Sax & Metais #6

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EDITORIAL

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Esta revista apóia

DO SAX AOS METAIS

stou estreando meu primeiro editorial para a nossa revista. Confesso que, para mim, escrever nunca foi atividade das mais confortáveis, até começar a escrever um texto aqui, outro ali, para você, leitor, sobre assuntos que muito nos interessam, o mundo dos instrumentos de sopro. Digo ‘nos interessam’ porque, como muitos de vocês, também sou instrumentista e, ao lado da equipe de direção e edição, estamos sempre à procura de novidades e boas matérias sobre o nosso mundo. Este mês, a Sax & Metais traz duas grandes figuras do jazz. A primeira é o saxofonista Ivo Perelman. Brasileiro radicado nos Estados Unidos há mais de 20 anos, é um dos expoentes do jazz de vanguarda, o free jazz. Ele esteve no Brasil e tive o prazer de passar duas horas agradáveis em sua companhia, para um bate-papo sobre música. Ivo conta suas histórias e aponta caminhos para que jovens músicos possam seguir suas tendências. O segundo destaque dessa edição é David Liebman, bastante conhecido por seu sax soprano Contemporary Jazz, da geração pós-Coltrane. Ele esteve no Brasil no mês de outubro para tocar com a Orquestra Jazz Sinfônica e ministrar um workshop na Faculdade Internacional Souza Lima & Berklee. Marcelo Coelho conversou com o músico e nos trouxe uma matéria exclusiva recheada de novidades. A mais quente: Liebman acertou uma parceria com o luthier Norberto para o lançamento mundial das boquilhas Norberto modelo David Liebman para sax soprano. Saindo do sax e passando para os metais, trazemos dois grandes trompetistas: Reginaldo Gomes, do Funk Como Le Gusta e Rubinho Antunes, professor do Conservatório de Tatuí, além do fagotista Adolfo Almeida Júnior. Na seção de workshops temos Michel Moraes com preciosas dicas de sonoridade; Andréa Ernest Dias falando sobre interpretação e articulação para flauta, e mais Gian de Aquino (tuba), gaita com Fabrício Casarejos e Daniel Garcia, grande saxofonista, arranjandor e compositor. Tudo isso e mais na já conhecida seção de lançamentos de CDs e Livros, na qual gostaria de destacar o livro Ao Vivo no Village Vanguard, que traz várias histórias sobre esse templo do jazz em Nova York e os importantes músicos que por lá passaram. Aproveitem e absorvam tudo isso. Até a próxima!

Débora de Aquino ajuda@saxemetais.com.br 4

Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima Diretora de Redação Regina Valente MTB: 36.640 Editora Técnica Débora de Aquino Revisão Hebe Ester Lucas Gerente Comercial Eduarda Lopes Administrativo / Financeiro Carla Anne Direção de Arte Dawis Roos Impressão e Acabamento Gráfica PROL Fotos Beatriz Weingrill, Enid Farber e Divulgação Colaboradores Deise Juliana, Jacques Tegani, João Máximo, Marcelo Coelho, Rodrigo Morenno (texto); Marcelo Matos e Tico D’Godoy (testes); Andréa Ernest Dias, Gian de Aquino, Daniel Garcia e Michel Moraes (workshops) Distribuição Nacional para todo o Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 - Grajaú CEP: 20563-900 - Rio de Janeiro / RJ Tel.: (21) 2195-3200 Assessoria Edicase Soluções para Editores Sax & Metais (ISSN 1809-5410) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Administração, Redação e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 Brooklin Novo • CEP: 04569-001 São Paulo / SP / Brasil Todos os direitos reservados. Publicidade Anuncie na Sax & Metais saxemetais@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.saxemetais.com.br e-mail: ajuda@saxemetais.com.br

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ÍNDICE SEÇÕES 4 Editorial 8 Cartas 10 Live! Shows, projetos e novidades do universo do sopro 14 Vida de músico Rubinho Antunes 36 Análises Sax Tenhor Dolphin Trompete Dynasty M503 39 Reviews CDs e Livro

MATÉRIAS 18 Reginaldo 16: Trompetista do Funk Como Le Gusta e do Clube do Balanço, fala sobre seu início e trabalhos atuais.

32 Gospel: Silvio Depieri, um músico antenado com as diversas possibilidades de trabalho por meio da música

26 David Liebman: Entrevista exclusiva com o músico, referência pelo estilo de tocar seu sax soprano

34 Encontro Internacional de Metais: Confira a reportagem completa sobre o inédito encontro dos “metaleiros” promovido pelo Conservatório de Tatuí.

30 Adolfo Almeida Jr. é fagotista da OSPA e integra vários projetos de música popular e contemporânea.

22 Ivo Perelman Os truques e segredos do saxofonista brasileiro, radicado há 20 anos nos EUA, considerado um dos ícones do atual free jazz

26 David Liebman

WORKSHOPS 40

Daniel Garcia (SAXOFONE) Aplicação de escalas na improvisação

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Michel Moraes (CLARINETE) Como obter uma boa sonoridade

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Andrea Ernest Dias (FLAUTA) Articulação em stacatto duplo

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Fabrício Cassarejos (GAITA) Cromatização da Gaita Diatônica

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CARTAS Discografia

A matéria de capa com o trombonista Raul de Souza (S&M #5) ficou excelente, só faltou a discografia completa dele. José Carlos Ritta por e-mail Caro José Carlos, atendendo ao seu pedido e de outros leitores que nos escreveram, segue a discografia do trombonista. Agradecemos ao leitor (e trombonista) Osmário Estevam Júnior, de Curitiba, PR, pela colaboração.

Outrosinstrumentos desopro Acho a Sax & Metais muito boa, mas sinto falta de reportagens com músicos que toquem instrumentos menos comuns, como fagote e oboé. Cassiano Vargas São Paulo, SP

Prezado Cassiano, atendendo ao seu pedido e de outros leitores que nos escreveram, publicamos nesta edição uma entrevista muito interessante com o fagotista gaúcho Adolfo Almeida Jr. Esperamos que goste!

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Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para: ajuda@saxemetais.com.br ou escreva para: Rua Guaraiúva, 644 - Brooklin Novo - CEP: 04569-001 - São Paulo / SP - Brasil

Raulde Souza

1955 – LP – Turma da Gafieira 1964 – LP & CD – Bossa Rio - de Sergio Mendes, com Raul de Souza 1965 – LP (CD em 1999) – Raulzinho à Vontade Mesmo 1968 – LP (CD em 2002) – International Hot (Whatmusic) 1974 – LP – (CD em 1998) – Colors (Milestone Records) 1974 – LP & CD Nucleus - de Sonny Rollins (Milestone Records). Participação especial 1975 - LP - Return and Forever - de Flora Purim (Milestone Records). Participação 1976 – LP & CD – Slave Missa, de Hermeto Pascoal. Convidado especial 1976 – LP – Caldeira Grupo (Capitol Records). Convidado especial 1977 – LP – Sweet Lucy (Capitol Records) 1978 – LP – Don’t Ask My Neighbors (Capitol Records) Sax & Metais #5 1979 – LP – Till Tomorrow Comes (Capitol Records) 1982 – LP – Luz, de Djavan (RCA). Participação especial 1980 – 1992 – CD – A Brazilian Love Affair, de George Duke (Sony Music). Convidado especial 1992 – CD – Viva Volta (RGE) 1993 – CD – The Other Side of the Moon (RGE) 1994 – CD – Brasil 94 (Soul Jazz Records, Milestone Record). Compilação de vários artistas 1994 – CD – Taiguara, de Taiguara (Movie Play). Participação especial 1995 – CD – Antonio Brasileiro, de Antonio Carlos Jobim (Sony Music). Participação especial 1995 – CD - Sonho Carioca, de Helio Celso (BMG). Participação especial Comunidade 1997 – CD – Brazilian Horizons (Milestone Records). Compilação Sax & Metais no 1998 – CD – Rio (Mix House) Orkut,participe! 1998 – CD – Blue Days, de Laeta (distribuído pela FNAC). Participação especial www.orkut.com/ 1999 – CD – Confluent Big Band (Cristal Record). Participação especial Community.aspx? 2000 – CD – Sampana, da Orchestre d’Harmonie de Tonneins. Participação especial cmm=12315174 2000 – CD – Voyageur, de Tûna Otenel (Jazzenvil). Participação especial 2000 – CD – Joboatao, de Carlos Marquês (Futuroscope de Poitiers). Participação especial e arranjos 2003 – CD – Splendid Night (Next Music January) 2003/2004 – CD – Ao Vivo com Ziskakan (Warner February). Participação especial 2003/2004 – CD – Emotional, de After In Paris (Harmonia Mundi March). Participação especial 2003/2004 – CD – Blue Touch, de Collectif Raul de Souza & Laeta (Naîve June 2004) 2005 – CD – Elixir, de Raul de Souza e Claire Michael Group (independente), distribuído pela Tratore Music 2006 – CD – Jazzmim – Raul de Souza e banda (Biscoito Fino)

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Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

TESTE

O Sesc Pompéia, em São Paulo, promoveu em 11 e 12 de novembro um show em homenagem aos 82 anos do flautista e compositor Altamiro Carrilho. Com 60 anos de carreira, compôs mais de 200 músicas, e tem mais de cem gravações entre discos e CDs. Altamiro é, sem dúvida, uma das principais referências no choro e construiu desde muito cedo uma carreira que o coloca entre os melhores flautistas do mundo, considerado o melhor até mesmo por Jean Pierre Rampal. Quem assistiu ao show pôde conferir toda a virtuosidade, sensibilidade e versatilidade desse grande mestre da flauta. Entre uma música e outra, contou histórias, falou do Brasil e contou várias piadas de seu vasto repertório. A homenagem contou ainda com participação da cantora Ademilde Fonseca. Altamiro estava acompanhado de seu grupo, que como ele próprio define, “são o alicerce do edifício, eu sou apenas o adereço”. O grupo é composto por Pedro Bastos (cavaquinho), Eber de Freitas (percussão) e Maurício Verde (violão de sete cordas). O show começou com Deixa o Breque Comigo, composição de Altamiro de 1949. “Parece que foi ontem. Os dias passam, a barba cresce e o dinheiro desaparece. Mas eu continuo firme. Sem querer dizer que sou melhor do que ninguém, acho que sou o último parente vivo de Matusalém”, brincou o flautista. No repertório constaram, além de composições de Altamiro, clássicos de Mozart e Tchaikovsky em ritmo de choro. Ernesto Nazareth foi lembrado com a execução de Odeon. Clássicos de Pixinguinha, e até solos que Altamiro deu aos seus companheiros de conjunto, Sons de Carrilhões, foram executados por Maurício Verde e a belíssima Minhas Mãos, Meu Cavaquinho, de Waldir Azevedo, teve maravilhosa interpretação do cavaquinista Pedro Bastos. (Por Débora de Aquino)

NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW Foto: divulgação

LIVE!

SAX & METAIS - ALTAMIRO CARRILHO COMEMORA 82 ANOS EM SHOW IMPAGÁVEL

ALTAMIRO CARRILHO COMEMORA 82 ANOS EM SHOW IMPAGÁVEL

Oficina de Música de Curitiba

FESTIVAL DE BLUES

A 25ª edição da oficina acontece de 7 a 31 de janeiro e trará de volta a música antiga ao circuito, além de incluir o blues pela primeira vez. Dividida em três fases, de 7 a 17 de janeiro, serão realizadas as oficinas de música erudita e antiga; de 15 a 19, acontece a Oficina de Música Eletrônica e, a partir do dia 21, na terceira e última fase, é a vez da oficina com música popular e blues, com nomes como Carlos Malta (flauta e conjunto de sopros) e André Mehmari (piano). No blues, André Christovam (guitarra) e Flavio Guimarães (harmônica) estarão presentes. Espera-se que mais de 1.500 alunos participem dos diversos cursos de instrumentos, prática de conjunto, canto e Stúdio Ópera. As inscrições podem ser realizadas pelo site www.oficinademusica.org.br.

A 2ª edição do The Blackmore Blues Festival reuniu diversos representantes do blues nacional no Blackmore Rock Bar (www.blackmore. com.br), em Moema, São Paulo, durante os meses de novembro e dezembro. As apresentações foram divididas por temas, com alguns destaques como a Roots & Traditions. Neste dia, passaram pelo palco do Blackmore grupos como a Fundação Muddy Waters. Com integrantes experientes, a Fundação tem por objetivo a pesquisa e a execução musical das várias vertentes do blues, o que confere ao trabalho da banda uma característica própria de originalidade e sonoridade vintage. Apesar de a banda usar instrumentos elétricos, a execução de seu repertório dançante é feita em volumes agradáveis, seguindo os padrões dos anos 1940 e 1950, com influências marcantes do

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swing e jump blues. É formada por Marcelo Rodrigues (gaita), Lulla Leite (contrabaixo), Fábio Ávila (bateria e voz) e Caio Ávila (guitarra e voz). Outros destaques foram a participação do Theo Werneck Blues Trio, com B.G da Gaita, e a aguardada banda Lé Petit Comitê, da qual participa o saxofonista Jêrome Charlemagne. Criada em Boston (EUA) em 2001 pelo vibrafonista André Juarez, o grupo tem sonoridade refinada, com base no swing e em uma contagiante mistura de ritmos: funk, MPB, acid jazz e rock progressivo. A banda é formada por André Juarez (vibrafone MIDI, mallet kat e arranjos); Luis Fernando Rovai (violão e guitarra); Jerôme Charlemagne (saxofones soprano, alto e tenor); Cassiano Nogara (baixo elétrico) e Fabrício Chrispim (bateria e percussão). Outras participações incluem os gaitistas Fernando Naylor e Paulo Meyer.

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BIENAL DA MÚSICA De 15 a 26 de novembro, no Centro de Eventos Pantanal, aconteceu a II Bienal de Música Brasileira Contemporânea do Mato Grosso. O grande objetivo do festival foi elucidar os caminhos da música por meio de palestras diárias gratuitas no Instituto de Linguagens da UFMT. O evento foi também palco do lançamento de cartilhas, CDs e DVDs das obras apresentadas, para ampliar o mercado. Participaram músicos de destaque da nova geração como o trompetista Thiago Sanches, a pianista Érica Luz, Natan de Castro, violonista; Karoline Bataioli, compositora; além de grupos de sopro já conhecidos como o grupo Brassil, o quarteto Aroe, o grupo Música Nova, Um dos shows mais aplaudidos foi o do quinteto de metais Brassil, composto por Ayrton Benck e Gláucio Xavier (trompete e fluegelhorn), Cisneiro de Andrade (trompa), Radegundis Feitosa (trombone e bombardino) e Valmir Vieira (tuba), que apresentou um repertório focado na música regional brasileira

o Nova Camerata. Entre as atrações mais aguardadas estavam as flautistas (mãe e filha) Odette e Andréa Ernest Dias. De acordo com Beth Alamíno, uma das idealizadoras do evento, a Bienal serviu para dar oportunidade ao público de conhecer novas

linguagens contemporâneas, regionais e nacionais. “É uma música que ouvimos a todo instante, decorrente das tarefas cotidianas, nas conversas misturadas com sons da natureza, mas que não prestamos atenção”, exemplifica. (Por Regina Valente)

Aulas de gaita, sax e flauta em Brasília

Novos nomes do sopro

Até 16 de dezembro estarão abertas as inscrições para a primeira turma do novo curso de gaita cromática da Escola de Choro Rafael Rabelo. O foco principal estará voltado para o desenvolvimento de técnicas necessárias para executar o repertório de choro na gaita. A Escola de Choro Rafael Rabelo oferece a seus alunos a vantagem de aliar aulas práticas e teóricas, importantes para o desenvolvimento musical. A escola possibilita a formação de grupos para a prática em conjunto e promove a interação entre alunos de mesmo nível que tocam outros instrumentos no estilo choro. As aulas ficarão a cargo do professor Pablo Fagundes, formado em gaita cromática pela Escola de Música de Brasília, e pesquisador do instrumento há mais de dez anos. Há turmas de outros instrumentos de sopro também. Para informações e inscrições, visite www.clubedochoro. com.br ou ligue (61) 3225-2761.

De 19 a 23 de dezembro, o Mr. Blues Bar (www.mrblues.com. br), em São Paulo, recebe novas bandas que mostrarão trabalhos autorais em um importante palco de grandes nomes do blues. É o Festival Lado Blues, que contará com participações especiais de músicos como os guitarristas Marcos Ottaviano e Kiko Moura, além de jam sessions com os gaitistas Ivan Marcio (Prado Blues Band), Sergio Duarte (Sergio Duarte & Entidade Joe), Márcio Abdo (Chicago meets Califórnia), Melk Rocha (Bends Harmônicas), dentre outros. O festival tem como finalidade possibilitar o envolvimento de músicos iniciantes, com bandas já reconhecidas pelo seu trabalho, dar chance a novos talentos e se tornar um evento de reconhecimento e continuidade. Informações pelo telefone (11) 38849356 ou no site www.ladoblues.com. SAX & METAIS DEZEMBRO / 2006

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LIVE!

Tr i b u t o

Homenagem ao arquiteto do vento

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

SAX & METAIS: ADEUS AO MAESTRO MOACIR SANTOS

LIVE!

Faleceu, em 28 de outubro, aos 72 anos, o gaitista Ulysses Cazallas. O músico, que se dedicou por décadas à gaita, era carinhosamente chamado de Mestre e Vô. Em setembro, ele havia iniciado um trabalho no setor de desenvolvimento de produtos da recém-inaugurada fábrica de gaitas Bends. Mudou-se para Santos com espírito sempre jovem e feliz e sua ausência nos deixará muita saudade e a certeza de que ele realizou uma missão na música brasileira com sucesso. O “Vô” ganhou sua primeira harmônica aos 9 anos. Três anos depois, participou de um programa na Rádio Record e ficou em 2º lugar. Aos 14 anos, sua tia lhe presenteou com sua primeira gaita cromática. Estudou teoria musical, leitura rítmica, solfejo rítmico e entoado, harmonia tradicional e harmonia funcional. Em 1957, no programa de Calouros de Ari Barroso, venceu por unanimidade de votos. Cazallas também integrou e organizou diversos grupos de harmonicistas, apresentando-se em casas noturnas de renome, rádio e TV. Por 17 anos, foi músico da Orquestra Harmônicas de Curitiba, realizando centenas de shows pelo Brasil e no exterior. Em 2004, recebeu um mereci-

do reconhecimento, ao se tornar o primeiro gaitista homenageado no CD Gaita-L, produzido pelo grupo que reúne centenas de gaitistas na internet. Formado em Engenharia Industrial, Cazallas contribuiu direta e indiretamente com várias gerações de gaitistas, que atualmente se destacam

como músicos ou luthiers. Sincero, organizado, pontual e de temperamento forte, conquistava as pessoas com seu jeito especial. Sua casa é um verdadeiro museu da gaita, e acredito que não haja quem não fosse capaz de se encantar por essa figura tão especial. (Por Rodrigo Morenno)

FORTALEZA SEDIA FÓRUM DE HARMÔNICAS De 24 a 26 de novembro aconteceu a segunda edição do Fórum Harmônicas, um dos mais importantes encontros de músicos do País, com uma programação de shows e cursos de iniciação à gaita, workshops de técnicas avançadas e oficinas de manutenção do instrumento. O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura recebeu este ano gaitistas como Gabriel Grossi (RJ), Jeovah da Gaita (PE), Johnny Rover (brasileiro radicado nos EUA), Júlio Rego (SE), Pablo Fagundes (DF), e Robson Fernandes (SP). “Fizemos questão de trazer artistas de diferentes regiões do País para mostrar o quanto a gaita pode ser abrangente “, diz Roberto Maciel, curador do evento. “Estamos certos de que o Fórum não foi um encontro para músicos de todos os instrumentos, de violinistas a guitarristas, pandeiristas a flautistas”.

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O paulista Robson Fernandes, um dos principais nomes da nova geração de gaitistas brasileiros

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BANDAS & FANFARRAS POR MARCIO MAZZI MORALES

FIM

BANDAS & FANFARRAS * Por Marcio Mazzi Morales Editor do site Planeta Bandas (www.planetabandas.com.br)

CIRCUITO DE BANDAS NA RETA FINAL A etapa de Interlagos do I Circuito de Bandas e Fanfarras de SP transcorreu sem problemas aparentes. Mesmo com um tempo instável e ligeiras pancadas de chuva, um bom público pôde conferir a performance das corporações musicais no kartódromo de Interlagos, ao lado do autódromo. Os destaques nas apresentações ficaram com as fanfarras do interior de São Paulo e as bandas marciais do Colégio Santa Isabel. A etapa de Interlagos é a última antes da final do circuito paulista, no município de Tietê, em 10/12 (confira cobertura completa na próxima edição da Sax & Metais). Esta fase também marcou a saída do evento da cidade de São Paulo — será realizada no interior — , mostrando a preocupação dos organizadores em levar a melhor e mais importante etapa do circuito para uma grande cidade fora de SP.Todas as corporações participantes e convidadas participam dessa última disputa.

FINAIS DO NACIONAL DE BANDAS E FANFARRAS Onze Estados e cerca de 35 corporações musicais disputaram o título do XIV Campeonato Nacional de Bandas e Fanfarras na cidade de Mauá, na Grande São Paulo, em 9 de dezembro, a partir das 9h30. Participarão corporações dos Estados do Acre, Maranhão, Paraíba e Sergipe, além das campeãs estadu-

ais do Distrito Federal, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e São Paulo. Uma fanfarra tradicional de Castanhal, no interior do Pará, e outra de Mato Grosso do Sul, virão como convidadas para uma apresentação especial. As finais do concurso nacional envolverão categorias de fanfarras simples, fanfarras com uma válvula, bandas de percussão e bandas marciais. Promovido este ano pela Confederação Brasileira de Bandas e Fanfarras (CNBF), em parceria com a Prefeitura Municipal de Mauá, a estimativa é de que cerca de 3.500 instrumentistas participaram do evento, que chega a durar 15 horas, sem interrupção. Normalmente, as finais do Nacional são realizadas no mês de outubro, mas este ano, por conta das eleições, foram transferidas para dezembro. Saiba mais nos sites www.cnbf.org.br ou www.planetabandas.com.br.

NOVIDADE: DUOINSTRUMENTAL BRASILEIRO Formado por Amilton Godoy ao piano e Débora de Aquino na flauta e no sax soprano, o projeto nasceu em 2002, quando Michael Hazel, primeiro flautista da Orquestra Filarmônica de Berlim, solicitou que fossem feitas transcrições para flauta de algumas das músicas contidas no CD Piano Solo Compositores Brasileiros - Vol. 2. O álbum, produzido por Godoy e Dulce Auriemo, trazia composições e execuções do pianista. A partir de então, Débora e Godoy iniciaram os trabalhos de transcrição e execução, o que resultou na gravação do CD Duo Instrumental Brasileiro. Em dezembro, aconteceu o pré-lançamento deste trabalho, no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo. Nesta apresentação, o público teve a oportunidade de ouvir composições inéditas, que, apresentadas na formação flauta + piano, ganharam ares de música de câmara, mas com claro suingue brasileiro. No pré-lançamento, foi apresentado ao público um CD

especial executado somente pelo piano, além de três das partituras transcritas para flauta e piano. Em sua fase final, o projeto prevê o lançamento de todas as partituras transcritas.

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TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

JOVENS TALENTOS: TUBINHO ANTUNES - TROMPETE BEM BRASILEIRO

JOVENS TALENTOS

Vida de Músico

RUBINHO ANTUNES

A

pesar de o trompete ter profundas raízes jazzísticas, o músico Rubinho Antunes optou pelo caminho da música instrumental brasileira. Começou a aprender o instrumento em 1995, no Conservatório de Tatuí, com os feras Daniel D’Alcântara e Nahor Gomes. Atualmente, é professor de MPB e jazz no Conservatório de Tatuí e lançou recentemente seu primeiro CDsolo. Para esse paulista criado em Santa Rita de Viterbo, planos não faltam para a carreira. Formação: “Meu primeiro contato com a música foi em 1985, aos 6 anos, tocando flauta doce. Aos 8 comecei a tocar trompete na banda municipal de Santa Rosa de Viterbo, cidade onde fui criado. Somente em 1993, aos 14 anos, comecei a levar mais a sério o estudo da música, participando de festivais como os de Tatuí e Campos do Jordão. Em 1995, ingressei no Conservatório de Tatuí e tive aulas com Daniel D’Alcântara e Nahor Gomes. Foi quando comecei a trilhar o caminho da música popular, fazendo aulas de harmonia, repertório e prática de big band. De 1998 a 2001, fiz o curso de música popular da Unicamp, fundamental para o amadurecimento da minha relação pessoal com a música”. Referências: “Gosto muito de compositores consagrados da música brasileira, como Tom Jobim, Chico Buarque, Toninho Horta, Guinga, Dori Caymmi, Joyce, de instrumentistas brasileiros como Egberto Gismonti, Proveta, Teco Cardoso, Mané Silveira, Lea Freire, Daniel D’Alcântara, Marcio Montarroyos, Cláudio Roditti, Walmir Gil e também de grandes músicos de jazz como Freddie Hubbard, Chet Baker, Miles Davis, Clifford Brown, John Coltrane, Dexter Gordon. Uma referência marcante durante a minha fase de estudante foi a Banda Mantiqueira. Vi vários shows em festivais e ouvia o disco deles sem parar. Hoje tenho o prazer de trabalhar com alguns músicos dessa banda, como o Cacá

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Trompete Trompete bem brasileiro bem brasileiro

Malaquias, que participou do meu disco e toca também no grupo Comboio, do qual faço parte. Também já substituí Walmir Gil em um show da Mantiqueira”. Rotina: “Procuro estudar exercícios que trabalhem a sonoridade e a respiração. Os métodos que mais uso para isso são o Max Schlossberg e o James Stamp. Na parte de improvisação, tento unir estudos de articulação aos de escalas e de solos. Também faço aulas de harmonia com o professor Cláudio Leal, que tem um grande know-how entre os músicos de São Paulo. Essas aulas me ajudam muito na hora de fazer arranjos. Minha agenda de trabalho é intensa, pois tenho de

O SETUPDERUBINHOANTUNES Instrumentos • Trompete Zigmant Kanstul, modelo Wayne Bergeron • TrompeteVicentBachStradivarius,mod.37 • Flugelhorn Getzen “Só na gravaçãodo meu discousei um Yamaha Custom.” Bocais • Bach5c (trompete) • Bach7c (flugelhorn)

conciliar trabalhos que julgo ter grande valor artístico com os mais comerciais. No meio disso, tento manter a rotina de estudo. Nos primeiros dias da semana foco meus esforços em trabalhos como o da banda Cacique e o Grupo Comboio, que está lançando seu segundo CD. Nos fins de semana, meu tempo é ocupado por trabalhos como eventos, shows com artistas, casamentos, etc.” Estilo: “O trompete tem uma identificação muito forte com o jazz americano. Minha idéia de som é fazer com que o trompete soe naturalmente na música brasileira. Muitos trompetistas fazem isso muito bem, como Marcio Montarroyos, Walmir Gil, Jericó, Paulinho do Trompete, Cláudio Roditti e Silvério Pontes, entre outros”. Tocar na noite: “Tocar com grupos de música instrumental é ótimo, pois você desenvolve o repertório, faz a sua música, adquire reflexos de leitura, etc. Já ao trabalhar com cantores e artistas, além do retorno financeiro, você aprende a tocar acompanhando alguém. Tive experiências distintas tocando com artistas como Johnny Alf, Sá, Rodrix & Guarabira e Toquinho. Com Johnny Alf, eu era o único sopro da banda e fazia muitos improvisos. Neste trabalho eu tinha de ficar muito atento, pois as músicas não apresentavam formas definidas, e quando o Johnny olhava eu tinha de sair improvisando. Com Toquinho e Sá, Rodrix & Guarabira eu participava de um naipe com mais um sax e um trombone. Nesses trabalhos, o naipe já seguia uma parte predefinida e tínhamos de ficar ligados para que os três soassem juntos”.

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CINCO MINUTOS COM:

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REGINALDO 16 ORDÉBORA P DE AQUINOFOTOS: DIVULGAÇÃO

REGINALDO 16

A voz do trompete

CINCO MINUTOS COM

Reginaldo 16 O trompetista toca em duas bandas paulistanas, o Funk Como Le Gusta e o Clube do Balanço. Reconhecido pelo talento e pelo suingue no trompete, é também um excelente cantor

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trompetista atua bastante em estúdios de gravação de publicidade e já tocou na banda Cara de Pau, Orquestra Paulista de Soul, Mundo Livre S/A, entre outras, além do trabalho com Seu Jorge. Por conta de um pequeno problema na fala, ele acabou ingressando em aulas de canto. Tomou gosto pela coisa e, em 1994, ingressou no Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

DISCOGRAFIA Funk Como Le Gusta: 1. Roda de Funk (1999) 2. FCLG (2004) 3. DVD Funk ao Vivo Como Le Gusta (2005) Clube do Balanço: 1. Swing e Samba Rock (2001) 2. Samba Incrementado Participações: 1. Grupo Mundo Livre S/A: Solo flugelhorn na música Meu Esquema 2. RPM – MTV – CD e DVD (2002) 3. DVD Quatro Estações Sandy & Junior: Solo trompete musica Dig-Dig-Joy 4. Zeca Baleiro, CD Pet Shop, Mundo Cão: Metais do FCLG

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Reginaldo já tocou com astros da música pop internacional como Ricky Martin, Jon Secada e Alejandro Sans e participou da turnê latino-americana British Rock Symphony, com Alan Parson, John Denver e Alice Cooper. Começou a ouvir música na igreja evangélica que freqüentava quando criança e por influência de seu pai. “Ele gostava de cavaquinho e violão, e tocava trompete. Então tinha em casa esses instrumentos e eu ficava sempre mexendo neles.” A vida foi seguindo sempre com a música fazendo parte de suas atividades, mas a princípio decidiu fazer faculdade de Biologia. As experiências musicais foram tomando conta de sua vida até que ele decidiu seguir carreira. “Vi que aquilo era uma coisa que me dava muito prazer, então decidi que queria ser músico, independente de que instrumento fosse tocar, porque na época estava oscilando entre trompete e baixo.” Mergulhou nos estudos de música e hoje é bacharel em trompete pela Faculdade Mozarteum e formado em trompete e canto na Escola Municipal de Música de São Paulo. > Sax & Metais - Como percebeu que poderia ser músico? Reginaldo 16 - Tinha muita facilidade, principalmente com o ouvido. Virei um ‘regente’ do coro de jovens da igreja que eu freqüentava. Lá, ensinava as vozes cantando tudo de ouvido, tive um bom treinamento auditivo.

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CINCOMINUTOSCOM REGILNALDO16

Nessa época, com 19 anos, um primo meu e um amigo saíram da igreja e freqüentavam bailes onde tocavam black music, Earth Wind and Fire, Kool & The Gang, soul e samba rock brazuca. Quando voltaram para a igreja, estavam com essas idéias de montar uma banda com esse som. Não havia nada do tipo em igrejas: ou eram as bandas musicais, ou como nas igrejas Batista e Metodista, com piano, órgão e outros instrumentos. Meu irmão tocava guitarra, tinha um primo que tocava baixo e comprou uma bateria. O outro começou a mexer num teclado. Nessa época eu já tocava bombardino barítono, mas eles sugeriram que eu voltasse ao trompete e comecei a gostar da idéia. > Vocês tocavam tudo de ouvido? Sabíamos o básico, fizemos um pouco de Bona, o suficiente para tocar as coisas da igreja que não eram complicadas; fazíamos os arranjos que não eram difíceis, decorávamos e assim foi indo. Aos poucos, resolvemos estudar pra valer. Como sou de uma família humilde, não tinha dinheiro para ter aulas, pagar um professor, nem sabíamos como essa coisa toda funcionava. Um dia estava no centro de São Paulo, em frente ao Teatro Municipal, e imaginei que talvez lá pudesse ter aulas de música. Entrei e perguntei. Explicaram que tinha apenas uma orquestra, e me indicaram a Escola Municipal de Música. Faltavam dois dias para terminar as inscrições. Inscrevi-me, passei no teste e aí meu universo ficou louco. Fazia todas as aulas: história da música, história da arte, harmonia, contraponto, percepção, prática de orquestra, música de câmara. Estudei com o Edgar Batista dos Santos, o Capitão, e foi ele quem me induziu a estudar canto e acabei virando também cantor profissional. > Como foi isso? Quando comecei a estudar trompete, minha

SETUP DE REGINALDO 16 • Trompete Bb Yamaha Xeno 8335 - Bocal Bach 1B • Trompete C Vincent Bach Stradivarius model 229 GH, reverse, lead pipe 25R - Bocal 1B • Piccolo Shilke P5.4 - Bocal Shilke 11AX, Bach 7E • Flugelhorn Zigmant Kanstul - Bocal 1 1/5 C Bach

FIM

fala era anasalada. Meu professor tentou resolver com alguns estudos específicos, mas não deu certo. Ele me orientou a procurar um fonoaudiólogo ou um professor de canto. Na escola eu tinha a chance de fazer um segundo instrumento, e escolhi canto. Fiz o teste e o professor, o Caio Ferraz, gostou do meu material vocal, minha extensão é muito grande, então ele me assumiu como seu aluno. No ano seguinte eu e o Serginho, meu compadre de estudos, ficamos sabendo da ULM (Universidade Livre de Música Tom Jobim) e que lá haveria um teste para a Banda Sinfônica Jovem. Descobrimos também que eles estavam criando um coro profissional da ULM. O Serginho me incentivou a fazer esse teste também, eu fiz e passei, desde então estou lá. Continuei estudando canto e trompete e minha vida se dividiu nas duas carreiras, de trompetista e de cantor.

> Hoje seus principais trabalhos são com o FCLG e com o Clube do Balanço? Sou sócio dos dois trabalhos. Participo do FCLG desde o início. Fui convidado pelo Tiquinho, da Orquestra Paulista de Soul, para substituir o Nahor Gomes, trompetista na época, que não poderia mais acompanhar a banda, e o pessoal gostou. O FCLG foi um trabalho inédito, uma banda que usa cinco metais, meio jazz, mas considerada pop. Com isso, vários outros grupos foram se formando e vários artistas passaram a incorporar metais em suas bandas. Hoje, várias bandas pop têm pelo menos um trio de trompete, sax e trombone. > Como foi esse começo? O pessoal se juntava uma noite para fazer o som. Essa noite era chamada Noite Funk Como Le Gusta, e tinha a banda que se chamava Salão Jazz, era uma festa entre amigos. Isso começou na quadra de uma escola infantil chamada Espaço Anexo. No ano seguinte começamos a fazer

INFLUÊNCIAS MUSICAIS • Wynton Marsalis: “Se você quer ouvir jazz pode ouvi-lo; se quer ouvir erudito também”. • Miles Davis, Freddie Hubbard, Rafael Mendes: “Nesse nicho tem verdadeiros monstros do instrumento”. • Philip Smith: Primeiro trompetista da sinfônica de NY. • Gilberto Siqueira e Fernando Dissenha: eruditos brasileiros. • Bobby Chew, Charlie Parker, John Coltrane, Brecker Brother’s, Nicolas Payton, Brandford Marsalis, Joshua Redman, Wess Anderson, Claudio Roditi, Paulinho Trompete, Marcio Montarroyos, Walmir Gil, Nahor Gomes, James Brown, Soul Live, Kool & The Gang, Earth Wind and Fire e tantos outros.

participações com artistas que iam para cantar, porque a banda era basicamente instrumental. Vieram Sandra de Sá, Fernanda Abreu, Rogério Flausino, Marcelo D2, uma infinidade de gente passou por aquelas noites. As pessoas que ajudavam a trazer esses artistas, na mesma época, abriram um selo e nos fizeram a proposta de gravarmos um disco. A banda não tinha nem nome, mas as pessoas que freqüentavam tinham o hábito de dizer que iam ao Funk Como Le Gusta, e o nome ficou. Tocávamos no Blen Blen e em julho de 1999 gravamos o disco, lançado em novembro seguinte. Foi tudo muito rápido. > O Clube do Balanço veio na seqüência disso tudo? Depois que eu conheci o Tiquinho, ele me chamou para as reuniões do FCLG e passamos a gravar juntos, em estúdios de publicidade, participações em CDs de outros artistas. Um dia ele me perguntou se eu curtia samba-rock e eu disse que nunca tinha visto ninguém tocando esse som. Ele comentou que alguns amigos dele estavam se reunindo, mas não tinham grana. Esse projeto era para rolar nas periferias de São Paulo e eu resolvi encarar. Até que fomos ao Grazie a Dio (casa de shows em São Paulo), e começamos a tocar todos os domingos lá. No começo não ia ninguém, mas depois passou a lotar. Surgiu então a oportunidade de gravar o primeiro disco pelo selo Regata, que gravou Paula Lima, Seu Jorge, que depois acabou fechando. SAX & METAIS DEZEMBRO / 2006

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Por Débora de Aquino Fotos: Enid Farber

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Jazz à Brasileira Saxofonista brasileiro radicado nos EUA desde o início da década de 1980, Ivo Perelman é um dos mais respeitados músicos do chamado jazz alternativo e figura nas maiores publicações estrangeiras sobre o tema. Prova disso é que, em 1996, a famosa foto da revista Life, de 1958, foi recriada e lá estava o saxofonista ao lado de nomes como a brasileira Eliane Elias, Michael Brecker, Al Jarreau e Wynton Marsalis, entre tantas outras estrelas.

C

om 28 CDs lançados no exterior, Perelman já trabalhou com Flora Purim, Airto Moreira e Eliane Elias. Do começo da carreira até hoje, ele define uma evolução em sua forma de pensar música. “Fui destilando meu trabalho. Se um tema aparecer espontaneamente, será bem-vindo. Estou sempre aberto.” Perelman começou a estudar música aos 8 anos, mas a adaptação aos métodos e partituras não foi um processo fácil. “Sentia dificuldade com o processo de leitura, nunca foi natural para mim. Queria mudar a partitura e os professores ficavam loucos comigo.” Ele iniciou seus estudos com o violão clássico, mas resolveu partir para outros instrumentos e foi tentando guitarra, violoncelo, bandolim, trombone, piano e clarineta. “Tentei violão bossa nova, mas comecei a achar muito intimista para o meu espírito. Então pensei no jazz, mas no violão de náilon não dava. Até que um dia peguei um sax tenor e me identifiquei. Comecei a tocar, fiz bailes de carnaval, até que resolvi levar a sério. Aos 20 anos, larguei a faculdade de arquitetura e fui estudar na Berklee, nos EUA”, conta Perelman, que também é artista plástico.

Ivo Perelman

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IVO PERELMAN

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> Sax& Metais – Sua intenção era estudar jazz nos EUA? Ivo Perelman - Fiquei lá dois anos, sem fazer o curso completo, mas também comecei a ter certas dificuldades com o formato da Berklee, que apesar de ser música criativa, também tem suas regras. É uma escola com séries, níveis, currículos, e eu era muito rebelde a tudo isso. Claro que aproveitei, mas não fiz o curso completo e resolvi parar. Comecei a viajar para tocar. Fui para Montreal fazer algumas gigs de bossa nova ao violão e estudando saxofone, fiquei por lá um ano. Em seguida fui para Los Angeles, uma escola muito boa que cursei direitinho. Estudei mais lá do que tudo em minha vida. Era uma escola intensiva de arranjo chamada Dick Rose, não existe mais.

Lá estudava arranjo e composição, onde em cada semana aprendíamos um estilo. Tínhamos uma semana para aprender o estilo, sua instrumentação típica. Ouvíamos vinhetas de cinema para estudo, era uma coisa bem dirigida. Era meio focada em Hollywood e embora essa coisa mais comercial não me atraísse, aprendi muita música. Os professores falavam: “Olha, esse estilo usa três trompas, e as tessituras são tais...”. Eram dicas práticas, em vez de ficar 12 anos estudando instrumentação e contraponto. Em um ano aprendi tudo, foi um absurdo. Para se ter uma idéia, durante esse ano eu tive de parar de estudar saxofone. Tinha de escrever coisas para orquestra, trabalhos grandes, e era tudo na mão, os computadores eram muito incipientes. Eu dormia duas horas Perelman estudou vários instrumentos de corda antes de optar pelo sax

por noite, estudava, ouvia, aprendia estilos. Vivia o que os profissionais vivem. No sábado entregávamos a partitura para o professor e a orquestra da escola tocava, nós regíamos, alunos gravavam nos estúdios de gravação da escola, era tudo feito por nós. É um modelo de estudo fantástico. Acabei ficando três anos ali, e fiz três cursos — o básico, o de piano e o de composição e arranjo.

LIVE!

> E o saxofone voltou quando? Quando saí da escola, fui para a Itália, Roma, onde comecei a tocar em bares à noite. Era o mainstream jazz, uma linguagem mais bebop. Há muitos músicos na Itália que gostam dessa linguagem, fiquei um ano lá. Durante o dia fazia alguns pequenos arranjos para big bands e percebi que, na verdade, eu não tinha vontade de fazer nada disso. Descobri que meu interesse era mais na área de estudo, de pesquisa. A minha maior vontade era improvisar, pesquisar e, dentro disso, fazer uma improvisação mais livre. Fui descobrindo isso aos poucos. Depois desse período, com 25 anos, voltei para Los Angeles e pensei em retornar para o Brasil e estudar flauta, quem sabe me encaixar no mercado brasileiro, acompanhar cantores, atuar em estúdios. Queria levar os estudos de flauta adiante, até que um dia o professor pediu que eu levasse o sax à aula, porque ele gostava do que eu fazia na flauta, das minhas idéias. Ele me perguntou se eu queria gravar um disco. O cara é o Marty Krystall, dono de um selo, o K2B2. Ele é parceiro de um baixista antológico chamado Buell Neidlinger, que tocou com Stravinsky e Frank Zappa, entre outros. Ele me disse que conhecia muitos músicos e que poderia montar uma banda e gravar um disco em uma tarde. Perguntou com quem eu queria gravar e eu disse que gostaria que fossem músicos legais. Eu conhecia a Flora Purim e o Airto Moreira e, apesar de nessa época eu ser um ilustre desconhecido no mercado fonográfico, os dois foram muito legais comigo, sentiram firmeza na minha proposta de trabalho. > E qual era a sua proposta? A idéia era gravar músicas infantis brasileiras, e isso se transformou no meu primeiro CD, hoje estou no 28º. Eram músicas folclóricas, Escravos de Jó, Nesta Rua, A Canoa Virou. Eles gostaram da idéia e uma coisa

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CAPA

IVO PERELMAN

O músico profissional deve ter sempre em mente que a música é a busca lúdica do prazer

foi levando à outra. Reunimos um time de primeira, tinha o John Patitucci, Peter Erskine, Flora Purim, Airto Moreira, Eliane Elias. O disco foi gravado e, para minha surpresa, foi muito bem recebido. > Mas hoje seu trabalho não tem nada a ver com isso. Na verdade, fui destilando meu trabalho. Cada vez menos eu sentia a necessidade de tocar um tema ou recorrer a esse tema. Se um tema aparece espontaneamente, ele é bem-vindo, estou aberto. Fui morar em Nova York e conheci músicos que tinham essa linguagem no seu dia-a-dia. Sobe-se ao palco e é tudo improvisado. Percebi que a improvisação é realmente uma composição espontânea. A partir do momento em que você adquire essa experiência, ela vem tão estruturada quanto a composição em que se usa borracha e lápis. De tanto fazer, você começa a construir estruturas lógicas e elaboradas. > E como você pensa nas improvisações? Na verdade é a atitude, a necessidade de expressão artística e não um princípio estético ou teórico harmônico. Eu incorporo tudo. Se ocorrer uma progressão melódica harmônica tonal, deixo que ela venha, se for uma linha dodecafônica, a mesma coisa. Podem ser ruídos, música concreta, longos silêncios ou misturas disso tudo. Eu me alimento de todas as fontes, gosto de todos os tipos de música. Posso citar Roberto Carlos, Chitãozinho & Xororó, Sandy & Júnior, Tim Maia, Caetano Veloso, João Bosco, Chico Science, Lenine, Gal Costa,

Stravinsky, Charlie Parker, John Coltrane, Archie Sheep, Cantadores Cegos do Nordeste, música tibetana, tudo que seja alguma manifestação musical. Eu ouço mesmo. > Sua grande influência é John Coltrane? Sim, porque mais do que toda a informação técnica que existe na música dos saxofonistas, as escalas, os modos gregos, as harmonias, o fraseado, o que mais nos marca é o

conjunto de fatores espirituais do músico, a luz. Foi isso que eu vi no Coltrane. A primeira vez que o ouvi fiquei arrepiado. O que me deixava perplexo é que por mais que eu o escutasse e tentasse imitá-lo, não saía nada parecido. Eu tocava os solos dele e tudo. Ficava pensando o porquê disso. Isso ficou ainda mais claro quando os críticos começaram a dizer que o meu som era parecido com o de um outro saxofonista, que

Discografia 1. Ivo, ITM Records, EUA, 1989

15. Strings, Leo Records, Reino Unido, 1997

2. Children of Ibeji, ENJA, EUA, 1992

16. Bendito of Santa Cruz, Cadence Records, EUA, 1998

3. Soccer Land, Ibeji Records, EUA, 1994

17. Seeds, Vision and Counterpoint, Leo Records, Reino Unido, 1998

4. Man of the Forest, GM Records, EUA, 1994

18. The Alexander Suite, Leo Records, Reino Unido, 1998

5. Tapeba Songs, Ibeji Records, EUA, 1996

19. Brazilian Watercolor, Leo Records, Reino Unido, 1999

6. Cama da Terra, Homestead Records, EUA, 1996

20. Sieiro, Leo Records, Reino Unido, 2000

7. Blue Monk Variation, Cadence Records, EUA, 1996

21. The Hammer, Leo Records, Reino Unido, 2000

8. Sad Life, Leo Records, Reino Unido, 1996

22. The Eye Listens, Boxholder Records, EUA, 2000

9. Slaves of Job, CIMP, EUA, 1997

23. Seven Energies of the Universe, Leo Records, Reino Unido, 2001

10. Sound Hierarchy, Music & Arts of America, 1997

24. The Ventriloquist, Leo Records, Reino Unido, 2002

11. Revelation, CIMP, EUA, 1997

25. Suite for Helen F., Boxholder Records, EUA 2003

12. Geometry, Leo Records, Reino Unido, 1997

26. Black on White, Clean Feed, 2004

13. En Adir, Music & Arts of America, 1997

27. Introspection, Leo Records, Reino Unido, 2006

14. Live, Zero In Records, EUA, 1997

28. Soul Calling, Cadence Records, EUA, 2006 SAX& METAIS DEZEMBRO / 2006

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eu mal conhecia, não ouvia e confesso que não gostava na época, o Albert Ayler. Por isso penso que a influência é mais do que repetir os padrões, as escalas. Ela é todo um conjunto de fatores emocionais, é a linguagem não musical do músico em questão. Vai além de simplesmente gostar de um fraseado, existe toda uma experiência psicológica que essa pessoa teve. Indo mais longe, mas nessa mesma linha de pensamento, eu diria que se você vai a um museu e se abre para outros tipos de linguagem, também será influenciado.

Na minha evolução comecei com a forma, pela linha melódica, pela beleza das melodias, e fui apurando isso cada vez mais. O que mais me atraiu nesse trabalho foram as texturas. Falando de saxofone, é um instrumento maravilhoso, cada nota pode ser variada em microtons, comas, tanto na boca quanto na digitação. O sax tem várias digitações microtonais, o espaço entre duas notas é infinito, por ele ser tão fácil de tocar desafinado. Para um músico que souber e quiser explorar essa “deficiência” de afinação, o sax é um presente caído dos céus.

LIVE!

> Foi por aí que você chegou aos seus saxofones de estudo? Quando eu não conseguia estudar várias horas por dia, decidi estudar só notas longas, depois só harmônicos, e passei aos harmônicos de outras notas. Pensei que para isso eu deveria ficar na posição de uma nota por muito tempo. Sigurd Rascher, nos anos 1930, mandou fazer um saxofone que não tinha nota nenhuma, era um Si bemol, um tubão. Então pensei em > Como você se descobriu fazer vários ‘saxofones’, um pintor? para cada nota. A partir daí, Tudo começou há mais ou “Penso quatro, oito, ou até 16 compassos na frente, e pervi que cada um desses insmenos oito anos. Antes, o vercebo isso depois, quando ouço. De uma forma misteriosa e trumentos, num total de 12, de, o vermelho, o amarelo não automática, sabemos que aquela nota vai aparecer 16 comcom as 12 primeiras notas tinham a menor importância passos depois, daquela forma preconcebida.” do sax normal, de Sib a Lá, para mim. Mas havia um CD Ivo Perelman tinha um som à parte, cada meu para ser lançado e não um com sua série harmônica, gostei da arte que fizeram. Então pensei que poderia fazer alguma coisa, e uma relação ancestral com a pintura porque mas sonoridades sutilmente distintas. Para mesmo que eu não gostasse, pelo menos se- eu nunca tinha estudado e estava fazendo ter todas as notas do saxofone, comprei 12 ria meu. Voltando para casa em Nova York, coisas interessantes. Penso no desenho com pedestais, coloquei-os perfilados e toquei. passei em uma loja de arte e comprei um uma coisa totalmente rítmica, que vem da É uma ginástica, um estudo insano. Eu kit de pintura. Cheguei e pensei em criar música, texturas, densidades, o paralelo ainda não estou pronto para me apresentar algo no banheiro para não fazer sujeira pela com a música é total. Quando começamos ou gravar com eles. É muito interessante, casa, e ali fiquei um mês. Não parava de a fazer uma frase com poucas notas, pode- estou aprendendo muito sobre coluna de pintar, descobri muitas coisas. Liguei para mos dizer que é uma linha gráfica mais va- ar e outras coisas. Estou nesse trabalho há um amigo que era pintor e contei o que es- zia, menos agitada. Passei a ter uma relação três anos e, diferentemente do que alguns músicos pensam, a música improvisada é tava acontecendo. Ele quis ver, achou legal na qual os sentidos se misturam. altamente estruturada, tem uma coerência. e mostrou para uma amiga que escreve sobre arte em uma revista nos EUA. Eles me > Fale mais sobre suas experiências Por isso quero mostrar esse trabalho quando ele estiver maduro, no ponto certo. deram todo o apoio, acharam que eu tinha com as sonoridades. > Tem a ver com o fato de você ser artista plástico? Sim. Quando eu comecei a pintar, me abria para esse tipo de coisa. A arte nos influencia de uma maneira global, pode ser uma poesia, uma pintura, um balé, tudo isso tem influência em nosso som. Vou repetir o que o Charlie Parker falou: “Você é o que você vive”, ou seja, do seu saxofone vai sair o que você viveu.

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IVO PERELMAN

FIM

> A sonoridade é muito diferente do saxofone tradicional? Totalmente. O tamanho é de um sax tenor, mas a nota mais grave de cada um, o pedal tone, é outra, então são 12 saxofones. Ao colocar todos juntos, crio um saxofone inteiro na minha cabeça. > Você está querendo trazer o seu trabalho para o Brasil? Muito, porque recebo vários e-mails de gente que tinha a minha idade quando eu fui para os EUA. É a garotada que tem por volta de 20 anos, uma nova geração que veio do punk, do rock experimental, que hoje já nem tem mais na cabeça esses nomes. Eles ouvem meu trabalho e de músicos como eu. São pessoas que gostam dessa música, querendo saber como fazer para começar, que caminho seguir, por isso eu gostaria de vir para o Brasil e poder dividir a minha experiência. > Quais foram os seus últimos trabalhos? Saiu em outubro passado, nos EUA, um disco em duo com um contrabaixista com quem trabalho há dez anos, chamado Dominic Duval. Pensamos de forma muito parecida, em termos musicais. Ele tem uma experiência

muito boa nesse tipo de trabalho de improvisação. Trabalhou durante muitos anos com o pianista Cecil Taylor, um dos grandes do free jazz. A experiência com esse tipo de música é fundamental, porque ao tocar uma nota, você já tem de estar muito ligado no que vem pela

Toque melhor! 15 dicas de Ivo Perelman 1. Tudo vem do cérebro, e não do dedo.

Esses são os melhores momentos.

2. Se você não ouvir aquela nota não vai conseguir tocar. “Eu mal consigo cantar aquilo que eu ouço, mas ouço”, diz.

9. A coluna de ar é um sentimento muscular, é uma emoção corpórea. Se aprendermos a sentir isso, fica tudo mais fácil.

3. Acredito muito no estudo da série harmônica, ainda mais agora com esses saxofones que criei. É o exercício número 1 do dia. Chato, mas fundamental.

10. A primeira coisa que eu faço quando estudo de manhã é ficar o tempo que me der vontade tocando sei lá o quê. Não faço nada do que sei. Depois, no fim do dia, faço algumas coisas conhecidas para manter em dia a mecânica.

4. O estudo da série harmônica traz benefícios para a respiração, digitação, estilo. É a nossa mãe e o nosso pai. Ela define o nosso campo auditivo. 5. Todo estudo gasto com série harmônica não é perdido e sim acrescentado. 6. A melhor forma de acessar o mistério do saxofone é ir à fonte dele, ou seja, a série harmônica. Isso se estende ao trombone, ao trompete e a tantos outros. 7. Perca o medo de errar, o erro é o melhor professor. O sofrimento e o erro são o melhor professor. A arte é tudo aquilo que a gente não tem medo de fazer. 8. Os sons mais interessantes que saem de mim são aqueles que eu nunca ouvi.

11. Na hora do estudo a coisa mais importante é a concentração. Duas horas completamente focadas são mais do que necessárias e o resultado é muito mais benéfico. 12. Faça pausas durante o estudo. 13. Faça alongamentos antes, durante e depois de tocar. 14. Observe sua alimentação e procure levar uma vida saudável. 15. Procure não forçar o pescoço, tente desimpedir qualquer pressão que possa gerar problemas futuros.

frente, porque você está pensando em estruturas. É necessário um pensamento muito rápido para se ter um discurso coerente, e o Dominic tem isso, nos damos muito bem. Antes desse, saiu no início de 2006 o CD Introspection, que é um trio de sax, baixo e bateria, com a violinista Rosie Hertlein, que também tem toda uma flexibilidade mental, aquela coisa de nem ter tocado a nota ainda e já saber o que vai ser tocado depois. Por isso digo que música improvisada é um nome enganoso. Ela não é improvisada e sim pré-composta por meio de uma velocidade muito grande. > Para conseguir isso, é necessária uma interação muito grande entre os músicos? Se a interação não existir, não vai acontecer nada. Se o baterista não é da praia, vai ficar aquela espinha de peixe o disco inteiro ali, e isso vai afetar a todos como uma bola de neve. A comunhão tem de ser total para não haver desestabilização. São poucos músicos que estão fazendo esse tipo de trabalho, é um clube muito pequeno e nós nos conhecemos. > Por ser diferente, você acredita que faz sucesso nos EUA? Acho que por ser diferente adquiriu uma exposição na mídia de imediato, e isso porque é um trabalho que se destaca naturalmente. Poucas pessoas fazem, então já vira um produto diferenciado. Não é uma vida fácil nem gloriosa, mas é a vida que eu escolhi. A melhor coisa que podemos ter no fim de uma vida é poder dizer “eu vivi o meu potencial”. SAX & METAIS DEZEMBRO / 2006

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Liebman: “Se eu não tivesse conhecido Coltrane, seria apenas mais um tenorista. Ele mudou toda minha percepção do jazz, do que é ser saxofonista”.

Por Marcelo Corlho Fotos: divulgação

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O Jazz de David Liebman

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história do jazz muitas vezes se confunde com a história dos seus criadores. Como

em qualquer outra forma de manifestação artística, a evolução do estilo ocorreu de forma empírica, experimental. Foi dessa maneira que as experimentações musicais de

Dizzy Gillespie, Thelonious Monk, Bud Powel e Charlie Parker resultaram no bebop. Apesar de a maioria dos músicos de jazz estar associada aos estilos aos quais pertenceram, alguns poucos também se tornaram referências individuais, contribuindo de forma desvinculada a um determinado estilo. Dentre eles podemos citar David Liebman.

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iebman pertence à geração denominada pós-Coltrane, que surgiu em Nova York e que inclui Charles Loyd, Michael Brecker, Bob Berg, Steve Grossman e Gary Campbel, entre outros. No Brasil, foi representada por Vitor Assis Brasil e Ion Muniz. Liebman começou estudando piano aos 9 anos, passou pela flauta e pelo clarinete até chegar ao sax. Mas o grande diferencial na sua formação musical foi o fato de ter sido criado em Nova York, onde foi possível ter contato direto com os mais importantes músicos de jazz da época, entre eles John Coltrane. “Ele mudou toda a minha perspectiva sobre o que é ser um músico de jazz”, conta. David Liebman tocou com Elvin Jones, baterista do quarteto de John Coltrane, e logo depois com Miles Davis, responsável por revelar Coltrane na década de 1950.

David Liebman

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DAVID LIEBMAN

O Jazz de David Liebman

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O JAZZ DE DA VID LIEBMAN

ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

pós a experiência com Miles Davis, Liebman decidiu seguir seu próprio caminho. Desde então, vem liderando os seus grupos, tocando e gravando ao lado de outros grandes nomes do jazz como Wayne Shorter, Sonny Rollins, Chick Corea, Pat Metheny e John Scofield. David Liebman veio ao Brasil no fim de outubro para a realização de um concerto com a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo e um workshop na Faculdade Internacional Souza Lima & Berklee. Ele também aproveitou a viagem para visitar o luthier de boquilhas Norberto, quando acertou uma parceria para o lançamento mundial das boquilhas Norberto modelo David Liebman para soprano.

> Sax & Metais - Quem foram as suas primeiras influências? David Liebman - John Coltrane, claro! Se não o tivesse visto tocar, seria apenas mais um tenorista. Ele mudou toda a minha perspectiva sobre o jazz, sobre tocar saxofone, sobre o que é ser um músico de jazz, em todas as instâncias. Também fui influenciado pelo Miles Davis, Bill Evans, Stan Getz, Herbie Hancock, Ornette Coleman, todos da década de 1960. O Wayne Shorter veio depois. Houve também outros músicos como James Brown, Steve Wonder, Ravi Shankar, Bartok, Jimi Hendrix. Durante a década de 1960 estávamos muito expostos a vários estilos de música e isso

Liebman se apresenta com o grupo MC4+

LIVE!

MÚSICO CONTEMPORÂNEO Reconhecido como um músico contemporâneo em constante mutação, David Liebman tornou-se referência como instrumentista, improvisador, educador e compositor. Já gravou mais de 200 CDs e lançou mais de 20 livros, além de ter escrito composições para diferentes formações e estilos musicais, incluindo free jazz, música de câmara, big band, duos, trios, quartetos, combos e até duos de saxofone com piano e saxofone com bateria. Dentre os seus livros destacam-se Self Portrait of a Jazz Artist; A Chromatic Approach to Jazz Harmony and Melody e Developing a Personal Saxophone Sound. Liebman também fundou a IASJ, Associação Internacional de Escolas de Jazz, que conta com a participação de mais de 40 países, na qual ele tem trabalhado para a expansão e a perpetuação do ensino do jazz como um processo de difusão cultural entre todos os continentes do globo.

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SETUP DE DAVID LIEBMAN Instrumentos • Sax soprano e tenor: marca Keilwerth, da Alemanha. “Sou endorser deles há mais de 25 anos, mas no momento estou em negociação com a Yamaha internacional — eles me cederam alguns instrumentos e eu gostei muito”, conta Liebman. Acessórios • Palhetas Alexander Imperial. “A minha forma de tocar exige bastante das canas e eu gosto de palhetas que respondam a todas as formas de expressão e nuances de sonoridade e timbre de forma regular. O Alexander Imperial desenvolveu esse modelo para mim.”

nos proporcionou uma visão ampla. Começava o dia ouvindo Coltrane, depois Bartok, Steve Wonder, Hendrix, Miles. Depois nos reuníamos durante horas para tocar free jazz e no final ficávamos ouvindo o que havíamos tocado. Foi um período muito produtivo. > Como foi o seu desenvolvimento no saxofone? Não tive um estudo formal porque não havia professor de sax que ensinasse a tocar jazz. Joe Allard foi o único professor de saxofone clássico que aceitava dar aulas para os jazzistas. Ele me ensinou sobre sonoridade, respiração, articulação, expressão. Todos os saxofonistas da minha geração estudaram com ele. Estudei também com o Charles Lloyd e fiz algumas aulas sobre jazz com Lennie Tristano, mas nada formal. Aprendi mesmo nas jam sessions, conversando com os músicos de jazz, transcrevendo e tocando todos os dias durante horas com os músicos da minha geração, Michael (Brecker), Joe (Lovano), Randy (Brecker), Pete Larroca, Chick Corea. > Como foi tocar com Miles Davis? Foi importante, porque me trouxe reconhecimento e visibilidade na cena do jazz. A maioria dos músicos que tocou com ele

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O JAZZ JAZZ D DE E DAVID LIEBMA N

Formado em 1991, Liebman lidera o quarteto que leva seu nome e é composto por Marko Marcinko (bateria), Vic Jurius (guitarra e violão) e Tony Marino (baixo acústico)”

seguiu depois o próprio caminho, como John Coltrane, Cannonball Adderley, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Chick Corea, Keith Jarret, John Scofield. Meu grande aprendizado com Miles foi como ter controle da situação. Ele tinha uma personalidade muito complexa, era muito direto sobre o que queria, apesar de nunca dizer uma só palavra. Ele apenas lhe dava espaço e esperava que você fizesse algo. Quem conseguia ficar com ele é porque havia encontrado algo pessoal que colaborava com a música dele. > O que você tem a dizer sobre a música brasileira? A música brasileira é definitivamente alma, coração, alegria, exatamente como eu vejo o povo brasileiro: alegre. Claro que não é só isso. A música do Brasil traz elementos rítmicos, melódicos e harmônicos muito sofisticados. Todos os gran-

des compositores brasileiros, como Milton Nascimento, Tom Jobim, Hermeto Pascoal, Villa-Lobos, apesar dos diferentes estilos, trazem o elemento da alegria nas suas composições. > Qual é a sua mensagem para um estudante de música? Trabalho, persistência, disciplina e organização. É possível que durante o processo de amadurecimento do músico outras áreas de interesse — como filosofia, espiritualidade, artes em geral — comecem a se tornar uma necessidade para complementar a música, além, é claro, de outros fatores, como família, casa. Mas independentemente disso, o estudante e músico profissional devem estudar muito, ouvir muito, compor muito, tocar muito sempre e, é claro, contribuir para melhorar a sua própria vida e se possível a dos outros também por meio

da música. Essa é a nossa missão. > Como surgiu a parceria para o lançamento mundial da boquilha Norberto modelo David Liebman? Experimentei a boquilha B&N quando estive no Brasil, em 2002, e gostei muito. Dessa vez fui visitá-lo pessoalmente e levei as minhas boquilhas de soprano e tenor. Ele tirou as medidas das minhas boquilhas e, dois dias depois, me apresentou o modelo que ele considerou mais adequado para o que estou procurando. Adorei as duas boquilhas, mas fiquei muito impressionado com o modelo para soprano. Fizemos pequenos ajustes e chegamos ao modelo que eu estava procurando há anos. Agora estamos em negociação para o lançamento da boquilha Norberto modelo David Liebman para soprano, que terá um design diferente e será vendida de forma personalizada. SAX & METAIS DEZEMBRO/ 2006

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CINCO MINUTOS COM:

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ADOLFO ALMEIDA JR. FOTOS: DIVULGAÇÃO POR DÉBORA DE AQUINO

ADOLFO ALMEIDA JR.

Um mestre do fagote

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CINCO MINUTOS COM

Adolfo Almeida Jr. De formação erudita, o músico começou pela flauta e violão. Passou para o fagote e se tornou um instrumentista versátil que encara qualquer estilo, do rock ao jazz, com muita competência

A

dolfo Almeida Jr. nasceu em 1960 e já tocou diversos estilos musicais. Do rock ao jazz, da música erudita à MPB, ele passou por diversas escolas. “Inclusive tinha uma banda de rock chamada Bosque das Bruxas, no final dos anos 1970”, conta. Graduou-se em Composição pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). Com uma formação acadêmica tão especializada, o músico encara qualquer estilo musical. Na música erudita, é o primeiro fagotista da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e vê muitas de suas composições tocadas pelo grupo de intérpretes e compositores Ex-Machina e pelo Quinteto de Sopros de Porto Alegre. Ambos os grupos têm como foco interpretar compositores do século XX. Na música popular, também tem participações importantes: já atuou ao lado de Renato Borghetti, é integrante do grupo Arthur de Faria e Seu Conjunto, e em 2004 participou do projeto Um sopro de Brasil, em São Paulo. Na ocasião, tocou ao lado de Paulo Moura, Teco Cardoso, Altamiro Carrilho e tantos outros artistas valorosos do sopro. Em 2006 lançou um CD autoral, intitulado Paradoxos para Todos (Antares Música). “É um disco

de improvisações. Nada foi pré-composto, nem ensaiado, nem combinado. Tudo é improvisado, com exceção de Manequim. Podem-se ouvir ‘erros’, desafinações, desencontros e ‘acertos’. Parece até música escrita.” Como a maioria dos músicos profissionais, Almeida Jr. iniciou cedo sua educação musical. Aos 6 anos começou o estudo teórico por influência de sua tia, que tocava acordeom e mantinha uma escola de música em casa. Mas ele não se animou muito e logo abandonou. Depois, foi aprender violão popular e flauta doce. “Escola pra valer foi aos 15 anos na Escola de Música da Ospa, que atualmente se chama Conservatório Musical Pablo Komlos”, conta o músico. > Sax & Metais – Você aprendeu flauta e violão. Como surgiu o interesse pelo fagote? Adolfo Almeida Jr. - Meu sonho, lá pelos 12 anos, era tocar saxofone. Mas por causa do preço alto, acabei ganhando uma flauta doce, e gostei dela. Hoje toco todas as flautas que compõem o quarteto e até as usei no meu disco. O fagote foi uma intuição do maestro que nos dava aulas de teoria e solfejo, que pediu para olhar minha mão

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CINCO MINUTOS COM

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e disse que eu tinha mão de fagotista. Mas acho que ele falou aquilo porque não tinha pretendentes ao fagote (risos). Gostei muito da idéia, pois achava o fagote um instrumento exótico, na aparência e sonoridade, e isso me agradava. Deu certo. > O fagote não é um instrumento comum na música popular. Como é essa convivência? Sem problemas, todos recebem muito bem. A questão sempre é a amplificação que precisa ser testada e adequada ao instrumento. > Você acredita que na música vale tudo? Do erudito ao popular, do jazz ao rock, da bossa nova à MPB? Sem a menor dúvida. Mesmo que as tribos pensem que estão defendendo seus domínios, tudo, principalmente a cultura, é dinâmico e inter-relacional. > Como é o trabalho com Arthur de Faria & Seu Conjunto (www.seuconjunto.com.br)? É muito gostoso. Admiro o Arthur há muitos anos e resolvi apostar nesta iniciativa

DISCOGRAFIA • Música de Câmara Brasileira – Trio de Madeiras de Porto Alegre • Música pra Bater Pezinho – Arthur de Faria e Seu Conjunto • Meu Conjunto tem Concerto - Arthur de Faria e Seu Conjunto • Ex-Machina – Grupo Ex-Machina (como intérprete) • Um Som que Não Soa – Grupo Ex-Machina (como intérprete e compositor) • Outubro ou Nada – Grupo Bidê ou Balde • Paradoxos Para Todos – Autoral Participações: • Cds das orquestras Ospa, OCTSP, PUC e UCS • Majestic – Kim Ribeiro

FIM

dele que está dando muito certo, conseguindo uma boa repercussão. Este ano tocamos no Auditório do Ibirapuera em São Paulo e no MMVV (Mercat de Musica Viva de Vic, www.mmvv.net) em Barcelona, por exemplo. É um trabalho autoral dele, que reúne ótimos músicos e abrange diferentes tendências, chamando a atenção por ser inovador e pop ao mesmo tempo. > Como se deu a sua participação no projeto Um Sopro de Brasil ? Foi um trabalho que te deu mais projeção? Fizemos um show em São Paulo e a Miriam Taubkin, produtora do show, assistiu e se encantou pela maneira que eu usava o fagote dentro das músicas. Ela me convidou para uma participação como solista e eu resolvi radicalizar mostrando um trabalho bem particular: improvisação livre. O resultado foi muito bom, todos gostaram muito, o público, os músicos, e um em especial, Hermeto Pascoal, que declarou no palco sua admiração. Esse projeto foi muito importante para mim e um marco histórico para o sopro brasileiro. O show deveria ser apresentado no Rio, em Curitiba, Salvador, Porto Alegre, e outras cidades. > Como é a sua experiência como professor? Comecei a dar aulas de flauta doce aos 17 anos e me lembro de todos os meus alunos com carinho. Depois, lecionei para o ensino fundamental, já fui professor substituto de flauta doce na UFRGS, e até de curso de teoria na OMB e de oficinas para jovens carentes em vilas, inclusive no Instituto Central de Menores, espécie de penitenciária para menores. Hoje tenho bons alunos de fagote, o que é muito gratificante. > Como você vê hoje a situação do ensino de música no Brasil? No ensino fundamental tenho assistido à diminuição da música, o que é muito triste. No ensino superior há a estagnação geral que amarra a universidade pública e pequena atuação das privadas nesta área. No entanto, tem havido uma expansão da pósgraduação, o que é muito bom. > Como surgiu a idéia de fazer um CD de fagote-solo, e nos moldes do Paradoxos para Todos? A idéia principal é de um CD de improvisações e não de fagote-solo. Mas ficou com essa cara porque o fagote é muito marcante e incomum. E também porque ele acabou

SETUP DE ADOLFO ALMEIDA JR. • Fagote da marca Moosmann. • Microfones e efeitos: “Por enquanto ainda não uso efeitos no fagote. É diferente tocar com outros instrumentos acústicos ou com banda eletrificada. Os técnicos de som precisam de sensibilidade para adequar da melhor forma”.

como uma constante dentro daquele universo politimbrístico do CD. Quanto aos moldes, bem... achei que estava na hora de lançar um CD com um trabalho próprio, e não queria me submeter ao tipo de estresse pelo qual passam os músicos que se dispõem a isso. Por outro lado, há vários anos mantenho a chama de um trabalho de música improvisada em parceria com o percussionista Luís Ventania e isso me deu o lastro. > É um trabalho todo improvisado. Fale um pouco sobre o processo de gravações e como foi tocar consigo mesmo. Foram várias situações diferentes: gravei com piano em externa no teatro da Ospa e na caverna do Índio em Santa Cruz do Sul; com o Teco Cardoso e com o Fábio Mentz foi direto no estúdio sem combinar nada, eu só dizia: “Vamos descobrir ou construir o tema juntos, durante o improviso”. As gravações sobrepostas ou multitracking são muito gostosas de fazer. A improvisação comigo mesmo foi o aproveitamento total do inusitado, pois decidi na hora, sem planejar. Gravei primeiro o mais grave e imediatamente acrescentei o mais agudo, e depois só dei uma remendadinha nos trêmulos colocando outra voz que se mistura e pára logo. Eu mesmo me surpreendi com o resultado. > Como é a cabeça do compositor e improvisador Adolfo Almeida Junior? Sempre com intenção de acrescentar alguma coisa, de desvendar ou descortinar, de estabelecer novas relações e possibilidades. SAX & METAIS DEZEMBRO / 2006

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CINCO MINUTOS COM:

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CINCO MINUTOS COM

SÍLVIO DEPIERI ORDÉBORA P DE AQUINOFOTOS: BEATRIZ WEINGRILL

SÍLVIO DEPIERI

Gospel

Sílvio Depieri Um pesquisador do saxofone, Sílvio Depieri vê a música em suas mais diversas possibilidades sonoras

S

ílvio Depieri passou pelo piano, canto coral, violão, bateria, até conhecer o saxofone. “Acho que foi amor à primeira vista”, conta. Mas levou um tempo para convencer seus pais a lhe darem um sax. Enquanto isso, se virava com um sax tenor emprestado por um professor, até que seus pais viram que a coisa era séria. Aos 16 anos já tocava profissionalmente na noite de Ribeirão Preto, cidade do interior de São Paulo. Fez oficina de big band com Roberto Sion na mesma cidade e, toda semana, ia para São Paulo ter aulas com o mestre Prandini. “Era um sacrifício enorme, mas valeu a pena, faria tudo de novo.” Hoje Depieri dedica-se à música da maneira mais ampla possível. Gravou em 1996 seu primeiro CDsolo, Sax e Louvor, por intermédio de sua igreja (Igreja Batista, em Vila Gerty) e passou a se dedicar bastante à música cristã, mas não somente a ela. “Nunca me dediquei a uma coisa apenas. Sou músico brasileiro, tenho de ralar muito, beber em todas as fontes pos-

DISCOGRAFIA 1. 2. 3. 4.

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Sax em louvor (1996) - DJZ Sons e tons (1998) – Cia. Alternativa Razão (2000) - Independente Instrumental Praise 5 (2003) - Aliança Produções

5 DICAS DO MÚSICO 1. Estude, monte um repertório e ouça grandes mestres. 2. Abra um grande leque de possibilidades e nunca se sinta maior que o seu trabalho. 3. Dedique-se ao universo musical sem se tornar um “bitolado”. Considere a possibilidade de, algumas vezes, ter de fazer o que não gosta para alcançar objetivos maiores. 4. Tenha personalidade. Exija e cobre respeito por parte de quem contrata seu trabalho, seja ele qual for. 5. Saiba que você pode ser bom, mas tenha consciência de que há uma centena de milhares de pessoas tão boas e capacitadas quanto você.

síveis. A música é como qualquer outra profissão, o muito é pouco, quanto mais se estuda mais se percebe que não se sabe nada. Por isso aposto na diversidade, que no Brasil é uma marca registrada.” Sílvio ainda é produtor e compositor. “Produzir é, para mim, a atividade mais empolgante que o músico pode experimentar fora dos palcos”, e também já tocou com músicos de renome da MPB como Agnaldo Rayol, Guilherme Arantes e Ivan Lins.

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GOSPEL

SÍLVIO DEPIERI

FIM

> Sax&Metais – Você começou com o sax tenor. Como foi a mudança para os outros saxofones? Sílvio Depieri - Passei um ano estudando, até que um dia vi um amigo tocando o sax alto ao vivo com uma banda. Achei a sonoridade do alto mais peculiar, mas como na época eu estudava muitos tenoristas (Dexter Gordon, Coltrane, Grover Washington), não quis abrir mão do tenor. Porém, comprei um alto e passei a estudar cada vez mais. Dois saxofones proporcionam muitas possibilidades sonoras. O sax soprano nunca foi um mistério pra mim, comecei a tocar soprano muito antes da “era Kenny G”, sempre achei mais fácil tocar frases ligeiras no soprano, talvez porque o corpo seja mais justo. Se eu fizesse uma escala de dificuldade, colocaria o barítono como mais difícil, depois o tenor, o soprano e o alto. > Como se envolveu com a música em sua Igreja? Ainda em Ribeirão fiz amizade com um grande pianista que era filho de um pastor da Igreja Batista em São Caetano do Sul. Mudamos para São Paulo quase na mesma época. Eu estava afastado da igreja e ele me convidou para tocar no casamento do irmão. Fui ao ensaio e cheguei no momento em que o grupo de louvor estava ensaiando. Não imaginava que a igreja havia progredido tanto musicalmente. Fiquei fascinado. Nessa mesma tarde o próprio pastor me convidou para tocar na igreja, mas mais do que isso, eu senti que Deus estava me sensibilizando para voltar e realizar algo duradouro. E foi o que aconteceu. Em 1996 um amigo me apresentou a um produtor de discos evangélicos que precisava gravar um CD instrumental. Fui falar com ele, combinamos de fazer uma parce-

SETUP DE SÍLVIO DEPIERI Sax alto: Weril Spectra II Boquilha: Beechler Diamond Inlay # 7 Palheta: Vandoren Jazz # 2½ Sax tenor: Weril Supremo Boquilha: BN metal # 8 Palheta: Vandoren Jazz 2½ Sax Soprano: Weril Supremo Boquilha: J. Amaral # 7 Palheta: Fibracel Medium Soft Sax Barítono: Weril Spectra II Boquilha: Vandoren V5 Palheta: Fibracel Medium Soft

INFLUÊNCIAS • Groover Washington Jr: “O primeiro disco de música instrumental que eu ouvi foi dele, chamado Winelight. Foi um choque, não imaginava que a música instrumental pudesse ser tão interessante! A partir daí fui comprando tudo o que era disco de jazz: John Coltrane, Charlie Parker, Stan Getz, Dexter Gordon.” • Jazz e fusion: “Houve uma época em que eu era fanático por esses estilos. Ouvia Yellow Jackets, Chick Corea, Passport”.

ria, levei os arranjos prontos e em troca o CD levou meu nome. Foi quase um investimento. Não tive lucro, mas muita gente me conheceu a partir desse trabalho. > De que forma a experiência como produtor e compositor ajudou em sua carreira? Produzir é, para mim, a atividade mais empolgante que o músico pode experimentar fora dos palcos. Definir arranjos, inserir instrumentos, solos, frases de efeito e tantos outros pequenos detalhes que tornam o trabalho a cada passo mais interessante. Compor já é outro caminho, mas que esbarra na mesma natureza da produção, porque, quando componho alguma coisa, já começo a imaginar todas as possibilidades, desde a introdução até a sonoridade de cada instrumento. Isso tudo me deu uma noção de sensibilidade muito mais apurada.

bom dos trabalhos que faz? Escolho os trabalhos pela necessidade de tocar e compartilhar minha música com as pessoas. Houve uma época em que eu viajava com Guilherme Arantes, Agnaldo Rayol, ensaiava em orquestra, dava aulas durante a semana toda e ainda me apresentava aos domingos nas igrejas para divulgar meus CDs. Fiquei à beira de uma estafa, mas foi muito produtivo. Meu maior orgulho é poder realizar um trabalho em que dei o meu melhor, superei as minhas expectativas e as do grupo também. Por isso sempre toquei e toco todo tipo de música: chorinho, bossa nova, MPB, jazz, música erudita. Passei alguns anos tocando em naipe de sopro numa banda de black music. Toquei salsa, rock, pop, fui primeiro sax alto em várias big bands e numa orquestra jazz sinfônica. Participei de gravações em dezenas de discos evangélicos, instrumentais e também sertanejos. Fiz trilhas sonoras para jogos de videogame e revistas eletrônicas. > Além de tudo o que faz, você ainda dá aulas. Acredita que os músicos também devem atuar como professores? Comecei a dar aulas muito cedo, morava com meus pais ainda, tinha vontade de ensinar. Tenho trabalhado com a escola Música Brasil, em São Paulo, onde dou aulas de sax e flauta, e com a oficina de música da igreja Assembléia de Deus Jardim do Lago, em Jundiaí. Concentro as aulas apenas nesses dois lugares, para poder administrar meus horários melhor e me dedicar mais a esses alunos. Sempre toquei teclado acompanhando os alunos, porque as aulas se tornam mais dinâmicas. Depois, inseri o computador e com isso veio a Internet, e tudo foi ficando cada vez mais interessante. As possibilidades aumentaram muito. Mas não é uma atividade fácil. Cada aluno reage de uma maneira diferente à sua didática, e cada um tem uma historia de vida diferente.

> É importante o músico não ter preconceito e saber sempre tirar algo de SAX & METAIS DEZEMBRO / 2006

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FESTIVAL

Encontro de Metais

FESTIVAL POR DEISE JULIANA FOTOS: KAZUO WATANABE

Tubistasda Orquestrade SoprosBrasileiraem showdo Encontro.Criada na própriacidadede Tatuí em 1992, a orquestrajá gravouoito álbunsao longoda carreira.A direçãoartísticae regênciasãodo maestro Dario Sotelo, professor de regência do Conservatório de Tatuí.

FESTAPARAOS “METALEIROS” Encontro Internacional em Tatuí torna-se um verdadeiro ‘oásis’: mais de 450 metaleiros de todo o País reuniram-se no interior de São Paulo para apresentações e workshops

“O

tamanho do bocal não indica a força do som.” A bronca foi dada pelo tubista Marcos dos Anjos, um dos muitos profissionais que participaram do 1º Encontro Internacional de Metais no Conservatório de Tatuí. Realizado entre 19 e 22 de outubro, a série de masterclasses, concertos e mesas-redondas atraiu mais de 450 metaleiros do Brasil e da América Latina. Foram tubistas, trompetistas, euphonistas, trombonistas e trompistas que encontraram na escola de música localizada a 130 quilômetros de São Paulo um ‘oásis’, já que muito se reclama da falta de eventos específicos

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para o setor no Brasil, o que não acontece na Europa e nos Estados Unidos. Conhecida internacionalmente como ‘Capital da Música’, a cidade de Tatuí serviu para amenizar o sentimento de exclusão. Lá, os metaleiros trocaram idéias e acompanharam dicas preciosas de profissionais do calibre de Luiz Garcia, trompista integrante do German Brass, considerado um dos melhores grupos de metais do mundo. “O que os músicos levarão daqui irá enriquecer suas carreiras. Mesmo aqueles que não sigam trabalhando com a música, o que aprenderam, em tão pouco tempo, levarão para

a vida toda”, afirmou o músico, uma das atrações da abertura do encontro. Ao executar o Concerto nº 1 para Trompa e Orquestra, de Strauss, frente à Orquestra Sinfônica Paulista, ele deu mostras do tamanho do conhecimento que acumula desde os 9 anos de idade. Hoje ele divide seu tempo entre Brasil e Alemanha. Na mesma noite em que Luiz Garcia deu o ar da graça no palco da escola onde iniciou seus estudos musicais, o trombonista Wagner Polistchuk executou o Concerto para Trombone, de Gordon Jacob e completou a noite de abertura. Mais do que execuções primorosas, Garcia e Po-

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FESTIVAL ENCONTRO DE METAIS

listchuk sintetizaram a essência do Encontro Internacional de Metais: mostrar a força dessa família musical e o alto nível dos instrumentistas que hoje são estrelas no Brasil e no exterior — e, muitas vezes, mais no exterior que no Brasil. É o caso de Altair Martins, o trompetista que solou em obras de Severino Araújo, John Coltrane e George Gershwin frente à Big Band SamJazz num dos mais concorridos concertos do evento. O carioca já gravou com personalidades como Chico Buarque, Ed Motta, Titãs, Alceu Valença e até com os Backstreet Boys — prova da democracia dos metaleiros. Com a carreira consolidada no Brasil e nos Estados Unidos, Martins mostrou simpatia e habilidade no trompete, deu provas de amor ao instrumento e dicas importantes durante seu workshop. “Os palestrantes eram de alto nível e conseguimos até formar grupos de música de câmara. É difícil termos solistas de trombone e trompete. Aqui, mostrou-se que é possível”, disse Sabrina Rodrigues Araújo, única trompetista mulher da turma de música da

USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto. Se na faculdade a classe feminina é minoria, em Tatuí elas conseguiram formar duos, trios, quartetos, quintetos, mostrando que o ‘sexo frágil’ está, de fato, em todos os segmentos. APRENDIZADO E HOMENAGENS Para o trombonista Lucas Borges, de apenas 25 anos, que veio de Brasília exclusivamente para o evento, as aulas foram muito produtivas. “O nível dos professores foi altíssimo e a estrutura, muito boa. Conseguimos aprender muito e queríamos até que o evento fosse mais longo”, sugeriu. As aulas ofereceram aos alunos a oportunidade de compartilhar informações e receber orientações de músicos profissionais respeitados. Sob a coordenação de Marcelo ‘Bambam’ Silva e João Paulo Moreira, o encontro foi bastante positivo. “Reunimos nomes importantes como os de Henry Bay, Wagner Polistchuk, Luiz Garcia, Nicolay Genov, Clóvis Beltrami, Julio Rizzo, Gilberto Siqueira, Gilberto Gianelli, Altair Martins, Rafael Mendes

e Gustavo Fontana, em um evento que é raro no Brasil”, disse o organizador João Paulo Moreira. “Tivemos também a oportunidade de entrar em contato com as principais referências de professores, solistas e nos informar sobre os melhores caminhos a serem seguidos para, quem sabe no futuro, conquistarmos este mesmo sucesso”, emendou ‘Bambam’. Para Marcos dos Anjos, o encontro acentua a necessidade de saber tocar bem o básico do instrumento e da música. Para o integrante da Osesp, executar esse conceito é essencial para a formação de um profissional. “De nada adianta construir um lindo prédio se a base não estiver sólida. Musicalmente, de nada adiante investir em técnicas mais difíceis se não se faz o básico”, afirmou. Nos quatro dias do encontro também houve espaço para a emoção. Ela encontrou seu auge na apresentação da Orquestra de Metais Lyra, formada por crianças de baixa renda e que deu show de música e coreografia. A apresentação, que foi um teste para os pulmões e lábios das crianças, emocionou a Julio Rizzo, trombonista da Ospa (Orquestra Sinfô-

Criada há três anos pelo músico Adalto Soares, de Tatuí, a Banda Lyra é composta por 75 alunos primários da rede pública da cidade, entre 7 e 14 anos. A idéia é preencher as horas vagas das crianças depois da escola, oferecendo aulas de teoria musical, prática instrumental e ordem unida (marcha) — além de auxiliar na educação da criança e disseminar a cultura musical. SAX & METAIS DEZEMBRO / 2006

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FESTIVAL

Encontro de Metais

FESTIVAL POR DEISE JULIANA FOTOS: KAZUO WATANABE

nica de Porto Alegre). “Estou saindo daqui muito mais cheio de música e energia. Estou me sentindo um menino e a quantidade de músicos presentes mostra a carência, no Brasil, de eventos como esse. Esta orquestra Lyra é um embrião que pode se tornar algo revolucionário”, disse ele, ao final do show do grupo. Espaço para aprender, espaço para homenagear. O argentino Henry Bay, de 78 anos e que há 40 responde pelo cargo de primeiro trombonista de duas das principais orquestras da Argentina — Teatro Cólon e Sinfônica Nacional — chegou timidamente. Com currículo invejável, mostrou-se solidário a todos os jovens instrumentistas. A última peça executada no encontro, Concert for Trombone and

Polistchuk durante apresentação no concerto de abertura do Encontro Internacional

MESTRE DO TROMBONE Um dos destaques do festival, o trombonista Wagner Polistchuk, bacharel pela Faculdade Mozarteum de São Paulo e que lecionou no departamento de Música da ECA-USP, promoveu workshops e aulas para dezenas de participantes. Polistchuk tem um currículo invejável. Após participar de um concurso pela Fundação VITAE, conseguiu uma bolsa de estudos e especializou-se na Alemanha com o professor Branimir Slokar, em 1990. Após ter vencido vários concursos nacionais, ficou em quarto lugar no Concurso Internacional de Trombones ‘Giovani Concertisti’ em Porcia, Itália, em dezembro de 1997. Paralelamente, segue a carreira de regente, tendo mestres como o maestro Eleazar de Carvalho, Dante Anzolini, Ronald Zollmann, Andreas Spörri e atualmente o maestro Roberto Tibiriçá. É regente titular da Orquestra Sinfônica de Londrina (PR). Em 2002, foi o grande vencedor do Concurso para Jovens Regentes “Eleazar de Carvalho” promovido pela Orquestra Pró-Música Petrobrás, no Rio de Janeiro.

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Band, de Korsakov, frente à Orquestra de Sopros Brasileira, foi dele. No bis, deu um show de técnica para, depois, receber as devidas homenagens. Ele, que relutou em aceitar o convite por considerar-se ‘velho demais’, seguiu para a Argentina revigorado e deixou para trás instrumentistas extasiados. Emocionado, disse ter se surpreendido no Conservatório de Tatuí. “Não costumamos ver crianças tão pequenas estudando música na Argentina. Aqui, é natural. Elas crescem com a música e a qualidade dos

trabalhos cresce junto”, disse ele. Em quatro dias, foram realizados seis concertos, 20 masterclasses e 15 palestras, uma verdadeira festa para os metaleiros de plantão. Entre os muitos ilustres presentes ao evento, esteve o ator Paulo Betti. Ao fazer na cidade a estréia de seu filme Cafundó junto dos músicos do Conservatório de Tatuí, o ator visitou a escola e participou de uma masterclass do Encontro de Metais, revelando sua paixão pela música e admiração pelo trabalho da escola tatuiana.

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ANÁLISES

O polivalente da Arwel

TROMPETE DYNASTY M 503

Este quesito foi o que encontrei alguma dificuldade ao tocar o trompete da Dynasty. Os centros de várias notas estão muito altos, desequilibrando as relações intervalares. O músico mais experiente terá um gasto de energia muito grande para ficar corrigindoas e a preocupação será muito grande, o que pode tirar sua atenção da música. Minha sugestão é o fabricante aumentar o cano fêmea da volta geral de afinação, o que entra no cano de embocadura (leadpipe), de forma que, quando totalmente fechado encoste no cano interno. Nas medidas atuais, isso não acontece, criando-se um espaço. Quando o músico abre para atingir uma afinação entre 440 Hz a 442 Hz, as mais comumente usadas, amplia-se ainda mais esse espaço, o que me parece o diagnóstico mais preciso desse desequilíbrio no instrumento.

LIVE!

AFINAÇÃO

REVIEW

Considero o som uma das coisas mágicas em um instrumento. Ao mesmo tempo, não existe uma regra de que tipo ou marca de instrumento proporcionará uma determinada qualidade de som, brilhante, escuro, claro ou outro adjetivo que encontremos. O som dependerá basicamente de dois fatores: o bocal e o nível de domínio técnico. Tocando o Dynasty M503, consegui uma sonoridade escura e uma ótima flexibilidade nos graves, médios e agudos.

O trompete M 503 é um modelo standard da Dynasty e chega às lojas no Brasil por um preço médio de R$ 1.500,00. Seu estojo é bastante simples e não comporta partitura ou surdina. Como tive acesso apenas a um instrumento não posso afirmar que o problema da afinação está ligado a todos os modelos M503, mas de qualquer forma, é algo que pode acontecer com instrumentos em geral. Indico esse modelo para iniciantes e pessoas que tem a música como hobby, que vão tirar um bom som desse trompete.

ESTÚDIO TECNOLOGIA

Na questão mecânica, não notei nenhum vazamento e, principalmente, suas voltas de afinação estão bem alinhadas, o que permite o fácil manuseio. Isso vale especificamente para as voltas de afinação do 1º e 3º pistões e para a geral. Além disso, os pistões funcionaram quase que perfeitamente. Havia apenas um barulho constante

SONORIDADE

CONCLUSÃO

NOVIDADE

MECÂNICA

vindo das molas que, com um pouco de paciência, o instrumentista pode rodá-las diminuindo ou acabando com o barulho.

TESTE

Dynasty é uma marca norte-americana que destina seus produtos às chamadas marching bands. Uma marching band pode ser comparada às nossas bandas marciais. Lá nos EUA, elas se apresentam em jogos de futebol americano, paradas e ocasiões cívicas. Quando tocam nos jogos, animam a torcida e, nos intervalos, vão ao campo produzindo formações e evoluções espetaculares de marcha e música. A grande maioria das escolas do ensino médio (high school), universidades, bem como os times profissionais, possui uma marching band. Há também as profissionais chamadas Drum & Bugle Corp., que ensaiam o ano todo para uma única apresentação na competição anual. Essas bandas podem chegar a ter até 200 músicos. O trompete M503, vendido nos EUA com banho de prata ou laquê e um bocal 3C, chega ao Brasil pela importadora Arwel, sem acabamento e estojo e é enviado para a fábrica Weril, onde recebe o acabamento em banho de ouro (gold plated), estojo, manual de conservação, óleo, agulha de limpeza e garantia. O banho de ouro é impecável, a coloração lembra o cobre, proporcionando uma beleza ímpar ao instrumento.

TROMPETEDYNASTYM 503 - O POLIVALENTEDA ARWEL

A

DYNASTY TROMPETE M 503 Fabricante:Dynasty Importadora: Arwel Prós:sonoridadee acabamento Contra:afinação (centro das notas muitoalto) Preço médio: R$ 1.500,00 Garantia:3 meses Afinação Sonoridade Mecânica Custo-benefício

••••• •••••••• ••••• •••••

5 8 5 5

Utilização recomendada J Estudo J Apresentações ao vivo J Gravação em estúdio

Quer falar com o autor desta matéria? Marcelo Matos, trompetista: (11) 6973.9083 ou matostrp@hotmail.com Tire suas dúvidas com o importador: Arwel, (11) 3326.3809 ou arwel@sili.com.br SAX& METAIS DEZEMBRO/ 2006

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ANÁLISES

Bom custo-benefício para o estudante

SAX TENOR DOLPHIN N

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

SAX TENOR DOLPHIN - BOM CUSTO-BENEFÍCIO PARA O ESTUDANTE

esta edição, recebi a tarefa de analisar o saxofone tenor da Dolphin, modelo laqueado com chave de fa#SiB. O instrumento é importado pela Musical Izzo, uma das mais principais empresas do setor, foi fundada em 1945, que começou como fabricante de cordas, depois ampliou sua linha de produtos e passou a produzir peles de poliéster, pandeiros e tamborins. Desde 1994, o foco da Izzo passou a ser a importação e distribuição. Foi nessa época que a empresa começou a trazer para o Brasil grandes marcas internacionais como Fender, Dunlop, Vandoren, Elixir, Hohner e Vic Firth, além da Dolphin.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES É importante dizer que o instrumento vem envolto em um saco plástico, assim como o tudel e a boquilha. No geral, está muito bem acondicionado em um case retangular de fibra, sem pontas vivas, leve, preenchido com isopor e modelado no formato do instrumento. Traz compartimentos isolados para acomodar tudel, boquilha e os acessórios, todo revestido em pelúcia preta. Vem ainda com uma alça para transporte (como uma mala) e dois feixes para travamento do case, não possui tranca. Os acessórios inclusos são um par de luvas finas para manuseio, uma flanela, uma correia padrão e o certificado de garantia de um ano. Observei que não vem com a graxa para cortiça do tudel. A boquilha que vem com o instrumento é de massa e sem numeração. Pelo que pude experimentar, me parece que a numeração está em torno de 4 e 5. Além disso, vem com uma braçadeira de metal, um cobre-boquilha de plástico e uma palheta, também sem numeração, mas bem branda, para iniciantes.

ACABAMENTO E MECÂNICA O saxofone da Dolphin é muito bem laqueado com desenhos na campana semelhante a instrumentos profissionais de marcas como Selmer, Yamaha, Conn e

Yanagisawa, com um bom nível de acabamento. O tudel entra com alguma dificuldade e possui no lado oposto ao parafuso de fixação um porta-lira. Estranhei um pouco sua mecânica pelo fato do meu instrumento ser um vintage Conn Chu Berry com uma mecânica muito antiga. Mas adaptei-me facilmente. A mecânica desse sax é bastante ergonômica e confortável, com rolamentos na mesa da mão esquerda e direita facilitando a movimentação do dedinho da mão esquerda pelas chaves de G#, C# grave, B grave e Bb grave, e da mão direita pelas chaves de D# e C grave. Vem com chave de F# alternativa para a 1ª e segunda oitavas e chave de F# da 3ª oitava. Os apoios de polegar são em metal; o da mão direita tem um parafuso para regulagem. Possui também protetores para os mecanismos e chaves por todo o instrumento. Não encontrei numero de série em nenhum lugar do instrumento. Achei estranho, pois fui roubado no ano passado e consegui recuperar todos os meus instrumentos graças aos números de séries. O sax tem um dedilhado macio, chaves bem calçadas e boa pressão das molas, não apresentando folga ou ruídos das chaves. O conector da correia é um pouco baixo, dificultando o ajuste. As sapatilhas possuem refletores de metal para melhor projeção do som.

SONORIDADE E AFINAÇÃO Testei o instrumento em casa, em aulas e em shows, com a boquilha original e com a minha boquilha, uma Otto Link de metal. Obtive melhor rendimento com a minha. Apesar de possuir um bom som, encorpado, não tive uma boa resposta em shows. É um excelente instrumento para iniciantes, mas para o palco é meio limi-

tado porque apresenta pouco brilho. Tive dificuldade com os harmônicos e pouca flexibilidade sonora na hora de interpretações e dinâmica. Sua afinação é boa, porém seus agudos são um pouco altos, mas todas as notas soam com facilidade por todo o instrumento com ambas as boquilhas. É um instrumento gostoso de tocar, macio e sonoro, bom para saraus e sons mais intimistas.

CONCLUSÃO O saxofone tenor da Dolphin é uma boa opção para quem está começando, com excelente relação custo-benefício. O investimento inicial é baixo e o rendimento é bom.

SAX TENOR DOLPHIN Fabricante:Dolphin Prós:mecânicaergonômica,bom acabamentoe ótimocusto-benefício Contra:timbrecompoucobrilho Preço médio: R$ 1.400,00 Garantia:12 meses Afinação Afinação Sonoridade Mecânica Mecânica Custo-benefício Custo-bene fício

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Utilização recomendada J Estudo J Apresentações ao vivo J Gravaçãoem estúdio

Quer falar com o autor desta matéria? Tico D’Godoy (saxofonista): (11) 5051-5158 ou tico@quasimodo.com.br Tire suas dúvidas com o importador: Musical Izzo (11) 3797-0100 ou marketing@musicalizzo.com.br

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REVIEWSCDs e Livro Ao vivo no Village Vanguard Gafieira Jazz Autor: Max Gordon - Ed. Cosac Naify 232 páginas (www.cosacnaify.com.br)

Artistas: Paulo Moura & Cliff Korman Rob Digital (www.robdigital.com.br)

Livro O livro reúne 19 divertidas conversas de Max Gordon com vários de seus amigos músicos, poetas e comediantes, constituindo um detalhado painel da história do show business e da vida cultural nos EUA desde a década de 1930. Fundada em 1934, a casa nasceu com a vocação boêmia do bairro onde se instalou: o Greenwich Village. A casa foi, na época, palco de uma produção artística importante, além de atrair um público seleto e formador de opinião da cidade. A partir de 1957, no entanto, Max Gordon decide adotar a política de exclusividade para o jazz. E aí entram em cena todos os gênios da ‘música clássica negra’, que Max conhecia por sua já então longa experiência no ramo em duas outras casas: o Blue Angel e o Le Directoire.

O encontro do exímio clarinetista brasileiro e Cliff Korman, importante músico de jazz americano que há 20 anos estuda a música brasileira, aconteceu em 1981, durante um workshop realizado em Woodstock, Nova York. A partir de então estava feita a parceria, e a fusão do jazz com o samba e o choro. Este CD é uma coletânea de dois álbuns gravados na Itália, Mood Ingênuo – Pixinguinha Meets Duke Ellington, em que Moura sugere um encontro entre Pixinguinha e Ellington, e Gafieira Dance Brasil, no qual somam-se ao duo David Finck ao contrabaixo, Paulo Braga à bateria e Mestre Zé Paulo ao cavaquinho. O álbum apresenta clássicos do choro como Saxofo-

Casa Forte

CD

CD

Artista: Mauro Senise Biscoito Fino (www.biscoitofino.com.br)

Um autêntico íntimo do jazz e do choro, Mauro sempre percebeu nos temas de Edu Lobo possibilidades instrumentais infinitas: são melodias e harmonias tão ricas, tão feitas de sugestões, que não resistir não basta. É preciso tocá-las. Dessa necessidade nasceu o projeto. O primeiro passo foi levar a idéia a Edu, que a recebeu com entusiasmo e ainda se propôs a colaborar com temas inéditos. Dos seis que enviou a Senise, quatro são peças para grande orquestra, de modo que a escolha recaiu sobre os dois que pareciam mais adequados a grupos menores, Arpoador e Valsa Carioca. O segundo passo, tão importante quanto o primeiro, foi convocar outro grande músico, arranjador, compositor, pianista, parceiro antigo, também íntimo do choro e do jazz, com igual sensibilidade para descobrir novos caminhos em temas alheios: Gilson Peranzzetta. Assim,

com Mauro nos saxes e nas flautas, Paulo Russo no contrabaixo, Ivan ‘Mamão’ Conti na bateria, Gílson no piano e nos arranjos, mais o reforço de ilustres convidados como Jota Moraes no vibrafone, David Chew no cello, Pascoal Perrotta à frente de um naipe de cordas, o próprio Edu na voz da única faixa cantada — o grupo concentrou-se por duas semanas no estúdio da Biscoito Fino para produzir os 70 minutos de música que formam as 13 faixas do disco, que traz baladas obrigatórias como Pra Dizer Adeus, Beatriz, Canto Triste e Canção do Amanhecer. (Por João Máximo)

ne, Por que Choras, em que Paulo Moura toca sax alto; Pedacinhos do Céu, com solo de cavaquinho e bailados do clarinete de Moura; 1 X 0, com um delicioso arranjo brasileirinho jazzístico, para piano e clarinete — esta, só ouvindo para entender o adjetivo. (Por Débora de Aquino)

Foto de Satélite

CD

Artista: Arismar do Espírito Santo Maritaca Records (www.maritaca.art.br)

Foto de Satélite é o novo trabalho de Arismar do Espírito Santo, multiinstrumentista que aqui mostra suas qualidades tão reconhecidas ao contrabaixo, guitarra e violão de sete cordas e ainda piano e bateria. Ele conseguiu a proeza de reunir uma turma da pesada nos sopros: Léa Freire, Vinícius Dorin (desfilando sax tenor, soprano e barítono), Daniel D’Alcântara e Proveta. O time conta ainda com músicos do quilate de Silvia Góes, Lito Robledo, Edu Ribeiro, Michel Leme, Alex Buck e Thiago Espírito Santo, com participações especiais de Jane Duboc e Bia Góes. Logo de cara, no tema Vestido Longo, Arismar nos sugere um clima João Donato, colocando Samba Donateado como subtítulo. O mesmo donateado pode ser imaginado na levada de Brincadeira de Criança. Este álbum tem baladas, samba jazz ligeiro na música Tidinho, com direito a Vinícius Dorin ao sax barítono e em seguida solo de tenor, e Daniel D’Alcântara ao trompete. Também tem baião, com a participação de Dominguinhos dobrando o tema com a flauta perfeita de Léa Freire em Cadê a Marreca. O Filme é um tema dado de presente aos improvisos de sax tenor de Dorin e baixo de Thiago Espírito Santo, o filho talentoso. Não posso deixar de citar a primorosa participação de Proveta na faixa Conversa de Músico, que Arismar dedica, “para esse trio de craques que faz música com (ô) coração”, (completando o trio tem Thiago e Alex Buck, além do próprio Arismar na guitarra). Ficou com água na boca? (Por Débora de Aquino) SAX & METAIS DEZEMBRO / 2006

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WORKSHOP

Saxofone

ACORDES E ESCALAS Daniel Garcia

TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

SAXOFONE - A EMBOCADURA DO SAXOFONE, PARTE 1

A

arte da improvisação teve sua grande revolução a partir dos anos 40, quan-

do os músicos de jazz começaram a pensar

Daniel Garcia, do Rio de Janeiro, é saxofonista, arranjador e compositor. Já gravou e se apresentou com artistas da MPB como Gonzaguinha, Marcos Valle, Johnny Alf, Nélson Gonçalves, Maria Bethânia, Alcione, Elba Ramalho, Nana Caymmi, Beth Carvalho, entre outros. Fez parte da Orquestra da Rede Globo de Televisão, participou de várias edições do Free Jazz Festival. Ao lado de Idriss Boudrioua é fundador do quarteto Saxofonia. Contato: danielgarcia@superig.com.br.

horizontalmente (escalas) mais do que verticalmente (acordes).

sim, saber avaliar o conjunto de notas que

dio-Aumentado EbMaj7#5,

Nos primórdios do Jazz, os músicos im-

podem ser usadas nos acordes. A tendên-

IV Lídio b7 F7#11, V Mixolidio b6

provisavam pensando, principalmente, na

cia geral do iniciante é achar que decorar

G7b6, VI Locrio #2 Am7b5, VII Super

melodia e nas notas dos acordes da musica.

milhões de escalas é o certo, porém esse

Locrio B7alt (alterada ou diminuta tom

Esse tipo de pensamento limitava o impro-

não é um bom procedimento. Temos que

inteiro).

viso a tocar fundamental, terça, quinta e

interpretar a maioria das cifras usando

sétima. Por volta dos anos 30 é que músicos

apenas quatro escalas:

A escala diminuta aparece em dois modos:

mais avançados como Duke Ellington, Co-

LIVE!

leman Hawkins, Art Tatum e Lester Young,

• Escala Maior

semitom/tom C7b9

passaram a usar, também, nona, décima

• Escala Menor Melódica

(C,Db,Eb,E,F#,G,A,Bb)

primeira e décima terceira, trazendo um enriquecimento ao improviso.

• Escala Diminuta • Escala Tom Inteiro

tom/semitom C° (C,D,Eb,F,Gb,Ab,A,B).

Podemos observar que isso nada mais é do que uma progressão por terças

Como sabemos as notas contidas no

(C.E.G.B.D.F.A). O próximo passo é re-

acorde D -7 são as mesmas do modo D

Da escala tom inteiro: de qualquer grau

arranjar a disposição das notas e conseguir

dórico que, por sua vez, é o segundo

temos sempre um mixolídio com 4ª e 5ª

uma escala (C,D,E,F,G,A,B). Chegamos,

grau da escala de Dó Maior. Não deve-

aumentada. (C,D,E,F#,G#,Bb). Essa cifra-

então, ao BEBOP e, músicos como Charlie

mos pensar em acordes e escalas como

gem é polemica. Alguns cifram C7#4#5,

Parker e Dizzy Gillespie já estão pensando

coisas diferentes.

outros C7#5 e ainda C7+ ou C7b13. Eu

o tempo todo em termos de escala, ou seja,

Acordes e escalas são duas formas de

prefiro C7#5, já diz tudo.

uma mesma coisa. O objetivo é pensar

Atenção: Escalas maior e menor me-

Quando se está improvisando é mais

a cifra como um símbolo de escala, ou

lódica são assimétricas (t,t,st,t,t,t,st) /

fácil pensar em escalas do que em acordes.

melhor, acorde/escala, mesmo símbolo.

(t,st,t,t,t,t,st), sendo assim podemos ter 12

O objetivo do estudo é exatamente ver a

De cada grau de cada uma dessas escalas

escalas de cada uma. Escalas diminutas e

cifra e associar a escala a ela. Para muitos

podemos tirar modos.

tom inteiro são simétricas (t,st,t,st,t,st,t,st)

horizontalmente.

músicos, a palavra escala tem uma conota-

Da escala Maior: I iônico(CMaj7), II

ção negativa, faz-se logo associação a um

dórico(Dm7), III frigio(Em7 ou Esusb9),

estudo monótono e cansativo com poucas

IV lídio(FMaj7#4), V mixolidio(G7), VI

variações. Provavelmente, todo músico

aeolio(Amb6), VII locrio(Bm7b5). menor

A partir desse ponto é praticar todos os modos – se possível, ouvindo o acorde correspondente – até o ponto de olhar

por horas e horas de escalas. O importante

(C,D,Eb,F,G,A,B, sobe e desce igual).

para a cifra e já saber que modo aplicar.

para o improvisador não é ficar pensando

I Menor-Maior ou Menor Melodica

Melhor ainda é saber avaliar que notas são

em escala como dó, ré, mi, fá, sol... Mas,

Cm(Maj7), II dórico b2 Dsusb9,III Lí-

mais interessantes para o momento.

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escala

minutas e duas tom inteiro.

melódica:

que tenha alguns anos de estudo já passou

Da

/ (t,t,t,t,t,t), dessa forma teremos três di-

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Cada músico tem uma maneira pes-

sar solos e tentar descobrir como diver-

acorde maior ou diminuto, e é isso que

soal de entender a mesma situação, bas-

sos músicos encaram os mesmos acordes.

devemos observar e tentar aprender. Em

ta ouvir várias gravações de uma mesma

Lester Young, Charlie Parker, John Col-

um livro sobre improvisação, li uma frase

música, de preferência de épocas diferen-

trane, Miles Davis, Thelonious Monk,

que nunca esqueci: “Mantenha a mente e

tes, para perceber como isso é verdade.

Bud Powell, Keith Jarrett e tantos outros,

os ouvidos abertos”. Guarde essa mensa-

Além disso, é importante também anali-

certamente, tocam escalas diferentes num

gem com você, será sempre útil.

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WORKSHOP

Clarinete

SEGREDOS PARA A BOA SONORIDADE NO CLARINETE Michel Moraes

TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

MICHEL MORAES - SEGREDOS PARA A BOA SONORIDADE NA CLARINETA

N

esta edição vou abordar o aspecto que considero um dos mais importantes da técnica no clarinete: a sonoridade. Geralmente, essa faceta da técnica é negligenciada pelos métodos do instrumento por se tratar de um assunto subjetivo. Até mesmo professores renomados evitam ensinar os pequenos detalhes que valem ouro e podem ajudar a melhorar o som no clarinete, por acharem ‘óbvios’ ou pouco relevantes. Quando menciono sonoridade, refiro-me ao timbre, à emissão, ao controle de dinâmica e à projeção do som. Basta uma nota longa para conhecermos a qualidade do clarinetista, independente da técnica que possui com os dedos. Começaremos pelo básico, pois esses conselhos podem não ser óbvios para todos. Explicarei de maneira simples como melhorar dois aspectos que compõem o som no clarinete: timbre e emissão. O primeiro passo para começar a trabalhar o som é possuir uma boa palheta e uma boa boquilha, pois sem o aparato necessário não há condições físicas para tal. O segundo passo é o mais importante: a referência. Como pretendemos chegar a uma bonita sonoridade se não sabemos o que isso significa? Existem muitas maneiras e estilos de se tocar, e cada uma delas pode aportar um timbre específico, além de que cada solista tem a sua sonoridade particular. Precisamos ouvir muitas gravações, ir a muitos concertos e shows até formarmos uma sólida referência do timbre que nos agrada mais. Experimente imitar o timbre que gostaria de ter. Um grande obstáculo para quem quer ter um bom timbre de clarinete é uma embocadura incorreta (foto 1 – errada). Deve-se es-

Michel Moraes é clarinetista e bacharel em Música pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), formado sob orientação dos professores Sérgio Burgani e Peter Dauelsberg (música de câmara). Atualmente, integra o quadro de músicos da Orquestra de Sopros Brasileira de Tatuí (SP), da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo e do quarteto de clarinetes Madeira de Vento. Contato: michelmoraes@madeiradevento.mus.br ou www.madeiradevento.mus.br. ticar o queixo para baixo a fim de liberar o excesso de pele do lábio inferior em contato com a palheta (foto 2 – correta). Isso vai otimizar a vibração dela, fazendo o instrumento soar mais e com menos ar. Outro impedimento é a pressão demasiada dos lábios oprimindo a passagem de ar na palheta, principalmente na tessitura aguda. Comece pelo exercício 1, soprando bem relaxadamente. Ao apertar a chave de mudança de registro, deve-se manter a mesma embocadura do grave, ligando o grave ao agudo. Se ‘guinchar’ é porque está apertando demais com os lábios. Se o som não sair, ou sair muito fraco, é porque está faltando mais pressão de ar. Pratique em frente a um espelho e procure notar bem se está conseguindo manter a embocadura esticada e sem mexer enquanto troca de registro. No exercício 2, observe que, na primeira nota, o tubo do clarinete está soando em sua nota fundamental (tubo fechado); em seguida, no registro médio, porém com o registro acionado (tubo fechado – harmônico) e, posteriormente, na última nota de cada série, com o tubo completamente aberto. O objetivo é buscar uma

EXERCÍCIO 1

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Foto 2

igualdade de embocadura e coluna de ar em mudanças de registro, visando maior equilíbrio de som. Outro grande segredo para ajudar a refinar o timbre é o ajuste das cavidades internas da boca. Observe que, além da embocadura, o espaço das cavidades internas da boca e da garganta influencia o som. Esses espaços são como a própria continuação do instrumento e podem modificar o timbre e a afinação. Como o clarinete possui uma grande tessitura, é necessário que se façam ajustes. Pratique os exercícios procurando ajustar as cavidades internas como se estivesse pronunciando (sem som!) as ‘vogais’ conforme mostradas na

Foto 1

tabela. Isso vai deixar os espaços internos com a forma correta para uma boa emissão em cada região do instrumento. Essas vogais são como indicadores, e existem gradações entre elas. Muitas vezes vejo clarinetistas que tocam com muito espaço e possuem um timbre ‘opaco’ nos agudos, ou o contrário, os que tocam com a garganta muito fechada e possuem um som muito ‘brilhante’ e estridente. Esses exercícios devem ser praticados como aquecimento e, de preferência, diariamente. Bons estudos!

EXERCÍCIO 2

EXERCÍCIO 1 COM VOGAIS

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WORKSHOP

Exercícios para a boa sonoridade no clarinete

EXERCÍCIO 2 COM VOGAIS

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SEGREDOS PARA A BOA SONORIDADE NA CLARINETA

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TABELA DE VOGAIS

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A função das abraçadeiras não é somente prender a palheta na boquilha, ela influencia no rendimento, melhorando a qualidade de som do seu instrumento.

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WORKSHOP

Flauta

A VIDA É UM BURACO Por Andrea Ernest Dias

TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

A VIDA É UM BURACO - ANDREA ERNEST DIAS

O

andamento vivo e a configuração rítmica em grupos de quatro semicolcheias tornam esta polca um estudo avançado para desenvolvimento do golpe duplo. A gravação do próprio autor (original 78 rpm RCA Victor 33275, fevereiro de 1930) nos mostra que ele faz uso de um golpe de língua seco e percutido. Isso implica soprar sem bloqueio e integrar-se plenamente à pulsação rítmica vibrante dessa página pixinguiana. O estudo dessa música também se aplica a várias combinações de articulação, mas para um melhor resultado no stacatto duplo, aconselho anteriormente o estudo em legato, em diferentes andamentos e dinâmicas (ff, f, mf, p), observando-se a qualidade sonora de cada nota e a estabilidade do sopro, cuidando para que não haja buraco entre os intervalos. A pronúncia indicada é o TUKU,

Andrea Ernest Dias é flautista da Orquestra Sinfônica Nacional, do Pife Muderno, da Banda Ouro Negro e do Quinteto Pixinguinha. Mestre em Flauta pela UFRJ, é autora da dissertação A expressão da flauta popular brasileira — uma escola de interpretação e também professora de flauta nos Seminários de Música Pro-Arte, RJ. Contato: andreaernest@uol.com.br com a língua posicionada mais à frente, próxima aos lábios, dando mais peso aos ataques, sem, entretanto, fechar a garganta. Na primeira parte, em C (Dó maior), deve-se fixar a atenção nos pontos em que aparece cromatismo porque, tecnicamente, o golpe duplo é mais difícil de ser coordenado com a digitação cromática. Na segunda parte, em Am (Lá menor), nos fixaremos no controle do volume (dinâmica), sugerindo um ‘crescendo’ nas notas repetidas que conduzem às escalas e arpejos descendentes. Para que todas

as notas apareçam com clareza, não deve ocorrer alteração na coluna de ar. A terceira parte, em F (Fá maior), descreve o efeito de dois instrumentos tocando simultaneamente. Caracteriza-se por encarregar a voz superior de tocar a melodia e designar um acompanhamento harmônico à voz inferior, ou vice-versa. Devem-se destacar as notas da melodia principal e sentir o ritmo das notas repetidas, diferenciando-se as vozes e as funções de cada uma na construção da melodia, acompanhada por meio de articulação clara.

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A VIDA É UM BURACO Pixinguinha

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WORKSHOP

Gaita

CROMATIZAÇÃO DA GAITA DIATÔNICA Fabrício Casarejos

TESTE

grande particularidade da gaita diatônica. Com a técnica de cons-

máticas e as diatônicas. Um modelo muito popular é a gaita

trução das chamadas bend notes podemos construir na primeira

blues, chamado também de gaita diatônica. Neste workshop, fa-

oitava não só a nota F e a nota A, como também as notas Db,

larei sobre este instrumento. Apesar do nome, a gaita diatônica é

Gb, Ab e Bb; na segunda oitava, Db e Ab e, por fim, na terceira

um instrumento cromático. Pode soar estranho, mas basta analisar

oitava não só a nota B, como também Eb, Gb e Bb. Contudo,

TECNOLOGIA REVIEW

A

s gaitas mais utilizadas dividem-se em duas famílias: as cro-

ESTUDO

NOVIDADE

os mecanismos do instrumento em resposta aos tratos e manejos

para vislumbrarmos a gaita de um modo cromático, a técnica de

do instrumentista. A emissão física de sons pela gaita se dá pela

construção das bend notes ainda não é suficiente.

oscilação e vibração de pequeninas palhetas de metal, ordenadas ao longo de duas placas de vozes, na parte superior e na inferior.

Observe o quadro abaixo: na primeira oitava falta o Eb, na segunda oitava o Eb, o Gb e o Bb e na terceira oitava o Db e o Ab. Assim, somos obrigados a lançar mão da técnica de construção dos over bends, ou ainda, os chamados overblows e overdraws. O primeiro gaitista a utilizar tal técnica de modo sistemático foi Howard

LIVE!

FABRÍCIO CASAREJOS - A CROMATIZAÇÃO DA GAITA DIATÔNICA

O gaitista mineiro Fabrício Casarejos mora no Rio de Janeiro há nove anos. É luthier de gaitas, bacharel, licenciado, mestre e doutorando em Física, com conhecimentos vinculados à música, ciência e tecnologia. Contato: auladegaita@hotmail.com.

Levy, em 1970. A gaita diatônica dispõe de 20 notas naturais, 12 bend notes e seis overbends, com quatro overblows e dois overdraws.

A gaita diatônica possui dez orifícios em sua extensão. Em cada um deles podemos emitir duas vozes naturais, bastando para isso soprar ou aspirar espontaneamente, o que ao final nos confere um total de 20 vozes naturais. Se escolhermos uma gaita diatônica afinada em C (Dó), temos que o modo jônico da escala maior de C, dado por C (Dó), D (Ré), E (Mi), F (Fá), G (Sol), A (Lá), B (Si), C (Dó), pode ser naturalmente encontrado na segunda oitava da gaita, ao executar as notas naturais disponíveis entre os orifícios 4 e 7.

A IMPORTÂNCIA DA RESPIRAÇÃO A execução fluida, afinada e timbrada dessas notas cons-

Como executar o modo jônico da escala maior de C ao longo

truídas depende dos ajustes no instrumento e da técnica do

das três oitavas disponíveis da gaita? Como podemos observar na

instrumentista. Por isso, temos de aperfeiçoar o tratamento

primeira oitava, compreendida entre os orifícios 1 e 4, não há a

muscular de respiração — embocadura, o chamado trato vocal

disponibilidade natural das notas F e A, e na terceira oitava não

— e realizar um ajuste preciso do instrumento. O gaitista deve

há a disponibilidade natural da nota B. A execução completa dessa

canalizar o sopro desde o diafragma, controlando a abertura e

escala ao longo de toda a gaita somente é possível, portanto, com

o fechamento da coluna do fluxo de ar através da garganta e da

a utilização das técnicas de construção de notas. Aliás, está aqui a

cavidade bucal, que devem ser leves e controlados.

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O trato vocal deverá direcionar o fluxo de ar no sopro

nota C; quando aspirado espontaneamente — palheta da placa

e na aspiração, selecionando a palheta a ser ativada. Quan-

inferior com oscilação ativada — emite a nota D; quando aspira-

do sopramos espontaneamente por um orifício, obtemos um

do com trato vocal para construção de uma bend note — palhe-

som gerado pela palheta da placa de vozes superior e, quando

ta da placa superior com oscilação ativada — emite a nota Db;

aspiramos espontaneamente, obtemos um som gerado pela

quando soprado com trato vocal para construção de um overblow

palheta da placa de vozes inferior. Com o trato vocal é possí-

— palheta da placa inferior com oscilação ativada — emite a

vel inverter esse mecanismo de modo a priorizar a ativação da

nota Eb. Contudo, a dinâmica de construção e as característi-

palheta da placa de vozes superior na aspiração e priorizar a

cas finais dos sons são dadas pelo comportamento combinado

ativação da palheta da placa de vozes inferior no sopro.

de processos que envolvem ambas as palhetas. Cabe ressaltar que

Esses mecanismos de inversão nos fornecem um conjunto de

tais ativações combinadas nos permitem completar as notas que

notas necessárias à composição da escala cromática. O orifício 1

faltam para a cromatização do instrumento e um contínuo de ou-

da gaita em C, por exemplo, quando soprado espontaneamente

tras freqüências. A gaita dita diatônica é um instrumento capaz

— palheta da placa superior com oscilação ativada — emite a

de bem dividir a oitava em bem mais de 12 sons musicais.

ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

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