Violão Pro #1

Page 1

VIOLÃO PRO MAIO | 2006

ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

GUINGA

Acabaram as duvidas!

Captadores, tampos, cordas... Tudo que você sempre quis saber sobre violão e não tinha pra quem perguntar

ESPECIAL

Paco de Lucia A viola de Ricardo Vignini

CHICO PINHEIRO

Guinga

Super entrevista workshop

ENTREVISTA EXCLUSIVA

com um dos grandes mestres do violão

TESTES

WWW.VIOLAOPRO.COM.BR

Analisamos todos os segredos dos violões Dean DAO, Yamaha Silent Guitar, Eagle CH 70 F e das cordas D’Addario EXP 15 e 26 V EN TEARS IN HEA Eric Clapton Transcrição

YAMANDU COSTA

Reportagem completa! E de quebra você leva uma música Violão PRO•2006•Nº 1•R$ 8,50

ARRANJO: BACH EM AFINAÇÕES ALTERNATIVAS Capa_Violao+lombada.indd 1

16/4/2006 14:15:26


ViolaoPro 1.indd 2

3/4/2006 13:41:29


ViolaoPro 1.indd 3

3/4/2006 13:42:16


Editorial Vamos agradecer!

A

ntes de tudo, quero agradecer você por ter adquirido a Violão PRO. Esta revista foi editada com grande empenho de nossa equipe, para trazer o que há de melhor em informação para violonistas brasileiros. Ao produzi-la, nosso objetivo foi criar um padrão que facilitasse o entendimento, sem cair na obviedade. Confesso que essa preocupação foi grande. A partir do briefing inicial, traçamos um pensamento editorial que contasse com a participação ativa dos próprios leitores. Esse resultado você pode perceber nas enquetes da revista, na seção de Teste de Produtos. Quanto às matérias, abrimos a edição com Guinga, violonista de caráter, elogiado por dez dos dez maiores artistas do Brasil. Uma aula de sabedoria e uma pitada de bom humor. Nosso lado latino falou alto em uma rápida matéria com Paco de Lucia, passando por Chico Pinheiro, que fala sobre sua carreira, influências e as técnicas que utiliza para tocar. Chico também colaborou com um workshop bastante interessante.” Violão PRO também agrega outros instrumentos com sonoridade acústica, como viola, bandolim e outros. Em nosso primeiro número, inauguramos a seção com Ricardo Vignini, violeiro da nova safra, bem falado e querido por seu trabalho no Matuto Moderno. No que tange aos equipamentos, fomos buscar opinião sobre os violões Dean, Eagle, EXP, da D’Addario e a Silent Guitar, da Yamaha. Versátil, esse modelo feito de alumínio, borracha e madeira pode ser seu próximo violão elétrico. Fácil de transportar e com som de ‘gente grande’, segundo a análise de Rudy Arnaut para a Violão PRO. Também mostramos as novidades da NAMM 2006, uma feira americana que reúne o que há de mais novo na indústria de instrumentos musicais. No mais, é só diversão. Boa leitura,

Comotudo começou: ViolãoPRO em seu primeiro projeto de capa.Acima, a versão final.

Daniel A Neves

Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima

Direção de Arte DawisRoos

Diretora de Redação Regina Valente - MTB 36.640

Impressãoe Acabamento GráficaPROL

Reportagem HermanoFreitas

ConsultoriaTécnica Rudy Arnaut, Cadu Correia, Cristiano Petagna, FábioCarrilho, OdirFerreira

Revisão Esther Alcântara GerenteComercial Marina Markoff Administrativo / Financeiro Carla Anne

Fotode capa MarceloRossi Fotos MarceloRossi(Yamandu), Marcello Kamio e divulgação

O que ouvimos na redação

Distribuiçãoexclusiva paratodoo Brasil Fernando Chinaglia DistribuidoraS/A • Rua Teodoroda Silva,907 Grajaú• CEP:20563-900 Rio de Janeiro/ RJ Tel.:(21) 2195-3200

Publicidade Anuncie na Violão PRO comercial@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.violaopro.com.br e-mail ajuda@musicamercado.com.br

Assessoria:Edicase Soluções para Editores ViolãoPRO(ISSN1809-5380)é umapublicaçãoda Música& Mercado Editorial. Redação, Administração e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 - BrooklinNovo- São Paulo/ SP. e-mail:violaopro@musicamercado.com.br

Esta revista apóia

Confira o que rolou nas pequenas caixas de som de nossos famigerados computadores.

Artista: Eric Clapton • Título: Unplugged (Live) Comentário: Ouvimos tanto Tears in Heaven que não agüentamos mais, ela não sai da cabeça.

Artista: Guinga • Título: Cheio de Dedos Comentário: Houve uma overdose de Guinga nesta edição, por isso mesmo não poderia faltar um CDzinho básico em nossa CDteca.

Artista: Baden Powell • Título: Live à Bruxelles Comentário: Obrigatório ouvir Baden. Queremos agora ouvir o filho dele.

4 ViolaoPro 1.indd 4

O pior que ouvimos Artista: Laura Pausini • Título: Le Cose Che Vivi Comentário: Meloso, meloso, meloso, meloso. Sim, todo mundo tem seu lado brega, romântico e depressivo. Nossa jornalista Regina Valente está perdoada desta vez.

• Maio / 2006

10/4/2006 17:21:16


ViolaoPro 1.indd 5

3/4/2006 13:42:40


-

Indice ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos mais competentes profissionais do mercado.

MATÉRIAS 16 Clayton Barros: a corda fina do Cordel do Fogo Encantado 18 Chico Pinheiro: fala sobre técnica, estudo e vocais de seu segundo CD

26 Guinga Em um agradável bate-papo com a Violão PRO, o mestre do violão conta sobre sua trajetória e como se tornou uma referência na música nacional

22 Paco de Lucia e flamenco: quase uma simbiose 25 Vintage: O Popular do Brasil 32 The NAMM Show: novidades em instrumentos de cordas, direto dos Estados Unidos

SEÇÕES 4 Editorial 8 Strings

40 Expert: esclareça suas dúvidas (mesmo aquelas mais básicas) sobre violão e toque melhor

34 Testes

46 Perfil: Ricardo Vignini, o ponteado de viola do Matuto Moderno

46 Perfil

48 Yamandu Costa: Violão PRO conversou com o gênio do improviso e traz os detalhes sobre a gravação de seu primeiro DVD

66 Classificados

TESTES

38 Na Estrada

47 Pesquisa

66 Índice de Publicidade

LIÇÕES E TRANSCRIÇÕES

36 Violão Dean DAO Mais que um “rostinho bonito” na TV

50 Yamandu Costa A transcrição completa de Chamamé

37 Violão Yamaha SLG-100N Silent Guitar

55 Eric Clapton Unplugged live!: Tears in Heaven

38 Violão Eagle CH 70 F A garra chinesa em som e acabamento 39 Cordas D’Addario EXP 15 e 26 As revestidas da D’Addario 40 Na Estrada Condor CN530 Strinberg AW - 53 CBK Violão 7 Cordas Modelo A

6 ViolaoPro 1.indd 6

58 Chico Pinheiro Workshop: estudo em dó menor

60 Johann Sebastian Bach Arranjo em afinações alternativas

64 Rudy Arnaut Workshop: pentatônicas em acordes dominantes

• Maio / 2006

7/4/2006 12:32:16


ViolaoPro 1.indd 7

3/4/2006 13:43:08


Strings

EQUIPAMENTOS, MÚSICOS, ENQUETES, SHOWS E NOVIDADES DO GRANDE MUNDO DOS VIOLÕES!

Badi Assad encerra

turnê e prepara álbum novo

C

om dois produtores de renome no comando - Jacques Morelembaum e Chico Neves - a cantora, violonista e compositora Badi Assad está preparando disco novo. O álbum, provisoriamente chamado “Wonderland”, será lançado no Brasil e no exterior pelo selo Edge, divisão de world music da Deutsche Grammophon, e está previsto para o 1º semestre deste ano. No dia 15 de fevereiro, ela encerrou a turnê do álbum “Verde” no teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo. O primeiro álbum solo de Badi Assad foi “Dança dos Tons”, lançado em 89. No início da década de 90 apresentouse em festivais como Free Jazz Festival e Heineken Concerts ao lado de Heraldo do Monte, Raul de Souza, Raphael Rabello e Dorival Caymmi, entre outros. A carreira internacional tomou força a partir de 94, quando assinou com o selo Chesky Records e gravou o disco “Solo”. No ano seguinte, foi a vez de “Rhythms”, que obteve grande repercussão. Depois vieram “Echoes of Brazil” (97) e “Chamaleon” (lançado

10 discos de violão marcantes para Badi:

1. Natsu no Niwa Suite - Sergio e Odair Assad 2. Mundano - Carlinhos Antunes 3. Aerial Boundaries - Michael Hedges 4. Between the Lines - Peter Finger 5. Água de Beber - Quarteto Maogani 6. Regional de Choro - Zé Menezes 7. Dança das Cabeças - Egberto Gismonti 8. Violão Popular Brasileiro Contemporâneo - Marco Pereira 9. Al Di Meola, John McLaughlin and Paco de Lucía 10. Forró de Violão - Fernando Melo

O que ela usa

Violão para shows: Takamine Hirade Violão para gravações: Paul Fischer clássico de cordas de aço com 20 anos de uso Cordas: D’Addario

8 ViolaoPro 1.indd 8

pela Verve, em 99), aclamado pela crítica internacional. Neste disco, Badi inicia um dueto musical com o violonista Jeff Scott Young. Suas composições em parceria renderam ainda “Nowhere” (2000), gravado independentemente nos Estados Unidos e distribuído pela Polygram. Completam a discografia “Three Guitars” (Chesky, 2003) e “Verde” (Edge, 2004) seu primeiro trabalho a ser lançado no Brasil. Irmã caçula dos violonistas Sérgio e Odair Assad, Badi, nascida em São João da Boa Vista (SP), seguiu os passos dos irmãos na carreira musical como violonista, cantora, percussionista e compositora. Seus estudos musicais começaram na infância, com um pequeno teclado. Aos 14 anos, quando os irmãos mais velhos saíram de casa para desenvolver carreira internacional como concertistas, começou a tocar violão para acompanhar o pai, bandolinista. Formaria-se mais tarde em violão, no Rio de Janeiro. Venceu o Concurso Jovens Instrumentistas em 1984 e, a partir de então, passou a explorar novas possibilidades. Cantora e compositora juntam-se de forma marcante à violonista, dando forma a uma artista multifacetada na experimentação sonora com a voz e o corpo.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:32:33


Alieksey Vianna

O QUE ELES TOCAM ERIC CLAPTON

Nome pouco conhecido no Brasil mas com uma carreira sólida no exterior, o mineiro Aliéksey Vianna esbanja técnica e interpretação no seu excelente CD de estréia, “Aliéksey Vianna plays Sérgio Assad”, em que relê a obra completa para violão solo do violonista Sérgio Assad. Dono de um repertório que vai do erudito ao jazz, Vianna é um dos mais completos violonistas brasileiros surgidos nos últimos anos. O CD foi lançado pela GSP, gravadora e editora americana especializada em violão solo, e como é mais fácil encontrar Vianna se apresentando em Los Angeles, Roma ou na Cidade do Cairo do que por aqui, vale muito a pena ir atrás deste CD.

?

Qual o melhor tipo de violao para começar a tocar? A R

cho legal termosum violão de cordas de náilon baratoparao iníciodo aprendizado,para poder levá-lo a qualquerlugar sem medo de machucá-lo.Se for daqueles velhinhos,amaciados,melhor ainda. Comeceicom um Tonante,levava-opra todocanto,ficoubatido,ralado...Comele aprendi a ter maiscuidado,a trocarcordas,a afinare, é claro,a tocar.Hojetenhotrês violões,um Strinberg,um Eaglee um GianinniFiber.Toco,há 16 anos, rock, pop e um pouco de MPB. Biss Lee, São Paulo (SP)

A

partir do momento que você conseguir desbravar o instrumentoruim, qualquer outrocom mais qualidade vai se encaixarcomouma luva nas suas mãos.Começar com cordas de aço é legal porque machuca.Cria força e resistêncianos dedos.As de náilonvêm depois,só pra descansar. Eu comecei com um violão velho há sete anos.Se não me engano,a marcaera Giannini. Não creioque começarcom um violãoruim seja a melhoropção,mas se conseguirtirar um som legal dele, depoisque arranjaum melhor,você sentiráuma diferençaincrível.O que faz pensar que você não teria conseguidoser tão bom se não fosse o violão ferrado. Lino Maury, São Paulo (SP)

ViolaoPro 1.indd 9

ecomendo começar com violão batidoe com o tempoe a persistência ir aumentando a tensão da corda, por exemplo,à medidaque os dedosvão se acostumando.Isso vai dandomais consistênciano som do violão.Eu uso um IbanezPerformere tambémusei MartinD45, YamahaCPX-5 e ainda vou conhecer uns muitobons,tipo o Collins,que falammuitobem. No início usei Giannini.Existea magiados violões para iniciantes,em que temos o desafiode tirar o som;e isso nos ensinamuito,pois temosque ser versáteis. Eu recomendoter um violão de estimação, aquelecom o qual o musicoestá acostumadoa tocar sempre,em casa.Persistênciae estudofazemo músico expandir o seu conceito de sonoridade. Rafael Sonic, Guaíba (RS)

A

cho que uma pessoaque queira realmente aprender violão tem que evoluir e não quererpularetapas.Acho queé bemmelhorcomeçarcom um violãoiniciantee depoisde um tempocomprarum melhor,assimse senteuma diferença,o que é muito bom. Toco violãohá três anos e quandocomeceitocava em um Memphis. Quandovi que gostava,compreium modelopara iniciantes– iniciei meus estudoscom um Memphis AC39 –, depois mudei de violão para guitarra. Alberto Vitor Souza, Fortaleza (CE)

Depois de leiloar 105 de seus violões em 1999 e outros 50, Eric Clapton está mantendo “só o que eu preciso para trabalhar”, incluindo os que ele usou para gravar “Me and Mr Johnson”: um Martin OM45 vintage, alguns dos seus modelos da marca Martin, e um Martin 000-28EC preto feito sob medida, que Clapton chama de “Black Beauty” (“Beleza Negra”), encordoado com cordas leves da Martin.

MARCO PEREIRA Marco Pereira tem uma forte ligação com seu Sitka de spruce e jacarandá, feito em 1976 pelo falecido luthier alemão Walter Vogt enquanto Pereira passava uma temporada em sua casa, próxima de Stuttgart. “Este é o violão que eu amo,” diz ele. “Tenho procurado um substituto para ele há anos, para dar um descanso, mas ainda não consegui achar um.” Ele usa uma miscelânea de microfones para amplificar o Vogt. Pereira também toca em vários violões brasileiros de diversas formas e tamanhos, incluindo um sete-cordas requinto (usado em algumas faixas do CD) e um violão de oito cordas feito pelo luthier paulista Shigemitsu Sugiyama.

Maio / 2006 •

9 10/4/2006 16:14:50


Strings

MARCO PEREIRA: CAMERÍSTICO Conhecido como um dos mais completos violonistas brasileiros, Marco Pereira não pára. Após lançar pela Biscoito Fino seu mais novo álbum “Afinidade”, em parceria com o gaitista Gabriel Grossi, Pereira esteve nos meses de janeiro e fevereiro em diversas cidades do Canadá e Estados Unidos na turnê International Guitar Night Winter 2006, junto com os violonistas Clive Carroll, da Grã-Br etanha, e Ralph Towner e Brian Gore, ambos dos Estados Unidos. Estava previsto para março o lançamento em Perugia, Itália, de seu CD “La Guitarra Brasilianna di Marco Pereira”. Ele também deve concluir as gravações de seu próximo trabalho, “Camerístico”, com previsão para sair no segundo semestre de 2006.

Jack Johnson: Carismático e amigável

TROVADOR HAVAIANO, JACK JOHNSON: PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL O cantor Jack Johnson se apresentou no Brasil pela primeira vez nos dias 7, em São Paulo e 8 de abril, no Rio de Janeiro. Na capital paulista, os ingressos para estudantes na pista se esgotaram algumas horas depois de começarem a ser vendidos. Ex-surfista, atualmente o músico tem no violão sua prancha para surfar outras ondas: as paradas de sucesso internacionais. No Brasil, Johnson conquistou o disco de ouro com o álbum On and On, seu segundo trabalho, pelo qual toca insistentemente nas rádios desde 2003. Nos shows que trouxe ao Brasil, tocou antigas canções e músicas de seu último álbum In Between Dreams. Jack Johnson é havaiano e começou a tocar violão aos 14 anos. O trabalho que faz hoje vai do folk ao pop, com influências havaianas e dos ídolos Cat Stevens e Bob Marley.

ALESSANDRO PENEZZI E ZÉ BARBEIRO Quem é fã de choro tem um dia e um local certos para celebrar. Nas noites de terça, no Ó do Borogodó (Rua Horácio Lane, 21 - Pinheiros, na capital paulista), toca o conjunto Choro Rasgado que, além dos talentosos Rodrigo Y Castro e Roberta Valente, respectivamente na flauta e no pandeiro, conta com duas feras nos violões: o experiente Zé Barbeiro, no sete-cordas, e o virtuose Alessandro Penezzi, no violão de seis. A dupla esbanja balanço e musicalidade em uma verdadeira aula de violão, que também pode ser conferida no CD de estréia do grupo, “Baba de Calango”, lançado recentemente pelo selo Maritaca. Alessandro Penezzi, que é violonista, compositor e arranjador, está com novo disco pronto para ser lançado. Além de composições suas e releituras de alguns clássicos do samba e do choro, o CD conta com participações especiais de Beth Carvalho, Yamandu Costa e Amélia Rabello.

10 ViolaoPro 1.indd 10

• Maio / 2006

10/4/2006 16:26:13


ViolaoPro 1.indd 11

3/4/2006 13:46:30


Strings

VIVENDO DE MÚSICA NA TERRA DO IÊ-IÊ-IÊ

D

iante das dificuldades de sobreviver financeiramente como profissional de música no Brasil, Kiko Perrone não teve dúvidas. Paulistano de 31 anos, mudou-se há dois anos e meio para Londres. Não se arrepende de ter trocado a terra natal – onde se formou em jornalismo – para viver uma vida austera na capital do Reino Unido. Ele se considera realizado por concretizar o sonho de dez em cada dez músicos: viver exclusivamente de tocar. Sua carreira começou em São Paulo, onde se apresentou em bares como Blue Night, Sanja e no Festival da USP de 1993, com várias bandas diferentes. Amante de

O dia-a-dia de Kik o

Minhavida aqui é muitodiferente de dia pra dia. Entrecozinhar,lavara louça,ir ao banco,correio,coisasnormais,na músicaaindatrabalhotocando guitarracom bandas“cover”,(de baile,casamentos,eventos),que aqui se chamam “Function Bands”. Toco contrabaixo também. Tenho meushowde violãoe voz,alémde tocar rock’n’roll na rede irlandesade bares “O’Neills”, comminhaoutrabandaCrossroads,e guitarrae arranjosna bandade músicaanglo-indiana CrazyBread,coma apresentadora da BBC,Lopa.Às quartasfeirastoco violãona roda de sambada casa Guanabara,no centrode Londres, casa brasileira mais badalada.

Bossa Nova, MPB, rock e blues, diversificou muito os estilos ao longo da carreira, o que considera sua marca: a versatilidade. Isso se revela nas influências: “meus ídolos na guitarra são Eric Clapton e Robben Ford. No violão, João Gilberto, Gil e Djavan. Compositores: The Beatles, Chico Buarque, Tom Jobim e The Kinks, entre outros”. Em 1999, ainda no Brasil, produziu, fez arranjos e compôs para o CD ‘Batucada Brasileira, vol.1’, lançado em 2001 pela gravadora CPC-Umes. O álbum é do percussionista Charles Negrita, ex-Novos Baianos, que acompanhou Chico Buarque e David Byrne. O disco traz uma MPB bastante calcada na cultura baiana dos afoxés, ijexás, samba de breque e do xote e xaxado. Em seu currículo também está a co-produção, os arranjos, a composição e a participação tocando violão e guitarra no CD “Tem que Valer”, do grupo de eletro-bossa Kaleidoscópio. O CD foi lançado em 2003 pela Mega Music-Som Livre. O álbum foi sucesso no Brasil com a música título e na Itália com as músicas “Você me Apareceu” (violão e arranjos de Kiko Perrone e Tchorta Boratto) e “Feliz de Novo” (no qual participou da composição). Finalmente se mudaria para Londres em julho de 2003. “Gostei da cidade e resolvi morar aqui para praticar mais, pesquisar mais música e divulgar o som do Brasil na Inglaterra”, explica. Lá produziu, ao lado de Kita Steuer, o EP com seis musicas do grupo ‘Mandinga’, sua banda. “Estamos buscando gravadora.”, informa. O estilo é o que ele define como “pop-brasileiro”. Ao lado de Kita e Nono

ALBERTO, O PROFESSOR DE VIOLÃO. PRIMEIRA LIÇÃO:

12 ViolaoPro 1.indd 12

Israel, seus companheiros de banda, compôs o tema de Samba-Funk Fusion ‘Sampa Samba’, para a revista ‘Rock School’. Os ganhos do músico não são grandes, mas Kiko afirma que não foi em busca de fortuna. “O que me atraiu foi a paz de espírito, a qualidade de vida e a busca de um público que valorize uma música mais autêntica, baseada na qualidade, no sentimento e sem cair na pobreza comercial do cenário que se vê no mundo atual. Ele se considera um privilegiado por não participar do que considera um simulacro de arte. “A música virou só business e não tem muita alma, só máscara e produção”, finaliza.

O QUE ELE USA > Violão Yamaha APX-6N > cordas de náilon D’Addario, Giannini ou Savarez > Amplificador Roland AC-60 (para violão e microfone) > Monitor Amplificado ‘Studio Spares’ 100v.

Por Leo Bastos

• Maio / 2006

7/4/2006 12:33:11


Abril / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 13

13 3/4/2006 13:46:57


Strings A BOA VIOLA DE IVAN VILELA O momento atual da viola caipira na música brasileira não poderia ser melhor. O interesse do público e o número de praticantes têm aumentado e vários lançamentos de CDs voltados a esse belíssimo instrumento têm chegado às lojas. O violeiro Ivan Vilela, referência da viola instrumental, está preparando um CD nada ortodoxo para as tradições da viola, mas que tem tudo a ver com a sonoridade cheia de brilho deste instrumento. No seu próximo CD, ainda sem nome, Vilela apresentará arranjos para viola-solo de vários clássicos dos Beatles, como “Eleanor Rigby”. Será uma boa oportunidade para conferir o som da viola em temas musicais bem diferentes dos do interior do país.

LANÇAMENTO DO LIVRO SOBRE TOQUINHO Foi lançado pela editora RCS, no dia 27 de março, na livraria FNAC, em São Paulo, o livro “Toquinho 40 Anos de Música”, escrito por João Carlos Pecci, irmão e biógrafo do artista. O livro fala da vida, detalhes, casos e coisas do músico. Selecionamos de antemão, um dos trechos do livro: “O ano de 1966 renovaria em Toquinho conceitos de profissão e vida. Experimentaria a emoção de ter seu primeiro LP gravado pela Fermata, numa indicação de Walter Silva, avaliada pelo então diretor artístico da gravadora, Julio Nagib. “O violão de Toquinho” revelava em disco um instrumentista bem comportado. Desde a capa: poses dedilhando o violão em várias posições, num impecável smoking, cabelo rigorosamente assentado, único foco de luz incidindo no rosto, nas mãos e no instrumento de um moço que refletia todo o viço de seus 20 anos.”

14 ViolaoPro 1.indd 14

QUARTETO BRASILEIRO DE VIOLÕES: 200 SHOWS O Quarteto Brasileiro de Violões está masterizando seu quarto álbum, “Suite Ibéria”, com lançamento previsto somente para o exterior pelo selo Delos. As 12 faixas são de composição do espanhol Isaac Albénis. O conjunto, formado por (da esq. para dir.) Everton Gloeden, Tadeu do Amaral, Edson Lopes e Luiz Mantovani é sucesso nos Estados Unidos, tendo feito mais de 200 shows nos últimos três anos.

• Maio / 2006

10/4/2006 16:24:03


ViolaoPro 1.indd 15

3/4/2006 13:47:46


Entrevista

Clayton Barros A corda fina do Cordel

P

remiado no Brasil e no exterior, o grupo Cordel do Fogo Encantado leva o lirismo do sertão nordestino para a música, comandado pelo violão agitado e poético de Clayton Barros. Confira entrevista do músico à Violão PRO

16 ViolaoPro 1.indd 16

> Violão PRO - Como você compõe as bases do Cordel do Fogo Encantado? Clayton Barros - A harmonia da banda vem da voz e do violão. Quando estou compondo, sempre imagino que o violão tem um papel paralelo de base e solo misturado. Como não há outro instrumento harmônico além da voz, utilizo o violão de forma híbrida, com acordes mais cheios variando entre graves, médios e agudos, porque a freqüência dos tambores cria uma massa sonora semelhante em vários momentos a uma linha de baixo, também uso a voz apoiando no backing vocal. > O grupo tem uma sonoridade bem particular... Quando começamos a tocar, não tinha uma idéia fixa dentro do grupo sobre a instrumentação, tudo ocorria de forma espontânea, como num laboratório em que a gente vai criando intimidade, domínio e performance com os instrumentos e o som que vai sendo gerado. Daí, a analise e os detalhes se incorporam e se fundem no tema.

Com o violão, as poesias, textos, vinhetas e percussão, aliados às noções de teatro, roteirização de show e discos, o grupo assume suas formas de construção. O interessante, além da falta de referências de outros grupos ou discos é o caráter autoral nos arranjos e a sonoridade que também caracteriza a banda. > Como se dá a estrutura dos arranjos entre violão e percussão? Nós surgimos em 97 e, de lá pra cá, se firmou uma comunicação, um entrosamento essencial no grupo. Então, cada um tem potencial pra opinar nos arranjos do outro. Durante a montagem, o importante é que a comunicação entre os instrumentos soe como um bloco harmônico e de percussão, em que se acentue o momento e silêncio de cada um. > Quais foram suas influências para seu estudo de violão? Eu sempre ouvi musica brasileira, na maioria popular, principalmente artistas que cantam e compõem seus trabalhos por meio do violão. Mas tenho escutado vários

• Maio / 2006

7/4/2006 12:33:41


trabalhos do Brasil e de fora e essa abertura pra outras idéias é natural no dia-a-dia das descobertas pessoais, você acaba achando coisas importantes na transformação e visão do mundo pela música e diversidade. Meu estudo sempre foi na prática, desde os 16 anos, quando comecei a tocar em festas, bares e comemorações, e aconteceram os primeiros contatos com público, sistemas de som, microfones, horas seguidas tocando, ouvindo, algumas vezes com outros músicos, mas sempre com violão e voz. A partir daí, pude desenvolver um jeito de tocar agressivo, tentando preencher a ausência de outros instrumentos harmônicos. Com o desgaste de tocar covers, veio a necessidade de criar e expor o meu trabalho. Na seqüência, surgiu o Cordel, e já havia uma experiência particular em tocar sem outras harmonias. > Com uma agenda tão cheia, sobra tempo para estudar? Como nunca freqüentei escola de musica, faço minhas experiências em casa, nos ensaios, nas gravações ou em conversas. Sei que estudar fortalece o conhecimento e a

habilidade do músico, mas ainda não tenho um interesse nem uma rotina pré-estabelecida em que eu possa cumprir uma agenda convencional de aulas. Além de música, tenho outros projetos como aprender idiomas, mexer com técnica de gravação, concluir um CD de musicas infantis e fazer trilhas sonoras. Tempo é uma coisa que você tem de criar, provocar uma situação de trabalho interno, mas sempre é tudo ao mesmo tempo. > Como você faz para manter a técnica? Eu não sou muito didático ou disciplinado, faço musica cerebral e intuitiva, o lance mais técnico é ensaiar com a banda. Em casa, dou os retoques mais minuciosos, treino sempre quando estou compondo e na estrada absorvo boas idéias. Toco de olho e de ouvido, trato o instrumento como uma extensão do corpo. Não sou solista, procuro construir uma linguagem pessoal com meu trabalho, aprecio instrumentos de corda e sopro, mas me integro melhor com violão seis cordas de náilon.

Clayton Barros em estúdio, durante as gravações do novo CD do CFE > Você segue algum ritual antes dos shows? Duas coisas importantes para quem aprende música na academia são a postura e exercícios físicos, que evitam danos ao corpo. Estou com tendinite na mão esquerda, adquirida pela falta de alongamento antes e depois da atividade. Hoje tento fazer regularmente, mas é preciso condicionar a mente e fazer hidroterapia pra recuperar os movimentos com normalidade.

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 17

17 7/4/2006 12:33:49


Entrevista

Chico Pinheiro Caminho Aberto Quebrando paradigmas, o violonista Chico Pinheiro fala sobre técnica e estudo e conta o que o levou a fazer os vocais em seu segundo CD, lançado no primeiro semestre de 2005

Q

uando Chico Pinheiro foi convencido pelos amigos (entre eles, Ed Motta e Lenine) a fazer vocais no álbum que leva o seu nome no título - lançado no primeiro semestre do ano passado pelo selo Biscoito Fino - ele não se preocupou muito com técnica. “Apesar de fazer aula de canto já havia dois anos, optei por dar forma vocal à minha obra instintivamente.” Deu certo. A despretensão em assumir o papel de cantor acabou conferindo ao disco uma espontaneidade que agrada aos ouvintes de música popular, sem perder no refinamento jazzístico. O compositor paulistano até rejeita o papel de intérprete: “Sou o que os espanhóis chamam de ‘cantautor’, não me sinto muito à vontade cantando, apenas dou voz às minhas próprias composições e apenas a elas”. Ele falou à revista Violão PRO

18 ViolaoPro 1.indd 18

sobre sua carreira, os novos projetos e a mudança de um trabalho independente para uma grande gravadora. Violão PRO - Chico, fale um pouco de como foi a sua formação musical? Chico Pinheiro - Minha formação musical começou de forma autodidata. Minha mãe sempre gostou muito de música brasileira, clássica e jazz, e sempre tocou violão e piano, como hobby. Aos 6 anos me aventurei no violão e fiquei tocando enquanto ela estava fora, trabalhando. Quando ela voltou, eu tinha “tirado” uma música inteira dos Beatles. Isso foi meu passaporte para as primeiras aulas particulares. Depois disso fiz também, por pouco tempo, aulas em conservatório e, aos 10 anos, passei a ter aulas particulares com Ulisses Rocha. Aos 15 anos já tocava profissionalmente em estúdios,

gravando trilhas, mas era muito tímido e ainda relutava em subir ao palco. Fiz aulas de arranjo com Claudio Leal Ferreira e passei a tocar com José Miguel Wisnik e Chico César. Comecei a gravar com outros artistas também, e foi maravilhoso para minha formação ter contato com universos musicais diversos desde cedo. Aos 21, resolvi que tinha de me aprofundar ainda mais nos estudos e ganhei uma bolsa na Berklee College of Music, em Boston. No ano seguinte me mudei para os Estados Unidos, onde me formei em Performance e Arranjo pela faculdade, obtendo dois prêmios como instrumentista por lá. Foi uma experiência fantástica. > Você tem uma rotina de estudo atualmente? Fale um pouco da sua metodologia. Tento manter uma rotina mínima de estudo diário, para manutenção. Técnica,

• Maio / 2006

7/4/2006 12:33:59


Eu tenho muito trabalho explicando isso para meus alunos, muitos deles já profissionais. É preciso ter um pouco de paciência. Por outro lado, a gente não pode esquecer que é muito raro trabalharmos com aquilo que realmente amamos na vida! A música é uma dessas profissões, ela te dá esse presente. E, para aquele que não a ama suficientemente para seguir com ela, talvez seja melhor e mais prazeroso escolher uma outra profissão... Acho que a trajetória de cada artista é uma combinação dessas coisas; convicções, oportunidades e, sobretudo, boas casualidades. Se não rolar um desses ingredientes, fica um pouco mais difícil, mas o reconhecimento acaba acontecendo do mesmo jeito, isso se existe o talento e a vontade, claro.

leitura, transcrições, etc. Sempre que estou mais em casa procuro também pesquisar e expandir meu universo musical. Isso significa no mínimo umas 2 a 3 horas de estudo. Depois dessas horas básicas, gosto de ficar tocando sem me preocupar muito, apenas como diversão (o que não deixa de ser um estudo). > Do anonimato ao reconhecimento do meio musical, fale um pouco da sua trajetória e das dificuldades para manter um trabalho de nível. Depois que voltei de Boston, em 98/99, passei mais algum tempo tocando como sideman. Em 2000, inscreveram-me no Prêmio Visa de Música Brasileira (eu estava viajando, inclusive) e fui classificado para as finais. Esse prêmio tem muita mídia: rádio, tv, jornais... Acabei em 2º lugar e, a partir dali, as pessoas passaram a reconhecer meu nome mais amplamente. Contudo, continuei atuando durante algum tempo acompanhando outros artistas, até que, em 2002, o César Camargo Mariano estava produzindo e gravando o disco do Pedro Mariano aqui em São Paulo e me convidou para fazer uma participação especial em seu show solo na extinta casa “Supremo Musical”. Numa noite, após um desses shows, a programadora da casa me convidou para apresentar uma temporada de shows meus por lá. A temporada era para ser de um mês, mas acabamos ficando por 9 meses em cartaz, toda semana. Foi bom demais. Isso foi a gênese do meu 1º disco solo, “Meia Noite Meio Dia”, que lancei em 2003. Com ele comecei a fazer shows pelo Brasil todo e o público foi aumentando cada vez mais, e os shows também. Depois veio o 2º disco, em 2005, e fiz uma temporada bem extensa, passando por várias cidades, de Norte a Sul. Nessa turnê pelo Brasil conheci muitos músicos e pude comprovar, mais uma vez, a riqueza de nossa música. Quanto às dificuldades de se manter

> Como foi mudar de um projeto de trabalho independente para uma grande gravadora, como a Biscoito Fino? A Biscoito Fino é uma gravadora que prima pela qualidade acima de tudo, o que é maravilhoso. Apesar de independente, reúne medalhões da MPB como Chico Buarque e Maria Bethânia, então obviamente há uma abertura de portas, digamos um respaldo de algo grande, importante. Por outro lado, eles também estão sempre apostando em gente nova, então rola uma integração entre nomes já consagrados e gente mais nova. Fora as vantagens de distribuição. Eu gravei meu primeiro disco sozinho, mas a distribuição foi da Sony. Agora estou negociando a reimpressão e a distribuição desse primeiro álbum.

Durante a turnê de meu segundo disco pelo Brasil conheci muitas cidades e pude comprovar, mais uma vez, a riqueza de nossa música. um trabalho de nível no meio musical, creio ser uma dificuldade relativa. Desde que você saiba exatamente para quem você está falando, quem é seu interlocutor, ela diminui drasticamente e te ajuda muito a entender e enfrentar os problemas específicos de seu meio. Existe o público para cada artista; ele está lá e é preciso chegar até ele. Talvez essa seja a maior dificuldade, difundir sua música para ela chegar no seu público específico... Isso algumas vezes leva tempo. E existem as dificuldades de qualquer profissão: o dia-a-dia, os “ossos do ofício”. Tem de se dedicar muito e não deixar a peteca cair, É preciso estar preparado para todas as situações musicais diárias, os desafios! E algumas vezes a evolução musical é lenta, passo a passo.

> Como você percebe o mercado para a música instrumental no Brasil? Cada vez maior. Vejo hoje um espaço para se fazer música instrumental que não havia nos anos 80, 90. Algumas pessoas ainda reclamam dos “poucos espaços”, coisa e tal. Mas, se compararmos a realidade atual com a de 10 anos atrás, houve

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 19

19 7/4/2006 12:34:09


Entrevista sim uma grande evolução! Hoje temos no Brasil selos, festivais, escolas, faculdades, todos eles direcionados especificamente à música instrumental, e o público dela está, efetivamente, crescendo. > Você tem mantido a mesma formação na banda de apoio e as mesmas parcerias. Nota uma evolução nesta estratégia? Total. Fiz muitos shows ano passado e notei uma espécie de consolidação no trabalho com a banda. Não há nada como a continuidade e a convivência para que tudo flua com naturalidade. Você vê casos como o do Keith Jarrett trio ou do Brad Mehldau trio, que mantiveram suas formações ao longo da carreira e registraram grandes evoluções no trabalho. Procuro não mexer muito no quarteto que formo com Edu Ribeiro (bateria), Fábio Torres (piano) e Marcelo Mariano (baixo), até porque não tenho motivo para fazê-lo. E nos shows rolam algumas participações especiais, então dá uma boa arejada. As participações constantes de Luciana Alves e Tati Parra (vozes) nos shows completam de forma riquíssima o trabalho com canções. Recentemente, fazendo uma participa-

10 discos de violão

que Chico Pinheiro considera mais influentes • Baden Powell à vontade - Baden Powell • Todos os Tons - Raphael Rabello • Amoroso - João Gilberto • Albeniz: Echoes of Spain - John Williams • Tempo Feliz - Baden Powell • Cine Baronesa - Guinga • Duet - Sylvain Luc & Biréli Lagrène • Time remembered - John Mclaughlin & Aighetta Quartet • Latin American Guitar Music by Barrios and Ponce - John Williams • Valsas Brasileiras - Marco Pereira volviam, então, com a letra pronta... E fazíamos ajustes, etc. Mas as melodias vinham sempre antes, isso quando não eram instrumentais. > No último CD você cantou. Como foi a experiência? Foi a principal novidade desse disco. Fiquei meio reticente em cantar, mas acabei convencido por amigos, que insistiam muito nisso. O Ed Motta, o Chico César e o Lenine deram força nesse sentido. Apesar de fazer aula de

Hoje temos no Brasil selos, festivais, escolas, faculdades, todos eles direcionados especificamente à música instrumental, e o público dela está, efetivamente, crescendo. ção especial no show do pianista cubano Roberto Fonseca, do Buena Vista Social Club, comprovei como é fundamental o ambiente musical em que você está inserido e como isso influencia diretamente a sua forma de tocar, de reagir musicalmente. Cada reunião diferente e com músicos diferentes transforma e reinventa a maneira de tocarmos. > Como se deram as composições do seu primeiro CD? As composições do primeiro CD foram feitas todas sobre o violão e o piano. Depois enviava aos letristas sugerindo um assunto, uma frase. Eles me de-

20 ViolaoPro 1.indd 20

canto há dois anos, optei por dar forma vocal à minha obra instintivamente. Não tenho a pretensão de ser cantor, mas vejo a voz como o instrumento mais pessoal que existe. Chega direto ao coração das pessoas. E até no mercado fonográfico isso se reflete, porque a música instrumental ocupa uma fatia infinitamente menor do que a música vocalizada. As pessoas entendem melhor, e foi o primeiro dentre todos os instrumentos que conhecemos! Acho muito importante essa participação, essa voz do autor da música no som. Sou o que os espanhóis chamam de “cantautor”, porque não sou um intérprete. Não me

considero um cantor de outros autores, apenas dou voz às minhas próprias composições e apenas a elas. Jamais faria o que a Maria Bethânia ou o João Gilberto fazem. Faço o que o Edu Lobo, o Chico Buarque e tantos outros compositores fazem, interpretando minhas próprias melodias. > Algum projeto em vista para 2006? Os projetos atuais incluem um CD de duo, com o pianista Fábio Torres, com releituras de canções brasileiras contemporâneas e temas inéditos, em linguagem bem livre, camerística. Após isso, gravarei um CD com o guitarrista americano Anthony Wilson (Diana Krall), mais jazzístico, com temas meus e dele. Já estamos preparando isso juntos. Estão também confirmados, nesse ínterim, shows com João Donato e com Ed Motta. Por fim, pretendo dar continuidade à turnê do meu cd mais recente “Chico Pinheiro”, iniciada ano passado. > Que equipamentos você usa? Um violão Tessarin clássico com captação RMC, microfones Brüel par ou Neumann U87 par, guitarras N. Zaganin feita sob medida e Gibson ES 175 de 1970, cordas D’Addario e amplificadores AER e Polytone. Nos shows uso também um violão Frameworks do alemão Frank Krocker.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:34:20


ViolaoPro 1.indd 21

3/4/2006 13:49:32


Flamenc nco

Paco de Lucia e flamenco são quase sinônimos. Pelo menos no que toca o cenário atual do ritmo espanhol, que tem no instrumento de seis, sete ou doze cordas sua forma de expressão essencial.

22 ViolaoPro 1.indd 22

O

violonista deu seus primeiros passos e dedilhados na pequena cidade de Algeciras, na província de Cadiz, Espanha, onde nasceu, em dezembro de 1947, e passou os anos de sua infância e formação bebendo das fontes de música e danças que só na região da Andaluzia, ao sul da Península Ibérica, brotam aos borbotões. Além do próprio ambiente, o pai e o irmão mais velho o colocaram em contato desde cedo com o instrumento, já que também tocavam violão. Suas principais influências, além da família, foram os violonistas de flamenco Nino Ricardo, Miguel Borrull, Mario Escudero e Sabicas. Nesta entrevista o espanhol fala de processo criativo, flamenco e novas tendências e de arte.

Paco de Lucia

> Sua imaginação se opõe ao intelecto? O intelecto depende da capacidade mental e é muito limitado, a imaginação não e, de vez em quando, minha imaginação se opõe a ele. Às vezes lamento não saber música, que é como desconhecer a ciência da arte mas a inconsciência, o desconhecimento, te fazem voar mais alto pelo menos, te fazem voar e cair em lugares onde a razão não iria. A música é orgânica, é como um fluido do corpo. > O violão é, então, como uma parte de seu corpo? Claro. É um órgão a mais do meu corpo. O violão tem sido meu martírio de toda a vida, um martírio masoquista, um martírio que eu quero porque é prazeroso.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:34:53


“O único estímulo que me resta é que continuo atual e com algo a dizer.”

> A dor às vezes provoca prazer? Sim, mas o prazer às vezes dura quinze segundos em uma semana, na melhor das hipóteses, e estou colocando uma porcentagem talvez um pouco alta, mas não há nada mais gostoso que estes quinze segundos. > O Paco de Lucía que compõe é muito diferente do que depois interpreta? Sim, a atitude muda por completo. Quando sobes ao palco tens que ser um violonista técnico, tem que haver uma força física, tem que brilhar… Tu sobe e já não pode te permitir o luxo de duvidar, tem que ir de uma vez por todas. Por outro lado, o Paco de Lucía que está encerrado num quarto compondo está cheio de dúvidas e de ansiedade e de toda essa coisa que te faz ser do povo. Até que chegas na boca do palco vives tudo isso, mas uma vez que você subiu, acabou. Ali tens que acreditar em ti para que os outros também acreditem.

outra procurando o novo. É muito importante não perder-se da tradição porque nela é onde está a essência, a mensagem, a base. Sobre ela se pode ir a qualquer lugar e escapar, mas sem deixar nunca essa raiz porque, definitivamente, a identidade, o odor e o sabor do flamenco estão ali.

> Como convive o primitivismo do flamenco com a busca de novas harmonias? Com uma mão agarrando a tradição e a

> Você aproximou o flamenco dos roqueiros? Sim, muitos jovens vão a meus shows. O

-

Transcricao Bulerias Flamencas

flamenco é uma música de elite e muitos que vão a meus shows não tem particular preferência pelo flamenco, mas comparecem por outras razões como a técnica violonística, o ritmo, ou a curiosidade, ou sei lá por quê. Talvez é o que me fez popular dentro do flamenco e isso não era o normal entre os aficionados, mas na massa. > Qual é a tua definição de música? Não sei defini-la porque não sou um mú-

Um grande violonista, uma referência no mundo do violão flamenco. Estudar sua técnica e forma de expressão no violão é algo extremamente enriquecedor do ponto de vista musical. Através dessa transcrição você pode ter um pouco da arte de Paco de Lucia. Procure tocar o que esta escrito e depois ouvir a gravação para entender a acentuação e linguagem que ele usa para tocar dessa forma. Boa Sorte.

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 23

23 7/4/2006 12:35:03


Flamenc nco sico acadêmico, encontrei a música e vivo nela através de uma percepção intuitiva. > Artista é artista enquanto trabalha? Acredito cada vez menos na “profissão de artista”. Não gosto de rótulos. Tocar violão não me adjudica nenhum título porque na hora de trabalhar sou um trabalhador. Basicamente todos somos iguais, façamos o que for, só mudam as circunstâncias, pode haver ciclis-

Transcricao

Discografia

La Paloma (Guitar)

• Dos guitarras flamencas (1965), com Ricardo Modrego • Doce canciones de García Lorca para guitarra (1965), com Ricardo Modrego • Dos guitarras flamencas en America Latina (1967), com Ramón de Algeciras • La fabulosa guitarra de Paco de Lucía (1967) • Hispanoamerica (1969) • Fantasía flamenca (1969) • Recital de guitarra (1971) • El duende flamenco (1972) • Entre Dos Aguas (1973) • En vivo desde el teatro real (1975) • Fuente y caudal (1975) • Almoraima (1976) • Interpreta a Manuel de Falla (1978)

24 ViolaoPro 1.indd 24

tas que sejam artistas e cantores com alma de esportistas. A arte é inerente ao ser humano e ele pode demostar isto sem saber cantar, pintar, tocar ou escever e há muitos que exercem carreira de artistas e não o serão jamais.

• Castro Marín (1981) • Friday Night in San Francisco (1981), com Al Di Meola e John McLaughlin • Solo quiero caminar (1981) The Paco de Lucía Sextet • Passion, Grace and Fire (1983), com Al Di Meola e John McLaughlin • Live One Summer Night (1984) The Paco de Lucía Sextet • Siroco (1987) • Zyryab (1990) • Concierto de Aranjuez (1991) • Live in America (1993) The Paco de Lucía Sextet • The Guitar Trio (1996), com Al Di Meola e John McLaughlin • Luzia (1998) • Cositas Buenas (2004)

• Maio / 2006

7/4/2006 12:35:15


Vintage

O popular do Brasil A

mada ou questionada, a Rei dos Violões faz parte da história dos instrumentos musicais brasileiros do século XX. A empresa fundada por Abel e Samuel Tonante, imigrantes portugueses que desembarcaram no País em 1924, iniciou a fabricação de seus primeiros instrumentos em 1954. Reconhecidos como fabricantes de violões de linhagem econômica, a Rei dos Violões faz parte da paisagem e das festas populares do interior do Brasil. Recentemente, a rede Globo requisitou os instrumentos mais antigos da empresa (vide foto) para a gravação da mini-série JK.

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 25

25 7/4/2006 12:35:46


26 ViolaoPro 1.indd 26

• Maio / 2006

7/4/2006 12:35:59


Após lançar Noturno Copacabana (2003) e o disco ao vivo “Graffiando Vento” (2004), este gravado na Itália junto com o clarinetista Gabriele Mirabassi, Guinga lançou em março, nos dias 25 e 26, no SESC Pompéia, em São Paulo, um novo songbook, o segundo de sua carreira. Entre um show e outro do lançamento desse livro, Guinga e seus comparsas, entre eles o genial violonista e guitarrista Lula Galvão (também entrevistado nesta edição), embarcam para uma curta série de shows em Londres, Inglaterra. O violão brasileiro encontra na dupla a representação ideal nas terras da rainha. A Violão PRO entrevistou o violonista, cantor e compositor nesta primeira edição e ficou encantada com a simplicidade do gênio. Às gargalhadas, Carlos Althier de Souza Lemos Escobar falou de suas referências, seus violões, e deu um conselho ao violonista que está começando: “afaste-se das más companhias musicais”.

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 27

27 7/4/2006 12:36:10


Guinga

“Q

ualquer um que se interesse por música brasileira vai passar por Guinga. Ele é um formador de opinião musical.” Essa frase não é de ninguém menos do que Chico Buarque, ele próprio uma referência da MPB. E esse não é o único elogio de peso ao carioca: Paco de Lucia afirmou certa vez que teve vontade de trocar seu universo pelo dele. Nascido em Madureira, Guinga alterna o trabalho de compositor e violonista com o de dentista, sua profissão original e que continua exercendo. Suas primeiras composições gravadas foram “Conversa com o Coração” e “Maldição de Ravel”, ambas em parceria com Paulo César Pinheiro e lançadas em disco pelo MPB-4 em 1973, mesmo ano em que Clara Nunes gravou “Punhal”. Em 1979, Elis Regina gravou, no disco “Elis, Essa Mulher”, sua música “Bolero de Satã” (também em parceria com Paulo César Pinheiro). Nas décadas de 70 e 80 participou de gravações como violonista e em 1989 fez seu primeiro show, com Paulo César Pinheiro e Ithamara Koorax. Passou a ser conhecido no meio musical pelo virtuosismo no violão e pelas composições de rara inspiração. Assim, em seu primeiro disco solo, “Simples

e Absurdo”, lançado em 1991 inaugurando o selo Velas, contou com participações ilustres, como as de Chico Buarque e Leny Andrade, entre outros. O mesmo aconteceu em seus três CDs seguintes, “Delírio Carioca”, de 1993, “Cheio de Dedos”, de 1996, e “Suíte Leopoldina”, de 1999, que alternam faixas instrumentais e cantadas. Depois de Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc tornou-se o seu maior parceiro e dessa união surgiu todo o repertório do disco “Catavento e Girassol”, da cantora Leila Pinheiro, gravado em 1996.

Não adianta só saber ler partituras. O que faz o artista é intuição e dom.

Violão PRO - Conte como foi sua formação musical. Guinga - Toco violão desde os 11 anos, foi meu tio que me ensinou. Quando meus pais se separaram eu fui morar com minha avó, então comecei a ter mais contato com o meu tio e ficava ouvindo ele tocar. No começo isso até me incomodava, eu era menino e queria dormir e ficava aquele chato tocando, mas com o tempo fui aprendendo música sem me dar conta. Minha família ouvia muita canção americana e seresta, então esses gêneros me influenciaram bastante. Com 26 anos eu fui estudar com um camarada chamado Jodacil Damasceno.

Discografia Simples e Absurdo - 1991 • Delírio Carioca - 1993 Cheio de Dedos - 1996 • Suíte Leopoldina - 1999 Cine Baronesa - 2001 • Noturno Copacabana - 2003 Graffiando Vento - 2004 Alcançou com seu “Cheio de Dedos” as seguintes premiações: Prêmio Sharp 1996 - Melhor Disco Instrumental, Prêmio Sharp 1996 - Melhor Música Instrumental (Dá o pé o Loro) e Prêmio Sharp 1996 - Melhor Produção (Paulo Albuquerque). Teve sua obra gravada por Leila Pinheiro no CD “Catavento Girassol” (pela gravadora EMI - ODEON). O CD “Suíte Leopoldina”, lançado no ano de 1999, foi sucesso absoluto de crítica, entre jornais, revistas e rádios de todo o País. Foi apontado por unanimidade pelos críticos do Jornal O GLOBO como o melhor CD de música popular brasileira de 1999.

28 ViolaoPro 1.indd 28

Jodacil Damasceno Natural de Campos (RJ) e nascido em 03 de novembro de 1929. Estudou violão, de 1952 a 1957, com Antônio Rebelo. Estudioso de harmonia e morfologia, realizou cursos de técnica superior de violão e interpretação com Óscar Cáceres, no Uruguai. Em 1960, venceu o primeiro concurso de violão clássico do Brasil, promovido pelo jornal “Última Hora” e Prefeitura de Niterói (RJ). No ano seguinte, viajou para o Uruguai, em excursão artística. Em 1962, participou pela primeira vez do Festival Villa-Lobos. A partir de 1964, tornou-se integrante da equipe de recitalistas da Rádio M.E.C. e, ainda para essa emissora, produziu o programa “Violão de Ontem e de Hoje”. Em 1968, gravou a série integral dos prelúdios para violão de Villa-Lobos. No ano seguinte, fundou uma escola de violão, o Curso Livre de Violão Jodacil Damasceno, que tem formado grandes nomes de nossa música, como Guinga e Joyce. Em 1972, transferiu-se para Paris, França, passando a ensinar no Conservatório Municipal, de Luxemburgo, no Conservatório de Saint-Cloud, de Paris, no Conservatório do 6ème., como assistente de Turíbio Santos e como assistente de Óscar Cáceres, na Universidade Musical, também de Paris, onde fundou e dirigiu a academia da associação Les Amis de l’Orchestre de Chambre. Após se apresentar em vários recitais na França, em 1973 retornou ao Brasil, assumindo a cadeira do curso superior de violão da Faculdade de Música Augusta de Sousa França, no Rio de Janeiro, onde lecionou até 1982. Nesse período também foi professor do Departamento de Música da PUC do Rio de Janeiro. Em 1974, participou do Festival Villa-Lobos e gravou para a TV Cultura, do Rio de Janeiro, um programa sobre história e literatura do violão. Em 1982, prestou concurso na Universidade Federal de Uberlândia (MG), onde é professoradjunto e leciona prática instrumental, metodologia e literatura do violão nos cursos de graduação, bacharelado e especialização.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:36:22


> No seu ponto de vista, como é a formação do músico brasileiro, em termos de vantagens e desvantagens? Hoje em dia há muito mais possibilidades. Muito mais escolas, muito mais professores, o próprio governo investe mais, existe até formação superior de músico! No meu tempo violeiro era sinônimo de vagabundo. Tocar samba e seresta era uma atividade meio marginal. > Quem você enxerga como referência musical nos dias de hoje? Marcus Tardelli. Ele é seguramente o maior violonista que eu já vi tocando em todos os tempos. > No Brasil é muito comum a formação musical sem leitura. No seu ponto de vis-

O que ele usa • Violão Giannini Century clássico com equalizador ativo Fishman plugado em linha • Microfone Neuman U 87 • Encordoamento Giannini clássico, o de maior tensão

ta, qual a desvantagem nisso? Li um pouquinho e tive até um certo grau de escolaridade musical. Mas acho muito pouco. Gostaria de ter tido muito mais. Mesmo que a tradição mostre excelentes músicos autodidatas, como Heitor Villa-Lobos, ler partitura é uma coisa natural, porque saber ler música é a mesma coisa que saber ler no alfabeto. Mas não é porque o cara sabe a língua dele que ele vai virar poeta. A leitura da música simplesmente dá a base pra que nasça o artista, que já nasceu artista, se desenvolva. Mas eu não tenho dúvida de que o que manda mesmo é intuição e dom. > O que você mais observa, referente à técnica, em si próprio e em outros músicos? Tenho pavor de perguntas sobre técnica, mas ao mesmo tempo adoro responder. Pra mim o cara técnico é o que toca o coração. Não adianta o sujeito esmerilhar o violão se aquilo não provoca um arrepio, se não está a serviço da arte para alcançar a alma. Wes Montgomery tocava só com o dedão polegar e fazia barbaridades. Django Reinhardt perdeu um pedaço do dedo e continuou tocando. Os exemplos são muitos. A técnica é maravilhosa, mas só quando está a serviço

da música. João Bosco, Quarteto Maogani, Julian Bream e Lula Galvão são alguns dos nomes que eu poderia mencionar agora, com o perdão da injustiça de esquecer outros. > Lembra qual foi seu 1º instrumento? Sim! Foi um Del Vecchio. > Qual o critério para selecionar o melhor equipamento para shows? E gravações? Meu critério é pedir para Deus me ajudar (risos). Uso o que estiver à disposição, não sou muito de frescuras. > Você costuma usar em alguma referência para modular o timbre de seu instrumento?

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 29

29 7/4/2006 12:36:29


Guinga

Não tenho nada contra a música ser comercial. Mas sou contra a prostituição da música, a banalização.

Meu ouvido, minha intuição. Mas não tenho um ouvido absoluto, uso um afinador Korg bem antigo. > Qual a importância para você das parcerias na composição? Imagine a música como uma criança. Os parceiros são os pais. Essa é a importância: a parceria é o casamento que dá luz à música. A parceria tem todas as características do casamento. Menos o sexo. Bom, em alguns casos até o sexo (risos). Existem casos, claro, em que uma pessoa só é o pai e a mãe da criança. Isso é possível musicalmente, mas não biologicamente (risos). É gratificante, mas pode ser muito trabalhoso. Na gravação do disco da Leila Pinheiro trabalhei mais do que na produção de meus próprios álbuns. Varávamos madrugada adentro. Ela depois vinha com algum pedido específico e trabalhávamos mais. > Como é sobreviver de música em um país cujos canais de distribuição e divulgação privilegiam gêneros musicais mais populares? Parei de me preocupar com isso. Acho que não existem soluções coletivas, só individuais. Não depende de governo, não depende de nada. Não adianta o governo dar bolsafamília ou “pochete-família” que não resolve nada (risos). O povo sabe o que quer ouvir, não podemos obrigá-lo a nada. > Por isso a odontologia? A odontologia me garantiu que eu fizesse sempre a música que eu quis, sem depender de nada. Mas não tenho nada contra a músi-

ca ser comercial, queria eu que minha música fosse mais comercial (risos)! Sou contra a prostituição da música, a banalização. > Algum de seus parceiros foi também seu paciente? Sim! O Baden (Powell) se tratou comigo. Compusemos inclusive muitas músicas no consultório (risos). > Tem alguma mágoa por ter que trabalhar como dentista paralelamente à música? Não tenho mágoa de nada na minha vida. Não é um sentimento que eu cultivo. > Que conselho você dá a um violonista que esteja começando agora? Aconselho que tenha intuição. Eles é que serão os professores deles mesmos. Acredito numa máxima: ninguém ensina nada a nin-

guém. Também devem ouvir muita música e a ver violonistas tocarem. Terceiro e último conselho: afastar-se das más companhias musicais. Não digo que essas más companhias são más pessoas, mas podem ser nocivas a você musicalmente. É muito importante manter-se afastado, no sentido de não tocar e não compor junto de quem não tem talento musical e não te acrescenta nada. > E quem são essas más companhias no Brasil, poderia citar nomes? Eu não falo mal de ninguém. Falando mal você angaria para si uma energia ruim, além de ser uma covardia.

, Onde tudo comecou...

Guinga nasceu em 10 de junho de 1950, no Rio de Janeiro. Começou a compor aos 16 anos, classificando a sua primeira canção, “Sou só Solidão”, no Festival Internacional da Canção. Formou-se em Odontologia em 1975 e até hoje trabalha como dentista. Sempre compondo, teve várias de suas músicas gravadas por nomes importantes: Elis Regina, Michel Legrand, Sérgio Mendes, Leila Pinheiro, Chico Buarque, Clara Nunes, Ivan Lins e outros. Tem como parceiros em suas músicas nomes como o de Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Chico Buarque, Nei Lopes, Sérgio Natureza, Nelson Motta, Simone Guimarães, Francisco Bosco, Mauro Aguiar e Luis Felipe Gama. Em 2002, Guinga teve sua biografia completa escrita pelo jornalista Mario Marques, no livro “Guinga, os mais belos acordes do subúrbio”, publicado pela Editora Gryphus. Em 2003, foi lançado na Bienal do Livro o songbook “A música de Guinga”, também editado pela Gryphus. Está previsto para março deste ano o segundo volume de seu songbook.

30 ViolaoPro 1.indd 30

• Maio / 2006

7/4/2006 12:36:42


ViolaoPro 1.indd 31

3/4/2006 13:51:58


Feira

NAMM Show 2006 Feira de instrumentos realizada nos Estados Unidos mostra as novidades em instrumentos de cordas

D

urante os dias 19 a 22 de janeiro, Anaheim, uma pequena cidade perto de Los Angeles, Estados Unidos, teve seus dias de música. E muita música. Foi a NAMM Show, feira que congrega os maiores fabricantes mundiais do setor de instrumentos musicais e correlatos. O que você puder imaginar de marcas e instrumentos estavam lá. Essa feira determina as tendências de design, sonoridade e novos produtos para o Brasil e os demais países. A Violão PRO esteve por lá para conferir o que há de mais chamativo no universo acústico.

32 ViolaoPro 1.indd 32

• Maio / 2006

7/4/2006 12:37:01


ViolaoPro 1.indd 33

3/4/2006 13:52:22


Testes

-

Violao Dean DAO Mais que um “rostinho bonito” na televisao

É

sempre bom ver grandes fábricas pesquisando novas opções de madeira para seus instrumentos musicais. Nesta época em que vivemos atualmente, onde o desmatamento das florestas é tão intenso e desmedido e onde não há uma consciência ecológica, torna-se de utilidade pública este tipo de pesquisa. Madeiras como o jacarandá, o ébano e tantas outras que entraram em processo de extinção, podem sim, serem substituídas por outras com efeitos sonoros semelhantes, senão melhores. Um grande exemplo disso é o DAO, madeira pesquisada pela Dean, que possui grande potencial acústico. Iniciativas como esta, não somente contribuem para o equilíbrio do nosso sistema ambiental, mas também para o nosso bolso.

MADEIRA EXÓTICA

O exótico DAO tem como um dos seus pontos fortes a beleza. Fabricado em DAO no tampo, fundo e laterais, proporciona um visual realmente exótico. O design diferenciado da ponte que lembra uma vela de barco, é também outro ponto de destaque deste instrumento. Ao olharmos mais de perto, percebemos que é um

Ficha Tecnica Modelo: DAO

Fabricante: Dean Indicado: Para violonistas que buscam variedade de timbres

instrumento muito bem construído, com acabamento impecável na colocação dos trastes de níquel; na roseta e nas marcações da escala em abalone; em todas as partes coladas e no verniz. O modelo testado chegou com o braço levemente desregulado, precisando de um pequeno ajuste no tensor e no rastilho que, segundo a opinião do luthier Paulo Ferraz do atelier da Escola de Música e Tecnologia (EM&T), isto pode ocorrer devido a variações de temperatura, pressão e umidade sofridas no transporte desde o país de origem, neste caso a Coréia. Feito o ajuste, o instrumento apresentou uma boa tocabilidade, sendo prejudicada apenas por uma pequena falha no alinhamento lateral da ponte em relação à escala, deixando a primeira corda mais próxima dos limites do braço. Não apresentou problemas de trastejamento e possui uma afinação precisa em toda a extensão da escala. As tarraxas são da marca Groover, o que garante ainda mais este último quesito. Outro ponto forte deste violão é a sonoridade acústica. Possuidor de um timbre aveludado e abrangente, destaca harmônicos predominantemente médio/graves. Isto se confirmou no teste de microfona-

Por Cristiano Petagna

ção, no qual fui assessorado pelo técnico e produtor Alexandre Sobral, em que o instrumento obteve um ótimo desempenho, com som firme e preciso. Quando plugado com o seu pré-amplificador marca Dean, a sonoridade fica aquém das expectativas geradas pelo seu excelente som acústico. O captador do modelo testado apresentou problemas quanto ao equilíbrio de intensidade sonora das cordas, obtendo um sinal ligeiramente mais forte na primeira e segunda. Contudo, em geral o captador manteve as características do timbre da madeira, com uma boa projeção e resposta rápida. Uma boa opção para gravações com este violão é misturar o som acústico com o som de linha. Desta maneira, consegue-se extrair o timbre da madeira somado à resposta rápida do captador. A meu ver, o exótico DAO se destaca principalmente pela sua sonoridade acústica e pelo bom acabamento. Com uma pegada fácil, não é necessário esforço para executar uma música com fluidez. Está numa boa faixa de preço, mantendo uma relação custo benefício justa. Acredito que a Dean está no caminho certo para voltar a ser uma das principais fábricas de instrumentos, como foi nos anos oitenta.

Pró: Sonoridade acústica Acústica................ Captador ............... Desempenho ........ Acabamento .......... Custo-benefício ....

9,5 8,0 9,0 9,5 9,0

Quer falar com o autor da matéria? Cristiano Petagna – cpetagna@gmail.com Colaborou Luthier Paulo Ferraz. Contato (11) 5012-1952

34 ViolaoPro 1.indd 34

Fotos: divulgação

Contra: O captador poderia render mais

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos mais competentes profissionais do mercado.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:37:20


Silent Guitar Violao Yamaha SLG-100N

Q

ualquer aficionado por violões deve ter se surpreendido com os novos modelos que circulam pelo mercado. Sim, e não é para menos. Desde 2001, é possível ver nas mãos de grandes violonistas um modelo bastante curioso, composto de braço, alumínio e madeira. A Yamaha, fabricante mundial de instrumentos, também projetou um violão com essas características e o batizou de SLG100N Silent Guitar. Tivemos a oportunidade de experimentar esse instrumento por aproximadamente três meses, o que nos proporcionou uma visão bastante intima desse modelo de violão da Yamaha.

Fotos: divulgação

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos mais competentes profissionais do mercado.

Ficha Tecnica Modelo: Silent Guitar

Por Rudy Arnaut

O primeiro fator que chama a atenção é o design, pois se trata de um violão sem caixa de ressonância, formado por um braço e um contorno em material sintético que envolve uma alma interna de alumínio. A aparência é de um violão do futuro. Para os mais puristas só o fato de não haver caixa de ressonância já é um motivo de recusa. Mas de fato não é assim. Como veremos a diante, a grande questão deste instrumento é a versatilidade e captação.

HORA DE TOCAR Num primeiro momento a curiosidade de saber como funciona esse violão, que tem só um braço sem o corpo é muito grande até tocarmos e ouvir o som que ele tem ligado. É surpreendente como toda a modernidade referente ao design passa a não chamar mais a atenção quando ouvimos os primeiros acordes nesse violão, pois o timbre, assim como equilíbrio de som, é excelente. Se fecharmos os olhos estamos ouvindo um violão acústico de cordas de náilon. Isso acontece devido ao sistema que vem com acoplado nele. O modelo do captador que o SLG100N usa é um BBand que funciona com um pré bastante eficiente e que da todo o timbre de violão eletroacústico neste instrumento. No sistema, encontramos controladores de volume, grave e agudo e este ainda trouxe algumas funções bem úteis, tais como: um reverber, com dois níveis de intensidade, uma saída para fone de ouvidos, que dá a condição do instrumentista estudar sem incomodar ninguém, uma entrada para um adaptador de energia (fonte) e um mixer na parte de traz do instrumento que dá o recurso para quem toca, de conectar um cd-player e mixar o som do violão ao som de um CD por exemplo. Esse mixer é bastante útil quando usado com os fones de ouvido para estudar, tirar musicas, praticar alguns play backs, etc. É importante ressaltar que o circuito desse instrumento funciona com uma bateria de 9V e o consumo de energia é bastante alto. Apesar do manual dizer que o tempo de duração da bateria é maior, a experiência

Fabricante: Yamaha Indicado: Para performances ao vivo pelo fato de não ter feed back Pró: Ótimo para transportar por ser desmontável, leve para tocar em pé, não tem caixa de ressonância e possui excelente som de violão elétrico de náilon. Contra: Alto consumo de bateria principalmente com o reverb ligado Extras: Vem com fone de ouvido, bag da Yamaha e fonte para usar ligado na tomada. Acústica................ Captador ............... Desempenho ........ Acabamento .......... Custo-benefício .... Quer falar com o autor da matéria? Rudy Arnaut – rudyarnaut@gmail.com e testes que fizemos deram outros resultados. Uma dica para quem se interessar pelo SLG100N é usar o adaptador quando estiver estudando. Este detalhe vai proporcionar uma economia boa no seu bolso. A construção do braço (em rosewood e mogno) é bem feita pois eles mantiveram um padrão que proporciona a mesma sensação de estar tocando num violão tradicional. Uma detalhe que evidencia essa sensação, é fato do contorno ser anatômico e encaixa no corpo de quem toca tanto sentado quanto em pé.

CONCLUSÃO Usei durante aproximadamente quatro anos um violão importado, com cordas de náilon, com custo aproximadamente três vezes maior que este. É um excelente instrumento e sua captação, sem duvida, foi uma das melhores que pude experimentar. Tenho ele como última referência. Em relação ao Silent Guitar, digo que me sinto confortável com a compra, em se tratando de custo-beneficio, esse instrumento talvez seja uma grande opção como timbre, custo e praticidade de transportar, pela fato de ser leve - aproximadamente 1,80 KG -, ao meu ver apenas com a deficiência do consumo de bateria ser excessivo, o que não desabona o fato de se tratar de um excelente instrumento.

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 35

8,0 8,5 7,0 9,0 10,

35 7/4/2006 12:37:30


Testes

Eagle CH 70 F

Por Cristiano Petagna

A garra chinesa em som e acabamento

A

partir de 2001, quando a China se tornou membro da Organização Mundial do Comércio ( OMC ), o país abriu suas portas ao capital estrangeiro e aumentou o acesso dos seus produtos no mercado mundial, estabelecendo como meta quadruplicar o seu PIB até 2020. Dessa forma, grandes empresas nos mais diversos setores, desde a indústria automobilística até componentes eletrônicos, instalaram suas fábricas nesse território, a fim de tornar seus produtos mais em conta, devido aos baixos impostos e à mão de obra barata. Além disso, com uma tradição artesanal milenar, os chineses primam por um acabamento diferenciado, o que os torna atualmente referência de boa qualidade em certos segmentos do mercado, como é o caso também dos instrumentos musicais fabricados em série.

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos mais competentes profissionais do mercado.

O VIOLÃO

Fotos: divulgação

A Eagle é uma das marcas que eu sempre indico aos meus alunos iniciantes, quando me perguntam quais as melhores opções de compra para o seu primeiro instrumento. É um violão que possui uma boa relação qualidade-preço, com um braço macio e sempre um bom acabamento, que são os fatores principais para aqueles que pretendem iniciar seus estudos. O CH 70 F não foge a esta regra. É um violão muito bonito, com seu tampo em spruce com cores rajadas, roseta em abalone, escala em jacarandá e tarraxas douradas. Não há falhas de acabamento aparentes. Todos os trastes estão bem colocados; os contornos em PVC bem delineados; as partes coladas, pintura e verniz sem defeito algum. Possui uma boa projeção sonora com um timbre predominando harmônicos médio/agu-

36 ViolaoPro 1.indd 36

dos, com uma certa carência de graves. Porém seu forte não é o som acústico. Quando plugado com sua captação ativa de cinco bandas, com duas bandas de médio, o violão surpreende. Mostra-se com uma sonoridade firme e precisa, com intensidade muito bem equilibrada em todas as cordas e um timbre rico em brilho, o que torna o violão versátil, apresentandose com bom desempenho tanto para solar quanto para realizar acompanhamentos. Com um braço macio de pegada fácil, oferece uma tocabilidade exemplar, trazendo segurança na execução das músicas. O modelo testado apresentou um leve trastejamento da quarta até a sétima casa, quase imperceptível nas cordas primas, devido a uma ligeira sinuosidade no braço nesta região. Sua afinação é precisa em toda a extensão da escala. O CH 70 F, em minha opinião, é uma ótima opção de compra, por ser um violão com qualidades de um Violão PROfissional com um custo baixo. Seus principais pontos positivos são o seu sistema de captação e também a afinação precisa. Apenas a sua sonoridade acústica deixa um pouco a desejar.

Ficha Tecnica Modelo: CH 70 F Fabricante: Eagle Indicado: Para quem quer versatilidade Pró: Captação Contra: Sonoridade acústica com carência de graves Acústica................ Captador ............... Desempenho ........ Acabamento .......... Custo-benefício ....

8,5 9,5 9,0 9,0 9,5

Quer falar com o autor da matéria? Cristiano Petagna – cpetagna@gmail.com Colaborou Luthier Paulo Ferraz. Contato (11) 5012-1952 e Alexandre Sobral (técnico de som e produtor) – audiosobral@terra.com.br

• Maio / 2006

7/4/2006 12:37:45


Cordas D’Addario EXP 15 e 26 As revestidas da D’Addario

Por Cadu Correia

Fotos: divulgação

A

s cordas do violão são fundamentais para a sonoridade do instrumento, assim como as cordas vocais de um cantor – se elas não estiverem bem, independente de quão técnico seja o músico, o resultado final estará comprometido. As cordas são a primeira variável na equação que dita o som de um instrumento e, por incrível que pareça, muitos violonistas ignoram sua importância. Hoje em dia é muito fácil achar todo tipo de encordoamento para violão, dos mais variados valores, mas, com tantas marcas novas, é difícil ter certeza quanto ao grau de qualidade do material empregado e, por conseqüência, de confortabilidade e sonoridade. A D’Addario tem uma longa história que começa em 1680 na Itália, nesta época a família D’Addario já fazia cordas para violinos e instrumentos clássicos, feitas de tripa de carneiros e porcos com o conhecimento sendo passado de pai para filho. De certo não imaginavam que, no século 21, seu nome seria conhecido no mundo todo como sinônimo de qualidade em encordoamento para instrumentos. Aqui vamos ter a oportunidade de pôr à prova a tecnologia secular da D’Addario, tomando como exemplo o encordoamento mais moderno do seu “know how”. A linha EXP traz um avanço, já que garante uma durabilidade três a quatro vezes maior do que um encordoamento comum, graças à tecnologia que dá nome à linha. O EXP é uma camada ultrafina que reveste o fio que é enrolado em volta do núcleo da corda. Teoricamente, isso forma uma barreira interna e externa contra a corrosão e o desgaste, dando qualidade ao som por muito mais tempo. O modelo de encordoamento EXP26 é um jogo de cordas de nylon, com tensão média, e caiu muito bem para o violão JB (João Batista) que usamos no teste. O som impressionou. Nada como o som de cordas novas... Que timbre lindo! É estúpida a diferença delas para as cordas baratas. A primeira corda, Mi, tem 7.17 kg de tensão e é realmente muito confortável. Uma dúvida que esse encordoamento deixa sobre a tecnologia EXP, a respeito

da durabilidade, é com relação às três primeiras cordas, que não têm revestimento algum: talvez não tenham a mesma durabilidade das outras com o fio enrolado em volta do núcleo de nylon. Quando o assunto é cordas de aço, a questão conforto é imprescindível; no caso de quem não usa palheta, certas cordas podem realmente machucar Procure este selo Ele é a garantia de as mãos. Testamos o modelo EXP15, que é um jogo que o produto foi para violão folk de tensão 0.10. Nesse caso, a camatestado pelos mais da de EXP está envolvendo uma corda de Bronze e competentes fósforo, o que gera ótima qualidade e linda sonoriprofissionais do dade. Na primeira corda, o Mi 0.10, tem 7,35 kg de mercado. tensão. Ela é bem maleável, diferente de outras que parecem mais um “arame”. Esse encordoamento, reI gulado bem rente aos trastes – claro que sem trastejar – é • A cobertura das cordas recebe o revesmuito confortável, dá até para timento EXP antes de ser enrolada sobre a arriscar uns bends de um tom. alma hexagonal, resultando em uma corda Utilizamos um violão Yaque dura três ou quatro vezes mais do que maha e não poderia ter ficado uma corda comum, sem perder o timbre e melhor. O violão desplugado a pegada de uma corda tradicional contribuiu para enfatizar o • O revestimento ultrafino EXP adicionagrave, mas plugado foi posdo na cobertura de bronze 80/20 torna as sível encontrar timbres bricordas mais brilhantes lhantes também. • Ambas as cordas possuem modelos diverCordas de ótima qualidade sos com tensões entre 8,89kg e 11,43kg representam em média 3% do • Curiosidade: entre os artistas que valor de um instrumento e inusam as cordas da linha EXP estão Beck, fluenciam 100% o timbre final. Stevie Coyle (The Waybacks), David Invista nas cordas do seu violão Crosby, Sheryl Crow, The Dixie Chicks, e seus ouvidos agradecerão. Dave Matthews e Jerry Douglas

Caracter sticas

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 37

37 7/4/2006 12:37:53


Testes

Na Estrada CONDOR CN530

P

ara quem gosta de violão, a Condortech tem o modelo clássico, Condor CN530, excelente e um ótimo custo-benefício. Pesquisando dentro do mercado, resolvi comprá-lo devido às suas especificações. Ele vêm equipado com captador Fishman, com equalizador, que permite passear em timbres mais suaves como os da bossa nova e até os mais agressivos como do flamenco. A construção com corpo em mahogany e tampo de spruce laminado, resulta num som encorpado, firme e com brilho fantástico. A escala é em rosewood, preserva o padrão de um violão clássico, bem colada e construída. Em estúdio, demonstrouse convincente, atendendo às exigências com uma boa opção de timbres, tanto utilizando-o acústico, elétrico ou simultaneamente. O acabamento dispensa comentários, pois esta marca vem se destacando há muito tempo devido sua construção e excelente acabamento.

Para fazer a seção Teste na Estrada, a Violão PRO optou por publicar análises de músicos que vivem e trabalham diariamente com o instrumento aqui mostrado. Analise seu violão e envie para nós. As melhores análises serão publicadas. Os critérios para publicação serão: qualidade das informações, experiência e crítica. Anote: ajuda@musicaemercado.com.br, aos cuidados do Editorial Violão PRO.

STRINBERG AW - 53 CBK

U

ma das qualidades que mais admiro em meu violão Strinberg é seu braço. Comprei este modelo exatamente por ser mais fino, facilitando muito a execução de várias musicas. Um violão ótimo para iniciantes e também para avançados. Comecei tocando em um violão com um braço bem grosso que acabou dificultando o aprendizado e deixando o processo bem mais lento. Marca: Strinberg Modelo: AW - 53 CBK Músico: Rafaela Malon rafaelamachado89@hotmail.com Informações: www.sonotec.com.br www.strinberg.com Tel.: (18) 3916-4622 A equalização Shadow LC4 não deixa nada a desejar, tenho boas escolhas de graves, agudos e médios. A única desvantagem para mim foi que ele teve alguns problemas de trastejamento e suas tarraxas vieram um pouco soltas podendo desafinar com mais facilidade, mas nada que uma troca ou um luthier pudesse resolver. Escolhi esse violão por ser um modelo acessível, podendo gastar uma quantia suave e tendo um bom benefício.

VIOLÃO 7 CORDAS MODELO A

C

onstruído pelo luthier Alfredo Mores, de Porto Alegre (RS), esse violão foi feito com tampo de Cedro Canadense, lateral e fundo de Imbuia, escala de Jacarandá da Bahia e braço de Mogno. Sua caixa de ressonância foi feita com alguns milímetros a mais do que um clássico para obter maior ressonância nos graves, o que deu um bom resultado, pois eles são potentes e firmes. O timbre do violão - no todo - soa como um agudo metálico e os graves firmes. Meu instrumento tem um sistema de captação por rastilho, modelo Pawerjack da Fishman que vem com um sistema de pré equalização. O violão utilizado com sistema de captação, não fica exatamente com seu timbre original. Mas no caso do modelo de captação que utilizo, o resultado é muito bom, tanto a respeito do timbre, que é quase idêntico ao do violão acústico, quanto à projeção, pois possui clareza e equilíbrio entre todas as cordas.

Marca: Luthier Alfredo Moraes Modelo: Violão 7 cordas Modelo A

Marca: Condor

Músico: Lucas Araújo lucasviolao7@yahoo.com.br

Modelo: CN530 Músico: André Galvão de Oliveira andre_hatores1@hotmail.com Informações: www.condormusic.com.br E-mail: marketing@condortech.com.br

38 ViolaoPro 1.indd 38

Informações sobre o produto: Luthier Alfredo Moraes Tel.: (51) 3370-0589 E-mail: dalbergiamigra@ibest.com.br

• Maio / 2006

7/4/2006 12:38:07


Abril / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 39

39 3/4/2006 13:53:55


Expert

Alguma duvida? Tudo que você sempre quis saber sobre violão e teve vergonha de perguntar Por Odir Pereira

A

Violão PRO separou as dúvidas mais comuns quando se pensa em violão e trouxe as respostas. Quer saber sobre captadores? Quanto gastar? Veja abaixo o que um dos especialistas do mercado sugere para você

> QUANTO GASTAR EM UM VIOLÃO? Pense sempre na relação custo-benefício. Lógico que tudo tem seu preço, mas pense também no valor de revenda, no quanto está pagando agora mas também em quando vender, na possibilidade de recuperar ou não o investimento? Antes de mais nada, ouça o timbre e compare, crie seu referencial pois, se você escolher sem comparar, pode se iludir com detalhes tipo cor ou marca e depois mais tarde perceber que poderia ter comprado, talvez com o mesmo dinheiro ou um pouco só a mais, um instrumento que lhe deixasse bem mais satisfeito por um longo período.

40 ViolaoPro 1.indd 40

> CAPTADORES: INSTALO UM CAPTADOR COM PRÉ-EQUALIZADOR OU SEM PRÉ? Antes de mais nada, seguem algumas pré-análises: seu violão tem a lateral sólida ou laminada? É uma peça especial de alto custo, um violão por exemplo de luthier ou algo como um D28 da Martin? Porque, se é uma peça com lateral sólida ou uma peça especial de alta qualidade, os mais tradicionalistas sempre aconselham a poupar o violão de abrir aquela janela onde o pré ficará instalado. O violão com lateral sólida é um instrumento nobre, com qualidade de timbre e volume mais encorpado, a janela que é necessário fazer para instalar o pré irá tirar uma parte desta qualidade, apesar de que será uma diferença bem pequena, mas também esta janela não preserva a originalidade da peça. Existe também um outro senão: a abertura desta janela deve ser feita com muito cuidado pois o perigo de haver uma trinca na madeira sólida

Captadores Prefix Premium Fishman

Novo lançamento da serie Prefix Premium da Fishman, inclui muitas novidades tais como o exclusivo stereo blender, afinador cromático, microfone interno e um novo visual. O microfone capta a ambiência natural e também o som da caixa de ressonância de seu violão, além disso você pode misturar com o som vindo do captador na ponte.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:38:27


durante a operação desta abertura é bem grande: pode atingir uma veia natural da madeira e abrir uma trinca, danificando o violão. Abrir a janela num violão laminado é bem mais fácil e com menos risco de trincas indesejáveis. Existem captadores como o Fishman Nat-1, o Martin Gold-Plus ou o B-band, que são jacks ativos com o transducer, onde você poderá trabalhar com um pré externo, ou seja, sem a janela, dando um excelente resultado e o melhor: preservando o seu instrumento. Natural I - Fishman - Existem artistas que fazem questão da equalização no instrumento, por motivo de praticidade, no momento de um show ao vivo, por exemplo, fazer um pequeno acerto de volume ou equalização. Ou gostam de ter liberdade para andar no palco e não querem trabalhar com pedais equalizadores no chão. Nestes casos, realmente, fazer a instalação do pré ficaria mais prático. Existem modelos que vem com afinadores eletrônicos (tuner) e alguns que acompanham o botão “notch”, que ajuda o controle microfonia. Enfim, cada modelo tem recursos mais práticos para performances ao vivo. No caso de uma gravação em estúdio, você tendo um bom instrumento, recomendamos usar bons microfones ou pelo menos usar microfones e também o violão em linha e depois fazer um mix dos dois timbres. Muitos músicos profissionais têm instrumentos para usar em estúdio e outro instrumento preparado para shows ao vivo.

> CUSTO E BENEFÍCIO: COMO OPTAR PELO CAPTADOR? A escolha mostra quanto você pensa e pode investir neste equipamento. Primeiro, deverá ser levado em conta o tipo de violão que você tem, se é com cordas de náilon ou de aço, pois existem até transducers (captadores de rastilho) indicados para náilon ou para aço. Depois, se você quer com pré-equalização ou não, ativo ou passivo, enfim, existem tantas marcas e tipos que muitos instrumentistas ficam na dúvida na hora de escolher, qual comprar e como instalar. Vamos tentar esclarecer procurando, na medida do possível, lhe ajudar a melhor conceituar esta escolha. Como primeiro passo, recomendo você pesar o

valor do seu instrumento fazendo uma relação com o custo do captador que você está pretendendo ou que te recomendaram instalar. Acho um bom começo agregar um valor do captador condizente com o preço do instrumento em si. Porque se você tem um violão mais barato, na faixa de até R$ 300 ou R$ 500, você instalaria um captador que custe R$ 900,00? Será que não é melhor comprar outro instrumento que já venha com um bom captador e deixar esta sua peça acústica? Agora, num violão de valor mais alto, na faixa entre R$3.000 ou mais, pela lógica ele já merece um investimento mais alto. Mesmo pensando que o captador pode até dar um maior valor

a peça, cuidado porque, comercialmente, no momento de uma revenda, a marca e a qualidade do instrumento vai continuar pesando mais. No mercado brasileiro existem captadores extremamente baratos na faixa de R$ 30 a R$ 50,00 e até de R$ 900,00 a U$ 1.000. Por isso é importante primeiro saber qual é o valor que você acredita ser justo para o seu instrumento. É importante analisar e comparar a qualidade do instrumento, pois se for um violão bem simples, daqueles todo laminado, desigual na sua ressonância, certamente não vai adiantar você investir muito dinheiro, pois a fonte do timbre já é ruim e não existirá captador que modifique isto.

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 41

41 7/4/2006 12:38:37


Expert

A fonte sonora é de baixa qualidade. Outro ponto importante é a questão da necessidade de se instalar um captador com pré ou seja com controles de equalização (grave, médio e agudo...) ou sem pré (sem equalização), que também pode ser ativo ou passivo. Depois desta análise você concluiu que não quer gastar muito, vamos dizer que seu violão custou algo em torno de R$ 300 a R$ 500 e você quer gastar o menos possível, vamos chamar este caso de investimento mínimo e amador. Ou você analisou, gastou no seu violão na faixa de R$ 600 a R$ 1.200 e está disposto a deixar seu instrumento bem equipado, mas também não quer gastar mais R$ 1.200 num captador, então chamaremos este caso de investimento intermediário. E, por último você tem uma bela máquina, pode ser um Martin ou um Taylor, um Gibson ou uma bela peça de luthier, enfim um instrumento de R$ 3.000 para cima, então você quer fazer um investimento à altura desta peça e chamaremos este de investimento profissional.

> O QUE É UM VIOLÃO DREADNOUGHT? É um violão conhecido popularmente no Brasil como modelo folk. Sua construção segue uma tendência de uma caixa de ressonância maior e uma sonoridade mais grave e com maior volume. Este termo Dreadnought provém de um navio de guerra bastante largo.

> QUANDO É PRECISO TROCA DAS CORDAS? Uma corda de violão seja de aço ou

42 ViolaoPro 1.indd 42

náilon, tem uma durabilidade proporcional ao seu tempo de uso e à manutenção destas cordas. Sempre que você parar de tocar, para uma maior vida útil, passe um pano (tipo de algodão que não solte fiapos) em toda a extensão da corda, envolvendo toda, para que tire aquele excesso de suor e gordura que fica junto à corda depois de algumas horas tocando. Com o tempo, esta camada preta acumulada forma uma crosta e acaba danificando tanto a qualidade da corda quanto o timbre e a afinação e, conseqüentemente, complicando o resultado final de sua performance. Se você toca todo dia, no final do período de suas performances faça também esta limpeza. Existem pessoas que acham que as cordas devem ser trocadas apenas quando elas quebram. Isto é um erro! Para uma pessoa que toca todo dia durante várias horas, um jogo de cordas pode manter sua qualidade por aproximadamente 30 dias. Após este período, a corda não necessariamente arrebenta mas vai perder progressivamente as freqüências agudas e ficando com o som menos rico em definição. Se você toca 2 ou 3 dias por semana, a durabilidade pode ser maior, mas vai depender desta manutenção de limpeza. Não esqueça que a qualidade da corda não é só medida pela durabilidade, mas sim também pela riqueza tonal e volume que ela alcança, pois as cordas perdem a riqueza do timbre e o balanço da afinação após muito tempo de uso. Para você ter uma idéia, em estúdio existem profissionais que chegam a trocar o jogo de cordas a cada faixa que gravam, para que o ins-

• Maio / 2006

7/4/2006 12:38:52


trumento assim soe plenamente e tenha o máximo da qualidade de seu timbre.

> COMO AJUSTAR O BRAÇO COM O AJUSTE DO TENSOR? Quando há tensor, o braço do seu violão é ajustável. Ele é fabricado de madeira dura e preparada e seco num forno que atesta e verifica esta propriedade. O eixo-tensor regula o braço e facilita seus ajustes de movimentos côncavos ou convexos. Todos os violões estão sujeitos ao stress da madeira, resultado da tensão das cordas e mudanças climáticas. Há tempos onde o braço pode envergar de forma côncava, ou seja, enverga no sentido que as cordas estão puxando; ou convexa, no sentido contrário da força exercida pelas cordas, o que ocorre com bem menos freqüência. Contudo, se isto acontecer, não é causa para alarme, é só proceder com a correção abaixo. Quando o braço estiver côncavo, você notará a altura das cordas (ação) mais altas próximo a 10ª e 12ª casas (região central) e mais baixa nas extremidades, ou seja próximo da 1ª casa e no final do braço. Assim, você deverá: Soltar as cordas, para que o movimento da madeira esteja mais livre. Não precisa tirar as cordas, apenas afrouxe-as e afasteas, para que a chave do tensor gire com facilidade. Depois, encaixe a chave no tensor e aperte-a no sentido horário, experimente com certo cuidado, primeiro ¼ de volta, depois ½ volta e sempre observando o braço para que ele chegue numa situação o mais reta possível, eliminando a curva que apresentava. Cuidado, pois se você apertar demais, ou forçar muito, o tensor pode partir ou até o braço trincar devido ao grande esforço! Lembre-se que o braço é de madeira e a madeira pode partir. Quando o braço estiver com uma tendência convexa, o movimento

do tensor deverá ser contrário, ou seja devemos girá-lo no sentido anti-horário, fazendo com que o tensor seja afrouxado. Faça esta operação sempre com as cordas frouxas e devagar, observando se o braço está respondendo no movimento necessário. Às vezes é necessário re-afinar e repetir a operação até chegar ao ponto certo. Nem sempre, mas existem casos em que o trastejamento indica que o braço tem uma tendência convexa, deixando as cordas muito próximas dos trastes. Outras causas de trastejamento são

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 43

43 7/4/2006 12:39:00


Expert trastes (frets) altos ou até ponte (nut) muito baixos. Caso você tenha receio de mexer ou analisar de forma equivocada o seu instrumento, recomendamos que procure um profissional gabaritado, que certamente terá experiência e fará para você este ajuste de forma rápida e segura.

> VIOLÃO SÓLIDO OU LAMINADO. QUAL EU ESCOLHO? A todo momento estamos lendo em matérias, anuncios, internet palavras como: solid spruce, solid rosewood ou também em português, como madeira maciça ou sólida, afinal, como isso interefere na nossa escolha. Para ser bem objetivo, basicamente um violão fabricado com madeira sólida é um violão que utiliza em suas partes como tampo, lateral e fundo, madeiras sem colagem ou seja, não é um sandwich de lâminas prensadas e coladas. Em geral são 2 ou 3 folhas, onde nem sempre o que vemos aparente na superfície é o que verá do outro lado. Uma das razões, em muitos destes violões laminados é para baratear

44 ViolaoPro 1.indd 44

o custo e também facilitar a fabricação e o manuseio destas peças. Como assim? Sim pois, um violão de partes sólidas, para vibrar bem e ter uma boa timbragem não pode ser muito grosso, uma tábua de 2 cm de largura não vibra como uma fatia de 3 mm, certo? Por isso, para ter um bom som acústico, com bom volume e som equilibrado tem principalmente o tampo sólido, não laminado e também de preferência fino ou seja por volta de 3mm. Ás vezes, violões de luthier (delicadíssimos no manuseio) alcançam até 2mm, uma verdadeira casca de ovo. O perigo destas peças é com o tempo o tampo vir a enpenar, e ás vezes, chegando a trincar. Um bom teste é você dar umas pequenas pancadinhas com o polegar, para sentir se vibra bem, este é um sinal de tampo bom, se não soar travado. Os violões que não tem som, são travados na ressonância, onde o som não expande. Ou seja, um dos motivos de um violão não ter volume e timbre forte são: tampo grosso ou tampo de laminado de baixa qualidade.

Este é um assunto fascinante, existem luthiers que até timbram a afinação, tipo este instrumento está em G (Sol), este é em E (Mi) etc...o problema é ter um ouvido educado e um ambiente sem barulho para poder “ouvir”. Vale salientar que um violão de madeira sólida é bem menos resistente do que um laminado. Um violão sólido está muito mais propenso a trincas e rachaduras. Qualquer batida um pouco mais forte pode causar sérios danos. Então, além dos preços serem mais elevados destas peças, o cuidado no manuseio e principalmente no transporte destas peças em viagens longas devem ser triplicados. Conheço várias histórias tristes, algumas com consertos irreparáveis. Os laminados, por serem 2 ou 3 lâminas, uma da sustentação a outra evitando que rachaduras se expandam. Portanto, se você tem um violão de madeira sólida, cuide muito bem dele, pois ele é uma peça delicada.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:39:12


ViolaoPro 1.indd 45

3/4/2006 13:55:38


Perfil

Ricardo Vignini Um bom ponteado

Ele explora suas origens regionalistas para compor o som do Matuto Moderno

O

Ricardo destaca como divibom ponteado de viola emociona “tanto quanto um solo do Jimi sor de águas na opção pela Hendrix”. Para Ricardo Vignini, música rural a participação esta é uma máxima desde que trocou a gui- de Pena Branca no seguntarra pela viola caipira e o rock’n’roll pela do álbum de sua banda, em música do campo. Músico e compositor, 2002. “Como é um ícone da a simpatia pela cultura caipira veio cedo. cultura caipira, a parceria acaSua família é de Águas da Prata e São João bou nos estimulando a continuar da Boa Vista, interior de São Paulo; logo, criando esse tipo de música”, lembra. O teve na hereditariedade um fator para a vo- som do Matuto Moderno inspira-se nos cação de músico regionalista. Urbanóide artistas e ritmos que lhe foram apresennascido na capital, começou a tocar com tados pela avó: Catira, Tonico e Tinoco, 12 anos e durante toda a adolescência foi Tião Carreiro e Folia de Reis, entre ou- Alex Mathias (voz, guitarra e violão), Ivo fã de guitarra, rock e blues. “O jovem quer tros. O violeiro teve na convivência com Junior (bateria) e Mingo Jacob (percussão). A discografia da banda inclui é o que estimula a adrenalina. Pode “Bojo Elétrico”, lançado em 2000 até gostar de viola, mas vai ter verO jovem quer é o que estimula a pela Mulambo/Eldorado; “Festeiro”, gonha de parecer cafona na frente adrenalina. Pode até gostar de viola, de 2002, de forma independente e dos amigos roqueiros”, explica. Teve pela Tratore. Atualmente, aulas de guitarra e, durante muito mas vai ter vergonha de parecer cafona distribuído o trabalho é focado na divulgação do tempo da juventude, tocou apenas na frente dos amigos roqueiros álbum mais recente, “Razão da Raça o instrumento elétrico. Foi nesse Rústica”, lançado no primeiro semesperíodo que conheceu Marcelo Berzotti e Alex Mathias, atuais companheiros os mestres do gênero sua formação mais tre de 2005 pelo selo Folguedo. Ricardo Vignini ainda administra o de Matuto Moderno, com quem inclusive importante. Ivan Vilela, Brás da Viola chegou a tocar rock antes de enveredar e Rui Toneze são alguns dos exemplos. selo de música regionalista Folguedo. “Muitas vezes são pessoas que não tem a Atualmente, destaca o trabalho da dupla pelo caminho da roça. noção do que é uma nota, mas carregam tradicional de violeiros Índio Cachoeira e Cuitelinho, a qual produz. Em março, o conhecimento da música dentro de si.” A miscelânea feita pelo Matuto Mo- dentro da faixa de shows do Centro Cultuderno de música sertaneja com ritmos ral Banco do Brasil de São Paulo (CCBBmenos tradicionais é mal vista, segundo SP) Terças Musicais, acontece o “Do VeVignini, por quem tem gosto pela música lho Chico ao Mississipi”, um encontro de 1. Viola do luthier Saraiva; pop. “Quem escuta pop rejeita por causa músicos regionais brasileiros com figuras Captador piezo Seymour Duncan; da música do campo, que ainda não está do blues norte-americano. Tocam noPré ampli externo Fishman; bem difundida, mas isso está mudando.” mes como Heraldo do Monte, Christiaan Encordoamento D’Addario. Sendo assim, Vignini acredita que a con- Oeyns (parceiro e produtor de Zelia Dun2. Viola maciça feita pelos luthiers dição de músicos sertanejos evoluiu, bem can), Xangai e Woody Mann (mestre de João Scremim e Márcio Benedetti; como a própria aceitação da tradição rural: Paul Simon), entre outros. “O universo do Captação piezo mais dois “nos shows do Matuto vemos desde o ga- violeiro é muito parecido com o que cerca captadores de guitarra magnéticos roto com camiseta do Nirvana até o senhor o blues”, analisa Vignini. lace sensor da Fender; de meia idade que curte Tião Carreiro”. A Simulador de amplificador trajetória do Matuto Moderno teve início POD XT da Line 6; a partir de 1999. Na formação, além do Encordoamento D’Addario. violeiro, estão Marcelo Berzotti (baixo),

O equipamento de Ricardo Vignini

46 ViolaoPro 1.indd 46

• Maio / 2006

7/4/2006 12:39:25


Gi an P nin rom i & oç Vio ão lão PR O

CONCORRA A UM VIOLÃO GIANNINI

1) Nome .................................... ............................................ Data de nascimento ................... /...................../ .................... Sexo

KM

KF

2) Quanto tempo toca? ( ) comecei este ano ( ) 1 a 2 anos

( ) de 3 a 5 anos ( ) mais de 5 anos

3) Qual a marca e modelo do seu instrumento? ...............................

11) Você: ( ) Lê partitura muito bem ( ) Leio, mas não tão bem ( ) Não leio, mas leio tablatura ( ) Sei ler cifras ( ) não leio nada de música 12) Você estudou música?

( ) sim ( ) não

13) Quanto tempo? ...................................................................................... . 14) Pretende estudar novamente em escola ou professor particular? ( ) sim, em escola ( ) sim, particular ( ) não 15) Diga cinco violonistas que você quer ver em na Violão PRO: 1. 4. 2. 5. 3.

4) Você tem/toca mais de um instrumento? Caso sim, qual? .......................................................................................................

16) Quais músicas você gostaria de ver em nossa revista? 1. 3. 2. 4.

5) Quando você comprou seu instrumento? ( ) este ano ( ) De 3 a 5 anos ( ) De 1 a 2 anos ( ) Mais de 5 anos

17) Que tipo de matéria você gostaria de ler aqui? 1. 3. 2. 4.

6) Que cordas você usa? ( ) as que vieram no violão 7) Seu violão tem captação? Caso sim, qual?

18) Quais seções/matérias da revista você MAIS gostou? 1. 3. 2. 4.

8) Qual marca de violão você gostaria de comprar?

19) Quais seções/matérias da revista você NÃO gostou?

9) Qual seu estilo?

( ) popular

( ) Outra. Qual?

( ) erudito

10) O que você achou do visual da Violão PRO? ( ) fraco ( ) médio ( ) ótimo

Foto ilustrativa

Quer um Giannini de graça? Leitor, queremos saber quem é você! Recorte o selo (original) e preencha o questionário abaixo (pode ser cópia ou xerox) e envie para rua Guaraiuva, 644 Brooklin - SP/SP - CEP 04569-001, para a Pesquisa Violão PRO e concorra. O sorteio será dia 1º de maio de 2006. Participe!

20) Você gostaria de colaborar conosco? Diga como e entre em contato! A Violão PRO agradece e deseja-lhe boa sorte!

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 47

47 7/4/2006 12:39:33


Entrevista

Yamandu Costa

Em grande estilo no seu primeiro DVD estre do improviso, Yamandu Costa é uma das grandes revelações do violão brasileiro nos últimos anos. Em 2004, ele lançou o delicioso álbum “El Negro del Blanco”, junto com o genial clarinetista Paulo Moura. Agora, ele apresenta suas diabruras no violão em grande estilo no seu primeiro DVD, “Yamandu Ao Vivo”, lançado pela gravadora Biscoito Fino.

M

48 ViolaoPro 1.indd 48

“Yamandu Ao Vivo” é o registro de um show realizado no Sesc Pompéia, em São Paulo, no mês de abril de 2005. A produção é de primeira, com imagens do violonista na penumbra, assim como o time de músicos que o acompanha. Ele inicia o show com duas composições suas: “Aurora” e “Tareco Número 2”. Logo após são chamados ao palco o baterista Edu Ribeiro e o baixista Tiago Espírito Santo, amigos de longa data, da época em que Yamandu se mudou de Porto Alegre para São Paulo. O trio toca a “Valsa Número 1”, de Baden Powell, em versão improvisada, com acento jazzístico, seguida por mais duas composições de Yamandu: “Paz de Maria”, em clima de bossa, e a profusão rítmica de “Besteira”, antes do solo de “Susto”, que foi batizada em pleno palco na ocasião. Na seqüência, é convocado o conterrâneo Guto Virti, no contrabaixo acústico, para trazer de volta as raízes

sulistas em “Tango Amigo”. Toninho Ferraguti é o convidado da faixa seguinte, acrescentando seu acordeão a “Sanfonema”, em trio, e também a “Chamamé”, em dueto. O baterista Eduardo Ribeiro e o baixista Tiago Espírito Santo juntam-se à dupla Yamandu e Ferraguti para interpretar um dos movimentos da “Suíte Retratos”, de Radamés Gnattali, em homenagem a Pixinguinha. Dos mestres do choro ao mestre das cordas: Yamandu recria, ao lado de Ribeiro e Espírito Santo, “Nuages”, do guitarrista cigano Django Reinhardt. O trio explora todas as semifusas de “Taquito Militar”, do argentino Mariano Mores, antes de reinventar o samba “Vou Deitar e Rolar”, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, numa performance monumental. O show termina ao ritmo de “Disparada”, de Théo de Barros e Geraldo Vandré, plena de efeitos sonoros e percussivos.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:39:46


Tercio Ribeiro

O ARTISTA “Não sou um cara técnico. Não tenho os princípios.” Assim se define esse prodigioso instrumentista, gaúcho de Passo Fundo que, aos quatro anos, foi para Porto Alegre. Lá, durante uma apresentação, foi chamado ao palco pelo pai, o trompetista e violonista Algacir Costa. Acabou participando mais tarde também de um programa de rádio, chegando inclusive a gravar um disco. Dos 7 aos 15 anos estudou o instrumento com o pai, com quem formou o grupo Os Fronteiriços, ao lado de outros familiares. Tendo largado o colégio, aprimorou-se com Lúcio Yanel, virtuoso músico argentino radicado no Brasil. Esta foi sua única escola: a música folclórica do Sul do Brasil, da Argentina e do Uruguai, uma tradição oral pouco ou nada acadêmica. Por isso que Yamandu (que significa precursor das águas, em tupi-guarani) pode ser classificado como um especialista do improviso, cacoete que o músico aprendeu tocando na noite boêmia. “Acho fundamental para quem quer ser músico, cantor, artista, enfim, o contato direto com o público. Tocar em bailão te faz entender o que o povo quer, como é possível contagiá-lo. Agora, inteiramente diferente é o caminho que deve trilhar o cara que quer ser erudito. Aí, só procurando um mestre, pois só se desenvolve com muito estudo, mesmo.” Depois de ouvir Radamés Gnatalli, foi atrás de outros músicos brasileiros, como Baden Powell, Tom Jobim e Raphael Rabello. Em 1998, mudou-se para São Paulo, onde se apresentaria pela primeira vez no Circuito Cultural Banco do Brasil, produzido pelo Estúdio Tom Brasil e, a partir disso, passaria a ser reconhecido como uma revelação do violão brasileiro. Mas a independência financeira não foi imediata: “Ralei por um bom tempo em

O Equipamento de Yamandu • Violão do luthier Tércio Ribeiro (RJ), que já o acompanha há mais de três anos • Microfone AKG • Cordas Augustini Imperial • Sétima corda D’Addario São Paulo, foi uma luta”. Pouco depois foi para o Rio, onde passou a dar canjas, juntamente com o amigo José Paulo Becker, no bar Semente - em grande parte responsável pela revitalização do bairro da Lapa. Mas a carreira só deslancharia mesmo com o prêmio Visa de MPB - Edição Instrumental, em 2001. A partir daí, “bombou”, segundo ele. Apresentou-se em show solo no extinto Free Jazz Festival no Rio e em São Paulo, e também participou de programas de televisão, alcançando, assim, fama nacional. No mesmo ano, lançou seu primeiro CD, Yamandu, produzido por Maurício Carrilho.

Em meados de 1997, o médico otorrinolaringologista Tércio Ribeiro foi apresentado pelo arranjador e alaudista Alan Pierre de Magalhães ao luthier carioca Mário Jorge Passos. Após dois anos trabalhando como seu assistente, montou a própria oficina. Desde então, já realizou instrumentos e serviços para destacadas figuras da música brasileira, tanto na área popular quanto na clássica: Yamandu Costa (um violão de sete cordas, hoje utilizado em shows e gravações); Paulão 7 Cordas (um violão de sete cordas, um violão de seis e um cavaquinho, além de serviços de manutenção para sua coleção de instrumentos); Hamilton de Hollanda (bandolim de dez cordas); Henrique Cazes (dois cavaquinhos, elétrico e acústico); Marcelo Gonçalves (dois violões de sete cordas, aço e náilon). Além das construções, já restaurou diversos instrumentos de Nicolas de Souza Barros, Maria Haro, Joel Nascimento, Baden Powell (através de Marcel Powell) e Luis Cláudio Ramos, merecendo destaque na recente restauração dos bandolins utilizados por Jacob do Bandolim. As plantas utilizadas vêm de instrumentos já consagrados, como Hauser, Ramirez, Torres, Romanillos, e outros, algumas vezes com modificações. A reprodução dos violões de sete cordas fabricados por Mário Jorge para Raphael Rabello tem feito grande sucesso, baseados na planta de um Ramirez. Todos os instrumentos são montados com rígido controle de umidade (40%), condição necessária para resistência a rachaduras. Hoje, há instrumentos na Alemanha, França, Itália e até mesmo em Brasília, sem qualquer história de fraturas. Recentemente, ele teve vários de seus trabalhos registrados pelo consagrado fotógrafo americano Ralph Gibson, para a confecção do livro “Light Strings”, lançado em 2004, pelo Smithsonian Institute, com coordenação de Andy Summers.

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 49

49 7/4/2006 12:39:56


,Transcricao

Yamandu Costa Chamame-

*Sétima corda em C

50 ViolaoPro 1.indd 50

• Maio / 2006

7/4/2006 12:40:31


Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 51

51 7/4/2006 12:28:58


- Yamandu Costa , - - Chamame, Transcricao

52 ViolaoPro 1.indd 52

• Maio / 2006

7/4/2006 12:29:04


Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 53

53 7/4/2006 12:29:12


- Yamandu Costa , - - Chamame, Transcricao

54 ViolaoPro 1.indd 54

• Maio / 2006

7/4/2006 12:29:21


,Transcricao

Transcrição e texto: Rudy Arnaut

Tears in Heaven Eric Clapton (Unplugged Live!)

E

ssa música certamente é uma das grandes composições de Eric Clapton. Tem uma simplicidade melódica e ao mesmo tempo uma genialidade criativa no que se refere ao bom gosto de sua construção. Harmonicamente é uma música bastante rica, mesmo o compositor usando, em algumas passagens, acordes perfeitos com Lá maior, Sol maior, etc. Gostaria de sugerir que, ao tocar “Tears in Heaven”, você procure prestar atenção na forma na qual a música foi escrita. Ela começa com um solo de introdução e depois passa para a exposição dos temas A e B. No compasso 23, temos um ritornelo que leva de volta ao compasso 06, expondo novamente os temas A e B e seguindo para casa 02 no compasso

24. Nesse momento, a música entra na parte C do tema e segue até o compasso 32, onde temos um outro ritornelo para o compasso 06. Tocamos os temas A e B até o compasso 23 e retornamos ao compasso número 06 pela última vez antes de pular para o Coda e ir para o final da música. Procure aprender a tocar não somente a harmonia da música, ou seja, seus acordes, mas também a melodia. Isso é muito útil para quem só toca violão, que pode solar a melodia enquanto é acompanhado por outro instrumento, e também para quem gosta de cantar e se acompanhar, pois, tocando a melodia, o cantor terá certeza das notas que está cantando, já que estará usando o violão não só como instrumento de apoio harmônico, mas também instrumento de apoio melódico.

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 55

55 7/4/2006 12:29:27


,Transcricao

56 ViolaoPro 1.indd 56

• Maio / 2006

7/4/2006 12:29:36


, - Musicais SI-mbolos e Notacoes

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 57

57 7/4/2006 12:29:42


Workshop

Estudo em Do- Menor Chico Pinheiro

Q

uando compus esse estudo em C menor, pensei basicamente em exercitar tanto as técnicas de mão direita para violão como também para guitarra (palheta), de uma forma divertida. Trata-se de um estudo mecânico e harmônico, pois, se repararem bem, harmônica e melodiosamente não é complicado. Remete-nos, também, em alguns momentos a um estilo bachiano; arpejos maiores, diminutos e tríades que procuram se interligar, se “amarrar” ao fraseado de forma bem natural e fluente (coisa que às vezes não é das mais simples de se fazer no violão/ guitarra).

58 ViolaoPro 1.indd 58

Isso acontece sobretudo quando tocado a partir de 240 bpm. Por volta desse andamento a coisa passa a ficar ainda mais interessante! Outro bom exercício a se fazer sobre esse estudo é cifrar os acordes que não estão escritos (propositadamente) sobre a melodia, mas que podem ser deduzidos facilmente a partir dela. Isso permitirá tocá-lo em Duo, alternando melodia, comping e improviso entre os executantes, tornando-o ainda mais divertido. Pode-se notar também, em algumas passagens, um “quê” do violonista que considero, ao lado de Baden Powell, o mais inventivo de toda

a história do violão Brasileiro: Aníbal Augusto Sardinha, o “Garoto”. Outras fontes que derramaram águas sobre esse estudo foram os violões manouches de Django Reinhardt e Bireli Lagrène, dois excepcionais instrumentistas. Por último, uma observação em relação à prática diária: sempre começar seus estudos em andamentos confortáveis (nesse caso, 140 a 160) e ir acelerando gradativamente, até chegar a um equilíbrio, o que significa chegar a andamentos que sejam ao mesmo tempo ‘executáveis’ e desafiadores. Enfim, mãos à obra! E espero que divirtam-se. Boa sorte.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:29:54


Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 59

59 7/4/2006 12:30:02


Arranjo

Bach Em afinacoes alternativas ,-

N

esta lição, Dylan Schorer* explica seu método para arranjar obras clássicas em afinações alternativas no violão, através do Prelúdio da Suíte Nº 1 para Violoncelo de Johann Sebastian Bach, BWV** 1007. Sempre gostei de música clássica e, em especial, de violão clássico. Mesmo não sendo um aficionado de verdade, eu sempre gostei de tocar algumas peças clássicas. No entanto, como sou um músico de folk, eu nunca me senti à vontade tocando-as no meu violão de aço com uma palheta de plástico. Eu adorava tocá-las para mim mesmo, mas

era muito tímido para apresentá-las em público, especialmente depois de ouvir incontáveis violonistas clássicos executando-as com uma sensibilidade musical e um ouvido para o repertório que eu jamais atingi. Mesmo assim, tirar essas melodias clássicas nas minhas reluzentes cordas cor de bronze continuou sendo um grande prazer para mim. Acabei ficando cansado das minhas interpretações picaretas e comecei a buscar meios de dar uma cara nova a essas obras e tocá-las do meu jeito. Em vez de interpretá-las ficando preso à tradição, decidi aplicar o mesmo método que vinha

utilizando em melodias de folks americanos e celtas por anos, dando-lhes mais riqueza e intensidade, arranjando-as em afinações alternativas. Pensei que, se encontrasse uma afinação que desse à melodia bastante corpo e sonoridade, isso seria perfeito para a música clássica em que eu estivesse trabalhando. Uma das peças que eu vinha tocando era o Prelúdio da Suíte n° 1 em G maior para Violoncelo, BWV 1007, de J.S. Bach. Violonistas clássicos normalmente tocam essa peça em D maior, com a frase de abertura executada sobre um acorde de D na primeira posição:

Violoncelo de Bach tocada em uma harpa, o som das notas da melodia se sobrepondo e fluindo está vivo na minha memória. Comecei experimentando a peça em afinações com as quais eu estava acostumado. Iniciei com D A D G A D e toquei a peça em D como eu tinha aprendido originalmente, mas dessa forma não obtive a quantidade de cordas soltas que eu queria para uma maior ressonância. Dei-me conta de que, já que os violonistas clássicos transpuseram a peça quando eles originalmente a transcreveram para violão, eu deveria me sentir livre também para transpô-la. Para ajudar nessas transposições, coloquei a primeira parte da melodia no meu programa de notação musical, o Finale. Isso me permitiu transpor a obra rapidamente, com apenas

alguns toques no mouse do computador. Mudei para uma afinação que eu uso com freqüência em músicas irlandesas por lembrar uma harpa: C G D G C D. Eu experimentei a melodia primeiro em G maior e, depois, em C maior na mesma afinação. Depois de tocar a peça em C, levou aproximadamente uns cinco segundos para eu perceber que deveria baixar a quarta corda para C, para tocar a fundamental de um modo mais conveniente. Assim cheguei à afinação C G C G C D. Depois de tocar a primeira frase, vi que essa afinação me dava tudo o que eu queria (ver exemplo 2) pelo menos para os primeiros compassos. Eu precisava avançar um pouco mais na peça antes de definir a melhor afinação. Normalmente, quando eu arranjo uma

Ex. 1. Na afinação tradicional

Quando toquei a peça dessa forma, minha interpretação soou pequena para mim, pelo menos em comparação com as versões ricas e encorpadas que eu tinha ouvido sendo interpretadas por mestres do violão clássico. Enquanto o processo de composição usando afinações alternativas normalmente começa com experimentações, arranjar uma determinada melodia começa com a definição de uma afinação que se encaixe à tonalidade da música, por assim dizer. Eu decidi buscar uma afinação que me permitisse tocar a frase de abertura com todas as notas em cordas separadas, sobrepondo a melodia, com as notas vibrando umas sobre as outras. Esse é um recurso que eu uso para arranjar música irlandesa e, desde que escutei recentemente um trecho da Suíte para Ex. 2. Afinação C G C G C D

60 ViolaoPro 1.indd 60

• Maio / 2006

7/4/2006 12:30:14


peça nova, encontro uma afinação na qual a melodia se encaixa perfeitamente até eu me deparar, quando três quartos do caminho já foram percorridos, com uma frase impossível de ser encaixada de um jeito musical na afinação. Às vezes, isso significa mudar um pouco a afinação, o que compromete as melodias já arranjadas anteriormente, ou abandonar a afinação de uma vez e começar tudo de novo. Ocasionalmente, um trecho da melodia flui na afinação de forma tão musical que só é preciso trabalhar um pouquinho mais para tocar uma frase que se recusa a encaixar nela. Outras vezes, ajustes devem ser feitos. Por exemplo, você pode ter que desistir de uma

corda solta que deu mais textura à primeira frase para evitar conflitos na segunda frase. Acima de tudo, musicalidade e equilíbrio devem prevalecer. Se o ritmo e a textura ficarem triviais em algumas frases enquanto o resto da peça flui com beleza, alguns ajustes devem ser feitos. Segui tocando a Suíte para Violoncelo e tudo estava indo bem, até eu chegar ao compasso 9. Tocar a nota ré na segunda casa da sexta corda me impossibilitava de tocar a melodia na região da quinta casa, acabando com o fluxo melódico que eu desejava. Uma examinada rápida da música mostrou-me que eu nunca iria usar a corda dó no bordão, enquanto a nota ré nos gra-

ves seria usada várias vezes. Assim, subi a sexta corda para ré e cheguei à afinação D G C G C D, que é a afinação final usada no meu arranjo inteiro. Obviamente, encontrei algumas frases, como as dos compassos 11 e 13, em posições não tão confortáveis de se tocar como no restante da peça. Porém, fiquei feliz pela peça como um todo ter se encaixado na afinação com uma combinação certa de ressonância, de melodias sobrepostas e de movimento de cordas alternadas como contraste. Espero que você goste de tocar este arranjo e, o mais importante, que você use essas idéias para tentar dar uma cara nova às melodias que você venha a arranjar.

Preludio da SuI-te No. 1 para Violoncelo (BWV 1007)

Musica de J. S. Bach, arranjado por Dylan Schorer

Afinação D G C G C D

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 61

61 7/4/2006 12:30:20


Arranjo

* Editor de música da revista americana Acoustic Guitar de 1994 a 1999. Ganhou o prêmio de melhor dedilhado do Telluride Bluegrass Festival em 1993 e tem tocado em toda a região da baía de São Francisco, na Califórnia, acompanhando vários músicos e também em apresentações solo. Ele atualmente toca no grupo de música celta Logan´s Well junto com o violonista Steve Baughman e a cantora Carleen Duncan. Artigo autorizado para a revista Violão PRO.

62 ViolaoPro 1.indd 62

• Maio / 2006

7/4/2006 12:30:32


** BWV significa Bach-Werke-Verzeichnis, que em português quer dizer “Catálogo dos Trabalhos de Bach”. Esta sigla, acompanhada do respectivo número da obra, foi desenvolvida em 1950 por Wolfgang Schmieder e é internacionalmente usada e aceita como o método padrão de numeração dos trabalhos de Bach, por exemplo, “Missa em B menor, BWV 232, composta em 1733”.

Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 63

63 7/4/2006 12:30:41


Workshop v

Pentatonicas em Acordes Dominantes Rudy Arnaut

T

ambém conhecido como acorde maior com sétima menor, o acorde dominante pode ter uma função de preparação pelo fato de conter na sua estrutura um trítono entre a sua terça maior e a sua sétima menor. O acorde dominante é encontrado no quinto grau do campo harmônico maior e é muito comum no blues, jazz, funk, country, samba, baião, etc. As escalas pentatônicas são úteis quando tocadas sobre um acorde dominante. Qualquer tensão pode ser aplicada sobre a sonoridade básica do acorde dominante sem destruir sua tendência de resolução. Quando as pentatônicas são

64 ViolaoPro 1.indd 64

tocadas sobre este tipo de acorde, extensões agudas são enfatizadas. O improvisador pode mudar a cor harmônica do acorde no seu solo conforme a escolha da escala que usar para improvisar. No Ex.1, a escala pentatônica foi construída a partir da tônica do acorde de C. Ela pode ser usada para improvisar sobre os acordes C7, C7(9), C7(13). No Ex.2, a pentatônica foi construída a partir da sexta menor de C, gerando uma cor harmônica de C7(#5)(#9). Já no Ex.3, ela foi construída a partir da quinta diminuta de C, gerando um C7(#5)(b9)(#9)(#11). Se observarmos as escalas abaixo, notaremos que as pentatônicas de C, Eb

e Bb têm três notas em comum com as notas do acorde de C7, enquanto as pentatônicas de F, G e Ab têm duas notas em comum com as notas desse acorde. Já as pentatônicas de Db, D, E ,F# e A têm apenas uma nota em comum e a de B não tem nenhuma nota em comum com as do acorde de C7. Podemos determinar, através do número de notas em comum da escala que tocamos em relação às notas do acorde, se estamos improvisando mais dentro (“inside”) ou fora (“outside”) da harmonia. Quanto maior o número de notas em comum, mais “inside” estaremos tocando, e vice-versa.

• Maio / 2006

7/4/2006 12:30:53


Maio / 2006 •

ViolaoPro 1.indd 65

65 7/4/2006 12:31:02


Classificados

P

U B

L

I

EMPRESA Art’Mani Luthier Black Bug Condortech D’Addario Deval Elixir Florence Fox Trot Galeria dos Músicos Gianinni IBOX Musical Express Musical Izzo Power Click RMV Roxy Music Rozini Solez Solid Sound Sound Captadores Tessarin Luthier Visão Wolf Music

66 ViolaoPro 1.indd 66

C

I

D A D E

TELEFONE 11 5051-3310 11 4362-2047 61 3361-1181 11 3159-3105 11 6451-8699 11 5502-7800 11 2199-2900 71 3358-8313 11 3898-2914 / 19 3233-5818 11 4028-8400 14 3203-6355 11 3159-3105 11 3611-2666 21 2722-7908 11 6404-8544 11 3061-5262 11 3931-3648 34 3661-0845 41 3373-2521 11 3781-1043 15 3284-2546 11 6601-3727 11 3088-5964

SITE www.artmani.com.br www.blackbug.com.br www.condormusic.com.br www.musical-express.com.br www.deval.com.br www.elixirstrings.com www.florencemusic.com.br www.foxtrot.com.br anderson@galeriadosmusicos.com.br www.giannini.com.br wwww.ibox.com.br www.musical-express.com.br www.musicalizzo.com.br www.powerclick.com.br www.rmv.com.br www.roxymusic.com.br www.rozini.com.br www.solez.com.br www.solidsound.com.br www.malagoli.com.br atessarin@uol.com.br www.visaopedestais.com.br www.wolfmusic.com.br

• Maio / 2006

7/4/2006 12:31:16


ViolaoPro 1.indd 67

5/4/2006 13:32:33


ViolaoPro 1.indd 68

3/4/2006 14:01:49


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.