Violão Pro #3

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VIOLÃO PRO JULHO | 2006

ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

BADEN POWELL

Edição Histórica

NÃO COMPRE SEM LER •Groovin GAS 152E (aço) •Roxy Guitar (náilon) •Takamine G Series (aço) •Rozini Studio (náilon) •Cordas Giannini Titanium

FÁBIO ZANON Entrevista e equipamentos de um dos mais conceituados violonistas eruditos brasileiros

BADEN POWELL Pela visão de seus filhos Philippe e Marcel Powell

MARCUS TARDELLI Tudo sobre seu CD de estréia Unha e Carne + aula exclusiva WWW.VIOLAOPRO.COM.BR

DINO 7 CORDAS Tributo ao grande mestre

Violão PRO•2006•Nº 3•R$ 8,50

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21 PÁGINAS De Lições e Transcrições

TÉCNICA

Exercícios e transcrições sobre independência dos dedos, cordas soltas, sete-cordas e improvisos com Alessandro Penezzi, Camilo Carrara, Chico Saraiva, Maurício Marques, Remo Pellegrini e Rudy Arnaut 3/7/2006 17:01:08


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Editorial Histórica

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sta edição é um bom motivo para comemorarmos. Sim, estamos contentes. A Violão PRO vem conquistando espaço e retribui agora o respeito conquistado pelos profissionais do setor. Não é fácil dirigir seriamente uma revista técnica. São muitos detalhes e diferentes visões que temos que lidar. A Violão PRO é uma revista para violonistas. Não pretendemos ser uma revista para clássicos ou populares e, sim, um canal de comunicação com as pessoas que amam o violão. Nosso objetivo é nos tornarmos uma publicação de referência sobre violão no Brasil. Contamos com a sua colaboração para que a nossa revista consiga atingi-lo. Neste mês, a Violão PRO faz uma homenagem a dois grandes violonistas. Convidamos Philippe e Marcel Powell para escrever sobre seu pai, Baden, um dos mais geniais violonistas brasileiros de todos os tempos. Esses dois jovens músicos deram depoimentos de arrepiar sobre a personalidade do grande Baden. Não tenho dúvidas que você também se emocionará ao lê-los. Junho foi marcado pela perda de Dino 7 Cordas, uma lenda do violão brasileiro. Nós fizemos uma matéria especial em homenagem a esse grande mestre, com depoimentos de grandes violonistas e uma lição especial de Remo Pellegrini com as transcrições das baixarias de Dino na música Alvorada, de Cartola. Em outra direção, trazemos uma entrevista exclusiva com Fábio Zanon, uma das maiores vozes do violão erudito brasileiro. Batemos também um papo com Marcus Tardelli, que deixou recentemente o Quarteto Maogani e lançou um belíssimo CD com músicas de Guinga, e com o luthier Lineu Bravo, sensação entre os violonistas brasileiros. Na seção de lições e transcrições, continuamos com um time de colaboradores de peso: Chico Saraiva, Alessandro Penezzi, Maurício Marques, Camilo Carrara, Rudy Arnaut e Remo Pellegrini. Nas outras seções, testes de instrumentos e novidades do mundo do violão que você já se acostumou a encontrar só aqui. Curta e recomende essa edição histórica. Abraços e continuem espalhando a boa música. Daniel A Neves

Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima EditorTécnico FábioCarrilho Redação Regina Valente - MTB 36.640 Reportagens RobertaCunhaValente

Testes Cristiano Petagna, Miguel De Laet e Rudy Arnaut GerenteComercial MarinaMarkoff Administrativo / Financeiro Carla Anne Direção de Arte DawisRoos

Lições AlessandroPenezzi,CamiloCarrara, ChicoSaraiva,MaurícioMarques, RemoPellegrini,RudyArnaut

Impressãoe Acabamento GráficaPROL

Edição de Partituras Débora Aquino e Rudy Arnaut

Fotos DanielNevese divulgação

Fotode Capa Divulgação(BadenPowell)

Distribuiçãoexclusiva paratodoo Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A • Rua Teodoroda Silva,907 - Grajaú• CEP:20563-900 - Rio de Janeiro/ RJ Tel.: (21) 2195-3200

Edição2: JoãoBosco, LulaGalvão, PaulGalbraith, João Batista, Maurício Carrilho e muitomais!

Publicidade Anuncie na Violão PRO comercial@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.violaopro.com.br e-mail ajuda@musicamercado.com.br

Assessoria:Edicase Soluções para Editores ViolãoPRO(ISSN1809-5380)é umapublicaçãoda Música& Mercado Editorial. Redação, Administração e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 - BrooklinNovo- São Paulo/ SP. e-mail:violaopro@musicamercado.com.br

Estarevistaapóia

O que ouvimos na redação Artista: Raphael Rabello & Dino 7 Cordas Título: Raphael Rabello & Dino 7 Cordas Comentário: O Chico Buarque e o Noel Rosa do violão brasileiro juntos nesse CD sensacional. Salve, Raphael! Salve, Dino!

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Artista: Fábio Zanon Título: Tárrega – Bach – de Faria – Mertz – Ponce Comentário: Belíssimo recital de violão com o mestre Zanon nesse CD gravado na Inglaterra em 1997. Bravo!

Artista: Canhoto da Paraíba Título: O violão brasileiro tocado pelo avesso Comentário: Coletânea bem organizada pela EMI, com o melhor de Canhoto da Paraíba e seu regional. Altamente recomendada!

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Indice ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos mais competentes profissionais do mercado.

MATÉRIAS

24 Baden Powell

Philippe e Marcel Powell, filhos de Baden, dão depoimentos emocionantes sobre um dos maiores violonistas do país

16 Fábio Zanon: um expoente do violão erudito brasileiro

SEÇÕES

20 Camilo Carrara: trabalhando a independência dos dedos da mão direita

4 Editorial 8 Cartas

23 Show: Yamandu Costa, Fábio Zanon e Duo Assad no Ibirapuera

10 Strings

32 Luthier Lineu Bravo: a nova febre entre os violonistas

41 Na Estrada

36 Testes 66 Classificados

42 Dino 7 Cordas: o adeus ao mestre

66 Índice de

44 Marcus Tardelli: Tudo sobre o seu CD de estréia

Publicidade

48 Lançamentos: CDs, Livros...

TESTES 36 Rozini Studio Uma surpresa agradável 37 Groovin GAS 152 - Cordas de Aço Elegante e acessível, indicado para iniciantes no violão 38 Takamine EG531C Um violão coreano de alma japonesa

16 Fábio Zanon

LIÇÕES E TRANSCRIÇÕES 49 Maurício Marques Milongueando um pouco

52 Heraldo do Monte Transcrição: Giselle

39 Cordas Giannini Titanium Color A pesada do pedaço

54 Chico Saraiva

40 Roxy Guitar RGN0001 Marca brasileira ganhando adeptos

56 Remo Pellegrini

41 Na Estrada Luthier Samuel Carvalho Eagle CH-889 Eagle CH-800 6 ViolaoPro 3.indd 6

Cada tom é um universo Homenagem a Dino 7 Cordas

58 Rudy Arnaut Padrões Melódicos

60 Alessandro Penezzi Magoado

62 Pixinguinha Transcrição: 1 x 0

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Cartas Bom trabalho Vocês fizeram um ótimo trabalho com a nova revista. O violão ganhou um espaço merecido porque, no Brasil, o instrumento se confunde com a própria música. Continuem o bom trabalho e, se me permitem a sugestão, façam matérias sobre música étnica como celta e flamenco. Sugiro também uma matéria com o violonista americano Eric Sardinas. Fernando Henrique dos Santos Maringá/PR Parabéns pela revista! Ficou bem legal. Não é todo dia que encontramos uma revista especializada em violão. Digo isso por experiência própria. Antes eu tinha que comprar revistas de guitarra e adaptá-las ao violão. Iago Irious Belo Horizonte/MG Grande atitude! Sou violonista formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e gostaria de sugerir algumas matérias. Seria de extrema importância falar das

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Rua Guaraiúva

, 644

universidades e dos cursos de música CEP: 04569001 - Brooklin Novo que, no Rio, por exemplo, estão indo São Paulo / S P de mal a pior. Acho que a Violão e-mail: ajuda@ violaopro.com .br PRO, por ser um veículo de comuajuda@music amercado.com nicação, pode colaborar muito com .br a educação musical no Brasil. Gustavo França Volta Redonda/RJ Quero parabenizá-los pela iniciativa de lançar uma revista especializada em violão. Especializada Foi com muita satisfação que li o primeiro A publicação ajuda a sanar a carência do exemplar desta revista. Eu toco violão há al- mercado editorial nessa área. Miguel de Laet gum tempo e sentia falta de uma publicação e-mail que correspondesse às expectativas do público. Gostei, logo de cara, de ver o Guinga na capa. Espero ver outros músicos como Errata o Lula Galvão, o Nelson Faria, o Victor • As fotos do 1º Encontro de Violonistas Biglione e o Turíbio Santos. Eles são des- de Tatuí sairam sem crédito. O fotógrafo conhecidos da mídia, mas altamente com- foi Kazuo Watanabe. petentes, como é o caso do João Alexandre, • Na entrevista do João Bosco, o nome do violonista, cantor e compositor de Campi- nosso colaborador Rudy Arnaut saiu com letras trocadas. nas (SP). Muito sucesso para vocês todos! Elias Pimenta • A foto de abertura da matéria do João BosRio de Janeiro/RJ co é de M. Rossi.

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EQUIPAMENTOS, MÚSICOS, ENQUETES, SHOWS E NOVIDADES DO GRANDE MUNDO DOS VIOLÕES!

JOÃO GILBERTO

pai da bossa nova ganha centro de estudos

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oão Gilberto completou 75 anos em junho e a pesquisadora e escritora Edinha Diniz anuncia boas notícias para os admiradores do músico baiano. Ela é coordenadora-geral do Centro de Estudos João Gilberto (CEJG), associação sem fins lucrativos criada para sistematizar em partituras todas as gravações do músico e disponibilizar um amplo banco de dados sobre ele na internet. O CEJG está em busca de patrocinadores para concretizar esse trabalho, que será de grande importância para os violonistas compreenderem melhor a linguagem e a estética musical do pai da bossa nova.

ZÉ PAULO BECKER um violão no choro

iolonista do aclamado Trio Madeira Brasil, Zé Paulo Becker acaba de lançar o excelente CD Um Violão no Choro (Biscoito Fino). Becker executa as linhas melódicas de suas belas composições ao violão acompanhado por feras como o sete-cordas Marcello Gonçalves, o percussionista Beto Cazes e o baixista Jorge Hélder. “Muitas das músicas desse disco foram pensadas para serem tocadas em rodas. São fáceis de serem acompanhadas, há uma ou outra armadilha, mas nada que um chorão mais malandro não pegue na segunda passada”, diz Becker. “Esse trabalho é inspirado nos discos de Canhoto da Paraíba”, acrescenta. Um livro com as partituras das músicas do CD também foi lançado.

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Fotos: divulgação

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LUIS NASSIF blog tem economia e violão brasileiro Considerado um dos maiores jornalistas econômicos brasileiros, Luís Nassif, da Folha de São Paulo, nunca escondeu sua paixão pela música. Bandolinista de choro e compositor, Nassif inaugurou no mês de junho o blog http://luisnassifonline.blog.uol.com.br. Durante a semana, ele aborda assuntos relacionados a economia e política. Nos finais de semana, ele posta seus artigos e crônicas sobre música. O violão brasileiro, como não poderia deixar de ser, quase sempre é o tema central das linhas musicais de seu blog. Não deixe de visitar!

O que eles tocam TURÍBIO SANTOS

Fotos: divulgação

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uem admira o trabalho do mestre carioca deve se perguntar com qual instrumento ele executa magistralmente peças de Villa-Lobos, Garoto e de outros grandes compositores em seus concertos. Pois bem, atualmente Turíbio Santos tem utilizado um violão do luthier Jó Nunes, com cordas Savarez e microfonado com um AKG C414B. Um ótima combinação sonora, você não acha?

De leitor para leitor

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Qual o exercício que mais ajudou no seu desenvolvimento técnico?

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s exercíciosde arpejospara a mão direita me ajudaram a tocarmúsicaseruditascomplicadas com um som mais bonito.Ao combinar agilidade e perfeição de execução da mão direita, o som das notas fica mais intensoe sem aqueletrastejadoque dói no ouvido de qualquer músico. Marconi Oliveira de Almeira moliveiradealmeida@hotmail.com

O

s exercícios para mão esquerda de Abel Carlevaro (livros 3 e 4) me ajudaram no desenvolvimentoconsciente dos movimentos,além de aumentara minhaa precisãona execuçãodas notas. Comcertezaforamos exercíciostécnicos que mais me ajudaram. Alexandre Ribeiro de Oliveira alerguitar@hotmail.com

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creditoqueo meudesempenhotécnico no violãofoi e é conquistadocom uma progressãode exercícios,que vão desdeos arpejosde acordespor toda a extensão do braço do instrumento,até

as escalas com dedilhado com apoio (usandotambémapenaso polegar).Os famososexercíciosque combinamos dedos 1, 2, 3 e 4 da mão esquerdasubindo e descendonas seis cordastambémé muitobom.O importantemesmoé começar cada exercícioo mais devagarpossível e manter a disciplinanos estudos. Saudaçõesa todosos ‘violomaníacos’! Marcos Ramos marcosgor@hotmail.com

ROMERO LUBAMBO

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iolonista requisitado em shows e gravações por nomes como Diana Krall, Luciana Souza, Dianne Reeves e Leny Andrade, Romero Lubambo não dispensa um instrumento em que tenha total confiança. Ele tem usado um violão espanhol Ramirez Cutaway Casa Gonzalez, indicação antiga de seu colega Raphael Rabello.

Participe desta seção. Escreva para contato@violaopro.com.br e responda: “Qual foi o exercício que mais ajudou no seu desenvolvimento técnico?”

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Strings MARCELLO GONÇALVES E ZÉ MENEZES encontro de gerações

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Fotos: divulgação

carioca Marcello Gonçalves é um dos expoentes da nova geração do violão de sete cordas brasileiro. Recentemente, ele se uniu ao lendário maestro Zé Menezes, ex-parceiro de Garoto que, do alto de seus 84 anos, continua em grande forma no violão, no bandolim e, principalmente, no violão tenor, sua especialidade. A dupla tem apresentado um show baseado na obra de Zé Menezes e com composições de Radamés Gnatalli, Baden Powell, Villa-Lobos e Garoto. Fique ligado no site www.abz.com.br para saber onde serão os próximos shows.

CAMILO CARRARA

trabalho solo com canções japonesas

ZÉ CARIOCA

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novo CD do violonista paulistano Camilo Carrara é um dos trabalhos mais originais de violão solo lançados ultimamente. Em Canção do Sol Nascente (Azul Music), Carrara apresenta o cancioneiro nipônico em arranjos para violão solo, o primeiro trabalho do gênero no Brasil. Clássicos como Aka Tombo, Sakura, Furusato, Momiji e Nanatsu no Ko receberam uma interpretação extremamente pessoal e um toque brasileiro e contemporâneo aos arranjos, sem perder a essência oriental das canções. Visite o site do músico: www.camilocarrara.com.br.

um personagem do violão brasileiro

Foto: Daniel Kersys

Todo mundo conhece o Zé Carioca, o famoso papagaio da Disney. Agora, você sabia que existiu um grande violonista brasileiro que era homônimo desse personagem? O Zé Carioca violonista era José do Patrocínio Oliveira, o Zezinho. Nascido em Jundiaí (SP) em 1904, ele tocou em vários discos de João Pernambuco e foi ídolo de ninguém menos do que do genial Garoto. Tempos depois, ele fez carreira com o Bando da Lua, grupo que acompanhava Carmen Miranda em suas excursões pelos Estados Unidos e acabou fixando residência por lá. Ganhou esse apelido quando o próprio Walt Disney o escolheu em 1941 para dublar a voz do papagaio em filmes como Alô amigos e Você já foi à Bahia?. A partir daí, ele carregou o apelido para o resto da vida!

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Strings DUOFEL

como nos velhos tempos

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Foto: divulgação

uando Fernando Melo e Luís Bueno formaram o Duofel em 1978, eles viajaram um ano pelo Nordeste pesquisando sons e lapidando a personalidade musical do que viria a ser um dos mais inovadores duos de violão brasileiros. Para fazer Precioso, novo CD da dupla, eles estiveram em Manaus buscando novas inspirações musicais. Precioso é repleto de belas melodias, sonoridades e rítmicas diversas, tudo no melhor estilo Duofel. Uma das novidades do CD é Fernando Melo tocando viola caipira. O CD também é o primeiro trabalho da Fine Music, editora e distribuidora criada por Bueno e Melo que produzirá exclusivamente os trabalhos do Duofel.

VIOLÃO ERUDITO na web

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qui vão duas dicas de ótimos sites para quem curte violão erudito. No DailyGuitar.com (www.dailyguitar.com) você encontra biografias de grande violonistas e compositores, informações sobre os principais concursos de violão erudito pelo mundo e, também, pode baixar gratuitamente partituras de peças para violão e arquivos em MP3. O brasileiro violão.clássico.weblog (www. polemicos.com.br) não deixa por menos. Mantido por violonistas, o site divulga notícias e uma agenda sempre atualizada de concertos e concursos de violão que acontecem pelo Brasil. Visitas obrigatórias!

ADALBERTO, O PROFESSOR DE VIOLÃO. O QUE SE ESPERA DE UM BOM PROFESSOR:

Conhecimento...

Técnica...

Material...

Conhecimento profundo da mente juvenil escalofanarios.zip.net

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Entrevista

Fabio Zanon

A referência hoje Por Daniel Neves

onte de inspiração para milhares de músicos das novas gerações, Fábio Zanon tem se apresentado regularmente nos principais palcos da música clássica mundial, como o Royal Festival Hall, de Londres, o Carnegie Recital Hall, de Nova York, ou a Sala Verdi, de Milão. Em concertos solo ou à frente de orquestras, Zanon vem encantando platéias com sua técnica fluente, com a grande beleza e as variedades de som, sensibilidade estilística e interpretações que beiram a perfeição. Sua atividade musical é intensa. Ele lançou recentemente um CD com sonatas de Scarlatti (ainda não disponível no Brasil) e tem apresentado um programa semanal sobre violão na Rádio Cultura FM de São Paulo. Entre um compromisso e outro, Fábio Zanon concedeu esta entrevista exclusiva à Violão PRO, em que fala da sua formação e da sua experiência de concertista internacional.

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> Violão PRO - Depois de cruzar o mundo fazendo apresentações, qual a sua avaliação sobre a qualidade técnica do violonista brasileiro em relação aos dos demais países com maior tradição na música erudita? Fábio Zanon: Hoje em dia, a formação técnica é muito mais internacionalizada. Todo mundo tem acesso a tudo e uma grande quantidade de estudantes passa temporadas em outros países. Então, quando há uma novidade pedagógica, ela se espalha como fogo no mato. O resultado é que não há uma grande diferença de abordagem técnica entre um brasileiro, um alemão ou um japonês. Mas claro que existe o ‘ethos’ de cada nação e isso acaba produzindo algu-

mas diferenças. Normalmente, a formação musical de um alemão será superior; um americano busca mais eficiência, um italiano busca mais individualidade, um chinês pode ser obcecado com infalibilidade e assim por diante. O ensino informal ainda é muito disseminado no Brasil: a pessoa que sabe cinco acordes já quer dar aulas para quem não sabe nenhum. Se por um lado isso favorece o trabalho criativo, porque a necessidade é mãe da invenção, por outro é ruim para quem trabalha com o violão clássico, que depende de tempo, paciência, minúcia e boa instrução desde o começo. O Brasil tem uma linguagem própria para o violão popular, algo já formado e cristalizado, quase como o flamenco na Espanha.

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> Gostaria que você falasse sobre sua iniciação musical. Quais fundamentos você considera imprescindíveis para uma boa formação? Minha formação foi um pouco diferente, porque eu nunca tive muito interesse em estudar por cifras ou em tocar guitarra. Minhas primeiras memórias musicais são de ópera. Aos sete anos de idade, o que mais me tocava já era música clássica. Meu pai me ensinou. Ele gostava de tocar Dilermando Reis, esse tipo de coisa. Queria aprender a ler música e ele me ensinou o violão. Tocávamos choro e serestas quando era pequeno. Aí vem a coisa da sorte. Eu iria entrar num conservatório e provavelmente teria mudado para o piano, mas conheci por acaso o professor Antonio Guedes, que foi uma das maiores inspirações. Guedes era um metalúrgico que só ensinava de final de semana, mas tinha estudado com Isaías Sávio e, na época em que comecei com ele, estava no auge: nunca vi ninguém com uma condição física tão predisposta a tocar violão. Os patrões dele ficaram tão impressionados que deram uma licença para que fosse estudar violão com o Carlevaro, no Uruguai. Ao Guedes devo minha conversão ao violão porque, além de tocar de forma inspiradora, ele era um professor gentil, mas rigoroso, que me deu uma ótima base para tocar bem depois. O fundamento é se divertir estudando. É meio como jogar videogame. Para a gente passar para o próximo estágio, precisa ter algumas habilidades já condicionadas. A meu ver, uma técnica relaxada e ergonômica, rigor de solfejo e leitura musical. Não adianta tocar um monte de músicas a mil por hora se o ritmo é incerto, se não se apaga os baixos na hora certa, se não se tem uma noção de respiração musical ou se as escalas saem irregulares. Tudo isso só se forma direito se a pessoa tem o hábito de se escutar e se obser-

Fotos: divulgação

Mas, quando a gente fala de violão clássico, é preciso formação além da ginga natural. Enquanto a gente conversa aqui, há milhares de crianças no Japão, na China, na Rússia ou na Croácia que estão estudando com o maior rigor desde muito pequenas.

O que ele usa Violão Sérgio Abreu, 1986 (Brasil) – “Foi meu primeiro violão de concerto e continua meu companheiro mais freqüente, porque ganhou muito com o tempo e se tornou um instrumento completo, complexo e exigente. É um violão de abeto bem tradicional, que uso na maioria de minhas gravações”. Violão Reid Galbraith, 1995 (Inglaterra) – “Galbraith é enteado de David Rubio e fez poucos violões. Também é um violão de abeto bem tradicional. É um violão nobre, que gosto mais de usar em casa”. Violão Roberto Gomes La Española, 1998 (Brasil) – “Um violão de cedar, de sonoridade cremosa. Bem espanhol”. Violão Daryl Perry, 2000 (Canadá) – “Outro violão de abeto bem tradicional, na linha Torres-Hauser. Ultimamente é o que mais uso em concerto, pois é muito constante e cômodo de tocar”. Violão Roberto Gomes Spiritus, 2001 (Brasil) – “É meu único violão experimental, fruto

de um breve retorno de Gomes à luteria. É um violão muito potente e explosivo, que uso majoritariamente para música de câmara com outros instrumentos”. Violão Escola de Panormo, (Inglaterra, 1ª metade do séc XIX). “É uma guitarra romântica, bem menor do que o violão atual, ideal para tocar músicas de Sor, Giuliani, este tipo de coisa. Eu só tenho para me divertir, nunca usei em público. Aliás, está há mais de um ano fora de casa, recebendo alguns reparos”. Cordas: “Não existem cordas totalmente satisfatórias. Acabo usando Augustine Regals. Na falta dessas, Savarez Corum ou Aranjuez Gold, sempre tensão alta. Estou experimentando as Galli Titanium e gosto bastante das primas”. Acessórios: “Banquinho normal, duas peças de anti-derrapante sobre as pernas. Em casa, gosto de estudar com um tripódio, que é um aparelho que segura o violão e permite que eu toque em pé”.

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E trevista Ent s

var, o que é um pouco o contrário do ritmo de vida que a gente leva no dia-a-dia. Sempre digo que a formação do músico é como o design de uma cadeira. Se as quatro pernas não são do mesmo tamanho, ela fica desequilibrada. As quatro pernas são: leitura musical, técnica ergonômica, cultura musical e instrução geral. > Quais foram suas maiores influências? Paradoxalmente, elas não vieram do violão, porque o violão não foi meu interesse primordial em todos os meus anos formativos. Se for para citar um, eu diria Arthur Rubinstein, que provavelmente foi o músico que passei mais horas escutando em toda minha vida. No violão, cada pessoa que faz alguma coisa digna de atenção é uma influência. Além dos meus professores, Antonio Guedes, Henrique Pinto, Edelton Gloeden e Michael Lewin, eu estudei minuciosamente o trabalho de Julian Bream, de Sérgio e Eduardo Abreu e, mais tarde, de Segovia. Mas há coisas totalmente insuspeitas. Eu conheço ópera quase tanto quanto conheço música de violão mas, quando procuro um cantábile ao violão, eu penso nas gravações mais antigas da Elis Regina. Outro dia estava com dúvidas sobre o fraseado de uma música do Radamés Gnattali e tentei imaginar como ela cantaria aquilo. Bingo: achei um jeito de tocar que encaixou direitinho. > Alguma vez você pensou em desistir de se tornar um profissional? Claro. Normalmente, quando você estuda mais, apresenta-se menos. É natural se perguntar se tudo aquilo vale à pena. Quando entrei para um curso universitário, minha intenção era ser compositor. Depois, percebi minha facilidade para regência, que sempre foi meu segundo estudo. Ainda hoje me pergunto se quero ser escravo do violão pelo resto de minha vida, mas tem certas coisas que não se escolhe. Se o violão escolhe você, ele acaba virando um ponto cardeal, uma coisa que você faz para manter um certo equilíbrio mental. > Gostaria que você falasse como foi ganhar o 30° Concurso Francisco Tarrega na Espanha e o 14° Concurso da Fundação

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“Sempre digo que a formação do músico é como o design de uma cadeira. Se as quatro pernas não são do mesmo tamanho, ela fica desequilibrada. As quatro pernas são: leitura musical, técnica ergonômica, cultura musical e instrução geral”. Americana de Violão (GFA) nos EUA. Em 1996 eu fiz 30 anos e já havia uns cinco anos que havia desistido de concursos internacionais por várias razões. Entretanto, como o limite de idade para a maioria dos concursos é de 30 anos, achei que eu deveria me preparar para fazer uma última tentativa. Com a experiência acumulada, acho que escolhi o repertório certo e encontrei uma maneira de tocá-lo que criou alguma impressão. Foi tudo meio emendado. Em junho de 1996 fui finalista no Naumburg Competition, em Nova York, que me rendeu um contrato de gravação e uma rede de contatos nos EUA. Em setembro, ganhei o Tarrega na Espanha e, em outubro, rece-

bi o GFA em St Louis. Preparei tudo com tranqüilidade; antes do Tarrega, tinha passado duas semanas de férias em Berlim; foi uma estadia ótima, eu estava bem disposto, cheio de idéias, tinha conseguido manter a forma estudando só duas horas por dia. No GFA foi um pouco mais estressante. A concorrência era mais forte, eu não havia preparado a peça de confronto direito e estava um pouco cansado depois do Tarrega, mas acho que tive um pouco de sorte também. Sobre a repercussão, acho que eu soube aproveitar melhor o momento, porque já tinha mais maturidade e bagagem. Tinha nas mãos um contrato para gravar, havia feito uma estréia de sucesso em Londres e

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estava começando a ser convidado para festivais mais importantes, quando chegaram esses prêmios. Aproveitei para melhorar meu agenciamento. O prêmio do GFA era uma turnê de 50 concertos nos EUA; como nunca alguém tinha vencido o Tarrega e o GFA no mesmo ano, eu saí na capa de algumas revistas, a notícia espalhou e todos esses recitais estavam lotados. Resumindo, ganhar os concursos é difícil e meritório, mas é um pouco como passar no vestibular. Só significa que você conseguiu, mas não garante nada na sua vida profissional. A repercussão só pode ser avaliada alguns anos depois. > Como você grava o seu violão? Os melhores resultados que consegui até agora foram gravados dentro de uma igreja, com acústica natural e no máximo uma pequena correção eletrônica do grau de reverberação. O que a gente quer numa gravação? No meu caso, a sensação de proximidade e direcionalidade, aliada a certo calor sonoro, que é resultado da complexidade acústica do ambiente de gravação. Ou seja, a sensação de que o artista está presente, bem à sua frente, dentro de uma acústica envolvente, não de forma clínica. Normalmente meu produtor na Inglaterra usa um par de microfones a pouco mais de um metro de distância. É um microfone dinamarquês cujo nome não lembro, mas já usei Neumann e o resultado é igualmente bonito. Outros preferem usar dois pares de microfones, um bem próximo e outro a uma distância de uns três metros, e acertar a proporção entre proximidade e som ambiente na mixagem, o que também pode ficar muito bom. > O que a experiência dos palcos no Brasil e no mundo lhe ensinou de mais importante? Que não existe limite para o potencial humano de criar quando se está num estado de exaltação. Aprendi também que gostar de música é uma coisa, e gostar de uma carreira em música é outra completamente diferente.

“Os melhores resultados que consegui até agora foram (em gravações) dentro de uma igreja.”

Unhas afiadas Quando perguntado se tem algum cuidado especial com suas unhas, Fábio Zanon é taxativo: “Cuidado especial? Totalmente obsessivo!”, diz ele. “Isso não é frescura, é obrigação de quem quer tirar um som minimamente aceitável. Se alguém me provar que levar uma galinha preta em uma encruzilhada numa noite de lua cheia melhora as unhas, eu levo a galinha sem pestanejar”, acrescenta. Zanon listou para nós seus cuidados com as unhas. Anote-os, eles também poderão ajudá-lo! Tratamento: “Uso um óleo de amêndoas e vitaminas toda semana. Depois que parei de fumar, as unhas melhoraram um pouco. Em geral, ficam mais sadias em clima quente”. Formato: “Uso uma lixa de manicure (lixa d’água 300) para dar o comprimento e formato da unha. O formato acompanha a curva do dedo, mas do lado esquerdo ela tem uma curva mais pronunciada. Com o uso, ela gasta ainda mais e fica com o formato de uma onda, cuja crista está no lado direito”. Lixamento: “Tenho uma verdadeira co-

leção de lixas d’água, lixas de ‘silicon carbide’ e lixas vermelhas de resina de óxido de alumínio, que vão do grão 320 a 1500. Mesmo lixas do mesmo material e mesma aspereza são diferentes entre si, então guardo as boas para ocasiões especiais. Guardo peças usadas de lixa fina, que uso para acabamento. Aliás, acabamento é a parte mais obsessiva. Além dos pedaços usados, também forro alguns pedaços de lixa com parafina, que ficam bons depois de algum uso.Tenho uma variedade de pedaços grossos de papel, de tecido, de camurça e de couro para dar aquele polimento final. Também usei um pó que me trouxeram do Japão, que aparentemente as gueixas usam para ficar com o rosto branco, que custa caríssimo, mas deixa as unhas e a ponta dos dedos com uma textura ótima”. Unhas Postiças: “Quando uma unha gasta ou quebra, uso unhas postiças, de preferência unhas cosméticas da marca Elegant Touch. Outros plásticos, porcelana ou extensões de seda nunca funcionaram para mim”.

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Tecnica

Trabalhando a independência dos dedos Por Camilo Carrara

s exercícios propostos a seguir focalizam o aperfeiçoamento de uma habilidade muito importante para os violonistas: a independência dos dedos da mão direita. O domínio desse recurso permitirá uma interpretação mais clara e precisa, realçando idéias muitas vezes submersas no texto musical.

O estudo técnico dirigido para as mãos direita e esquerda, realizado separadamente, é uma prática comum entre os violonistas clássicos e tem sido incorporado ao universo do violão popular. Meus primeiros contatos com essa abordagem pedagógica de desenvolvimento técnico/mecânico foram através dos professores Célia Trettel, Paulo

Foto: Dani Gurgel (www.danigurgel.com.br)

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Porto Alegre e Edelton Gloeden, aos quais dedico esse artigo, agradecendo os anos de dedicação e amizade. O exercício proposto foi inspirado no método Improvisation and Performance Techniques for Classical and Acoustic Guitar, de Ralph Towner. Multi-instrumentista, compositor, improvisador instigante, e, sem dú-

vida, um dos principais representantes do violão moderno, Ralph Towner é referência quando o assunto são as fronteiras e possibilidades musicais. Nesta obra, o autor sintetiza um período de sua produção artística desde o final dos anos 60, revelando uma série de novos procedimentos técnicos, ao combinar de maneira especial os conheci-

Ex. 1

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Ex.1: Pratique a digitação da mão direita nas cordas soltas do instrumento. Esse procedimento possibilita concentrar as atenções diretamente na fonte de dificuldade. A seqüência pode ser encarada como uma espécie de clave rítmica ou ‘groove’, que se repetirá por toda a música. Note que o arpejo utilizado aqui é o mesmo do Estudo nº1 de Villa-Lobos. Ex.2: Toque a seqüência procurando a uniformidade. Cada nota deve ser produzida com a mesma dinâmica e o mesmo padrão de sonoridade (como o doce ou o metálico). E (frígio)

Foto: Daniel Kersys

mentos do violão clássico e os da improvisação jazzística, apontando para uma verdadeira revolução no pensamento musical dos violonistas. Towner propõe o esquema da leitura polifônica, atribuindo uma pauta para cada dedo da mão direita, facilitando assim a compreensão do estudo, como veremos a seguir no Ex.3.

Camilo Carrara é violonista e lançou recentemente o CD Canção do Sol Nascente, com arranjos para violão solo de canções tradicionais japonesas. Graduado pela USP, ele é coordenador do departamento de cordas dedilhadas do Centro de Estudos Musicais Tom Jobim (ULM) em São Paulo. Já tocou com a Osesp, Zizi Possi, Alaíde Costa, Mônica Salmaso, Na Ozzetti, Lokua Kanza, entre outros nomes.

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Tecnica

Ex.3: Passe a acentuar apenas o dedo anular, então o dedo médio, o indicador e finalmente o polegar. Note que ao acentuar determinado dedo, uma voz ou linha melódica específica surgirá em meio à aparente nuvem sonora Ex. 3 Tempo

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provocada pelo arpejo. Veja, através da grade, como existe uma relação de proximidade do violão com os instrumentos de percussão em geral. Explore essa idéia cuidando do ritmo com toda a atenção. Bom estudo! !

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Show

Encontro inedito

Foto: Alexandre Dupon

Por Roberta Cunha Valente

Duo Assad, Yamandu Costa e Fábio Zanon encantam platéia paulistana em noites dedicadas ao violão no Ibirapuera

os dias 19, 20 e 21 de maio, os paulistanos presenciaram um encontro inédito de violonistas: Odair e Sérgio Assad (o Duo Assad), Yamandu Costa e Fábio Zanon, que apresentaram o concerto Juntos, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Segundo Marcelo Bratke, responsável pelo projeto, “a idéia do espetáculo era colocar lado a lado músicos de estilos diferentes, que trazem para a tradição do violão texturas distintas e antagônicas e complementares”.

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Os shows fizeram parte da programação do Projeto Violões, uma parceria entre o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e o Auditório Ibirapuera, “com o objetivo de enaltecer o instrumento mais popular do século XX e contar a trajetória percorrida desde sua chegada ao Brasil, além de reafirmar a categoria dos músicos brasileiros no cenário mundial”. Com duração de quase 2 horas, a apresentação deixou gosto de quero mais. As três atrações tocaram lindamente e deram

um show de talento, humildade e simpatia. Fábio Zanon, destaque no cenário internacional do violão clássico, foi o primeiro a se apresentar. Mostrou peças belíssimas, como a Torre Bermeja, de Isaac Albéniz, e o Prelúdio nº 1, de Villa Lobos, com perfeita execução. Grande pesquisador, Zanou falou sobre o violão e as músicas que interpretou e, também, a respeito de seus compositores. Aproveito para dar uma dica: quem quiser conhecer melhor o violonista e a história do violão pode ouvir seu excelente programa transmitido pela rádio Cultura FM de São Paulo (103,3 MHz ou www. tvcultura.com.br/radiofm) todas as quartas-feiras, às 13h e às 20h. Visite também os sites http://aadv.home.comcast.net/bio. html e http://vcfz.blogspot.com. Na seqüência do show, Fábio chamou ao palco o Duo Assad e, juntos, eles apresentaram Malambo, de Alberto Ginastera. Paulistas de São João da Boa Vista, os irmãos, aclamados no mundo todo, impressionam pela sensibilidade, pela interpretação e, principalmente, pela técnica. Eles se comunicam por meio dos instrumentos, o que é muito emocionante. A explicação para tamanha cumplicidade musical vem do próprio Sérgio. Numa entrevista, ele diz que os dois “começaram a tocar na mesma época, tiveram aulas com os mesmos

professores e aprenderam as mesmas técnicas, resultando em uma interação absoluta entre o som dos dois violões”. Odair e Sérgio tocaram Farewell e Tyyhhiia li Ossoulina, ambas de Sérgio, entre outras, e fizeram uma apresentação impecável. Depois, chamaram Yamandu para um número em trio. O gaúcho Yamandu Costa fez um show descontraído, conversou com o público e mostrou o “violão das calçadas”, como ele mesmo definiu. Sempre bem-humorado, criativo e espontâneo, deu um show de interpretação e improvisação, arrancando lágrimas de muita gente na platéia. Tocou algumas músicas de sua autoria, como Aurora e Tareco nº 3, e finalizou sua parte com a maravilhosa Brasiliana, de Radamés Gnattali. Chamou Fábio Zanon ao palco e os dois tocaram Pinheirada, de João Pernambuco. O Duo Assad se juntou ao dois para o encerramento. O quarteto interpretou A Furiosa, do também violonista e compositor Paulo Bellinati. No bis, eles tocaram Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro. A platéia, de cerca de 2 mil pessoas nos três dias, foi bastante calorosa e pediu bis várias vezes. Mas, infelizmente, o show acabou ali. Só nos resta torcer para que esse encontro ocorra novamente!

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Pai e professor uem foi Baden Powell? Você diria que se trata de um dos

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maiores violonistas brasileiros de todos os tempos. Tudo

bem, mas quem foi o homem Baden? O que pensava esse sujeito, que sintetizou em seu violão o samba, o batuque de terreiro, a bossa nova, o jazz e o erudito como ninguém jamais conseguiu? Como era o comportamento do músico considerado sinônimo de violão brasileiro? Violão PRO convidou os filhos de Baden, Philippe e Marcel, para lembrarem da personalidade de seu pai. A seguir, confira esses depoimentos emocionantes. Por Phillippe Powell Fotos: divulgação

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Baden esperimentando o violão do luthier Dieter Hopf final da década de 70

á alguns meses eu estava empacotando minha mudança para Paris e encontrei, no meio dos vinis que eu estava separando para levar, um do Miles Davis chamado Sketches of Spain. O álbum tinha uma dedicatória, no mínimo, impressionante: ‘Badeco, por tudo que eu não saberia dizer - Elis Regina’. Não havia data ou qualquer outro elemento que indicasse as circunstâncias em que aquela singela homenagem foi feita. Minha imaginação correu solta tentando compor o instante daquele momento. Com aquele pedaço de história nas mãos, comecei a lembrar do meu pai. Eu o conheci antes de entender quem ele era e o que ele fazia. Era o meu pai, que me deu o próprio nome e me ensinou tudo o que um filho precisa saber: andar de bicicleta, comer macarronada sem se sujar, fazer a barba e levar a namorada pela mão. Mas, ainda moleque, entendi que ele

não era só meu pai. O Baden era um homem intenso, devoto de seu instrumento e da sua música, que exalava uma genialidade sobre a qual ele mesmo não tinha domínio. Às vezes, até dava a impressão de acompanhar com dificuldade o ritmo da própria criatividade gerando um conflito interno, peculiar e necessário a todos os grandes artistas. Por trás de uma timidez aparentemente serena, estava escondido um espírito inquieto que se alimentava de uma grande efervescência musical. Quando completou 50 anos, Baden tinha passado metade da vida no Brasil e metade na Europa. Ao longo dos anos de uma carreira bem sucedida, ele ganhou o respeito e a admiração dos mais diversos artistas, entre os quais grandes nomes do jazz e da música erudita. Certa vez, Michel Legrand escreveu sobre ele: ‘Dentro de nós há música Acima de nós está a imortal, a imensa música Mais alto ainda, há aqueles que a derramam, que a expandem E no topo disso Há Baden Powell Homem genial Homem em forma de cordas de violão que faz descer o seu sangue até nós dentro da sua música nossa música nossa vida.’ Sua discografia tem mais lançamentos do que anos de vida, sua obra é muito extensa e seu legado, inestimável. Eu me surpreendo vendo a influência da sua maneira de tocar nos violonistas de hoje e de ontem, o grande número de admiradores que ele conquistou e a sua contribuição para a música brasileira. continua na página 28

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Violoes de Baden

Dieter Hopf La Portentoza Artist Dieter Hopf é um renomado luthier alemão que conheceu Baden na década de 60, após um show no Olympia de Paris. Baden usava um violão brasileiro gasto, colado e remendado inúmeras vezes. Mesmo assim, ele extraía uma sonoridade tão bela que maravilhou a platéia na qual se encontrava Hopf. O luthier ficou surpreso ao ver o instrumento e mais ainda por não entender como Baden conseguia tocá-lo. Ele, então, apresentou seus violões a Baden e pediu que ele lhe mostrasse seus defeitos. Em troca, Baden receberia dois instrumentos por ano. O violonista pediu que o luthier lhe desse os instrumentos somente quando ele precisasse. A parceria se firmou ali e permaneceu até a morte de Baden. Baden tinha sempre dois violões feitos à mão e sob medida, que o acompanhavam em todo lugar. Um era de estudo, um pouco maior, com trastes mais largos e braço mais comprido. O de concerto era sob medida para sua mão e um pouco maior que os tamanhos convencionais. O violão de estudo era usado, às vezes, para tocar peças com afinações especiais, como é o caso do Cego Aderaldo, peça instrumental do próprio Baden. A principal característica desses instrumentos é o seu som encorpado, a grande definição nos graves e o brilho nos médios e agudos.

Com esses insrumentos, ele gravou discos antológicos como Tristeza on Guitar, Estudos, De Baden pra Vinícius e Os Afro-Sambas. Yamaha Luthier Akio Naniki Grand Concert Até 1986, Baden usava exclusivamente violões Hopf, quando passou a alternar com um Yamaha feito por um luthier dessa fábrica. Em 1985, já morando na Alemanha, Baden recebeu a visita de três japoneses que, após um concerto, pediram que ele experimentasse um violão feito à mão que não tinha nada a ver com os instrumentos feitos em série pela marca. Baden ficou com o instrumento, mas só o usaria um ano

depois. Este foi seu instrumento de concerto até 1997. Com ele gravou Live in Switzerland, Baden Powell at Montreux Jazz Festival e Suíte AfroConsolação. Na última vez que esteve no Japão, Baden encontrou o mesmo luthier e pediu que ele fizesse um violão igual ao primeiro porque esse já estava bem usado. Em uma semana foi confeccionado um clone do instrumento. Ambos os violões são diferentes dos instrumentos Hopf, que passaram a ser utilizados como violões de estudo e, eventualmente, usados em shows e gravações. O ponto comum entre eles é o tamanho, sempre um pouco maior do que o normal, como gostava Baden. A sonoridade do Yamaha também é encorpada, definida e um pouco mais brilhante. É um violão mais leve e macio. Luthier Anibal J. Crespo Esse violão foi feito à mão pelo luthier argentino, que o deu de presente a Baden. O violão é de 1995 e foi o instrumento usado pelo música em seus últimos concertos e gravações entre 1998 e 2000. Ele gravou, por exemplo, Lembranças, seu último disco, lançado pela gravadora Trama.

‘Quero ouvir meu portão bater, Quero ver minha casa encher, Como há tempos já não se faz. Quero um copo que eu vou beber, E quando o dia amanhecer, Eu quero adormecer em paz.’ Paulo César Pinheiro/Baden Powell

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Ele era um músico excepcional, capaz de acompanhar com a mesma virtude que tinha como solista. Muito requisitado pelas cantoras, ele também tocou na orquestra da Rádio Nacional e sem falar nos bailes… ele era muito tarimbado, acompanhava de ouvido e tinha um repertório grande na ponta dos dedos. Às vezes, muito raramente, ele saía pra dar canjas escondido. Era um músico generoso que adorava tocar para e com os amigos, vulneráveis às suas melodias e harmonias. Certa vez, contou-me minha mãe, o Baden foi levar a Liza Minnelli no aeroporto e, a pedido dela, ficou tocando para esperar a chamada do vôo. Ela acabou perdendo o vôo, rendida ao violão do Baden. As seis cordas do violão eram insuficientes para seu estilo rasqueado, que trazia o samba, o choro e a música erudita com tanta destreza. Às vezes, estávamos tocando em casa e ele vinha com uma idéia nova: ‘Olha aqui isso aqui! Tá vendo… bom né? Eu queria fazer assim, mas no violão não dá, não tenho tanto recurso quanto no piano!’. Outra vez, estávamos em Paris e fomos assistir ao show de um amigo nosso, com quem tínhamos outros amigos em comum. A platéia era, inclusive, composta só de amigos e isso gerou um ambiente descontraído e leve. Num momento da noite, o amigo em questão não resistiu e pediu ao Baden para que ele desse uma canja. Depois da canja, a Tânia Maria (pianista e cantora), que também estava na platéia, não resistiu e subiu ao palco! Lembro como se fosse ontem! Os dois se divertiram como duas crianças dialogando por meio de reharmonizações e improvisos que levaram a platéia ao êxtase. Memorável! Algumas amizades do papai tinham a música como ligação principal, como a do Vinícius, que convidou o Baden pra fazer algumas músicas e, antes que pudessem perceber, viram-se grandes amigos. O Baden dizia que o Vinícius tinha sido um pai para ele. Outros amigos também foram adotados dessa mesma maneira, como o Paulo César Pinheiro (que é meu padrinho de batismo junto com a Clara Nunes), a Elizete Cardoso, o Billy Blanco (padrinho de batismo do meu irmão), o Hermínio Bello, o João Nogueira e o Sivuca, entre outros tantos que o Baden nunca deixou de ver e pelos quais eu tenho um grande carinho. Isso me faz lembrar do Guinga, que eu encontrei um dia andando na rua ali pelo Leblon. Começamos

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a conversar felizes pelo reencontro, pois fazia muito tempo que ele não me via e eu era bem novinho quando isso aconteceu. Ele me levou à casa dele e me deu um disco, o Suíte Leopoldina, e escreveu uma dedicatória dizendo assim: ‘Philippe, você é meu filho também – Guinga’. Eu me lembro de muitos deles chegando lá em casa para tocar, ensaiar, bater papo ou cantar um samba. E o Baden feliz da vida vendo a casa encher, o portão bater e, quando amanhecia, ele adormecia em paz. Tem um samba dele com o Paulo César Pinheiro que diz exatamente isso: ‘Quero ouvir meu portão bater, Quero ver minha casa encher, Como há tempos já não se faz. Quero um copo que eu vou beber, E quando o dia amanhecer, Eu quero adormecer em paz.’ Foi o papai quem me deu as primeiras lições de música e de vida. Ensinou-me teoria, solfejo e princípios de harmonia e orquestração e, também, apresentou-me ao jazz e à musica erudita. O professor Baden era muito exigente, já o pai Baden não incentivou muito a carreira artística. Entretanto, como a música está presente em nossa família desde o Seu Vicente Thomaz de Aquino, avô do Baden, meu pai teve que se conformar com o inevitável. Ele foi fundamental para o meu irmão e para mim. Dizia sempre que, se a gente não ‘desse pro negócio’, ele diria logo. Eu tomei isso como um elogio, já que ele não era muito de passar a mão na cabeça da gente. Infelizmente os anos passaram rápido demais e, mesmo tendo feito muita coisa junto com ele, sempre tenho a sensação de que faltava mais um pouco para perguntar, para tocar, para dizer e para ouvir. As lembranças que eu tenho dele são as melhores e, quando fico em dúvida sobre alguma coisa, posso ouvi-lo me dizer: ‘Meu filho, seja escravo do instrumento, nunca deixe ele te vencer e faça como Bach, toque para Deus!’.” Philippe Powell, pianista

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Baden Powell e filhos, Japão 1997

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Capa “Sou um pouco suspeito para falar de Baden Powell, porque tive o privilégio de tê-lo como pai e como meu professor de música e violão. Posso garantir que ele não só foi um dos maiores violonistas de todos os tempos, mas também o professor mais severo que já existiu. E isso só me fez bem! Meu pai foi e continua sendo um daqueles casos raros de união do talento de um mágico virtuose do violão com um dos compositores mais expressivos da nossa rica música popular brasileira! Em todos os anos de aprendizado que tive com ele, até o seu falecimento, pude conviver com essa magia sob o mesmo teto diariamente. Acho que minhas palavras são poucas para definir essa lenda do violão nacional. Agradeço a Deus, à minha mãe, Silvia (que eu amo muito), e ao meu pai, Baden Powell, por ter sido seu filho, seu amigo, seu aluno e tudo mais o que eu pude ser dele. Saudades, saudades.” Marcel Powell, violonista

BADEN POWELL E DIETER HOPF Uma colaboração frutífera de músico e luthier Para todos os músicos e suas futuras gerações, é importante dispor de instrumentos bons e sensíveis, de forma que eles possam se comunicar artisticamente. Do outro lado, os luhiers precisam da cooperação de intrumentistas competentes, que incentivem com suas opiniões e sugestões o desenvolvimento contínuo dos instrumentos. Eu tive a sorte de ser amigo de vários solistas de reconhecimento internacional e de poder trabalhar com eles. Um dos mais importantes foi Baden Powell. Em 1973, Baden veio me visitar pela primeira vez em minha oficina. Eu sei que, desde o primeiro instante, nós simpatizamos. Baden era um artista altamente sensível e fortemente expressivo, com uma técnica de toque muito especial. Por causa disso e também porque ele tocava com muitos microfones, ele precisava de guitarras que se prestassem especialmente para isso.

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Seu primeiro instrumento feito por mim, uma combinação de guitarra clássica e guitarra flamenca de construção muito leve, agradou-lhe especialmente e ainda deve estar de posse da familia hoje em dia. Em 1976, mandei para ele uma Virtuoso, de cedro/palissandro do Rio, que, embora de som caloroso e melódico, ao mesmo tempo agradava muito depressa, era bem nítida e tinha um grande rendimento. Essa guitarra esteve 18 anos com Baden até que, devido à intensa utilização e às frequentes mudanças de clima, ela ficou defeituosa. Na última vez em que ele me visitou, em 1994, eu recebi a guitarra de volta e, agora, ela ocupa um lugar de honra comigo. Em troca, ele recebeu uma nova Artista, de cedro/palissandro de San-

tos, que está com a familia de Baden Powell até hoje. Acho que também uma Virtuoso, de 1983, entregue por ocasião de uma visita de Baden e do filho Philippe, construída de cedro/madeira Makessar, também deve estar na posse da familia. Para a família, para a enorme comunidade de fãs em todo o mundo e para mim, a morte prematura de Baden Powell foi uma perda muito grande. Eu não perdi apenas um amigo, mas também um artista e um conselheiro competente nesse estilo musical muito especial. Pode servir de consolo o fato de que os seus dois filhos herdaram o talento musical do pai e certamente irão levar a tradição dele avante. Dieter Hopf (Luthier: www.hopfgitarren.de)

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A nova febre entre os violonistas Por Daniel Neves

que têm em comum Marcus Tardelli, Lula Galvão, Guinga, Alessandro Penezzi, Zé Barbeiro, Ângela Muner, Édson Lopes, Oscar Ferreira, João Lyra e Mauricio Carrilho? Ok, você diria que todos são ótimos músicos e com carreiras consolidadas no cenário do violão brasileiro. Mas eles têm uma outra coisa em comum: todos possuem um violão Lineu Bravo. Natural de Sorocaba, interior de São Paulo, e vivendo atualmente em Paraisópolis, no sul de Minas Gerais, o luthier Lineu Bravo é a nova febre entre os violonistas. É difícil encontrar alguém no meio violonístico que não tenha pelo menos a curiosidade de experimentar um de seus violões. Aproveitando uma das visitas dele à São Paulo, a Violão PRO bateu um papo com Lineu, que falou da sua carreira de luthier e da sua concepção de um bom violão. Confira, a seguir, essa entrevista.

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Fotos: Daniel Neves

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> Violão PRO: Como foi seu inicio na profissão, Lineu? Lineu Bravo: Foi uma sucessão de felizes coincidências: sou filho e neto de marceneiros. Sempre tive habilidades manuais e, desde muito cedo, adquiri intimidade com madeira. Quando criança, fazia raquetes de ping-pong, caixinhas e tabuleiros de damas. Também havia vários músicos amadores na minha família. Aos 10 anos, comecei a tocar cavaquinho e daí em diante não preciso falar muito. Fiz meu primeiro cavaquinho aos quatorze e, nos vinte anos seguintes, fiz um bocado de cavacos e bandolins, sempre como ‘hobby’, enquanto exercia outras profissões. Somente há cinco anos eu virei luthier profissional e hoje meu principal produto é o violão clássico e o de sete cordas. Mas como bom chorão,

produzo também cavaquinhos, bandolins, violões de sete cordas de aço, violões-tenor e, de quebra, violas caipiras. > Na sua opinião, o que difere os luthiers uns dos outros? O mesmo que difere os músicos, os atletas, os médicos ou qualquer outra profissão: uns são mais técnicos, outros mais intuitivos, alguns são aplicados, outros não, alguns podem chegar a excelentes resultados, mas cada profissional é único. Eu me considero mais intuitivo do que técnico. Meus resultados se devem principalmente ao fato de eu buscar sempre o aprimoramento de meus violões. Hoje, graças a Deus, sempre que um músico pega um de meus violões começa com os elogios, mas eu sempre pergunto se há algum detalhe

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ou característica que não o agrada, para que eu possa melhorar. Quando o músico responde apontando algum detalhe estético é minha vitória, porque isso significa que a sonoridade, afinação e tocabilidade não merecem críticas. Tem dado certo. > No Brasil não há muitos cursos de lutheria, principalmente de violões, como você faz? Bom, eu nunca fiz qualquer curso, nunca trabalhei com outro luthier e nunca entrei numa fábrica de instrumentos. Descobri sozinho tudo o que sei. Claro que, às vezes, converso com outros luthiers, mas no Brasil são poucos os que estão abertos a essas conversas. Os caras são meio desconfiados. Por outro lado, alguns americanos e europeus são muito solícitos. Tem

três luthiers em especial que me ajudaram muito: a Gila Eban, o Gregory Byers e o Jeffrey Elliott, todos americanos. Eles abrem o jogo sem frescura e ajudam àqueles que os procuram. O interessante é que eles têm características totalmente diferentes em seus violões. O que eu consegui ‘sugar’ deles, somado às minhas próprias idéias, resultaram nos meus violões atuais. > Sobre sua clientela, quem são os músicos que encomendam seus produtos? Minha clientela de vilões é muito diversificada. Desde estudantes, passando por colecionadores e até nomes como Marcus Tardelli, Lula Galvão, Guinga, Alessandro Penezzi, Zé Barbeiro, Ângela Muner, Edson Lopes, Oscar Ferreira, João Lyra e Mauricio Carrilho.

> Qual o maior erro cometido pelos clientes na hora de encomendar um violão? É difícil responder a essa pergunta. Muitos músicos, acostumados a tocar violões de fábrica, quando pegam um violão melhor acham que o instrumento vai resolver sua vida. Muitas vezes isso não acontece. Depois de alguns meses, ele já está procurando outro de novo. Aí, ele já não consegue vender aquele pelo preço que pagou e parte para outro ‘um pouco melhor’. Tem músicos que, infelizmente passam a vida ‘de pulinho em pulinho’. > Como escolher certo, então? Conversando com o maior número de músicos e tocando o maior número de violões. Quando o cara comprar ou en-

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comendar um violão de alto nível, ele deve saber exatamente o que é um violão de alto nível e o que esperar dele. Eu procuro sempre facilitar a vida de meus clientes, porque fico triste, triste mesmo, quando vejo que o músico não encomenda meu violão por não poder pagar. Isto significa que ele vai procurar algo mais barato e, muito provavelmente, entrar naquela situação que descrevi. Por isso faço o possível para facilitar o pagamento. Às vezes isso até atrapalha os negócios! Já teve gente que não comprou meu violão porque achou muito barato, você acredita? Então não deve ser bom! Ocorre que eu prefiro vender x violões por 4 ou 5 mil reais do que a metade dos violões pelo dobro do preço. Quero ver meus instrumentos circulando por aí, sendo tocados, sendo conhecidos, entende? > Para você o que é um bom violão? Um bom violão é aquele de que o violonista não se queixa, mas não é isso que eu busco. O que eu espero do meu violão é que ele proporcione prazer ao músico, responda a todas suas expectativas, seja seu parceiro. Temos que lembrar que um violonista não é um operador de equipamento, mas um artista e todo artista precisa de

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inspiração e motivação. Minha busca vai além disso de volume, projeção, equilíbrio e afinação (características obrigatórias, mas e nem sempre presentes, num violão feito à mão). Eu quero música, entende? Quero que meu violão não apenas seja tocado pelo violonista, mas também o toque... parece papo de doido, né? (risos) Mas tenho certeza de que um muitos violonistas estão me entendendo. Dá uma ouvida no CD Unha & Carne, do Marcus Tardelli interpretando Guinga, ou no CD novo do Alessandro Penezzi, que você vai saber exatamente do que eu estou falando. > Como você vê o mercado para os violonistas no Brasil? Crescendo muito! Nunca houve tanta música instrumental no Brasil. Não está fácil para o músico. Aliás nunca esteve e nem estará, mas o espaço vai aparecendo. E o nível dos violonistas está uma loucura. Tem uma rapaziada por aí... acho que ninguém falou para eles que tocar é difícil (risos)! Os caras vão tocando umas baita encrencas com uma naturalidade e uma propriedade. E o legal é que isso vai puxando o nível cada vez mais pra cima, pois os que estavam meio acomodados vão se mexendo, os novos vão empurrando e a música vai surgindo!

Ah, você perguntou do mercado? Isso é muito chato, prefiro falar dos músicos. > Para você há diferença entre um violão para música clássica e para popular? Não. Já foi o tempo em que, por exemplo, os violonistas de choro só faziam baixarias, hoje todos procuram instrumentos completos. Minha meta é agradar os eruditos, de preferência os mais chatos! (risos) Isso porque, quando você agrada um cara exigente assim, não tem músico popular que não goste do violão. Fora isso, são só detalhes. Todo músico, popular ou erudito, pede alguma característica peculiar em seu violão, mas um grande violão será sempre um grande violão, seja tocado pelo Zé Barbeiro ou pelo Édson Lopes. > Quais as metas para o futuro? É sempre fazer instrumentos melhores. Ah, por falar nisso, levei um susto com a entrevista do Marco Pereira no primeiro número desta revista, quando ele diz que está procurando um substituto pro seu violão Vogt! Tá aí uma meta a curto prazo, vou fazer um violão para ele, só que ele ainda não sabe disso! (risos) > Qual o seu melhor violão? O próximo.

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Testes

Rozini Studio Surpresa agradavel

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a edição número 2 da Violão PRO, testei o violão eletro-acústico Giannini GWNFLST. Fiquei muito satisfeito com a qualidade do instrumento, capaz de concorrer em pé de igualdade com qualquer marca importada da mesma categoria. A Rozini não fica para trás. Fiquei realmente surpreso como essa fábrica tão jovem em relação às suas centenárias concorrentes, com apenas nove anos de existência, apresenta um padrão de qualidade altamente competitivo e preços bem acessíveis. Faço votos de que a Rozini continue mantendo esta conduta, porque está no caminho certo para o sucesso. O modelo testado é um violão acústico de cordas de náilon, fabricado em pinho sueco maciço no tampo, faixa lateral e fundo laminado tríplice Gonçalo Alvez, braço em cedro com tensor regulável, escala e cavalete em pau-ferro e trastes de níquel-cromo.

Ficha Tecnica Modelo: Studio

Por Cristiano Petagna

Um dos diferenciais deste instrumento é o tensor regulável. Esse é um item de extrema importância em um violão fabricado em série. Pela minha experiência de mais de 20 anos de estudos e 15 como professor de violão, a quantidade de instrumentos feitos em série com braços que empenaram, de alunos meus, é bem maior do que a aceitável, mesmo sendo instrumentos caros e fabricados com madeira maciça. O tensor regulável é uma solução simples e relativamente barata que, certamente, garante ao instrumento uma vida útil maior e, como conseqüência, maior satisfação do consumidor. Outro diferencial é o tampo maciço que, em um instrumento dessa faixa de preço, não é comum e torna a sua sonoridade mais potente. O Rozini Studio analisado possui bom acabamento. Não há defeitos graves. Todas as partes coladas estão bem fixadas, o verniz está homogêneo, os trastes estão

bem colocados e a ponte, bem alinhada. Há apenas falhas sutis na parte estética do acabamento, como na junção inferior da escala com o tampo (onde a cola ficou aparente) e alguns pequenos riscos na escala. O violão possui uma sonoridade rica em harmônicos, proporcionada principalmente pelo tampo maciço, com boa projeção e volume. Destaque também para o equilíbrio sonoro entre as notas. A afinação manteve-se precisa em toda a extensão da escala. Ele tem um braço macio, fácil de tocar, com distanciamento ideal entre cordas e em relação à escala. Apresentou alguns trastejamentos, principalmente nos bordões a partir da quinta casa, tocando com uma pegada mais pesada. As tarraxas afinam com precisão. A relação qualidade-preço é muito favorável. É um instrumento com qualidades sonoras ímpares nesta categoria de preço e ainda possui tensor no braço, uma grande qualidade.

Fabricante: Rozini Indicado: Para estudantes de violão exigentes quanto à qualidade sonora Pró: Braço com tensor regulável Contra: Não vejo nenhum Preço sugerido: R$ 310,00 (acústico) Garantia: 12 meses 9,0 8,5 8,5 9,0

Quer falar com o autor da matéria? Cristiano Petagna: cpetagna@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Rozini - (11) 3931-3648 andre.marketing@rozini.com.br * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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Foto: divulgação

Acústica................ Desempenho ........ Acabamento .......... Custo-benefício ....

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos mais competentes profissionais do mercado.

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Groovin GAS 152E BK Simples e bonito

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oje em dia, um violão industrializado dificilmente não vem com alguma peça produzida na China. A marca Groovin é mais uma que vem do Oriente e produz seus violões em larga escala. O diferencial do GAS 152 é que todo o seu design, desenvolvido pela Equipo, importadora da marca no Brasil, segue padrões americanos. Mas o que chama mesmo a atenção é seu bom resultado, em especial para quem está começando a estudar violão. À primeira vista, é possível notar os cuidados com o seu design. É um instrumento com um acabamento simples e bonito. Logo que comecei a tocar, optei em trocar seu encordoamento, porque as cordas que vieram não estavam em bom estado. Coloquei o encordoamento novo e, com jeito, encaixei o rastilho que se apóia no sistema de captação.

O rastilho é feito de material plástico. Observei que o encaixe das cordas no cavalete merecia maiores cuidados. Uma característica que chama atenção nesde modelo é o tensor. São poucos os modelos econômicos equipados com esse acessório, que visa deixar o braço tensionado de forma a não empenar. Mas não espere madeiras nobres ou rastilhos feitos em osso. Este modelo é para quem quer um produto honesto e de baixo custo. O Groovin GAS 152 vem de fábrica com uma captação PS-900 passiva, da própria marca, com controle de volume e tonalidade. Amplificado, o som dele produziu um leve ruído do captador e o equilíbrio de volume entre as cordas não foi perfeito - os bordões pareciam ter mais volume que as primas. Dependendo da sua performance, em

Por Rudy Arnaut

apresentações ao vivo para amigos e não muito sofisticadas, pequenos ruídos como estes tendem a se tornar imperceptíveis. Seu timbre acústico é bom e, pela sua faixa de preço (menos de 300 reais na loja), ele tem um ótimo equilíbrio de som. A relação de volume entre as cordas é muito boa e equilibrada, o que faz os acordes soarem com definição e clareza. Conclusão: o GAS 152 é um bom violão para iniciantes, com uma excelente relação custo-benefício. Ao adquirir um, procure levá-lo a um luthier para colocar cordas novas e regular a altura delas em relação ao braço. Grande parte das lojas já possui uma pequena oficina de reparos e elas também podem fazer esse trabalho. Isso ajuda o estudante, que terá um instrumento mais macio e equilibrado para praticar as primeiras lições.

Ficha Tecnica

Modelo: USA Design GAS 152E BK Fabricante: Groovin Pró: ótima relação custo-benefício Contra: a afinação das oitavas não foi muito precisa Preço sugerido: R$ 300,00

Foto: divulgação

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Garantia: 3 meses Acústica................ Captador ............... Desenpenho.......... Definição do som .. Acabamento .......... Custo-benefício ....

7,0 5,0 7,0 7,0 7,0 10,

Quer falar com o autor da matéria? Rudy Arnaut: rudyarnaut@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Equipo - www.equipo.com.br e-mail: ricardo@equipo.com.br * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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Testes

Takamine - G Series Um coreano que parece japones

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onhecidos por seu timbre e sua qualidade, os violões Takamine têm conquistado cada vez mais respeito e aceitação dos músicos em geral. Originalmente, a empresa fabricava seus violões no Japão. De algum tempo para cá vem produzindo seus instrumentos com um preço reduzido também na Coréia e na China, tornando-os mais aquecíveis ao público. O curioso é que, mesmo com um preço mais em conta e com acabamento mais simples, esses violões ainda mantêm uma sonoridade excelente. O violão que tive a oportunidade de experimentar é fabricado na Coréia e faz parte de uma linha chamada G SERIES, modelo EG531C. Esse instrumento é um ‘folk’ de cordas de aço e vem equipado com um captador ativo fabricado

pela própria Takamine. Seu circuito traz um equalizador de três bandas (grave, médio e agudo), um botão de ganho que funciona como volume e um botão chamado de ‘notch filter’, que funciona como um regulador de freqüências e ajuda a eliminar o ‘feedback’. Ele também tem um botão de ‘bypass’, que liga e desliga o equalizador do circuito, tornando o captador ativo ou passivo, e um ‘led’ vermelho que avisa quando a bateria precisar ser substituída. Seu timbre acústico é muito bom. O equilíbrio de som entre as cordas é excelente, apesar de não ter muito volume. Mesmo usando cordas novas, senti falta de um pouco de brilho nas freqüências graves. Quando usei esse

Por Rudy Arnaut instrumento ligado em uma mesa ou em um amplificador, notei um sistema de captação bem desenvolvido e equilibrado. Aconselho usar esse captador na posição ativa, pois o timbre é ótimo. Por outro lado, quando usei o captador com o equalizador desligado, com o sistema de captação passivo, não achei o timbre tão bom, porque ele valoriza muito as freqüências médias em relação às demais. Esse violão tem uma relação custo-beneficio excelente. É um instrumento bem construído, com um acabamento simples e bem feito, timbres bons acústicos e amplificados e um preço que chega a ser um terço do Takamine original, fabricado no Japão.

Ficha Tecnica

Modelo: G Series EG531C Fabricante: Takamine Importador: Sonotec Pró: ótimo custo-benefício Contra: falta brilho nas cordas graves quando ele está desligado

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Preço sugerido: R$ 1.850,00 Garantia: 3 meses 6,0 8,0 8,0 8,0 6,0 10,

Quer falar com o autor da matéria? Rudy Arnaut: rudyarnaut@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Sonotec - www.sonotec.com.br nenrod@sonotec.com.br

Foto: divulgação

Acústica................ Captador ............... Desempenho ........ Definição do som .. Acabamento .......... Custo-benefício ....

* Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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Giannini - Titanium Color

Por Cristiano Petagna

Fotos: divulgação

A pesada do pedaco

T

ive a oportunidade de testar o encordoamento Titanium Color Giannini tensão extrapesada durante aproximadamente um mês. Os diâmetros de cada corda são os seguintes: 0.029 (1.E), 0.033 (2.B), 0.041 (3.G), 0.029 (4.D), 0.036 (5.A), 0.044 (6.E). Quanto mais pesada a tensão das cordas, mais volume sonoro o violão obterá, porque as madeiras terão uma vibração mais plena. Porém, não é todo o violão que aceita cordas com tensões pesadas, porque há o risco do braço empenar ou do cavalete descolar. Sempre observe nas especificações do seu instrumento qual a tensão de cordas indicada pelo fabricante para não haver problemas futuros. Outro pré-requisito para usar uma corda como a extrapesada é a ação baixa, isto é, a distância das cordas em relação à escala tem que ser adequada. Do contrário, o desgaste físico na execução das músicas é maior, podendo até causar problemas como a LER (Lesão por Esforço Repetitivo). Para iniciantes, são sempre indicadas as tensões mais baixas. Elas podem ser au-

mentadas com o tempo, de acordo com o crescimento técnico do músico. A Giannini Titanium possui duas opções de tensão: a pesada e a extrapesada. O modelo de cordas testado (extrapesadas) me agradou bastante. Coloquei-as no meu violão Munhoz, que se adaptou muito bem, mantendo suas características timbrísticas. Todas as cordas estão muito bem equilibradas, característica importantíssima para um encordoamento profissional, inclusive a corda Sol que, em algumas marcas, é mais apagada. Possui bom brilho nas notas agudas das cordas primas e bordões com graves bem definidos. As cordas apresentaram boa durabilidade, mantendo a afinação e a qualidade sonora no decorrer de um mês. É claro que devem ser tomados alguns cuidados para não ocorrer um desgaste excessivo, como passar um pano seco sobre as cordas após o uso, evitando assim a oxidação dos bordões, que é causada pelo suor das mãos. Esse encordoamento possui uma boa relação qualidade/preço e é indicado tanto para violonistas populares como para eruditos.

Diâmetro

1.E

2.B

3.G

4.D

5.A

6.E

polegadas

0.029

0.033

0.041

0.029

0.036

0.044

milímetros

0.74

0.84

1.04

0.74

0.91

1.12

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Ficha Tecnica

Modelo: Titanium Color Fabricante: Giannini Pró: equilíbrio Contra: não é tão extra pesada assim Preço sugerido: R$ 15,00 Garantia: 3 meses Timbre .................. Brilho ................... Sustentação .......... Qualidade do som . Volume ................. Definição .............. Durabilidade ......... Custo-benefício .... Quer falar com o autor da matéria? Cristiano Petagna: cpetagna@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Giannini - www.giannini.com.br e-mail: marketing@giannini.com.br * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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9,0 9,0 9,0 9,0 8,5 9,0 9,0 8,5

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Testes Por Miguel De Laet

O

fato de encontrar um instrumento Roxy Guitar e acreditar que se está frente a frente com um violão brasileiro de alta qualidade não é algo para se espantar. O que parece ser, para alguns entusiastas de marcas tradicionais, um sacrilégio, pode ser interessante para o músico que procura um bom instrumento e não quer gastar muito. O projeto nasceu da necessidade de se fazer um bom instrumento com preço acessível para os músicos brasileiros. Comparado ao valor de um Martin, os violões Roxy Guitar estão realmente mais em conta, mas é importante lembrar que não existe a pretensão de disputar mercado com os instrumentos da faixa de preço de um Martin. É um violão inspirado na série Road da fabricante norte-americana. O violão analisado foi o modelo RGN0001, instrumento de cordas de náilon que segue o formato ‘folk’, apostando em linhas mais retas, fugindo do formato tradicional clássico concebido pelo pai do violão moderno, Antonio Torres. O RGN0001 possui tampo sólido em spruce, lateral e fundo em laminado de três camadas de mogno, escala e ponte em jacarandá e tensor no braço. Quanto ao acabamento,

Foto: divulgação

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos mais competentes profissionais do mercado.

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os mais críticos poderão encontrar algumas rebarbas, mas elas não prejudicam em nada o visual do instrumento, que conta com um belo mosaico e uma pintura com verniz sem brilho, ‘satin’, que dá ao instrumento o charme da série Road. Ele possui um som bem equilibrado, com graves encorpados, médios consistentes e agudos cristalinos. Quanto a sua projeção acústica, não possui muito volume. Mesmo assim, associado com o seu timbre equilibrado, impressiona quando comparado a instrumentos de sua faixa de preço, podendo inclusive ser utilizado em trabalhos de estúdio se utilizado com um bom jogo de cordas. Quanto a sua dinâmica de performance, o Roxy responde bem, mantendo qualidade sonora satisfatória, sem comprimir ou abafar demais o som. Em termos de versatilidade, o modelo acústico pode ser utilizado por estudantes e profissionais para tocar desde peças eruditas a estilos populares (bossa, MPB, pop), porque o seu som é bem definido e não embola quando se toca em bloco e/ou muitas notas. Um detalhe merece ser destacado em relação a sua captação. Por não se tratar de uma linha fabricada em grande quantidade, a escolha da captação é customizada, dando ao cliente a oportunidade de escolher a opção

Ficha Tecnica Modelo: RGN0001

Fabricante: Roxy Music Indicado: estudantes e profissionais Prós: oferece boa tocabilidade e um ótimo timbre Contra: pequenas falhas no acabamento Garantia: 12 meses Preço sugerido: de R$ 1.000, a 2.000, (dependendo da captação) Acústica................ Desempenho ........ Acabamento .......... Extras.................... Custo-benefício ....

9,0 8,5 8,0 8,5 8,5

Quer falar com o autor da matéria? Miguel De Laet: migueldelaet@msn.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Roxy Music: (11) 3064-2858 www.roxymusic.com.br * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

que melhor se enquadra às suas necessidades e ao seu bolso. A mais acessível é a opção equipada com captação Artec (circuito ativo com equalização de três bandas, volume e presença). Testado em um amplificador Meteoro Acoustic V70, ele se mostrou um bom violão para músicos que necessitam de um instrumento prático, com boa sonoridade para tocar na noite e com pegada MPB. Para aqueles que buscam a excelência na captação e podem desembolsar um pouco mais, a dica é equipá-lo com o captador Fishman Prefix Pro. Quem detesta ajustar equalização no instrumento pode usar o Fishman Natural 1, que dispensa a necessidade de ‘abrir uma janela’ na lateral do violão, porque o circuito vem pré-equalizado (além disso, sai mais em conta que o Prefix Pro). Sua tocabilidade é boa e o instrumento segura bem a afinação. O braço é macio e, mesmo com a ação alta, responde bem. Lembrar que a ação das cordas pode ser regulada de acordo com o gosto do músico.

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Na Estrada LUTHIER SAMUEL CARVALHO

EAGLE CH-889

EAGLE CH-800

eu violão é do luthier Samuel Carvalho, nº 239. Ele possui tampo de abeto, faixa lateral e fundo Gonçalo Alves, escala de ébano e braço de cedro. Eu o encomendei como guitarra (‘violão’ em espanhol) flamenca e, através das combinações das madeiras, o violão obteve um resultado sonoro com pouco ‘sustain’, que se aproxima do som seco e bastante percussivo, uma característica peculiar da música flamenca. Outra qualidade é o trançado duplo das cordas no cavalete, permitindo uma menor distância entre a escala e as cordas, facilitando os golpes no tampo que são protegidos por um escudo ou ‘golpeador’ (uma película adesiva de acrílico). Eu me dedico não só ao repertório do flamenco, como também ao violão solo brasileiro. Por isso, a preocupação do luthier foi construir um instrumento em que eu pudesse transitar pelas duas escolas violonísticas. Utilizo encordoamento D’Addario Pro Arté EJ44 Ultra Hard Tension, que responde bem à pegada do flamenco (sem trastejar) e às várias nuances da música brasileira. Meu violão superou todas as minhas expectativas. Recomendo a todos os violonistas que desejam se profissionalizar a investirem num instrumento construído artesanalmente, de bom resultado sonoro e personalizado.

O que mais me impressionou neste Eagle foi o som. O acabamento é rico em pequenos detalhes que criam mais apego ao violão. Na época em que o adquiri, estava realmente precisando de um instrumento que não pesasse no bolso. Acabei pesquisando e encontrei a Eagle. Lembro que as cordas que vieram com ele não eram de fábrica (normalmente, da marca D’Addario). Eu o comprei com cordas Martin, que eram excelentes. Quanto às características, ressalto que os harmôni-

instrumento tem um braço relativamente largo com 19 trastes e foi construído para suportar uma boa tensão. Sua caixa de ressonância possui um corte para facilitar o alcance das notas mais agudas no braço. O acabamento das tarraxas é de qualidade, com destaque para a cor dourada e para a facilidade de articulação das engrenagens. O Eagle CH-800 possui captação ativa e sonoridade limpa e encorpada. Quando ligado no amplificador, os timbres médios e graves apresentam bastante nitidez, ideal para quem toca base em MPB (bossa nova, samba, baladas). É um intrumento versátil e pode ser utilizado em apresentações e gravações. Na equalização dos graves, possui a função ‘Boost’, que confere corpo e amplitude ao som amplificado. Pode-se atingir bons timbres para solos, dependendo da equalização utilizada. Utilizo cordas da marca Augustini Imperials, que influenciam bastante na qualidade do timbre e na captação. É um instrumento ideal para quem é da área popular e acompanha um cantor ou uma banda.

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Marca: Luthier Samuel Carvalho Modelo: Nº 239 Fotos: arquivo pessoal

Para fazer a seção Teste na Estrada, a Violão PRO optou por publicar análises de músicos que vivem e trabalham diariamente com o instrumento aqui mostrado. Analise seu violão e envie para nós. As melhores análises serão publicadas. Os critérios para publicação serão: qualidade das informações, experiência e crítica. Anote: ajuda@musicaemercado.com.br, aos cuidados do Editorial Violão PRO.

Músico: Maicol Agiani maicolagiani@terra.com.br Informações: samuelcarvalholth@hotmail.com

Marca: Eagle Modelo: CH-889 Músico: Pedro Fernando Lopes Mendes e-mail: pedrolopesme@gmail.com Informações: www.eagleinstrumentos.com.br E-mail: charlie@goldenguitar.com.br cos são bastante nítidos e altos. Como eu estava acostumado com os braços de violões clássicos, tive medo de que a adaptação para um instrumento com braço típido dos folks fosse demorada, mas me impressionei com a rapidez com que me acostumei. A única reclamação que tenho é uma coisa boba. O ‘slot’ da bateria tem um encaixe muito justo e é quase impossível tirar ela com o dedos por causa da pressão feita pela tampa de plástico que a segura. Mas nada que uma chave de fenda ou a ponta de uma faca não resolvam. Todo o violão recebeu uma camada fina de verniz, permitindo que o mesmo tenha um bom visual e sonoridade. Tinha medo de que esse violão tivesse o som fechado, como se fosse uma caixa de sapato, mas ele não é assim.

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Marca: Eagle Modelo: CH-800 Músico: Caio Guilherme de Oliveira Braga e-mail: caiobraga@ig.com.br Informações: www.eagleinstrumentos.com.br E-mail: charlie@goldenguitar.com.br

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Memoria

Adeus, mestre Por Roberta Cunha Valente

o dia 26 de maio, a música brasileira deu adeus a Dino 7 Cordas, um dos mais importantes violonistas brasileiros de todos os tempos. Criador de um estilo particular de tocar os contracantos no violão de sete cordas, as famosas baixarias, e de acompanhar choros e sambas, ele influenciou praticamente todos os violonistas de sete cordas que o sucederam. Faleceu aos 88 anos.

N

O violonista e compositor Horondino José da Silva, o Dino 7 Cordas, nasceu no Rio de Janeiro em 5 de maio de 1918. Filho de violonista amador, Dino começou a tocar ainda na infância e iniciou sua carreira profissional na adolescência, acompanhando o cantor Augusto Calheiros no circo. Em 1936, Dino foi convidado para integrar o regional do grande flautista Benedito Lacerda, ao lado de Canhoto e, pouco depois, do violonista Jayme Florence, o Meira, com quem formou uma das maiores e mais duradouras duplas de violão de todos os tempos. Nos anos 40, Pixinguinha entrou para o grupo. Ficaram famosas as gravações desse período: Benedito na flauta e Pixinguinha no saxofone, fazendo o contraponto que Dino transportaria anos depois para o violão de sete cordas. Seus irmãos também tocavam: Jorge, no pandeiro, e Lino, no cavaquinho. Jorginho Silva, como se tornou conhecido, é um dos maiores pandeiristas do país. O único filho de Dino, Dininho, também é músico. É contrabaixista e trabalha com Paulinho da

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Choro perde Dino 7 Cordas, uma lenda do violão brasileiro Viola há muitos anos. Dino admirava o violonista Tute (Artur de Souza Nascimento), que tocava com Pixinguinha e usava um violão de sete cordas, com a sétima corda, de violoncelo, afinada em Dó. Quando o violonista morreu, Dino foi à loja Bandolim de Ouro e encomendou um violão igual ao de Tute, com o qual passou a fazer sucesso. Desenvolveu apurada técnica, criou um estilo e virou referência no instrumento. “O que define o violão de sete cordas não é a corda a mais, mas sim sua singular maneira de tocar. A principal característica do setecordas é o emprego das baixarias, as frases de contracanto improvisadas nos bordões e que são utilizadas no samba, no choro e em outros gêneros. Pois Dino é o principal criador desse estilo, ao inventar uma nova e arrojada linguagem para o instrumento, oferecendolhe lugar de destaque na música brasileira”, explica o também violonista e pesquisador Luis Filipe de Lima, em depoimento para a jornalista Nana Vaz de Castro. Em 1951, Canhoto, Dino e Meira resol-

O que Dino usava • Violão 7 cordas Do Souto* • Tampo em pinho • Escala em ébano • Cordas Piramid Gold • 7ª corda: usava a 4ª corda de violoncelo da marca Piramid • Dedeira do Julinho *Os violões Do Souto são fabricados pela casa Ao Bandolim de Ouro, que fica na Avenida Marechal Floriano, 52, no centro do Rio. Os telefones de lá são (21)2233-2396 e 2233-2567. Fonte: Lucília (Bandolim de Ouro)

Veja a transcrição das baixarias de Dino 7 Cordas, na música Alvorada, na página 56

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Quatro discos fundamentais para ouvir Dino 7 Cordas Vibrações – Jacob e seu conjunto Época de Ouro, RCA, 1967 Elizeth Cardoso – com Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e Época de Ouro, MIS (relançado em CD pela Biscoito Fino), 1968 Cartola – Cartola, Marcus Pereira, 1974 Raphael Rabello & Dino 7 Cordas - Raphael Rabello & Dino 7 Cordas, Kuarup, 1991

Fotos: Leo Aversa

veram formar um novo grupo, o Regional do Canhoto, o mais famoso de seu tempo. Eles acompanhavam Jacob do Bandolim constantemente, mas não conseguiam arrumar tempo para ensaiar em função da agenda lotada do grupo, que era disputado por todos os grandes cantores. A última participação do Regional do Canhoto com Jacob está no LP Na Roda de Choro, gravado em março de 1960. Então Jacob resolveu montar um grupo fixo e convidou Dino para participar. Esse grupo recebeu o nome de Época de Ouro, em atividade até hoje. Na década de 60, época da Jovem Guarda e do rock, Dino tocou guitarra para sobreviver. Sempre deu aulas, e teve alunos famosos, como Raphael Rabello, com quem gravou um belíssimo disco em 1991. Dino acompanhou todos os grandes cantores, compositores e instrumentistas da música popular brasileira. Só pra citar alguns: Carmen Miranda, Pixinguinha, Orlando Silva, Elizeth Cardoso, Francisco Alves, Cartola, Chico Buarque, Paulinho da Viola, João Bosco, Beth Carvalho, Marisa Monte e Elis Regina. Como compositor, Dino fez músicas lindas, como Pastora dos Olhos Castanhos (com Alberto Ribeiro), lançada originalmente por Silvio Caldas e regravada, recentemente, por Paulinho da Viola. Outro grande sucesso foi o samba Aperto de Mão (com Jayme Florence e Augusto Mesquita), gravado por Isaurinha Garcia.

Chorões lembram Dino “Para mim, Dino foi mais do que um mestre. Foi um músico genial que inventou a história de seu próprio instrumento. O desenvolvimento da linguagem do violão de sete cordas, que existe no Brasil desde os primeiros anos do século XX, ganhou impulso graças a Dino, a partir do início da década de 1950. Por meio de suas centenas de gravações, ele tem sido o professor de diversas gerações de violonistas. Não há sete-cordas que não tenha aprendido a tocar ouvindo discos e ‘tirando os baixos’ de Dino. Costumo dizer que, se fôssemos fazer justiça ao pé da letra, todos os sete-cordas deveriam repassar alguma comissão de seus cachês ao mestre, criador de rica e definitiva fraseologia ao instrumento. Agora que ele se foi, é preciso pagar royalties à sua memória.” Luis Filipe de Lima (RJ) “Dino me influenciou demais. Ele punha a música em primeiro lugar, tinha o violão a serviço dela. Era muito econômico, sabia sempre o que estava fazendo, com extremo bom gosto. Nunca fiz aulas com ele, mas éramos vizinhos e, de vez em quando, ele me passava alguma coisa. Dino é um espelho para todos os violonistas.” Carlinhos 7 Cordas (RJ) “Dino é o pai do sete-cordas. Mesmo sem conhecê-lo, ele foi meu professor. O que me chamava mais atenção no seu jeito de tocar era sua pegada da mão direita e a precisão dos baixos que conduziam o ritmo da música e davam todo o suporte para o solista. O contracanto de seu violão me remetia aos

contrapontos do Pixinguinha. Em uma ocasião me apresentei no Rio, e Dino estava entre os convidados, o que me deu uma certa tensão e receio de tocar na frente de meu professor. No que se refere a choro, o Dino para mim é a maior referência, sempre me inspirei no seu estilo.” Zé Barbeiro (SP) “Dino, professor maior do violão de sete cordas, está acima de qualquer comparação. Eu, aos treze anos, já sofria influência do Dino. Estudava copiando as baixarias do mestre. Todos os sete-cordas do mundo estão órfãos.” Luisinho 7 Cordas (SP) “Acho que a maior lição do Dino é que ele consegue a façanha de se destacar sem nunca invadir o espaço dos outros instrumentos ou do cantor. Ao contrário, ele os valoriza. Suas gravações são clássicas não só porque ele toca muito bem, mas porque ele faz os outros tocarem e cantarem melhor.” Marcello Gonçalves (RJ) “Não posso negar que a minha influência direta em relação ao sete-cordas foi o nosso saudoso Raphael Rabello. No entanto, confesso que o mestre Dino também teve uma participação muito grande na minha formação como violonista de sete-cordas. Ele sempre foi e sempre será uma importante referência para esse instrumento.” Bozó (PE) “Dino criou a cara do contraponto brasileiro e a escola do violão de sete cordas do Brasil. Ele deu dignidade aos bordões.” Yamandu Costa (RS)

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Entrevista

Marcus Tardelli Por Fábio Carrilho

iolonista raro, de senso musical apurado e total domínio técnico sobre o instrumento, Marcus Tardelli é uma das grandes surpresas do violão brasileiro. Talvez, para alguns, o seu talento não seja uma novidade porque, durante quatro anos, ele fez parte do ótimo Quarteto Maogani, grupo carioca que faz um belíssimo trabalho desenvolvendo arranjos e explorando sonoridades do violão.

V

Decidido a se lançar em carreira solo, Tardelli deixou de lado o violão requinto que tocava no Maogani e aceitou o convite de Guinga para gravar um CD só com músicas do compositor carioca. O fruto dessa parceria intérprete/compositor pode ser conferido no impressionante CD Unha e Carne, lançado recentemente pela gravadora Biscoito Fino. Nele, Tardelli mostra seus arranjos de violão solo para as músicas de Guinga – que inclusive produziu o álbum – e esbanja musicalidade nas suas interpretações, com um fraseado limpíssimo, muito suingue e profundidade nas faixas mais introspectivas. A Violão PRO entrevistou Marcus Tardelli, que falou sobre esse lançamento e também sobre a maneira como encara a música e o violão de um modo geral. > Como surgiu a idéia de gravar um CD de violão solo inteiramente com músicas de Guinga? Acho que minha sina sempre foi a de tocar

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Unha e Carne: Marcus Tardelli e a musica de Guinga violão solo mesmo. Eu vinha tocando em outros trabalhos e há algum tempo estava procurando idéias e um repertório para um CD meu. Conheci o Guinga em 2001, por

“Acho que nem tudo tem de ser diferente para ser bom. O arranjador tem de ter essa preocupação e respeitar a música do compositor.” meio do Maogani. Ele percebeu alguma coisa diferente no meu jeito de tocar e quis me ver tocando sozinho. Toquei alguns arranjos meus de músicas dele e ele gostou muito, ficou emocionado mesmo. Ele me disse então que tinha a idéia de gravar um CD de violão solo, interpretando suas músicas, mas que abriria mão de fazer esse álbum se eu topasse gravá-lo. Um tempo depois, esse convite

acabou se concretizando e eu aceitei na hora. O Guinga é considerado o maior compositor do Brasil dos últimos 20 anos. Inclusive, acho que ele é mais compositor do que violonista, e olha que ele toca muito bem. Ele também tinha sido muito pouco gravado em violão, embora tudo o que componha sempre passe por esse instrumento. > O que a música do Guinga significa para você? É uma das coisas mais originais da música brasileira. Ele consegue sintetizar na sua música todas as tendências, como o choro e a valsa brasileira, e tem uma influência nordestina, tudo isso em uma linguagem harmônica muito própria e com um pouco de influência até de Villa-Lobos. Sinto até mais influência da música erudita – que é mais forte na música brasileira – do que do jazz. Além dessa originalidade, há três coisas que acho fundamentais na música dele: a beleza das melodias, intui-

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Fotos: Custódio Coimbra

Os Equipamentos usados em “Unha e Carne” • Violão Lineu Bravo – luthier de Conceição do Mato Dentro (MG). “Foi esse o violão que ganhei de Guinga”, diz Tardelli. • Violão Manuel Contreras – Edição especial de 1999 • Cordas Augustine Imperial • Unhas: “Não as deixo muito grandes. Tenho um som mais de polpa e gosto de sentir o dedo nas cordas. Ela é apenas para acabamento final. Muitas vezes, dobro o polegar para evitar a unha e conseguir sons mais graves e abafados. Uso unhas arredondadas”.

tivas e muito inspiradas, a profundidade da música e o seu significado, que são os lugares para onde ela te leva. > Como foi ter o Guinga como produtor? Ele me disse o seguinte: “Faça o disco do jeito que a sua alma pedir. Faça os seus arranjos, escolha o repertório que você quiser”. Fiz questão de que ele estivesse presente nas gravações. Esse disco representa bem a relação do intérprete com o compositor. Às vezes, os intérpretes não têm a sorte ou a oportunidade de ter o compositor ao seu lado na hora de fazer o disco. Imagine fazer um disco de Villa-Lobos tendo o próprio ao seu lado, acompanhando tudo. Fiz os meus arranjos, mas sempre acompanhado por ele e isso somou muito. O Guinga diz que, quando estamos juntos, um acaba incentivando o outro. As composições dele me incentivam a tocar violão e a fazer arranjos. Ele diz que o meu violão o incentiva a compor. Até apareceu uma música quando estávamos acabando de gravar o disco fruto dessa relação.

> Essa música foi Unha e Carne. Como você recebeu esse presente? O Guinga esteve presente nas gravações, mas não acompanhou detalhadamente todos os takes. No dia em que ele ouviu o disco inteiro, ficou muito emocionado. Foi para casa, compôs essa música de madrugada e levou no dia seguinte ao estúdio. Ele me deu dois presentes ao mesmo tempo: a música Unha e Carne, que eu acabei gravando e serviu de nome para o CD, e o violão dele, que eu tinha usado nas gravações. Era o violão de que ele mais gostava. Ele me disse: “Depois que você gravou este disco com o meu violão, esse violão é seu. Não posso mais ficar com ele”. Só ganhei presentes neste CD! > Como você pensou os arranjos das músicas? Procurei dar à música do Guinga uma versão orquestral no violão solo, de modo que o violão pudesse dar conta de tudo. Nunca me enquadrei em uma escola de violão. Comecei de maneira autodidata e sempre gostei muito

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Marcus Tardelli

mais de música do que de violão, apesar de amar o instrumento. Ouvia mais discos de orquestras e de outras formações do que discos de violão. De modo geral, tive poucas influências das escolas de violonistas. Para produzir determinados sons, as minhas mãos foram se desenvolvendo de uma forma que eu sabia que não era permitida pela técnica tradicional de violão. Por exemplo, uso o polegar da mão esquerda o tempo todo para fazer algumas harmonias e também melodias que, com a técnica tradicional, eu não conseguiria fazer. Às vezes, você quer deixar um acorde parado com a mão esquerda, de quatro notas, e o dedo polegar pode ser usado para mover outras notas, sem aquele acorde parar de soar. É como se você pegasse o pedal do piano e continuasse tocando outras notas. Penso sempre em usar uma técnica em favor da música. Nunca coloquei barreiras do tipo: “Isso é impossível de tocar”.

“Guinga me deu dois presentes ao mesmo tempo: a música Unha e Carne, que eu acabei gravando e serviu de nome para o CD, e o violão dele, que eu tinha usado nas gravações.”

> Como você fez para manter a essência das músicas e ainda assim mostrar o seu lado de arranjador? Acho que nem tudo tem de ser diferente para ser bom. O difícil é não ser redundante tocando uma coisa igual e, ao mesmo tempo, não ficar em uma invencionice, indo para um outro lado. Sempre me perguntava, quando estava criando uma introdução para as músicas dele, se eu estava sendo o Guinga também. O arranjador tem que ter a preocupação e respeitar a música do compositor. > O CD conta com dois ‘medleys’, um de baiões e outro de frevos. Por que optou por esse formato? Em relação aos baiões, sempre senti uma influência nordestina muito forte na música do Guinga, principalmente dos baiões. Os

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motivos musicais dos baiões são muito interessantes. Separei alguns deles, acrescentei algumas coisas na perspectiva desses temas e quis transformá-los em uma coisa violonística, explorando uma ‘cama’ percussiva no instrumento, o suingue, a mão direita. Busquei insinuar uma orquestra de sopros, principalmente nos frevos, com as vozes entrando uma após a outra, um tema que começa com duas notinhas e termina com várias vozes. Apesar dessa intenção rítmica, também trabalhei bastante as harmonias nesses ‘medleys’. > Você é um autodidata e mesmo assim possui um som muito limpo e uma grande técnica. Como desenvolveu a sua técnica? Sempre ouvi muitos discos de orquestras.

Quando a orquestra é boa, a afinação e a execução são muito limpas, assim como o acabamento da música. Isso influenciou muito a minha sonoridade no instrumento. Ouvi também alguns instrumentistas – não ouvi demais – e gostava do som deles, como o Julian Bream. Também gostava do Raphael Rabello, pela naturalidade com que ele tocava os sambas e pelo seu suingue. Para mim, depois do Baden Powell, o Raphael foi o grande violonista solo da música popular em sua época. Quando ouvia algum violonista, sempre me ligava mais no lado da expressão e não no da técnica. A técnica e a velocidade são maravilhosas. A pessoa que tem facilidade com o instrumento possui um dom divino e isso deve ser respeitado. Mas o cara também não pode virar escravo da técnica. As minhas influências são mais musicais do que violonísticas.

> Você tem alguma rotina de estudos? Nunca fui um cara muito disciplinado. Quando comecei a tocar, cheguei a ter aulas com um professor erudito, mas sabia que o meu caminho era o da música popular. Sempre tirei muita coisa de ouvido. Eu morava em Petrópolis (RJ) e não lia muita partitura – e lá, também, não havia muitas partituras. Tirava muita coisa de discos e fitas e das rádios e depois tocava junto. Mais tarde, quando fiz faculdade de música, aí sim fui começando a ler partituras. Mas eu tinha uma fome para tocar que acabava tirando tudo de ouvido. Os professores não gostavam muito. Quando tinha uns 9 anos, ganhei um disco do Dilermando Reis. Meu pai diz que minha fome era tanta que eu tirei o disco inteiro em apenas duas semanas.

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Dedilhando com

Marcus Tardelli

Marcus Tardelli nunca se encaixou em escola alguma de violão. Talvez por isso ele seja tão genial. A seguir, Tardelli comenta alguns trechos de seus arranjos de violão do CD Unha e Carne. Um bom desafio para o leitor é tentar realizar as aberturas em que Tardelli usa o dedo polegar para tocar os baixos dos acordes. Boa sorte, você vai precisar! “O Ex.1 é um trecho do meu arranjo

Marcus Tardelli e sua técnica de polegar para fazer os baixos dos acordes para Cine Baronesa. Nele, eu apresento um dos novos recursos da minha técnica de tocar: o uso do polegar da mão esquerda. Neste exemplo, o polegar foi usado para um maior alcance na extensão do acorde e ao mesmo tempo para compor a harmonia completa deste F#m6. Eu uso o polegar na frente do braço do violão junto com os outros dedos (veja a foto). No segundo com-

passo, o polegar fica os três tempos no baixo (Si bemol) e logo depois o polegar cai parar o Fá sustenido do próximo acorde.” “O Ex.2 é um trecho do meu arranjo para a música Dichavado. Nele, eu aplico uma técnica de mão direita para causar a sensação de dois violões tocando ao mesmo tempo, um solando a melodia e outro acompanhando com uma levada sobre a melodia sem prejudicá-la.”

Sites: www.orkut.com/ Community.aspx?cmm=10864314 www.marcustardelli.com.br

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Leni Andrade L e Rom R ero e Lubambo L

Lua do Arpoador (Biscoito Fino) Tocar em duo tem sido uma constante na carreira do violonista carioca Romero Lubambo. Radicado em Nova York desde 1985, ele já realizou trabalhos sensacionais nessa formação com a cantora Luciana Souza, com o vituose do violão Raphael Rabello e com o grande pianista César Camargo Mariano. Seu mais novo trabalho é o ótimo CD Lua do Arpoadorr (Biscoito Fino), em que seu violão dialoga com o envolvente vozeirão de Leni Andradre. Não é a primeira vez que os dois trabalham juntos. Eles já haviam lançado o CD Coisa Fina (Perfil Musical) em 1994. Em Lua do Arpoador, Romero e Leni mostram um en-

trosamento perfeito nas 13 faixas do CD, uma seleção primorosa de músicas de Moacyr Luz, Ivan Lins, Durval Ferreira, Toninho Horta, Carlos Lyra e Baden Powell, entre outros. Podemos destacar algumas, o samba No Pedaço, de Moacyr Luz e Sérgio Natureza, em que Romero mostra sua levada inconfundível, sofisticada e percussiva, e Aqui,Oh!, de Toninho Horta, em que Leni dá uma aula de interpretação sobre a atmosfera criada pelos acordes do violão de Romero. Em Influência do Jazz, de Carlos Lyra, os ‘scats’ de Leni e os improvisos jazzísticos de Romero dão o clima. Fábio Carrilho

Marcos Davi

Composições para Violão Brasileiro (Editora Som) O violonista gaúcho Marcos Davi foi muito elogiado pelas composições e in-

terpretações no seu CD de estréia, Criação, de 2004. Para fechar esse trabalho com chave de ouro, Davi lançou recentemente o livro Composições para Violão Brasileiro - Choro, Samba, Valsa e outras Invenções (Editora Som), com transcrições dos seus arranjos para as músicas do CD Criação. O material do livro é bem organizado, com transcrições claras e comentários do próprio violonista em cada uma das músicas sobre as técnicas de composição utilizadas e a sonoridade desejada. Segundo o autor, este livro é tecnicamente indicado para estudantes de nível médio e avançado. O CD Criação acompanha o livro, o que permite uma compreensão maior das intenções musicais de Marcos Davi. Ígor Rocha

Lo que Vendrá reúne releituras de clássicos de Astor Piazolla, Joaquín Rodrigo e Radamés Gnatalli. Em Tonadilla para dos guitarras, de Rodrigo, o duo divide entre si cantos de exaltação e expressivos rasqueados no gênero musical tipicamente espanhol para o violão. Brasiliana no. 8, de Gnatalli, presta uma homenagem à rica herança da música popular brasileira, enquanto os arranjos de Lo que Vendrá e Escolaso representam bem a notável contribuição de Sérgio Assad na transcrição das obras de Piazolla. Corta Jaca e Valsa, que fecham brilhantemente o CD, fazem parte da Suíte Retratos, composta em 1957 por Gnatalli. Fábio Carrilho

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Violao Gaucho

Milongueando um pouco Conheça a milonga, ritmo característico da cultura gaúcha

A

milonga é um ritmo pertencente à cultura gaúcha, ou seja, encontra-se nos países onde existe essa cultura: Argentina, Uruguai e Brasil. No Brasil, a milonga está especificamente no Rio Grande do Sul, mas está em fase de aculturação no Paraná e em Santa Catarina, bem como no Mato Grosso do Sul. A milonga é um ritmo binário, mas há musicólogos que apresentam sua raiz provinda da Espanha, como um ritmo em 3/8 alternado com um 3/4. Mas essa já é outra questão. Existem vários tipos de milonga: a Pampeana (ou Campeira Lenta), a Corralera, a Fogoneira, a Uruguaia, a Arrabalheira e a Fronteiriça, sem falar no que ainda não foi catalogado. Isso porque se trata de folclore, que é muito dinâmico. Seria quase impossível de enumerar tantas variações. Um aspecto muito importante desse estilo é que ele tem caráter improvisatório, podendo assim ser modificado ritmicamente, harmonicamente e melodicamente, entre inúmeros aspectos. Dificilmente alguém sairá dessa lição sendo

um profundo conhecedor da milonga (um milongueiro!). Apresento uma pequena amostra dessa forma de expressão tão singular, que é o elo entre as ‘pátrias gaúchas’. A milonga que iremos conhecer nos exemplos a seguir é a Pampeana (ou Campeira Lenta). Ex. 1: Esta figura repete-se por toda a milonga, como uma base rítmico/harmônica e pode ser variada nas formas a seguir. A harmonia é simples, neste caso ficam subentendidos os acordes de Lá menor e Mi maior (I e V graus da escala menor harmônica). Deve-se tocar com um andamento lento. Ex. 2: Nesta figura temos o acréscimo de uma nota na linha superior, o que nos dá uma polirritmia. Nos demais exemplos, apresento variações dessas linhas superiores, o que nos propiciará uma maior riqueza musical. O executante poderá testar a sonoridade da milonga substituindo os compassos marcados com * na música Milonga Pampeana nº 2 pelos seis exemplos apresentados anteriormente. Grande abraço a todos!

Maurício Marques é violonista gaúcho formado na UFPEL (Universidade Federal de Pelotas). Lançou em 2003 o disco Cordas ao Sul, em que desenvolveu trabalhos em violão de oito cordas. Sua música é voltada ao folclore do Rio Grande do Sul e traz ritmos como milonga, chamamé e xote, além de choros e sambas. Trabalha atualmente em seu novo disco, Violão de Fole, e é o novo integrante do Quarteto Maogoani. Visite o site www. mauriciomarques.com.

Ex. 1

Ex. 2

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Violao Gaucho Ex. 3

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100

Milonga Pampeana no.2

Maurício Marques

BV...........................................

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Transcricao

Giselle

Heraldo do Monte

Uma bela música do CD Cordas Vivas

G

iselle é um choro do guitarrista e violonista Heraldo do Monte composto em homenagem à sua filha. O tema é muito gostoso de se tocar ao violão, porque possui linhas melódicas muito bem construídas e uma harmonia ótima para improvisar, com algumas modulações que proporcionam ao improvisador um excelente campo de possibilidades de criação. Esse choro é dividido em duas partes, A e B. Após a exposição do tema, ele volta sempre à parte A, que é o segundo compasso da música escrita. Note que a melodia começa em anacruse e, por isso, voltamos sempre ao compasso 2,

que é o inicio da parte A do choro. A primeira vez que tive contato com esse choro foi ouvindo uma gravação do grupo Zimbo Trio com o próprio Heraldo Do Monte. O disco foi gravado em 1978 pelo selo Clam Discos e tem o nome Zimbo mais Heraldo do Monte. O álbum é uma jóia não só pela participação do Heraldo como convidado, que é surpreendente, mas também por esse choro, que é maravilhoso. Vale destacar também todo trabalho do Zimbo Trio, que é uma referência de bom gosto e swing, que vale a pena ouvir e prestar atenção. Boa sorte e muita música a todos.

Giselle

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Rudy Arnaut é guitarrista, violonista, arranjador e compositor. Atualmente ele tem o seu projeto musical solo e outro com o quarteto instrumental Luz de Emergência. É supervisor do Departamento de Cordas do CLAM – escola de música do Zimbo Trio. É autor de diversos métodos para guitarra e violão. rudyarnaut@gmail.com Heraldo do Monte

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Compondo

Cada tom e um universo Foto: Chris Knack

Chico Saraiva

Explorando as cordas soltas

E

screvi para vocês uma valsa bem introspectiva, chamada Incerteza. Ela apresenta o desenho de sua melodia explorando bastante as cordas soltas do violão no tom de Sol# menor. Cada tonalidade é um universo com possibilidades diferentes. Quanto menos explorada for a tonalidade no repertório tradicional (Sol# menor, por exemplo, é pouco usual em peças de violão solo), mais segredos a serem descobertos ela reserva a nós violonistas, já que as relações entre as cordas soltas e os combinações melódico/harmônicas mudam completamente. Veja só. No tom de Lá menor, a corda Si solta é a nona e a corda Mi solta é a quinta. Já no tom de Sol# menor, a Si é a terça menor e a Mi solta é uma sexta menor com sabor eólio. Na medida em

que a harmonia vai caminhando para outros graus, mais e mais novidades se apresentam. Essas relações são significativas para uma música composta para violão porque, quando montamos acordes envolvendo cordas soltas, trazemos uma plenitude de harmônicos para o violão que pode ser muito expressiva para o violonista de boa técnica. Essa valsa, assim como diversas composições minhas, é peça de violão e canção ao mesmo tempo. Ela foi gravada em versão instrumental no meu primeiro CD, Água, e como canção em meu segundo CD, Trégua. Quem quiser sentir um pouco do clima da música pode acessar o site http://chicosaraiva.com.br/oshow.htm, onde há um vídeo com um trecho dela. Espero que vocês gostem. Um abraço!

Incerteza

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Chico Saraiva é violonista e possui dois CDs solo lançados: Água (1999) e Trégua (2004). Formado em violão pela Unicamp, ele foi o vencedor do Prêmio Visa 2003 Edição Compositores. Atualmente ele também integra o grupo A Barca. Visite o site www. chicosaraiva.com.br.

Chico Saraiva e Luiz Tatit

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7 Cordas

Homenagem a Dino 7 Cordas Remo Pellegrini

O

sete-cordas tem um jeito bem particular de se apresentar em arranjos de samba e choro. Essa linguagem se deve, principalmente, ao Dino 7 Cordas. Vamos ver a baixaria que ele faz para Alvorada, música do primeiro disco de Cartola, de 1974. Esse disco é importante para a história do sete-cordas, porque Dino tocou e fez todos os arranjos. O resultado é maravilhoso! Normalmente, transcrições de baixarias como essa, de um trecho de Alvorada, só apresentam baixos e cifras. Na hora de ler, devemos acrescentar a levada (de samba, no caso) sempre que as frases repousam em notas longas, montando o acorde com a nota (a tal nota longa) no baixo. O começo já é uma levada de samba em Eb(6,9) com baixo em Sib e depois em Mib; em seguida, um cromatismo caindo em Fm/Ab e por aí vai...

A primeira grande lição que se pode tirar desta partitura é dar o recado sem atrapalhar a compreensão da voz principal. Dino vem marcando o tempo e, quando aparece um silêncio, manda uma frase. Ou, então, desenha uma frase no mesmo ritmo da voz de Cartola, como esse primeiro cromatismo que acompanha a palavra ‘alvorada’. Às vezes, algumas frases até coincidem, mas a tendência é sempre buscar os espaços deixados pela voz. Com essas dicas, você já tem material suficiente para criar suas próprias baixarias. Não se preocupe com escalas – nesse arranjo, Dino usou somente os modos relativos aos acordes, seus arpejos e cromatismos. Se você tentar imaginar frases ouvindo a harmonia, provavelmente elas vão respeitar as mesmas regras. Em outras aulas, a gente volta a falar sobre os acompanhamentos do mestre. Bom trabalho.

Alvorada 76

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Foto: divulgação

As baixarias de Dino em Alvorada são um exemplo de sua genialidade

Remo Pellegrini é violonista e tem se especializado no violão de sete cordas. Graduado em música na Unicamp, atua como violonista solo, compositor e integrou o show Junina, de André Hosoi. Em 2005, concluiu um estudo sobre os acompanhamentos de Dino 7 Cordas em seu mestrado e, atualmente, vem se apresentando com o grupo Tem Galega no Samba e no show Caetano Canta Tudo. E-mail: remo@falandomusica.com.br

Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho

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Improviso

Padroes Melodicos Rudy Arnaut

Grandes idéias de improvisação do sax de Charlie Parker para o violão

T

odo músico que gosta de improvisar deve estar aberto a idéias novas para enriquecer seus improvisos e, assim, conseguir se expressar melhor através deles. O saxofonista Charlie Parker, um dos criadores do gênero jazzístico ‘bebop’ no pós-guerra, influenciou a maneira de improvisar de praticamente todas as gerações de músicos que o sucederam, inclusive violonistas e guitarristas. Seu fraseado, sua articulação e principalmente a sua rítmica são, até

hoje, material de estudos para qualquer instrumentista interessado em improvisação. Selecionei algumas idéias, inspiradas em Charlie Parker, que podem ser muito úteis no repertório de frases de qualquer violonista. Procure tocá-las em todos os tons e aplicar cada uma dessas frases sobre temas do seu repertório. O objetivo aqui não é imitar Charlie Parker, mas utilizar essas idéias como inspiração para novos caminhos em seus improvisos. Bons estudos!

Rudy Arnaut é guitarrista, violonista, arranjador e compositor. Atualmente ele tem o seu projeto musical solo e outro com o quarteto instrumental Luz de Emergência. É supervisor do Departamento de Cordas do CLAM – escola de música do Zimbo Trio. É autor de diversos métodos para guitarra e violão.rudyarnaut@gmail.com

Ex. 1

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Choro

Magoado

Foto: divulgação

Alessandro Penezzi

A música é uma das mais belas e conhecidas composições de Dilermando Reis

O

lá, pessoal. Neste mês tocaremos Magoado, um dos mais belos e conhecidos choros de Dilermando Reis. Primeiro vamos conhecer esse compositor, que foi um grande ícone do violão brasileiro. Paulista de Guaratinguetá, Dilermando iniciou seus estudos de violão com o pai e, depois, com o legendário Levino da Conceição, com quem, mais tarde, excursionou por todo o país. Ele gravou seu primeiro disco em 1940 com as composições Noite de Lua, uma valsa, e Magoado, um choro. Consagrado por sua sensibilidade na interpretação e dono de um timbre inconfundível, Dilermando tirava das cordas de aço um som cheio, belo, bem ornamentado, rico em ‘vibratos’ e ‘pizzicatos’. Foi grande intérprete de Américo Jacomino (o Canhoto) e João Pernambuco. Teve extrema importância na popularização do violão como instrumento solista, num tempo em que o público preferia

Magoado

80

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o canto. Gravou mais de 25 LPs, dezenas de discos de 78 RPM e alguns volumes do álbum Uma Voz e um Violão em Serenata, em parceria com o cantor Francisco Petrônio. Dentre seus alunos, destacam-se Bola Sete, Darci Villaverde e o presidente Juscelino Kubitscheck. Faleceu em 1977, aos 61 anos. O arranjo a seguir é baseado numa gravação em que Dilermando é acompanhado por Meira (Jaime Florence). Nesse choro, o segundo violão tem um papel muito especial porque, além de amparar a melodia com a levada e as habituais baixarias, contribui fazendo o dueto com o solista no início da segunda parte. Acrescentei alguns baixos e notas de harmonia para manter o efeito de dois violões do compasso 13 ao 15 e do 18 ao 24. Aconselho a utilização das digitações sugeridas, principalmente em relação às cordas soltas, para dinamizar os saltos da mão esquerda. Bom estudo!

Alessandro Penezzi é violonista e atualmente toca no grupo Choro Rasgado. Graduado em violão popular pela Unicamp, já tocou com Yamandu Costa, Guinga, Hamilton de Hollanda, Beth Carvalho e Dona Inah, entre outros nomes da música brasileira. Visite o site www. alessandropenezzi.com.br.

Dilermando Reis Arranjo: Alessandro Penezzi

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1x 0

Pixinguinha

Clássico do choro que exige técnica em dia

E

ste choro é uma das composições de Pixinguinha mais exigentes do ponto de vista técnico do instrumentista. Isso porque 1x0 possui uma melodia com muitos saltos e arpejos e um andamento bem acelerado. A digitação sugerida nesta transcrição situa-se na região entre as casas 5 e 7 do instrumento, com todas as notas tocadas presas. Você pode experimentar tocar 1x0 também na primeira posição, utilizando cordas soltas, como fazem vários violonistas. Fique atento à forma da música. Ela é dividida em três partes (A, B e C), como a maioria

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dos choros tradicionais. É importante respeitar as repetições de cada parte da música. Sua forma está escrita da seguinte maneira: AABACCA. Antes de tocar a melodia, procure tocar apenas a harmonia seguindo todas as repetições. Depois tire a melodia usando o metrônomo em um andamento bem lento. Assim que a melodia estiver tirada, suba o andamento até chegar ao andamento proposto na partitura. Este choro, além de ser muito bonito, serve como um ótimo estudo técnico para qualquer violonista. Boa sorte e muita música a todos.

Rudy Arnaut é guitarrista, violonista, arranjador e compositor. Atualmente ele tem o seu projeto musical solo e outro com o quarteto instrumental Luz de Emergência. É supervisor do Departamento de Cordas do CLAM – escola de música do Zimbo Trio. É autor de diversos métodos para guitarra e violão. rudyarnaut@gmail.com

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, - Musicais SI-mbolos e Notacoes

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Classificados

ALESSANDRO PENEZZI (Beth Carvalho, Yamandu, Época de Ouro, Joel Nascimento, Hamilton de Holanda, Guinga, Q. Maogani, Zé Menezes, etc.)

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www.solez.com.br

Solid Sound

41 3373-2521

www.solidsound.com.br

Sound Captadores

11 3781-1043

www.malagoli.com.br

Tessarin Luthier

15 3284-2546

atessarin@uol.com.br

Visão

11 6601-3727

www.visaopedestais.com.br

Wolf Music

11 3088-5964

www.wolfmusic.com.br

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• Julho / 2006

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