Sax & Metais #25

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A REVISTA PARA QUEM TOCA E AMA INSTRUMENTOS DE SOPRO SAX&METAIS•2009•Nº 25•R$ 8,90

BOQUILHAS E PALHETAS Os segredos de John Coltrane

AFINE O SEU OUVIDO Lições indispensáveis para você transcrever solos

MILES DAVIS A história e as inovações do músico que revolucionou o jazz TESTAMO S Flu

ge Michael WlhForn HM45

“Surpreendi-m e com o acabamento do instrumen to” Sax tenor C “Um instrum ondor CST 62 ento de em toda a su fácil emissão a extensão”

INSTRUMENTOS

BONS BARATOS &

SAX, FLAUTAS, CLARINETES e TROMPETES

As melhores escolhas para o seu bolso

GAITA: EXERCÍCIOS PARA VOCÊ FICAR FERA NOS BENDS!




40 Vitrine

20 Bons e baratos

CAPA

índice edição 25

SEÇÕES 6 EDITORIAL 8 CARTAS 10 LIVE! 14 VIDA DE MÚSICO Wagner Barbosa

16 Dirceu Leite

28 Miles Davis

18 SETUP John Coltrane 34 ANÁLISES Sax tenor Condor CST 62 e Flugelhorn Michael WFHM45 36 TRANSCRIÇÃO Solos 40 VITRINE 41 REVIEWS – CDs e Livro

MATÉRIAS

50 CLASSIFICADOS

5 MINUTOS COM

16

Dirceu Leite

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Sideman dos mais requisitados, presente em cerca de 600 CDs e mais de 20 DVDs, fala de sua trajetória e revela segredos do músico de estúdio

CAPA

Miles Davis Conheça a vida e a obra de um dos mais influentes músicos do século XX. Do bebop ao cool jazz, sem esquecer do jazz fusion

ESPECIAL

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Bons e Baratos Compre seu primeiro instrumento com segurança. Avaliamos diversas marcas e modelos com boa relação custo-benefício para quem quer começar a tocar um instrumento de sopro 4

SAX & METAIS

DICAS DE MANUTENÇÃO

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Os cuidados com as madeiras

Preciosas dicas do luthier Daniel Tamborim para cuidar do seu instrumento como ele merece

WORKSHOPS 42 Maria Beraldo Bastos CLARINETE Articulação: para uma boa pronúncia

44 Paulo Oliveira SAXOFONE Aproximação cromática como técnica de improvisação

46 Ivan Marcio GAITA Bends: entendendo e praticando

48 Gabriela Machado FLAUTA Sonoridade: prática e aplicação II



c a r t a a o l e i t or

Jazz

sinônimo de expressão

N

o movimento moderno do jazz existem várias mansões, mas apenas quatro arquitetos: Charlie Parker, Duke Ellington, Dizzy Gillespie e Miles Davis, o parceiro mais jovem. Esses foram os quatro cavaleiros do apocalipse do jazz, que começou nos anos 40 e acabou por transformar a música; novas complexidades substituíram velhas simplicidades e, no processo, o jazz cresceu.” Assim escreveu o crítico e escritor britânico Kenneth Peacock. Para ajudar você, leitor, a entender a importância de um dos quatro ‘cavaleiros’, preparamos este mês uma matéria com o perfil do trompetista Miles Davis. O músico com características jazzísticas possui por si uma inquietude produtiva e assim consegue se expressar muito bem através de sua música. Para entender esses processos criativos é muito importante estudar as características de músicos com os quais temos afinidades, e, por que não, copiá-los transcrevendo seus solos. Há quem diga que essa prática torna o estudante uma cópia do músico em questão. E daí? Para este e outros esclarecimentos iniciamos nesta edição uma nova seção: Transcrição. Para nos ajudar nessa missão, contamos com a colaboração do saxofonista Ademir Júnior, que para inaugurar o assunto ensina como e por que adotar essa prática de estudo. Confira! E tem mais novidades em outra seção de estreia: Setup, em que iremos escolher um músico consagrado para tentar descobrir com a maior exatidão possível que instrumentos e equipamentos ele utilizava. Para começar, que tal John Coltrane? A vez das madeiras. Na edição anterior apresentamos algumas dicas de manutenção para trompetes e trombones. Agora conversamos com o luthier Daniel Tamborim, que revelou alguns segredinhos sobre como reparar seu instrumento nas emergências. Mas não se esqueça: passado o aperto, procure seu técnico de confiança e deixe seu ‘companheiro’ em ordem Assim como os jazzistas, também temos nossa inquietude produtiva. Por isso estamos sempre tentando melhorar as coisas, e queremos saber o que vocês estão achando da revista. No mês passado recebi, com muita alegria, diversos e-mails parabenizando a última edição, principalmente a matéria com Milton Guedes, que foi muito bem-aceita. A análise da boquilha Meyer também rendeu diversos comentários e algumas dúvidas, as quais procurei responder, na medida do possível. Para alguns ainda devo resposta, mas aguardem! Suas críticas, comentários, dúvidas e sugestões são sempre bem-vindos. Afinal, a Sax & Metais é nossa!

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EDITOR / DIRETOR Daniel A. Neves S. Lima COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO Ana Carolina Coutinho MTB: 52.423 ASSISTENTE DE COMUNICAÇÃO Itamar Dantas EDITORA TÉCNICA Débora de Aquino DIREÇÃO DE ARTE Alexandre Braga REVISÃO Hebe Ester Lucas DEPARTAMENTO COMERCIAL Carina Nascimento e Eduarda Lopes ADMINISTRATIVO / FINANCEIRO Carla Anne ASSINATURAS Barbara Tavares assinaturas@musicaemercado.com.br Tel.: (11) 3567-3022 IMPRESSÃO E ACABAMENTO Vox Editora FOTOS Jan Persson e Thiago Albuquerque COLABORADORES Daniel Tamborim, Ademir Júnior, Ivan Marcio, Gabriela Machado, Maria Beraldo Bastos e Paulo Oliveira DISTRIBUIÇÃO NACIONAL PARA TODO O BRASIL Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 • Grajaú CEP 20563-900 • Rio de Janeiro • RJ Tel.: (21) 2195-3200 ASSESSORIA Edicase Soluções para Editores SAX & METAIS (ISSN 1809-5410) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Administração, Redação e Publicidade: Caixa Postal 21262 • CEP 04602-970 São Paulo • SP • Brasil Todos os direitos reservados. PUBLICIDADE Anuncie na Sax & Metais comercial@musicaemercado.com.br Tel./Fax: (11) 3567-3022 www.saxemetais.com.br e-mail: ajuda@saxemetais.com.br editorial@saxemetais.com.br



Milton Guedes Já estava na hora de o Milton Guedes aparecer na capa da Sax & Metais. A matéria ficou excelente, sem falar nas fotos, que estão show. Parabéns a todos! Bruno Arruda Piracicaba, SP Numa das primeiras edições da revista já tinha saído uma matéria pequena com o Milton Guedes, mas agora foi demais! Amei! Além de bom músico, é um verdadeiro artista ao lado do Lulu Santos. Cristiane Sampaio Niterói, RJ

Testes Sou leitor assíduo da revista Sax & Metais. Na edição 24, li a matéria sobre a boquilha Meyer 5M e achei muito interessante, parabéns! Escrevo pois gostaria de sugerir um teste com a boquilha Claude Lakey 7*3 para sax alto. Particularmente acho uma ótima boquilha, com um som aberto e brilhante, usada por grandes saxofonistas como Mario Lúcio (ex-

cartas

Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para editorial@saxemetais.com.br

Placa Luminosa) e o grande Benny Carter. Existem músicos que afirmam que a CLA 7*3 apresenta problemas de afinação; em contrapartida, há outros que dizem que o problema é do executante, por ser uma boquilha muito aberta, que exige uma embocadura segura. Gostaria de poder ler uma matéria esclarecendo essa divergência. Moisés Leão via e-mail

É um privilégio ter acesso a uma revista dessa estirpe. Muito obrigado! Flávio Marcelo Gomes Araçatuba, SP

Improvisando com Wagner Barbosa Finalmente a Sax & Metais chega a Araçatuba. A revista está ótima, em especial a matéria sobre o ciclo das quartas e quintas. A didática do Wagner Barbosa é ímpar. Está de parabéns!

Aqui em Vitória fiz um acordo com o pessoal da revistaria local e assim que a revista chega, eles me ligam. Dessa forma não perco nenhuma edição. Adorei a matéria do Wagner. Bem explicativa e de fácil assimilação. Também tive a oportunidade de conversar com ele e o mesmo mostrou-se uma pessoa finíssima, que gosta de passar adiante o seu conhecimento. Parabéns, Wagner! Espero ver mais matérias suas na S&M! Gildo A. Sant’Anna Jr Vitória, ES

ORKUT Para saber informações da revista e trocar ideias com outros músicos de sopro, participe da comunidade da Sax & Metais no Orkut – http://www.orkut.com/Community. aspx?cmm=12315174. Já são mais de 2.100 integrantes que enviam comentários sobre instrumentos, músicas, críticas e sugestões para fazer a revista cada vez melhor.

TIRE SUAS DÚVIDAS Na edição 24 da Sax & Metais, na entrevista com Milton Guedes foi dito que ele usa o pedal Super Shifter PS 5 da Boss. Como ele usa esse pedal no sax? HENRIQUE FREITAS – IQUESAMBI@GMAIL.COM

Sei que existem modelos de flautas transversais com chaves vazadas e não vazadas. Gostaria de saber qual é a real vantagem das flautas com chaves vazadas. EDUARDO SAMPAIO – SÃO PAULO, SP

Olá, Henrique. Estou preparando uma matéria sobre processadores de efeito para a próxima edição da revista, mas vamos matar sua curiosidade. A configuração mais comum nesse caso é colocar o pedal como intermediário entre o microfone do sax e a mesa de som/amplificador. Dessa maneira o som ‘limpo’ do sax passa pelo pedal, recebe o tratamento eletrônico e é enviado para a mesa/amplificador já processado. Existem outras maneiras de se fazer isso, confira na matéria que está chegando. JOSEC NETO – CONTATO@JOSECNETO.COM

Uma das finalidades das flautas vazadas, também chamadas de ‘estilo francês’, ou french model, é melhorar a sonoridade, principalmente na região aguda. As chaves vazadas também facilitam a execução de determinados ornamentos, como os glissandos, já que podem ser abertas parcialmente apenas escorregando-se os dedos, obtendo-se dessa forma intervalos menores que meio tom, os quartos de tons.

!

CIPE PARTI

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SAX & METAIS

Note que as flautas estilo francês não são indicadas para iniciantes por exigirem nível técnico mais avançado. Porém, ao comprar uma flauta desse tipo, tem-se a possibilidade de tocála tampando-se as chaves com plugs, que normalmente vêm junto com o instrumento, e, à medida que a técnica for se apurando, pode-se retirar os plugs e assim obter todo o rendimento que o instrumento oferece. DÉBORA DE AQUINO – EDITORIATECNICA@SAXEMETAIS.COM.BR

A Sax & Metais abre um espaço para você ter suas dúvidas respondidas por profissionais especializados. Encaminhe suas perguntas para o e-mail editoriatecnica@saxemetais.com.br. A revista se reserva o direito de resumir o conteúdo das dúvidas recebidas.



LIVE!

Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

7º Jazz Festival Brasil

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Jazz Festival Brasil tem o orgulho de ser o maior festival dedicado ao jazz no País. Em sua sétima edição, o evento já passou pelas cinco regiões do Brasil marcando presença em suas principais capitais. O festival é conhecido por trazer ao público o melhor do jazz internacional, além de atrações nacionais de destaque. Este ano o evento passou pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Empenhado na tentativa de popularizar o gênero no País, o festival faz neste ano uma homenagem ao músico americano Benny Goodman, conhecido como o rei do swing, que completaria 100 anos em 2009. Para tal, convidou Bob Wilder, saA multi-instrumentista xofonista americano que já tocou com o Gunhild Carlling próprio Goodman e atualmente apresenencantou a plateia no ta-se com a Lincoln Center Jazz Orches7° Jazz Festival Brasil tra. O destaque nacional ficou por conta do grupo Jazz6, que tem o saxofonista Luis Fernando Verissimo como um de seus membros. Na mes- contentou-se em tocar tin whistle, flauta e trompete. A artista foi ma noite, tocou a multi-instrumentista sueca Gunhild Carlling, um show à parte, demonstrando grande carisma e interagindo que já executou simultaneamente três trompetes. Dessa vez, ela com a plateia.

Mostra de Música Instrumental

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Quinteto Aljava realizou workshop na Mostra

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conteceu no dia 7 de setembro a 1ª Mostra de Música Instrumental Cristã em São José dos Campos – SP. Com o objetivo de incentivar o estudo e a prática de música instrumental, o evento contou com workshops de saxofone, flauta transversal, clarinete, trompete, trombone, teclado, guitarra, contrabaixo e bateria, além de palestras e apresentações musicais de muita qualidade. O evento foi realizado pela Igreja Batista Renovada – IBR e contou com a participação de muitos músicos da região, com destaque para o quinteto Aljava, responsável pelo workshop de Prática de Banda. Apesar de ter sido realizado em um feriado nacional, o evento foi um sucesso! É a música instrumental ganhando espaço e mostrando seu valor.


Software ensina flauta doce

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D’Accord Music Software é uma empresa voltada para o desenvolvimento de tecnologia musical. Com recursos de alta tecnologia, fornece as ferramentas e aplicações multimídia ideais para o aprendizado dos mais diferentes instrumentos musicais e agora está lançando o Flauta Player. Com esse software, qualquer pessoa pode aprender a tocar flauta doce de forma rápida e divertida. O software mostra na tela como tocar uma música na flauta, nota a nota, para que o aluno observe e toque em seu próprio instrumento. O funcionamento é semelhante ao dos jogos musicais como Guitar Hero, em que as notas da música rolam da direita para a esquerda até atingirem a flauta virtual. Para cada nota, o aplicativo mostra quais dedos devem ser pressionados e por quanto tempo. Para utilizar o Flauta Player não é necessário aprender teoria musical previamente. O aplicativo inclui mais de 70 músicas e exercícios especialmente selecionados para o

ensino de flauta, que estão divididos em três níveis de aprendizado: iniciante, intermediário e avançado. “Trata-se de uma solução econômica e eficaz para atender à Lei 11.769/2008, que tornou obrigatório o ensino de música nas escolas”, explica Américo Amorim, diretorexecutivo da D’Accord. O Flauta Player custa R$ 39,90 e pode ser adquirido diretamente no site da empresa www.daccord.com.br. Uma versão gratuita para testes está disponível para download.

Funarte seleciona artistas

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eus pais diziam que música não leva ninguém a lugar nenhum? Eles estavam errados. Prepare-se para ir ao Recife. A Feira Música Brasil é uma ação do Ministério da Cultura e da Funarte, em parceira com Fundarpe e Prefeitura do Recife, que será realizada em dezembro, no Recife. Com o objetivo de desenvolver e expandir ações na cadeia produtiva da música, o evento contará com palestras, conferências, rodadas de negócios e oficinas de qualificação. O edital está aberto para selecionar 24 artistas, bandas ou grupos que se apresentarão durante os dias 10, 11 e 12 de dezembro no palco do Marco Zero, no Recife, durante a feira. Para mais informações, edital e ficha de inscrição, acesse www.feiramusicabrasil.com.br

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LIVE! Aula virtual de gaita

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om o intuito de levar a música à vida do maior número possível de pessoas por meio da gaita, foi inaugurado no site da Bends Harmônicas o Aprenda Gaita Fácil. Pelo site www.bendsharmonicas.com.br você terá à sua disposição, de graça e sem sair de casa, aulas, workshops, exercícios, manuais e tudo o que for necessário para entrar no mundo da gaita. Não perca tempo, cadastre-se e aproveite!

Torneio de Bandas Marciais

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Paulo Moura

Revivendo o som do Beco

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as décadas de 1950 e 1960, o Beco das Garrafas, em Copacabana, foi o cenário da renovação da música brasileira. Bares como Little Club, Bottle’s e Bacará fervilhavam com o nascimento da bossa nova e do samba-jazz, estilos que em pouco tempo ganharam o mundo. Mas o som que ecoava apenas entre os números 21 e 37 da rua Duvivier era ouvido como barulho pela vizinhança, que protestava atirando garrafas do alto dos edifícios. Essa foi a inspiração para que Sérgio Porto batizasse o local como Beco das Garrafadas, que depois foi abreviado para Beco das Garrafas. Para reviver a cena musical carioca e um dos berços da bossa nova, o Copa Fest apresentou ao público uma imersão no som instrumental em evento que reuniu Paulinho Trompete, Paulo Moura, João Donato, Osmar Milito e Sergio Barroso, além de músicos da nova geração da música brasileira, como David Feldman Trio, o gaitista Gabriel Grossi, Banda Sambop e o Pagode Jazz Sardinha’s Club em um dos endereços mais luxuosos do Rio de Janeiro, o Copacabana Palace, nos dias 28, 29 e 30 de agosto.

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stão abertas as inscrições para o Torneio dos Campeões de Bandas Marciais, que acontecerá dia 22 de novembro no Ginásio do Corinthians, em São Paulo. Para participar, basta que sua banda seja reconhecidamente campeã de concursos ou campeonatos realizados em 2008 e 2009. Serão selecionadas as dez melhores bandas marciais do País. Para mais detalhes, ficha de inscrição e regulamento, acesse: www.brasilbandas.com

EXPOMUSIC 2009

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ste ano a Feira Internacional de Música superou as expectativas comerciais e de público em sua 26ª edição. O evento foi realizado de 23 a 27 de setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo, e contou com mais de 200 expositores, numa área de 15 mil metros quadrados. Os organizadores acreditam que o êxito da Expomusic 2009 vem em conjunto com a implantação da Lei Federal nº 11.769, que insere a música no currículo do ensino básico em todo o País. Mesmo prevendo um prazo de cinco anos para começar a sentir os resultados da implantação do ensino musical em sala de aula, o mercado de instrumentos musicais e acessórios segue empolgado. “Essa lei vai fazer a diferença na vida de muitas pessoas. Não faltam recursos para a educação neste país. A gente só tem de pressionar”, defende o presidente da Abemúsica, Synésio Batista da Costa, que aposta num crescimento de no mínimo 80% na venda de instrumentos musicais com a entrada da disciplina no currículo escolar em cinco anos. Na área de instrumentos de sopro, estiveram presentes diversas marcas já conhecidas do público, como Bends Harmônicas, boquilhas Ever-ton, Condor, Florence, Free Sax’s, Michael, sapatilhas JGG, Yamaha e Weril. É justo dar destaque à única fábrica brasileira de instrumentos de sopro e que esse ano comemora o seu centenário, a Weril. Segundo Nelson Eduardo Weingrill, diretor da fábrica, a história de sucesso da empresa começou com a paixão de Pedro Weingrill, seu bisavô, quando migrou da Itália para o Brasil. A indústria é administrada pela quinta geração da família. “Fabricamos produtos com qualidade e durabilidade para um público exigente. São estudantes e profissionais”, afirma Nelson. Para ele a Expomusic é o melhor evento brasileiro no segmento, o que significa uma importante oportunidade para a realização de contatos com revendedores e negociações.


A estranha origem do saxofone: será?

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ocê sabia? O ‘dispositivo’ que deu origem ao saxofone, criado por Adolph Sax por volta de 1850, foi na realidade pensado para servir de auxílio na cura da asma. A princípio era um tubo em forma de ‘S’ com uma mola em sua extremidade onde era colocada a medicação. O paciente deveria inalar e expirar pelo tubo durante 20 minutos pela manhã e à noite. Percebendo a falta de paciência dos ‘pobres’ pacientes,

Mr. Sax teve a ideia de colocar uma boquilha com palheta e algumas chaves que seriam o suficiente para que os pacientes pudessem tocar pequenas melodias sem precisar aprender música. Dessa forma esperava manter as pessoas ocupadas o tempo que durava a terapia. Fonte: African American Review Special Issue – “The Saxophone: It’s Strange Origins”, by Al Rose.

Brasil perde Ion Muniz

F

aleceu no dia 30 de agosto, aos 61 anos de idade, o saxofonista e flautista Ion Muniz. O músico iniciou sua carreira profissional em 1967 como integrante do Sexteto Vitor Assis Brasil. Participou da Jovem Guarda tocando ao lado de Roberto Carlos e Wanderléa. Integrou o Quarteto Edison Machado. Atuou com vários artistas, como Carlinhos Vergueiro, Lisa Ono, Nana Caymmi, Luiz Eça, Pepeu Gomes, Baby do Brasil e João Donato, além de prestar serviços à Rede Globo, como saxofonista, dentre diversos outros trabalhos em sua vasta carreira. Ion Muniz dedicou-se também à educação musical lançando os livros Functional Improvisation Technique e Muniz Music. (http://ionmuniz.mus.br)

Conexão Musical Brasil/Peru

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oi realizado em São José dos Campos, na Spalla Instrumentos Musicais, o Conexão Musical Brasil/Peru. O evento foi idealizado pela loja de instrumentos em parceria com Junior Barkley, fabricante das boquilhas Barkley, com o intuito de trazer aos músicos e amigos de toda a região do Vale do Paraíba um pouco sobre o cenário musical internacional. Participaram do evento como convidados o saxofonista peruano Karlhos Misajel e o saxofonista brasileiro Marquinho Sax.

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POR DÉBORA DE AQUINO

WAGNER BARBOSA A honra de tocar com Celso Pixinga e a importância de ensinar

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ue criança nunca pensou em tocar bateria? Wagner Barbosa é mais um menino que a princípio teve essa ideia. Seu primeiro contato com a música foi por meio da orquestra da igreja que frequentava e na qual sua mãe era regente de um dos grupos. Passado o primeiro encanto pela bateria e percebendo que seria inviável tocar esse instrumento, veio o interesse pelo sax alto e por sua sonoridade. O primeiro instrumento foi um presente de aniversário que ganhou de seu pai. Estudou com dois importantes instrumentistas, David Richards e Vinícius Dorin, e hoje já são 14 anos de experiência e uma vida musical inteira pela frente. Apesar da pouca idade, 25, já teve oportunidade de tocar e gravar com o grande baixista Celso Pixinga, que Wagner conheceu por acaso. Em 2005, participou do CD Bossa Jazz com o baixista e, em 2006, gravou o DVD O Jogo com o grupo Celso Pixinga Quartet. Paralelamente ao trabalho de instrumentista, Wagner mantém o blog Planeta Sax (http:// planetasax.blogspot.com) e está preparando um método de saxofone. Confira!

EXPLORANDO O SAX ALTO “Toco sax alto há 15 anos. Também toco sax tenor e o que mais escutei foram os tenoristas, pela sonoridade dos graves. Durante anos tocava alto pensando em ir para o tenor, mas quando assisti ao show do Kenny Garrett, em São Paulo, a forma como ele explorava os graves no sax alto, como usava os harmônicos, mudou minha concepção sobre o timbre que queria.”

O que Wagner Barbosa usa Sax alto Condor com boquilha B&N 7 e palheta Fibracell medium soft. Sax tenor Conductor com boquilha Ivan Meyer 8 e palhetas Vandoren Java 2 e Fibracell 2.

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CONHECENDO CELSO PIXINGA “Tocava num quarteto chamado Cumbuca Confusa e tivemos a oportunidade de abrir um workshop desse grande baixista. Após o som, gentilmente nos parabenizou e me disse: ‘Vou te chamar para tocar, hein, garoto!’ Alguns meses se passaram e Pixinga me ligou para gravar no projeto Bossa-Jazz. Disse que seria a música Triste, do Tom Jobim.” A

GRAVAÇÃO “Cheguei ao estúdio e o Pixinga brincou comigo dizendo: ‘De prima, hein! O

que ficar, ficou’. Para mim, que até então não tinha gravado nenhuma música instrumental, pensei: ‘É agora ou não é’. (risos) E não é que ficou a primeira mesmo? Todo inexperiente, queria ouvir. Ele me deu os parabéns e disse que eu só iria ouvir quando o CD ficasse pronto e assim foi.”

PROFESSOR “Ensinar é muito sério porque você

vai formular e produzir um novo mundo dentro do aluno. Quantas pessoas já desistiram da música por achar muito difícil? Por isso, o professor tem de encontrar a linguagem certa para a melhor compreensão do estudante. Com cada aluno tento desenvolver uma linguagem própria, sabendo que cada ser humano tem seu modo particular de entender a vida. Ao estar em aula, tento descobrir qual o melhor caminho para aquele aprendizado.”

MÉTODO “Já são oito anos de estudo e quase quatro que escrevo esse livro utilizando uma linguagem descontraída, ‘ao sabor de um batepapo’, para que todos entendam e com a ajuda da neurociência.” BLOG “Adoro escrever para meu blog Planeta

Sax. É um espaço para falar de conceitos musicais, saxofone e a vida. Como se estivéssemos tomando um café no fim da tarde, coisa bem informal, falando sobre as mesmas coisas, mas de outra forma. Desde assuntos básicos, como visualizando toda a extensão do seu sax através de uma escala maior, a assuntos mais complexos, como da escala dom-dim, como ‘Devaneios na ilha do Sr. Dom-Dim’. Acesse: www. myspace.com/wagnerbarbosax.”

PROJETOS “Estou finalizando o meu livro e

o meu site, que logo estará no ar (www.wagnerbarbosa.com.br). Também dou aulas via Skype, que funciona muito bem. A internet tem esse poder de fazer duas pessoas interagirem, como numa sala de aula, estando uma em São Paulo e outra em Manaus. Meu teclado, eu e o sax entramos numa fase de composição para o meu primeiro CD solo, com música brasileira, jazz e fusion.”

Foto Thiago Albuquerque

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5Dirceu Leite

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POR DÉBORA DE AQUINO

Vocação, talento, suor e samba Experiente nos palcos e nos estúdios, o músico está lançando seu segundo CD solo, Cacique Instrumental

D

a flauta doce para a transversal, depois saxofones e clarinete. Esse foi o caminho de Dirceu Leite, músico gaúcho criado no Rio de Janeiro que teve a noite carioca como sua principal escola, e como não poderia deixar de ser, é um dos mais reconhecidos instrumentistas do samba. Imagine quantos grandes nomes do gênero quiser, difícil vai ser dizer algum com quem Dirceu não tenha tocado ou gravado. De Martinho da Vila a Beth Carvalho, sem esquecer renomados artistas da MPB como Chico Buarque, Ney Matogrosso, Caetano Veloso e Rita Lee. Desenvolve importante trabalho na área da música instrumental ao lado de Wagner Tiso e Francis Hime. A bossa nova também tem espaço na música de Dirceu, que atualmente toca com um dos mestres do gênero, Carlos Lyra. Quer mais? Fez diversas trilhas para a Rede Globo. Sim,

O que Dirceu Leite usa Sax tenor Borgani, com três boquilhas B&N modelos Otto Link de massa, Dukoff Holywood de metal 8 e Dave Guardala S8 Michael Brecker 1 e palheta Vandoren ZZ 3. Sax alto Selmer Balanced Action, primeira geração, com boquilha Meyer 6M e palheta Vandoren ZZ 3. Sax soprano Borgani com boquilha B&N modelo David Liebman e Rico Jazz Select 3M. Clarinete Selmer Prolog II com boquilha Charles Bay Medium e palhetas Vandoren Lepic56 3. Fauta Marigot com bocal Tudrey. Piccolo Philipp Hammig de madeira. Flauta em G Deford com bocal Tudrey.

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além de um requisitado sideman carioca, Dirceu orgulha-se de ter grande experiência como músico de estúdio, sendo figura presente em mais de 20 DVDs e mais de 600 CDs, e afirma que para se destacar nessa função não basta ser um virtuoso. “No estúdio existem detalhes de execução que fazem toda a diferença no resultado final”, explica o músico. Conversamos com Dirceu Leite em uma de suas viagens a São Paulo para a divulgação do seu segundo CD solo. » Quando começou a estudar música? DL Aos 16 anos entrei para a Escola de Música Villa-Lobos, onde comecei a ter noções teóricas de música. Fiz o curso elementar e não consegui ter aula prática de instrumento porque não tinha vaga, me desencantei um pouco. Tocava flauta doce com os amigos da rua. Dois anos depois comprei a minha primeira flauta transversal. » Como foi parar no mundo do samba? DL Antes do samba veio o choro. Fui com um amigo a um bar chamado Sovaco de Cobra. Fiquei duas noites sem dormir, me apaixonei por aquela sonoridade, aqueles bordões dos violões de sete cordas não saíam da minha cabeça. Na semana seguinte voltei com minhas flautas, mas eu só sabia tocar três choros. Como era muito novo e não tinha noção da responsabilidade, me deram a chance de tocar e foi maravilhoso, até que me veio o convite para trabalhar efetivamente no bar. » Então aprendeu mesmo na raça, teve que correr atrás? DL Fiquei nesse trabalho por dois anos e foi onde conheci grandes figuras da música como Orlando Silveira, Dino 7


Mais de 600 CDs e 20 DVDs com os maiores nomes da MPB

Às segundas-feiras havia a noite do choro. Eu e o grupo Choro Só levávamos a cada semana um convidado especial.

quase quatro anos deixei a Rita e fui tocar com a Beth Carvalho, com quem gravei três DVDs.

» É verdade que você não queria tocar saxofone? DL Eu era radicalmente contra um flautista tocar um instrumento de palheta porque isso iria acabar com a minha sonoridade, mas um dia chegaram a minha casa um saxofone alto e um clarinete. Pensei em vender e comprar uma flauta. Depois imaginei: será que o destino está me empurrando para isso? Decidi arriscar, de início comecei a estudar sem professor, depois fui aluno do Ion Muniz e do J. T Meirelles. Percebi que se o intuito era fazer música popular, é quase que obrigatório tocar mais de um instrumento de sopro, isso em termos de mercado é muito melhor. Uma coisa legal que fiz foi que peguei o famoso método de flauta do Taffanel e adaptei para sax e clarinete. Eu sabia onde aquele estudo iria me levar.

» Aí você passou a atuar somente como sideman de grandes artistas? DL Sim, e paralelamente comecei a entrar em estúdios com mais frequência e passei a me dedicar a isso. Acho que essa é uma atividade na qual o músico precisa se especializar. O estúdio instiga no músico uma lapidação, se o cara não tiver uma boa formação não serve, é a prática de conjunto, os fundamentos, a afinação. É preciso saber quando aparecer mais ou menos com um instrumento. Existem detalhes que se deve aprender para poder exercer essa função. Não basta ser um excelente músico, é necessário entender o que uma gravação precisa do seu instrumento.

» Até então você se dedicava somente à música instrumental? DL Fiquei de 1981 a 1988 fazendo somente música instrumental, até que fui tocar com um sambista, o Marquinhos Satã. Ele era um músico de muita projeção na época. Foi a pessoa que me apresentou aos produtores de samba e me colocou dentro de estúdios. Nessa época conheci o João de Aquino, com quem passei a tocar. Assim entrei no mundo do samba. Toquei com Dominguinhos do Estácio, Paulinho da Mocidade, até chegar ao Martinho da Vila, com quem toquei de 1995 a 1998. » Você gravou um DVD com a Rita Lee. Ela é um capítulo à parte na sua música? DL Recebi um convite do produtor Paschoal Perrota para participar do MTV Acústico Rita Lee. Estava com Martinho da Vila nessa época, mas o trabalho da Rita estourou e como nunca tinha tido experiência no mundo do rock & roll e os trabalhos com o Martinho diminuíram, preferi ficar com a Rita. Na época fizemos muitos shows e era um trabalho lindo, tinha participações do Armandinho, Oswaldinho do Acordeon, Cassia Eller. Nos shows os solos todos ficavam para mim, eu tinha uma importância grande dentro do trabalho. Foi uma experiência única. Depois de

» Mesmo com todos esses trabalhos você conseguiu fazer dois CDs solo e agora está divulgando o segundo, Cacique Instrumental. DL Meu primeiro CD foi lançado em 1996, o Leite de Coco, até hoje é um trabalho bastante atual, foi indicado para o Prêmio Tim de Música Instrumental. Depois de vários anos gravei esse novo disco, o Cacique Instrumental. Esse projeto surgiu de uma ideia de observação da beleza das melodias do nosso samba, da beleza das músicas dos artistas que eu acompanhava. De repente percebi que esse repertório todo poderia dar um trabalho incrível de música instrumental. Idealizei o projeto e tive a felicidade de gravar em um dos maiores estúdios do Rio de Janeiro, o Companhia dos Técnicos. Também tive o privilégio de ter o Luiz Carlos T. Reis, que é um excelente engenheiro de som, principalmente na área do samba. O disco ficou com uma sonoridade divina, a ponto de os sambistas reconhecerem cada instrumentista que está tocando ali. Outra coisa importante de dizer é que quando pensei nos músicos que iriam participar do disco, vi que juntei a tradição do samba com músicos como Gordinho, Carlinhos 7 Cordas, Beloba, Marcelo Pezzoti, Paulinho da Aba com a liberdade da música instrumental brasileira com participações de Hamilton de Holanda, Carlos Malta, Chico Chagas, Vittor Santos e Rildo Hora. Agora é partir para a divulgação. SAX & METAIS

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Foto Divulgação

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Cordas, vi Abel Ferreira tocando, Joel do Nascimento, Déo Rian. Eu era o anfitrião dessa gente toda, o músico da casa. Conheci Raul de Barros, Netinho, Copinha, Carlos Poyares. Armazenei muito repertório e a partir daí resolvi estudar de verdade. Meu primeiro professor de flauta foi o saxofonista Cacau. Em seguida fui para a Pro Arte estudar com Carlos Alberto Rodrigues. A Escola Villa-Lobos, o Cacau e a Pro Arte foram o meu primário e o colegial, um bar em Botafogo chamado Viro do Ipiranga foi a minha faculdade.


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Foto Jan Persson

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n Coltrane O legado que mudou as perspectivas do mundo do jazz e do saxofone

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maioria das fotografias mostra John Coltrane com boquilhas de metal, geralmente Otto Link. Em algumas fotos, já no final da década de 1960, ele usa uma de massa. Somente por imagens é difícil afirmar ao certo qual seria a abertura de suas boquilhas e há diversas especulações. Ao longo de sua carreira, Coltrane experimentou diversas abraçadeiras e usou borrachas nas boquilhas, onde apoiava os dentes (material facilmente encontrado hoje nas lojas de instrumentos, mas na época isso não existia). John Coltrane era tão fanático em ter uma total integração com seu instrumento que foi capaz até mesmo de lixar os dentes para que ficassem com a mesma curvatura da parte superior de sua boquilha. Sobre suas palhetas, ele disse: “Eu tinha o hábito de usar palhetas extremamente duras, número 9, porque queria ter uma sonoridade ‘grande’ e forte. Quando toquei com Thelonious Monk, tentei usar uma número 4. Foi quando percebi que a 9 limitava minhas possibilidades, então passei a utilizar as número 4 e percebi que a sonoridade ficou muito superior em timbre e volume. Mudei para elas”. Hoje não temos nenhuma marca de palheta com um número tão elevado. Será que ele estava se referindo à boquilha ou à palheta? Exceto por uma foto em que Coltrane está com Dizzy Gillespie, onde aparece com um sax tenor King Super 20, o saxofonista sempre utilizou os instrumentos da fábrica francesa Selmer. Alguns especialistas afirmam que no fim da década de 1950 Coltrane usou um Selmer Balanced Action fabricado em 1930 e relançado em 1947. Já durante a década de 1960 adotou o Selmer Mark VI, fabricado em 1954, e ainda por um curto período da década de 1960 tentou utilizar um Selmer Brand New, mas o instrumento não lhe deu a sonoridade que procurava, então voltou para o seu Mark VI. Fonte: PORTER, Lewis. John Coltrane: His life and music (The Michigan American Music Series). Michigan: University of Michigan Press, 2000

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especial

POR DÉBORA DE AQUINO

Instrumentos

Bons e Baratos ESPECIAL

É possível adquirir um bom instrumento sem gastar muito. Escolha o seu e vamos assoprar!

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uando iniciei meus estudos de música, há mais de 20 anos, não existia no mercado essa grande quantidade de marcas e modelos de instrumentos musicais e, para começar, me foram indicadas algumas grandes marcas que obviamente estão aí até hoje. Iniciei com a flauta transversal. O saxofone entrou somente anos mais tarde e um dos motivos foi o alto custo do instrumento, até que surgiu uma oportunidade de adquirir um bom sax alto por meio de um amigo que viajou para o exterior e me trouxe o tão sonhado instrumento. Será que se essa oportunidade não tivesse aparecido eu teria desistido da ideia de tocar sax? O objetivo desta matéria é mostrar que o negócio é tocar, e hoje é possível adquirir um bom instrumento sem ter de economizar meses ou anos a fio. É importante saber categorizar as coisas e não quero comparar marcas tradicionais e renomadas no mercado com instrumentos de baixo custo e que claramente possuem limitações. Apenas acho que todos saímos ganhando com isso, tanto profissionais como amadores, já que o mercado está em prol da música. Mais gente aprendendo e consumindo, mais gente ensinando e fazendo a roda girar. A importância de tudo isso é saber que é possível proporcionar prazer a quem quer tocar um instrumento sem grandes pretensões, sem finalidade profissional e principalmente sem um grande investimento inicial. Ao longo das 24 edições da Sax & Metais já passaram por nossas páginas diversas análises das mais variadas marcas e modelos de instrumentos de sopro, que foram testados por diversos músicos e luthiers, alguns mais

conhecidos, outros nem tanto, porém todos com plenas condições de avaliar um instrumento. Considerações feitas, vamos em frente! O negócio é tocar. Adquira o melhor que puder. Realize seu sonho e seja feliz!

ENTENDENDO O PROCESSO DE FABRICAÇÃO Quem não gostaria de ter em mãos um Selmer, Yamaha, Yanagisawa, Borgani para iniciar seus estudos? Porém, quanto tempo de experiência em fabricação de instrumentos essas grandes marcas têm e como produzem seus instrumentos? Não é possível comparar uma fábrica que tem os mínimos cuidados em todas as etapas do processo de construção, principalmente matéria-prima de primeira linha, com os tão discutidos instrumentos asiáticos. Outro fator ainda presente em algumas das fábricas tradicionais, como no caso da Borgani e da japonesa Muramatsu, é o processo de construção ainda artesanal. Dessa forma, podemos começar a entender por que os instrumentos de baixo custo conseguem ser oferecidos a preços tão competitivos: 1 São fabricados em larga escala. 2 Para garantir o baixo custo, é impossível utilizar matéria-prima de primeira linha, portanto, material de custo menor, preço final menor.

FLAUTAS Flauta transversal Eagle Modelo: FL 03S Acabamento: Prateado (silver) Recursos: Off-set G, Mi mecânico, parafusos em aço inoxidável. Comentário: Lançamento da Eagle e top de linha das flautas da marca. Possui acabamento em prata, o que dá ao instrumento melhor sonoridade, principalmente na região médio-grave. Boa afinação em toda a extensão e mecânica com boa resposta. Preço sugerido: R$ 652,40 (11) 2931-9130 www.eagleinstrumentos.com.br

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Flauta transversal Michael Modelo: WFLM35 Acabamento: Prateado Recursos: Off-set G, Mi mecânico, parafusos em aço inoxidável. Comentário: Bom desempenho de sonoridade na segunda e terceira oitavas, mas a primeira é pobre em harmônicos, o que gera muita perda de volume. Mecânica macia e bem regulada, sem barulhos. Afinação perfeita em toda a sua extensão. Preço sugerido: R$ 712,30 (31) 2102-9270 www.michael.com.br


3 Para garantir o baixo custo seria incoerente manter um luthier acompanhando cada etapa do processo de fabricação, por isso pode existir diferença entre instrumentos de mesma marca e modelo. Como nosso objetivo não é fazer comparações entre instrumentos, vamos mostrar que os de baixo custo também têm o seu ‘valor’ e ocupam seu lugar no mercado, podendo ser boas alternativas para iniciantes e músicos profissionais que não queiram expor seus ‘caros’ instrumentos nas noites das grandes cidades ou correr o risco em bagageiros de aviões.

DICAS PARA ESCOLHER SEU PRIMEIRO INSTRUMENTO Por se tratar de itens de baixo custo, obviamente estamos falando de instrumentos não profissionais e vamos chamá-los de instrumentos de entrada. Por quê? Geralmente são indicados para quem não tem certeza se vai seguir em frente nos estudos, para quem quer tocar por hobby e também para quem quer começar e pensa em adquirir algo melhor em um futuro próximo. É importante aguçar a observação na hora de adquirir esses instrumentos: ✓ Se você não tem nenhuma experiência no assunto, vá atrás do maior número de informações sobre a marca e modelo que tem em vista. ✓ Se for possível, peça ajuda a um amigo mais experiente ou a algum profissional que possa testar o instrumento em questão. ✓ Observe que, devido ao processo de fabricação em grandes linhas de produção, instrumentos de marca e modelo idênticos podem ter diferenças de sonoridade, afinação, acabamento, regulagem, por isso experimentar mais de um é necessário. ✓ É importante que, após escolhido e testado, o instrumento passe pelas mãos de um bom luthier que poderá atestar suas boas condições. ✓ Não se deixe enganar: instrumentos novos não podem apresentar arranhados, amassados ou desplacamentos.

Flauta transversal Jupiter Modelo: JFL511 ES Acabamento: Prateado Recursos: Off-set G, Mi mecânico, parafusos em aço inoxidável. Comentário: Sonoridade com certo brilho, mas pouco volume. Foi necessário compensar a embocadura para obter melhor afinação. Possui boa ação das chaves com boa resposta em passagens rápidas e lentas. Preço sugerido: R$ 1.700,00 (11) 3224-9787 www.habro.com.br

✓ Não leve ‘gato por lebre’ e não acredite em tudo o que lhe dizem, por exemplo, que determinada marca é cópia perfeita de outra. Instrumentos de baixo custo têm suas limitações. ✓ No caso de saxofones e clarinetes, é importante dizer que a maioria dos instrumentos testados pela Sax & Metais, apesar de seu bom desempenho, não apresentou boas boquilhas, então pense logo de cara em adquirir uma de melhor qualidade.

ESCOLHA O SEU Já sabe qual instrumento quer aprender a tocar? Flauta, sax, clarinete, trompete? Selecionamos algumas marcas e modelos, alguns já analisados por nós e outros que são lançamentos para ajudá-lo nessa importante escolha. Procuramos analisar os instrumentos de acordo com a relação custobenefício que apresentam. Não podemos jamais comparar um carro de R$ 20.000 com um de mais de R$ 100.000, mas podemos nos ater às nossas necessidades do momento. O ‘carrinho’ pode me levar aonde quero, da mesma forma que o ‘carrão’, porém o ‘carrinho’ não pode competir em Interlagos com uma Ferrari. Da mesma forma, não comparemos renomadas marcas com as de baixo custo. Outro fato que quero colocar aqui: todos sabemos que o maior detentor de tecnologias de ponta sempre foram os EUA, mas em um determinado momento começaram a ser atacados pelo Japão, que a princípio sofreu com os massacres de que seus produtos eram cópias baratas dos americanos. Hoje o Japão detém sua própria tecnologia e agora é a China quem ‘ameaça’ o mundo. Pense nisso! Há pouco mais dez anos instrumentos chineses não eram nada recomendáveis, mas temos de dar o braço a torcer de que as coisas estão mudando, e rápido. Arrisco-me a dizer que instrumentos analisados há mais de dois anos pela Sax & Metais hoje apresentam-se ainda melhores e, embora muitos discordem, a realidade dos instrumentos chineses está mudando, sim. Como já dissemos, é possível ter um instrumento de nível estudante que corresponda a essas expectativas e satisfaça as necessidades de quem está começando, e, por que não dizer, que satisfaça até a profissionais que necessitem de um segundo instrumento para aulas, viagens e outras atividades de menor projeção. Então, escolha o seu e vamos assoprar!

Flauta transversal RMV Arena Modelo: Arena Par 2005 Acabamento: Niquelado Recursos: Off-set G, calços em cortiça natural, molas de aço inoxidável, sapatilhas Hermes/Prestini amarelas. Comentário: Excelente precisão no ataque das notas. Afinação perfeita em toda a extensão e boa mecânica. Amplitude sonora e timbragem não muito homogêneas, o que dificulta a execução de dinâmicas. Preço sugerido: R$ 460,00 (11) 6404-8545 www.rmv.com.br

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especial

BONS E BARATOS

TROMPETES Trompete Eagle

ESPECIAL

Modelo: TR 504 Acabamento: Laqueado dourado Recursos: Botões perolizados, encaixes em alpaca, curva da terceira pompa removível e válvulas em aço inoxidável. Comentário: Fácil emissão, afinação boa. Válvulas com resposta rápida, bom acabamento. Preço sugerido: R$ 650,00 (11) 2931-9130 www.eagleinstrumentos.com.br

Trompete Suzuki Modelo: CCT-1 Acabamento: Corpo laqueado com detalhes cromados, lead pipe em cobre, bonito estojo em alumínio, bastante robusto. Comentário: Considerado um instrumento semiprofissional que se adapta a diversos trabalhos profissionais com obtenção de bons resultados. Afinação um pouco baixa no Ré da quarta linha e Mi do quarto espaço. Bom timbre, não muito brilhante. Preço sugerido: R$ 1.960,00 (11) 3115-0355

Trompete Weril Trompete Michael Modelo: WTRM 36 Acabamento: Laqueado dourado Recursos: Válvulas niqueladas, anel regulável de terceira pompa, segundo tubo de encaixe em latão avermelhado, dois esgotadores de saliva. Comentário: Esse é o primeiro trompete da linha da Michael. Instrumento simples, sem grandes recursos timbrísticos, apesar da boa sonoridade e da afinação satisfatória. Preço sugerido: R$ 640,90 (31) 2102-9270 www.michael.com.br

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Modelo: Alpha ET 1172 Acabamento: Laqueado dourado Características: Afinação em Bb, campana 124 mm, calibre (ML) 11,70 mm, anel regulável na terceira pompa e dedeira na primeira pompa. Comentário: A Weril se orgulha de sua linha de metais e com esse trompete não é diferente. O instrumento apresenta bom desempenho, válvulas com boa resposta, afinação e timbre satisfatórios dentro da proposta de ser um instrumento dedicado a estudantes. Preço sugerido: R$ 990,00 (11) 4443-1305 www.weril.com.br



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BONS E BARATOS

SAXOFONES Sax alto Vinci

ESPECIAL

Modelo: Vinci Acabamento: Laqueado dourado Características: Sapatilhas com ressonadores metálicos, chave de Fá # agudo. Comentário: Boa flexibilidade de interpretações de dinâmica. Afinação boa em toda a extensão, as notas soam com facilidade. Facilidade de emissão dos harmônicos. Preço sugerido: R$ 1.200,00 (11) 2199-2900 www.florencemusic.com.br

Sax alto Condor Modelo: CSA-43 Old Silver Acabamento: Laqueado prateado fosco Características: Todo trabalhado em desenhos pelo corpo, inclusive no tudel, chave de Fá # agudo, novo design do tudel com curvatura mais confortável. Sapatilhas da mão direita com ressonadores metálicos. Comentário: Ótima regulagem de fábrica. Sonoridade com grande projeção e brilho. Boa afinação com boa resposta quando mais exigido, não foi necessário compensar a embocadura para afinar as regiões. Preço sugerido: R$ 1.400,00 (61) 3629-9400 www.condormusic.com.br

Sax alto Weril Modelo: Weril Supremo Acabamento: Escovado entre o fosco e o laqueado Características: Botões em madrepérola, chave de Fá# agudo, apoio de polegar esquerdo metálico, molas tipo agulha, parafusos de aço inoxidável. Comentário: Boas respostas mecânicas em execuções que exigem velocidade. Bons timbre e afinação. Vem com uma boquilha Vandoren A20 que projeta pouco o som, mas é ideal para estudantes. Preço sugerido: R$ 3.500,00 (11) 4443-1305 www.weril.com.br

Sax alto RMV Arena Modelo: Arena Par 2013 Acabamento: Laqueado dourado Características: Parafusos em aço inoxidável, apoio de polegar esquerdo metálico, sapatilhas com ressonadores metálicos, botões de digitação em madrepérola, Fá# agudo. Comentário: Timbre aberto, que se adapta muito bem ao estilo pop. Boa projeção de som com boquilha original. Quanto à afinação, trata-se de um instrumento equilibrado com exceções principalmente nos graves. Preço sugerido: R$ 1.500,00 (11) 6404-8545 www.rmv.com.br

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Sax tenor Eagle Modelo: ST 503 VG Vintage Acabamento: Envelhecido Características: Parafusos em aço inoxidável, chave de Fá# agudo, apoio dos polegares em metal. Comentário: Bem construído e com afinação adequada. Sonoridade encorpada, mas o metal tem pouca vibração e volume, o que dificulta a interpretação e expressão. Mecânica muito confortável e chaves bem posicionadas promovem a boa digitação. Molas e altura das chaves bem reguladas. Preço sugerido: R$ 2.400,00 (11) 2931-9130 www.eagleinstrumentos.com.br

Sax tenor Dolphin

Sax soprano curvo Eagle Modelo: SP 508 Acabamento: Laqueado dourado Características: Parafusos em aço inoxidável, sapatilhas com ressonadores metálicos, chave de Fá# agudo. Comentário: Boa regulagem de fábrica, sem folgas ou parafusos soltos. Timbre cheio e com boa projeção sonora. Timbre mais para brilhante devido ao metal com o qual foi construído. Boa resposta na mudança de oitavas e harmônicos. Devido à angulação do tudel (maior do que a normal), a afinação não é muito estável e é necessário fazer compensações. Boa relação custo-benefício. Preço sugerido: R$ 1.800,00 (11) 2931-9130 www.eagleinstrumentos.com.br

Modelo: Dolphin Acabamento: Laqueado dourado Características: Molas de aço azul, parafusos de aço inoxidável, apoio dos polegares em metal, chave de Fá# agudo. Comentário: Dedilhado macio, chaves bem calçadas e boa pressão das molas. Sonoridade encorpada, porém com pouca projeção e volume. Afinação boa, mas os agudos ficam um tanto mais altos, sendo necessária a compensação. Fácil de tocar, macio e sonoro para saraus e apresentações intimistas. Preço sugerido: R$ 1.800,00 (11) 3797-0100 www.musicalizzo.com.br

Sax soprano Michael Modelo: WSSM46 Acabamento: Escovado Características: Parafusos em aço inoxidável, apoio de polegar esquerdo metálico, sapatilhas com ressonadores metálicos, botões de digitação em madrepérola. Comentário: Mecânica macia e moderna. Timbre mais encorpado e leve desequilíbrio de volume na região aguda. Com a boquilha original, a emissão é prejudicada, mas com uma boa boquilha o rendimento melhorou. Afinação equilibrada, exceto nas notas D, Dó#, Si e Sib graves, em que é necessário compensá-la. Preço sugerido: R$ 1.946,50 (31) 2102-9270 www.michael.com.br

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BONS E BARATOS

CLARINETES Clarinete Weril

Clarinete Jupiter

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Modelo: JCL 731 NT Material: Corpo em madeira grenadilha Características: Chaveamento prateado, apoio do polegar regulável, boquilha Jupiter 4C. Comentário: Boa afinação em todas as regiões. É comum que os clarinetes fiquem um pouco mais baixos na região grave; com esse instrumento isso não ocorreu, demonstrando total equilíbrio. Quanto ao timbre, algumas notas apresentam mais brilho e outras são mais ‘escuras’, apagadas. A escolha de uma boa boquilha é fundamental para conseguir maior controle timbrístico. Preço sugerido: R$ 1.980,00 (11) 3224-9787 www.habro.com.br

Modelo: Vivace B 672 Material: Corpo em ABS texturizado Características: Apoio do polegar regulável, molas em aço carbono, textura antiderrapante na chave de Fá/Dó. Comentário: Projeto desenvolvido com o clarinetista Sergio Burgani. Oferece boa sonoridade com pouca projeção e afinação muito equilibrada. Bom ajuste das regulagens e pressão das molas. Preço sugerido: R$ 1.100,00 (11) 4443-1305 www.weril.com.br

Clarinete Yamaha Modelo: YCL 250 Material: Corpo em resina ABS Características: Chaves em alpaca niqueladas, descanso de polegar fixo (não ajustável), boquilha 4C Yamaha. Comentário: Excelente custobenefício para quem quer começar a estudar clarinete. Apesar de o corpo ser construído em resina, tem bom timbre e boa projeção. Afinação perfeita em toda a sua extensão. Preço sugerido: R$ 1.900,00 (11) 3704-1777 www.yamahamusical.com.br

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Clarinete Condor Modelo: CCL32 Material: Corpo em resina ABS Características: Chaves niqueladas, apoio de polegar regulável, boquilha em ebonite. Comentário: Instrumento com pouca projeção e sonoridade com poucos harmônicos. Boa pressão das molas, mas com pequena diferença entre algumas chaves, o que prejudica passagens rápidas. Boa afinação em toda a extensão. Preço sugerido: R$ 610,00 (61) 3629-9400 www.condormusic.com.br



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C A PA

A reinvenção do jazz moderno por um dos maiores gênios da música do século 20

18 anos sem

Miles Davis

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Por itamar Dantas | Fotos Divulgação

iles Davis foi um músico sempre à frente de seu tempo. Inovador, polêmico, elegante, boêmio e de temperamento difícil, Miles morreu no dia 28 de setembro de 1991, por pneumonia e insuficiência respiratória, deixando um legado que ultrapassa os limites do jazz e alcança músicos dos mais variados estilos. Sua trajetória foi cercada de polêmicas e contestações de suas opções musicais, mas uma característica ninguém nega: ele ousou como poucos, tornando-se um dos maiores músicos do século 20. Miles Dewey Davis III nasceu em Alton, Illinois, EUA, em 26 de maio de 1926. Ganhou seu primeiro trompete aos 13 anos, quando já morava com a família em East St. Louis, no mesmo Estado. O pai de Davis era dentista e sua mãe, exímia pianista de blues. E, justamente para irritá-la – pois ela não gostava do som do instrumento –, o pai de Miles deu a ele um trompete. Logo, o adolescente começou a fazer aulas com um trompetista local, Elwood Buchanan, que ensinou Miles a tocar sem usar o vibrato, característica que influenciou a sua música por toda a carreira.

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Aos 17 anos Davis já tocava profissionalmente e se mudou para Nova York para estudar na Julliard School. Porém, abandonou os estudos para procurar Charlie Parker, com quem havia trabalhado como terceiro trompetista em East St. Louis. Com Parker, já famoso saxofonista, Miles fez amizade e terminou por participar de várias gravações do bebop (veja quadro abaixo), estilo fundado pelo próprio Parker e por Dizzy Gillespie (trompetista como Miles). Esse estilo era caracterizado pelo virtuosismo de seus músicos, com solos muito rápidos e marcantes. Em 1949, Miles consegue um contrato com a Capitol Records para lançar seu projeto solo, um estouro que iria propor a primeira grande virada no jazz moderno. Junto a um noneto incomum para a época (que utilizava trompa e tuba em sua formação), Miles Davis gravou 12 faixas que, posteriormente, formariam o álbum Birth of the Cool (veja quadro na pág. 30). Com canções voltadas para o improviso, mais harmônico e com menos notas, ele se distanciou do bebop e lançou outra vertente do jazz: o cool jazz (veja quadro abaixo). Sobre as diferenças com relação ao bebop, Miles dizia: “Bird (Parker) e Diz (Gillespie) eram ótimos. Mas, se você não fosse um ouvinte rápido, não conseguia acompanhar o feeling da música deles. Sua música não era doce e não havia linhas harmônicas que você poderia ouvir facilmente com sua namorada tentando lhe roubar um beijo”.

A DERROCADA ANTECIPA O AUGE No início da década de 1950, depois de uma viagem à Europa com o grupo de Charlie Parker, Davis adquire o vício em heroína. Nesse período, gravou alguns trabalhos solo, acompanhado por diferentes grupos; e como sideman de vários nomes como Thelonious Monk e Charles Mingus. Mas, por conta de seu problema com as drogas, os trabalhos começaram a escassear. De músico brilhante e inovador, ele passou a ser conhecido como uma pessoa difícil e irresponsável. Para se ter uma ideia, chegou ao ponto de trabalhar como cafetão! Tudo para sustentar o próprio vício. Parece que foi a gota d’água até para ele. Por isso, num

Da esquerda para a direita – Charlie Parker, Miles Davis, Allen Eager e Kai Winding, no New York’s Royal Roost, em 1948

famoso episódio de 1953, ele ficou 12 dias trancado em um quarto procurando libertar-se do vício. Quando conseguiu se recuperar, voltou a trabalhar, abrindo uma fase muito produtiva e bem-sucedida de sua carreira. Fecha contrato com a Columbia Records e, em parceria com Gil Evans, lança uma série de álbuns. E, no ano de 1959, Miles realiza outra grande virada em sua música: lança o álbum Kind of Blue, o disco de jazz mais vendido da história e considerado o melhor álbum de todos os tempos por muitos críticos. Como se isso não fosse suficiente, neste

disco Miles Davis inova, trazendo para sua obra elementos que já existiam em discos anteriores, como o Milestones, ou ’58 Sessions. As improvisações do disco são feitas pelo tema, e não mais por encadeamentos harmônicos, inaugurando o jazz modal (veja quadro abaixo).

JAZZ, ROCK, SOUL ETC. Nos anos 1960, o rock’n’roll entrou em cena e o jazz perdeu parte do seu espaço. As gravadoras apostavam tudo, ou quase tudo, no novo ritmo que contagiava a juventu-

O jazz moderno e seus estilos Miles Davis marcou cada um destes estilos por sua inventividade e atenção aos movimentos contemporâneos BeBOP: Difundido na década de 1940, privilegiava pequenos grupos, afastando-se das big bands, predominantes até então. Músicos virtuosos apresentavam solos baseados em técnica e improvisação. Criado por Charlie Parker e Dizzy Gillespie. COOl JaZZ: Estilo lançado por Miles. Com notas mais lentas, foco na harmonia e não na técnica, distante do bebop de Charlie Parker e Dizzy Gillespie. JaZZ MODal: A nova concepção de Miles era uma transformação do bebop. A improvisação se baseia em escalas sugeridas pelo tema, e não mais por encadeamentos harmônicos. JaZZ FUsiON: Fusão da improvisação do jazz, com o groovin e o ritmo do funk e rhythm and blues, aos instrumentos elétricos e levadas do rock’n roll.

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Elwood Buchanan ao centro, primeiro professor de trompete de Miles Davis

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O primeiro mestre Elwood Buchanan ensinou Miles Davis a tocar sem utilizar o vibrato. Segundo o músico Clark Terry, que foi assistir a uma aula do aluno prodígio de Elwood, o professor batia com uma régua nos dedos de Miles a cada vez que ele dava um vibrato.

de, pois o funk também saía dos guetos da música negra para tornar-se popular. O jazz estava sendo considerado uma música para velhos! Até que, no final da década, misturando-se à avalanche sonora do momento, Davis lança o álbum Bitches Brew, criando

outra vertente do jazz, o fusion (veja quadro na pág. 29). Com esse disco, ele conseguiu uma sonoridade nova e contemporânea, que lhe rendeu a venda de mais de 400 mil cópias e influenciou diversos grupos posteriores, como Weather Report (fundado por dois músicos que tocaram no disco Bitches Brew) e John McLaughlin, por exemplo. Dos anos que se seguiram até sua morte, Miles continuou produzindo e flertou com a música eletrônica, com o soul, com o new wave, com o hip hop e outras tendências musicais. Utilizou-se de equipamentos modernos para gravação de seus álbuns, e continuou inovando. Wynton Marsalis, um jovem trompetista de muito sucesso, certa vez disse que Davis era “um velho querendo ser jovem”. As suas inovações incomodavam a Wynton e à crítica especializada, que defendiam um jazz puro, sem intervenções. Apesar do tom ofensivo da afirmação, parece que Marsalis tinha razão, pois Miles Davis morreu como um jovem: ousado, revolucionário, corajoso, brilhante. Tinha 65 anos e, provavelmente, se estivesse vivo hoje, aos 83, ainda estaria experimentando e inovando com os olhos lá na frente, muito mais longe do que podemos enxergar.

Discografia Selecionada Birth of the Cool – Gravado em 1949 e 1950, foi o álbum considerado o precursor do cool jazz, com fortes influências da música clássica. É o primeiro álbum onde Miles Davis aparece como líder com uma formação não usual, um noneto, composto por piano, baixo e bateria, trompete, trombone, tuba, trompa de pisto, sax alto e sax barítono. Série The Miles Davis Quintet – Cinco álbuns. O primeiro, The New Miles Davis Quintet, foi gravado em 1955, depois seguiram: Cookin’, Relaxin’ Workin’, Steamin’, todos feitos em 1956. O quinteto liderado por Miles contava com John Coltrane (sax tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (baixo) e Philly Joe Jones (bateria). Milestones (1958) – Marca a fase hard bop do trompetista. Vem com uma nova formação, agora em sexteto composto por John Coltrane (sax-tenor), Cannonball Adderley (sax alto), Bill Evans (piano), Paul Chambers (baixo) e Philly Joe Jones (bateria). Porgy and Bass (1958) – Segunda parceria de Davis com o pianista e arranjador Gil Evans. Marco do jazz orquestral. No repertório, George Gershwin e na execução estrelas

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Davis durante um intervalo de show, em 1955

Por Débora de Aquino

como Sonny Rollins, Cannonball Aderley, Thelonious Monk, Milt Jackson. Kind of Blue (1959) – Com a mesma formação de Milestones, atingiu grande sucesso comercial e é considerado o melhor álbum de jazz de todos os tempos. Bitches Brew (1969) – Já na fase do jazz rock, foi o primeiro álbum de jazz a vender mais de um milhão de cópias. Aqui a música de Miles vem carregada de guitarras, teclados e efeitos de estúdio. Live Evil (1970) – Seguindo na linha do jazz rock, tem a participação de dois brasileiros: Hermeto Pascoal (percussão, bateria, piano e voz) e Airto Moreira (percussão). Das oito faixas do álbum, duas são de Hermeto Pascoal. Gravações ao vivo – décadas de 1980 e 1990: • Miles! Miles! Miles! (1981) • We Want Miles (1982) • Munich Concert (1988) • The Complete Miles Davis at Montreux (1973-1991) • Miles & Quincy Live At Montreux (1991) • Live Around the World (1988-1991)


Por Débora de Aquino

Freddie Freeloader Transcrição do solo de M. Davis do álbum Kind Of Blue

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DICAS DE MANUTENÇÃO

dicas de manutenção

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cuide dele co m

Chegou a vez das madeiras! Confira cuidados e dicas para conservar bem o seu equipamento

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a edição anterior da Sax & Metais demos algumas dicas de como cuidar melhor de instrumentos de metal. Agora é a vez das madeiras, e para isso conversamos com o luthier Daniel Tamborim. Ele atua na área de manutenção de instrumentos de sopro desde 1993 em sua própria oficina em São Paulo, o Atelier Daniel Tamborim (www.danieltamborim.com.br). Confira suas preciosas dicas para manter seu ‘companheiro’ sempre em ordem e evitar surpresas desagradáveis.

IDENTIFICANDO E SOLUCIONANDO PROBLEMAS

1 VAZAMENTOS Acontece quando as sapatilhas não estão vedando corretamente os orifícios do instrumento (chaminés). Isso dificulta a execução e torna quase impossível a emissão das notas graves. Pode acontecer de as sapatilhas estourarem ou apenas rasgarem um pouco, impedindo a perfeita vedação da chave. Sapatilhas são feitas de um material chamado baudruche (fina pele orgânica) ou couro e têm um tempo de vida útil que vai de um ano e meio a dois anos. Os instrumentos podem apresentar vazamentos também causados pela sujeira nas sapatilhas. Fragmentos podem impedir que elas se fechem normalmente. Resolvendo em situação de emergência: ✓ Se for sujeira, limpe as sapatilhas e as chaminés com álcool ou fluido de isqueiro. ✓ Habitue-se a ter no estojo de seu instrumento um rolo de fita teflon (aquelas brancas de consertar encanamentos). Coloque a fita sob a sapatilha estourada envolvendo-a junto com a chave. Dessa forma é possível melhorar a veda-

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ção em caráter emergencial. Passado o sufoco, troque a sapatilha.

2 SAPATILHAS GRUDANDO

Clarinetistas são muito detalhistas e não gostam que as sapatilhas façam barulho (aquele barulhinho ao se descolarem ao abrir e fechar as chaves). Já os saxofonistas não ligam muito para isso, mas sapatilhas grudando realmente atrapalham e podem prejudicar a execução. A primeira coisa é olhar cautelosamente para fazer o diagnóstico. De nada adianta limpar, se não for sujeira. ◗ A chaminé pode estar prendendo de alguma maneira a sapatilha. ◗ A pressão das molas pode não ser suficiente; isso faz com que a chave não consiga abrir e fechar normalmente. ◗ Com o tempo a sapatilha pode ficar com uma marca profunda, podendo prender na chaminé. ◗ Quando o instrumento fica guardado por certo tempo, algumas chaves podem ficar grudadas, como é o caso das de Sol#, Do# grave e Sib grave nos saxofones. Resolvendo: ✓ Muitas vezes uma simples limpeza pode sanar o problema. Limpe as sapatilhas e as chaminés com álcool ou fluido de isqueiro. Em seguida coloque algum pó bem fino tipo talco ou pó de giz. Em saxofones pode-se usar lustra-

móveis ou hidratante, que além de limpar trata as sapatilhas. ✓ Evite tocar após ter se alimentado ou ingerido alguma bebida. É aconselhável que se faça uma higiene bucal antes de voltar a tocar.

3 SAPATILHAS, CORTIÇAS E CALÇOS QUE SE SOLTAM

Essa também é uma situação bastante corriqueira, e ocorre principalmente em pequenos calços de feltro ou cortiça. Nas oficinas, a colagem dessas peças é feita com cola de contato própria para essa finalidade. Já nas sapatilhas é usada somente cola quente. Resolvendo: Mais uma vez vamos tratar da resolução do problema de forma emergencial, ou seja, não é a maneira mais adequada. Podemos usar Super Bonder? Sim, em cortiças essa cola pode ser utilizada, já em feltros ela não funciona muito bem, mas resolve. Apesar de essa cola ser um tanto agressiva, pode ser usada na emergência. ✓ Tenha dentro do estojo do instrumento cola Super Bonder, ou alguma mais apropriada, e alguns pedacinhos de cortiça de diversas espessuras, caso perca o calço original, e mãos à obra. ✓ É comum acontecer de as cortiças sofrerem variação com as mudanças climáticas,

Dica do luthier “Uma das coisas fundamentais é a adaptação do músico ao instrumento. Cada pessoa é um músico em particular, único, então o instrumento precisa ser preparado para cada um, para aquela anatomia, assim como o músico precisa ser preparado para aquele instrumento. Os dois tem que ‘conversar’ por muito tempo até se entenderem. O instrumento gosta muito de carinho. Dando a atenção e respeito que ele merece, você terá o retorno através do bom funcionamento. Respeite o instrumento e ele o respeitará, valorize seu instrumento, seja ele qual for, e ele o valorizará também.” Daniel Tamborim


e nto, sua voz,

o mo ele merece podendo murchar ou sofrer o desgaste natural do tempo. Isso faz com que as junções do instrumento fiquem frouxas. Para resolver, encape a cortiça com fita teflon, mas lembrese de levar o instrumento a um técnico assim que possível.

4 RACHADURAS NOS CLARINETES Esse é um problema sério que pode acometer os clarinetes. Ocorre principalmente por choque térmico e umidade. Se o instrumento estiver úmido e mudar de um ambiente quente para um ambiente frio, ou vice-versa, o clarinete pode sofrer rachaduras. As mais comuns acontecem nos barriletes e na parte superior do instrumento, ou seja, onde o acúmulo de umidade é maior. A dilatação superficial de uma veia da madeira nem sempre caracteriza uma rachadura, e isso pode ser resolvido com técnicas simples de colagem. Já uma rachadura fatal ocorre quando atinge três orifícios. Neste caso, o instrumento está praticamente perdido. Há também rachaduras não tão graves que podem ser ‘tratadas’ e o conserto fica quase imperceptível, mas saiba que podem voltar a atingir o mesmo local ou gerar outras rachaduras. É um serviço que não oferece garantia. Às vezes há a sugestão da colocação de pinos, mas é uma solução bastante agressiva e também não oferece garantia. Prevenindo-se: ✓ Quando o instrumento é novo, recomenda-se tocar poucos minutos por dia e aumentar gradativamente. ✓ Em locais onde possam existir grandes variações de temperatura e umidade, existem maiores probabilidades de rachaduras em clarinetes. ✓ O fator umidade deve ser levado em conta e há que se ter cautela, tanto para mais como para menos. Muita umidade é ruim, pouca umidade é extremamente perigoso. ✓ A umidade relativa do ar baixa coloca em risco a segurança da madeira do clarinete. A

região central do Brasil é muito seca, como Brasília, por exemplo, onde é necessário fazer a hidratação da madeira constantemente para evitar o risco de rachaduras. ✓ Outro cuidado importante é enxugar muito bem internamente o clarinete, não deixando umidade no instrumento. Umidade mais choque térmico pode ocasionar a rachadura. Hidratando:

Com que frequência a hidratação da madeira deve ser feita? Depende muito do clima de cada região. Em climas secos pode ser feita de

duas a três vezes ao ano, ou mais. Em São Paulo, por exemplo, uma vez ao ano é suficiente. É possível hidratar seu instrumento de forma simples e sem desmontá-lo. ✓ Umedeça um pano com óleo vegetal (óleo de cozinha), nunca o mineral, e passe por dentro e por fora, de forma muito delicada, consciente e com pouco óleo. ✓ Durante o processo coloque um papel de espessura fina para proteger as sapatilhas do óleo. Em seguida espere alguns minutos para que a madeira absorva o produto e depois retire o excesso externo e interno com um pano seco.

15 dicas para manter a ‘saúde’ do seu instrumento 1 Leve seu instrumento a um técnico de sua confiança a cada ano, para que sejam feitas trocas de molas, sapatilhas e regulagens.

2 O estojo é a casa do seu instrumento, dê preferência sempre ao original. É importante que o instrumento fique bem firme lá dentro, e não tenha espaço para que ele se movimente nem fique apertado demais, ocasionando uma pressão nas chaves que pode afetar seu funcionamento mecânico.

3 Não deixe seu instrumento dentro do porta-malas do carro. Além de correr o risco de ser roubado, o calor é muito grande, podendo descolar calços e sapatilhas.

4 Após tocar, seque muito bem seu instrumento por dentro com um pano seco, bem absorvente e que não solte fiapos.

5 Tenha dois panos, um absorvente para secar o instrumento internamente e outro bem macio para limpá-lo por fora.

6 Seque todas as junções e cortiças. 7 Não guarde o pano molhado dentro do estojo para evitar acúmulo de umidade. 8 Enxugue as sapatilhas com papel absorvente. 9 Não guarde o pad saver dentro do instrumento, utilize-o apenas para fazer a limpeza interna. 10 Não guarde o tudel do saxofone dentro da campana, ele pode entortar o porta-voz,

prejudicando seu bom funcionamento. Prefira os estojos que têm espaço próprio para o tudel.

11 Hidrate e lubrifique as cortiças com ‘graxas’ apropriadas. 12 Após tocar, retire a boquilha do tudel e seque muito bem a cortiça. 13 Retire a palheta da boquilha após tocar, seque-a e guarde em estojos apropriados, assim sua palheta terá uma vida útil maior, e sua boquilha também.

14 Cuidado com os saquinhos de sílica-gel que às vezes vêm dentro dos estojos, eles servem para tirar a umidade. Nos clarinetes de madeira deve-se prestar muita atenção, pois podem ser responsáveis por rachaduras.

15 Não utilize produtos líquidos para limpeza externa de instrumentos, eles podem escorrer para áreas as quais você não terá acesso para limpar.

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análises TIMBRE

POR DÉBORA DE AQUINO

ENCORPADO

SAX TENOR CONDOR CST-62

ANÁLISES

H

á algum tempo ouço falar dos instrumentos da Condor, mas nunca tive oportunidade de experimentar nenhum antes. O sax tenor CST-62 é um instrumento muito bonito, tem acabamento envelhecido bronze escovado com engraving em sua campana e a marca estampada. Vem em um case de madeira com acabamento em couro e duas alças para carregá-lo, tanto na horizontal quanto na vertical, um pouco exagerado no tamanho e no peso, tornando o transporte difícil, mas tem o mérito de proteger muito bem o instrumento. Vem com os acessórios comuns a qualquer saxofone comprado novo: boquilha, uma palheta, correia de náilon e um pano para limpeza. A abraçadeira da boquilha e o cobreboquilha são de metal com o mesmo acabamento do sax, bronze escovado, detalhe legal e que dá uma unidade ao instrumento.

CONSTRUÇÃO E MECÂNICA O CST-62 possui apoio de polegar direito ajustável e em metal; já o esquerdo é de plástico. Molas agulha em aço e parafusos em aço inoxidável. No encaixe do tudel existem dois parafusos para melhor fixação. Chave de Fá# agudo. Botões de digitação em madrepérola, porta lira e chave frontal de terceira oitava também com botão em madrepérola. Pude ficar com o instrumento por mais de 15 dias e usei-o bastante, tanto para dar aulas como para fazer meus trabalhos com a banda. Exigi bastante do instrumento e senti

diferença na regulagem dele após alguns dias de uso. A princípio, o CST-62 estava bem regulado, mas com o passar dos dias fui sentindo uma descompensação que prejudicava certas passagens. Principalmente na mesa da mão esquerda, senti que algumas molas perderam um pouco da pressão, coisa que um bom luthier repara sem maiores dificuldades, mas é bom ficar atento.

SONORIDADE E AFINAÇÃO Gostei da sonoridade do Condor CST-62. Possui um timbre mais encorpado e doce, lembrando um pouco os Conn Chu Berry, porém não com o mesmo corpo de harmônicos, mas um timbre elegante. É um instrumento de fácil emissão em toda a sua extensão, mas senti falta de projeção, principalmente nos agudos. Os graves saem de forma muito tranquila, sem esforço; os agudos também, mas com menos volume, havendo, portanto, uma descompensação. Testei a sonoridade com a boquilha original, sem marca nem numeração, mas é uma boquilha fechada, indicada para quem está iniciando os estudos do saxofone. Com essa boquilha o som ficou bastante apagado mas equilibrado. Quando troquei por uma boquilha de melhor qualidade, pude sentir mais o timbre do instrumento e a projeção melhorou. Quanto à afinação, o Condor apresentou-se bem equilibrado, porém um pouco

alto nos graves, Dó, Dó#, Si e Sib, e um pouco baixo nos superagudos. Senti um pouco de dificuldade com a posição das chaves da palma da mão esquerda; acheias um pouco baixas – para quem tem mão grande é um pouco incômodo, mas aquelas borrachas que encapam essas chaves resolvem isso. Gostei da facilidade de emissão dos agudos Mi, Fá e Fá# da terceira oitava e percebi que utilizando a chave frontal na digitação dessas notas, em comparação com as da palma existe uma diferença tanto em projeção quanto em afinação. Isso é comum nos saxofones, mas não com tamanha diferença como a que notei. É preciso ter certeza de qual digitação vai utilizar para compensar a embocadura.

CONCLUSÃO Gostei do Condor CST-62. É um instrumento bem construído, bonito, com um bom timbre para o meu gosto, encorpado, apesar da pouca projeção. Tem boa afinação, mas que deve ser levemente compensada na embocadura.

SAX TENOR CONDOR CST-62 Fabricante: Condor Music Prós: Timbre e acabamento. Contra: Pouca projeção, principalmente nos agudos. Preço médio: R$ 2.300,00 Garantia: 4 meses. Emissão......................... Afinação ....................... Sonoridade.................... Projeção........................ Custo-benefício............... Utilização recomendada ❏ Estudo ❏ Apresentações ao vivo ❏ Gravação

Tire suas dúvidas com o importador: (61) 3629-9400 www.condortech.com.br Quer falar com o autor desta matéria? Débora de Aquino, saxofonista e flautista. Contato: editoriatecnica@saxemetais.com.br.

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SAX & METAIS


POR BRUNO GARCIA FERMIANO

SONORIDADE

CHEIA E BOA PROJEÇÃO

FLUGELHORN MICHAEL WFHM45

O

flugelhorn Michael WFHM45 é o top de linha da empresa. Dentre as principais características do instrumento temos as válvulas em aço inoxidável, botões de digitação e capelotes em madrepérola, afinação no tubo, gatilho de afinação na terceira bomba e é afinado em Sib. O instrumento vem em um estojo Michael em ABS. É um instrumento indicado para quem deseja iniciar seus estudos no flugelhorn.

ACESSÓRIOS E MECÂNICA Ao abrir o case, me surpreendi com o acabamento do instrumento. A campana tem um laqueado muito bonito chamado Rosebrass, que imita uma campana feita de cobre. A campana possui grafado o nome da empresa e o número de série do instrumento. O case é retangular, sem cantos vivos, confeccionado em plástico preto e internamente construído em isopor revestido de pelúcia preta. No primeiro momento, o case não me passou a sensação de ser muito seguro e resistente, e também poderia haver mais espaço para melhor acondicionar os acessórios. Todos os acessórios vêm inclusos: bocal, pano para limpeza, luvas brancas e óleo de lubrificação. O WFHM45 tem a afinação no leadpipe e o tubo de afinação desliza com facilidade dentro do mesmo. As soldas são bem-acabadas e bem firmes, sem respingos ou rebarbas. Vem com o gatilho de correção da afinação na terceira bomba. Esse é um detalhe que deixou um pouco a desejar. O gatilho poderia ter um ângulo menor para haver uma resposta mais rápida quando acionado. As válvulas têm uma resposta rápida e eficiente. Em minha opinião, o óleo de lubrificação poderia ser de melhor qualidade. Quanto às válvulas, o que não me agradou foi o fato de as molas ficarem soltas dentro do maquinário, abaixo das válvulas. Outro detalhe que deixa a desejar é o fato de as válvulas não possuírem numeração. Isso prejudica no momento da lavagem, por exemplo,

porque se o estudante misturar as válvulas, não saberá qual delas deverá ser colocada no lugar correto. Com isso, o instrumento não emitirá som. Fica a dica para o fabricante!

SONORIDADE E AFINAÇÃO O flugelhorn é um instrumento que deve possuir um ótimo som e uma boa afinação porque geralmente é usado em solos mais

melódicos, tanto no campo erudito quanto no popular. O WFHM45 tem uma sonoridade cheia e um timbre que transita entre o escuro e o claro. Também possui uma boa projeção sonora. As notas médias são bem focadas e afinadas, mas os agudos e os graves são um pouco problemáticos. Testei o instrumento com dois bocais diferentes: o que veio junto ao instrumento e outro que costumo usar, e obtive o mesmo resultado. Foi bem difícil obter uma boa afinação nos agudos, já os graves se apresentaram um pouco altos. Quem tem mais experiência consegue compensar isso facilmente, mas para um iniciante é um tanto perigoso.

CONCLUSÃO O flugelhorn é um instrumento que deve fazer parte do set de um trompetista, além dos trompetes Sib, Dó, Mib e o trompete piccolo. Custando em média de R$ 950,00 a R$

1.400,00, o Michael WFHM45 é uma boa opção para o estudante que deseja se aventurar no mundo dos solos melódicos. Com um bom custo-benefício em relação a outros instrumentos de mesmo nível no mercado, o WFHM45 não é recomendado para uso em gravações em estúdios, por possuir problemas de afinação nas regiões aguda e grave. Quem deseja utilizá-lo em seus estudos ou performances ao vivo terá uma boa opção em mãos.

FLUGELHORN MICHAEL WFHM45 Importador: Michael Prós: Acabamento e custo-benefício. Contra: Afinação nas regiões grave e aguda. Preço médio: R$ 1.320,90 Garantia: 6 meses. Afinação ....................... Sonoridade.................... Mecânica....................... Custo-benefício............... Utilização recomendada ❏ Estudo ❏ Apresentação ao vivo ❏ Gravação

Tire suas dúvidas com o importador: (31) 2102-9270 www.michael.com.br. Quer falar com o autor desta matéria? Bruno Garcia Fermiano, trompetista da Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo. Contato: brunotrumpet@hotmail.com SAX & METAIS

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transcrição

POR ADEMIR JÚNIOR

Transcrevendo solos O hábito da transcrição é tão importante para o estudante de música quanto a imitação o é para as crianças em fase de aprendizado

TRANSCRIÇÃO

U

ma das tarefas mais importantes para quem quer ser um bom improvisador, além de tocar escalas, arpejos e ouvir os grandes solistas, tanto estrangeiros como brasileiros, é fazer a transcrição de solos. Para nos ajudar a entender por que e para que isso é tão importante, convidamos o músico Ademir Júnior, que nos ajudará nessa missão. Primeiro vamos entender de forma teórica os benefícios desse estudo e como começar a praticá-lo. Nas futuras edições daremos de presente a vocês algumas das transcrições que consideramos essenciais serem tocadas e ouvidas.

IMITAÇÃO Se tem uma escola que funciona em países que não dispõem de educação acadêmica de música popular, é a transcrição de solos. Essa prática se tornou cada vez mais popular depois dos belíssimos solos tocados pelos pais do jazz. Não se pode ignorar que a imitação pertence ao aprendizado humano em áreas como falar, dançar, cantar e tocar. Ninguém cria algo que já não esteja sendo feito de outra forma por alguém, portanto o que fazemos pode ser a extensão de algo já feito e assim podemos refazer ou construir algo novo com fragmentos já existentes. Imitar faz parte da cultura humana, pois é imitando que se pode aprender algo para se comunicar em uma mesma linguagem e de forma que todos sejam compreendidos. Isso faz parte das linguagens preexistentes e estabelecidas para a comunicação social do homem. Porém, a imitação tem o seu tempo de eficiência e isso se dá como no caso de uma criança que fala – nos primeiros anos de vida e até que se alfabetize, a imitação será uns dos instintos práticos para sua sobrevivência. Traduzindo toda essa teoria para música, podemos entender que a transcrição de solos é algo tão importante para um estudante de improvisação quanto a imitação o é para uma criança que imita as primeiras frases dos pais. A experiência de tirar as mesmas notas e tocar o solo de um músico que você tanto admira é essencial para a formação da linguagem na improvisação. Passar por cada nota, uma por uma, pacientemente trará experiências maravilhosas ao músico que sonha um dia fazer de forma semelhante o que faz o artista que tanto admira.

TECNOLOGIA De uma forma sensível, a tecnologia pode não ser tão benéfica quando se refere à transcrição de solos, pois os recursos disponíveis para a diminuição do andamento e até a escrita virtual em programas de edição de partituras privam o ouvido e o cérebro de passar por momentos de grande importância para a evolução do ouvido musical. Pode ser que com menos facilidade ao seu redor você desenvolva mais instintos para a percepção melódica, harmônica e rítmica. É o caso de tocar um solo ou uma frase na metade do seu andamento. Que bom poder ouvir ligeiramente todas as notas, mas a deficiência se instala quando você depende de ouvir sempre de forma lenta cada passagem, quando sabemos das riquezas e diversidades de andamentos que cada frase pode ter, uma sempre diferente da outra.

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SAX & METAIS

Outra questão importante é que o contato do lápis com o caderno guiado pela mão causa no cérebro uma informação que aos poucos forma o reconhecimento ou domínio de determinadas alturas, e estas podem se estender para o ritmo e harmonias. Logo, o músico pode desenvolver seu ouvido musical em três diferentes percepções; nesse caso, a repetição dará a segurança no reconhecimento de intervalos e divisões. Imagens sonoras também se formam à medida que se desenvolve a percepção nos três quesitos. Isso seria semelhante ao que se faz com crianças ao lhes ensinar o nome de cada objeto; nesse caso, uma identificação visual, e no nosso caso, a identificação é auditiva, aprendendo a dar nome a tudo que se escuta.

POR QUE É TÃO IMPORTANTE? Pode alguém perguntar se isso seria tão necessário para a improvisação sendo que, para improvisar, não seria melhor sentir o feeling da música e mandar ver? De fato a inspiração constante com base em um rico vocabulário é suscetível a um grande sucesso, assim como sucessivos solos bem equipados de ricas melodias e formas verticais, ou seja, formas harmônicas de se pensar no mundo da improvisação. Resumindo, só se pode ganhar na transcrição de solos, pois desenvolver a percepção é criar um rico vocabulário que será necessário para a diversidade de estilos com que nós, profissionais, lidamos todos os dias, e precisamos ser cada vez menos repetitivos, pois a magia das notas e a beleza das frases se dão justamente em saber manipular consciente ou inconscientemente, teoricamente ou de forma prática e instintiva a física sonora dos intervalos, arpejos e escalas. Tudo isso poderá ser encontrado, analisado e esmiuçado quando você tem um solo à sua frente e depois de horas, dias ou semanas, e muito suor, tem algo que parece como se você mesmo tivesse criado, tamanho é o trabalho que se tem ao praticar a arte de transcrever solos. Trabalhei isso por exatos 13 anos da minha vida musical, até que cheguei ao ponto de não querer mais fazer, por razões óbvias e pela necessidade de não depender mais do pensamento dos grandes músicos e sim partir para a maior idade, ou sei lá, para uma adolescência rebelde, pois nunca se sabe se o tanto que sabemos, sabemos de fato, ou apenas estamos molhando os pés em novas águas. Agora quero compartilhar um pouco sobre a experiência da transcrição de solos com você. Vamos à prática!

MÃOS À OBRA O que nos faz querer tocar o que ouvimos é que gostamos e nos identificamos com um solo, então basta escolher algo não muito complicado e de preferência de andamento médio para lento, até que se acostume com a velocidade das passagens melódicas. Os músicos de instrumentos melódicos poderão ter mais facilidade para essa prática, mas isso não é regra. No início você pode usar o seu instrumento, até que depois de algum tempo isso já não será tão necessário, dependendo da dificuldade do solo e do tanto que seu ouvido evoluiu em percepção.


Como existem tipos de sons diversos, como tonais, modais e sons que se misturam em micropassagens de tons ou modos, o ouvido só per-

ceberá as diferenças à medida que souber analisar e distinguir o contexto harmônico dos solos. Vamos a exemplos de sequência tonal.

Exemplo 1

Nesse caso, os sons são mais intuitivos para a nossa cultura, por isso o ouvido os percebe com mais naturalidade, pois a harmonia caminha sempre pedindo resolução e repousando. A dica para cada frase é tirar as primeiras notas – uma ou duas já são um início, pois o que desanima muitos estudantes é que pensam que devem ouvir toda a sequência, quando na verdade o princípio é

que uma nota vem após a outra. Isso é crucial para o progresso, pois se você tirou a primeira já parte para a segunda e assim por diante. Por isso é importante escrever, pois se você esquece, com a partitura escrita terá sua obra feita, podendo recorrer a ela mesmo que se esqueça de parte do solo.

Exemplo 2 – Já em uma sequência modal

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transcrição Exemplo 2 – continuação

As sequências modais, apesar de serem semelhantes, podem não ser tão óbvias para quem tem um ouvido mais tonal, pois elas po-

dem estar deslocadas da posição original do acorde, o que dificulta a percepção e torna mais necessário o uso do instrumento.

TRANSCRIÇÃO

Exemplo 3 – Microtons relacionados

Aqui, o que se torna um pouco mais difícil é o fato de que a melodia segue uma harmonia própria, sobrepondo-se à harmonia proposta, e na frase estão envolvidos vários recortes de tons que, se tocados de forma rápida, vão enriquecer o som proposto do acorde.

Nesse caso, o ouvido poderá ter mais dificuldade no início. Por isso é bom começar a se aventurar em algo simples e mais melódico, para entender os princípios usados de forma mais clara.

Exemplo 4

Há também a questão rítmica e a possibilidade do choque de divisão escrita, pois a escrita sugere uma execução quase semelhante:

Como a diferença não é tão grande na escrita, poderá haver esse choque se o estudante não estiver muito acostumado, e de forma didática isso não é problema, pois a divisão não nega o princípio melódico. O importante no início é interpretar e tocar as notas certas, sendo que com o tempo o ouvido perceberá melhor as diferenças, mesmo as mais sutis.

RESULTADOS O trabalho poderá demorar dias, mas o importante é não se desesperar se o solo parecer muito difícil. É claro que seu ouvido terá um nível de percepção para poder se aventurar em cada solo, mas se o que você escolheu o fizer suar bastante, isso valerá a pena. Por vezes você poderá passar uma melodia 20 vezes e não ouvir o ritmo ou as notas com clareza. Isso é normal até que você desenvolva mais sua percepção. Faz parte do processo e não deve ser motivo de preocupação. Cuidado para não se viciar em tirar notas erradas e não conferir, senão a escrita fica errada e o ouvido vicia. Isso é perfeitamente possível, e poderá ser um autoengano. Por isso, ao tirar, você deverá tocar várias vezes para conferir todos os sons. A prova dos nove é pedir para alguém tocar com a gravação. Se for um bom executante, logo você mesmo perceberá as diferenças. Se você tocar e viciar em se enganar, com o tempo arrumará um problemão. Com esses cuidados será possível obter um nível satisfatório em cada solo. Com o passar dos anos, tudo vai clareando e aquela velha frase do ‘quebrou tudo’ vai dando lugar a um melhor entendimento, em que você perceberá cada escala, divisão e passagem harmônica executada. Acredite, tudo é possível, basta praticar bastante e poderá chegar a um nível que jamais imaginou. Com um empurrãozinho, objetivo, paciência e autoestima, as coisas vão ficando cada vez mais acessíveis, e depois de algum tempo você acabará entendendo as linhas de solo e analisará tudo por cima, sem a necessidade de esmiuçá-las.

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SAX & METAIS

CONCLUSÃO Sei que existem várias linhas de pensamento sobre tirar ou não solos, mas deixo aqui a minha contribuição dizendo que para mim tudo isso funcionou, pois sempre pensei que não somos autossuficientes. Nossa inspiração vem das mínimas coisas até as mais complexas. Nesse caso, copiar solos é como gerar imagens musicais e conteúdo, para que você os tenha em seu cérebro e acesse sempre que precisar. É importante relembrar o legado de cada músico, mesmo que seja em uma frase, pois isso mostra a importância e a grandeza do que eles são para todos nós, estudantes e profissionais da improvisação. Terminando essa dica, lembro que é importante ir dificultando o nível para chegar a músicas tecnicamente mais complexas, e tornar esse exercício uma prática saudável. Nenhum músico cria todas as situações musicais de forma instantânea e sim acessa informações que estão no cérebro. Nesses 13 anos cheguei a tirar cerca de cem solos. Entre eles, cito os seguintes músicos: Oliver Nelson, Freddie Hubbard, Miles Davis, John Coltrane, Michael Brecker, Branford Marsalis, Kenny Garrett, Joshua Redman, Eddie Daniels, Wynton Marsalis, Pat Metheny, Vitor Assis Brasil, Idriss Boudrioua, Lula Galvão, Alexandre Carvalho, Widor Santiago, Marcelo Martins e Moisés Alves. Lembro que um dos nossos maiores saxofonistas de todos os tempos disse que 90% do que ele tocava era tirado de John Coltrane. Quem é ele? Michael Brecker. E deixo aqui uma frase que a Elizabeth Taylor disse sobre Michael Jackson se inspirar em James Brown: “Um artista sempre se inspira em outro bom artista”. Para mim, a diferença é que o que você pode fazer é expandir o conhecimento adquirido uma vez que toma emprestada a inspiração de outros para seu laboratório musical. Por fim, tenho certeza de que por mais que se copie, não existem dois DNAs idênticos. Sua assinatura e alma estarão lá, soando sempre de uma nova forma.



vitrine Sax

& Metais recomenda

Confira sugestões de INSTRUMENTOS e ACESSÓRIOS que estão chegando às lojas e prometem fazer sucesso entre os músicos

Pífano Yamaha YRF-21 Pífano em Dó, construído em duas peças. Corpo em ABS de grande durabilidade e fácil limpeza. Ideal para quem está começando no instrumento. Acompanha tabela de digitação. INFORMAÇÕES:

VITRINE

www.musical-express.com.br

Flautim Michael WPCM 65 Complementando sua linha de instrumentos de sopro, a Michael oferece o flautim WPCM 65. Chaves e bocal prateados, corpo em ABS, sistema Boehm e Mi mecânico. Ainda acompanha agulha de limpeza, grease e um case Michael de madeira superluxo. INFORMAÇÕES:

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Rico Reed Vitalizer Controlador de umidade para palhetas. O Reed Vitalizer conserva o formato original de suas palhetas e previne rachaduras e empenamento graças à sua patenteada tecnologia. Descubra por que o Rico Reed Vitalizer é utilizado por muitos dos grandes músicos atuais. INFORMAÇÕES:

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Suporte Hercules para clarinete Novo suporte compacto e estável para clarinete. Design exclusivo feito para caber dentro da campana do instrumento sem ocupar espaço em seu case. Acabamento aveludado para proteger o clarinete de riscos. INFORMAÇÕES:

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Porta-palhetas Vandoren Conserve melhor suas palhetas guardando-as adequadamente. Umidade controlada. Cartucho com material dessecante substituível. Compartimentos numerados e suportes entalhados para melhor circulação do ar. INFORMAÇÕES:

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Informações cedidas pelas empresas. A revista Sax & Metais não se responsabiliza por qualquer alteração nos produtos apresentados pelos fabricantes e/ou distribuidores.

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SAX & METAIS


r e v i e w s CDs e livro

ARTISTA: DIRCEU LEITE GRAVADORA: UNIVERSAL MUSIC WWW.UNIVERSALMUSIC.COM.BR

Dirceu Leite é flautista, saxofonista e clarinetista que você já deve ter ouvido, mesmo que sem querer. Ele é um dos instrumentistas mais requisitados, principalmente no samba. Em um de seus inúmeros shows como sideman começou a perceber com mais detalhes a riqueza das melodias dos sambas que estava acostumado a ouvir, e dessa forma nasceu o projeto Cacique Instrumental, segundo disco solo da carreira de Dirceu. O título vem da inspiração de Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro, de onde saíram os principais sambistas compositores que Dirceu reuniu nesse disco através das músicas escolhidas e aqui mostradas com todo o virtuosismo do instrumentista: Jorge Aragão, Luis Carlos da Vila, Almir Guineto, Arlindo Cruz e Sombrinha são alguns deles.

HORIZONTE

ARTISTA: GABRIEL GROSSI SELO: DELIRA MÚSICA

Gabriel Grossi, gaitista e compositor, vem em um crescendo em sua carreira e cada vez mais vai conquistando o espaço que merece. Dessa vez ele vem com um trio pouco usual: gaita, teclados e bateria, acompanhado dos músicos Guilherme Ribeiro e Sergio Machado. Interpretações singulares e composições de rara sensibilidade estão no novo trabalho que Gabriel dedica a três grandes mestres do sopro que para ele são determinantes em sua vida: o gaitista Mauricio Einhorn, o clarinetista Paulo Moura e o trombonista Raul de Barros, que participam do disco. Das dez faixas do álbum, Gabriel assina seis, sendo duas em parceria, uma com Daniel Santiago e outra com Alessandro Kramer. Na Barão de Mesquita é uma parceria de Paulo Moura e João Donato, da qual participa o clarinetista. Raul de Barros contribuiu com Atmosfera, que compôs e executa, e Mauricio Einhorn apresenta Curta-metragem.

Al Cohn e Zoot Sims AL AND ZOOT Reunião de dois tenoristas de primeira grandeza. Este álbum foi originalmente gravado em 1957 e é uma aula de interpretação e sonoridade. É possível ouvir claramente a diferença de execução de um e de outro, sentindo as mudanças de entonação e timbre, e também os distintos caminhos de ideias nos improvisos.

Kai Winding e J.J. Johnson THE GREAT KAI & J.J. Álbum gravado em 1960 e que reuniu os trombonista pela primera vez. Na época, Kai e J.J. eram os melhores trombonistas e hoje esse fato se confirma, estando os dois entre os cinco melhores de todos os tempos. Há quem diga que quando o disco foi lançado foi taxado de comercial e logo esquecido, mas é bom respeitá-lo. Bill Evans é o pianista nas 11 faixas.

BRASILIDADES

ARTISTA: ADEMIR JÚNIOR SELO: INDEPENDENTE ADEMIRJUNIOR.BLOGSPOT.COM

O novo CD de Ademir Júnior é uma reunião de inspirações das mais diversas, que vão de Michael Brecker a Bob Mintzer, de Dori Caymmi ao frevo. O resultado só poderia ser Brasilidades. Apesar de mostrar o lado virtuosístico de Ademir em execuções difíceis, como é o caso da música que dá título ao álbum, é um trabalho que tem por finalidade apresentar também o lado compositor do músico. Uma melodia que a princípio parece despretensiosa logo vira uma surpresa, Beijaflor é um tema em ¾ que após a exposição abre para um solo de escaleta de Hermeto Pascoal, em participação especial. E Ademir não fica só no sax, vai do funk para os choros Villa Bach e Vida de Músico ao clarinete. Até a flauta doce entrou em Família. Ademir Júnior está disponibilizando os áudios em MP3 do CD inteiro em seu blog e afirma que é cada vez mais dificil lutar contra a pirataria.

CLÁSSICOS DO CHORO BRASILEIRO – ALTAMIRO CARRILHO 1

EDITORA: CHORO MUSIC PREÇO: R$ 54,90 WWW.CHOROMUSIC.COM.BR

No novo livro da já consagrada coleção Clássicos do Choro, o destaque é Altamiro Carrilho, flautista, compositor e arranjador, dono de um estilo próprio que influenciou gerações. Por meio da Choro Music Altamiro ganhou ‘songbook de luxo’ com algumas de suas composições, que a partir de agora entram definitivamente para o acervo da música brasileira com o álbum Clássicos do Choro – Altamiro Carrilho Vol.1. Entre as composições estão Aeroporto do Galeão, Caco de Vidro e Beijaflor, entre outras. O song-book vem acompanhado de um CD play along para que o músico possa executar as partituras com acompanhamento, e teve a direção artística do próprio Altamiro, que acompanhou todas as etapas de gravação. As partituras vêm para instrumentos em C, Bb e Eb.

Charlie Parker e Dizzy Gillespie BIRD & DIZZY Parker e Gillespie se encontraram pela primeira vez em 1941, quando o trompetista tocava com a orquestra de Jay Mc Shann. A partir daí tocaram juntos diversas vezes até gravarem este disco em 1950, Birdy & Dizzy. A reunião de dois titãs do bebop faz sair faíscas. Esse álbum foi relançado em CD com 18 faixas bônus.

Chet Baker e Art Pepper THE ROUTE Registro fiel do jazz West Coast com a união do trompetista Chet Baker e do sax alto de Art Pepper, há também outras participações de destaque, como o sax tenor de Rich Kamuca. Gravado em 1956, mostra o novo caminho que foi aberto para o jazz a partir de 1950. Bom para quem quer entender jazz, ouvir boas baladas e alguns temas mais ritmados, mostrando a boa forma dos instrumentistas.

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REVIEWS

CACIQUE INSTRUMENTAL

POR DÉBORA DE AQUINO


workshop C L A R I N E T E

Por Maria Beraldo Bastos

para uma boa pronúncia D entro da música existem muitos universos de comunicação e formas de tocar, que são criadas e desenvolvidas desde muito tempo atrás e continuam sendo, até hoje. A partir do contato que há entre elas, a genuína curiosidade humana desvenda cada célula desses universos e aumenta a possibilidade de diálogo pela compreensão da diferença e da semelhança. Criamos assim alguns signos, identificamos ‘linguagens’ e percebemos pronúncias. A articulação é um elemento determinante na pronúncia musical. Em função dela, uma frase considerada típica de um baião, por exemplo, pode soar como uma de jazz. Dessa forma, estudar diferentes maneiras de articular e ter controle sobre isso nos permite transitar por entre alguns universos ou, não menos interessante, mergulhar profundamente em um deles. Mais tecnicamente, a articulação é o modo com que as notas são tocadas, em termos de duração, intensidade e intenção; é a relação entre elas numa frase musical. Assim sendo, a articulação está muito atrelada à acentuação. Nos sopros, a articulação diz respeito à forma como a coluna de ar é interrompida ou não ao tocar. Essa interrupção deve ser dada pela ação da língua, que toca a palheta ou simplesmente interrompe a passagem do ar (no caso dos instrumentos de bocal).

Para que haja controle sobre essa interrupção do ar que produz o som, é necessário que se tenha uma boa coluna de ar, regular e consistente, e esse trabalho deve ser feito por meio de notas longas e estudos de sonoridade de uma forma geral (que podem ser encontrados em artigo escrito por Manu Falleiros, na edição 11 da Sax&Metais). Feito isso, sugiro alguns exercícios de articulação com padrões muito usados na música brasileira. Estes exercícios podem ser feitos juntamente com o estudo de escalas.

EXERCÍCIO 1 As notas que estão ligadas indicam não interrupção da coluna de ar, e as que estão com pontos de staccato devem ser tocadas separadamente, com interrupção da coluna de ar ao começo de cada nota, mas de forma sutil. O ar é interrompido pela língua, que encosta levemente na palheta (no caso dos instrumentos de palheta), mas a pressão da região do baixo ventre e abdominal deve continuar estável. Esses exercícios devem ser feitos, primeiro, com a atenção voltada à articulação, como indicado acima. Em seguida, eles podem ser feitos dando enfoque, desta vez, à acentuação, substituindo o golpe de língua por um golpe dado pelo diafragma na coluna de ar, impulsionando mais ar de uma vez só.

Exercício 1

a) Padrão usado em maxixes

b) Padrão usado em choros sambados

c) Padrão usado em polcas

Coloque sua mão quatro dedos abaixo do umbigo e inspire empurrando a própria mão. Em seguida, solte o ar em um golpe mais forte. Com esse golpe diafragmático você sentirá a movimentação abdominal acontecer muito rapidamente e

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ouvirá a intensificação do som. O resultado disso é um golpe de acentuação. Para este exercício, é importante concentrar-se em manter a embocadura firme na posição correta para que haja maior controle da afinação e da emissão do som.

EXERCÍCIO 2

WORKSHOP

Articulação:


Exercício 2

a) Padrão usado em maxixes

b) Padrão usado em choros sambados

c) Padrão usado em polcas

As notas marcadas são as fortes e as demais podem ser tocadas num volume mais baixo que o normal. Realizando diariamente estes exercícios, você irá adquirir maior controle sobre o jeito de tocar as notas, onde ligá-las, onde separá-las e quais notas acentuar. É muito importante, além destes exercícios técnicos, exercícios de escuta e de identificação das articulações usadas por músicos de todas as épocas, inclusive os atuais. Geralmente, em uma música, não há um padrão ou outro de

articulação a ser usado. O músico articula as notas de acordo com a sua intenção quanto ao fraseado. É um elemento, além de tudo, altamente interpretativo.

EXERCÍCIO 3 Por fim, indico um terceiro exercício, a partir de uma sugestão de articulação para a primeira parte de um maxixe de Pixinguinha chamado Cheguei.

Cheguei

CONCLUSÃO

Este material e a atenção ao escutar diversos músicos o ajudarão a desenvolver uma forma própria de articulação. Usufrua a liberdade interpretativa que dá sentido ao discurso musical e mostre a expressão de sua pronúncia.

Pixinguinha

autor

Maria Beraldo Bastos é clarinetista, graduanda em Música Popular pela Unicamp. Tem como trabalho principal o grupo Fina Estampa, que acaba de lançar o disco Abrideira. Contato: mariaberaldobastos@gmail.com

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workshop S A XO F O N E

Por Paulo Oliveira

Aproximação cromática A

improvisação é uma parte da prática musical com tantas possibilidades e variáveis que pode-se dizer que é uma arte dentro de outra arte. Na busca incessante por ideias musicais que sejam expressivas, criativas, frescas e espontâneas, a matéria-prima melódica é extraída basicamente de duas fontes: escalas e acordes. Na primeira temos uma abordagem de horizontalidade e na segunda, de verticalidade. Na abordagem harmônica usam-se arpegios em suas mais diversas formas ou então fragmentos de arpegios, enfatizando ora a tônica, a 3ª, a 5ª ou a 7ª. Conforme o contexto musical, podem-se buscar resultados mais instigantes trabalhando com os graus mais altos do acorde: 9ª, 11ª e 13ª. Ainda assim, especialmente numa situação de pouca movimentação

harmônica, a utilização desta abordagem verticalizada se esgota com facilidade, caindo na obviedade. Uma alternativa para gerar mais interesse ao pontuar notas de um acorde é a utilização de aproximações cromáticas. É criada uma tensão quando se executa uma nota meio tom abaixo de uma das notas do acorde sobre o qual estamos improvisando, tensão esta que se resolve com a posterior execução da efetiva nota do acorde. Esta qualidade atrativa entre as duas notas é muito interessante e dá novo colorido às ideias musicais que têm como foco a harmonia. É também uma forma criativa de colocar material não diatônico no fraseado. No exemplo a seguir vemos um simples arpegio executado sobre um acorde maior com 7ª maior (Maj7) e depois uma versão do mesmo arpegio utilizando aproximações cromáticas.

Exemplo 1

No segundo exemplo temos uma frase sobre uma progressão II-V-I com resolução na 3ª e depois uma versão com aproximações cromáticas. Exemplo 2

Até então estamos observando apenas aproximações ascendentes. Elas podem também ser descendentes ou ainda o que se chama de ‘aproximação retardada’, quando a nota do acorde vem sendo ‘prepara-

da’ com notas meio tom acima e depois abaixo antes que se resolva com a nota do acorde. Observe o próximo exemplo. Aqui vemos esta técnica aplicada a um arpegio de um acorde menor com 7ª menor (m7).

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Exemplo 3

WORKSHOP

como técnica de improvisação


Em seguida, um exemplo com a utilização da ‘aproximação retardada’ numa sequência de acordes dominantes em ciclo de quartas enfatizando as tônicas. Exemplo 4

Evidentemente essa técnica pode ser aplicada a outras estruturas melódicas que não os acordes somente.

No quinto exemplo temos uma escala maior ‘ornamentada’ com aproximações cromáticas simples.

Exemplo 5

Finalmente, no exemplo 6 vemos uma escala no modo dórico com aproximações retardadas. Exemplo 6

CONCLUSÃO

Para dominar esta abordagem, é preciso praticar as aproximações nos tipos de acordes mais usados: Maj7, m7, m5b7, 7 e 7dim. E praticá-los em todas as tonalidades. Não é tarefa fácil e é claro que é necessário o domínio desses arpegios em suas formas mais simples. No entanto, é também um desafio técnico que, quando superado, trará um enriquecimento muito grande ao vocabulário improvisacional do instrumentista. Aproxime-se disso!

autor

Paulo Oliveira é músico, professor e compositor freelancer. Atua como saxofonista e flautista do Quarteto Zarabatana, e do DuOZ com o pianista Beba Zanettini. Contatos: virtwind@uol.com.br; www.myspace.com/paulolliveira

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workshop G A I TA

Por Ivan Marcio

lá, amigos do sopro. É com satisfação que inicio mais um workshop sobre a gaita diatônica. É um instrumento pequeno, porém muito complexo na sua construção e principalmente no quesito extração de ‘sonoridades ocultas’.

Na minha primeira contribuição (edição 22), foi inserido um desenho da estrutura da gaita diatônica e suas respectivas notas – sopradas, aspiradas e os bends, incluindo também os overblows e overdraws (técnica de cromatização da gaita diatônica). Para quem perdeu, mostro a ilustração novamente.

Partindo da estrutura do instrumento, estudaremos os bends, em que nossa meta é transformar as notas naturais em acidentes musicais bemóis. Para outros instrumentos, o bend está relacionado em subir ½ tom, mas na gaita sempre utilizaremos o contrário. Para produzir os bends, são necessários a articulação da boca (lábios, língua) e os movimentos de contração do diafragma (músculo entre a faringe, laringe/tórax e sistema digestório). Muito importante: para iniciar as articulações, utilize respiração leve e contínua, fechando os lábios e a boca como se estivesse produzindo a vogal ‘U’. Com isso você sentirá uma contração

leve do diafragma e perceberá que a nota que está sendo executada mudará de timbre e afinação, tendo a sensação de que a nota está ‘descendo’. Algo que vale muito a pena é praticar utilizando um afinador eletrônico cromático, diapasão cromático, gaita cromática ou teclado/piano, a fim de escutar a nota original e assim obter uma base sonora para a prática dos bends.

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DICAS ✓ Não consigo tirar o G do orifício 2 de minha gaita diatônica. A gaita está quebrada?

O

entendendo e praticando

WORKSHOP

Bends:


Fique tranquilo, pois o orifício 2 é mais difícil de aspirar porque a palheta é longa e pesada. Tente aspirar como se estivesse baforando ou sussurrando. Com tempo de prática e muito estudo você terá uma nota G poderosa que fará inveja aos amigos. ✓ Mantenha o foco na sonoridade limpa do orifício 2 e de seus respectivos ‘vizinhos’.

✓ Trio inseparável: fluxo de ar, garganta e diafragma. ✓ Estude com calma e aprenda a conhecer seu corpo, pois você é a ferramenta emissora de timbre e som do instrumento. ✓ Pratique notas longas no início de qualquer estudo – você criará percepção sonora e controle respiratório satisfatórios.

Exercícios

DISCOGRAFIA BÁSICA 1 A cada edição deixarei como dica discografias básicas dos maiores gaitistas de diatônica e cromática. • Big Walter Horton with Carey Bell – Selo Alligator • Charlie Musselwhite – Memphis Charlie 1971 – Selo Arhoolie • James Cotton, Junior Wells, Carey Bell e Billy Branch – Harpattack – Selo Alligator

O estudo dos bends no orifício 2 estará disponível no www.youtube.com. Digite “Ivan Marcio – gaita diatônica – revista Sax e Metais” na Busca. Forte abraço, muitos bends e vamos soprar!

autor

Ivan Marcio é músico, pedagogo, consultor musical, estudante de musicoterapia e endorser Bends Harmônicas. Informações e contato: www.ivanmarcio.com e ivanmarcio@bends.com.br

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workshop F L AU TA

Por Gabriela Machado

prática e aplicação II I

niciei este workshop sobre sonoridade na edição anterior da Sax & Metais. Expliquei que existem vários métodos de flauta que trabalham a questão da sonoridade e um dos mais conhecidos e estudados é De la Sonorite – Art et Technique, do flautista francês Marcel Moyse, que aborda a sonoridade sob três aspectos principais: notas longas, extremos de dinâmica (do pianíssimo ao fortíssimo e vice-versa) e flexibilidade labial (do grave ao agudo e vice-versa) com grandes ligaduras. Já vimos o aspecto ‘notas longas’ na primeira parte da aula, agora vamos em frente.

EXTREMOS DE DINÂMICA Exercícios de extremos de dinâmica trazem variações timbrísticas que podem ser usadas em qualquer tipo de música, principalmente nos

andamentos lentos, que exigem maior controle do flautista, além de ajustar a embocadura. Partindo do exercício proposto por Moyse, podemos dividi-lo em duas partes para entender melhor. Primeiro vamos nos concentrar no crescendo que vai do pianíssimo ao fortíssimo. Dois ingredientes são fundamentais para a obtenção desse efeito: aumentar o volume de ar aos poucos e diminuir o espaço entre os lábios, concentrando a coluna de ar. É como se apertássemos o ar com os lábios, na direção de fechá-los. Essa combinação criará o crescendo. Lembrando da mangueira, é como se a saída de água ficasse menor ainda e o foco mais potente. É exatamente o que vai acontecer com o som, que ficará mais encorpado e forte. A pressão do diafragma se mantém igual e constante.

Exercício 1

O decrescendo é o movimento contrário, que vai do fortíssimo ao pianíssimo. Portanto, é só inverter a ordem: começar com um grande volume de ar combinado com um pequeno espaço entre os lábios

e, aos poucos, diminuir o ar e aumentar o espaço entre os lábios, abrindo-os. Geralmente a afinação tende a cair nesse momento. Temos que compensar pensando em subir e apoiando muito com o diafragma.

Exercício 2

O padrão inteiro com variações, praticar nas três oitavas:

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Exercício 3

WORKSHOP

Sonoridade:


O padrão invertido escrito em semínimas. Começar praticando com notas longas como o anterior, depois diminuir o valor para mínimas e por último chegar às semínimas. Exercício 4

Trecho da Melodia Sentimental, de Heitor Villa-Lobos, em que podemos explorar esses crescendos e decrescendos.

Melodia Sentimental

Heitor Villa-Lobos

autor

Na próxima edição, na terceira e última parte deste workshop, falaremos de flexibilidade labial e aplicação da técnica em repertório. Até lá!

Gabriela Machado é flautista formada pela Fundação das Artes de São Caetano e Universidade Estadual Paulista (Unesp). Desde 1995 é solista do grupo Choronas, que tem três CDs lançados.

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