeiro, Samuel Lima, Lamir Teixeira e Ângelo Torres. Cada um cedeu quatro músicas de trabalhos seus e fizemos esse CD com 16 músicas, assim abrangemos mais a divulgação do trabalho dos três. O outro é o Meditação Instrumental. Sempre gostei de trabalhos ecléticos, com música lenta, pop, cantada, mas meu público vinha me cobrando por um trabalho mais tranqüilo, mais suave. Então a proposta foi essa. Fiquei muito feliz com o resultado. Para isso deixei as palhetas bem brandas, macias, número 2, e tocava ‘na boa’. Foi uma experiência ótima.

SETUP DE ANDRÉ PAGANELLI Sax Alto: Selmer Paris Mark VI e Jupiter Boquilha: Beechler Bellite Metal - # 8 Palheta La Voz - # 2 ½ Sax Soprano: Selmer Paris Mark VI e Jupiter Boquilha: Dukoff Metal - # 8 Palheta: Rico Royal - # 2 ½ Equipamentos: • Microfone: AKG C419 Lapela com fio • Mini Disc - Play Backs: MD Sony • Processador de Efeito: Alesis Nanoverb (Reverb Hall 3) • Rack (Mesa): Beringher Eurorack 6 Canais - Mixer SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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25 dicas para escolher bem a

De massa ou de metal? Com qual numeração? Escolher a boquilha é um dos assuntos

que mais causa dor de cabeça entre os saxofonistas. Conversamos com o badalado luthier Norberto, que indicou os melhores caminhos para você se dar bem. Por Débora de Aquino Fotos: Regina Valente

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Luthier Norberto

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oficina do luthier Norberto, um dos mais comentados de São Paulo, é um pequeno galpão no tradicional bairro do Ipiranga. É nessa oficina que ele atende músicos de várias regiões e, em sua bancada, fabrica as boquilhas mais disputadas entre os saxofonistas. Logo no início da conversa, Norberto, que já foi protético dentário e joalheiro, revela o grande segredo. “Não existe um ideal. O que é bom para uma pessoa pode não ser bom para outra. A receita é apurar os sentidos e estudar muito.”

Entendendo as boquilhas A confecção deste acessório não é tarefa fácil e o trabalho passa por várias etapas, desde o primeiro molde até os ajustes finais. Norberto partiu do princípio de pegar boas boquilhas e transformá-las. Verificava quais deficiências apresentavam e tentava equilibrá-las. “Isso é feito na câmara da boquilha, é um processo lento, de experimentação, e às vezes o resultado nem é o esperado. Você mexe em um lugar, pensa que vai dar certo e não dá, tem de testar até chegar ao ponto”, explica o luthier.

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LUTHIER NORBERTO

Dicas do Luthier Norberto

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trilho lateral até a ponta da boquilha. Essas duas medidas determinam como a palheta vai vibrar. E é na câmara onde acontece a ressonância do som: quando pequena, o som é mais potente do que em câmaras grandes. O material com que as boquilhas são feitas, massa ou metal, também é fator determinante para a escolha do timbre desejado. Norberto explica que a boquilha de metal projeta mais o som, abrange mais, enquanto a de massa contém um

TESTE

pouco mais. O revestimento final é feito com um banho de prata, que não afeta a sonoridade e serve para que fiquem mais bonitas e protegidas da oxidação. As boquilhas de metal são feitas em latão, mas podem ser de bronze ou prata, quando há alteração no som. “Os modelos fabricados com metais nobres têm o som bem melhor, porque o metal vibra mais, dá para sentir no instrumento, além de ter mais harmônicos.”

POR QUE TER UMA BOQUILHA FEITA SOB MEDIDA?

LUTHIER ESTÚDIO TECNOLOGIA

25 DICAS PARA ESCOLHER BEM A BOQUILHA

boquilha é constituída por várias ‘partes’, dimensionadas de acordo com a sonoridade pretendida. Os números referem-se à abertura, ou seja, à distância da ponta da palheta até a ponta da boquilha. Quanto maior o número, maior a abertura. Se for mais aberta, é necessária uma musculatura mais desenvolvida para conseguir dar à palheta a pressão certa. A face é outra medida determinante na forma de tocar, pois é a distância de onde a boquilha se separa do

REVIEW LIVE!

Curiosamente, antes de se tornar luthier, Norberto foi protético dentário, depois joalheiro. Foi justamente nesta atividade que ele aprendeu a trabalhar com moldes, materiais plásticos e metais. Na época – meados dos anos 1980 – ele já tocava um pouco de flauta. Certo dia, seu instrumento precisou de ajustes e ele mesmo resolveu fazê-los. Deu certo. Animado com o resultado, foi à oficina do sr. Bove, renomado luthier de instrumentos de sopro de São Paulo, já falecido, mostrar seu trabalho. O experiente Bove gostou do serviço e começou a dar alguns instrumentos para que ele ajustasse. O convívio com muitos músicos na própria oficina fez com que Norberto percebesse a dificuldade deles em comprar boquilhas e tentar acertá-las, pois era tudo Boquilhas de sax alto em diferentes etapas de confecção

importado e caro. Resolveu então juntar sua técnica à experiência de Bove para fazer o produto. As primeiras boquilhas foram as de metal: “Tirei uma cópia da Sugal de tenor, e foram aceitas logo de cara. Depois fiz para alto de massa e fui variando os modelos”, conta. Norberto fazia e Bove as ajustava. “Das boquilhas que ele indicava, ele mexia e saía uma matriz; as que ele não mexia eu fazia por conta própria”, lembra o luthier, que montou seu próprio negócio como luthier em 1987. “Acho que já dá para botar fé”, brinca Norberto. As boquilhas de massa receberam o nome de B&N (Bove & Norberto), as de metal somente N (Norberto). O preço varia conforme o modelo e o material, entre R$ 180,00 e R$ 450,00.

Medição da abertura da boquilha com a utilização de gabarito de precisão

Se você precisa de uma calça, por exemplo, pode escolher entre três alternativas: ir a uma loja e comprar um modelo de que goste, sem experimentar, pois já conhece suas próprias medidas; pedir um número para o vendedor, experimentar e fazer os ajustes necessários ou ir a um alfaiate, tirar as medidas e mandar fazer a calça na medida exata. As três formas darão certo, porém a terceira é a ideal. Com as boquilhas é a mesma coisa. Norberto explica que quando alguém encomenda uma boquilha, o raciocínio é semelhante. O primeiro passo, e mais importante, é saber qual o estilo do músico ou estudante. “Preciso ter essa referência. Tem gente que gosta do som que ‘berra’, tem gente que gosta dele mais encorpado. Fazer uma boquilha sob medida para alguém sempre dá certo. Ajustar com a pessoa ao lado é bom porque ela vai falando o que está sentindo do som e eu vou equilibrando.” Vale lembrar que a produção do luthier é limitada, por ser um trabalho artesanal. Em média, Norberto fabrica quatro boquilhas por dia. Contatos: Oficina Norberto: Rua Lima e Silva, 8 – Ipiranga - São Paulo - (11) 6163-2186. Oficina Aldo Bove: Rua Carlos Chagas, 112 – Aclimação - São Paulo - (11) 3283-5635

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25 DICAS

LUTHIER NORBERTO

FIM

1. Para iniciantes, as boquilhas mais fechadas – números 4 ou 5 – são as mais indicadas. Elas vão exigir menos esforço, bem como os modelos com câmara baixa. 2. Se você está começando, não caia na tentação de querer encontrar a sua boquilha. O ideal é ficar com a mesma até conseguir fazer o seu som, e só mais tarde ir buscar aquela que lhe agrada.

3. Ficar com a mesma boquilha no início faz com que a afinação se firme melhor.

4. A boquilha mais fechada facilita o desenvolvimento da musculatura responsável pela formação da embocadura.

12. Escute os saxofonistas que possuem o timbre que mais lhe agradam.

19. Boquilha de massa ou de metal é questão de escolha. A de massa possui um timbre mais médio e grave, enquanto a de metal, mais médio e agudo.

5. Boquilhas mais fechadas são mais fáceis para se controlar a entrada e a velocidade da passagem de ar, facilitando a afinação e deixando o som mais agradável.

13. Verifique o setup desses saxofonistas. Usando uma boquilha com as mesmas características, é possível chegar a um som bem próximo.

20. Se você é um músico que toca vários estilos, é bom que tenha mais de uma boquilha para as diferentes ocasiões. Para estilos como rock e pop, é necessária uma boquilha que fale mais; para jazz e MPB, uma boquilha mais acústica.

6. O comprimento menor da face torna a boquilha mais fácil de tocar e a resposta é mais rápida. 7. O tamanho da câmara influencia diretamente o timbre, assim como a combinação Boquilha + Palheta + Instrumento. Cada instrumento tem sua característica timbrística, e quanto às palhetas, existem diversas marcas, numerações e tipos de corte.

8. Se sua tendência é colocar mais ar no instrumento, boquilhas mais abertas são melhores.

9. Não morda a boquilha, pois, quanto menos força, mais som.

10. Ouça o som que você tem em sua mente.

11. Estabeleça um timbre como referência.

14. Experimente a boquilha antes de comprar e veja se a resposta é a que você tem em mente.

15. Cuidado: nenhuma boquilha é igual à outra. Por isso, sempre haverá alguma diferença estrutural, mesmo pequena.

16. A boa boquilha é aquela que toca com facilidade, que responde bem em todas as regiões, do grave ao agudo.

17. Se você não está gostando do seu som, procure verificar qual a deficiência dele, se está muito grave, agudo, apagado, assim dá para encontrar uma boquilha que proporcione um equilíbrio maior. 18. Verifique as características do seu instrumento. Se ele tem muitos graves e você estiver com uma boquilha que favorece os graves, seu som vai ficar pesado e descompensado nas outras regiões.

21. Cuidado ao manusear sua boquilha, as de massa podem quebrar ao cair no chão. Fora isso, duram a vida toda.

22. Após tocar, retire a palheta e seque sua boquilha sempre, pois o acúmulo de saliva é que a estraga.

23. Não deixe a boquilha no tudel. Além de estragar a cortiça, a boquilha vai deteriorando.

24. Lave-a com água e sabão de vez em quando.

25. Boquilhas de metal podem precisar de manutenção. Algumas pessoas têm a saliva mais ácida e a oxidação pode ser excessiva. É raro, mas acontece. Nesses casos, é preciso mexer na entrada e na mesa para que a palheta fique bem assentada. SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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CINCO MINUTOS COM:

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DANIEL D’ALCÂNTARA FOTOS: DIVULGAÇÃO POR REGINA VALENTE

DANIEL D’ALCÂNTARA

Improvisador por natureza

Improvisador por natureza e admirador do jazz, o trompetista vem de família musical e soube direcionar a carreira. Fez faculdade, se aprimorou e hoje é professor e toca em várias formações, com destaque para a big band SoundScape e o quinteto Sambazz CINCO MINUTOS COM

Daniel D’Alcântara C

rescer ao lado de um pai famoso e reconhecido pelo talento musical é privilégio de poucos. Daniel D’Alcântara foi um desses iluminados pelo destino, que aproveitou o convívio com músicos de primeira linha para formar um estilo musical complexo e, ao mesmo tempo, com identidade própria. “Meu pai, Magno D’Alcântara, sempre foi e ainda é muito atento ao que faço. Será sempre minha principal influência de vida e musical. Ele me ensinou a ler música, a parte teórica e também a soprar o trompete”, relembra o instrumentista, que se graduou como bacharel em trompete em 1996, pela Universidade de São Paulo. Daniel tem uma carreira sólida e bastante diversificada. Tocou com grandes nomes da MPB, como Milton Nascimento, Roberto Menescal, Ivan Lins, João Donato e integrou grupos de sucesso como o Placa Luminosa, em 1994. “O pessoal do grupo tinha e tem uma experiência enorme de palco e todos os integrantes me ajudaram muito nesse sentido, foi um grande aprendizado”, conta o trompetista, que atualmente leciona na Universidade Livre de Música (Centro de Estudos Musicais Tom Jobim) e na Faculdade Souza Lima, ambas em São Paulo. > Sax & Metais: Você iniciou seus estudos do instrumento com seu pai, o também trompetista Magno D’Alcântara. Como foi esse aprendizado? Daniel D’Alcântara: Foi um privilégio, porque pude

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ter um acompanhamento integral dentro da minha própria casa. É como ter um professor do mais alto gabarito 24 horas por dia. Meu pai sempre foi e ainda é muito atento ao que eu estou fazendo e sempre será minha grande e principal influência, de vida e musical. Foi ele quem me ensinou a ler música, a parte teórica e também a soprar o trompete. Desde o início. > Mas você também buscou uma formação acadêmica, inclusive é bacharel em trompete pela USP. Na realidade, foram meus pais que insistiram para que eu fizesse a faculdade e foi ótimo, pois a carreira acadêmica dá uma noção muito boa para quem quer ser um professor. Ela me trouxe uma organização didática ótima. O ambiente de estudo que o aluno tem é muito bom, porque se você não estuda e vê seus colegas estudando, a única coisa que quer fazer é estudar também! Foi a época em que eu mais estudei na minha vida. Tive um excelente professor de trompete na USP, Sérgio Cascapera, que me ajudou muito. É um músico extremamente organizado e com uma didática fantástica. > Com essa formação, hoje você pode avaliar bem o ensino musical no Brasil. A falta de leitura na formação profissional ainda é comum? O acesso à informação hoje em dia é muito mais fácil: internet, MP3, DVD, videoaulas, métodos de todos os tipos.

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CINCO MINUTOS COM

DANIEL D’ALCÂNTARA

O que realmente está faltando para a maioria é a tal da formação. Com muito material disponível, a galera fica um pouco perdida e sai do foco, sem ter noção do que realmente estudar. Os conservatórios particulares, em sua maioria, só querem quantidade de alunos, e o que acontece é uma desigualdade, ou seja, uma falta de padrão na técnica do instrumento, na parte teórica, na concepção musical, no ‘tocar junto’, no repertório. > Qual foi o seu primeiro instrumento? Um trompete Olds Ambassador, emprestado por um grande amigo meu chamado Sergio Benutti, que vive em Salvador. > Até que ponto a técnica define um bom músico? Acredito que ela deve ser apurada e todo instrumentista deve zelar por sua destreza e habilidade com um reflexo aguçado. Mas sempre com objetivo e direcionamento para a música, ou melhor, para o sentido musical. O músico não deve ser escravo da técnica. Falando especificamente do trompete, são três pontos básicos para ter uma boa técnica: controle de ar, articulação e flexibilidade. O difícil é combinar isso tudo em uma rotina de estudo coerente, além de ter muita paciência e perseverança, pois o resultado não aparece de uma hora para outra. > Como sobreviver de música no Brasil, onde se dá tanta ênfase a gêneros populares?

Influências musicais • Trompetistas: Magno D’Alcântara; Cláudio Roditi; Moisés Alves (Paraybach); Jessé Sadoc; Junior Galante; Altair Martins; Joatan Nascimento; Rogério Leitum; Rodolfo Neves; Sidmar Vieira • Saxofonistas: Wilson Teixeira, Vitor Alcântara, Idriss Bodrioua, Proveta, Vinicius Dorin, Carlos Alberto Alcântara • Trombonistas: Raul de Souza, Paulo Malheiros, Emerson Will, Moisés Santos • Pianistas: Luis Mello, Evaldo Soares, César Camargo Mariano, Hermeto Pascoal, Fabio Torres, Edinho Santanna • Baixistas: Lito Robledo, Sizão Machado, Paulo Paulelli, Edu Martins, Thiago & Arismar Espírito Santo, Thiago Alves • Guitarrista: Alexandre Mihanovich • Bateristas: Airto Moreira, Edison Machado, Toninho Pinheiro, Edu Ribeiro, Cuca Teixeira, Alex Buck, Celso Almeida

FIM

O trompetista, que já tocou com grandes nomes da música brasileira como Ivan Lins e João Donato, sempre buscou uma ampla formação prática e teórica

Essa é uma pergunta que eu gosto de responder. Sou um músico que foi sustentado por um músico, que também foi sustentado por um músico, que por coincidência foi sustentado por um músico. Não estou dizendo que é fácil, mas a música é uma profissão muito boa para quem se dedica e a ama de verdade. Não me interessa se o grande público me conhece, mas me envaidece muito ser conhecido e respeitado entre os músicos que admiro. > Entre suas inúmeras atividades, há uma passagem em que você integrou o conjunto Placa Luminosa, em 1994. Como foi a experiência de estar em um grupo que estourou nas paradas? Foi a minha primeira experiência com naipe de metais em shows. É sempre muito legal, porque é um grupo que toca com muito swing e eles têm uma experiência enorme de palco, me ajudaram muito. > De todos os trabalhos que fez, quais foram os cinco mais marcantes? Difícil de responder ou escolher somente cinco... Mas acho que dividir palco com o Lee Konitz no Chivas Jazz Festival em 2003 foi um dos momentos mais marcantes. A temporada com o Milton Nascimento também foi muito bacana, pois eu era bem jovem e foi um dos meus primeiros grandes trabalhos. A série de workshops na Europa no ano passado foi ótima, conheci músicos de vários locais e pude compartilhar nossa música brasileira com eles. Foi muito gratificante. > Você toca também em outras formações, como a banda SoundScape. Qual é o desafio de tocar em uma big band? Você precisa ter uma precisão na leitura e na rítmica, porque tocar com muitas pessoas ao mesmo tempo pode se tornar

SETUP DE DANIEL D’ALCÂNTARA • Trompetes Weril - Modelos Symphonic (8170) e Soulhorn (7171) em Bb, com bocal 4C. “É similar ao 1B da Vincent Bach, só que com uma taça no formato em ‘V’ e com uma borda um mais confortável”, explica. • Flugelhorn Weril com bocal 4FL da Denis Wick.

muito difícil se esses músicos não estiverem de ouvidos abertos e prestando muita atenção ao que está acontecendo. > E o quinteto Sambazz, como surgiu? Surgiu de uma conversa que tive com o Edu Ribeiro, sobre entrar no estúdio e gravar como se estivesse tocando ao vivo. A idéia foi amadurecendo, fomos escolhendo os músicos, estúdio, técnico de som, essas coisas todas... e decidimos gravar, sem ensaios. A maioria das músicas foi gravada em um único take, com um pequeno detalhe: só eu sabia as músicas que seriam gravadas, porque havia decidido tudo na madrugada anterior do dia da sessão. Gravamos em um dia em uma sessão de oito horas. E ainda paramos para almoçar e dar risadas. Acho que foi uma feliz idéia da qual tenho o maior orgulho de ter participado, por ser totalmente espontânea e improvisada. E creio que conseguimos passar essa idéia para quem ouviu. > Como concilia a vida de músico com a de professor? Uso as aulas para me manter em forma, toco com os alunos o tempo todo, e isso faz com que eu reveja os meus fundamentos, exercita a minha didática e, principalmente, a minha paciência. O mais importante é poder passar o que eu aprendi por meio das minhas observações, experiências, erros e tentativas. SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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A inquietude produtiva de

Teco Cardoso Ele é uma das figuras mais representativas da música instrumental brasileira contemporânea. Inquieto com suas próprias conquistas, está sempre querendo ir além. Acredita que a música não existe somente para o entretenimento, mas sim com uma função de harmonizar as pessoas. Assim é Teco Cardoso, um músico que aprendeu a lidar com as diversas situações da vida durante o período em que cursou medicina. Foi quando aprendeu a conhecer o povo brasileiro e suas manifestações mais diversas, traçando, então, um rumo singular para o desenvolvimento de sua arte. Por Débora de Aquino Fotos: Dani Godoy

A

família já parecia indicar o caminho: a mãe é pianista erudita que fez carreira e ganhou concursos na década de 1950. O irmão, cinco anos mais velho, gostava de jazz e tocava bateria acompanhando os discos de que gostava. Teco Cardoso cresceu ouvindo música ao vivo dentro de casa, mas, curiosamente, decidiu fazer faculdade de medicina, antes de enveredar definitivamente para a vida musical. Porém, conciliar duas carreiras tão intensas teve sua dose de sacrifício. Teco acabou optando pela música no começo dos anos 1980, mas sempre levando consigo as experiências adquiridas nos cinco anos em que cursou medicina. Por dois anos estudou piano erudito, depois ganhou uma bolsa de estudos de flauta doce. Parou de estudar e passou a tocar de ouvido. Mudou-se para o Rio de Janeiro e, alguns anos depois, de volta a São Paulo, com 15 anos, conheceu o CLAM - Centro Livre de Aprendizagem Musical Zimbo

Trio, onde teve aulas com Hector Costita e Lea Freire e estudou flauta transversal e saxofone de forma mais acadêmica. Ainda teve como mestres Keith Underwood (flauta), Claudio Lael (harmonia) e Moacir Santos (contraponto). Faz diversos trabalhos com artistas da MPB como Edu Lobo, Dori Caymmi, Joyce, Johnny Alf, Oscar Castro Neves, Marlui Miranda e Mônica Salmaso, entre outros. Tem trabalhos de projeção internacional e, hoje, atua mais fora do que dentro do País. > Sax & Metais – Você vem de uma família musical. Deve ter sido uma experiência interessante. Teco Cardoso - Sem dúvida, até porque meu irmão, Paulo Cardoso, já tocava com a geração um pouquinho anterior à minha, que surgiu do CLAM, formada pelo Nico Assunção, Eliane Elias e o próprio Paulo. Eles tinham um grupo, estavam se profissionalizando, tornando-se professores da

escola. Eu era a mascote e cresci ouvindo um som na minha casa quando estava começando a tocar. Nessa época, a Lea Freire foi uma pessoa fundamental. Quando passei a estudar com ela, já tinha tido um ano de aula com o Hector. Então, em vez de ficar só com as aulas semanais, ela me chamou para estudar em horários livres. Tive facilidade porque morava perto da escola. Foram dois anos de estudo em que evoluí muito rápido. Passei de alguém que tinha um bom ouvido, mas que não lia música, a um leitor, um músico que de repente estava tocando com os feras. Tive o prazer de sempre tocar com gente muito boa, sempre acima do meu nível, e isso tudo me puxou muito rápido. > E onde entra a medicina nessa história? Fui fazer vestibular para medicina, que era o que eu gostava, e entrei. Mudei para Santos porque a faculdade era lá. Nisso, minha geração começou a acontecer – era o Ulisses Rocha, o Michel Freidenson. Montamos

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TECO CARDOSO

Inquietude produtiva

TESTE CAPA ESTÚDIO TECNOLOGIA

A INQUIETUTE PRODUTIVA DE TECO CARDOSO

um grupo, o Pé Ante Pé, com Caíto Marcondes e Mané Silveira, e gravamos o primeiro disco, LP, produção independente. Comecei uma carreira de músico amador de estudante de outra coisa. Mas era assim: o Mané fazia direito, o Caíto arquitetura, éramos todos estudantes de alguma coisa, e gostávamos de fazer música. A música foi crescendo, montei uma banda própria, depois veio o ZonAzul. Comecei a tocar com o Grupo Um, muito importante nas décadas de 1970 e 1980, de onde saiu o Mauro Senise. Eu entrei no lugar dele.

REVIEW LIVE!

> Dava para conciliar carreiras que exigem tanto do profissional? No decorrer da faculdade começou a carreira de músico de fato. Em 1982, quando eu estava no quinto ano de medicina, já tinha gravado vários discos, viajado pelo País, então surgiu uma turnê para a Europa com o Grupo Um. Foi a primeira vez que fui tocar fora do Brasil. Nesse ano caiu a ficha de que a música não era mais hobby. Fiz esse último ano já sabendo que não ia ser médico, mas fiz como se fosse. Foi uma experiência muito interessante, em que pude realmente entrar nos ambulatórios, cuidar das pessoas. Aprendi muitas lições musicais nesse ano. Disso tudo veio esse despertar interessante. Percebi, primeiro, que eu tinha de ser músico. Segundo, que a medicina não tinha sido em vão, foi um estudo para me engrandecer humanisticamente. E terceiro, passei a ter a visão de que a música tem uma função de harmonizar pessoas. É uma função terapêutica importante, trabalhar a concentração, aprender a ouvir música instrumental, limpar sua cabeça e acompanhar aquilo, se sensibilizar.

> Quais foram as suas influências? O que você gostava de ouvir quando começou a estudar? Foram muitas. Fui descobrindo as pessoas que me emocionavam mais, como Miles Davis, Chet Baker, músicos que tocavam baladas, que construíam os solos com menos notas e mais emoção. Isso logo foi aparecendo para mim como mais interessante. Quando fui estudar os instrumentos, descobri os instrumentistas. Na flauta, encontrei o Hubert Laws. Descobri também o choro, o Pixinguinha com o Benedito Lacerda. Tinha também o jeito de tocar do Copinha. O Nivaldo Ornelas sempre foi um saxofone muito importante para mim. O Cacau, que tocava sax barítono com o Hermeto Pascoal. Hoje eu toco barítono por causa do Moacir Santos e do Cacau. Ion Muniz foi um sax tenor muito importante que eu vi tocar e com quem depois toquei junto. Comecei a entender que havia uma linguagem brasileira a ser buscada, e Paulo Moura foi o responsável em primeira instância. Depois, Edson Machado e Samba Novo, Abel Ferreira com o clarinete e sua maneira de articular o choro, passei a gostar muito disso. Então me interessei pelo samba. Comecei a perceber que não precisava ouvir somente sax e flauta. Tinha o Maciel do Trombone, o Raul de Souza, eu podia trazer o trombone para a flauta, para o sax. O Hermeto Pascoal e o Egberto Gismonti foram músicos muito importantes para a minha geração. Instrumentistas fantásticos com bandas incríveis, todo mundo que tocava com eles crescia muito musicalmente. Traziam um Brasil completamente original e contemporâneo. Comecei a ter influências de tudo. Abri os

DISCOGRAFIA SELECIONADA Como solista Meu Brasil - vencedor do Prêmio Sharp/98, categoria Revelação Instrumental Caminhos Cruzados - duo com Ulisses Rocha O Cineasta da Selva - trilha sonora composta com Caíto Marcondes Quinteto - com Lea Freire Thomas Clausen with Teco Cardoso and Lea Freire (a ser lançado) Grupos Pé ante Pé – Pé Ante Pé e Imagens do Inconsciente Grupo Um – A Flor de Plástico Incinerada Grupo ZonAzul – ZonAzul e LuAnoz Grupo Pau Brasil – Metrópolis Tropical, Lá Vem a Tribo, Babel, Babel ao Vivo e 2005 Grupo Pau Brasil e Edu Lobo – Dança da Meia-lua Orquestra Popular de Câmara – Orquestra Popular de Câmara e Danças, Jogos e Canções Quinteto com Nailor Proveta, André Mehmari, Tutty Moreno e Rodolfo Stroeter – Nonada (a ser lançado) Moacir Santos – Ouro Negro e Choros e Alegrias

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SETUP DE TECO CARDOSO • Saxofones Soprano, Alto, Tenor e Barítono: Selmer Mark VI • Boquilhas Soprano: Selmer Super Section, várias aberturas diferentes, dependendo da situação Alto: Meyer de 5 a 7 Small Chamber Tenor: Norberto Barítono: Yanagisawa 7 • Palhetas Alto, Soprano e Tenor: Frederick Hemke 2 ½ Barítono: Frederick Hemke 3 ½ • Flautas Piccolo Yamaha de Grenadille Flauta em C Powell Flauta em G Haynes, 1958 Flauta Baixo Marcato Coleção de flautas de bambu Várias flautas indígenas, brasileiras, peruanas, espanholas, chinesas

ouvidos para tudo. Phil Woods com seu sax alto, Vitor Assis Brasil, Wayne Shorter. Mas eu gostava de quem tinha conteúdo, de quem com poucas notas dizia quase tudo. > Quem conhece o seu trabalho percebe que você é uma pessoa que pesquisa, que busca outras sonoridades. Como conseguiu chegar a esses resultados com as diferentes flautas com que trabalha? Venho de uma família que gostava de música erudita e também popular. Minha mãe ouvia Tom Jobim, jazz, Rachmaninov, Prokofiev, Vladimir Horowitz, Oscar Peterson, Dave Brubeck, era tudo muito aberto. Sempre gostei de não ter barreiras, de poder trazer todas as linguagens, a música erudita, a popular, os ritmos brasileiros. Quando descobri essa questão sensacional que é a de ser músico brasileiro no Brasil, um país que tem uma diversidade tão grande, percebi a importância disso tudo. Tem mais: o músico paulistano é um pouco menos compromissado do que provavelmente o músico pernambucano. Este tem um compromisso no frevo, o carioca tem no choro, no samba. O paulistano é privilegiado porque tem tudo isso aqui dentro e, ao mesmo tempo, não tem uma tradição tão forte que o faça ter um grande compromisso. A minha busca sempre foi digerir todas essas informações. Quando pego um pife,

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TECO CARDOSO

Inquietude produtiva

TESTE CAPA ESTÚDIO

> Onde você acha que estão as fontes da música brasileira hoje? Como é o processo composicional da música contemporânea? Hoje temos a oportunidade de ter material que até pouco tempo não tínhamos. Por exemplo, um trabalho como o do maestro Moacir Santos, que é um grande inovador no arranjo brasileiro, na questão de lidar com a africanidade, com a afro-brasilidade. Temos um material muito vasto para poder entender um pouco da diversidade do Brasil. Desde achar partituras de Chiquinha Gonzaga até a bossa nova, ou a pós-bossa nova, até o Guinga. Então dá para entender que isso tudo é um leque muito aberto. O que

acho interessante é sacar essa abertura. Fazer música com os elementos básicos: ritmo, harmonia e melodia. É necessário buscar as fontes rítmicas brasileiras, o frevo, o maracatu, o afoxé. Entender por que aquelas manifestações têm determinado swing, de onde vem aquilo. Assim você estabelece relações que vão lhe dando dicas. O gaúcho toca aquelas rancheiras tão mastigadas e articuladas porque come aquela carne mais dura, mastiga e toma chimarrão. Essa é uma forma de entender as manifestações de maneira mais holística. A composição contemporânea é dizer algo que tenha a ver com o seu momento. Quando você olha os movimentos que ficaram e que são importantes, percebe que estão relacionados com o momento histórico dos quais fizeram parte. > O que você busca em sua música? Hoje temos de entender para que fazer música. Busco na música a harmonia, no sentido amplo, de harmonização pessoal. Já houve o momento denúncia. Se olharmos dez, 15 anos atrás, o importante era colocar a verdade. Hoje a arte não precisa denunciar nada. Ao sair na rua, a denúncia pula na sua cara. A arte precisa oferecer uma saída, não mostrar o problema, isso todo mundo está vendo. Quero fazer música nos grupos dos quais faço parte. A música instrumental induz a uma subjetividade que demanda que a audiência entre com uma parte. A pessoa tem de trazer o que ela quer sentir. Por mais que seja uma balada, e que te leve para um lado mais romântico, mais saudosista, cada um que está ouvindo vai criar a sua história dentro daquilo. E acho o improviso importantíssimo, porque é uma continuação daquela melodia, daquela história, muitas vezes tem uma letra, mas só que você está tocando instrumentalmente. É uma responsabilidade continuar uma letra que está rolando.

TECNOLOGIA

A INQUIETUTE PRODUTIVA DE TECO CARDOSO

vou pesquisar o que é a linguagem de uma flauta de bambu nordestina, de uma flauta de bambu indígena, uma flauta Kamaiurá, como cada região usa os instrumentos. Então aproveito esse instrumento para colocar minha informação, minha música, o que quero fazer com isso. Tive o prazer de trabalhar com a Marlui Miranda, que é uma grande musicista e pesquisadora de música indígena brasileira, que me apresentou uma série de flautas: as Uruás, flautas grandes dos rituais do Kuarup; as Kolutás, dos cerimoniais, que possuem afinações bem específicas, com poucos recursos, só têm quatro furos. E assim foi.

REVIEW LIVE!

> Às vezes vemos uma demonstração virtuosística do músico o tempo todo. O que você pensa disso? Acho muito importante o músico estabelecer três contatos. Primeiro é você consigo mesmo. Se não estiver se divertindo enquanto toca, fazendo algo em que acredita, é melhor não fazer. Segundo: você tem de estabelecer contato com os músicos com os quais toca, tem de se divertir e fazer com que eles se divirtam. E o terceiro e mais importante: não tocar somente para si, e sim para uma audiência. Estamos servindo à música, e não o contrário. Sou um músi-

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A INQUIETUDE PRODUTIVA DE

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co que ouve de tudo, mas tem muita coisa do instrumental contemporâneo que não agüento ouvir três músicas. Começa a ficar muito complicado. Às vezes um acorde parado, uma coisa completamente mântrica, modal, simples, fácil, me emociona muito mais do que algo complicado. > Você acredita que a música instrumental está ganhando força novamente? Sim. Por exemplo, o Sopros do Brasil é um projeto do qual participei. Foram quatro fins de semana, veio gente do Brasil inteiro, lotou o Sesc Pinheiros. Outro é o Pife Muderno, do Carlos Malta, sensacional. O trabalho do Proveta, que pode ser considerado um dos maiores solistas e arranjadores do mundo, seja no trabalho com a Banda Mantiqueira ou no disco novo. O Spok veio com uma orquestra de frevo absolutamente de arrasar, poucas big bands no mundo têm esse som. O Brasil tem muita coisa nova e o interessante é que está com um pé na tradição, no folclore, e o outro na modernidade. São trabalhos muito interessantes e acima da média do que tenho visto em festivais de jazz e world music pelo mundo. Temos conseguido fazer aqui uma coisa muito fresca e ao mesmo tempo muito original. Estamos dando continuidade a uma cultura que tem tudo para se colocar no Primeiro Mundo. > O que você está fazendo atualmente? Estou acabando de produzir o disco novo da Lea Freire, um trabalho de dois anos e meio. É uma das compositoras contemporâneas mais fantásticas. Ela traduz toda uma diversidade, mostra um Brasil tradicional de várias vertentes, várias linguagens, mas completamente século XXI, uma cara muito atual. Nesse trabalho, pensamos em cada música como um desafio, com diferentes instrumentações e arranjos. Fizemos 11 faixas com o que há de melhor em matéria de músicos de hoje. Solistas como Proveta, André Mehmari, Paulo Bellinati. Acabando esse trabalho, começo a produzir um disco meu novo. Estou me devendo isso. Quero fazer algumas coisas minhas originais e outras de amigos. Tenho o prazer de trabalhar com grandes compositores, que são o Mozart Terra, a Lea, a Joyce, o Sérgio Santos, gente muito boa. É bom ter gravado esse repertório, gente da minha geração. Também estou devendo um trabalho novo com o Ulisses Rocha, a volta do duo. Acho que agora não vai escapar. Estou louco para fazer, acho que é muito gostoso trabalhar em duo.

DICAS PARA TROCAR DE EMBOCADURA 1. Tenha um local para todos os equipamentos. “Em casa tenho uma estante, além das que levo para os shows. Sempre que chego procuro deixá-los montados em casa, para estar tudo à mão. Dependendo do trabalho, dou mais ênfase a um ou a outro”, conta Teco. 2. A flauta é uma embocadura que deve ser trabalhada todo dia. “Costumo tocar o barítono por meia hora e depois o piccolo, para a boca saber se acostumar a mudanças rápidas. Coloco um disco de que gosto, faço um chorus de soprano, pego a flauta... Vou trocando os instrumentos justamente para a boca mudar rápido”, indica. 3. Para quem toca mais de um instrumento, recomenda-se o uso de aberturas de boquilhas parecidas. Todos os instrumen-

tos de Teco Cardoso são Mark VI, o que facilita a troca. “Posso até achar uma boquilha com um som da pesada, mas prefiro sacrificar isso para render na troca de instrumentos. Senão fico com um supersom num instrumento, mas quando pego o outro demora muito para voltar a embocadura. Em um show não dá tempo”, avisa. 4. Se você quer ser flautista com som de nível flautístico, não pode tocar sax alto com boquilha aberta e palheta dura. Se quer ter um som potente de sax, não vai ter o som de nível flautístico, mas sim de um saxofonista que toca flauta, mais ‘sujinho’, talvez com menos volume. “Os instrumentos são sua voz, é necessário encontrar uma voz que lhe seja coerente, confortável e na qual você se reconheça.” SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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FESTIVAL

Festival de Búzios

FESTIVAL

O festival reuniu grandes nomes da música instrumental brasileira e internacional. Destaque para as bandas Memphis La blusera e Funk Como Le Gusta, além do grupo comandado por Big Joe Manfra. Resultado: sucesso de crítica e público

LUDMILA CURI FOTOS: DIVULGAÇÃO

OS METAIS COMANDAM O SHOW A 9ª. edição do Búzios Jazz & Blues, que aconteceu no fim de julho no balneário fluminense, a cerca de três horas do centro do Rio de Janeiro, trouxe 11 shows de músicos brasileiros, argentinos e americanos, intercalados com as apresentações espontâneas da street band Dixie Square. O festival recebeu uma média de 8 mil espectadores por dia.

A

s apresentações aconteceram em três palcos: na creperia Chez Michou, na Praça Santos Dumont (no centro da cidade) e no Pátio Havana – o único com entrada cobrada. O saxofonista argentino Blas Rivera, primeira atração do evento, deu o tom do Festival com boa música, bom humor e um leve sotaque argentino. No palco do Chez Michou a estreante foi a Garrafieira e seu repertório diversificado – da conhecida A dona da banca, passando pela pérola Falador passa mal, chegando a Forró Brasil, de Hermeto Pascoal, que tocou no bis. O grupo aposta no naipe de metais e contou com a participação de Léo Gandelman, curador do Festival. A formação que se apresentou no balneário carioca contava

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FESTIVAL

DE BÚZIOS

com Mariana Bernardes (cavaquinho e voz), Gabriel Improta (guitarra/violão), Aleh (voz e violão), Thiago Queiroz (sax alto), Henrique Band (sax tenor), Darci da Cruz (trompete e flugelhorn), Alexandre Caldi (sax soprano/flauta), Rodrigo Villa (contrabaixo), Cassius Teperson (bateria) e Joca (percussão).

Sax e rock Na quinta-feira, segundo dia, Marcos Valle abriu o maior palco do evento – o da Praça Santos Dumont – apresentando seu Jet Samba. Uma de suas estratégias na gravação de Jet Samba foi convidar músicos com quem nunca havia tocado. Entre eles o baterista Renato Massa, o baixista Alberto Continentino e o trompetista Jessé Sadoc, que estava em Búzios formando uma dupla qualificada com o saxofonista Renato Franco, antigo parceiro de Valle. O Trio Azymuth, com 30 anos de carreira, fez o show do Pátio Havana na mesma noite. Misturando samba, funk e jazz, a banda mostrou um repertório eclético, dando exemplo na aliança experiêncianovidade. Fechou a noite o blues de Big Joe Manfra. “Com o público ao ar livre, tem de ser mais pressão do que nuance”, explicou o saxofonista e arranjador da banda, AC. E como o sax atua no rock? “Tem de tocar na linguagem, imaginar uma guitarra e tocar”, completou. Além de Big Joe Manfra, a banda contou com Renato Mola (sax alto), Jeziel (trompete), AC (sax tenor e arranjos), Fábio Mesquita (baixo), Beto Werther (bateria) e Léo Torresini (guitarra).

Trupe do Funk Como Le Gusta: naipe de metais ajuda a fazer o som cheio de balanço e ritmo do animado grupo

Memphis La Blusera e FCLG A banda Memphis La Blusera, com 28 anos na estrada, garantiu a animação da segunda noite do festival. O saxofonista Emilio Villanueva, fundador da banda, dançou no palco com o grupo, que levantou a platéia com a ótima Copas Baratas y Chicas Bonitas. No palco do Chez Michou a festa continuou com o Bossacucanova. Cris Delanno exibia naturalidade e vigor à frente do trio Alex Moreira (teclado), Márcio Menescal (baixo) e Marcelinho DaLua (DJ/programação eletrônica e scratches). No repertório, Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinícius de Moraes), O samba da minha terra (Dorival Caymmi), Mentira (Marcos Valle), Vai levando (Caetano Veloso e Chico Buarque), entre outros sucessos da MPB que a banda apresentou com

Léo Gandelman se apresentou em diversas formações, acompanhando os músicos e dando canjas solo, para deleite do público

seu toque contemporâneo calcado no acid jazz. Completando a família Bossacucanova estavam no palco Dado Brother (percussão), Flavio Mendes (guitarra) e Rodrigo Sha (sax tenor e flauta). No último dia do evento, quem marcou presença foi o Funk Como Le Gusta. Mesmo em uma noite chuvosa, todos desceram do palco para uma batucada no meio do público, comandado pelo excelente naipe de metais de Tiquinho (trombone), os trompetistas Reginaldo 16 e Marcelo Cotarelli, que também toca flugelhorn, e os saxofonistas Kito Siqueira (alto e barítono) e Hugo Hori (tenor e flauta). “Somos metais de funk, muito percussivos e rítmicos. Tentamos uma pegada negra em tudo o que tocamos: o funk, a salsa, o samba-rock”, comentou Cotarelli. SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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FESTIVAL

Festival de Búzios

FESTIVAL LUDMILA CURI FOTOS: DIVULGAÇÃO

Blas Rivera, atração internacional em Búzios: forte influência de Astor Piazzolla

O SOM ECLÉTICO DE BLAS RIVERA “Nos EUA era cucaracha. Aqui, gringo. Na Europa sou ‘sudaca’, então é uma mistura de tanta coisa que deu uma salada de mil cheiros e lugares. Este é o resultado no meu trabalho: um pouco de tango, um pouco de jazz e um verniz de clássico”, explica Blas. Esse é o espírito do saxofonista Blas Rivera, recebido com ares de estrela no Festival de Búzios. Uma forte referência na música do saxofonista argentino é a obra de Astor Piazzolla. Até nas piadas contadas no palco, seu nome era citado. Blas toca um sax tenor da marca Selmer e usa uma boquilha Dukoff. Termina seu show com uma saudação otimista, pelo menos para quem gostou do que viu: “Muchas gracias y hasta siempre!”, diz. O saxofonista conversou com Sax & Metais. Veja a seguir trechos da entrevista: > Sax & Metais: Há muitos arranjos, a banda lê bastante. Estamos falando de um som menos improvisado. Por quê? Blas Rivera: Porque isso vem da música clássica. Fiz muita composição nos Estados Unidos, então tem toda uma coisa de contraponto, um verniz de um tratamento

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mais sofisticado, por um lado. Por outro tem bastante improvisação. Assim, nesse contraste que não fica nem uma coisa, nem outra, fica uma soma de tudo/todas. > Há outros ritmos ‘folclóricos’ como a cueca? Tem samba, chacarera, malambo... Esses ritmos vêm da Espanha, com a imigração, com a mistura dos índios. Em geral são ternários, muito parecidos com a valsa, com a música peruana. Não tem a ver com a imigração italiana ou de judeus que chegavam aqui com violino e piano. Folclore é outra coisa, muito mais simples, com instrumento de índio. > Como se trabalha o sax no tango? O sax não é um instrumento que se use muito no tango, mas, nos anos 1970, Astor Piazzolla gravou com o saxofonista Gerry Mulligan – um sax barítono – e fizeram um disco maravilhoso que se chamou Reunion Cumbre. Isso marcou um pouco. Depois disso não vi ninguém botando saxofone no tango. Mas é como eu estava contando para o público, eu tocava piano, até que chegou meu pai com

o saxofone. Por isso estou tocando hoje. Não foi uma inspiração divina ou algo que eu sempre quis usar, foi um pouco imposto. E eu me apaixonei por ele e agora vou até o fim. Agora, quem canta no tango é o violino ou o bandoneon, e eu faço às vezes de bandoneon. Então você pode ouvir uns fraseados e uns caminhos diferentes de uma melodia de sax normal. Porque, na verdade, estou fingindo ou parafraseando um bandoneon. O violino é a faca que você enfia no coração e dá o drama. Toda parte dramática e operística fica com o violino, que se usa muito no tango. Tango é sofrimento, sofrimento, sofrimento e drama. Aqui a gente faz um pouquinho mais alegre, o sax dá aquele som de brilho metálico, de jazz. > Que dicas daria para os jovens músicos? Que estudem muito porque o mercado está cada vez mais difícil e cada vez há melhores saxofonistas. Estamos tão perto um do outro que conhecemos músicos de sax africanos, italianos, brasileiros... É uma bela concorrência e cada vez tem gente melhor. Então, que estudem umas 77 horas por dia e que não percam tempo!

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H i s t ó r i a e Té c n i c a

Por Erik Heimann Pais Fotos Divulgação

ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

1842, pela primeira vez no Conservatório de Paris, para onde havia se mudado, diante de celebridades do meio musical acadêmico, com estrondoso sucesso e desenvolve laços de profunda amizade com personalidades locais. Dentre os primeiros célebres “fãs” do saxofone estão nomes como dos compositores Hector Berlioz, Georges Kastner e Gioacchino Rossini.

TÉCNICAS DE ESTUDO Quando estudamos o saxofone num contexto erudito (seja como solista, camerista ou como parte de um grupo sinfônico), um dos principais objetivos é desenvolver uma sonoridade com timbre homogêneo por toda a extensão do instrumento. É muito comum que em diversos estilos musicais se façam alterações na embocadura ou variações na pressão da coluna de ar para mudar o timbre de determinadas notas ou realizar efeitos no som, incrementando assim a interpretação de um tema.

Porém, numa execução formal, onde o instrumento foi considerado pelo compositor como um todo (levando em conta o mesmo timbre por toda a tessitura), e com todos os detalhes de fraseado, articulação, e dinâmicas quase sempre já definidos na partitura, precisamos nos concentrar em controlar totalmente o saxofone a fim de obter (além de uma sonoridade bonita e afinada), uma igualdade de timbre desde a nota mais grave até a mais aguda do instrumento. Para se aperfeiçoar nesse contexto musical sempre se recomenda o uso dos equipamentos projetados pelas fábricas especificamente para facilitar o alcance a esses objetivos: boquilhas de ebonite “massa” com câmara mais arredondada e menor abertura, palhetas mais resistentes e com menos freqüências agudas, etc. O exercício apresentado a seguir é usado para desenvolver a fluência e homogeneidade entre os registros e pode ser aplicado de acordo com o nível do saxofonista. SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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ERUDITO

* Erik Heimann Pais é saxofonista com formação erudita e popular, Licenciate in Saxophone Performance pelo Trinity College London. Atua como primeiro alto/ soprano na Orquestra de Sopros Brasileira. É professor de Saxofone Erudito e coordenador da área de Sopros do Conservatório de Tatuí – São Paulo (www. cmdcc.com.br).

TESTE

ntoine-Joseph Sax (1814-1894), ou simplesmente Adolphe Sax, possuía mente criativa insaciável. Apesar de ter sido orientado a seguir a carreira musical pelo pai, um notável construtor de instrumentos musicais, só se concentrava na pesquisa de formas de melhorar as imperfeições dos instrumentos de sopro. Estudou canto, flauta e clarinete mas, apesar de ter chegado a ser um proeminente músico, foi o ofício que aprendera desde a infância com seu pai que viria a orientar o rumo de sua vida. Apaixonado pela construção, modificação e, acima de tudo, pela invenção de instrumentos musicais, registrou ao longo de sua vida 26 patentes, tanto da família das madeiras quanto dos metais. Mas foi sua obsessão em busca da criação de um instrumento que “pelo caráter de sua voz possa se aproximar dos instrumentos de corda, porém que possua mais força e intensidade”, o levou a demonstrar que o timbre de um instrumento não está determinado simplesmente pela natureza de seu material, mas sim pelas proporções dadas à coluna de ar que se forma em seu interior. Suas pesquisas utilizando o princípio sonoro da vibração de uma palheta simples em uma boquilha, afixado a um tubo de formato cônico (experimentada adaptando uma boquilha de clarinete baixo ao corpo de um oficleide) deu ao mundo uma sonoridade que até então nunca antes se ouvira. Nascia em 1841 o saxofone, um instrumento de características inéditas. Possuidor de um cromatismo ágil e perfeito, e capaz de produzir um timbre com suavidade típica dos instrumentos fabricados em madeira e num piscar de olhos atingir uma potência sonora quase igualável aos poderosos metais. Idealizado desde o início em duas grandes famílias, uma em Si bemol e Mi bemol para servir as bandas e outra em Fá e em Dó para as orquestras, mal sabia seu criador, que o saxofone, seria, décadas após sua morte, o instrumento musical que imortalizaria seu nome na História da Música. Adolphe Sax apresenta o saxofone, em

ARTIGO ERIK HEIMANN PAIS

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SAX ERUDITO

Exercícios e dicas de respiração para estudar o estilo erudito

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H i s t ó r i a e Té c n i c a

SAX ERUDITO

EXERCÍCIOS Para um melhor proveito deste estudo é importante ter à mão um metrônomo, conhecer bem a digitação da escala cromática e controlar as articulações tenuto e legato. 1. Ligue o metrônomo em uma velocidade lenta (q = 60 por exemplo).

TESTE ERUDITO ESTÚDIO

ARTIGO ERIK HEIMANN PAIS

2. Toque a primeira nota de forma longa (equivalente a uma ou duas semibreves), na dinâmica forte. Articule a nota suavemente com a língua para iniciá-la (tenuto). Concentre-se no formato da embocadura e no apoio da pressão de ar.

3. A seguir, toque o exercício com todas as notas articuladas (tenuto), sem alterar a embocadura ou a forma de soprar que foi usada anteriormente. Obviamente a medida que os intervalos forem aumentando alguns ajustes dos “vocalises” (posições internas da cavidade oral) serão necessários. Procure concentrar-se em não alterar o formato da embocadura, nem a velocidade do sopro ou a posição interna da língua. Concentre-se também na afinação das notas que se movem (em relação à nota que não se altera), na igualdade do timbre e na sutileza da articulação.

TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

Obs.: Respire sempre que for necessário para manter a dinâmica forte e o som cheio, mas repita o intervalo que foi interrompido pela respiração.

4. Em seguida, altere a articulação como sugerido. Mantenha sempre o valor total das notas (especialmente a segunda da ligadura). Proceda da mesma forma com as respirações.

Obs.: Evite qualquer oscilação na afinação das notas (especialmente as ligadas) durante a mudança de uma para a outra (glissandos ou bends).

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SAX ERUDITO

HISTÓRIA E TÉCNICA

FIM

5. Por último, execute o exercício inteiro ligado, articulando a primeira nota e após as respirações. (mas não se esqueça de repetir os intervalos interrompidos pela respiração).

Considere o exercício acima de nível Básico. Execute a extensão de uma oitava começando de diversas notas e aos poucos vá aumentando a extensão dos intervalos. Uma execução de nível intermediário pode ser exercitada com limite de duas oitavas.

Uma execução de nível avançado pode ser exercitada abrangendo praticamente todo o instrumento.

Obs.: A velocidade lenta e constante é um auxílio para que as mudanças de digitação não interfiram nos aspectos que estão sendo trabalhados.

ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

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David Ganc

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Um camaleão da flauta e do sax

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POR: REGINA VALENTE FOTOS: DIVULGAÇÃO

DAVID GANC

Um camaleão da flauta

É um músico de grandes referências: estudou flauta com a mestra Odette Ernest Dias, se formou em música nos Estados Unidos e hoje é um dos mais respeitados e versáteis instrumentistas brasileiros, com mais de cem participações em discos de diversos artistas

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avid Ganc começou a aprender flauta doce aos 7 anos, quando tocava música renascentista e barroca. “Era uma atividade terapêutica para ajudar na cura da asma, que tive quando criança”, explica o músico. Aos 14 anos, ingressou na Pró-Arte, no Rio de Janeiro, para estudar flauta transversal com Odette Ernest Dias, e em seguida, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se graduou em flauta erudita. Das aulas com a professora Odette, o músico tem as melhores lembranças. “Foi uma iniciação excelente com esta mestra. Guardo a paixão pela flauta e pela música que ela me transmitiu e que ainda tem até hoje”, conta. Apesar da formação erudita, Ganc sempre desenvolveu trabalhos com música popular. Aos 16 anos, já estava gravando com o grupo A Barca do Sol, apadrinhado por Egberto Gismonti. Chegou a gravar três discos com a banda, que inclusive foram relançados em CDs, pela Warner Music. “Foi uma ótima fase, que chamo ‘período romântico’, pois ensaiávamos sete dias por semana, durante um bom tempo, com um conceito de trabalho musical típico dos anos 1970, o de ‘levar um som’. Mesmo com arranjos escritos, composições muito bem estruturadas, havia espaço para improvisação. E, na época, a mis-

DISCOGRAFIA Baladas Brasileiras (1996) Caldo de Cana (2000) David Ganc e Quarteto Guerra Peixe Interpretam Tom Jobim (2004) Pixinguinha + Benedito - em parceria com Mário Sève (2005)

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PERFIL

DAVID GANC

tura de rock progressivo e música brasileira fazia a minha cabeça”, relembra o músico. Após o fim do grupo, Ganc foi para os Estados Unidos estudar saxofone e arranjo na Berklee College of Music, pois sentia que precisava se atualizar. “Tinha dez anos de flauta a mais que o sax e queria equipará-los. No fim das contas, aprendi muito mais coisas que pensava. Nos Estados Unidos o músico recebe uma formação mais aberta, mais completa. Todos os músicos têm de estudar arranjo, harmonia, etc. E só vim a utilizar essas técnicas anos depois da minha volta”, conta Ganc. Com isso, ele conseguiu ter uma formação ao mesmo tempo acadêmica e popular.

Palcos e estúdios Após retornar ao Brasil, tornou-se cada vez mais requisitado em gravações em estúdio e participações com músicos de diversos estilos. Hoje soma a participação em mais de 150 discos, de música instrumental e de cantores de MPB, como Caetano Veloso, Beto Guedes, Gal Costa, Paulo Moura, Luiz Melodia, Nivaldo Ornelas, Olívia Byington, Moraes Moreira, Simone, Alcione, Elba Ramalho, Cássia Eller, João Bosco, Herbert Vianna, entre muitos outros. Também participa do CD Sopro Contemporâneo Brasileiro, seleção dos melhores instrumentistas de sopro do Brasil, lançado em 1994 pelo selo Visom Digital, e do CD Os Bambas da Flauta (Kuarup Discos, 2003), que reúne gravações dos melhores flautistas brasileiros em atividade.

FATOS E LEMBRANÇAS INESQUECÍVEIS Pedimos a David Ganc que destacasse cinco momentos marcantes de sua carreira. Confira: 1) O início com A Barca do Sol em shows memoráveis com Egberto Gismonti e Milton Nascimento 2) Os quatro shows no Free Jazz 95 com Stevie Wonder no Metropolitan (RJ) e no Estádio do Pacaembu (SP) 3) Show com Elba Ramalho no Montreux Jazz Festival 99 (Suíça) e show de encerramento da Expo 98 Lisboa (Portugal) 4) O primeiro tour solo para os Estados Unidos (especialmente Nova Orleans) em 2003 5) A indicação para o Prêmio TIM 2005 com o terceiro CD David Ganc e Quarteto Guerra Peixe Interpretam Jobim

FIM

O SETUP DE DAVID GANC SAXOFONES Alto • Selmer Mark VI - comprado nos Estados Unidos em 1982, fabricado no fim da década de 1960. “É da melhor safra da Selmer”, destaca Ganc. • Boquilha Beechler de metal nº 7 • Palheta Frederick Hemke #3. Tenor • Selmer Serie III, comprado em 1999 na própria Selmer, em Paris. “Após 20 anos tocando com um Selmer Mark VII, decidi trocar por um instrumento atual, por sua mecânica, material e timbre.” • Boquilha Dave Guardala, modelo Michael Brecker • Palheta Frederick Hemke #3.

mo ágil, timbre etéreo e som vigoroso”, analisa. Bocal feito por Luis Tudrey. • Flauta em G Armstrong – por seu timbre aveludado, década de 1980. • Piccolo Yamaha modelo YPC 62 de ébano, da década de 1970. “Gosto por ter um timbre doce para um flautim e suas sapatilhas eternas”, destaca. • Flauta Baixo Júpiter Specialty – “Minha nova aquisição, completando a família. Adquirida em 2004 em South Bend, Indiana (EUA), durante a turnê com Mário Sève. Uma flauta baixo acessível e com excelente afinação”, comenta. • Diversas flautas étnicas, pifes do Egildo Viera, muito afinados, flautas doce Küng e Moeck.

FLAUTAS • Flauta em C Sankyo modelo Artist, que está com o músico há 30 anos. “Pedi uma Muramatsu e recebi uma Sankyo, que estava sendo lançada no mercado e depois se estabeleceu como uma das melhores do mundo. Mecanis-

EFEITOS E EQUIPAMENTOS • Ganc já usou pedais como oitavador e delay, e hoje prefere apenas um bom reverb. • Microfone AKG 414. “Procuro sempre a regulagem flat, que não deturpa o som do sopro”, sugere.

David Ganc acompanhou a cantora Elba Ramalho durante seis anos e se apresentou nos palcos de diversos países como Estados Unidos, França, Itália, Portugal, Alemanha, México, Uruguai e Suíça (Montreux Jazz Festival 99). Também tocou com Tim Maia, Emílio Santiago, Zé Ramalho e Geraldo Azevedo, entre outros grandes nomes da MPB, e em diversos festivais mundo afora.

Por outro lado, ele lembra que ainda falta uma catalogação organizada da MPB, vocal e instrumental. “Também vejo que há muita dificuldade de se conseguir partituras tanto de musica clássica de autores brasileiros como algumas de música popular”, aponta.

Caminhos para o ensino musical Com essa bagagem teórica e prática, Ganc sabe que o melhor caminho para o estudante que pretende seguir carreira musical é ter uma formação completa e bem orientada. Hoje, ele acredita que o acesso à informação tem ajudado os aspirantes a profissionais e que a educação musical está melhor do que há 30 anos, com músicos mais ligados, buscando se aprimorar cada vez mais. “Além disso, houve um aumento significativo em quantidade e qualidade de material didático com base na música brasileira, os songbooks com a obra dos compositores, como os cinco volumes da obra de Tom Jobim, por exemplo”, destaca. Outro ponto positivo é o aumento no número de pequenas escolas e cursos que ensinam música popular brasileira, e os festivais de inverno realizados em várias cidades do Brasil.

Ganc fez o caminho quase ‘inverso’, aprendendo primeiro flauta, para depois enveredar para o sax. Hoje, é muito requisitado para gravações em estúdio com artistas de vários estilos SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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ANÁLISES

O polivalente da RMV

SAX ALTO ARENA O

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO

SAX ALTO ARENA - POR EDU AMARAL

TECNOLOGIA

saxofone alto Arena, importado da China pela RMV Imports, vem bem acomodado em um estojo retangular de fibra, sem cantos vivos, e preenchido com isopor, com acabamento interno de pelúcia preta. À primeira vista, tem-se a impressão de que o case não é rígido o suficiente na parte externa, mas internamente a camada de isopor é bem espessa e de densidade média-alta. Vale lembrar que o critério usado na avaliação deste sax se destina à categoria em que o Arena se encontra: um sax importado, bom e de baixo custo.

ACESSÓRIOS E MECÂNICA

REVIEW LIVE!

Ao abri-lo, notei que se trata de um instrumento com um laqueado muito bonito. Todos os acessórios vêm inclusos: boquilha, luvas brancas, pano para limpeza e correia simples. Quando manuseei o sax, percebi o desenho na campana feito artesanalmente, semelhante ao de instrumentos de alto nível como Selmer, Yamaha e Conn. O tudel encaixa-se com facilidade ao corpo do instrumento. O Arena possui uma mecânica confortável, moderna e ergonômica. Vem com a chave do Fá sustenido da 3ª oitava, a chave do Dó da 1ª oitava (grave) possui um leve alongamento, dando maior conforto ao acioná-la e suas regulagens das chaves do Bb, B, C e D# graves são ajustadas por parafusos. A chave do B, em especial, possui uma microrregulagem para trabalhar melhor com a chave do C#. A junção da campana com o corpo do instrumento, região onde existe uma curvatura acentuada, como um cotovelo, é feita por parafusos, seguindo o padrão Yamaha, o que facilita e muito o reparo no caso de acidentes que possam amassá-lo. O apoio do polegar da mão direita é feito por uma peça de metal com regulagem através de parafuso. No tudel, há a opção de porta-lira. O Arena possui também um protetor de mecanismo da mão direita, situado do lado esquerdo do instrumento.

CHAVES E MOLAS Ao dedilhar o instrumento, pude perceber a regulagem muito bem-feita. Nenhu-

ma chave apresentou folgas ou falta de calços, a pressão das molas estava perfeita. O instrumento vai às lojas com o certificado de garantia de regulagem da Ébano. Senti certa dificuldade no balanceamento. Sugiro ao fabricante que altere a posição do conector da correia, na parte de trás, elevando-o um pouco mais para melhorar o balanceamento do centro de gravidade do instrumento. Assim, não se coloca tanto peso sobre o polegar direito e evita-se que a boquilha escorregue devido à sua inclinação excessiva. Todas as sapatilhas do Arena possuem refletor de metal, o que melhora a projeção do som. Seu laqueado e verniz são uniformes, trazendo ao instrumento um nível muito bom de acabamento.

SONORIDADE Testei o sax Arena com duas boquilhas: a que veio no case e a que uso normalmente, uma Berg Larsem de metal, e obtive dois resultados. A boquilha do case é muito fechada e com baixa projeção de som, e não pude explorar muito o sax com ela. Aconselho o uso de uma boquilha mais aberta. Com a minha boquilha, gostei do timbre, um som cheio, não metálico e com boa projeção sonora. Não perdeu o som nem nos graves, nem nos agudos, mantendo a afinação constante em toda a sua extensão. Não encontrei qualquer tipo de vazamento; a mecânica moderna facilitou a velocidade e deu conforto ao tocar. Explorei as high notes (superagudos) e obtive uma boa resposta, saíram com facilidade e afinadas.

CONCLUSÃO O sax alto Arena é uma boa opção e de baixo custo para quem está entrando para o mundo do saxofone, pois pode ser usado como instrumento de estudo por ter afinação constante e mecânica moderna. Dentro da categoria em que o Arena se encontra, posso dizer que é uma das boas opções de custo-benefício que existem no mercado.

SAX ALTO ARENA Importador: RMV Imports Procedência: China Prós: bom acabamento, ótima regulagem, mecânica moderna, custo-benefício Contra: suporte da correia muito baixo Preço médio: R$ 1.600,00 Garantia: 12 meses Afinação Sonoridade Mecânica Custo-benefício

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9 8 9 10

Utilização recomendada J Estudo J Apresentações ao vivo J Gravação em estúdio

Quer falar com o autor desta matéria? Edu Amaral, saxofonista: (19) 9704.7099 ou dudajazz@uol.com.br Tire suas dúvidas com o importador: RMV, (11) 6404.8545 ou marketing@rmv.com.br

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CLARINETE JÚPITER JCL631NT O

TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

Quando montei o clarinete, notei que as cortiças dos encaixes das partes são bem reguladas. Por isso, o instrumento montado fica bem firme, sem jogo. Quando há este jogo nos encaixes, acaba atrapalhando muito o estudo do instrumento. O chaveamento é niquelado, e o metal utilizado é resistente, o que vai manter o clarinete regulado por um bom período. As chaves

Pelo fato de ser feito em ABS, o instrumento tem uma gama pequena de harmônicos e não consegue ter uma boa amplitude sonora, dificultando um pouco a execução de notas dinâmicas (forte-piano). Isso causa também um certo desequilíbrio em relação ao timbre de cada nota, porque algumas notas se tornam mais escuras do que outras. É importante ressaltar que o clarinete profissional, bem mais caro, tem seu corpo todo feito em madeira. A afinação é um dos fatores mais importantes a se considerar na escolha do instrumento e muitos itens podem interferir. Um deles é a furação na hora da construção do instrumento, em que a distância entre os orifícios deve ser precisa, e a altura das chaves devem cobrir os orifícios. Por isso é aconselhável que o estudante experimente vários instrumentos, inclusive da mesma marca e modelo, porque podem haver pequenas diferenças. Em relação ao Júpiter JCL631NT, notei que a afinação é relativamente estável, passando do registro médio para o agudo com regularidade, principalmente no agudo, em que o clarinete

Ao ver este instrumento, tão bem cuidado, me lembrei dos problemas que enfrentei no Brasil como estudante de música, pois não havia clarinetes de bom nível para iniciantes. Os alunos começavam com instrumentos de qualidade ruim mesmo. É bom ver os cuidados que a Júpiter tomou, em respeito aos clarinetistas que estão começando. Não é simplesmente fabricar um instrumento dirigido aos estudantes, mas dotar esse instrumento de um padrão de qualidade mínimo, para que o aluno tenha condições para iniciar seus estudos, e a Júpiter teve esta preocupação.

ESTÚDIO

MECÂNICA E REGULAGENS

CONCLUSÃO SONORIDADE E AFINAÇÃO

NOVIDADE

Confesso que fiquei surpreso quando vi o case do instrumento, principalmente por ser um clarinete destinado a estudantes. Ele vem bem acomodado em um estojo feito de fibra, compacto e leve, o que facilita no transporte diário. Desta forma, em uma mochila, por exemplo, o estudante pode levar comodamente o instrumento, acessórios e os livros de estudo. Bem diferente dos estojos pesados e enormes que já vi de outras marcas. Dentro do case, o instrumento me pareceu bem protegido e preso pelo forro de espuma. O chaveamento é todo niquelado, de boa aparência.

tende a baixar a afinação. Uma dica que faz a diferença é a escolha da boquilha, peça importantíssima para o clarinetista. Ela é definitiva para uma boa emissão de som, flexibilidade nas articulações e afinação do instrumento. Aconselho o estudante a procurar uma marca e um modelo de fabricantes especialistas em boquilhas. Muitos clarinetistas aqui no Brasil usam a marca Vandoren modelos B40 e B45. Há outros bons fabricantes como a Rico, com modelos específicos para clarinete.

TESTE

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

são bem ajustadas, sem muito ruídos. Outro item é a pressão das molas, de extrema importância para as chaves do clarinete, por isso devem estar bem reguladas. Ao tocar o instrumento, pude verificar uma pressão homogênea em todas as chaves. As sapatilhas bem colocadas e ajustadas, sem vazamentos, proporcionam uma digitação leve e segura, facilitando a articulação, principalmente em exercícios de legato-staccato, que exigem muito da articulação da língua.

CLARINETE JÚPITER JCL631NT: POR DOMINGOS IUNES ELIAS

clarinete Júpiter JCL631NT é um modelo para iniciantes. Afinado em Bb, apresenta corpo em ABS, 17 chaves e seis anéis niquelados. O ABS é uma resina plástica muito compacta, de cor escura, que neste caso imita o ébano, madeira com a qual eram construídos originalmente. Tem apoio regulável para o polegar, o que ajuda na posição da mão direita, ajustando-o em relação ao tamanho da mão, dando maior firmeza e oferecendo conforto ao músico. Acompanha lubrificante, flanela para limpeza, uma palheta Vandoren nº. 2 ½, manual de instruções e case.

ANÁLISES

Acabamento de Primeira Linha

CLARINETE JCL631NT Fabricante: Júpiter Prós: acabamento e custo-benefício Contra: pouca amplitude sonora pelo fato de ser feito com ABS Preço médio: R$ 900,00 a R$ 1.400,00 Garantia: 3 meses Afinação Sonoridade Mecânica Custo-benefício

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Utilização recomendada J Estudo J Apresentações ao vivo J Gravação em estúdio

Quer falar com o autor desta matéria? Domingos Iunes Elias (clarinetista): (11) 5507-3782 ou mingoelias@ajato.com.br Tire suas dúvidas com o fabricante: Júpiter (Habro Music) (11) 3224-9787 ou marketing@habro.com.br SAX & METAIS SETEMBRO / 2006

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REVIEWS CDs e DVD e Livro Thesaurus of Scales and Melodic Patterns

Livro

Autor: Nicolas Slonimsky Importado, texto em inglês Para todos os instrumentistas

Desde sua primeira publicação, em 1947, grandes músicos, de Arnold Schoenberg a John Coltrane, usaram esse método. Verdadeira biblioteca detalhada de escalas e padrões para improvisação e composição. Guia de referência para todos os músicos, de estudantes a profissionais, especialmente para improvisação jazzística. Apresenta mais de 1400 exemplos. Preço de R$ 110,90 na Free Note - (11) 3085-4690 ou www.freenote.com.br

Conexão Nordeste Gréia ao Vivo

CD

Artista: Jefferson Gonçalves Blue Time Records www.jeffersongoncalves.com

Jefferson Gonçalves é um gaitista com mais de 15 anos de experiência. Já gravou e acompanhou artistas de renome do cenário nacional como Belchior, Victor Biglione, Celso Blues Boy, Vanessa Barum, entre outros. A partir de 2004 lançou-se em carreira solo em território nacional e em turnê pelos EUA ao lado de Big Gilson (guitarra) e do cantor inglês The Wolf. Agora Jefferson lança seu segundo disco, intitulado Conexão Nordeste – Gréia ao Vivo, gravado em 2005 no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. As músicas são uma miscelânea de toda a música regional brasileira: forró, maracatu, baião e rock. “A vontade de fazer um disco ao vivo é antiga. Percebo

Dizzy Gillespie - Sextet ’77 Artista: Dizzy Gillespie ST2 Vídeo

Produtor e proprietário da gravadora Verve, Norman Granz foi uma das pessoas que mais contribuiu para a realização, gravação e filmagem de inúmeros shows de jazz. Possui um incrível acervo que agora está começando a sair em DVD. Dizzie Gillespie é, sem dúvida, um instrumentista de reputação lendária e um dos maiores trompetistas da história do jazz. Juntamente com Charlie Parker, é considerado responsável pelo movimento bebop. Este DVD traz o show gravado ao vivo

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DVD

em 1977, no Montreux Jazz Festival. Dizzy Gillespie, em sua melhor forma, vem acompanhado de um sexteto composto por Jon Faddis (trompete), Monty Alexander (piano), Ray Brown (contrabaixo), Jimmie Smith (bateria) e Milt Jackson (vibrafone). O repertório inclui os clássicos Girl of my Dreams, Once in a While e Here Tis. Em tempo, não podemos deixar de destacar as belíssimas interpretações de Jon Faddis em Here’s that a Rainy Day, em que o trompetista explora os agudíssimos de seu instrumento e ainda Milt Jackson na balada But Beautiful.

Por Débora de Aquino

que nos shows é mais visceral a integração do público com o artista”, comenta Jefferson. Neste CD, Jefferson vem acompanhado por: Kléber Dias (voz, dobro, violão de 12 cordas e bandolim), Sérgio Velasco (dobro, violão de seis cordas, Lap Steel e vocal), Fábio Mesquita (baixo), Beto Werther (bateria e vocal) e Marco B.Z. (percussão). Como convidados o gaitista recebeu as participações especiais de: Siri (percussão em todas as faixas) e Cecelo Frony (vocal e dobro) na música Rollin & Tumblin.

Radamés e o Sax

CD

Artista: Léo Gandelman Biscoito Fino

No centenário do maestro Radamés Gnattali (1906 1988), o saxofonista Léo Gandelman dedica um álbum inteiro às músicas compostas exclusivamente para o sax. Para ajudar em seu processo de criação, Radamés contou com a ajuda dos mais importantes saxofonistas de sua época: Luis Americano, Zé Bodega, Sandoval Dias e Paulo Moura. Esse contato o ajudou a desenvolver uma linguagem moderna para o sax brasileiro. É exatamente isso que Léo Gandelman nos mostra neste álbum. Aqui estão reunidas décadas da evolução do sax, ao qual o músico se dedicou para a criação desse projeto. O instrumentista vai do sax soprano ao barítono em várias formações. As peças para sax tenor são Pé ante Pé, Amigo Pedro e Brasiliana nº 7. A seguir, as músicas dedicadas ao sax alto Serenata no Joá e Valsa Triste. Daí vem a surpresa das músicas para naipe de sax, Assim é melhor, A fumaça do meu Cachimbo e Remexendo. Os músicos de base que participam do CD são os integrantes do Novo Quinteto, formado por Henrique Cazes (guitarra), Maria Teresa Madeira (piano), Marcos Nimrichter (acordeon), Omar Cavalheiro (contrabaixo) e Oscar Bolão (bateria). Esse quinteto possui a mesma formação idealizada por Radamés, que aqui foi recriada. A única participação vocal do álbum conta com Zélia Duncan, na música inédita Saudade de Alguém, com letra de Paulo César Pinheiro.

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SAX & METAIS MAIO / 2006

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WORKSHOP

Saxofone

EMOÇÃO E EXPRESSIVIDADE Por Ubaldo Versolato

TESTE

do ouvi pela primeira vez Years of

Solitude, do long-play “Summit”, de Astor Piazzola e Gerry Mulligan. Fiquei im-

NOVIDADE

pressionado com o lirismo e a melanco-

O paulista Ubaldo Versolato está há mais de 15 anos na Banda Mantiqueira e na Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo, quando elegeu o saxofone barítono, a flauta, o piccolo e o clarinete como seus instrumentos principais. Atua no cenário da música instrumental brasileira em diversos grupos, realiza gravações e shows de cantores nacionais e internacionais, no Brasil e no exterior. Contatos: www.bandamantiqueira.com.br

lia, a força, a energia e a originalidade da peça. Foi esta música que despertou meu

contexto da música erudita.

narração sob o mesmo tema principal.

No lirismo antagônico de Years of Soli-

Durante todo percurso histórico da

to de timbre diferenciado, e me levou a

tude é sugerida uma história de tristezas e

melodia, estes dois instrumentos se con-

dedicar grande parte da minha história

alegrias, encontros e desencontros, amores

trapõem na linguagem musical caracterís-

musical ao seu descobrimento e aperfei-

e desamores, fracassos e êxitos, temores e

tica de Piazzola, com uma enormidade de

çoamento técnico e musical.

ousadias. Ao combinar, com originalida-

recursos harmônicos, impactantes contra-

REVIEW

Quero falar aqui da importância da

de, o saxofone barítono de Gerry Mulligan

pontos, rubatos, entradas em anacruses e,

emoção na música, que mexe com os

com seu bandoneon, Piazzola jorra a força

em especial, nessa música, a riqueza tímbri-

nossos sentidos primordiais, com o nos-

da latinidade e o feeling jazzístico america-

ca, que outorga a esses dois instrumentos

so extra-sensorial. Sem emoção, não há

no, e ainda põe esse instrumento de sopro

– o saxofone barítono e o bandoneon – a

expressividade. Não há a originalidade

no seu devido lugar, destacando-o como

desenvolverem a melodia num envolvimen-

do som, da interpretação única, a marca

solista, já que muitas vezes, no cenário

to crescente. Dois solistas que se fundem

própria do instrumentista. Sempre digo

musical, ele é “colocado no canto”, por ser

num solo só, alinhavado em fraseados me-

aos meus alunos que o estudo da técnica

um instrumento grave, embora importan-

lódicos, possibilitando a um instrumento

instrumental é recurso fundamental para

tíssimo no contexto de uma orquestra ao

grave, como o barítono, explorar sons na

a execução de uma obra; mas, técnica sem

preencher o naipe dos saxofones.

região aguda, muito rica em recursos.

LIVE!

interesse pelo sax barítono, instrumen-

TECNOLOGIA

ESTUDO

EMOÇÃO E EXPRESSIVIDADE - POR UBALDO VERSOLATO

T

inha pouco mais de 18 anos, quan-

emoção é o mesmo que fala sem expres-

Years of Soliltude inicia com acordes

Years of Solitude não tem grandes difi-

tensos, num diálogo introdutório entre a

culdades técnicas; no entanto, todas as ve-

orquestra e o sax barítono, como uma pre-

zes que a executo, seja com um trio ou na

paração, um chamado: “atenção, ouvintes!

Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São

A obra de Astor Piazzola, como a sua

Vou contar uma história.” Logo a seguir,

Paulo, sinto-me envolvido e elevado pela

própria vida, são viagens de ida e volta per-

entra o tema melódico principal, com

grandeza da obra. Muitas vezes, ao térmi-

meadas por referências culturais e identida-

profunda suavidade e lirismo, possibili-

no da apresentação ou do concerto, pessoas

des que se fundem em uma feliz mestiçagem

tando, aos poucos, introduzir a rítmica

vêm falar comigo sobre a emoção que con-

musical. O compositor se sobrepõe ao regio-

crescente, típica do tango, num compasso

segui transmitir-lhes. Algumas nem conhe-

nalismo das suas próprias raízes argentinas

quaternário. São definidas as semínimas

cem Piazzola. Chego à conclusão de que,

e ao tempo, para transcender, assim como

na fórmula 3-3-2, ou seja, a primeira, a

quase sempre, criador e criação se indepen-

Hermeto Paschoal, à música universal. Ex-

quarta e a sétima acentuadas, em um to-

dem. A música tem vida própria. Cabe a

celente intérprete, coube a ele a façanha de

tal de oito tempos, que funcionam como

nós, criaturas, os músicos, entender a histó-

eleger o tango (tido para escutar e dançar) e

uma ponte para o ponto culminante da

ria a ser contada, buscar sua sonoridade, in-

de introduzi-lo à música sinfônica. Muitos o

melodia, a entrada do bandoneon. Com

terpretar os sentimentos e dar a expressão.

acusaram de desvirtuar o próprio tango e o

forte presença, este instrumento ilumina a

É isso que faz da música uma arte.

são, não há intérprete. É língua morta.

Contar uma história

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YEARS OF SOLITUDE Astor Piazzolla Sax Barítono - Eb

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WORKSHOP

YEARS OF SOLITUDE Astor Piazzolla continuação

TESTE NOVIDADE ESTUDO

CARLOS MALTA • PONTO DE BALA

TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

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EXERCÍCIOS: ARTICULAÇÃO NÍVEL 1 Jefferson Gonçalves Jefferson Gonçalves é gaitista, do Rio de Janeiro, e está em turnê pelo Brasil com seu segundo e mais recente CD Conexão Nordeste - Gréia ao Vivo. Tocou com artistas como Zé da Flauta, Tavares da Gaita e Carlos Malta. Site: www.jeffersongoncalves.com

TESTE

audações amigos de sopro! Nesta coluna mostrarei alguns exercícios feitos para que você tenha uma boa articulação na gaita. Pratique diariamente e tente aumentar o ritmo gradativamente. Dessa forma, terá uma boa agilidade no instrumento.

NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

EXERCÍCIOS PARA ARTICULAÇÃO NÍVEL 1 - POR JEFFERSON GONÇALVES

S

WORKSHOP

Gaita

LIVE!

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WORKSHOP

Flauta

SONORIDADE NA FLAUTA Marcelo Monteiro

TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA

SONORIDADE NA FLAUTA - MARCELO MONTEIRO

U

ma boa sonoridade na flauta consiste em uma boa embocadura e respiração adequada. Sugiro dois exercícios, simples e de notas longas, que vão ajudar você a obter mais firmeza na embocadura e uniformidade nas notas. A prática diária desses exercícios é fundamental para o progresso no instrumento. Mantenha-se relaxado, inspire com a boca através do diafragma, como se estivesse bocejando, enchendo os pulmões rapidamente.

Toque, em seguida, a primeira nota no tempo normal (semínima). A segunda nota, que tem a fermata, deve ser tocada longa, prolongando-a até onde conseguir. Procure manter a nota mais uniforme e sem oscilações, o máximo possível. Esse é um exercício que deve ser praticado sem pressa, de forma tranqüila. Por isto, preste bastante atenção em seus ombros e garganta, que devem estar também bem relaxados.

Marcelo Monteiro é flautista e saxofonista e toca no grupo Projeto CRU (www.projetocru. com.br). E-mail: marcelo. sax@terra.com.br

EXERCÍCIOS DE SONORIDADE 1

REVIEW LIVE!

EXERCÍCIOS DE SONORIDADE 2

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WORKSHOP

Clarinete

MELHORANDO O STACCATO Michel Moraes

TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

MICHEL MORAES - MELHORANDO O STACCATO NA CLARINETA

O

LIVE!

staccato é importantíssimo porque ajuda a indicar o caráter do que se está tocando e define melhor certas frases musicais e ritmos. Até o fim do século XVIII, os compositores não indicavam nenhuma articulação em suas partituras, dando ao músico total liberdade. O staccato é feito quando interrompemos a vibração da palheta com a língua, encurtando o valor da nota. A língua funciona como uma válvula que controla o fluxo do ar que faz a palheta vibrar. Para que esse processo se dê de forma eficaz, deve-se usar a ponta da língua, firme, tocando a ponta da palheta. Evite deixar a língua mole ou tocar o meio da palheta, pois perderá precisão e velocidade. O ideal é que ela permaneça bem próxima da ponta da palheta, sempre. Boa parte dos clarinetistas sente pavor ao ver uma partitura em andamento rápido sem ligaduras, principalmente se houver muitos pontinhos sobre as notas. Existem inúmeras formas de se trabalhar o staccato na clarineta

Michel Moraes é clarinetista do grupo Madeira de Vento e atua em múltiplas formações desde orquestras sinfônicas, grupos de música de câmara e popular. Contato: michelmoraes@madeiradevento.mus.br

e vou apresentar algumas delas. A primeira coisa a se fazer é estudá-lo lentamente, prestando atenção se saem todos com uma mesma intensidade e com a mesma duração. Não adianta forçar um andamento rápido se não o fizer lento o mais preciso quanto possível. O uso do metrônomo é indispensável. É importante também manter a pressão do ar, mesmo enquanto a língua está em contato com a palheta, porque se gasta muito mais ar para colocar a palheta em vibração diversas vezes (no caso do staccato), do que para sustentar a palheta vibrando a partir de um sopro inicial (no caso das notas longas e do legato). Você vai notar também que existe uma grande diferença quanto à dificuldade de execução nos diferentes registros da clarineta, e nossa meta é deixar o staccato

uniforme. Comece em 60 no metrônomo e vá aumentando progressivamente. Quando sentir que o andamento está ficando confortável, passe para o outro exercício. Com o aumento da velocidade, começa a aparecer mais uma dificuldade: a respiração. Procure respirar a cada dois compassos, entre o último tempo do compasso e o primeiro do próximo. Não ceda à tentação de ‘comer’ algumas notas para respirar! Essa é mais uma dificuldade a ser superada. Tente praticar com uma boa postura e de forma bem relaxada. Não fique mais de 15 minutos repetindo esse treino, pois a língua, como qualquer músculo, começa a se fatigar. Faça pausas. Ao longo do tempo você conseguirá maior resistência. Lembre-se de que o indicador para aumentar o andamento ou trocar de exercício é sempre a qualidade.

EXERCÍCIO 1

EXERCÍCIO 2

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EXERCÍCIO 3

EXERCÍCIO 4

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Aulas de sax e flauta transversal

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