Violão Pro #5

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VIOLÃO PRO SETEMBRO | 2006

ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

A HORA DO VESTIBULAR

HÉLIO DELMIRO

Confira as faculdades que oferecem o curso de violão e veja como se preparar para as provas

•Meu Caro Amigo (Francis Hime e Chico Buarque) •Estudando escalas em um contexto musical •Chorinho pra Ele (Hermeto Pascoal) •Esperando (Hélio Delmiro) •O papel do violão seis-cordas •Dr. Sabe Tudo (Dilermando Reis)

23 PÁGINAS

DE TÉCNICA TRANSCRIÇÕ E ES

CONFIRA OS TESTES •Giannini GWNC 1/7 •Yamaha C40 •Eagle DH69 •Cordas SG Cristal

A volta do gênio 12 perguntas para os luthiers

IRMÃOS FONTANA

HÉLIO DELMIRO superentrevista, equipamentos e curiosidades

NICANOR TEIXEIRA Entrevista com o mestre do violão

Violão PRO•2006•Nº 5•R$ 8,50

WWW.VIOLAOPRO.COM.BR

ARPEJOS Choro

Desenvolva sua técnica com os exercícios desta lição exclusiva

bate-papo com o ROGÉRIO CAETANO Um virtuose do sete-cordas Capa_Violao5+lombada.indd 1

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Editorial Aos poucos, mas caminhando! lá, amigo leitor de Violão PRO. É com imenso prazer que escrevo pela primeira vez o editorial desta revista. Quando o Daniel me convidou para editá-la, há mais ou menos cinco meses, ele me propôs o seguinte desafio: fazer uma revista que se torne referência quando o assunto for violão brasileiro. A número 1 já tinha saído e a revista tinha um esboço do seu formato. Apesar de ter relutado um pouco, assumi essa tarefa como um grande objetivo. Obviamente, não seria possível fazer isso sozinho. Convidei para colaborar comigo dois grandes músicos amigos meus, o Vinícius Gomes e a Roberta Valente, que viraram verdadeiros conselheiros na sugestão de pautas e de idéias para a revista. Para a seção de lições, eu precisava de colaboradores de peso e convidei alguns dos melhores violonistas do País, que toparam de imediato colaborar conosco. Nessa breve trajetória de Violão PRO, temos recebido um retorno muito bom do nosso trabalho, tanto de leitores quanto da classe musical, o que me faz acreditar estar no caminho certo para atingir aquele objetivo inicial. Mas temos muito a melhorar, não me dou por satisfeito. Na capa desta edição temos a honra de ter Hélio Delmiro, um dos meus grandes ídolos e certamente de vários leitores da Violão PRO. Longe dos holofotes nos últimos tempos, Hélio vem reconquistando espaço após ter lançado em 2004 Compassos, seu mais recente CD. Com muita simpatia e atenção, ele nos falou da sua carreira, da sua concepção musical e de como encara a música instrumental atualmente. Falamos também com outra grande figura do violão brasileiro, o mestre baiano Nicanor Teixeira. Aos 78 anos, ele é um dos maiores compositores do violão brasileiro e – atenção, editoras - acaba de preparar uma nova coleção de peças violonísticas. No choro, entrevistamos o goiano Rogério Caetano. Esse virtuose do violão de sete cordas lançou recentemente Pintando o Sete, um grande CD autoral de estréia. Você sabia que o curso superior de violão lidera o ranking dos mais procurados nas faculdades de música brasileiras? Pensando nisso, elaboramos um guia completo comentado dos principais cursos de cada Estado para você não ter dúvidas de onde estudar. Na seção de lições, temos como destaque a matéria especial de arpejos elaborada pelo violonista Gilson Antunes, além dos novos colaboradores Douglas Lora, Lula Gama e Thomas Howard. Boa leitura e espero que gostem! Fábio Carrilho

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Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima Editor Técnico Fábio Carrilho Redação Regina Valente - MTB 36.640 Reportagens Gilson Antunes, Marcos Nascimento, Roberta Cunha Valente e Vinícius Gomes Lições Alessandro Penezzi, Douglas Lora, Gilson Antunes, Lula Gama, Rudy Arnaut, Thomas Howard e Vinícius Gomes Edição de Partituras Rudy Arnaut

Testes Cristiano Petagna, Miguel De Laet e Rudy Arnaut Departamento Comercial Marina Markoff e Eduarda Lopes Administrativo / Financeiro Carla Anne Direção de Arte Dawis Roos Impressão e Acabamento Gráfica PROL Foto de Capa Daniel Neves

Fotos Daniel Neves e divulgação

Edição 4: Marco Pereira, Edelton Gloeden, João Castilho, Luthier Tessarin, Euclides Marques & Luizinho 7 Cordas, testes e muito mais!

Publicidade Anuncie na Violão PRO comercial@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.violaopro.com.br e-mail ajuda@musicamercado.com.br

Distribuição exclusiva para todo o Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A • Rua Teodoro da Silva, 907 - Grajaú • CEP: 20563-900 - Rio de Janeiro / RJ Tel.: (21) 2195-3200 Assessoria: Edicase Soluções para Editores

Violão PRO (ISSN 1809-5380) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Redação, Administração e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 - Brooklin Novo - São Paulo / SP. e-mail: violaopro@musicamercado.com.br

Esta revista apóia

O que ouvimos nesta edição Artista: Hélio Delmiro | Título: Compassos Comentário: Um dos maiores guitarristas do mundo esbanjando classe neste CD sensacional. Ainda não escutou? Pois devia.

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Artista: Rick Udler | Título: Papaya Comentário: O violonista americano mistura Baden Powell, Jimi Hendrix e a suavidade de Paulinho Nogueira. O resultado: um dos CDs autorais mais legais do ano.

Artista: Euclides Marques e Luizinho 7 Cordas Título: Remexendo Comentário: Na edição passada, publicamos uma entrevista exclusiva com essas duas feras. Até agora não conseguimos parar de escutar esse maravilhoso CD.

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Indice ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

MATÉRIAS

28 Helio Delmiro Entrevista exclusiva com esta grande figura da música brasileira

16 Nicanor Teixeira Um encontro com o mestre

SEÇÕES 4 Editorial

20 Arpejos Melhore sua técnica

8 Cartas

38 Rogério Caetano Virtuose do sete-cordas

10 Strings

42 Irmãos Fontana Produzindo ótimas violas

37 Na Estrada

34 Testes

66 Classificados

45 Vestibular Está chegando a hora

66 Índice de

Publicidade

48 Lançamentos Rosa Passos, Duo Assad e Henrique Pinto

TESTES

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Giannini 7 cordas GWNC 1/7 Acabamento, sonoridade e relação custo-benefício excelentes

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SG Cristal Bronze Tensão Alta e SG Cristal Prata Tensão Alta Encordoamento tem bons timbres, brilho e volume

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Yamada C40 e Eagle DH69 Duas ótimas opções para iniciantes

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38 Rogério Caetano

LIÇÕES E TRANSCRIÇÕES 49 Alessandro Penezzi Dr. Sabe Tudo

52 Douglas Lora Estudando escalas em um contexto musical

54 Thomas Howard Meu Caro Amigo

58 Lula Gama O papel do seis-cordas

Na Estrada Takamine G-116 Yamaha CPX-8

60 Rudy Arnaut Chorinho pra Ele

63 Vinícius Gomes Esperando

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Cartas Edições Anteriores Não encontrei as edições anteriores da revista e gostaria de saber como faço para adquiri-las. Daniel Elias Sauss Curitiba/PR Daniel, para conseguir as edições anteriores ligue no (11) 5103 0361.

João Castilho

Venha aprender a incrível arte de construir instrumentos acústicos com o luthier Régis Bonilha. Violões: nylon, aço, 6, 7 e 12 cordas; viola, bandolim e outros.

Caros amigos da Violão PRO, não encontrei outra forma de sanar minha dúvida senão enviando-lhes esta mensagem. Na edição de agosto, fiquei em dúvida quanto ao violão fotografado com o João Castilho? Parece ser um McPherson, mas esta marca não foi listada nos instrumentos que ele usa. Obrigado! José Borges Lorena/SP José, o violão que o João Castilho aparece na foto é um Tacoma RM6C Roadking.

Tel.: (11) 5083.1560 • Visite nosso site: www.superguitarra.com.br/bh

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Comentários Acho que em alguns pontos a revista podia ser

Rua Guaraiúva , 644 CEP: 04569001 - Brookli n Novo São Paulo / SP e-mail: ajuda @violaopro.c om.br ajuda@music amercado.co m.br

mais direcionada a quem curte violão sem ser expert no assunto. Mostrei a publicação para três alunos e senti que eles acharam a Violão PRO muito específica. Minha sugestão é que vocês coloquem uma ou outra matéria mais pop. Fernando Zdanowicz São Paulo/SP

Corrigindo Alguns deslizes da edição passada: • O guitarrista João Castilho é endossado exclusivamente pela SG Strings. • Na lição de Rudy Arnaut, Técnica com Pentatônicas, desconsiderar a frase “Por exemplo, em um acorde de C, se a pentatônica começar na 5J, tocaremos as notas Sol, Lá, Si, Ré e Mi, que incluem a 7M, 9M e #11 do acorde, criando o mesmo efeito do modo lídio” . O correto é “Por exemplo, em um acorde de C, se a pentatônica começar na 2M, tocaremos as notas Ré, Mi, Fá#, Lá e Si, que incluem a 7M, 9M e #11 do acorde, criando o mesmo efeito do modo lídio”. Tudo esclarecido!

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EQUIPAMENTOS, MÚSICOS, ENQUETES, SHOWS E NOVIDADES DO GRANDE MUNDO DOS VIOLÕES!

REGISTRO HISTÓRICO exemplo da Trama, a gravadora Biscoito Fino assinou uma parceria com a TV Cultura para o lançamento em DVD de edições históricas do programa Ensaio, dirigido por Fernando Faro. O primeiro lançamento será o programa gravado pela cantora Nara Leão (1942-1989) em 1973, que foi inteiramente filmado em película. Nara aparece acompanhada apenas de seu violão e fala da sua convivência com os colegas João Gilberto, Roberto Menescal, Chico Buarque, Caetano Veloso e Maria Bethânia. Entre um pergunta e outra de Faro, a eterna musa da bossa nova encanta o telespectador com clássicos de Assis Valente (Fez Bobagem), Dorival Caymmi (Morena do Mar), Nélson Cavaquinho (Luz Negra), Lamartine Babo (Cantores do Rádio) e, obviamente, de Chico Buarque e Tom Jobim.

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FOLIA DE RITMOS multinstrumentista paulistano Marquinho Mendonça sempre foi apaixonado por ritmos. Desde que se formou em guitarra pelo Musicians Institute de Los Angeles, há 15 anos, ele estudou percussão latina, pesquisou ritmos regionais, tocou na banda de forró Mafuá, aprofundou seus estudos de violão, bandolim e cavaquinho e tocou em vários regionais de choro. Todo esse caldeirão de informações está reunido em seu ótimo CD de estréia, Filosofolia (Independente). Em dez composições inéditas e duas leituras de gêneros tradicionais, Marquinho passeia pelo jazz e pelo flamenco e dá um caráter progressivo e universal a seus choros, frevos, baiões, cocos e jongos. Grandes músicos como Proveta, Naná Vasconcelos, Renato Braz e Laércio de Freitas participaram das gravações. Visite o site www.marquinhomendonca.com.br.

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Fotos: divulgação

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PRÊMIO NA AMÉRICA repertório clássico de Bach, Sor e Scarlatti e, mais recentemente, a obra de autores brasileiros, têm sido material de trabalho do brilhante Brasil Guitar Duo, formado pelos violonistas Douglas Lora e João Luiz. Seguindo a tradição do lendário Duo Abreu e dos irmãos Assad, a dupla começa a ganhar projeção no cenário internacional de violão. Eles venceram a edição 2006 da Concert Artists Guild International Competition, tradicional concurso de música norte-americano que já premiou o violonista Manuel Barrueco e o Los Angeles Guitar Quartet. Além do dinheiro, eles ganharam o agenciamento por dois anos de concertos pelos Estados Unidos e pela Europa. Parabéns, rapazes!

O que eles tocam

De leitor para leitor Qual sua rotina de estudos?

“C

omeço aquecendo a mão direita com exercícios do Carlevaro. Em seguida, gosto de fazer os estudos de arpejos 1, 2 e 7 do Carcassi (o estudo nº 1 eu faço com apoio). Também faço os estudos 1, 2 e 3 do Ulisses Rocha e o Estudo nº 1 do Villa-Lobos. Para alongar a mão esquerda, toco Desvairada, do Garoto, por causa dos ligados e arpejos em extensão. Depois, toco com CDs de choro e samba, para pegar as baixarias e harmonias.” Wilson Gabriel de Lima Oliveira

“N

a verdade não tenho uma rotina. Hoje tenho estudado muito repertório de jazz. Tenho ouvido bastante o Wes Montgomery, para pegar a linguagem de jazz na guitarra, e muita coisa de trio, tipo o do Pat Metheny e do John Scofield, porque tenho tocado nessa formação ultimamente.” Daniel Andreotti

“E

studo umas seis horas por dia. Começo com duas horas de técnica, tanto para mão direita quanto para mão esquer-

da. Gosto dos estudos de Tárrega e Carcassi - cada dia escolho uns três ou quatro estudos e fico trabalhando em cima deles. Daí eu vou para o repertório. No momento, estou estudando Odeon (Ernesto Nazareth), Abelhas (Augustín Barrios) e Choro nº 2 (Garoto). Depois estudo improviso - tiro as melodias de CDs de jazz e improviso em cima delas. E para finalizar, estudo choro – tiro os baixos e as obrigações de CDs de choro e crio variações sobre o que eu tirei.” André Luiz Moura Nunes

Participe desta seção. Escreva para contato@violaopro.com.br e responda: “Como fazer para motivar alunos?”

Fotos: divulgação

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uem assiste aos shows de Egberto Gismonti deve se perguntar como ele consegue extrair sons tão belos daquele seu violão de dez cordas. Com a palavra, o próprio Gismonti: “Experimento violões há muitos anos. O que uso durante apresentações é um violão de dez cordas do luthier japonês Mitsuru Tamura. Para tocar com orquestras uso dois minimicrofones instalados dentro da caixa do violão. Para tocar solo, em dueto ou em formações pequenas, prefiro um microfone externo.”

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violonista Henrique Pinto é um dos grandes nomes da pedagogia brasileira do violão e vários de seus ex-alunos são nomes de destaque no cenário violonístico, inclusive internacional. Como todo grande mestre, ele não dispensa um ótimo instrumento. “Meu violão é um Sérgio Abreu de 1988. As cordas que uso são as Giannini alta tensão e as Augustine Regal”, disse ele à Violão PRO.

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Strings JAZZ BRASILEIRO a estrada há quase 40 anos, o guitarrista Cláudio Celso teve como um de seus primeiros desafios substituir Heraldo do Monte em apresentações com o Zimbo Trio. Nos anos 70, ele se mudou para os Estados Unidos, onde dividiu trabalhos com Jaco Pastorius, Chet Baker, Paquito d’Rivera, Arturo Sandoval e Naná Vasconcelos, entre outros grandes instrumentistas. Seu som classudo, com um pé no jazz e outro nas raízes brasileiras, pode ser ouvido no seu mais recente CD, o ótimo Swell (Maritaca). Nele, Celso apresenta composições suas, como Tomatoes e Hades, e belas releituras de Bye Bye Brasil, de Chico Buarque, e So Many Stars, de Sérgio Mendes. Participaram das gravações grandes instrumentistas, como o violonista Swami Junior, o trompetista Daniel D’Alcântara e o vibrafonista Beto Caldas. Se você se amarra em guitarra jazz, vale a pena ir atrás desse lançamento.

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VIOLÃO PANTANEIRO aulista de nascimento mas sul-matogrossense de coração, o violonista Gabriel Sater não poderia deixar melhor impressão com seu primeiro CD, Instrumental (Independente / Cacto Records). Apesar de jovem, Gabriel mostra maturidade e grande técnica ao violão em composições que passeiam por choro, tango, chamamé, valsa e polca paraguaia, evocando paisagens e atmosferas pantaneiras dentro de uma linguagem pessoal e bem contemporânea. Duas composições do gênio do violão paraguaio Augustín Barrios, Jha Che Valle e Arabesco, foram gravadas em Instrumental. Segundo Gabriel, seu próximo passo será um CD de canções, com lançamento previsto para o final do ano. Restanos torcer para que ele não abandone sua veia violonística, porque talento ele já mostrou que tem bastante.

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Strings MÚSICA DO MUNDO violonista, compositor e cantor Carlinhos Antunes é especialista em misturar ritmos do mundo. Em seu mais recente CD, Carlinhos Antunes e Orquestra Mundana (Lua Music), ele explorou sonoridades árabes, africanas, latinas e brasileiras, fazendo um belo retrato de sua vivência musical – ele morou em Marrocos e já tocou em mais de 30 países. Para se ter uma idéia, o choro Lamentos, de Pixinguinha, ganhou um arranjo surpreendente com ritmos arábes. Carlinhos, que também toca viola, charango, cuatro, kora e percussão no CD, partiu em agosto para mais uma série de shows e oficinas de música na Europa. Ele aproveitará essa passagem pelo velho continente para gravar um CD com o músico francês Pascal Lefeuvre, que toca viola de roda com o brasileiro nessa turnê. Confira a agenda completa do músico no site www.carlinhosantunes.com.br. Fotos: divulgação

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TUDO SOBRE BADEN alvez nenhum músico brasileiro possua um site tão bem elaborado e rico em informações quanto Brazil on Guitar (www.brazil-on-guitar.de), dedicado ao gênio do violão Baden Powell. Lá você encontra tudo sobre o músico. Se quiser pesquisar sobre sua discografia, por exemplo, encontrará, além de todos os seus trabalhos solo, todas as coletâneas e discos de outros artistas em que ele participou, com as capas e fichas técnicas originais. Agora, a melhor parte, sem dúvida nenhuma, são as transcrições das gravações originais de Baden. São cerca de 40 músicas, como Samba em Prelúdio, Tempo Feliz e outros clássicos, em formato MIDI e PDF, todas bem escritas, em partitura e tablatura. E o melhor de tudo é que é grátis! Há ainda uma seção com fotos de todas as fases da carreira do músico e diversos links interessantes. Saravá, velho Baden!

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Violao Brasileiro

Aos 78 anos, Nicanor Teixeira organiza livro de composições e continua firme na arte de ensinar violão Por Marcos Nascimento

Nicanor Teixeira é um simpático senhor da cidade de Barra do Mendes, do sertão da Bahia. “Não confundir com a cidade de Barra, perto do rio São Francisco”, advertiu o mestre. Logo no início da conversa, ele tocou Sarabanda, música que está na coleção de peças que acabou de organizar, Nicanor Teixeira – 18 Peças para Violão Solo. O músico está em busca de uma editora para lançá-la comercialmente – por enquanto vende a coleção pessoalmente para seus admiradores e alunos. Com o material em mãos, ele me disse carinhosamente: “Qualquer dúvida que você tiver pode me ligar ou vir aqui. Um bemol ou sustenido faltando, às vezes algo na digitação que precisa ser modificado...”. Em 2001, Nicanor ganhou um belo presente dos amigos violonistas, o ótimo CD Nicanor Teixeira por 28 Grandes Intérpretes (Rob Digital),

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uma tarde de segunda feira, Violão PRO teve o privilégio de bater um papo com um dos maiores compositores vivos do violão brasileiro. Como o definiu Turíbio Santos: “Nicanor

representa a síntese exata de uma erudição musical aliada a mais pura tradição popular do violão no Brasil. Seu virtuosismo como intérprete lhe permite, seguindo o exemplo de Agustín Barrios e João Pernambuco, uma grande liberdade de criação em seu instrumento. A sua obra tanto interessa ao estudante de violão como ao concertista, pela riqueza técnica e inventiva musical”.

que contou com a participação de grandes nomes como Turíbio Santos, Cláudio Tupinambá, Maria Haro, Guinga, Jodacil Damasceno, Nicolas Barros e até Egberto Gismonti e seu filho Alexandre Gismon-

O que Nicanor usa • Violão Do Souto 1990 • Cordas Augustine Regal, Giannini Profissional e Segóvia. ti. Apesar de suas composições terem sido gravadas por vários violonistas ao longo da carreira do compositor, este é o primeiro CD lançado com músicas exclusivamente suas. Confira a seguir a conversa descontraída que essa grande figura do violão brasileiro teve com Violão PRO.

> Violão PRO - Como surgiu a sua vocação para a música? Nicanor Teixeira - A vocação não dorme. Eu era um garoto com meus sete anos e comprei no bazar da minha cidade uma flautinha de boca com seis furos, por 200 réis. Não tinha sustenido, mas a gente dava um jeito. Naquele instrumento rústico, tive meu primeiro contato com a música. > Conte mais sobre esse início. Com nove anos ganhei um cavaquinho de papai e costumava assistir, pela janela, as aulas de cavaquinho do meu vizinho. Certo dia, o professor dele me desafiou a mostrar se havia aprendido alguma coisa. Já estava na alma, nada acontece por acaso. Aos 12 anos, ganhei meu primeiro violão e comecei a estudar por conta própria, utilizando o método de Américo Jacobino, o Canhoto.

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Violao Brasileiro Naquela época, não tinha esse negócio de graduação em violão. Nós estudávamos pela intuição. Quando muito, pelos métodos antigos e olhe lá. Aprendi um Lá menor e um Ré maior com um sujeito da minha cidade. O resto eu fui garimpando sozinho. Aos 13 anos, já tocava em festas e bailes. Acompanhava o famoso sanfoneiro João Benta. Papai custou a me liberar para tocar nos bailes. Eu era menino ainda, tinha de chegar de madrugada e ele ficava preocupado. > Como foi a sua mudança para o Rio? Foi no dia 20 de janeiro de 1948. Cheguei aqui às 10 da noite, na Central do Brasil. Estava com 20 anos. Fui me hospedar numa casa de cômodos, na rua Senador Pompeu, perto da Central. Ela está lá até hoje, era um hotel e, do outro lado, tinha um sótão que alugava vaga para rapazes. Sabe como o nordestino é desbravador... Queria ver os famosos regionais, as rádios, ter contato com toda aquela gente que ele ouvia falar na minha terra. > Como foram suas aulas com Dilermando Reis? Em 1951, comecei a freqüentar as aulas coletivas de violão que Dilermando Reis ministrava em sua casa, sempre aos domingos. Logo na primeira aula, mostrei minhas composições. Os alunos riam de mim pela maneira que eu usava o polegar, parecido com o do Dilermando. Tanto Dilermando quanto eu tínhamos um polegar muito vigoroso quando feríamos os bordões. Foi com Dilermando que ampliei meu universo musical. Dilermando era um bom professor. Agora, o aluno tinha de ser um bom observador também. Com o violão na mão, você tinha que olhar a mão dele e fazer igualzinho. Era assim que a gente aprendia.

Discografia O Violão Brasileiro de Nicanor Teixeira Independente (LP), 1977 Nicanor Teixeira por 28 Grandes Intérpretes Rob Digital, 2001

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“Dilermando era um bom professor. Agora, o aluno tinha que ser um bom observador também. Com o violão na mão, você tinha que olhar a mão dele e fazer igualzinho. Era assim que a gente aprendia” Ele tirava muito som daquele violão de aço. Ele tocava muito bem, o violão cantava mesmo. Tocava Barrios, Pernambuco e composições suas. Tive aulas com ele até 1954. > Qual foi o problema com o seu dedo indicador? Foi mais ou menos em meados da década de 60. De repente, o indicador começou a não obedecer ao comando do cérebro. A memória tátil começou a falhar. O médico receitou uns calmantes. Na Europa há violonistas com este problema. Fiz muita fisioterapia. Não

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tina. As Folias de Reis, as festas religiosas, as novenas com velas de cera, as cantorias, os sanfoneiros do sertão, os tocadores de rabeca, toda aquela mistura da música profana e a religiosa. E também a música de Bach, um compositor muito presente em minha vida, que me inspirou muito.

cheguei a parar totalmente, fiz tratamentos, mas não consegui voltar a enfrentar o público de novo. Meu indicador nunca mais foi o mesmo. > Quando começou a compor? Aos 15 anos já tinha feito uns chorinhos, ainda lá em Barra.

> Quais violonistas o senhor admira atualmente? Cada um toca dentro do seu estilo. É difícil falar. O Turíbio Santos tem uma cultura

> Qual a fonte de inspiração para suas composições? A música da minha terra, a música nordes-

Quem e Nicanor Teixeira O violonista e compositor Nicanor Teixeira nasceu em 1º de junho de 1928, em Barra do Mendes, interior da Bahia. Aos três anos, sua família se mudou para Barro Alto, onde o menino cresceu ouvindo os violeiros que passavam rumo às festas de Bom Jesus da Lapa. Com nove anos, ganhou do pai um cavaquinho e aos doze foi presenteado com o seu primeiro violão. Estudou o instrumento por conta própria, pelo método de Américo Jacomino, o Canhoto. Em 1948, ele veio para o Rio de Janeiro e entrou para o serviço militar, onde conheceu o sambista Nélson Sargento. Foi aluno de Dilermando Reis de 1951 a 1954 e fez parte da sua Orquestra de Violões. Em 1952, Nicanor foi premiado no programa de calouros de Ary Barroso. Três anos depois, largou seu trabalho no comércio para dedicar-se exclusivamente ao violão, quando passou a lecionar no Conservatório Musical do Rio de Janeiro, no Instituto Brasileiro de Cultura e Música e no Conservatório Brasileiro de Música. Nesse período, conheceu Oscar Cáceres e Turíbio Santos, ainda uma jovem promessa, além da grande violonista Maria Luiza Anido, que viraram seus amigos. No final dos anos 50, ele conheceu Jodacil Damasceno e Hermínio Bello de Carvalho, com quem participou de inúmeras noitadas musicais, acompanhando Zé Ketti, Clementina de Jesus, Ismael Silva, Aracy de Almeida e outros cantores populares. Em 1961, abriu em

sociedade com Mário Montenegro uma loja de música em Copacabana, que se tornou ponto de encontro de músicos cariocas e paulistas. Nessa época, surgiu um problema no seu dedo indicador direito, que obrigou o compositor a interromper sua carreira como violonista. Voltou a trabalhar no comércio durante o dia e à noite continuou lecionando. No início da década de 70 transcreveu a obra do violonista e compositor Othon Saleiro. Em 1977 gravou de forma independente o disco O Violão Brasileiro de Nicanor Teixeira, reunindo obras suas e interpretações para clássicos como Sons de Carrilhões, de João Pernambuco, e Doutor Sabe Tudo e Magoado, de Dilermando Reis. A partir de 1985, escreveu várias obras para o Quarteto Carioca de Violões, como Mariquinhas Duas Covas, hoje um clássico do repertório das orquestras de violões. O compositor possui várias peças editadas no Brasil, na França e Alemanha. Desde meados da década de 80, vem compondo em parceria com a poetisa Márcia Jacques. Sua obra vem sendo tocada por grandes intérpretes do violão brasileiro e internacional. Para Jodacil Damasceno, “a obra de Nicanor está destinada a perdurar como o trabalho de Tárrega e de Sor”. Para Oscar Cáceres, sua obra insere-se “numa longa e fecunda tradição violonística, que por suas características específicas designa o chamado violão brasileiro”. É, no entender de Turíbio Santos, o sucessor de João Pernambuco e Dilermando Reis, pelo porte de sua obra.

musical e violonística extraordinária. Gosto da Maria Haro, do Nicolas, do Pedrasoli e do Guinga, só para citar alguns. Tem muita gente nova tocando bem. Com o advento do bacharelado de violão, então, que não tinha no meu tempo, muita gente estuda e se forma com uma boa bagagem, cada um com o seu estilo. A música é justamente esta mistura. Um compõe assim, outro compõe de outra forma e assim vai. Todos são importantes no produto final. > O senhor tem um sonho ainda não realizado musicalmente? Editar e publicar toda a minha obra para violão e ver todas as minhas composições gravadas. > Qual o seu conselho para os novos estudantes de violão? Tirar uma boa sonoridade do instrumento e tomar cuidado com a correria! Virtuosismo não é correria. É suavidade. Não adianta querer ficar famoso pela rapidez na execução. Tocar um largo com excelente sonoridade vale mais do que um allegro sem expressão. O estudante deve tocar obras clássicas e de autores brasileiros, principalmente dos compositores antigos. Estudar bem a técnica é importante. Aprender sempre – a vida é um aprendizado eterno – e ter muita humildade.

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Tecnica

Por dentro

dos Arpejos

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Por Gilson Antunes

Roteiro de Estudo 1. Arpejos básicos 2. Abertura dos dedos da mão direita 3. Repetição do dedo polegar com os demais dedos da mão direita 4. Exercícios de acordes repetidos 5. Junção dos elementos

Gilson Antunes é violonista formado pela Guildhall School of Music and Drama (Londres - Inglaterra), além de mestre em musicologia pela USP e professor de violão do Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

A

palavra arpejo vem do italiano e significa ‘tocar à maneira da harpa’. Em livros ou partituras, você irá encontrá-lo sob várias denominações, como arpejo, harpejo ou arpeggio. No fundo, todas querem dizer a mesma coisa: tocar um acorde com as notas separadas ou de forma não-simultânea. No violão, seu estudo oferece o principal recurso técnico para o desenvolvimento dos dedos da mão direita. E o melhor: você pode estudá-los de várias formas, por exemplo, junto com ligados de mão esquerda, ou então com escalas, para aprimorar a coordenação de ambas as mãos. O estudo de arpejos, ligados e escalas é a trinca básica da técnica violonística. Outros recursos como trêmolos, rasqueados, mudanças de posição e acordes repetidos são basicamente variações desses elementos. Pizzicatos e harmônicos naturais e oitavados fazem parte de uma outra categoria de recursos.

Técnica pura ou técnica aplicada? O que praticar: técnica pura ou técnica aplicada? Essa discussão ainda existe entre os violonistas. Na dúvida, pratique as duas. Mas o que vem a ser isso? Técnica pura são aqueles exercícios técnicos básicos que visam puramente o desenvolvimento mecânico-musical, como os já citados arpejos, ligados e escalas. Técnica aplicada é separar trechos de músicas e estudar a mecânica das digitações a partir deles. Por exemplo, você pode separar compassos do Concierto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo, ou do Estudo de Concerto, de Agustín Barrios, para estudar arpejos e escalas. Se for estudar ligados, você pode escolher algum trecho da Chaconne, de Bach, ou do Estudo nº 3, de Villa-Lobos. Muitos violonistas acreditam que não importa qual método estudar, mas a forma como estudá-lo. Com isso, pegam exercícios de qualquer método que encontram pela frente e aplicam suas idéias e conceitos. Para o estudante, é sempre bom ter a orientação de um professor experiente. Mesmo assim, alguns métodos são preferidos pelos violonistas, como os de Abel Carlevaro (Caderno nº 2 – Técnica da Mão Direita) e Henrique Pinto (Técnica da Mão Direita – Arpejos), seguido pelo de Mauro Giuliani (Estudos opus 1), que priorizou a mão direita em praticamente toda a sua obra violonística. Mais recentemente, os métodos de Ricardo Iznaola (Kytharologus) e Pepe Romero têm sido muito utilizados. No entanto, são inúmeros os estudos de arpejos na bibliografia violonística.

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Tecnica

1. Arpejos Básicos Os Estudos para Violão opus 1, de Mauro Giuliani, apresentam alguns arpejos elementares para o desenvolvimento da mão direita. No Ex.1 proposto a seguir, Giuliani usou tercinas e apenas dois acordes (tônica e dominante). Você pode praticá-lo com diversas fórmulas para os dedos da mão direita, por exemplo, com p-m-i (invertendo a ordem das duas últimas notas de cada tercina).

Ex. 1

Mauro Giuliani

O Ex.2 trabalha com arpejos básicos de quatro notas, utilizando a fórmula p-i-m-a (polegar, indicador, médio e anelar), e faz parte do Método para Mão Direita, de Henrique Pinto. Inicialmente podemos usar a fórmula básica e decorar a estrutura da mão esquerda. Também é possível fazer escalas cromáticas nos bordões. Escolha as fórmulas que você irá praticar e lembre sempre de estudá-las semanalmente.

Henrique Pinto

Ex. 2

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Sempre que utilizamos alguma estrutura de mão esquerda ou mesmo acordes, estamos alterando a disposição das cordas em relação ao diapasão, o que modifica o ângulo de ataque da mão direita e gera uma dificuldade a mais a ser superada. No Ex.3 temos um trecho do Estudo nº 1, de Villa-Lobos, que é um exemplo perfeito disso: uma fórmula básica de mão direita que executa vários arpejos pouco comuns, tanto pela disposição dos seus acordes quanto pelos ângulos de ataque dos dedos da mão direita. Ex. 3

H. Villa Lobos

2. Abertura dos dedos da mão direita Após alcançar um determinado nível de desenvolvimento técnico, é bom começar a pensar em fórmulas pouco usuais dos dedilhados da mão direita. Por exemplo, algumas fórmulas com aberturas dos dedos (como dedo médio em abertura com o dedo indicador ou dedo anelar em abertura com o dedo médio). A última parte da peça La Espiral Eterna, de Leo Brouwer, é um bom exemplo disso. Para se estudar separadamente essa técnica há diversos exercícios nos métodos tradicionais, como o já citado opus 1, de Mauro Giuliani. Ricardo Iznaola apresenta diversos exercícios desse tipo no seu livro Kytarologus, um dos mais interessantes sobre técnica lançados nos últimos 20 anos. No Brasil, Henrique Pinto utiliza essa técnica de abertura a partir da fórmula 75 a 128 em seu livro Técnica da Mão Direita. Ex. 4

Henrique Pinto

3. Repetição do dedo polegar com os demais dedos da mão direita A repetição do dedo polegar com o uso de outros dedos aparece constantemente nas obras violonísticas e é um recurso a ser praticado e dominado pelos violonistas. Autores como Henrique Pinto, Abel Carlevaro e Emilio Pujol tratam especificamente desse assunto através de exercícios próprios. Abel Carlevaro apresenta exercícios desse tipo a partir da fórmula 13 de sua conhecida série didática para violão (caderno 2, técnica da mão direita). Um outro exemplo elementar parece entre as lições nº 42 e nº 49 do livro 2 de La Escuela Razonada de la Guitarra, de Emilio Pujol, o mais fiel discípulo e seguidor de Francisco Tárrega.

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Tecnica Ex. 5

Paulo Porto Alegre

4. Exercícios de Acordes Repetidos Muito se ganha tecnicamente com os exercícios de acordes repetidos. É uma maneira de praticar a independência e abertura dos dedos, projeção sonora, qualidade do som, clareza e relaxamento. Os exercícios de acordes repetidos são conhecidos dos violonistas principalmente pelo Estudo nº 4, de Villa-Lobos, e o último movimento da Sonata, de Alberto Ginastera. Nas duas peças é necessário dominar esse recurso para se tocar de forma precisa, com projeção, pulsação e flexibilidade. É recomendado que se estude com calma e de forma bastante relaxada, para não criar tensões desnecessárias no braço direito. Um dos capítulos do livro de Abel Carlevaro é justamente sobre isso. Antes de iniciar a fórmula nº 203, o mestre uruguaio diz para se tocar esses acordes sem arpejá-los, com claridade e destaque nas notas pulsadas pelo dedo anelar. Depois ele pede o mesmo para o dedo médio e, em seguida, para o dedo indicador.

Abel Carlevaro

Ex. 6

Quando se fala em acordes repetidos, exercitar o uso do dedo mínimo da mão direita é recomendável. Pouquíssimo usado até pelos violonistas eruditos, esse recurso pode ser de grande utilidade para acordes de cinco notas com aberturas como os usados na Valsa-Choro da Suíte Popular Brasileira, de Villa-Lobos, um grande adepto desse recurso técnico.

ficas Referências BibliográGu itarra – Cuaderno n.2

Didactica para Abel Carlevaro: Serie os Aires. Derecha, Barry, Buen – Técnica de la Mano rra, libro 2, editora Razonada de la Guita Emilio Pujol: Escuela ig. Ricordi Americana. o, Editions Max Esch 12 Estudos para Violã A. S/ lia ica us M Heitor Villa-Lobos: s, – arpejo cnica da Mão Direita Henrique Pinto: Té e. Cultura Musical. 1.a, B. Schott´s Sohn dien fur Gitarre opus etas. M s va No ra Mauro Giuliani: Stu ito para Violão. Ed os tud Es z De re: eg Paulo Porto Al

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Século XVIII • Prelúdio em Dó menor BWV 999 (J. S. Bach) • Fantasia em Ré maior (David Kellner) • Fantasia (S. L. Weiss) Século XIX • Rossiniana nº 1 Opus 119 (Mauro Giuliani) • Sonata opus 15 e estudos variados (Fernando Sor) • Elegie (J. K. Mertz) Século XX • Estudo nº 1 e Prelúdios nº 2 e nº 4 (Villa-Lobos) • Estudo nº 1 (Camargo Guarnieri) • Estudo nº 1 (Radamés Gnattali) • Prelúdio (Edino Krieger) • Estudo nº 1 (Paulo Porto Alegre)

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Tecnica

5. Junção de Elementos Após o estudo desses elementos separados, devemos então juntá-los em um mesmo exercício. Nesse estágio avançado de estudo, o violonista deverá buscar práticas que combinem fórmulas variadas (inclusive ritmicamente, com notas pontuadas) com os dedos indicador, médio e anelar, com repetições alternadas do dedo polegar e com acordes repetidos com aberturas dos dedos. Exemplos de exercícios com a combinação desses elementos podem ser encontrados a partir da fórmula 196 do livro de Henrique Pinto, intensificando-se até a fórmula 377 (Ex.7). Outro conhecido exemplo é o último exercício do livro de Abel Carlevaro (fórmula 230).

Henrique Pinto

Ex. 7

Esses são alguns dos principais exercícios da técnica de arpejos encontrados nos métodos mais conhecidos. Agora é só praticar. Mãos à obra!

Dicas importantes Antes de começar a prática de arpejos ou qualquer outro estudo de técnica, são necessárias algumas considerações:

• Todo exercício deve ser praticado inicialmente de forma lenta e gradual, até atingir a velocidade desejada. A velocidade é apenas mais um recurso da técnica e deve ser utilizada apenas quando necessária.

• É fundamental que o trabalho técnico seja constante e disciplinado.

• Planeje sempre o trabalho técnico e observe atentamente os objetivos a serem alcançados.

• Quanto mais se entende o que está praticando, melhor será o resultado do estudo.

• Utilize o metrônomo e faça tabelas com a lista dos estudos a serem praticados diariamente. Isso trará disciplina e praticidade.

• Toda e qualquer nota musical deve ser tocada com 'intenção’. A mecânica pela mecânica não trará resultado satisfatório, que é o fazer musical pleno. • A técnica começa e termina com a consciência do que você está fazendo. • A boa postura corporal é fundamental para um estudo mais seguro e prazeroso. Isso inclui desde o tamanho e altura do apoio do pé, até a posição das mãos e da coluna. • A matéria-prima básica da música é o som. • Quando praticamos uma técnica, estamos aprimorando, antes de tudo, as próprias ferramentas necessárias para nos expressarmos musicalmente. É fundamental, então, para o estudo de arpejos, que as unhas estejam bem aparadas e polidas.

• Lembrem-se de que, a cada uma hora de estudo, deve-se descansar 15 minutos antes de prosseguir. • É aconselhável fazer alongamentos antes e depois dos estudos violonísticos. Minha dica pessoal é que se pratique também ioga, por todo o ganho físico e mental que ela proporciona. • Após estudar os exercícios da maneira que estão escritos, experimente praticá-los variando as fórmulas rítmicas. Um estudo escrito em semicolcheias pode ser praticado, por exemplo, com semicolcheias pontuadas seguidas de fusas. • Trabalhe sempre a independência dos dedos, com acentuações de determinadas notas. Exercícios desse tipo foram tratados na edição nº 3 de Violão PRO.

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Capa

Em cena novamente! Após lançar o belo CD Compassos, em 2004, Hélio Delmiro retoma sua carreira e quer mais Por Vinícius Gomes

H

élio Delmiro é uma das grandes figuras da música brasileira, dessas que invariavelmente receberam muito menos reconhecimento do que mereciam. Ele foi responsável pelas guitarras e violões em grupos de artistas consagrados, como Elis Regina e Clara Nunes, e gravou um dos mais geniais discos instrumentais brasileiros de todos os tempos, Samambaia, com César Camargo Mariano. Isso já seria o suficiente para um currículo exemplar, mas sua carreira não pára por aí. Hélio já foi eleito um dos 5 melhores guitarristas do mundo pela revista Downbeat e teve como admiradores Baden Powell e Joe Pass. Nessa entrevista descontraída a Violão PRO, finalmente temos a oportunidade de conhecer a pessoa por trás do som. E que agradável surpresa! Senhoras e senhores, nós orgulhosamente apresentamos Hélio Delmiro!

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> Violão PRO - Como foi seu contato inicial com música? Hélio Delmiro - Comecei a tocar com 5 anos de idade, quando meu irmão encontrou um cavaquinho com uma corda só na Central do Brasil, aqui no Rio de Janeiro. Aí pintou a curiosidade e cheguei a tocar nesse instrumento Aquarela do Brasil, que naquela época (meados da década de 50) estava em evidência, com Ary Barroso aparecendo na televisão. Então meu irmão mais velho foi tocar violão em um programa infantil chamado Clube do Guri, na TV Tupi. Ele começou a tocar profissionalmente e trouxe para casa a ‘novidade’

dos acordes dissonantes, do início da bossa nova, que aprendia com o Luiz Roberto, do conjunto Os Cariocas. Nessa época eu já estava dedilhando o violão e, de início, estranhei aquelas mudanças de sonoridade nos acordes e até mesmo resisti, até que cedi e aprendi a tocar Corcovado... Aos quatorze anos me profissionalizei e comecei a fazer bailes no subúrbio do Rio. > E como prosseguiu sua carreira a partir desse momento? Nos bailes aprendi a tocar todo tipo de música. Por volta de 1965, iniciei em um grupo de baile que tocava nas boates da

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Zona Sul e fui parar no Beco das Garrafas, a princício nos intervalos das apresentações de outros grupos. Nessa época, comecei a engrenar nesse outro ambiente, no ‘Clube de Jazz e Bossa’, que era uma vitrine, e comecei a ficar conhecido. Lá conheci o Vitor Assis Brasil, que havia acabado de ser premiado no Festival de Viena, que me convidou para participar de seu segundo disco, Trajeto. Com esse trabalho começaram os convites para gravações de outros artistas, e meu nome começou a ser conhecido entre os músicos. O resultado foi uma discografia de mais de 200 discos, com vários artistas diferentes, como Elis Regina, Milton Nascimento e Clara Nunes (de quem fui maestro e produtor do disco Claridade, que bateu recorde de vendas). Com Sarah Vaughan gravei dois discos, o Som Brasileiro de Sarah Vaughan, em 1978, e Exclusivamente Brasil , em 1980. Nesse período eu já tocava em diversos festivais internacionais, lancei meu primeiro disco solo, e participei de dois festivais de jazz São Paulo–Montreux, uma vez com Victor Assis Brasil e a outra com Luiz Eça. Nesse primeiro, fiz uma participação especial com Larry Coryell e Philipe Catherine, e no segundo com o Joe Pass. Nessa época fui eleito um dos 5 melhores guitarristas

“Compassos é o disco mais redondo que eu fiz, pois foi feito com muita tranqüilidade, com o repertório sendo experimentado e decidido na hora. Nas gravações tentávamos tocar jazz, e tudo virava bossa!”.

do mundo pela revista Downbeat, o que solidificou minha carreira. > Como você enxerga o público de música instrumental brasileira de hoje em dia em comparação com o público de antigamente? Antigamente, tinha-se ‘potencialmente’ um público de 50 mil pessoas, como o dos festivais de jazz no Anhembi (SP), fora as pessoas que não foram assistir. Então acho mentira

O que Hélio Delmiro usa “Uso um Hernandes, que é de série, mas é um bom violão. Para som amplificado, uso o Frameworks, que é um violão alemão, sem

dizer que não há público. A música séria, de qualidade, é comercialmente viável. Só não é viável para quem quer utilizar a música como uma simples mercadoria para fazer fortuna. O público de música instrumental sustenta o movimento com bom retorno. O que eles precisam é de um estímulo. Acho muito piores questões como o medo de sair e andar na rua à noite, algo que não tem nada a ver com a arte e a prejudica profundamente. Ou seja, hoje em dia, para assistir a um show, a pessoa escolhe o lugar, com medo de situações de violência que possa encontrar. Vejo que muitas vezes elas preferem fazer pequenas reuniões nas suas próprias casas para ouvir um disco, por lhes parecer muito mais seguro do que ficar se expondo na rua.

corpo e com captação RMC. Consigo com ele o melhor resultado de violão amplificado. O fabricante desse instrumento fez ele no conceito do violão erudito, com escala em ébano e tudo mais. Os outros que foram feitos assim têm uma construção muito ‘guitarrística’. Já a minha guitarra é uma Ibanez George Benson”.

> E sua opinião em relação ao comportamento desse público e dos músicos novos? Acho que o público ainda está muito ligado àquele tempo do trio do Al Di Meola, Paco de Lucia e John McLaughlin, que envolvia muita performance. Só que o desempenho deles é de qualidade. Às vezes, tenho impressão de que tanto o público quanto os músicos estão em uma corrida

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Capa sem conteúdo, sem saber onde estão. É por isso que dou valor à posição do Joe Pass, que dizia ‘toco isso aqui, assim é meu som, e quem quiser pode escutar!’. Não vou ficar esbanjando virtuosismo à toa. O público fica em uma angústia de ‘quem é melhor que quem’, em uma comparação sem sentido que esvazia o conteúdo dos argumentos, pois quem emite essa opinião ou aquela, está vendo a música por um só ângulo. Fico muito triste quando começo a ser ‘rotulado’ dessa maneira. Acho que devemos olhar para a trajetória da pessoa e levá-la em consideração. Nessa Copa do Mundo, o Pelé foi homenageado por tudo que fez, pelo que plantou, por seus serviços prestados ao esporte e também pelo

talento. É impossível compará-lo com o Ronaldinho Gaúcho, entende? > Que ‘marca’ você sente ter deixado na música brasileira? Sinto ter ajudado na criação de uma ‘nova escola’ de se tocar guitarra e violão, tornando comum a presença da guitarra em grupos de artistas de grande visibilidade da MPB. Isso me deixa muito feliz, pois foi para mim algo muito natural e despretensioso. > Como você pensa a sua maneira de acompanhar cantores? Gosto de acompanhar! É uma curtição diferente do solo! Mas acho que é algo intuitivo, sem fórmula. A maneira de tocar é guiada pela emoção. > E a sua maneira de improvisar?

Discografia Solo Emotiva – EMI/Odeon, 1980 Samambaia - César Camargo Mariano e Hélio Delmiro, EMI-Odeon, 1980 Chama - Som da Gente, 1984 Romã - Hélio Delmiro in Concert - Line Records, 1991 Symbiosis - Clare Fischer e Hélio Delmiro, Clare Fischer (EUA), 1999 Violão urbano – Calaboca, 2002 Compassos – DeckDisc, 2004

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Improvisar não é só fazer solos sobre uma harmonia. Deve-se prestar atenção que o tema sugere um ambiente, uma forma de recriação para a música durante a improvisação. Depois as pessoas analisam se você tocou frígio, lídio, etc... E para mim é isso que os cantores nos fornecem. Eles fornecem uma visão quase teatral das músicas. É preciso entender o recado da letra e da melodia. Quem consegue ‘ler’ esse clima fatalmente improvisa bem. Quem toca muito rápido não presta atenção no que faz, e creio que quem ouve também não. Acho que antes de um músico querer tornar-se um virtuoso e incorporar conceitos avançados, tem que aprender a tocar bem o ‘feijão com arroz’. O Miles Davis, por exemplo, antes de tocar ‘outside’, gravou diversos discos de standards, de maneira muito criativa. O Clare Fischer estava se queixando comigo porque estava tocando com o Lee Konitz e passou a tocar com o Gary Foster. O Lee estava chateado de tocar bonito, e preferia tocar sempre menos. No último concerto, o Lee resolveu tocar um Si bemol por 30 minutos, o que deixou o Clare desesperado! Ou seja, enquanto quem está aprendendo quer correr cada vez mais, quem sabe muito, como o Lee Konitz, ‘enxuga’ sua maneira de tocar! > Você ainda estuda muito violão? Atualmente estudo em torno de 4 horas por dia. Certa vez o Baden Powell deu um conselho muito valioso a um aluno meu: “Nunca guarde seu violão! Deixe ele sempre na sala, em cima do sofá, pois dessa maneira você vai pegar nele o tempo todo, lembrar dele”. Foi assim que voltei a estudar! Pego o violão, e quando vejo, já se passou meia hora! Sempre estudo um período de escalas, um de arpejos, um de ‘descobrir coisas novas’, improvisação sem harmonia (muito importante para ouvir a harmonia sem ninguém estar tocando) e, quando olho no relógio, já era! Ainda acho o que estou fazendo atualmente pouco, pois as pessoas saem para trabalhar às 7 da manhã e voltam às 5

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da tarde todos os dias... Atualmente estou trabalhando ‘meio expediente’, mas acho que o estudo deve ser encarado dessa maneira, como nosso ofício. > Você trata violão e guitarra de maneira diferente? Não. O meu dia-a-dia é com o violão, mas para irritar os guitarristas, digo que só pego na guitarra para fazer barulho! No começo queria sempre tocar violão, mas nos bailes era obrigado a tocar guitarra. A única diferença que sinto é que exploro mais o ‘sustain’ da guitarra, e também a calibragem das cordas, que são muito mais finas na guitarra e dão uma diferença até esquentar. > Para desenvolver a mão direita, você estuda música erudita? A técnica erudita, sim, mas não o repertório. Criei também uma série de exercícios para suprir deficiências técnicas que sentia, como fortalecer os dedos 3 e 4 da mão esquerda. Sempre desenvolvi meus exercícios de modo a serem úteis tecnicamente e também poderem ser utilizados como clichês, durante uma improvisação. Penso até em escrever um livro sobre isso, pois acredito ser uma abordagem nova nos estudos do instrumento. Além disso, sempre estudei métodos como o do Carlevaro e os estudos de VillaLobos. O Estudo nº 1, por exemplo, é um ótimo estudo de arpejos. Esse estudo, por exemplo, não toco como peça, fico apenas repetindo a parte dos arpejos. Esse é meu dia-a-dia. > E o estudo de harmonia, o conceito de ‘piano no violão’? Tenho uma influência maior de pianistas e de orquestra do que de violonistas e guitarristas. A minha percepção é assim. Não tenho aquele cacoete do guitarrista que toca como guitarrista. Em uma viagem à Europa, fui apresentado a alguns músicos de orquestra europeus. Quando toquei para eles, me disseram que não ouviam um violonista, mas sim um pianista em meu som. Foi aí que confirmei uma impressão que já tinha. Sempre evito manter as harmonias estáticas, criando os acordes circunstancialmente. O Luís Eça também pensava assim, acho que é por isso que ele dizia que meu violão não atrapalhava ele tocar! Alguns guitarristas começam a tocar aqueles acor-

“Às vezes me deparo com a seguinte situação: para os evangélicos, o músico é mundano; para os músicos, você é crente, pois parou de fumar, beber, cheirar, etc. Isso é algo que me atrapalha muito. Sou contra qualquer segmentação que as pessoas possam fazer, religiosa ou não”. des agudos, que não somam, a rítmica entra em conflito, enfim, um horror! > O que você ouve hoje em dia? Atualmente não ouço muita coisa, mas gosto de escutar música como admirador de quem tem bom gosto. Gosto muito daquele disco New Standards, do Herbie Hancock. Não escuto muitos guitarristas, mas tenho me interessado muito pelo som do George Van Eps. Também sempre ouvi muito Wes Montgomery. Algo que me interessa muito

é ouvir jazz sendo tocado por cantores de outros estilos, como Joni Mitchell, que é uma cantora folk e tem discos de baladas, com orquestra completa, cantando o jazz com a ingenuidade de seu estilo. Pode acreditar, gosto muito de Norah Jones. Gosto de ouvir big bands, como a de Thad Jones, Ruth Brown, gosto muito de orquestras e de pianistas, como o Bill Evans. Aprendi muito com uma coleção de discos que tenho do Clare Fischer. Tenho escutado também muito Keith Jarret... fora todos os outros!

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Capa Não escuto muito música brasileira em casa, porque prefiro ver ao vivo. Isso não é preconceito, pois adoro a música brasileira e os músicos são meus amigos, trabalhamos juntos! Afinal, quem não ouve Tom Jobim? A música americana me atrai, acho que por estar mais longe. Adoro Wagner Tiso, Cama de Gato, Gílson Peranzetta, Mauro Senise e Nivaldo Ornelas, mas eles estão próximos! Prefiro ver eles de perto! Já os americanos, temos que ouvir pelos discos, pois são pessoas de acesso mais raro. Por isso me despertam um apetite maior para ouvir em casa. > Como foi elaborado seu primeiro disco solo? O Emotiva (1980) foi feito de maneira precária, em um espaço de tempo apertadíssimo (uma semana), no sufoco, pois marcaram a gravação e não me avisaram.

Estava indo embora, após finalizar um disco da Clara Nunes, que tinha gravações de manhã e à tarde. No corredor encontrei o técnico que trabalharia comigo, e ele disse ‘onde você vai?’ eu respondi: ‘vou embora, estou cansado!’. E ele: ‘não vai não, vamos gravar aqui, à noite!’. Ele me levou no escritório e mostrou a ordem de serviço e fui correndo ligar para músicos que pudessem tocar... e ninguém podia! Só pelas 7 e meia da noite encontrei o Gonzaguinha, que ia gravar no estúdio ao lado. Ele me cedeu os músicos da banda dele e, enquanto os produtores escutavam os takes das gravações do Gonzaguinha, os músicos corriam para minha sessão, para gravar meu disco. Aos poucos fui escolhendo o repertório e o disco foi saindo ‘de primeira’, por isso que ele vem cheio de emoção, mesmo com tantos problemas técnicos.

“Tocar não é só fazer solos sobre uma harmonia. Deve-se prestar atenção que o tema sugere um ambiente, uma forma de recriação para a música durante a improvisação. Depois as pessoas analisam se você tocou frígio, lídio, etc...”

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Na sexta feira, último dia de gravação, tinha que gravar o Marceneiro Paulo, e estava com muita dificuldade para tocar essa música. O problema é que tinha passagem de som marcada com o Victor Assis Brasil na hora do almoço, em Belo Horizonte, e precisava pegar um avião! Depois da demora de afinar o instrumento, acertar o estúdio, tudo, toquei ela inteira direto, e fiz aquele final ‘repentino’. Acabou ali! A música é curta assim, pois não podia arriscar fazer a repetição original, dar uma trave e perder o take! Depois todo mundo reclamou que a música era legal e ficou muito curta! > E o último disco, Compassos? Compassos é o disco mais redondo que fiz, pois foi feito com muita tranqüilidade, com o repertório sendo experimentado e decidido na hora. Nas gravações tentávamos tocar jazz e tudo virava bossa! Originalmente pensei em escrever alguns arranjos, mas era sempre interrompido pela visita de algum amigo meu saudando minha volta ao Rio. Aí o tempo foi passando e não escrevi nada! Chegou o dia da gravação, levei minha pasta e dei para os músicos umas partituras em branco, e disse: “Economiza que só tem essa!”. Então entramos para gravar esse disco, que foi muito feliz, todos tocaram muito bem! > Nesse disco você até canta! Ah, é! Isso aconteceu porque estava fazendo shows com a Fátima Guedes e um dia ela veio me dizer que o Guinga disse que eu cantava bem! Ela queria que eu cantasse uma música com ela no show. E cantei, meio ressabiado, e para minha surpresa a receptividade foi ótima! Já vinha cantando nos coros de igreja, e estava tomando gosto por cantar... Então perdi a vergonha e me arrisquei no disco! Ficou legal, bem sutil... > Você tem vontade de gravar um disco mais pensado, com arranjos, etc? Não sei, pois a maneira que trabalho tem dado certo! Nesse tipo de gravação acho que não se deve escrever a partitura. Creio que os arranjadores americanos estão certos, pois dão a eles uma partitura básica, para poder tirar deles o máximo que eles podem dar, afinal, se você chama alguém para tocar, quer ouvir o som da pessoa! Acho no mínimo constrangedor entregar uma partitura muito detalhada, porque você estará

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“Acho uma grande contradição as pessoas reclamarem da falta de qualidade da música de hoje em dia e baixarem músicas pela internet. Às vezes, as mesmas pessoas me perguntam sobre novos discos e baixam os discos antigos on-line”.

tocando por ela! Prefiro deixar o pessoal solto, cada um tocando o que sabe, para posteriormente dar uma forma, discutindo todos juntos como vamos gravar. Gosto de deixar os músicos bem à vontade. > Você participa ativamente de comunidades na Internet. Qual é sua opinião sobre o compartilhamento de música on-line? Não gosto. Acho uma grande contradição as pessoas reclamarem da falta de qualidade da música de hoje em dia e baixarem músicas pela internet. Às vezes, as mesmas pessoas me perguntam sobre novos discos e baixam os discos antigos on-line. Falta cumplicidade entre o público e o artista. Sem o estímulo do público, não temos trabalho, ou ficamos engessados pelo respaldo de patrocínio. Não dá para ficar reclamando da cultura e dizer que as rádios só tocam música ruim, sem participar e fazer a sua parte nessa cadeia. Aí o mercado fica sem coisa boa. Uma solução que acho que seria viável para discos de baixa tiragem, como é o caso da música instrumental, seria juntar mil pessoas que queiram comprar meu disco, por exem-

plo, que me depositassem o dinheiro na conta, e então faria a fornada nova, e essas pessoas teriam o disco em primeira mão! Concordo quando dizem que o disco é só um cartão de visitas, mas ele é um produto que custa caro, e tem que, no mínimo, ‘se pagar’. > Você acha que sua vivência religiosa mudou sua maneira de ver a música? Não, em música não. Me converti há 20 anos e a música dentro de mim não mudou, porque já estava pronta. Acho que as pessoas confundem minha posição com fanatismo, e sou completamente contra o preconceito que as pessoas de uma religião têm em relação às pessoas de outras religiões, e não digo isso em relação específica à minha religião, mas em relação a todas. Às vezes me deparo com a seguinte situação: para os evangélicos, o músico é mundano; para os músicos, você é crente, pois parou de fumar, beber, cheirar, etc. Isso é algo que me atrapalha muito. Sou contra qualquer segmentação que as pessoas possam fazer, religiosa ou não. Cada um tem sua crença, seu time de futebol, etc. Vivemos num

contexto social em que cada um pode ter sua opinião e sofrer as conseqüências boas e ruins de suas escolhas. Separo as coisas. E quero deixar claro de uma vez por todas: não vou deixar de ser pastor, assim como quando vou tocar não fico pregando, empurrando bíblia para as pessoas. Terei o maior prazer em falar sobre minha fé, mas só se a pessoa quiser ouvir. > Quais são os seus projetos para o futuro? Essas coisas são sempre inesperadas. Em outubro, vou participar de um festival de violão em Minas Gerais, farei uma temporada no Teatro Rival, aqui no Rio, e pretendo lançar uma gravação ao vivo dessa temporada. Também estou produzindo alguns trabalhos e pretendo montar uma escola de música aqui no Rio, além da minha intenção em montar uma classe de alunos em São Paulo. Quero também escrever meu método e espero colocar meu site no ar até o fim do ano. Para inscrever-se para aulas com Hélio Delmiro em São Paulo, entre em contato pelo e-mail heliodelmiro@hotmail.com.

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Testes

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Modelo: GWNC1/7 Fabricante: Giannini Pró: Acabamento e relação custo-benefício Contra: Escala arredondada nas laterais Preço sugerido: R$ 700,00 (c/ bag) Garantia: 12 meses Desempenho ................... Definição do som ............. Volume ............................ Acabamento ..................... Quer falar com o autor da matéria? Miguel De Laet: migueldelaet@msn.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Giannini - www.giannini.com.br e-mail: marketing@giannini.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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imbatível neste quesito quando é comparado a outros modelos similares existentes no mercado. O GWNC1/7 foi lançado com um tensor para regular o ajuste do braço, o que mostra a preocupação em relação à grande pressão gerada pela sétima corda entre a ponte e o capotraste. Para os violonistas acostumados com o modelo tradicional de seis cordas, esse violão pode assustar pelas suas características peculiares: um braço mais gordo, largo e denso, uma ponte mais robusta para suportar a tensão das cordas e uma cabeça mais longa. Na análise, o modelo acústico foi equipado com cordas Giannini de tensão extra pesada GENWXPA. A sonoridade do violão é excelente. Sua grande caixa de ressonância é confeccionada com um tampo maciço em cedro vermelho; sua faixa, seu fundo e sua escala são em pau-ferro e seu braço é em cedro. Talvez, alguns músicos eruditos estranhem o seu som metálico e gordo, recheado de harmônicos naturais prolongados. As notas soam com uma ótima definição e o conjunto de graves, médios e agudos é bem equilibrado. Ele tem um bom volume e um timbre bastante rico. A sétima corda é o que dá corpo e

Foto: divulgação

Giannini é a maior fábrica de instrumentos do País. Sempre ligada à história e à evolução da música brasileira, ela tornou-se a principal escola de luthiers do Brasil. Nomes como João Batista, Saraiva e Sugiyama passaram por lá, ajudando a fábrica a se manter no mercado com produtos inovadores, boa qualidade e preço justo. O modelo GWNC1/7 de sete cordas segue a tradição de violões da fábrica e agradou logo de início os músicos do choro e do samba. Com um excelente acabamento, cheio de detalhes que vão da cabeça aos filetes do corpo do instrumento, ele possui uma ótima relação custo-benefício e é praticamente

Por Miguel De Laet

tempera de forma peculiar o instrumento, tanto harmônica como melodicamente. Sua versatilidade é incrível. Com o GWNC1/7 você pode executar desde peças tradicionais da música brasileira até tocar estilos mais exóticos, como o flamenco. Além disso, gostei de utilizá-lo em peças do período barroco e do renascimento, escritas originalmente para alaúde e violoncelo. Apenas alguns detalhes não me agradaram. Por uma questão estética, a sua escala foi arredondada nas laterais e isso prejudica o violonista que executa muitos ligados na prima, porque a corda pode escapar da ação da escala. O que pode ser feito para corrigir este problema é aproximar mais as cordas, para que o raio de ação da prima seja estendido. Quanto à afinação, o instrumento afina muito bem, mas é necessário atenção na sétima corda, que exige o uso do ouvido para deixá-la em harmonia com as outras seis. Para finalizar, é um instrumento que agrada o músico mais exigente e é uma ótima opção para o violonista que quer se aventurar no mundo das sete cordas. Seja no choro, no samba, na bossa, no erudito, na música dos pampas e em muitos outros estilos.

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

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SG Cristal Tensao Alta Encordoamento tem bons timbres, brilho e volume Musical Izzo tem mais de 60 anos e trabalha com produtos de fabricação própria como os encordoamentos São Gonçalo, SG, Dominante e Tangara e uma linha completa de acessórios para instrumentos de percussão. A empresa também trabalha com uma grande variedade de produtos importados, somando um catálogo de aproximadamente 5 mil itens. Recebi para analisar os encordoamentos SG dessa empresa, ambos de alta tensão, cristal-prata e cristal-bronze, com as seguintes medidas em milímetros: 0,75

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Ficha Tecnica Legenda dos Testes

Excepcional Excelente Bom Médio Fraco

Modelo: SG Cristal-Prata, Tensão Alta Fabricante: Musical Izzo Pró: equilíbrio e timbre com brilho Contra: não encontrei Preço sugerido: R$ 10,00 Garantia: 3 meses Timbre ............................. Brilho .............................. Sustentação ..................... Qualidade do som ............ Volume ............................ Definição ......................... Custo-benefício ............... Quer falar com o autor da matéria? Cristiano Petagna: cpetagna@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Musical Izzo - www.musicalizzo.com.br e-mail: marketing@musicalizzo.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

(1.E), 0,85 (2.B), 1,05 (3.G), 0,75 (4.D), 0,90 (5.A) e 1,14 (6.E). Testei inicialmente o encordoamento cristal-prata. Fiquei surpreso assim que o coloquei no instrumento, devido ao excesso de brilho demonstrado nas primas, principalmente na primeira corda. No entanto, sempre que colocamos um jogo de cordas novas e as afinamos pelas primeiras vezes, sua sonoridade não corresponde à realidade e, geralmente, parece desequilibrada em todos os sentidos. Só conseguimos saber o som real de um encordoamento aproximadamente dois ou três dias após a sua instalação, o tempo necessário para a acomodação de todas as cordas por igual. Passado esse tempo, o encordoamento mostrou um desempenho muito bom, com ótimo equilíbrio entre as cordas. O timbre é brilhante e firme, com volume ideal para um encordoamento de alta tensão. Essas características proporcionam bastante segurança na execução das músicas, pois fornecem um controle maior do instrumento. As SG cristal-bronze se diferenciam da cristal-prata pelo material empregado na confecção dos bordões, enquanto as primas são as mesmas. Apesar de boas, elas não obtiveram o mesmo rendimento em relação ao jogo cristal-prata. Os bordões possuem um timbre mais magro, com menor presença de harmônicos e, por isso, têm um som menos brilhante e volumoso, o que gera um desequilíbrio em relação às cordas primas, que possuem mais presença. Elas afinaram com precisão e sua sustentação é boa. Concluindo, o encordoamento SG cristal-prata saiu-se melhor pelas suas qualidades sonoras, que são superiores às do SG cristal-bronze.

Por Cristiano Petagna

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Ficha Tecnica Legenda dos Testes

Modelo: SG Cristal-Bronze, Tensão Alta Fabricante: Musical Izzo Pró: afinação Contra: desequilíbrio entre bordões e primas Preço sugerido: R$ 10,00 Garantia: 3 meses Timbre ............................. Brilho .............................. Sustentação ..................... Qualidade do som ............ Volume ............................ Definição ......................... Custo-benefício ............... Quer falar com o autor da matéria? Cristiano Petagna: cpetagna@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Musical Izzo - www.musicalizzo.com.br e-mail: marketing@musicalizzo.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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Excepcional Excelente Bom Médio Fraco

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Testes

Yamaha C40 e Eagle DH69 Duas otimas opcoes para iniciantes

o início dos anos 90, o Brasil implantou um programa de liberalização econômica e eliminou as barreiras às importações. Essa abertura resultou na chegada de instrumentos musicais de outros países, que se popularizaram rapidamente e conquistaram as terras tupiniquins. O fator preço aliado à qualidade dos produtos (ou à falta de qualidade dos produtos nacionais fabricado naquela época) foi decisivo para o sucesso dos importados no mercado, especialmente dos violões chineses e coreanos. Das marcas que seguiram essa peregrinação do Oriente para cá, duas se destacam de forma especial: Eagle e Yamaha. Na linha dos populares, elas tornaram-se sinônimo de qualidade pela ótima relação custo-benefício aliada a um visual atraente. Nesse universo de modelos destacam-se o Eagle DH69 e

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Eagle DH69 e Yamaha C40

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o Yamaha C40. A razão de colocá-los frente a frente é tentar tirar a dúvida de muitos violonistas iniciantes: qual dos modelos citados é o melhor? Para espanto de muitos, podemos afirmar que os dois modelos podem ser considerados, de certa forma, irmãos, porque possuem o mesmo ‘sangue’ e as mesmas características, apesar de receberem sobrenomes diferentes. Os dois modelos possuem praticamente as mesmas madeiras: os tampos são em abeto, os braços são em nato e as escalas são em jacarandá. Suas laterais e seus fundos são confeccionados em mogno. No modelo Yamaha C40 foi utilizado jacarandá javanês na escala e mogno da Indonésia na lateral e no fundo do violão. Os violões foram equipados com encordoamentos D’Addario J27 para a análise. O resultado sonoro é bastante similar. Por não possuir um tampo maciço, os dois instrumentos não possuem muito volume, mas a suavidade e a maciez do timbre de ambos evidenciam a razão de estarem no ‘hall’ dos mais populares da categoria. Eles possuem um som bem equilibrado para os modelos dessa faixa de preço. No que diz respeito ao conforto, o modelo da Eagle leva vantagem por possuir um braço macio e ação mais baixa do que o Yamaha. Mesmo assim, os últimos trastes (próximos da boca) do DH69 testado necessitavam de uma pequena regulagem, porque apresentaram alguns trastejamentos. Algo simples de se fazer e que não requer muito investimento. Os dois modelos possuem um bom acabamento, sendo que o Yamaha C40 tem o diferencial de apostar num visual fosco. Quanto à colagem das peças, ela aparentemente foi bem executada nos dois violões, que não possuem qualquer tipo de problema na parte estética.

Por Miguel De Laet

Em relação à afinação, tanto o Eagle DH69 como o Yamaha C40 apresentaram um desempenho satisfatório em toda a escala. Resumindo, as diferenças entre os dois modelos são poucas, como o formato da cabeça e a logomarca da fabricante. Nem mesmo o preço difere muito (cerca de 300 reais cada), o que torna a escolha pelo modelo DH69 ou C40 uma questão de gosto ou de preferência por determinada marca.

Ficha Tecnica Legenda dos Testes

Excepcional Excelente Bom Médio Fraco

Modelo: C40 Fabricante: Yamaha Preço sugerido: R$ 350,00 Garantia: 12 meses Desempenho ................... Definição do som ............. Volume ............................ Acabamento ..................... Modelo: DH69 Fabricante: Eagle Preço sugerido: R$ 305,00 Garantia: 3 meses Desempenho ................... Definição do som ............. Volume ............................ Acabamento ..................... Quer falar com o autor da matéria? Miguel De Laet: migueldelaet@msn.com Tire sua dúvida com os fornecedores: Yamaha - www.yamahamusical.com.br Eagle - www.eagleinstrumentos.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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Na Estrada

Para fazer a seção Na Estrada, Violão PRO optou por publicar análises de músicos que vivem e trabalham diariamente com o instrumento aqui mostrado. Envie para nós a análise de seu violão. Se ela for publicada, você ganha uma assinatura trimestral da Violão PRO. Os critérios para a publicação serão qualidade das informações, clareza da análise e senso crítico. Envie sua análise para ajuda@musicaemercado.com.br, aos cuidados de Editorial Violão PRO, mencionando Teste Na Estrada.

TAKAMINE G-116 ste Takamine G-116 modelo clássico foi feito na Indonésia e pertence a uma segunda linha da fábrica - a primeira linha é feita no Japão. Tenho esse violão há cinco anos e o defino como semi-profissional. Seu preço é aproximadamente R$ 700 e nunca encontrei um violão dessa faixa de preço que o superasse em qualidade. O instrumento possui bom timbre acústico, boa afinação e bom acabamento. Seu tampo é em abeto e sua escala é em jacarandá e ele vem equipado com um captador ASE-N e um equalizador com controles de grave, médio, agudo, presence, notch e volume. Sua resposta quando amplificado é muito boa. Já toquei ao vivo e fiz gravações com ele, tanto acústicas como elétricas, e obtive excelentes resultados. Aconselho esse instrumento para quem não está com muita grana Marca: Takamine para comprar um violão profissional, mas quer um Modelo: G-116 bom produto. Sua relação Músico: Bruno Moreira da Costa custo-benefício é excelente e brunomusic@ibest.com.br ele atende muito bem às necessidades de um estudante. Informações: www.takamine.com

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YAMAHA CPX-8 Yamaha CPX-8 é um excelente violão de cordas de aço! Comprei esse instrumento após tê-lo testado na loja e ficar impressionado com seu timbre brilhante e encorpado e o seu bom volume acústico. Seu design é moderno e bonito, com tampo sólido em abeto e escala, braço, fundo e laterais feitos em mogno. Ele possui um pré-amplificador de duas vias que combina o som do captador de rastilho com o do microfone interno. O timbre elétrico é bem fiel ao som acústico do instrumento. Suas tarraxas são douradas e afinam muito bem. Todos os violões de aço presentes no CD Cenas, da minha banda, Meia Hora Depois, foram gravados com esse Yamaha. Fiquei satisfeito com o resultado! Se alguém tiver interesse em escutar seu som, entre no site www.meiahoradepois. com e baixe alguns arquivos em mp3 das nossas músicas.

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Marca: Yamaha Modelo: CPX-8 Músico: Fê Sztok fe@meiahoradepois.com Informações: www.yamaha.com

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Choro

Fotos: Andreia Marlière e divulgação

Pintando o sete

Virtuose do sete-cordas, Rogério Caetano reúne a nata dos instrumentistas brasileiros em seu primeiro CD autoral Por Roberta Cunha Valente > Violão PRO - Como você começou a tocar violão? Rogério Caetano - Meu primeiro instrumento foi o cavaquinho, quando eu tinha seis anos. Aos 12, eu passei a tocar violão. Fui direto para o violão de sete cordas, diferentemente da maioria das pessoas, porque é comum começar no violão de seis cordas e depois ir para o de sete. Eu escutei uma gravação do Dino 7 Cordas naquele disco da Elizeth Cardoso com o Jacob do Bandolim, Época de Ouro e o Zimbo Trio. Quando ouvi aquela sonoridade, eu me apaixonei pelo instrumento e comecei a

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goiano Rogério Caetano é uma das maiores revelações do violão de sete cordas brasileiro dos últimos tempos. Aos 30 anos, esse fã de Dino 7 Cordas e Raphael Rabello já deixou a marca de suas baixarias em gravações de grandes nomes da MPB, como Ivan Lins, Maria Bethânia e Zeca Pagodinho. Parceiro do bandolinista Hamilton de Hollanda, um de seus grandes incentivadores, ele acaba de lançar o belíssimo CD autoral Pintando o Sete (Rob Digital). Grandes instrumentistas como Marco Pereira, Yamandu Costa, Maurício Carrilho e o próprio Hamilton de Hollanda, participaram desse CD de estréia. Violão PRO conversou com Rogerinho, como ele normalmente é chamado entre os chorões, que falou da sua carreira e também desse lançamento.

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tocá-lo imediatamente. Eu tirava as coisas do Dino, que foi a minha grande referência. Tirava tudo de ouvido, porque naquela época eu não tinha conhecimento teórico nem de harmonia. Tirava os baixos iguaizinhos, mas não tinha consciência do que estava fazendo. Depois estudei com o maestro Geraldo Amaral, que deu aulas para o Geraldo Vespar, um grande arranjador. Tive as primeiras noções de teoria com ele. Por volta dos 15 anos comecei a tocar profissionalmente, ainda em Goiânia. > Como você conseguiu seu primeiro vio-

lão de sete cordas? Tenho um padrinho em Goiânia, o Toninho, que toca sete-cordas e me deu muito apoio no início. Ele tinha um sete-cordas sobrando e me emprestou para eu aprender. Depois meu pai acabou comprando um para mim, que eu vendi recentemente para o Luizinho 7 Cordas. Era um violão Do Souto, dos antigos. > Por que você resolveu morar em Brasília? Pra tocar. Era um lugar próximo. Meu pai era conservador, não queria que eu tocasse

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e tal. Ele é engenheiro, acho que ele queria que eu fosse engenheiro também. Eu me mudei primeiro sozinho, depois meu pai se aposentou e minha família se mudou para lá. Quando me casei fui morar no Rio, e meus pais voltaram pra Goiânia. > Hoje ele é seu fã? Espero que sim! (risos) > Como foi sua experiência em Brasília? Lá eu tive a minha grande vivência e adquiri malandragem no violão de sete cordas. Conheci as pessoas que tocavam o instrumento, como o Alencar 7 Cordas (José de Alencar Soares), que foi uma pessoa importantíssima, com quem eu tive aulas e aprendi harmonia. O violonista José Américo, pai do bandolinista Hamilton de Holanda e do violonista Fernando César, também me ajudou bastante. Com uns 16 anos comecei a tocar com o Hamilton e com o César, e também com outras pessoas do meio do choro. Há um movimento muito forte do choro por lá. Meu primeiro grupo foi o Dois de Ouro, com o Hamilton, o César, o Américo e dois percussionistas, o Leander

Motta e o Sandro Araújo. Nós gravamos três discos. Também estudei na UnB (Universidade de Brasiília), fiz bacharelado em composição. > Você tem uma linguagem bem própria no sete-cordas. Como você a desenvolveu? Já conhecia o trabalho do Raphael Rabello e do Dino e vi que eles tinham uma identidade musical própria. O Dino tinha uma maneira peculiar de tocar, ele criou a escola brasileira do violão de sete cordas: todos os sete-cordas beberam naquela fonte. O Raphael desenvolveu uma linguagem própria com muito virtuosismo e vigor sonoro. Ele dominava todo o braço do instrumento, criando

O que Rogério Caetano usa Violões: “Uso um violão de sete cordas de aço do Eduardo Brito. É um luthier carioca que mora em Brasília. Os instrumentos dele são de alto nível. Pedi pra ele fazer um pra mim com bastante volume, para tocar em roda mesmo. Às vezes pego emprestado o violão da minha esposa Milena, que também é do Eduardo Brito, só que é de seis cordas de náilon. Uso também um violão sete cordas do Jó Nunes, que é um luthier do Rio. Quero fazer agora um violão de náilon com o Tércio Ribeiro.” Cordas: “Usava cordas Piramid Gold, que eram cordas lisas e revestidas de aço. Hoje uso as D’addario Chrome 0.11 e 0.10. Uso também cordas de náilon Augustine Imperial e a Savarez Alliance. Nos violões com cordas de aço, uso as cordas Mi e Si de náilon e as demais de aço. Nos violões com cordas de náilon, uso a sétima corda

da marca Hannabach.” Captação: “Uso captação Fishman que tem um pré-amplificador que mistura o som do captador de rastilho com o de um microfone dentro do instrumento. Também uso captação Highlander nos violões com cordas de aço. A tensão da corda de aço é muito maior. O Highlander funciona melhor porque é uma fita metálica mole e sua captação independe da tensão que a corda exerce sobre o cavalete. O Fishman é um captador que tem um som mais voltado para o violão de náilon.” Unhas: “Só uso casco de cavalo! Uso unhas arredondadas, dou o formato com lixas d’agua 0600.” Dedeira: “Uso apenas para tocar com cordas de aço. Uso dedeira de aço inox. O pai do Valerinho (Valério Xavier, pandeirista e cavaquinista), de Brasília, é quem faz para mim”.

baixarias que exploravam tanto notas graves quanto agudas. Eles são minha maior referência, por isso dediquei meu primeiro CD a eles. Inicialmente eu me dediquei a tirar todas as gravações em que os dois estavam presentes. Tirei todas as baixarias que eles faziam e tocava em todos os tons. Tirei também as baixarias de outros sete-cordas importantes como Valter Silva, Valdir Silva, Luizinho 7, Edmilson Capelupi, Zé Barbeiro, Fernando César, Alencar 7 Cordas, Maurício Carrilho, Carlinhos 7 Cordas e Paulão e fiz o mesmo processo. Depois de ter um maior domínio dessa linguagem, comecei a procurar a minha identidade acrescentando outros elementos. O Nonato Mendes, um amigo, baixista goiano, me deu muitas dicas. Ele abriu a minha cabeça, tirou vários mitos que eu tinha. Comecei a estudar outras coisas além do repertório do choro e samba. Ele me mostrou as tríades sobrepostas, as escalas simétricas, alteradas, tons inteiros, pentatônicas e outras, além de técnicas de improvisação. Isso tudo é muito utilizado na linguagem do jazz. Não tive contato com o jazz, mas tive acesso a essas informações que eles usam. A minha linguagem musical sempre foi ligada ao choro e ao samba, que são os gêneros que eu mais ouço e toco desde criança. Então apliquei tudo isso pensando no choro e no samba, o que fez uma grande diferença no jeito que toco hoje em dia. > Você prefere o violão com cordas de aço ou náilon? Minha praia mesmo é violão com cordas de aço, que é o que o Dino usava. Ele tem aquela sonoridade, é um violão de pegada para fazer acompanhamento. Mas também tenho trabalhado com o violão com cordas de náilon, que é melhor pra solar porque a sustentação das notas é maior.

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> Como começou o grupo Brasília Brasil? Eu e o Hamilton já nos conhecíamos. O Hamilton conheceu o Daniel através do Leander Motta, que era percussionista do Dois de Ouro. O Daniel tinha uma formação jazzista e gostava muito da música mineira, do Toninho Horta. A gente se conheceu na casa do Hamilton. Um dia eu cheguei lá e eles estavam tocando a música É, do Gonzaguinha. Nós começamos a tocar juntos ali mesmo, a partir daquele dia. Lembro que o Hamilton ficou bem entusiasmado. Foi um encontro informal que depois se concretizou na gravação do CD Abre Alas, lançado pela Caravelas em 2001. Viajamos o Brasil todo, fizemos shows na Europa... > Como você começou a compor? Quem me incentivou a compor foi o Hamilton de Holanda. Ele dizia que era importante a gente escrever nossas músicas, mostrar a nossa maneira de pensar, e tal. Entrei no curso de composição também incentivado por ele – que estava fazendo esse curso. Depois conheci o Yamandu e ele gostou muito das minhas músicas. Lembro que ele disse: “Você é louco, rapaz!”. Eles me deram estímulo pra gravar meu primeiro CD solo, o Pintando o Sete.

> Fale um pouco sobre esse CD. Bom, são onze faixas, nove de minha autoria, uma em parceria com o Hamilton e uma do Mauricio Carrilho, que ele fez pra mim, Rogerinho no Sete. Tenho grandes amigos e

Com quem Rogerio Caetano ja gravou • Ivan Lins • Zeca Pagodinho • Maria Bethânia • Hamilton de Holanda • Dudu Nobre • Fundo de Quintal • Beth Carvalho • Yamandu Costa • Martinho da Vila • Monarco

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músicos ao meu lado, como o próprio Maurício, Hamilton, Marco Pereira, Zé da Velha, Silvério Pontes, Gabriel Grossi, Jorginho do Pandeiro e Claudio Jorge, entre outros. Yamandu gravou comigo a Valsa para Mãezinha, que eu e o Hamilton fizemos pra minha mãe. Foi o Yamandu quem sugeriu o nome do CD. E o Fernando César abraçou a idéia e me ajudou muito também. > Quantas músicas você compôs? Tenho mais de 30 músicas. Quero gravar um segundo CD no ano que vem. > Você tem uma meta em sua carreira? Tenho como meta difundir a minha maneira de tocar, a minha identidade. A minha maior felicidade é uma pessoa me ouvir tocando em um CD e me reconhecer pelo meu som e fraseado. Quero ter a minha marca no violão, como Dino e Raphael tiveram sua própria marca. O mais importante na carreira de um instrumentista é ser feliz com a maneira que você toca. Cada um tem seu modo de tocar e de ver a música, e isso é o que vale.

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> O que você ouve atualmente? Adoro samba. Ouço direto em casa os discos do Roberto Ribeiro, que eu adoro. Gosto muito da Clara Nunes, da Beth Carvalho, da Alcione, do João Nogueira e do Zeca Pagodinho, com quem eu gravei recentemente seu novo DVD. Cresci ouvindo tudo isso. Minha mãe é fã número um da Clara Nunes, tem recortes de revista e tudo mais em um álbum. Eu gosto de todo mundo do choro, do Canhoto, do Jacob, do Pixinguinha, do Hamilton, do Maurício Carrilho... > E o que você ouve para se aprimorar no violão? Gosto do Baden Powell, Marco Pereira, Yamandu, Penezzi. Gosto de todos os sete-cordas, do Dino, do Raphael, dos irmãos Valter e Valdir, do Luizinho 7, do Edmilson Capelupi, do Zé Barbeiro e muitos outros.

> Você chegou a fazer um CD com o pianista Leandro Braga? Ainda não. Estamos com um trabalho pronto para gravar. Já fizemos vários shows, nos apresentamos na Sala Funarte, no Clube do Choro de Brasília, etc. > Como surgiu essa parceria? Nós nos conhecemos em um curso de verão em Brasília. O Paulo Albuquerque,

que produziu o CD do Brasília Brasil, também tinha produzido um CD do Leandro Braga. Nós viramos grandes amigos e começamos a tocar juntos. Tocamos músicas nossas e de outros compositores. > Quais são seus projetos para o futuro? Quero gravar meu próximo CD solo e fazer um DVD unindo o repertório desses dois CDs.

“Quero ter a minha marca no violão, como Dino e Raphael tiveram sua própria marca. O mais importante na carreira de um instrumentista é ser feliz com a maneira que você toca. Cada um tem seu modo de tocar e de ver a música, e isso é o que vale.”

> Na sua opinião, como se faz uma boa baixaria? Uma boa baixaria tem o lugar exato pra acontecer. Ela tem que estar nos espaços deixados pela melodia, nos ‘buracos’ deixados pelo solista ou pelo cantor. Daí ela aparece muito mais. > Que dicas você daria para um bom acompanhamento de choro? A primeira coisa é lembrar que o violão de sete cordas é um instrumento de harmonia e não apenas de baixaria. A baixaria é um complemento da harmonia, apesar de ser a principal referência do sete-cordas. O acompanhamento deve ter aquela ‘puxada’, a parte harmônica é importantíssima. Aconselho não fazer a baixaria sem conhecer bem a música. Fica feio errar as baixarias. O melhor é evitar fazer os baixos quando não souber a música bem. > Como é o seu trabalho como arranjador? Meu primeiro trabalho como arranjador foi no CD da compositora Milena Tibúrcio, minha esposa. Fiz também arranjos para a Juliana Diniz e para a Orquestra de Violões de Brasília. Mas eu me considero mais violonista do que arranjador.

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Luthier / Viola Caipira

Apaixonados por madeiras Por Daniel Neves

s irmãos Jair e José Fontana sempre se deram muito bem com esta nobre matéria-prima. Depois de trabalharem por muitos anos com madeireiras e com marcenaria, eles vislumbraram a possibilidade de expandirem suas criações. Jair decidiu aprender a tocar viola e violão para construir seus próprios instrumentos e, há quatro anos, ele montou com José sua luteria em Arthur Nogueira, interior de São Paulo. Em suas mãos, cedro, pinho, maple, mogno, caviúnas e outras madeiras ganham forma e vida em violões e violas muito bem construídos. Nesta entrevista a Violão PRO, Jair Fontana fala sobre seu processo de produção e como fazer um bom instrumento. 42 ViolaoPro 5.indd 42

Fotos: Cesar Tessarin

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> Violão PRO: Jair, você já trabalhava com madeira antes de se tornar luthier. Mas como surgiu a sua relação com a música? Jair Fontana: Desde criança, por morar em sítio e em contato com a natureza, eu já adorava a madeira, seus desenhos, sua cor, seu cheiro, enfim, sua diversificação. Também plantava diversas espécies de madeira de lei, buscando saber com meu pai e meu avô qual árvore era esta ou aquela outra com grande entusiasmo. Mais tarde, meus dois irmãos e eu montamos uma serraria para trabalharmos toras de eucalipto, uma ótima alternativa no meu ponto de vista, pois é uma madeira retornável e evita destruir as árvores nativas protegidas por lei. Porém, há cerca de 10 anos, nós começamos a trabalhar com marcenaria, na construção de móveis rústicos. Meu início na luteria deve-se à minha grande curiosidade em tocar no meu próprio instrumento. Eu toquei em várias bandas de baile e venho de uma família com vários músicos amadores, mas amantes da boa música, principalmente música de raiz. Com eles aprendi a tocar e a gostar de uma boa moda de viola. Eu adquiri experiência com alguns

luthiers da região. Logo estava fazendo com meu irmão José o primeiro violão. Depois fui me aperfeiçoando e pesquisando novas técnicas de construção de instrumentos, até chegar a um instrumento de alto nível. > Como é dividido o trabalho dentro da oficina entre você e seu irmão José? Nós trabalhamos juntos do princípio ao fim, um ajudando o outro. Como eu toco um pouco e conheço melhor o instrumento, a timbragem do tampo, os leques harmônicos, o esculpimento do braço e, principalmente, a tocabilidade e a afinação ficam em minhas mãos. > Você mantém alguma atividade paralela à construção de instrumentos? Nós damos manutenção e restauração a instrumentos de cordas e ainda trabalhamos com marcenaria para variar um pouco e ajudar no orçamento. > Qual a principal diferença e cuidado na construção de violas? Todos os instrumentos necessitam de muito

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Jair e José Fontana: feras na fabricação de violas cuidado, carinho e dedicação na hora de serem construídos. A construção da viola segue esses princípios. Uma boa viola necessita de uma madeira especial, muito velha, bem seca (de preferência serrada há mais de 15 anos), para que tenha uma boa sonoridade. Ela deve ser cortada do jeito correto, que é o corte radial. É necessário que, no momento da construção, a umidade relativa do ar esteja muita baixa, para que não haja problemas futuros. > No que a construção de violas difere-se da construção de violões? O processo de construção e as madeiras são os mesmos. O que diferencia é o formato do bojo, a escala, a afinação e, principalmente, o seu leque harmônico. > Até que ponto a madeira realmente influencia na sonoridade? Qual sua avaliação sobre a importância dela? A madeira é a essência de tudo. É de extrema importância no instrumento, desde a parte estética, que é a beleza, o cheiro e o peso, até a sonoridade que cada tipo de madeira possui. Por exemplo, se fizermos um instrumento com fundo e faixas laterais em jacarandá, o timbre fica um pouco mais ‘estalado’, ao passo que se fizermos o mesmo conjunto com maple, o timbre tende a ficar mais cheio, mais grave. > Existem diversas formas e desenhos das travas do violão e da viola. Como você chegou aos seus? Existem vários modelos, principalmen-

te das barras harmônicas ou leques. Nós acreditamos ter conseguido um bom resultado através de testes com vários modelos de leques em diversos instrumentos, até chegarmos ao que melhor se destacou em volume e em qualidade de som. > O que é que faz uma boa viola? A viola é um instrumento divino, meigo e simples como a natureza. Uma boa viola deve ser linda, cheirosa e leve, deve ter tocabilidade e maciez, um timbre cristalino e bem equilibrado sem muitos médios (que ferem os ouvidos), bastante sustentação no som e, principalmente, deve ter uma afinação perfeita. O violeiro deve ter prazer em tocá-la e poder ser tocado no fundo da alma. Um dos grandes segredos está na espessura das madeiras, na forma como são cortadas e no volume de ar dentro do instrumento, ou seja, a espessura do instrumento no todo.

“Uma boa viola necessita de uma madeira especial, muito velha e bem seca para que tenha uma boa sonoridade” – Jair Fontana

> Quais os cuidados essenciais para conservar melhor o instrumento? Mantê-lo em lugares frescos e com pouca umidade, guardar e transportar sempre em estojo térmico e nunca deixar um instrumento dentro do carro exposto ao Sol. Enfim, todos os cuidados que se deve ter com instrumentos acústicos e de madeira maciça.

As meninas dos olhos de Fontana

Viola de Sassafrás • Escala em ébano africano (580 mm) • Braço em cedro vermelho, caviúna e marfim • Tampo em abeto alemão • Lateral e fundo em Sassafrás • Tarraxa Gotho • Traste Gotho • Estojo térmico • Captador Fishman Acustic Matrix Natural II • Preço: R$ 4000 Viola de Maple Clássica • Escala em ébano africano (580 mm) • Braço em maple, caviúna e cabriúva preta • Tampo em abeto alemão • Lateral e fundo em maple • Tarraxa Deval • Traste Gotho • Estojo térmico • Captador Fishman Acustic Matrix Natural II • Preço: R$ 3800

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Luthier / Viola Caipira > Você poderia falar de algum caso de curioso que ocorreu em seu trabalho? Acho que não. Se bem que estamos trabalhando nesta área há pouco tempo (quatro anos). E, graças a Deus, não ocorreu nenhum caso capaz de arrancar gargalhadas ou lágrimas (risos). > É comum falarem que o violeiro passa metade da vida tocando e a outra metade afinando a viola. Isso ainda é verdade? Não. Isso é coisa do passado. Uma viola de qualidade não pode ficar desafinando no meio de uma apresentação ou de uma gravação. Para que isso não aconteça, existem várias medidas que adotamos em nossos instrumentos. Nossas violas são confeccionadas com madeiras totalmente desumidificadas (serradas há mais de 30 anos) e estáveis. O braço delas é inteiriço, ‘sanduichado’ (com geralmente três tipos diferentes de madeira) e com tensor regulável, o que proporciona grande estabilidade na afinação. Também usamos pestana e rastilho de osso ajustado

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“A madeira é a essência de tudo. É de extrema importância no instrumento, desde a parte estética, que é a beleza, o cheiro e o peso, até a sonoridade que cada tipo de madeira possui” – Jair Fontana para a microafinação correta. Obviamente, é necessário um tempo para as cordas novas se ajustarem e o instrumento também não passar por mudanças bruscas de temperatura. > Quais os critérios para se fazer um instrumento artesanal personalizado? O que diferencia é a característica do músico em relação ao seu instrumento, como o ta-

manho da mão em relação ao braço da viola, se ele é canhoto ou destro, o tipo de som que ele gosta, se prefere timbres mais graves ou agudos, o formato do instrumento, a madeira que mais lhe agrada e, até mesmo, a personalização do instrumento com suas iniciais. Tudo isso um bom luthier pode proporcionar ao seu cliente e esta é uma grande vantagem do instrumento artesanal.

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Vestibular

Esta chegando a hora O curso superior de violão continua sendo o mais procurado nas faculdades de música brasileiras. Você já sabe onde estudar? Por Gilson Antunes

e o final de ano para muitos é época de férias e descanso, para os músicos que vão prestar vestibular significa estudo. E quanto estudo! Quando se fala em curso superior de Música, o instrumento campeão em procura continua sendo o violão, seguido do piano e da clarineta. Os motivos podem ser vários. Talvez o principal seja que o violão ainda é o instrumento mais popular do planeta e mais ainda no Brasil. Considerado marginal no passado, hoje em dia ele ocupa salas de concerto e é tema de espetáculos espalhados pelo País.

S

Vários nomes de destaque no meio também atuam como professores nas faculdades e um diploma de curso superior é o passo inicial para uma carreira acadêmica – após a graduação, o violonista poderá aperfeiçoar seus estudos fazendo mestrado e doutorado. Alguns optam por sair do País, e entre outras razões, é onde há uma oferta maior de cursos de pósgraduação, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Mas nessa busca incessante de ofertas e boas chances para uma carreira mais promissora, fica aqui um alerta: os interessados devem sempre verificar o site do MEC (Ministério de Educação e Cultura), porque nem todos os diplomas de universidades estrangeiras são válidos no Brasil.

Violão Erudito: cursos em todo o Brasil Em São Paulo, as universidades mais

procuradas são a USP (Universidade de São Paulo) e a UNESP (Universidade Estadual Paulista). Ao contrário dos seus outros departamentos, o Instituto de Artes da UNESP localiza-se na capital, o que atrai candidatos que moram na cidade e não desejam se mudar. Entre seus professores estão dois discípulos de Henrique Pinto: Giácomo Bartoloni (um dos primeiros violonistas a ter o título de doutor no Brasil) e Gisela Nogueira (que estudou na conceituada Royal Northern College of Music, em Manchester, na Inglaterra). Na USP, Edelton Gloeden é o grande chamariz do curso de violão, pela sua sólida carreira de concertista e pelo alto nível dos alunos que formou. Esses vestibulares costumam ser bastante concorridos e têm poucas vagas. Entre as faculdades particulares, a FAAM (Faculdades Alcântara Machado) possui dois grandes nomes: Sidney Molina (integrante do Quaternaglia) e Henrique Pinto, talvez o maior nome da didática de

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Vestibularr violão no Brasil, que também é professor da Faculdade Cantareira. Na FASM (Faculdade Santa Marcelina) há alguns bons violonistas, destacando-se Paola Picherzky (do grupo As Choronas). Na Faculdade de Música Carlos Gomes, os mestres são o Éder Francisco e o Celso Delneri. O professor e concertista Luciano César vem formando alunos na UNICSUL (Universidade Cruzeiro do Sul), em São Miguel Paulista. No interior de São Paulo, Cláudio Corradi faz um bom trabalho na USC (Universidade do Sagrado Coração), em Bauru. No Rio de Janeiro há várias opções de cursos. Entre os mestres da UNIRIO (Universidade do Rio de Janeiro) estão Maria Haro, que faz um ótimo trabalho de divulgação do compositor Nicanor Teixeira, e Nicolas de Souza Barros, considerado o maior especialista em instrumentos de cordas dedilhadas do País - ele já gravou vários CDs, trilhas para minisséries da Rede Globo e é figura constante no meio musical carioca. A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) possui entre seus profissionais Léo Soares, que formou uma boa geração de violonistas cariocas, e Turíbio Santos, que também é diretor do Museu Villa-Lobos e um dos mais conhecidos concertistas do violão brasileiro. Por lá também lecionam Bartolomeu Wiese e Graça Alan. Ainda na Região Sudeste, o curso da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) tem Fernando Araújo, mestre pela Manhattan School of Music, nos Estados

Saiba como se preparar • Sempre leve todos os equipamentos necessários: violão, apoio de pé, estante de música e partituras. Não esqueça também das lixas para polimento das unhas. • Chegue sempre com, no mínimo, uma hora de antecedência. Assim você evitará eventuais problemas no trânsito, poderá concentrar-se melhor e fazer um bom aquecimento das mãos. Visitar o local da prova com antecedência é sempre aconselhável. • Estude muito bem o repertório, tanto a parte teórica quanto a técnica, para uma audição mais tranqüila. Lembre-se que o teste é o mais concorrido entre todos os

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Unidos. Também lecionam na universidade Fábio Adour e Flávio Barbeitas. A UEMG (Universidade Estadual de Minas Gerais) e a UFU (Universidade Federal de Uberlândia) possuem o curso superior de violão, sendo que nessa última o nome de maior destaque é o de Maurício Orosco. Na FAMES (Faculdade de Música do Espírito Santo), em Vitória, leciona um dos grandes talentos jovens do Estado, Moacyr Teixeira Neto. A Região Norte ainda carece de universidades. Na UEPA (Universidade Estadual do Pará), em convênio com a Fundação Carlos Gomes, há um esquema de graduação em módulos, em que o professor paulista Sydney Molina leciona durante quatro períodos por ano. Na Região Nordeste, o destaque fica para a UFBA (Universidade Federal da Bahia), onde o professor Mario Ulloa se instrumentos e pode haver perguntas sobre as obras apresentadas. • Durma bem e evite se cansar. A fadiga muscular é um dos principais motivos de um desempenho fraco. Alimente-se com comidas leves e beba bastante água. • Troque as cordas do violão. Sua performance é como um recital e pode lhe valer quatro anos de estudos que poderão mudar sua vida para sempre. Certifique-se de que seu violão está bem regulado e com boa afinação. Caso contrário, procure um luthier com antecedência. Então, se você é um dos candidatos, mãos à obra! A revista Violão PRO deseja boa sorte a todos!

destaca como um dos principais formadores da nova geração de violonistas brasileiros - vários de seus alunos estão ganhando notoriedade nos Estados Unidos, na França e na Espanha, inclusive como vencedores de concursos. Também dão aulas da UFBA Ana Cristina Tourinho, Leonardo Boccia e Robson Barreto, com um trabalho preparatório e de formação dos violonistas. Na UFPB (Universidade Federal da Paraíba), onde o professor Albérgio Diniz trabalha há quase duas décadas, a grade curricular de violão erudito merece destaque, com enfoque para trabalhos musicológicos e práticos, como recitais semanais entre os alunos. Na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Eugênio Lima está formando violonistas há mais de dez anos. No Centro-Oeste, os destaques ficam para a UnB (Universidade de Brasília), com os professores Eustáquio Grilo e Kolmar Chagas, e a UFGO (Universidade Federal de Goiás), que possui em seu corpo docente três grandes concertistas: os paulistas Eduardo Meirinhos, Pedro Martelli e Werner Aguiar. Os professores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande, e UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), em Cuiabá, onde lecionam respectivamente Marcelo Fernandes e Teresinha Prada, que é editora-chefe de um dos mais tradicionais periódicos de violão erudito no Brasil, o Violão Intercâmbio, atualmente uma revista eletrônica. No Sul do País, a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) vem formando uma série de talentos do violão gaúcho. Lá lecionam Daniel Wolff, con-

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certista e doutor pela Manhattan School of Music, Flávia Alves e o recém-contratado Paulo Inda. Ainda no Rio Grande do Sul, o curso superior de violão é oferecido na UFSM (Universidade de Santa Maria), na UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul) e na UFPel (Universidade Federal de Pelotas). Em Florianópolis, o violonista Luis Mantovani, integrante do Quarteto Brasileiro de Violões, é professor da UDESC (Universidade Estadual de Santa Catarina). Em Curitiba, o destaque vai para a EMBAP (Escola de Música e Belas Artes do Paraná), onde há pelo menos dois nomes importantes: Luis Cláudio Ribas Ferreira e Mário da Silva.

Violão Popular: oferta de cursos está crescendo As faculdades de música popular ainda não existem em grande número no Brasil. Muitos interessados acabam fazendo cursos em conservatórios tradicionais (como o Conservatório de Tatuí, no interior paulista) ou aulas particulares com nomes de seu interesse. Porém, algumas instituições oferecem o curso superior de violão popular. É aconselhável o candidato se informar bem para não entrar num curso sem validade acadêmica pelo MEC, a não ser que esse não seja o seu objetivo (alguns podem optar pelo curso de licenciatura em música, por exemplo). Geralmente, o violão popular aparecer apenas

como matéria optativa ou como curso de extensão universitária. Na USC, em Bauru (SP), por exemplo, o curso não faz parte oficialmente do bacharelado, o mesmo ocorrendo na UNAERP, em Ribeirão Preto (SP). Na cidade de São Paulo, destacam-se os cursos da FAAM e da Faculdade Santa Marcelina, ambos ministrados pela violonista Paola Picherzky. Na Faculdade Cantareira, quem ministra o curso é o professor Ricardo Simões. No Rio de Janeiro, a UNIRIO não oferece o curso de violão popular, mas o instrumento entra como matéria optativa no curso de MPB, ministrado pelo violonista Luis Otávio Braga. Mas é em Campinas, na UNICAMP, onde é oferecido o curso mais conhecido de violão popular do Brasil. O professor Ulisses Rocha leciona há muito tempo na universidade e já formou ótimos violonistas. Ulisses é um nome bastante conhecido entre os músicos brasileiros e amantes da música popular instrumental, o que justifica a procura do curso por violonistas de todo o Brasil.

Links das Faculdades

Vários nomes de destaque do violão também atuam como professores nas faculdades e um diploma de curso superior é o passo inicial para uma carreira acadêmica

EMB: www.emb.com.br EMBAP: www.embap.br FAAM: www.fiamfaam.br Faculdade Cantareira: www.cantareira.br Faculdade Carlos Gomes: www.fmcg.com.br Faculdade de Artes do Paraná: www.fapr.br FAMES: www.fames.es.gov.br FASM: www.fasm.edu.br MEC: www.mec.gov.br UDESC: www.udesc.br UEMG: www.uemg.br UEPA: www.uepa.br UERGS: www.uergs.rs.gov.br UFBA: www.ufba.br UFG: www.ufg.br UFMG: www.ufmg.br UFMS: www.ufms.br UFMT: www.ufmt.br UFPB: www.ufpb.br UFPel: www.ufpel.tche.br UFPI: www.ufpi.br UFRGS: www.ufrgs.br UFRJ: www.ufrj.br UFRN: www.ufrn.br UFSM: www.ufsm.br UFU: www.ufu.br UnB: www.unb.br UNESP: www.unesp.br UNICAMP: www.unicamp.br UNICSUL: www.unicsul.br UNI-RIO: www.unirio.br USC: www.usc.br USP: www.usp.br

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Por Fábio Carrilho

Duo Assad

Henrique Pinto

Após lançar recentemente no mercado brasileiro os ótimos Lo que Vendráá (1985) e Natsu No Niwa (1995) em parceria com o selo belga especializado em violão GHA, a gravadora Rob Digital presenteia os fãs do violão com Two Concerts for Two Guitars, outro grande trabalho dos irmãos Sérgio e Odair Assad. Gravado em 1991 na Suíça, eles interpretam o Concierto Madrigal, l de Joaquín Rodrigo, e o Concierto opus 201, de Mario Castelnuovo Tedesco, acompanhados pela Orquestra Sinfônica de St.Gallen - a regência é do maestro brasileiro John Neschling, hoje diretor da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Concierto Madrigal, l de Rodrigo, é uma suíte de dez movimentos com árias e danças que oscilam entre o estilo erudito do século XVI (madrigal, caccia) e as correntes do folclore espanhol (girardilla, fandango, zapateado). Já o Concierto opus 201, de Tedesco, inova ao incorporar percussões especiais e destaca-se pelo seu último movimento, o belo Rondo Mexicano. Nesses dois concertos cheios de surpresas melódicas e desafios técnicos, Sérgio e Odair Assad mostram porque formam o maior duo de violões do mundo da atualidade. Bravo!

Neste belo livro, o violonista Henrique Pinto faz uma reflexão das experiências vividas durante sua carreira de concertista e professor. O aprendizado do violão é um processo nada fácil e o autor busca com Violão: Um Olhar Pedagógico encurtar as distâncias nessa trajetória. Ele abre o livro expondo brevemente a história e os principais nomes do instrumento. Depois, Henrique Pinto parte para uma análise do estudo do violão em si, abordando temas como conduta, ouvido, memória, concentração, repertório e disciplina de trabalho. No final, ele apresenta as principais escolas violonísticas e fala da profissão de violonista. Apesar do título sugerir a indicação desse livro para professores, ele também é recomendado para quem está iniciando no violão, pelo cuidado e didática com que os assuntos são abordados. Leitura rápida e interessantíssima.

Two Concerts for Two Guitars (Rob Digital / GHA)

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Violão: Um Olhar Pedagógico (Ricordi)

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Transcricao

Foto: José Rubens Moldero

Dr. Sabe Tudo Dilermando Reis

Esse ótimo choro já foi gravado por grandes nomes do violão brasileiro lá, pessoal. Neste mês tocaremos um

gravações feitas dessa música, desde médios até

ótimo choro de Dilermando Reis, que,

rápidos. Porém, é importante que esse choro seja

como vimos nas edições passadas, foi

tocado inicialmente de maneira mais lenta, para

um dos principais violonistas brasileiros. Bem,

que todas as passagens soem bem e a ginga seja

trata-se do choro Dr. Sabe Tudo, que possui

mantida até o final. Note que há acordes repeti-

gravações importantíssimas feitas pelo próprio

dos, notas repetidas, passagens de polegar e saltos

Dilermando e, também, por Raphael Rabello e

que devem ser feitos sem excesso de tensão para

Yamandu Costa, entre outras feras. Você encon-

que as mãos não se cansem.

O

trará uma grande variedade de andamentos nas

220

Bom estudo e até a próxima!

Dr. Sabe Tudo

Alessandro Penezzi é violonista e toca no grupo Choro Rasgado. Graduado em violão popular pela Unicamp (Universidade de Campinas), de São Paulo, já tocou com Yamandu Costa, Guinga, Hamilton de Hollanda, Beth Carvalho e Dona Inah, entre outros nomes da música brasileira. Visite o site www. alessandropenezzi.com.br.

Arranjo: Alessandro Penezzi

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Estudando escalas em um contexto musical

Aprimorar a técnica utilizando o vasto repertório para violão é melhor do que fazer exercícios mecânicos sem sentido musical algum lá, amigos leitores. Nesta lição gostaria de dizer algo sobre o estudo puramente técnico do instrumento. Durante vários anos de aprendizado com o mestre Henrique Pinto, um dos grandes ícones da pedagogia brasileira de violão e orientador de várias gerações de violonistas internacionalmente reconhecidos, pude absorver ensinamentos que revelam a verdadeira sabedoria por trás do estudo do instrumento. Uma dessas lições é o fato de que um estudo voltado totalmente para a técnica pura como escalas, arpejos, saltos e ligados pode não ser tão eficiente quanto o estudo desses mesmos elementos num contexto musical, ou seja, numa peça escrita para violão. O vasto repertório escrito para esse instrumento desde o período clássico-romântico até os dias de hoje pode suprir todas as necessidades da evolução técnica de um violonista, sem que ele tenha que passar horas diárias fazendo exercícios mecânicos sem sentido musical algum. Claro que, ao enfrentar um repertório mais avançado, o estudante se deparará com passagens de difícil execução - uma escala rápida, por exemplo. Então, cria-se a necessidade de isolamento do trecho em questão para a superação dessa dificuldade. No caso das escalas, existem alguns caminhos que podem ser muito úteis e funcionais durante seu estudo. Com disciplina e muita paciência, deve-se praticar as escalas num andamento lento-médio, com total certeza e domínio dos movimentos de ambas as mãos. Estudar com o metrônomo é importantíssimo, pois com ele conseguimos as virtudes essenciais que levam à velocidade: o controle e a limpeza. Após sentir-se completamente confortável nesse andamento inicial, deve-se, pouco a pouco, subir um ou dois pontos do metrônomo. Lembrando que o processo de chegar a um andamento mais acelerado

O

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(por exemplo, uma escala em semicolcheias a 180 BPM) é algo que demora não um dia ou uma semana, mas meses de estudo diário. Outra ferramenta muito útil é usar uma digitação coerente de mão direita. Acredito que o violonista deve ser capaz de tocar qualquer escala com qualquer combinação dos dedos i, m e a e, ainda, que o estudo de escalas com m e a é extremamente útil para adquirir velocidade quando a escala for tocada com i e m. Em quase todas as escolas do violão clássico, a troca de combinações dos dedos da mão direita é encorajada, para se obter uma maior agilidade e independência. Em contrapartida, no caso de uma escala específica em determinada peça, facilita muito usar sempre a mesma digitação de mão direita, principalmente se for dada atenção aos ‘cross-fingers’, ou seja, o cruzamento de dedos ao trocar de corda, fazendo com que a direção natural da mão seja mantida. Por exemplo, para pular de uma corda mais grave para uma mais aguda, deve-se ir com o m, e no sentido inverso, com o i. Nem sempre isso é possível, mas o importante é que o instrumentista esteja ciente de que, naquele momento, ele estará cruzando os dedos. Isso também pode resultar numa alteração da digitação da mão esquerda, como indiquei no Ex.1. É possível considerar o uso dos dedos p e a para evitar o cruzamento - essa técnica requer muito estudo para que esses movimentos se tornem naturais. Dependendo da liberdade estilística da peça, é o uso de ligados na mão esquerda, como está indicado no Ex.2. O principal é que essas mudanças sejam feitas com coerência e não afetem o fraseado melódico de maneira equivocada. Bons estudos para vocês e um abraço!

Foto: Pupo

Tecnica

Douglas Lora é violonista e compositor. Integrante do Brasil Guitar Duo e do ViolãoCâmara-Trio, ele é mestre em Performance pela Universidade de Miami (EUA), onde também é professor. Dedica-se aos repertórios erudito e popular para violão.

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Ex.1 – Escala de Lá maior com mudança na mão esquerda para evitar o cruzamento dos dedos

Ex.2 – Escala da música Jorge do Fusa, de Garoto

, - Musicais SI-mbolos e Notacoes

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7 Cordas

Francis Hime e Chico Buarque

Clássico da MPB é um ótimo tema para solar no sete-cordas ada como uma música conhecida para

N

dem parecer estranhos à primeira vista, mas são

criar empatia instantânea, ambiente de

úteis para não haver repetição de dedos da mão

cumplicidade e aproximar as pessoas.

direita e dar mais velocidade.

Melhor ainda se for uma grande composição,

Na última repetição do tema principal, sugiro

como é o caso de Meu Caro Amigo, de Francis

usar um ‘breque’ (um compasso a mais) como al-

Hime e Chico Buarque de Hollanda. Esse choro

ternativa ao compasso 33. Toco as fusas utilizando

possui duas partes: a primeira, com oito compas-

um rasgueado flamenco (polegar para cima, mé-

sos, e a segunda, mais longa, que recebeu a letra

dio e indicador para baixo duas vezes). Se esta téc-

em forma de correspondência de Chico Buarque.

nica não lhe for familiar, faça apenas com o dedo

Quanto ao arranjo que escrevi para esta lição,

Ao voltar à primeira parte, repita-a várias

acordes que geralmente são mais conhecidos nas

vezes e vá acelerando o quanto possível para ir

primeiras casas do sete-cordas. As digitações su-

à coda. Se preferir, tire os baixos da coda para

geridas incluem algumas cordas soltas, que são

poder tocar mais rápido (utilizando a digitação

importantes para que a mão esquerda troque de

p,i,m,i em todas as frases).

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Bom divertimento, meus caros amigos.

Meu Caro Amigo

80

Thomas Howard é violonista e atualmente toca com Montserrat, Marquinho Mendonça, Passoca e Renato Anesi. Já tocou com o trio Corda Coral, Antonio Chainho, Waltel Branco e acompanhou diversas companhias flamencas e grupos de choro.

indicador que funciona muito bem.

procurei explorar a sétima corda, gerando alguns

posição com mais facilidade. Alguns arpejos po-

Foto: divulgação

Meu Caro Amigo

Arranjo: Thomas Howard

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7 Cordas

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Choro Foto: Dario Girjes Hanna

O papel do seis-cordas Em um regional de choro clássico, o instrumento compõe a rítmica com o cavaco e a percussão e também dialoga com o violão de sete cordas choro, como tantos outros gêneros musicais, possui sua terminologia própria, consagrada pelo uso. Assim, a expressão ‘violão de seis cordas’ refere-se ao segundo violão num regional, desde que esse tenha sua formação clássica, com dois violões. Reparem que, mesmo que dois violonistas portem um violão de sete cordas cada um, um deles desempenhará o papel do sete-cordas (primeiro violão) e o outro fará o do seis-cordas (segundo violão). Do mesmo modo, se o grupo tiver apenas um violão de seis cordas, este cumprirá as funções do primeiro violão. Posto isso, resta-nos compreender o que faz esse tal de seis-cordas. Ele é uma espécie de fio condutor que aponta para várias direções, porque compõe o aspecto rítmico com o cavaquinho e a percussão, gerando uma sonoridade mais robusta, com mais peso e, também, trabalha ao lado do sete-cordas, realizando alguns duetos nas chamadas ‘baixarias’ (eis aqui outro termo da linguagem do choro). Tal descrição não é exata porque os aspectos rítmicos, melódicos e harmônicos se entrelaçam, de modo que em cada momento da música um ou outro pode ser privilegiado.

O

O seis-cordas também pode ser explorado buscando espaços que possibilitem fraseados em várias regiões do braço do instrumento e/ ou inversões harmônicas. Nota-se, assim, que o nosso seis-cordas goza de uma relativa liberdade, o que exige do violonista uma sensibilidade que se traduz em atenção dobrada para que não ocorram atropelos de qualquer espécie. O músico pode e deve se soltar, porém, respeitando sempre o contexto e, acima de tudo, tendo uma visão global para que possa inserir suas idéias musicais, de modo a contemplar o produto final, ou seja, a música. Como exercício, eu proponho o acompanhamento da primeira parte do choro Reminiscências, de Jacob do Bandolim. O primeiro compasso traz o início da melodia, para que o violão entre apenas no segundo compasso. Note a simplicidade da levada, com uma linha de baixos que pode acompanhar o sete-cordas, fazendo uma segunda voz. Tal simplicidade se deve, neste caso, ao caráter rítmico que está sendo privilegiado a fim de aumentar a massa sonora. Divirtam-se e um abraço!

Reminiscencias

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(1a. Parte)

Lula Gama é violonista de choro há 26 anos e atualmente toca com os grupos Papo de Anjo, Ó do Borogodó e Miado de Gato. Já tocou com o Conjunto Atlântico, Grupo Vou Vivendo, Izaías e Seus Chorões, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Altamiro Carrilho, Dona Ivone Lara, João Nogueira, Élton Medeiros e Nélson Sargento, entre outros.

Lula Gama

Melodia

Seis-cordas

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Transcricao

Chorinho pra Ele Hermeto Pascoal

Umas das composições mais conhecidas do músico, ela apresenta bons desafios técnicos quando tocada ao violão música Chorinho pra Ele é um excelente

alguns pontos até chegar ao andamento proposto

tema de Hermeto Pascoal para se tocar ao

na partitura. Sugeri alguns caminhos de digitação

violão. Ela possui uma forma bem sim-

da mão esquerda, porém existem outros caminhos

ples, dividida em introdução, parte A e parte B.

além dos colocados na tablatura. Se achar necessá-

Como ela apresenta algumas dificuldades técni-

rio, você pode alterá-los até achar o que vai deixar

cas, é importante que o violonista, antes de tirar

você mais confortável na hora de tocar - a idéia da

a melodia, toque primeiro sua harmonia, para

digitação é facilitar a execução e não dificultá-la.

entender bem a forma da música. Recomendo

Lembre-se que buscar novas digitações é um ex-

estudar a melodia em um andamento bem lento,

celente estudo para conhecer melhor o braço do

sempre com o metrônomo, e depois ir subindo

violão. Boa sorte e muita música a todos.

A

Chorinho pra Ele

76

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Rudy Arnaut é guitarrista e violonista. Atualmente tem o seu projeto musical solo e outro com o quarteto instrumental Luz de Emergência. É supervisor do Departamento de Cordas do CLAM – escola de música do Zimbo Trio, em São Paulo. É autor de diversos métodos para guitarra e violão. rudyarnaut@gmail.com

Transcrição: Rudy Arnaut

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Transcricao

Esperando Helio Delmiro

Gravada do disco Emotiva, de 1980, a música apresenta uma verdadeira aula de improviso lá, amigos da música brasileira! Nesta edição tenho o prazer de apresentar o tema e o primeiro chorus do improviso de Hélio Delmiro da música Esperando, gravada no disco Emotiva, de 1980. Dessa vez, ao contrário do que fiz com a transcrição de Lula Galvão (Violão PRO nº 2), não vou dissecar as escalas mas, como o próprio Hélio sugeriu na entrevista que fiz com ele, focar no clima sugerido pela música. Minha sugestão é, inicialmente, decorar o tema e a forma da música, concentrando neles toda a sua atenção. O que esse tema lhe sugere? Que emoções ele te passa? Tente improvisar (sempre respeitando a harmonia) contando uma história e não fuja do ‘assunto’ apresentado! Feito isso, você terá uma intimidade maior com a música e poderá partir para o solo de maneira mais consciente. Cada frase tocada sobre um acorde tem uma sonoridade e um sentimento diferente do que teria sobre outro acorde. Por exemplo, uma frase em Dó maior tocada sobre um acorde de Lá menor. Use sempre a sua intuição, pesquisando quais notas são mais im-

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portantes sobre cada acorde, sem medo de errar. Lembre-se que o seu ouvido vai dizer se o que você tocou soa ‘certo’ ou ‘errado’. Esse solo exige alguma habilidade técnica e conhecimento de escalas, portanto não se desespere se não entender alguma coisa. Procure fazer as análises calmamente, pois nem tudo será compreendido. Muitas vezes, encontro transcrições que fiz há muito tempo e refaço toda a análise, para compará-la com a que fiz antes. O interessante desse processo é identificar a evolução que vai acontecendo dentro de nós, tanto teoricamente quanto emocionalmente. Como Esperando foi gravada originalmente na guitarra (apesar do Hélio tocar sem palheta, como se dedilhasse um violão), o solo explora bastante o sustain das notas longas, um exercício a mais para o violonista. Preste também atenção à técnica de bends utilizada, pois eles não passam de ½ tom, dando uma dramaticidade diferente da técnica utilizada no blues. Mais uma vez, lembre-se de começar devagar e ir aumentando aos poucos o andamento do metrônomo. E o mais importante: divirta-se!

Esperando

Vinícius Gomes é violonista e guitarrista formado pela Universidade Livre de Música (SP). Atualmente integra o grupo Bambu, de música instrumental brasileira, e tem feito participações com a Banda Sinfônica Jovem de São Paulo. Está escrevendo um livro sobre a história da guitarra no Brasil.

Transcrição: Vinícius Gomes

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