Violão Pro #6

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VIOLÃO PRO NOVEMBRO | 2006

ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

ALESSANDRO PENEZZI

21 PÁGINAS

LENINE

DE TÉCNICA TRANSCRIÇÕ E COM OS MEL ES HOR VIOLONISTAS ES DO PAÍS

Tudo sobre seu novo CD + transcrição especial

TESTES

•Violões Fox Rio V3 •Fender FR 48 •Crafter SNT-380 •Conde Hermanos Felipe V •Godin Multiac ACS-AS •Cordas Michael

LENINE

Violão PRO•2006•Nº 6•R$ 8,50

superentrevista exclusiva com o compositor + curiosidades sobre sua carreira, levada e equipamentos

LUTHIER FRANCISCO MUNHOZ Bate-papo com este pesquisador incansável de violões

CHORO Violões no

WWW.VIOLAOPRO.COMLENINE

Aprenda os segredos de como tocar esse grande gênero instrumental brasileiro

Erudito

JOÃO LUIZ E DOUGLAS LORA Capa_Violao6+lombada.indd 1

Conversamos com essas duas feras que estão brilhando no cenário internacional de violão erudito 09-Nov-06 7:45:55 PM


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Editorial

Um mercado a ser explorado

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abe aquela velha conversa de que o violão era um instrumento marginalizado e que, de umas tantas décadas para cá, ele tem adquirido respeito, ocupando grandes teatros e virando, no caso do Brasil, uma das principais marcas da nossa cultura? Concordo com isso, mas apenas sobre a parte musical. O violão brasileiro é, sem sombra de dúvida, um dos mais ricos do mundo. Nossos violonistas, sejam eles chorões, jazzistas ou eruditos, têm lançados discos maravilhosos, muitos têm se apresentado regularmente no exterior e, talvez daqui a alguns anos, olhando para trás, vejamos que o momento atual da produção do violão brasileiro é um dos melhores de todos os tempos. O público de violão existe e consome música, seja lotando espetáculos, comprando CDs, livros e revistas especializadas ou instrumentos musicais. Apesar desse cenário aparentemente animador, as dificuldades para os músicos realizarem seus trabalhos continuam imensas porque o mercado - sim, o mercado – do violão no Brasil é sub-explorado. Como explicar o fato de um violonista lançar seu CD apenas no exterior? Será que em um país com uma população de 180 milhões de pessoas uns poucos milhares não comprariam o seu trabalho? Como explicar a indústria de instrumentos, que tendo esses grandes músicos conhecidíssimos no segmento violonístico não associam seus produtos com maior intensidade a eles, o que geraria ganhos para ambos? Como explicar um grande violonista que não tem a mínima noção ou orientação de como divulgar seu trabalho? Não me atrevo a respondê-las, seus motivos são inúmeros, mas creio que as razões não estão necessariamente relacionadas ao dinheiro. Há um problema sério de assimetria de informação: nem todos enxergam o grande potencial a ser explorado neste mercado. Nesta edição, trazemos na capa o cantor e compositor Lenine. Além de ótimo compositor e letrista, Lenine desenvolveu uma linguagem muito própria de tocar violão, “estilingada” e com muito suingue, que é admirada inclusive por muitos virtuoses. O músico falou desse e de outros assuntos na entrevista bem-humorada que teve conosco. No violão erudito, conversamos com João Luiz e Douglas Lora. Os dois jovens violonistas venceram recentemente o importante concurso Concert Artist Guild, um dos principais de música clássica dos Estados Unidos, e agora veêm abrir as portas no cenário internacional de violão. Falamos também com o violonista Alessandro Penezzi, que acabou de lançar um belíssimo CD autoral e, no nosso tradicional papo com os luthiers, convidamos Francisco Munhoz, que de sua oficina em Uberaba (MG) contou alguns segredos sobre a contrução de seus violões. Dentre as lições, destacamos o especial de choro elaborado pelo o violonista Euclides Marques. No mais, testes e novidades do mundo do violão que você encontra só aqui. Um abraço e até o mês que vem. Fábio Carrilho

Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima Editor Técnico Fábio Carrilho Redação Regina Valente - MTB 36.640 Reportagens Gilson Antunes, Roberta Cunha Valente e Nilo Sérgio Sanchez Lições Alessandro Penezzi, Cristiano Petagna, Douglas Lora, Euclides Marques, Marquinho Mendonça e Nilo Sérgio Sanchez Edição de Partituras Cristiano Petagna

Testes Cristiano Petagna, Fábio Cadore, Miguel De Laet e Rudy Arnaut Departamento Comercial Eduarda Lopes e Marina Markoff Administrativo / Financeiro Carla Anne Direção de Arte Dawis Roos Fotos Carolina Andrade (Alessandro Penezzi), Guto Costa (Lenine), Kriz Knack (João Luiz e Douglas Lora), Fábio Carrilho e divulgação

Impressão e Acabamento Gráfica PROL Foto de Capa Guto Costa

Edição 5: Hélio Delmiro, Rogério Caetano, Irmãos Fontana, Nicanor Teixeira, Especial Arpejos, Vestibular, testes e muito mais!

Publicidade Anuncie na Violão PRO comercial@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.violaopro.com.br e-mail: ajuda@musicamercado.com.br Assinaturas: (11) 5103-0361

Distribuição exclusiva para todo o Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A • Rua Teodoro da Silva, 907 - Grajaú • CEP: 20563-900 - Rio de Janeiro / RJ Tel.: (21) 2195-3200 Assessoria: Edicase Soluções para Editores Violão PRO (ISSN 1809-5380) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Redação, Administração e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 - Brooklin Novo - São Paulo / SP. e-mail: violaopro@musicamercado.com.br

Esta revista apóia

O que ouvimos nesta edição Artista: Romero Lubambo & Raphael Rabello | Título: Shades of Rio | Gravadora: Chesky Records | Comentário: Esse CD apresenta um diálogo único entre dois grandes violonistas de estilos tão diferentes, que parecem incompatíveis à primeira vista. Vale a pena ouvir!

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Artista: Grzegorz Krawiec | Título: Journey-Podróz | Gravadora: M.A. Recordings | Comentário: O jovem virtuose polonês encanta os ouvintes com suas interpretações de Tárrega, Kleynjans, D’Angelo e de seus conterrâneos Laskowski e Bobrowicz. Se encontrar à venda por aqui, compre na hora.

Artista: Johnny Smith | Título: The Sound of the Johnny Smith Guitar | Gravadora: Roulette Records | Comentário: Um dos guitarristas de jazz mais classudos de todos os tempos dá uma aula de improvisação nesta coleção de gravações do início da década de 1960.

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Indice ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

MATÉRIAS 16 João Luiz e Douglas Lora Brilhando no exterior

30 Lenine

Entrevista com o cantor e compositor pernambucano

SEÇÕES

22 Alessandro Penezzi Muito além do choro

4 Editorial 8 Cartas

28 Seminário Vital Medeiros Grandes violonistas em Mogi das Cruzes (SP)

10 Strings 21 Vintage

41 Lançamentos Aliéksey Vianna, Chico César e Eduardo Budin

36 Testes 40 Na Estrada

42 Violões no Choro Segredos deste grande gênero instrumental

55 Classificados 66 Índice de

Publicidade

48 Luthier Francisco Munhoz Pesquisador incansável

TESTES 34 Fender FR48 Steel Resonator Corpo em aço e timbres próximos aos do banjo

LIÇÕES E TRANSCRIÇÕES

35 Cordas Michael Violão Clássico Preço justo e qualidade para o iniciante

51 Alessandro Penezzi

36 Crafter SNT-380EQ/YL Cutway de náilon excelente para palco

56 Douglas Lora

Papa-goiaba

Estudo III

58 Cristiano Petagna

37 Fox Rio V3 Bons timbres nesse violão de cordas de aço

Invenção nº 13

61 Marquinho Mendonça No Balanço do Jongo

40 Na Estrada Conde Hermanos Felipe V Godin Multiac ACS-AS Slim MIDI

64 Nilo Sérgio Sanchez Arpejos com muito som

16 João Luiz e Douglas Lora 6 ViolaoPro 6.indd 6

e pouca força

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Cartas Primeiro Contato Foi com enorme satisfação que conheci a Violão PRO. O gerente de uma loja de discos aqui de Fortaleza me indicou a revista e, ao sair da loja, fui à banca de revistas mais próxima e comprei a número 3. Nela encontrei tudo o que procuro. Tenho 46 anos, sou bancário e um diletante do violão. Toco um pouco e coleciono CDs de violonistas, sejam clássicos ou populares. Gosto de pesquisar histórias de músicos, sempre tendo como foco o violão instrumental. Por essa razão, a revista veio preencher uma lacuna nas minhas pesquisas. Vicente Aderson Fortaleza/CE

Companheira Os músicos têm a obrigação de se renovar sempre e, para quem é do interior, isso às vezes parece muito difícil. As revistas especializadas ajudam bastante, com suas lições, entrevistas com músicos, testes de instrumentos, shows e outras coisas que nos fazem crescer musicalmente. Achei brilhante a idéia de se criar uma publicação voltadas para os fãs do violão. A Violão PRO não pode ser considerada uma revista qualquer. Para mim ela passou a ser uma grande companheira de estudos e informações musicais. Tony Santana Cruz das Almas/BA

Lições Tenho comprado a Violão PRO e apreciado todas as matérias. Vejo que a revista está direcionada para quem já possui uma boa dose de conhecimento. Toco há 3 anos e ainda tenho muitas dificuldades. Alguns exercícios são de lascar. A revista ou os seus colaboradores poderiam disponibilizar os exemplos e as transcrições em formato MIDI na internet para facilitar a compreensão. Parabéns pela iniciativa! Sérgio Murilo Rio de Janeiro/RJ Você tem razão, Sérgio. Algumas lições e transcrições realmente requerem um bom nível de leitura musical. Essa idéia de disponibilizar as lições em formato MIDI é ótima e será estudada por nós.

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Rua Guaraiúva , 644 CEP: 04569001 - Brookli n Novo São Paulo / SP e-mail: ajuda@ violaopro.com .br ajuda@music amercado.co m.br

Edição Passada A revista está ótima e vem se aperfeiçoando cada vez mais. As entrevistas com o Hélio Delmiro e o Nicanor Teixeira estão fantásticas. Gostaria muito de ver uma matéria sobre o Garoto, com comentários de violonistas que foram influenciados por ele. Parabéns! Sullyvan Abreu Manaus/AM A revista está ficando cada vez melhor e o papo com o Hélio Delmiro foi ótimo! Acho que a edição número 4 amedrontava menos os iniciantes, porém a aula de arpejos foi bastante elucidativa. Queria ver o Michel Leme na próxima edição! Alexander Pindarov São Paulo/SP Hélio Delmiro e Mestre Nicanor numa tacada só foi demais! A matéria sobre o curso superior de violão foi feita sob medida para muitos dos meus alunos. Valeu mesmo! Denise Beineke Guaíba/RS Adorei a coletânea de exercícios de arpejo da edição passada! Embora os exercícios do Henrique Pinto fiquem muito a desejar, os do Carlevaro são ótimos para o dia-a-dia. Verônica Favato Uberlândia/MG A primeira Violão PRO que comprei foi a edição número 5 - um cliente me disse que o Rogerinho Caetano aparecia em uma entrevista com um de meus violões e falava sobre mim. Fiquei muito satisfeito em ver uma revista especializada sobre a nossa paixão: o violão! Fico muito agradecido pela publicação das gentis palavras do grande Rogério Caetano sobre meus instrumentos! Gostaria de aproveitar a oportunidade para divulgar o meu site na web (www. ebluthier.com.br). Ele contém bastante informação sobre madeiras, violões e técnicas de luteria, que acredito ser de grande interesse para os leitores. Muito obrigado! Eduardo Brito - Luthier Brasilia/DF

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EQUIPAMENTOS, MÚSICOS, ENQUETES, SHOWS E NOVIDADES DO GRANDE MUNDO DOS VIOLÕES!

CHORO CARIOCA

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emorou, mas acaba de ser lançada pela gravadora Acari a tão esperada coleção Choro Carioca: Música do Brasil, mais um grande trabalho produzido pela cavaquinista Luciana Rabello e o violonista Maurício Carrilho. O choro é um gênero musical tipicamente carioca que se espalhou por todo o Brasil. Nos nove CDs dessa coleção, a dupla mapeia o choro pelas diferentes regiões brasileiras, com 132 obras de 74 compositores nascidos até 1905. “Nossa proposta aqui é realizar uma leitura contemporânea dessa música, sem a pretensão de reproduzir fielmente a maneira como ela era tocada no início do século XX”, afirma Luciana no livreto que contém dados biográficos dos compositores. Entre eles, estão nomes conhecidos como Pixinguinha, Zequinha de Abreu, Canhoto e Villa-Lobos, e outros de menor expressão nacional, mas que marcaram época em seus Estados de origem. Para as gravações, foram chamados grandes instrumentistas, como o flautista Toninho Carrasqueira, o Quarteto Maogani e o pianista Cristóvão Bastos. Imperdível! Para mais informações, visite o site www.acari.com.br.

SEM FRONTEIRAS

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Fotos: Fernanda Cano

violonista americano Rick Udler é um apaixonado por música brasileira. Morando no São Paulo já há algum tempo, ele lançou recentemente o ótimo CD Papaya (Independente), totalmente autoral. Com um fraseado limpo, preciso e com muito suingue, ele condensa de maneira muito original em suas composições as escolas de Baden Powell e Paulinho Nogueira com suas origens bluseiras e jazzistas. O resultado é um CD primoroso, repleto de atmosferas criadas pelos arranjos e pela pegada de violão delicada e muito pessoal de Rick. Algumas faixas merecem destaque especial, como o samba Amigo Paulo, o choro Sentimental, a divertida The Tramp e a provocante Papaya, com suas citações a Jimi Hendrix. Rick teve o acompanhamento luxuoso da percussão de João Parahyba, do contrabaixo de Zé Alexandre Carvalho e do piano de Lika Meinberg, que fizeram toda a diferença nos climas sugeridos pelas composições. Obrigatório!

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De leitor para leitor

O que eles tocam

Como fazer para motivar os alunos?

Dou aula para crianças e a motivação é o que mais tenho que trabalhar com eles! Procuro ensiná-los a tocar peças que eles conheçam. Mesmo que não consigam tocar todas as notas, faço arranjos para eles tocarem apenas em uma corda e eu toco os resto. Hoje mesmo dei aula para uma menina de 7 anos que estava meio desmotivada. Pedi para ela me levar um CD de músicas infantis que ela conhecia e juntas fomos descobrindo o som das notas, tirando a melodia e acabamos fazendo do violão um instrumento de percussão e ela adorou! Com os mais adolescentes, trabalho muito improviso, dou desenhos de pentatônicas e deixo eles descobrirem rítmicas interessantes. Também gosto de colocar os alunos para tocar com outros instrumentistas em apresentações pequenas, em duo, trio ou em uma banda. Lilian Magnani São Paulo-SP

Para mim, o principal fator de motivação do aluno é o relacionamento prazeroso entre professor-aluno-estudo. Um professor entusiasmado com seu trabalho e que respeita as características pessoais do aluno

em relação ao gosto musical, tempo de estudo, capacidade de concentração e atenção obterá bons resultados. Elogiar os avanços mesmo que pequenos e disponibilizar todo o material que estiver ao seu alcance é fundametal. Um repertório variado também ajuda assim como uma sala de estudos limpa, bem iluminada e utilizada somente para atividades musicais. Por fim, a minha dica pessoal: o professor de violão é um educador, portanto, estudar metodologia de ensino, psicologia e didática ajuda muito. Denise Beineke Guaíba-RS

Tento fazer com que os alunos criem gosto pela disciplina de estudo, tratando-a como um prazer em vez de ser uma tarefa penosa a cumprir. Proponho apresentações públicas - os alunos se sentem muito mais motivados montando e lapidando a obra estudada, seja ela uma simples canção popular ou uma peça importante no repertório violonístico. Um dia ouvi um “capoeira” dizer com grande entusiasmo: “Nada se compara a emoção de se ajoelhar ao pé do berimbau”. Para nós violonistas, nunca devemos esquecer o prazer da prática e de poder se apresentar diante de uma platéia. Hamilton Almeida Salvador-BA

Participe desta seção. Escreva para contato@violaopro.com.br e responda: “Como você cuida das suas unhas?”

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violonista argentino Pablo Márquez é um dos principais nomes do violão erudito da atualidade. Radicado na Basiléia, Suíça, ele possui um incrível repertório solo, que vai do renascentista Francesco Da Milano até o vanguardista Luciano Berio. Para suas gravações e concertos, ele não dispensa o seu violão Daniel Friederich, construído por este grande luthier francês na década de 1970. Seu instrumento é um raro exemplar com o tampo em pinho, pois Friederich sempre preferiu usar o cedro nos tampos de seus violões.

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á mais de 30 anos o violonista Luiz Cláudio Ramos vem assinando arranjos, dirigindo espetáculos e tocando na banda do compositor Chico Buarque. Na atual turnê de divulgação do CD Carioca, Ramos tem usado um violão de 1992 construído pelo luthier carioca Mário Jorge Passos, microfonado com um Shure e com captação RMC. Para timbres elétricos, ele tem usado uma guitarra semi-acústica Gibson Howard Roberts Fusion, de 1980.

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Strings INSTRUMENTAL BRASILEIRO

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Fotos: Eni Cunha

sempre inquieto Arismar do Espírito Santo surpreende mais uma vez com o lançamento de seu terceiro CD solo, Foto do Satélite (Maritaca). Nessa coleção de 16 faixas autorais, o multinstrumentista alterna-se entre violões de sete e doze cordas, contrabaixo, guitarra, piano, voz, e - ufa! - bateria. Nada disso teria importância em um CD autoral se Arismar também não fosse um ótimo compositor. Um time de bambas acompanhou o músico em seus sambas, baiões, xotes e salsas inspirados e bem pessoais, como o contrabaixista Thiago do Espírito Santo e a cantora Bia Góes - filhos dele -, os saxofonistas Proveta e Vinícius Dorin, o acordeonista Dominguinhos, a flautista Léa Freire e o trompetista Daniel D’Alcantara. Do repertório, podemos destacar o samba A Gueixa, em que Vinícius Dorin, Proveta e Daniel D´Alcantara dão um show de técnica, suingue e improvisos; as singelas Luizinha e Brincadeira de Criança; a marcha-rancho Serena e o baião Cadê a Marreca, que tem Dominguinhos no acordeom, Thiago na craviola - o que dá um colorido bem diferente - e Arismar no sete-cordas. Sem dúvida, esse é um disco antológico.

VIOLÃO AMIGO

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Foto: Manuel Assunção Santos

uando lançou o primeiro volume da série de livros Violão Amigo em 1998, o mestre Turíbio Santos propôs um método original e instigante para o aprendizado do violão através de harmonias simples de conhecidas cantigas de roda brasileiras. Com texto bilíngüe em português e inglês, o caprichado álbum trazia pautas musicais de Eu fui no Tororó, Cirandinha e Sapo Cururu, entre outras, além de arranjos especiais como os de Samba-Lelê e Carneirinho, Carneirão. No final, Turíbio sugeria ao iniciante algumas peças da literatura tradicional do violão. Quem aprendeu e se divertiu com os arranjos do livro certamente se emocionará ao ouvi-los sendo tocados pelo violonista no recém-lançado CD Violão Amigo: Canções de Todos os Tempos (Delira Música). “As canções infantis brasileiras fazem reviver um tesouro do nosso patrimônio musical”, disse ele no encarte. Com a categoria que lhe é habitual, Turíbio cria um ambiente lúdico e mágico nas 29 faixas deste CD, a maioria curtinha, com cerca de um minuto de duração, que inclui também peças de Gaspar Sanz e estudos de Fernando Sor e Francisco Tárrega. Não deixe de ouvir!

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TURNÊ BRASILEIRA

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Foto: Fábio Carrilho

o mês de setembro o violonista Romero Lubambo finalmente se apresentou em terras brasileiras com o Trio da Paz, ao lado do contrabaixista Nilson Matta e do baterista Duduka da Fonseca. Eles estão entre os músicos mais requisitados de Nova York, cidade onde vivem há mais de 20 anos, e a lista de grandes nomes do jazz com quem já tocaram é extensa, incluindo os saxofonistas Lee Konitz e Herbie Mann, o guitarrista Charlie Byrd e o pianista Kenny Barron. A miniturnê começou no Festival de Jazz de Ouro Preto e depois passou por Paraty, Brasília, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. No melhor estilo “brazilian jazz”, eles tocaram temas próprios e recriações de músicas de Toninho Horta, Tom Jobim, Durval Ferreira e até do Hino Nacional Brasileiro, esse em versão bossa nova. No show em São Paulo, na casa Tom Jazz, Lubambo mostrou sua incrível capacidade de fundir a linguagem do violão brasileiro com a jazzística e arrancou aplausos calorosos por seus improvisos. O Trio da Paz foi formado em 1990 e possui cinco CDs gravados, todos lançados no mercado norte-americano. Se puder, tente escutá-los. São todos ótimos!

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Strings FIQUE LIGADO!

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fim do ano está aí e alguns concursos, festivais e cursos de música bem legais estarão com inscrições abertas pelo Brasil. Tome nota:

• De 6 a 8 de dezembro, a cidade mineira de Uberlândia sediará o Seminário e Concurso Nacional de Violão Jodacil Damasceno. As inscrições para o concurso serão aceitas até o dia 24 de novembro. Para o seminário, as inscrições irão até o dia 4 de dezembro. Site: www.demac.ufu.br/ jodacildamaceno.

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• As inscrições para a XXV Oficina de Música de Curitiba poderão ser feitas até o dia 10 de novembro. A exemplo dos anos anteriores, serão oferecidos cursos nas áreas popular e erudita, vários deles para violão. A Oficina acontecerá entre os dias 7 e 31 de janeiro de 2007. Site: www.oficinademusica.org.br;

• O Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, na capital paulista, abrirá as inscrições para seus cursos regulares a partir de 2 de janeiro de 2007. A instituição oferece cursos gratuitos de formação instrumental nas áreas popular e erudita. Dentre os professores de violão, há grandes músicos como Edmílson Capelupi, Camilo Carrara e Conrado Paulino. Vale a pena conferir o conteúdo exigido no teste de admissão com antecedência no site www.centrotomjobim.org.br.

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Uma jóia a ser descoberta Representando a melhor tradição dos duos de violões, João Luiz e Douglas Lora inovam ao tocar arranjos de música brasileira, vencem importante concurso de música norte-americano e vêm abrir as portas no cenário internacional de violão

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ouco conhecidos no Brasil, esses dois discípulos de Henrique Pinto venceram a edição de 2006 do Concert Artists Guild, um dos mais importantes concursos norte-americanos de música clássica, que já premiou feras como o Los Angeles Guitar Quartet e o violonista Manuel Barrueco. Como prêmio, eles ganharam o agenciamento por dois anos de concertos pelos Estados Unidos – em novembro tocarão no Carnegie Hall de Nova York - , pela Europa e pelo Japão, o que certamente abrirá as portas para eles no cenário internacional. De um tempo para cá, eles incorporaram arranjos de músicas de Jacob do Bandolim, Heraldo do Monte, Paulo Bellinati e até Djavan em seu repertório, sem perder a essência do trabalho que começou com peças de Scarlatti, Bach, Castelnuovo Tedesco e Sor, além de composições de Douglas Lora. Aproveitando um intervalo entre seus ensaios em São Paulo, Violão PRO conversou com os rapazes, que falaram do prêmio e do trabalho do Brasil Guitar Duo, nome pelo qual eles atendem lá fora. > Violão PRO: Como surgiu a idéia de participar do Concert Artists Guild (CAG)? Douglas: Fiquei sabendo deste concurso através de amigos durante o mestrado que fiz na Universidade de Miami.

Por Fábio Carrilho Fotos: Kriz Knack

Ninguém conhece este concurso no Brasil. Nós nos inscrevemos, mandamos CDs, partituras. O concurso é para todos os instrumentos, não é só para violão. É um processo em que você deve ter preparado 60 minutos de música, porque em cada etapa eles escolhem o que você tem que tocar e montam o programa. No final, a gente descobriu que é um dos concursos mais importantes dos Estados Unidos, com quase 400 inscritos do mundo inteiro. > Como foi a preparação para o CAG? João: O duo existe há dez anos. Antes do Douglas ir estudar nos Estados Unidos, a gente já tinha gravado nosso primeiro disco e sempre estudava muito. Na faculdade, víamos violonistas que estudavam normalmente, mas a gente não queria fazer aquele trabalho, queríamos fazer um pouco mais e nos matavámos de estudar. O concurso é muito puxado, mas nós vinhamos de uma história de muito estudo e a coisa já estava meio engatilhada com relação ao repertório. Cheguei em Nova York com uns 20 dias de antecedência e estudamos mais ainda, todos os dias. > Como vocês estão encarando tudo isso? Douglas: É uma grande oportunidade de mostrar nosso trabalho em outros lugares. Nós temos um contrato com

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Erudito o CAG que prevê concertos agendados nos Estados Unidos, Europa e Japão até 2008. Depois, nós podemos renová-lo. Vamos tocar em novembro no Carnegie Hall e em vários lugares perto de Nova YorK. Temos turnês pelos Estados Unidos quase todo o mês. João: Nós estamos sendo muito mais reconhecidos fora do Brasil do que aqui. Não é só o fato das pessoas gostarem. Todos os nossos concertos ficam lotados, com as pessoas aplaudindo em pé. A gente vende todos os nossos CDs e nossos empresários adoram a gente. Enquanto isso, no Brasil, a gente tem dificuldade para fazer um concerto por mês. > Como vocês enxergam o cenário internacional de violão clássico? Douglas: O pessoal aqui do Brasil acaba achando que lá fora a coisa é muito melhor. Existem muitos violonistas estrangeiros maravilhosos, mas o violão brasileiro tem uma força e uma beleza que são raras de se encontrar nos outros países. João: É só você pegar a marca que os Abreu e os Assad deixaram e uma es-

cola violonística como a do Henrique Pinto, que é absoluta, não vejo quem dê aulas melhor do que ele. A gente vem da escola do Henrique, do Fábio Zanon, do Paulo Martelli. Douglas: No mundo acadêmico dos Estados Unidos, você vê muito moleque tocando bem. Aqui no Brasil, temos uma rapaziada tocando violão clássico e popular de uma maneira impressionante, basta ver o pessoal do choro. Os violonistas brasileiros não devem nada para ninguém e, pelo menos para mim, estão entre os melhores do mundo. > O que vocês costumam ouvir? Douglas: Gosto do Juliam Bream, do David Russell, do Fábio Zanon, do Paulo Martelli e de caras que estão nesse nível de expressão e sonoridade. Também ouço muito violão popular. Gosto muito do Marco Pereira e acabei de receber o CD do Alessandro Penezzi, que é maravilhoso. João: Tenho ouvido pouco violão ultimamente, mas as minhas grandes referências foram o Juliam Bream e o Andrés Segóvia, que são absolutos. Gosto muito do Sérgio Abreu tocando solo e, na atualidade, gosto do Fábio Zanon e do Paulo Martelli,

Violão Soo Modelo Brahman

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que são dois gênios do violão mundial. Fora do violão, eu gosto muito de ouvir piano com quarteto de cordas. > Como que vocês se conheceram? João: Quando entrei na FAAM [Faculdades Integradas Alcântara Machado, na capital paulista], o Douglas já estava no segundo ano. O Henrique Pinto, nosso professor de violão, dava aulas em casa e a minha era antes da aula do Douglas. Eu chegava e gostava de ficar ouvindo o Douglas tocar. Ele era a referência que eu tinha, porque cheguei na faculdade muito iniciante. Tínhamos uma matéria que era música de câmara. Comecei fazendo com um guitarrista muito bom da minha classe que também tocava violão, o Zeca Loureiro. Nós fizemos uma prova que foi um fracasso total, com a professora me esculachando na prova pública, disse que estava tudo errado e tal. Daí eu pensei em fazer música de câmara à sério e procurei um violonista que fizesse o mesmo. Foi assim que cheguei ao Douglas. Ele já tocava e estava em um nível mais avançado do que o meu. Douglas: Começamos com um reper-

tório pequeno e alguns professores começaram a prestar atenção na gente, principalmente o Henrique Pinto, que disse que nós tínhamos uma química boa. Aos poucos, ele foi agendando alguns concertos e nós fomos montando o repertório. > Como vocês trabalham seus arranjos? João: Tem muito coisa que dá para tocar em dois violões. Conheço bastante repertório, mas só pego para trabalhar coisas que acredito que combinam com nós dois. Tem coisas maravilhosas que eu gostaria de tocar e que são possíveis para dois violões, mas que não combinam com a gente. > Não combinam com o gosto ou com a técnica? João: Não combinam com o estilo e o som do duo. A gente toca há muito tempo uma suíte de Bach que é perfeita para duo. Eu gostaria de fazer uma fantasia de Bach. Só que o tipo de composição dessa fantasia, a sua forma e o tipo de contraponto não dariam um efeito tão bom para dois violões quanto o da suíte. Por isso preferimos não fazê-la.

Violão Sérgio Abreu 1997

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Erudito

> Como vocês trabalham uma peça nova? Douglas: Geralmente nós começamos lendo bem devagar. Depois vamos acertando as articulações, as digitações necessárias para conseguir fraseados coerentes um com o outro. Quando vemos que a coisa pode funcionar, cada um vai para sua casa e estuda a parte em separado para entendê-la bem. Depois de um tempo, alguns dias ou até mesmo no dia seguinte, nós começamos a tocar juntos, sempre do zero, com o metrônomo ligado, aumentando ponto por ponto até chegar ao andamento que gente quer. Nós sempre estudamos assim, desde o início. É isso que dá mais segurança e precisão. João: Outra coisa muito importante é que o Douglas sabe tocar a minha parte na cabeça dele e eu sei tocar a parte dele na minha. É fundamental desmembrar a música inteira. Douglas: Quando você estuda sozinho, tem que estar sempre com a parte do outro na cabeça ou a coisa não funciona. O repertório que temos feito é muito polifônico, com coisas bem intrincadas. Há trechos de

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semicolcheias que fazemos alternadamente. João: É necessário ouvir o que está fazendo. Sempre trabalhamos em cima de gravações de nossos ensaios. > Como vocês dividem as partes que cada um vai fazer? João: É bem natural. Às vezes tem coisas que acho que não é para minha mão e que o Douglas poderia fazer muito melhor, então deixo pra ele e vice-versa. No começo, a gente até invertia mais. Douglas: No duo de violões, as duas partes são igualmente importantes. O João, por exemplo, toca nas regiões agudas com muito mais facilidade, então quando as coisas vão muito mais para o agudo eu deixo que ele faça. E sempre tem aquela coisa de um ajudar o outro. Se tem duas notas em um lugar que o João não pode fazer, eu faço no meu violão. João: Isso só se dá quando você tem uma afinidade muito grande e um está entendendo o outro muito bem. A gente não encara a música de câmara como “vamos

nos reunir e tocar uma peça juntos”. Esse duo só existe se eu tocar com o Douglas e vice-versa. Em outras formações, até violonísticas, isso acontece. No nosso duo não dá para substituir. É a gente mesmo. > Como será o próximo CD de vocês? Douglas: Será basicamente de música brasileira, com vários arranjos do João, e se chamará Bom Partido. O CD já está gravado e nós vamos lançar nos Estados Unidos, mas ainda não sabemos com quem, talvez faremos independente. Ele terá composições minhas, peças do Paulo Bellinati, Marlos Nobre e, se Deus quiser, nós vamos lançar este CD no Carnegie Hall, em novembro!

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Vintage

O xodó do maestro

Violão Tenor Del Vecchio 1935 Texto e fotos: Fábio Carrilho

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maestro Zé Menezes é um fenômeno, não só pela competência com que toca violão, violão tenor, viola, guitarra, banjo, cavaquinho e bandolim, mas também por sua incrível trajetória musical. Talvez nenhum outro músico tenha atuado de maneira tão intensa em praticamente todas as fases da música brasileira. Desde que se mudou de Juazeiro, na Bahia, para o Rio de Janeiro, em meados da década de 40, o Menezes viveu de perto a Era de Ouro do Rádio, acompanhou Orlando Silva, foi parceiro de Garoto na Rádio Nacional, tocou no sexteto de Radamés Gnattali, viu o nascimento da bossa nova, gravou rock com Roberto Carlos e teve parcerias com Tom Jobim, Meira, Baden Powell e Raphael Rabello. De todos os instrumentos de Zé Menezes, que está com 84 anos de idade, o seu grande xodó é o um violão tenor Del Vecchio, fabricado em 1935. “Eu ainda morava em Fortaleza e encomendei este violão com o Del Vecchio porque gostava de ouvir o Garoto tocando

violão tenor”, lembra Menezes. “A idéia deste modelo de tenor foi do Garoto, mas quem a concretizou foi o Del Vecchio. O Garoto tocava banjo – era conhecido como Garoto do Banjo – e ele queria um instrumento que não tivesse um som tão percussivo. Ele teve a idéia de substituir a pele do banjo por um disco de alumínio sobre o cavalete. O som desse instrumento é mais suave, dinâmico e melancólico do que o do banjo-tenor”, acrescenta. “A primeira gravação que fiz com ele foi em um disco de 78 rotações de 1947, que tinha dois choros meus, Eu gosto de você e Nunca mais. É um instrumento afinado em quintas (C G D A) e tocado com palheta. Uso cordas de aço de banjo tenor, exceto a primeira, que é uma corda 0,09mm de guitarra. Para shows e gravações, microfono ele com um AKG ”, disse. Quem quiser ouvir o maestro esmerilhando no violão tenor não deve deixar de ouvir Zé Menezes Autoral - Regional de Choro (ABZ Digital), seu mais recente CD.

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Violao Brasileiro

O ano de 2006 tem sido muito produtivo para o violonista piracicabano Alessandro Penezzi. Ele acaba de lançar seu segundo CD solo, que leva seu nome, no qual mostra composições originais e, também, sua habitual boa forma ao violão. Mais conhecido como músico de choro, Penezzi inovou gravando músicas inspiradas em Baden Powell, no violão flamenco e no frevo pernambucano. Ele contou com várias participações especiais, como o violonista Yamandu Costa e a cantora Beth Carvalho. No início do ano, ele lançou Baba de Calango (Maritaca), ótimo CD de estréia do Choro Rasgado, grupo em que divide os violões com outra fera, o sete-cordas Zé Barbeiro. Por Fábio Carrilho Fotos: Carolina Andrade

Cinco anos após seu primeiro trabalho solo, Alessandro Penezzi lança CD com músicas autorais que vão muito além do choro 22 ViolaoPro 6.indd 22

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adicado na cidade de São Paulo desde 2003, Alessandro Penezzi vem atraindo admiradores para vê-lo tocar todas as terças-feiras no bar Ó do Borogodó, no bairro da Vila Madalena. Aos 32 anos, ele começou a tocar ainda jovem com o regional do grande flautista Carlos Poyares. Já adulto, foi estudar na Unicamp [Universidade de Campinas] com Ulisses Rocha – diz a lenda que Ulisses o dispensou das aulas práticas porque Penezzi já sabia tudo de violão. Depois vieram

os trabalhos com o Trio Quintessência e o seu trabalho solo, que lhe rendeu belas participações no Prêmio Visa de Música Instrumental, e também com o Choro Rasgado. Em 2004, ele participou do documentário Violões do Brasil, organizado pela pesquisadora Myriam Taubkin e que é um dos mais importantes já produzidos sobre o instrumento no País. Confira a seguir na entrevista em que Penezzi fala do seu novo CD, das suas influências e do trabalho com o Choro Rasgado.

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Violao Brasileiro

> Violão PRO: Como surgiu a idéia de gravar o segundo CD solo? Estava acumulando composições há algum tempo. Meu primeiro CD como solista é de 2001, então já estava mais do que na hora de lançar o segundo trabalho. Ele é um balanço da minha carreira e representa bem a minha história em São Paulo, em-

bora tenha gravado a música Nhô Quin, em que homenageio o XV de Piracicaba (time de futebol da cidade). > Você é mais conhecido como um músico de choro. Neste CD você mostrou sonoridades diferentes do que as pessoas normalmente esperam. Esta coisa de tocar choro sempre foi o que mais me marcou. Já toquei em vários regionais e também toco cavaquinho, bandolim, violão tenor e flauta. Paralelamente sempre fiz outras coisas: estudei violão erudito e sempre gostei muito do som do Baden Powell. Tem algumas coisas no CD que são inspiradas nele, como os pontos recolhidos de umbanda, que acabaram dando uma sonoridade bem especial. A música Be-a-Baden também é uma homenagem. Ela tem algumas situações técnicas que ele usava, como o polegar para baixo e para cima, os arpejos típicos de polegar, indicador, médio e anular juntos e toda aquela melodia. Também sempre gostei de flamenco. Sinto-me atraído pelo som. Para aprender a tocar eu teria que nascer outra vez, porque tenho muita dificuldade com o compasso. Na música Madrugada, do Zé Ketti, procurei dar esse sabor. Uma curiosidade dessa faixa é que ela já era tocada com um ritmo flamenco, meio cigano, em uma peça de teatro que participei. Gostei, criei o groove de entrada e fiz a música com percussão flamenca, djembê e palmas. O violonista Tito Gonzáles e o cantor Mário Vargas participaram.

> Como você aproveita a técnica flamenca no seu som de violão? Aproveito a força com que eles tocam nas escalas e nos picados. Sinto um toque forte ali, embora não saiba se eles tocam realmente com força. Acho que é um toque mais apoiado e eu tento aproveitar isso. O polegar deles também é incrível. Violonistas como o Baden Powell e o Raphael Rabello utilizavam um pouco da técnica do polegar. O Yamandu Costa usa atualmente. Acho que a técnica, quando usada para um fim musical, é sempre bem-vinda. Fora isso, os arpejos do flamenco são muito bacanas e também o posicionamento das mãos, que é mais seguro e tem a mão direita mais parada. Na mão esquerda, eles usam apojaturas à beça e, às vezes, tento tirar alguma coisa e colocar nas minhas músicas. > Seu CD teve várias participações especiais e uma delas foi a do Yamandu Costa. Vocês pensam em fazer algum trabalho juntos? Nós temos um show em novembro em Jundiaí, interior de São Paulo, que dá prosseguimento ao nosso duo. Na verdade era para ser um trio, com o Rogério Caetano tocando conosco. Acabamos nos encontrando menos do que a gente queria. Conheci o Yamandu no Ó do Borogodó, bar de choro e samba de São Paulo, onde eu toco e ele freqüenta. Ali começou nossa amizade. Ele me convidou para ir aos shows dele e também para dar canjas. Depois disso, toquei com ele no projeto Duos Brasileiros, da Cultura Inglesa de São Paulo, e no Centro Cultural Banco do Brasil, em um show com a

Discografia Solo/Grupos Alessandro Penezzi - Alessandro Penezzi, Independente, 2006 Baba de Calango - Choro Rasgado, Maritaca, 2006 A Quintessência da Música - Trio Quintessência, Allegretto, 2002 Abismo de Rosas - Alessandro Penezzi, Alegretto, 2001 Participações Especiais Toninho Ferragutti – Nem Sol nem Lua, Biscoito Fino, 2006 Aleh Ferreira – Choros Inéditos, Independente, 2005 Violões do Brasil (CD e DVD) – Independente, 2004

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Penezzi acompanhado do Quinteto em Branco e Preto

participação do Oswaldinho do Acordeon. Não temos nada gravado ainda. Ele participou da faixa Dayanna no meu CD novo, gostou e pediu para gravá-la em outro trabalho dele com o baixista Guto Wirty e o violinista Nicolas Krassik. Embora o disco não tenha saído ainda, ele me mostrou a gravação e ficou lindo. > Você cantou na faixa No Assento do Ônibus. Como foi essa experiência? Sempre cantei samba, desde adolescente. Tive até um grupo em que todos cantavam. Fazíamos aquelas vozes em coral, tipo fundamental, terça e quinta. Na música Assento do Ônibus, pensei inicialmente em um cantor da velha-guarda, por se tratar de um samba-choro todo malandreado. Pensei no Aldo Bueno e no Roberto Silva, mas não deu certo. Depois pensei no Guinga, mostrei a música para ele. Como as bases e os sopros estavam todos gravados e só faltava colocar a voz, quando o Guinga ouviu a gravação ele disse que precisava, pelo menos, subir uns dois ou três tons, porque estava muito grave. Daí eu mesmo acabei gravando. Essa música é em parceria com o André Paschoal. Ele é pianista e nós tocamos juntos várias vezes em Piracicaba. Já estamos na nossa segunda leva de composições. Fiz a melodia numa das minhas viagens de ônibus de São Paulo a Piracicaba.

> Você também teve participação da Beth Carvalho na faixa Acabou a Brincadeira. Como foi isso? Conheci a Beth na festa do site Agenda do Samba e Choro, no Rio de Janeiro. Ela é uma pessoa muito incentivadora. Mostrei minhas músicas e depois de um tempo ela me convidou para tocar em um show em Niterói com o grupo Época de Ouro, o que foi uma grande honra para mim. Criei coragem e perguntei se ela topava participar do CD e ela disse que sim. > Escutando seus trabalhos anteriores, que evolução você sente no seu som de violão? Acho que evolui mais em maturidade. No meu primeiro CD, Abismo de Rosas, toquei o que os grandes violonistas tocaram ou pelo menos tentei fazer isso. Como todo violonista em começo de carreira, tentava imitar os grandes músicos do gênero, embora tenha gravado algumas músicas minhas. A produção do meu primeiro CD foi difícil porque não tive patrocínio nenhum. Depois acabei vendendo o tape porque não tinha como bancar a prensagem. Foi um CD do qual gostei muito, mas tive que algumas fazer concessões. Estava naquela fase do violonista que quer tocar tudo, “fritar” e tal. > Você também toca no Choro Rasgado, que lançou recentemente seu primeiro CD. Como vocês receberam a indicação na ca-

tegoria melhor CD instrumental de 2006 para o prêmio TIM? Foi muito legal. Nós perdemos bem, para a Spok Frevo Orquestra. Concorremos com ela e com o Marcel Powell. > Quando você compõe uma música, que critérios você usa para escolher se ela vai para seu trabalho solo ou para o Choro Rasgado? Nas músicas do Choro Rasgado normalmente não cabem arranjos para violão solo. Se coubessem, seria algo extremamente difícil e não funcionaria muito bem. Por outro lado, a minha música Na Segunda Ele Fica Vermelho, que é um choro que tem a segunda parte toda em fusas, gravei com o Choro Rasgado. Eu tinha bastante coisa pronta para violão e deixei para meu CD solo. Fiz a música Papa Goiaba pensando no grupo Choro Bandido, de Campinas, que no início chamava-se Papa Goiaba. Eles não gravaram a música e acabei colocando no meu CD. > Como é trabalhar com o sete-cordas Zé Barbeiro no Choro Rasgado? Tocar com o Zé é igual a tocar com todos os grandes mestres, como o Luzinho 7 Cordas. Esses violonistas são mestres pela tarimba e pela experiência que têm. Não ficam concorrendo com você e te carregam, harmonicamente falando. Seus baixos acontecem em momentos que você nem acredita de tão bem

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Violao Brasileiro Quebrando tudo no show de lançamento do seu novo CD

Violão Lineu Bravo: “É um violão bem anatômico em ébano e cedro. As cordas são bem baixas e tensas. A caixa de ressonância é um pouco mais estreita do que a normal. Uso um pré-amplificador da Fishman, o Pocket Blender. No meu CD novo, usei apenas a captação do microfone”. Cordas: “Tenho usado as D’Addario Composite”. Unhas: “Embora queira parar, no momento uso unhas de plástico da Fingers”. Sete-Cordas Lineu Bravo: “Uso com cordas de aço Piramid, com a corda C de violoncelo na sétima corda. Uso também dedeira de aço”. Bandolim JB Viola Del Vecchio Cavaco Mater

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pensados, embora eles toquem naturalmente, sem pensar, de tanto que já tocaram. O Zé é um sujeito extremamente criativo nas suas baixarias e nos seus contrapontos e tem levadas incríveis. Às vezes, não sei se toco ou se fico ouvindo-o tocar. É sempre uma aula. Ele me deixa bem à vontade, faço o que quero, embora tente separar um pouco os timbres, tocando mais para os agudos. > Quando vocês tocam juntos, suas funções são bem diferentes, mas o seu violão não é aquele seis-cordas que as pessoas estão acostumadas a ouvir. Gosto muito de todas as funções do violão no choro. Também toco violão de sete e, às vezes, escapa uma baixaria. Também gosto da posição do violão de seis, que o Jacob do Bandolim chamava de “gemedeira”. Quando toco com o bandolinista Danilo Brito, ele gosta que eu faça o teleco-teco, que é uma levada de samba bem antiga, feita pelo Bola Sete e pelo Jorge Costa, que acompanhava o Waldir Azevedo. É uma levada que parece de cavaco, mas que é feita no violão com os dedos polegar, indicador e médio. Ela dá um molho de

samba muito bacana. O Zé Barbeiro também faz o teleco-teco e, às vezes, quando acompanhamos o Danilo, nós dois fazemos juntos e o Danilo fica em êxtase. Por outro lado, tento fazer aqueles contrapontos, imitando um pouco a flauta e o bandolim e, então, lembro dos grandes mestres que fizeram isso. Cheguei a tocar com o Carlos Poyares, que foi um baita mestre na arte do contraponto, acompanhando cantores com aquelas melodias paralelas. Outro cara genial é o bandolinista João Macambira, que é sensacional acompanhando e fazendo contraponto. Tento dar uma cara diferente ao meu violão, se é que isso é possível. > Quais são os seus projetos futuros? Vou gravar um CD em duo com o Zé Barbeiro. Já estamos até vendo estúdio. Também tenho um projeto de CD em duo com o Danilo Brito. Talvez verse pelo erudito, na onda daquele CD do Raphael Rabello com o bandolinista Déo Rian.

Site: www.alessandropenezzi.com.br/ Orkut: http://www.orkut.com Community.aspx?cmm=924128

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Evento

Seminário de violão movimenta Mogi das Cruzes

Por Gilson Antunes

Grandes violonistas deram masterclasses e apresentaram recitais no evento que reuniu participantes de todo o Brasil

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ntre os dias 7 e 10 de setembro aconteceu a quinta edição do Seminário Nacional de Violão Vital Medeiros, um dos mais importantes eventos do violão brasileiro. Realizado na cidade de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, o seminário reuniu mais de 100 participantes de 13 Estados, que vieram em busca de aprimoramento e novas amizades, como vem ocorrendo desde 2002. A produtora do evento foi novamente Juraci Barros, viúva do violonista Vital Medeiros, que teve grandes dificuldades (como ocorreu

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no ano passado) para conseguir recursos para a realização do Seminário, que só foi possível graças ao apoio da iniciativa privada. O Seminário começou no dia 7 com o violonista Rinaldo Caldeira Pinto, que apresentou duas pequenas obras em homenagem ao seu mestre Vital Medeiros. Em seguida, aconteceram as masterclasses de Flávio Apro (mestre em música pela UNESP, Universidade Estadual de São Paulo) e Luis Carlos Barbieri (professor substituto da UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeito). O tema

da aula de Apro foi a interpretação e ele observou que um bom conhecimento de estética musical é fundamental para o intérprete. Já Barbieri abordou a questão da preparação e quanto os violonistas podem ganhar em tempo com um estudo mais racional. À tarde, a mestranda pela USP (Universidade de São Paulo) Flávia Prando apresentou seu trabalho sobre um dos mais obscuros violonistas brasileiros, o carioca Othon Saleiro, cujo trabalho está sendo reavaliado em pesquisa acadêmica. O primeiro dia do Seminá-

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rio foi encerrado com recitais de Flávio Apro e Eduardo Meirinhos (professor da UFG). As masterclasses de Marcelo Fernandes, professor de violão da UFMS, a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, e de Eduardo Meirinhos iniciaram o segundo dia de programação. Fernandes, discípulo do grande violonista Abel Carlevaro, falou sobre alguns aspectos técnicos que os violonistas devem observar, enquanto Meirinhos focou na interpretação. Em seguida, o luthier Samuel Oreste deu uma aula sobre luteria, comentando sobre as principais madeiras e as diversas etapas para se construir um instrumento de qualidade. Os recitais de Maurício Orosco (professor da UFU, Universidade Federal de Uberlândia) e de Luis Carlos Barbieri encerraram a noite. O terceiro dia de evento começou com a masterclass do grande violonista chileno José Antonio Escobar, vencedor da edição de 2000 do Concurso Tárrega, o mais importante concurso de violão erudito do mundo. Ele é o terceiro premiado no Tárrega a se apresentar no Seminário Vital Medeiros - os outros foram Fábio Zanon, em 2002, e Gustavo Costa, em 2005. O chileno realizou duas masterclasses bastante concorridas, em que pacientemente orientou os alunos em peças de alto grau de dificuldade, como a Sonata de Alberto Ginastera. Em seguida, a violonista Paola Pichersky (do grupo de choro As Choronas) regeu a camerata de violões da Fundação das Artes de São Caetano do Sul, um trabalho maravilhoso realizado por

Apresentação de Luis Carlos Barbieri e masterclass do chileno José Antonio Escobar (fotos superiores); masterclass de Barbieri e apresentação de Eduardo Meirinhos (fotos do meio); Paola Pichersky e a camerata de violões da Fundação das Artes de São Caetano do Sul (foto inferior).

essa escola de música. O dia terminou com os recitais de Marcelo Fernandes e do Quarteto Tau. Fernandes foi bastante aplaudido, com destaque para suas interpretações de peças de Abel Carlevaro. O Quarteto Tau apresentou um belo recital, com destaque para o arranjo da música Águas de Março, de Tom Jobim. A masterclass do paranaense Mário da Silva deu início ao último dia do evento. Mário demonstrou bastante conhecimento em obras de diferentes estilos, principalmente do barroco. À tarde, o violonista Maurício Orosco deu a mais longa de todas as masterclasses, mostrando muita paciência e a sua

inegável veia didática. Em seguida, o editor paulista Ivan Paschoitto deu uma palestra interessante sobre editoração musical e sobre o histórico das publicações no Brasil e esse mercado. O recital de José Antonio Escobar, que apresentou um repertório apenas de compositores chilenos contemporâneos, e a apresentação do espetáculo Abraço de Amigo, com a dançarina Roccio Infante e o violonista Mário da Silva, encerraram o seminário. Ambas as apresentações foram fantásticas, fechando com chave de ouro mais uma edição de um dos mais importantes eventos violonísticos brasileiros da atualidade.

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Capa

Para entender a maneira de pensar música de Lenine é necessário voltar no tempo. Quando garoto em Recife, o violão era a sua grande fixação e, através dos discos de seu pai, teve contato com os clássicos eruditos, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Glenn Miller, Orlando Silva, Mario Lanza, modinhas portuguesas, dodecafonismo e outras coisas mais. Na adolescência apaixonou-se pelo rock do Led Zeppelin e do Police. Por aí podemos arriscar algumas observações sobre a sua maneira tão pessoal de compor e cantar e, também, sobre sua levada crua, suingada e instigante de tocar violão, sua grande marca registrada.

O caldeirão sonoro universal de Lenine Por Daniel Neves e Fábio Carrilho Fotos: Guto Costa

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esde sua estréia fonográfica em 1983, quando lançou o disco Baque Solto em parceria com Lula Queiroga, Lenine viu muita coisa boa acontecer na sua carreira. Suas músicas foram gravadas por artistas de várias gerações, como Maria Bethânia, Milton Nascimento, Fernanda Abreu, Daniela Mercury, Maria Rita e Zélia Duncan. Sua popularidade deu um grande salto a partir do disco O Dia em que Faremos Contato (1997), um marco da música brasileira da década passada. Seu som

inovador ultrapassou fronteiras – só na França seus CDs já venderam mais de 60 mil cópias – e não restam dúvidas de que hoje ele faz parte do primeiro time de compositores da MPB. Lenine acabou de lançar uma bela compilação em CD e DVD de sua obra dentro do projeto Acústico, da MTV. A seguir, fique com a entrevista que o músico pernambucano concedeu à Violão PRO, em que ele fala sobre o seu jeito de tocar violão, suas influências e seu trabalho como compositor e produtor.

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> Violão PRO: O que o violão significa para você? Lenine: O violão foi o meu primeiro instrumento. A minha primeira relação com a música se deu quando eu “roubava” o violão que minha irmã escondia no guarda-roupas dela. E ela escondia a chave. O que ela não desconfiava era que eu sabia onde era o esconderijo! > Em que época foi isso? A partir de uns oito anos de idade. Toda vez que ela saía eu pegava a chave, abria o guar-

da-roupas e pegava o violão. O violão foi e continua sendo o meu veículo de criação, de composição. A música era muito presente na minha casa. Era natural que cada um tivesse um momento de descoberta, que em geral se dava com o violão. Domingo era um dia sagrado para a gente. Nós acordávamos e papai começava a ouvir canções. Por diletantismo, a gente ia entrando nesta seara. A música em casa e a gente tocando de tudo permearam toda a minha vida. Sempre tenho a lembrança desse encontro familiar muito próxima de mim.

> A levada de violão é uma das suas marcas características. Como você a desenvolveu? Por causa do meu convívio com a música, comecei a compor quase que naturalmente. Foi uma maneira de eu me expressar. Como todo mundo que começa a tocar, comecei a explorar o instrumento. Tirava tudo o que gostava e tentava transpor para aquele universo do violão e da voz. Depois teve a história do rock na minha vida. O violão era o veículo para eu poder reproduzir aquelas canções que eu gostava. “O violão foi e continua sendo o meu veículo de criação, de composição” — Lenine

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Capa > O que você ouvia? Muito Led Zeppelin.

“Foi compondo que descobri uma maneira de tocar, de cantar e até mesmo de criar” — Lenine

> Nossa! Isso é uma coisa muito bacana. Hoje eu me orgulho das pessoas me considerarem uma referência na música brasileira, mas não estaria sendo honesto com você se não dissesse que quem me aproximou da música foi o rock. E também teve o negócio do formato de trio. Em um outro momento, teve o Police, que deu continuidade ao formato de trio. Para mim, os meus Beatles seriam uma mistura de Led Zeppelin e Police. > E a música nordestina, que também é muito presente no seu trabalho? O que ouvia? Nos domingos em família, ouvíamos tudo de música brasileira. De Jackson do Pandeiro a Altemar Dultra, de Angela Maria a Ciro Monteiro, de Agostinho dos Santos a Luiz Gonzaga. Dentro do universo da música nordestina, Jackson e Gonzaga reinavam absolutos, mas lembro com carinho do Ari Lobo, do Trio Nordestino, do

Violões Di Giorgio Tárrega 1972 – “Já faz muitos anos que uso este violão para gravações. Ele foi feito para o Dorival Caymmi e é realmente muito especial”. Yamaha Semi-Acústico AEX 500N Amplificador Fender Acoustasonic Efeitos: “Além do wah-wah, não uso efeitos na forma de pedais. Quem pilota a maioria dos timbres de meus instrumentos é o Denílson Campos. Ele usa um Roland VG-8 MIDI”. Cordas Savarez Unhas: “Minhas unhas são muito frágeis. Já tentei usar produtos de endurecimento, mas não funcionaram muito bem. Sempre as lixo, para que elas endureçam. Eventualmente, quando quebra uma unha durante a turnê, uso unhas postiças. Gosto do formato mais arredondado e inclinado para o lado direito. Eu não toco com um ângulo de 90º em relação à boca do violão, por isso as uso inclinadas”.

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Quinteto Violado e da Banda de Pífanos de Caruaru, entre outros. > Do ponto de vista rítmico do instrumento, de que maneira essa influência contribuiu para que você criasse uma característica tão marcante? Isso foi uma coisa inconsciente, orgânica. Nunca procurei isso. Acho que tem mais a ver com o exercício da composição e a influência da música nordestina, que é tão rica melódica e ritmicamente. Foi compondo que descobri uma maneira de tocar, de cantar e até mesmo de criar. Os amigos começaram a identificar isso como uma assinatura minha ou uma marca musical. Não tive essa intenção, só queria criar e fazer música. > Como você dissecaria a sua levada? Não tenho a mínima idéia. É um processo extremamente orgânico. Acredito que continuo bebendo informações. E isso, de alguma maneira, vai sendo introduzi-

do na minha maneira de fazer música. Por mais que eu tenha adquirido maturidade e reconheça algumas coisas que faço, como o meu jeitão de tocar, as pontes harmônicas e a história da percussão, fazer música continua sendo um processo orgânico e intuitivo. Mais do que violonista e guitarrista, sou um percussionista. > Você toca algum instrumento de percussão? Apesar de tocar violão, as minhas primeiras apresentações musicais foram tocando bateria com um grupo do colégio onde estudava. A bateria foi o primeiro instrumento em que toquei, criei e dividi música com as pessoas. Até o Pantico Rocha, que toca bateria comigo há muito tempo, disse que entendia a minha mão direita por causa da minha formação na bateria e na percussão. > Como é o seu dia-a-dia com o violão? Minha história com o violão é sempre meio cíclica. Tem épocas em que fico com

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ele direto e, em outras, é como se o violão hibernasse e eu fico distante dele. Acho que tocar é como andar de bicicleta. O processo inicial é muito difícil, até você descobrir seu ponto de equilíbrio. Depois que descobre isso, você pode passar vinte anos sem andar de bicicleta que, quando pega ela novamente, seu corpo não esqueceu. Também é verdade que a possibilidade de você cair é muito grande! Deixo o violão hibernar, mas não por muito tempo! > Pernambuco, ou mais especificamente Recife, sempre revelou grandes nomes da música e importantes movimentos, como o Armorial , o Mangue Beat e você mesmo. Você atribui isso a quê? Recife é cidade portuária, portanto, desde sua

Lenine com o rapper Gog e metaleira da pesada ao fundo Para ser sincero, tenho trabalhado tanto que não tem dado tempo para ouvir muita coisa. Eu sofro um pouco com isso, porque recebo muitos discos de vários amigos e estou sempre em um débito gigantesco com eles. O último disco que ouvi foi o da banda Casuarina, aqui do Rio de Janeiro, que adorei.

Dividindo o palco com o baixista camaronês Richard Bona, na gravação do CD Acústico MTV

fundação, ela vem convivendo e assimilando diversas culturas que chegam a ela. O trânsito de expressões é quase natural. Houve também o fato de que, durante anos, Recife foi um pólo importante de chegada da Europa no Brasil. É uma cidade de ilhas e pontes, de isolamento e conexão. Talvez esses símbolos revelem um pouco da alma de Pernambuco. > Como é a diferença de você passar um bom tempo da sua carreira conhecido no circuito alternativo e depois estourar no Brasil inteiro com o CD O Dia em que Faremos Contato? O que mudou em você? Meu primeiro disco é de 1983, lançado pela

extinta Polygram, junto com o Lula Queiroga. Naquela época, já estava decidido a viver de música. Quase dez anos depois, fizemos o disco Olho de Peixe e esse hiato que parece ter existido não foi sentido de fato. Foi uma época fundamental no meu processo, de aprimoramento da composição. Depois vieram O Dia em que Faremos Contato, o Na Pressão, etc... Acho que meu trabalho foi se sedimentando e, a cada disco, fui ampliando meu público. Não acho que tenha sido uma questão de mudança, mas de conquista. > O que você tem escutado de diferente atualmente?

> Você é muito detalhista nos seus trabalhos? Muito. Acompanho cada processo da gravação. A criação não termina nunca. Até na masterização estou criando. Você tem tantos recursos de cortes, de edição, de fades e de plug-ins que, mesmo na masterização, depois de mixado o trabalho, você ainda pode criar. O trabalho nunca termina, é você que o abandona. Uma hora não dá mais tempo, você precisa entregá-lo. Uso um subterfúgio para burlar essa crítica que é não ouvir mais. Depois de pronto, você não ouve mais e não tem mais grilo. Quem trabalha criando tem esse negócio volúvel, de estar sempre mudando e transformando. E discos são como fotos de canções. Aquela foto funciona dentro daquele universo, dentro daquele contexto temporal. Tem essa peculiaridade. Hoje, se fosse gravar o mesmo disco que gravei, seria de maneira diferente, o que é natural com a maturidade, com o exercício. > Você é um cara tecnológico. Sou um cara curioso. As partes acústica, plugada, de câmara, popular ou acadêmica. Para mim, a tecnologia é uma ferramenta para realizar uma idéia. O que me motiva a estar sempre procurando as coisas é usar isso

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Capa como ferramanta. É a criação em si. Antes de qualquer coisa, sou um compositor. Todas as minhas outras profissões, de músico, cantor, arranjador e produtor, vieram em decorrênica da composição. > Como é o seu trabalho como produtor? Varia muito de acordo com o trabalho que está sendo feito e do objetivo a ser alcançado. O CD da Maria Rita que produzi teve um processo particular. No do Chico César foi outro completamente diferente, assim como no do Mestre Ambrósio. A gente vai se adequando e se apropriando dessas ferramentas para poder realizar o trabalho. > O que é ser produtor para você? Produtor é aquela pessoa que ajuda uma gravação a correr da melhor maneira. É o cara que ajuda o artista na escolha do repertório, que procura os caminhos para que cada canção tenha a cara desse artista. O produtor está preocupado com o todo do projeto, não apenas com uma canção ou um arranjo. Ele tem uma visão global e também está ali para não impor nenhum tipo de assinatura. O produtor está ali muito mais para revelar uma assinatura que já existe. O produtor é uma consequência de cada trabalho. Como criador, eu percebo o que cada criador está buscando. Talvez por isso eu tenha uma certa facilidade de produzir todo o processo. > Você trabalha há muito tempo com o mesmo trio o acompanhando. Na verdade somos um quarteto, contando comigo. Esse projeto mudou um pouco com o Acústico MTV. O Junior Tostoi, guitarrista, talvez seja a pessoa que tenha trabalhado mais arduamente neste CD. Ele desempenhava uma função de ruidagem, de climas e atmosferas nos meus shows e nós tiramos tudo isso dele no Acústico, nós desplugamos ele. A função que ele exercia naquele quarteto mudou completamente. No Acústico, fica evidente o diálogo entre as minhas cordas e as dele. Foi um grande acerto agregar ao projeto essa vivência que nós - Pantico Rocha, Guila, Junior e eu - temos no palco. Eu nunca tinha gravado com eles um projeto todo. Colocar o foco nesta rapaziada que há tanto tempo toca comigo foi algo muito importante.

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Acústico MTV – Sony/BMG, 2006 In Cité – BMG, 2004 Falange Canibal – BMG, 2001 Na Pressão – BMG, 1999 O Dia em que Faremos Contato – BMG, 1997 Olho de Peixe – com Marcos Suzano, Velas, 1992 Baque Solto – com Lula Queiroga, Polygram, 1983

> Como você trabalha suas músicas? Para mim são três momentos diferentes. Primeiro vem a composição, que é uma coisa meio solitária - por mais que seja uma parceria entre duas pessoas você fica entre quatro paredes compondo aquilo. Depois vem o processo de transformar aquelas canções para o estúdio e, então, gravá-las. Esse é o momento de maior experiência para mim. Uso isso para me aproximar das pessoas e chamar os amigos para tocar. Nunca uso apenas um grupo de pessoas.

Produzo cada canção de uma maneira e com pessoas diferentes. Depois, já em um terceiro momento, vou transpor aquilo que fizemos no estúdio para o palco. Daí eu tenho a banda que há muitos anos está acostumada a fazer essa transposição. Por isso falei que o grande acerto do Acústico foi termos botado o foco nesta turma e no som de banda que a gente tem. Nós somos uma banda, não tem essa coisa de músicos me acompanhando. Todo o processo é gregário, é socialista nesse ponto. > Como vocês deram essa nova roupagem aos arranjos de suas músicas no Acústico? O maestro Ruriá foi uma pessoa muito especial em todo o processo. Foi muito interessante o respeito que ele teve com o projeto. O quarteto se trancou por três semanas para fazer o arranjo das canções, primeiro as despindo e, depois, encontrando a química. Depois, o processo ficou mais fácil, com as músicas se sucedendo. O Ruriá foi construindo os arranjos tanto para cordas como

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“O produtor está ali para revelar uma assinatura que já existe. É uma conseqüência de cada trabalho” — Lenine

Slave Mass - Hermeto Pascoal - “O bruxo é sempre genial, mas esse eu ouvi até furar”. No Limite das Águas - Edu Lobo – “Indispensável em qualquer discoteca”. Da Lama ao Caos - Chico Science e Nação Zumbi – “É marco na música”. Ymira Taíra Ypi - Taiguara – “Com o auxílio luxuoso do pai e de Hermeto, esse disco me marcou profundamente”. Aboiando a Vaca Mecânica - Lula Queiroga – “Sou fã de carteirinha”.

para metais em função daquela catedral que o quarteto estava construindo. Ficou tudo muito coeso, porque mesmo as cordas e os metais não estão ali solando, eles são um elemento incorporado. Por exemplo, cada intervenção que eles fizeram foi em cima de pausas que a gente já tinha criado. Uma outra coisa bacana do Ruriá é que costumo dizer de brincadeira que ele é meu alter-ego sinfônico. A gente já fez alguns projetos e, geralmente, quando trabalho com orquestra o Ruriá está sempre próximo. Ele é um cara que já conhece o meu trabalho a ponto de criar com esse sentimento. Ele conhece o universo onde eu estava. Ficamos um pouco ansiosos porque nós só fomos ouvir tudo faltando quatro dias para a gravação. A gente foi fazendo de boca, mas não tínhamos visto as pessoas tocando. E teve esse trabalho delicado e refinado de preservar toda a roupagem e a química que a banda havia conseguido. > Muitos músicos são travados no palco. Você, pelo contrário, parece estar sempre se divertindo, dançando muito e curtindo seu som. Você sempre foi assim, solto e espontâneo no palco? Qual a importância da postura de palco para você?

Se dou essa impressão de espontaneidade e soltura, é culpa da música. Não faço marcações de palco nem coreografo o espetáculo, até por uma questão de incompetência. A música é quem me leva e eu só deixo ela me levar. Acho também que, no palco, o importante não é a postura, mas a sinceridade com que se faz.

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Testes

Fender FR48 Steel Resonator Corpo em aço e timbres próximos aos do banjo

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lendária fábrica de instrumentos Fender foi fundada em 1946 e a sua história se confunde com a da música pop. Foi Leo Fender quem criou, em 1950, a primeira guitarra de corpo sólido, que mais tarde ganhou o nome de Telecaster. Logo depois, ele lançou o Precision Bass, baixo totalmente elétrico, com trastes, que era empunhado como uma guitarra. Em 1954, foi lançada a Stratocaster, a primeira guitarra sólida com alavanca embutida. Com todas estas novidades,

Ficha Tecnica Legenda dos Testes

Excepcional Excelente Bom Médio Fraco

Modelo: FR48 Steel Resonator Fabricante: Fender Pró: Timbre encorpado Contra: Nenhum Preço sugerido: R$ 3.500,00 Garantia: xx meses Desempenho ................... Definição do som ............. Volume ............................ Acabamento .....................

a Fender conquistou notoriedade no cenário musical mundial e seus instrumentos foram usados por ícones da música como George Harrison, Jimi Hendrix, Eric Clapton e Mark Knopfler. O Fender FR48 é um instrumento com corpo totalmente de aço e um cone de ressonância. É um tipo de violão com características sonoras peculiares, com timbre próximo ao do banjo e é muito utilizado em bandas de bluegrass. Este instrumento foi inventado na década de 1920 pelo luthier John Dopyera, que fundou posteriormente com seu irmão a fábrica de instrumentos Dobro (Dopyera Brothers). O violão foi idealizado para oferecer uma potência sonora maior, pois na época os violões tradicionais ficavam quase imperceptíveis aos ouvidos frente a um naipe de metais. Esse violão é muito bem construído, com tampo, faixa lateral e fundo em aço cromado; escala em jacarandá; braço em nato e ponte em maple. Não apresen-

Por Cristiano Petagna tou falhas de acabamento, tanto nas junções das partes metálicas como nas de madeira. Seus trastes são bem alinhados e não causaram problemas de afinação, apenas um pequeno trastejamento na sexta corda quando tocada com mais força. As tarraxas são cromadas, firmes e precisas. Possui um braço macio, de pegada fácil, com ação baixa das cordas e um distanciamento adequado entre elas. Inicialmente, você pode estranhá-lo por causa de seu peso, mas é apenas uma questão de costume. De maneira geral, ele apresenta uma ótima tocabilidade. O FR48 tem um bom volume e equilíbrio sonoro, apesar de predominarem os harmônicos médio-agudos, devido às suas características de construção. A ponte de maple garante um timbre mais encorpado, com maior projeção, e suaviza o ataque das notas. É um violão indicado para quem busca variedades timbrísticas e pesquisa técnicas e estilos musicais diferentes.

Quer falar com o autor da matéria? Cristiano Petagna: cristianopetagna@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Fender - www.fender.com e-mail: marketing@fender.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

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Cordas Michael Violão Clássico

Preço justo e qualidade para o iniciante

M

uitas dúvidas cercam violonistas de todos os gêneros em relação à sonoridade do instrumento. Qual é a melhor combinação de madeiras? Como é a pegada de uma escala construída em ébano? Muitas são as questões e, nem sempre, os músicos iniciantes ou amadores consideram o tipo de encordoamento como um dos fatores principais que influenciam na sonoridade final do violão. Poucos se lembram de que as cordas estão ali, vibrando, para gerar o som. A

Ficha Tecnica Legenda dos Testes

Excepcional Excelente Bom Médio Fraco

Modelo: Violão Clássico EMVNN Fabricante: Michael Pró: Equilíbrio e boa sustentação Contra: Harmônicos pouco encorpados Preço sugerido: R$ 13,00 Timbre ............................. Brilho .............................. Sustentação ..................... Qualidade do som ............ Volume ............................ Definição ......................... Quer falar com o autor da matéria? Miguel De Laet: migueldelaet@msn.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Michael - www.michael.com.br e-mail: marketing@michael.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

mudança do material de confecção dos encordoamentos (como tripa, náilon, aço, aço inoxidável, níquel, bronze, phospor e titânio) pode alterar a sonoridade da mesma forma que a construção do violão em si. A Michael, empresa jovem que possui uma boa linha de instrumentos voltada para o violonista amador, possui um excelente encordoamento de náilon para a sua faixa de preço. Sua linha Violão Clássico está disponível em dois modelos: EMVNN (tensão normal) e EMVNA (tensão alta), ambos fabricados nos Estados Unidos. As cordas são diferenciadas por cores indicadas no verso da embalagem. Mas esta facilidade pode confundir o iniciante, que não está acostumado a trocar as cordas do seu instrumento. Algumas cordas de náilon não revestidas em contato com outras que recebem uma coloração nas pontas podem manchar-se acidentalmente pela mesma tintura. Se você encontrar duas pontas roxas, por exemplo, verifique sempre o calibre das cordas. Uma alternativa para o problema seria a colocação de pequenos adesivos, fáceis de serem retirados, em uma das extremidades da corda para diferenciá-las efetivamente. Utilizei um violão Dean e o encordoamento EMVNN, que manteve as características timbrísticas do instrumento. Todas as cordas mostraram bom equilíbrio, boa sustentação e bastante brilho. Os destaques ficaram para a boa definição e a ótima resposta de ataque dos bordões e o som aveludado das primas. Por possuir tensão média, sua pegada é confortável e o seu volume chega a ser generoso. O ponto fraco do

Por Miguel de Laet

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encordoamento está nos harmônicos, que não são muito encorpados. A durabilidade é boa e as cordas mantiveram o timbre e a afinação por quase um mês. Não deixe de seguir o velho hábito de passar uma flanela em toda a extensão das cordas após o uso para evitar a oxidação dos bordões. Este encordoamento é bom para se tocar música brasileira e erudita. Seu preço agrada desde iniciantes até músicos mais exigentes que procuram uma alternativa mais econômica de encordoamento.

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Testes

Fox Série Rio V3

Bons timbres nesse violão de cordas de aço

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o dedilhar os primeiros acordes neste violão Fox Série Rio V3, de cordas de aço, fiquei impressionado com o seu belo timbre. Seu som é bem definido, equilibrado e com um brilho bonito. Essas qualidades sonoras devem-se à sua construção. Seu corpo é feito de madeira maciça, com o tampo em amapá laminado de cor clara, braço em cedro e escala e ponte em braúna. Seu sistema de captação consiste de um Shadow PB3-B. O resultado dessa combinação de madeiras com a captação da

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Modelo: Série Rio V3 Fabricante: Fox Pró: Custo-benefício Contra: Regulagem de fábrica Preço sugerido: R$ 556,00 Garantia: 3 meses Desempenho ................... Definição do som ............. Volume ............................ Acabamento ..................... Quer falar com o autor da matéria? Rudy Arnaut: rudyarnaut@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Aeroguitar - www.aeroguitar.com.br e-mail: sac@aeroguitar.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço

Shadow faz desse violão um excelente instrumento dentro de sua categoria. Seu acabamento é simples, bonito e bem feito, com o tampo em madeira clara e o braço em madeira escura. Um aspecto positivo é que o braço é parafusado no corpo e vem com tensor, o que facilita muito os ajustes, por exemplo, em uma regulagem da altura das cordas. É um violão bem anatômico e bom para se tocar em pé ou sentado, pois mesmo sendo feito de madeira maciça é um instrumento leve e que se encaixa bem ao corpo. Experimentei-o em duas situações, com ele ligado a uma mesa de som e com ele ligado a um amplificador de violão. Fiquei muito satisfeito com os resultados sonoros obtidos. A Fox conseguiu desenvolver um violão legal tanto para estudar quanto para tocar ao vivo. Ao adquiri-lo, é importante levá-lo para regular em um profissional. A regulagem de fábrica pode ser melhorada por um luthier, que é capaz de deixar o instrumento mais macio e fácil de tocar.

Por Rudy Arnaut Esse Fox também possui uma ótima relação custo-benefício, principalmente pelos seus timbres, em comparação a outros instrumentos dentro desta faixa de preço.

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* Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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Crafter SNT-380EQ/YL Cutaway de náilon excelente para palco

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empresa coreana Crafter vem aumentando a sua participação no mercado mundial de violões. No Brasil, a procura pelos seus produtos também tem crescido e eles vêm sendo utilizados por muitos músicos profissionais. Nesta edição analisaremos o violão SNT-380EQ/YL da Série Regular. Trata-se de um violão eletroacústico com “cutaway” (corte lateral para facilitar o toque nas regiões agudas da escala) e cordas de náilon. Logo de cara, nota-se um extremo cuidado de acabamento do fabricante com o verniz, com os recortes e com a colocação dos trastes. Sua estrutura é composta de tampo em pinho, fundos, laterais e braço

em mogno. A escala e a ponte são em jacarandá. Devido a sua caixa de ressonância mais estreita e ao seu tampo não-maciço, o instrumento possui pouco volume. Isso se deve mais pela configuração do produto, que privilegia certo tipo de consumidor, do que pela falta de qualidade. Pode-se observar também um desequilíbrio entre as freqüências, com brilho nas regiões média e aguda, e a ausência de graves. A altura do rastilho e da pestana deixa as cordas mais próximas dos trastes, propiciando um toque leve e macio. As tarraxas são de boa qualidade e seguram bem a afinação. A sonoridade elétrica é o ponto alto desse instrumento. Ele vem com

Por Fábio Cadore uma captação Shadow que equilibra bem as freqüências. A falta dos graves relatada anteriormente pode se anular quando o captador entra em ação. O pré-amplificador Timber Plus possui controles de graves, médios, agudos e “scoop”, além de volume geral, botão de “mute”, “phase” e indicador de bateria. Esse violão tem alguns concorrentes brasileiros e só perde no quesito preço, pois se trata de um produto importado com preço variável de acordo com o dólar. Considerado de padrão médio-alto, tanto no preço como na qualidade, trata-se de um instrumento recomendado principalmente para o profissional que necessita de um bom violão para shows e apresentações em geral.

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Modelo: SNT-380EQ/YL Fabricante: Crafter Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

Pró: Sonoridade elétrica Contra: Apresenta pouco volume Preço sugerido: R$ 950,00 Garantia: 3 meses Desempenho ................... Definição do som ............. Volume ............................ Acabamento ..................... Quer falar com o autor da matéria? Fábio Cadore: fabiocadore@uol.com.br Tire sua dúvida com os fornecedores: Crafter - www.crafterguitars.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

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Testes

Na Estrada

Para fazer a seção Na Estrada, Violão PRO optou por publicar análises de músicos que vivem e trabalham diariamente com o instrumento aqui mostrado. Envie para nós a análise de seu violão. Se ela for publicada, você ganha uma assinatura trimestral da Violão PRO. Os critérios para a publicação serão qualidade das informações, clareza da análise e senso crítico. Envie sua análise para ajuda@musicaemercado.com.br, aos cuidados de Editorial Violão PRO, mencionando Teste Na Estrada.

CONDE HERMANOS FELIPE V

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Marca: Conde Hermanos (Madri, Espanha) Modelo: Felipe V (2001) Músico: Filipe Camargo www.filipecamargo.com Informações: www.condehermanos.com

dquiri esta guitarra flamenca de um colega há dois anos, porque comecei a trabalhar acompanhando dança flamenca e senti a necessidade de um instrumento com essas características. As guitarras flamencas têm uma construção um pouco diferente do violão clássico. Sua cabeça é mais inclinada e o cavalete é mais aprofundado para se obter maior tensão nas cordas. A altura das cordas é bem baixa e próxima ao tampo e o espaçamento entre elas é geralmente maior. Com relação à sonoridade, a Conde Hermanos tem médios e agudos cortantes, não possui muitos graves e o seu volume é bem alto. Sua construção é a seguinte: tampo em abeto alemão, corpo em cipreste espanhol e braço em cedro. Outro ponto interessante é o golpeador, uma espécie de plástico sobre o tampo para evitar que os golpes machuquem a madeira. É uma guitarra muito leve e bonita e, por sinal, tem um cheiro específico muito gostoso. A primeira vez que toquei nela me impressionei com a resposta rítmica das notas no meu peito através do fundo da guitarra. Ela apresenta uma boa relação custobenefício, já que trata-se de uma guitarra de segunda linha e custa cerca de 2 mil euros – uma de primeira linha custa entre 3,5 e 5 mil euros. Para sons amplificados, eu não utilizo captador, mas um microfone de lapela feito especificamente para violão: o PRO 70, da Audio-Technica, que tem uma resposta sonora muito fiel ao som original. Para quem não conhece a Conde Hermanos, tocar numa guitarra dessas é uma experiência incrível!

GODIN MULTIAC ACS-SA SLIM MIDI

A

dquiri este Godin há cerca de um mês porque procurava um violão versátil, robusto e com bons timbres para tocar versões em “chord melody” de música brasileira e que, também, não desse microfonia quando fosse amplificado. Trata-se de um violão sólido, com saída para processador MIDI e braço parafusado com tensor. À primeira vista parece uma guitarra disfarçada de violão – o que não agrada muito os puristas. No entanto, o violão tem uma sonoridade muito bacana e um ótimo equilíbrio entre as cordas. Seu som acústico, apesar de muito baixo, é bem nítido. Quando amplificado, ele puxa mais para os timbres agudos e médios, o que dá para compensar com o seu equalizador, e possui graves bem definidos e brilhantes. A ação de suas cordas é baixa e o seu braço é macio, confortável e mais fino do que o de um violão comum. Suas tarraxas são boas e precisas e a sua afinação é muito estável. Eu ainda estou aprendendo a usar o processador MIDI e a minha intenção é poder mesclar timbres e variar a sonoridade. O grande barato é utilizar o som do violão temperado com outros instrumentos como fundo. Utilizo também um pedal de “loop” e isso permite tocar uma base com som de violão e na seqüência improvisar com um timbre de piano mesclado com o de violão. Uso este Godin para tocar Marca: Godin bossa nova, samba e jazz, mas ele é Modelo: Multiac ACS-SA Slim MIDI muito versátil para todos os estilos. Eu buscava um instrumento bom e Músico: Fernando Zada ao mesmo tempo prático para me www.fernandozada.com apresentar ao vivo e ele preencheu Informações: www.godinguitars.com todos esses requisitos com folga.

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Lancamentos Chico César Cantos e Encontros De Uns Tempos Pra Cá Biscoito Fino No final de 2005, o compositor Chico César talvez tenha lançado o disco mais maduro de sua carreira, De Uns Tempos Pra Cáá (Biscoito Fino). Com a participação do ótimo Quinteto da Paraíba, grupo de formação clássica que tem se dedicado à música nordestina, Chico conseguiu apresentar de maneira sublime a essência de sua música, ao mesmo tempo universal e repleta de referências regionais. Os arranjos de Ruriá Duprat, Nélson Ayres, Adail Fernandes, Mário Manga e Xisto Medeiros, que toca contrabaixo no Quinteto, responderam à altura do projeto, dando dramaticidade e revelando sutilezas das composições do artista. A proposta deste trabalho foi ampliada durante o turnê de divulgação do CD e acabou dando origem ao primeiro DVD de Chico, Cantos e Encontros De Uns Tempos Pra Cá, gravado no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Além de várias faixas

do disco, o DVD apresenta grandes sucessos, como À Primeira Vista, Pensar em Você, Pedra de Responsa, Templo e Mama África, e a participação especial de Elba Ramalho em Por Causa de Um Ingresso do Festival Matou Roqueira de 15 Anos e Prosa Impúrpura do Caicó. Nos extras, cenas do músico com Maria Bethânia, Ana Carolina, Chico Pinheiro e Vange Milliet, além de um clipe e um documentário sobre o show. Altamente recomendável! Por Fábio Carrilho

Eduardo Gudin & Notícias dum Brasil Um Jeito de Fazer Samba Dabilú Discos Acompanhado do grupo Notícias dum Brasil, em nova e enxuta formação, o compositor e violonista Eduardo Gudin comemora em grande estilo seus 40 anos de carreira com Um Jeito de Fazer Samba, seu mais recente CD. Com seu modo intros-

pectivo e suave de compor, Gudin reserva boas surpresas aos ouvintes em suas parcerias inaugurais com Francis Hime, na faixa Moto Perpétuo, e Luiz Tatit, em Sensação, e também nas habituais parcerias com os amigos de longa data Paulo César Pinheiro, Élton Medeiros e Costa Netto - com esse último fez o samba que dá nome ao disco. Uma das preciosidades de Um Jeito de Fazer Samba é a faixa Euforia, parceria de Gudin com Nélson Cavaquinho e Roberto Riberti, que estava guardada desde 1982. Paulinho da Viola é co-autor de Sempre Se Pode Sonhar, em que participa cantando em dueto com Vânia Bastos. Apenas de Gudin são os sambas Acendeu, Desprevenido, O Amor e Eu, Vida Dá e o belíssimo Praça 14 Bis, que tem melodia contagiante e refrão forte: “Um samba muito bom/Que me contagiou/Me ganhou/Bixiga amanheceu/ Vai-Vai já ensaiou/Clareou”. Participaram das gravações o Quinteto Branco e Preto e a cantora Adriana Moreira. Este CD é uma ode ao samba e ao amor. Coisa de mestre! Por Roberta Cunha Valente

de outros lugares do mundo, como a homenagem à cultura grega em 3 Greek Letters. Não deixe de ouvir! Por Fábio Carrilho

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Choro

Violõe no Ch Revelamos os segredos para tocar esse grande gênero instrumental brasileiro

Por Euclides Marques

O

violão brasileiro possui uma das escolas mais importantes do mundo e só encontra equivalente na guitarra tocada na Espanha, país berço do instrumento. É impossível pensar em música brasileira sem o violão, assim como no tango sem o bandoneon, na salsa sem as congas e os timbales e no rock sem a guitarra elétrica. O pinho faz parte da alma musical do brasileiro, nos mais variados estilos e regiões. E como o choro é um dos gêneros instrumentais fundamentais da música brasileira, é importante entender como se dá a atuação do violão nesse estilo. Basicamente há duas maneiras de se tocar choro no violão: solando ou acompanhando.

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Fotos: Rodrigo de Sábata Ilustração: Daniel Nartins

Euclides Marques é violonista e já tocou com Guinga, Roberto Menescal, Hamilton de Holanda, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Monarco e Chico Saraiva, entre outros. Formado pela Unicamp (Universidade Federal de Campinas), ele acabou de lançar seu primeiro CD, Remexendo (Kuarup), em duo com o lendário violonista Luizinho 7 Cordas.

Violão solista Na formação típica das rodas de choro o famoso regional - o violão não atua como instrumento solista. No entanto, o repertório brasileiro composto para violão solo é tão vasto que grandes mestres como João Pernambuco, Canhoto, Dilermando Reis, Garoto e Baden Powell criaram verdadeiras obras-primas de choro para serem tocadas apenas ao violão. Até mesmo Villa-Lobos compôs exclusivamente para violão a sua Suíte Popular Brasileira, baseada nas danças do choro, e o Choro nº1, da sua série de 14 choros para vários instrumentos. O fato de o violão ser um instrumento também harmônico possibilita o uso de recursos não existentes em outros instrumentos solistas típicos do gênero, caso do bandolim, da flauta e do clarinete. A melo-

dia tocada no violão pode trazer consigo a harmonia e o ritmo, ou parte deles. A estrutura dos arranjos dos violões também tem características próprias, como veremos nos exemplos a seguir.

Violão de acompanhamentos: o sete-cordas Como instrumento acompanhante, o violão é obrigatório nos regionais. E aqui o grande destaque vai para o violão de sete cordas. Introduzido há cerca de um século por Artur de Souza Nascimento, o Tute, e Octávio Vianna, o China (irmão de Pixinguinha), o sete-cordas passou a ganhar notoriedade a partir da década de 1950 pelas mãos de Horondino Silva, o Dino 7 Cordas. Foi ele quem

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trouxe o contraponto do choro para o violão, que foi inventado por Pixinguinha para o saxofone. O princípio fundamental dessa arte bastante especial são os movimentos melódicos improvisados entre os baixos dos acordes que se sucedem, as famosas baixarias. É por esse motivo que temos uma grande abundância de acordes invertidos no choro. As principais aplicações da baixaria são: • Preparações como chamadas e viradas para determinadas partes da música e para suas finalizações; • Contraponto com a melodia principal, dando o caráter polifônico ou polimelódico do choro;

Ex. 1

• Preenchimento nos momentos de pouca atividade da melodia principal; • Baixos de obrigação, que fazem parte da própria composição. Normalmente, o sete-cordas tradicional possui as duas primeiras cordas de náilon, as quatro seguintes de aço e, na sétima corda, usa-se a quarta corda do violoncelo, também metálica, afinada em Dó.

Mãos à obra A seguir, analisaremos cada um desses aspectos fundamentais do violão no choro. Para isso selecionei alguns exemplos estratégicos de arranjos para clássicos do choro que gravei com o Luizinho 7 Cor-

Desprezado

das no CD Remexendo (Kuarup). Nesse trabalho de recriação, procuramos retomar e desenvolver a maneira brasileira de se tocar violão em duo. Toque cada exemplo com bastante atenção nos detalhes comentados. Deixei indicado o momento em que os trechos podem ser ouvidos no CD. Procure entender a estrutura dos arranjos, ouvir as gravações e comparar com outras versões que são referência no assunto. Bons estudos!

Observações para os exercícios * Arranjo: Euclides Marques ** Arranjo 2º. Violão: Euclides Marques *** Arranjo 2º. Violão: Luizinho 7 Cordas

Pixinguinha*

Início: 36”

L

ogo após a introdução, o sete-cordas faz a chamada para o início do tema, na primeira parte da música. A melodia tocada na voz superior do violão de seis

cordas aparece acompanhada de uma outra voz com intervalo de sextas no primeiro compasso. Esse recurso também é usado pelo sete-cordas no compasso

seguinte, numa baixaria com duas vozes, agora em intervalo de terças, de estrutura cromática, e com a função de preenchimento do repouso da melodia.

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Choro Jorge do Fusa

Ex. 2

Início: 1’44”

Garoto*

N

este trecho, o sete-cordas faz a baixaria de virada para a repetição da segunda parte da música pelo violão de seis cordas. No compasso seguinte há uma baixaria cromática descendente de preenchimento. Note que, logo abaixo da melodia, na voz superior do violão de seis cordas, há uma voz ascendente que o arranjo introduz ao arranjo original de Garoto, ampliando a sensação polifônica tão característica do choro.

Tempo de Criança

Ex. 3

Dilermando Reis*

Início: 3’03”

E

is um caso interessante de contraponto. No final da peça, a melodia vem descendo num padrão de intervalos até a nota fundamental (Lá). O sete-cordas usa o mesmo padrão, porém no sentido inverso, numa baixaria de estrutura diatônica (na escala de Lá menor harmônica) que sobe ao longo desses três compassos até a nota Lá, causando um efeito de vozes contrárias. Note o emprego do ligado em ambos os violões, recurso técnico indispensável para a articulação característica do choro.

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Ex. 4

Marcha dos Marinheiros

Canhoto*

Início: 2’12”

O

utra forma bastante original de contraponto, agora com um caráter de polirritmia (de “três contra dois”), no final do trecho. Observe a estrutura do arranjo, com o primeiro violão tocando a melodia no grave e a harmonia nas vozes de cima. Neste caso, o sete-cordas encontra o espaço que lhe cabe: apenas baixos de repetição, frases curtas em eco com a melodia, e as surpreendentes tercinas causando o efeito da polirritmia.

Ex. 5

Choro da Saudade

Augustín Barrios**

Início: 1’43”

N

este choro, o grande violonista paraguaio Augustín Barrios mostra sua forte ligação com a música brasileira. Podemos observar uma inversão de movimentação melódica que, às vezes, ocorre no choro. A melodia tocada pelo primeiro violão parece diluir-se ritmicamente na seqüência de acordes sincopados que passa a tocar. O violão de sete cordas aproveita esse descanso melódico para iniciar um longo movimento de baixarias de estrutura arpejada.

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Choro Valsa Crioula

Ex. 6

Antonio Lauro***

Início: 1’11”

O

lirismo em tom maior da segunda parte desta valsa é acrescido de duas linhas de baixo de preenchimento tocadas pelo sete-cordas que ocupam os momentos de menor atividade melódica do violão de seis cordas. A primeira linha é cromática e a segunda é diatônica (sobre a escala do acorde). Elas dão um novo e surpreendente sabor seresteiro à composição do maestro venezuelano.

Turuna

Ex. 7

Ernesto Nazareth*

Início: 24”

N

esta pérola quase desconhecida de Nazareth, encontramos um baixo de obrigação, ou seja, que faz parte da própria composição. É interessante notar que o primeiro dos dois compassos dessa baixaria antecipa o motivo principal de toda a peça, que aparece no primeiro compasso do violão de seis cordas, uma oitava acima, formando em seguida um contraponto de vozes contrárias com o sete-cordas.

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Ex. 8

Início: 2’56”

Remexendo

Radamés Gnattali*

N

este choro de Radamés, a baixaria tocada em pizzicato proporciona o “efeito tuba”, também típico da linguagem do choro, com a articulação em staccato. Note que os baixos tocados no primeiro violão são diferentes dos tocados pelo setecordas. Quando um violão cita um acorde na posição fundamental, o outro está com o baixo invertido, evitando uma redundância na harmonia.

Não deixe de ouvir Vibrações – Jacob do Bandolim e Conjunto Época de Ouro Raphael Rabello & Dino 7 Cordas – Raphael Rabello & Dino 7 Cordas Mistura e Manda - Paulo Moura Ago! Pixinguinha 100 anos – Vários artistas Clássicos em Choro 2 – Altamiro Carrilho Só Gafieira – Zé da Velha e Silvério Pontes

Violão de Sete Cordas Solista O violão de sete cordas solista foi consolidado por Raphael Rabello na década de 1980 e atualmente está presente na música de Yamandu Costa. Com cordas de náilon e timbres próximos ao do violão clássico, ele tem um uso mais versátil, tanto para solo como para acompanhamento. Para ouvir o sete-cordas solista, vá atrás de CDs clássicos de Raphael como Todos os Tons (BMG) e Lamentos do Morro (Acari), e do CD de estréia de Yamandu Costa, Yamandu (Eldorado).

Venha aprender a incrível arte de construir instrumentos acústicos com o luthier Régis Bonilha. Violões: nylon, aço, 6, 7 e 12 cordas; viola, bandolim e outros.

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Luthier Francisco Munhoz em sua oficina em Uberaba (MG)

Pesquisador incansável Importantes talentos podem surgir em qualquer fase da vida. Uma inspiração repentina pode transformar a curiosidade em fabricar peças de madeira no desafio de produzir violões da mais alta qualidade. Este é o perfil de Francisco Munhoz. Aprovados pela elite dos violonistas brasileiros, seus violões encantam pela sua construção diferenciada, sua ótima tocabilidade e seus belos timbres. Como se não bastasse, seu filho, Miguel Munhoz, é herdeiro dessa arte. Nesta entrevista à Violão PRO, vamos descobrir como nascem instrumentos de sua luteria em Uberaba, Minas Gerais, apreciados por músicos excepcionais. 48 ViolaoPro 6.indd 48

> Violão PRO - O que despertou seu interesse em construir violões? Francisco Munhoz: Desde garoto, sempre gostei de fabricar pequenas peças em madeira. Sempre fui muito curioso com ferramentas e materiais. Era quase uma obsessão. O violão entrou na minha vida quando eu tinha 47 anos. Sempre toquei, mas nunca pensei no violão como uma atividade profissional. Em 1980, meu irmão comprou um bom violão espanhol e pagou muito caro por ele na época. Coincidentemente, estava desempregado e naquele momento decidi unir o gosto pelo trabalho artesanal ao desafio de produzir um instrumento de qualidade. O curioso é que aquele violão espanhol me despertou de imediato uma vontade de produzir um instrumento com menos defeitos. Sem me dar conta, estava começando a pensar como um luthier. > Quais instrumentos você produz além do violão? Francisco: Produzo basicamente violão

Por Nilo Sergio Sanchez clássico. Eventualmente fabrico violas caipiras, cavaquinhos e bandolins. > Quais as qualidades de um bom violão? Miguel Munhoz: Um bom instrumento deve ser equilibrado, afinado, com projeção, volume e timbre bem definidos. Uma caixa acústica bem pensada deve permitir a utilização da escala em toda a sua extensão. O volume por si só não quer dizer nada, principalmente porque o som para quem toca não é o mesmo para quem ouve. Em Acústica, costuma-se definir isso por volume aparente, ou seja, um impressionante volume para quem executa, mas um resultado fraco para quem ouve. A projeção do violão não tem nada a ver com volume, mas com a qualidade acústica do instrumento. Quando um instrumento não é bom, não adianta tocar com força. Muitos violonistas preocupam-se demais com o volume, mas a preocupação maior deveria ser com a qualidade. Para isso, é importante saber ouvir. A melhor maneira

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de se avaliar um instrumento é ouvindo e não apenas tocando. O volume é conseqüência e não causa. O violão deve ser bom para quem toca e para quem ouve. > Como surgiu a idéia do braço alto? Francisco: O braço alto surgiu da percepção de que a parte superior do violão (tida tradicionalmente como zona morta) na verdade deveria ser resgatada. Estudando a construção do violoncelo e do violino percebi a riqueza harmônica que o instrumento ganhava com as escalas elevadas. O som ganhava uma profundidade e uma definição geral das notas que enriqueciam demais o resultado final. O tampo passa a ser aproveitado em toda a sua extensão. Isso não quer dizer que não existam grandes violões tradicionais. Ainda hoje faço instrumentos com a escala tradicional, quando me solicitam. Pessoalmente, não é o padrão de som que procuro. > Quais os benefícios da escala elevada? Miguel: O violonista passa a ter à sua disposição recursos para uma melhor interpretação. O violão torna-se mais flexível para a realização do talento do músico, sem falar que, de brinde, facilita muito a execução a partir da décima-segunda casa da escala. > O sistema interno de seus violões possui alguma diferença em relação aos modelos tradicionais? Miguel: Os violões tradicionais ainda se baseiam no sistema de leques do Torres. Não quero ser tecnicamente maçante, mas o trabalho interno dos meus violões é completamente diferente. Em linhas gerais, procuramos delimitar áreas específicas no tampo para os graves e agudos. Cada uma delas pede uma flexibilidade e uma extensão no tampo diferentes, de modo que o tampo, quando está vibrando, automaticamente “seleciona” os graves, médios e agudos e os direciona para as melhores zonas de vibração. Tudo isso de forma harmoniosa e respeitando o princípio do equilíbrio. Fora isso, temos ainda uma rede de barras harmônicas com espessuras e comprimentos diferentes que atravessam o interior do violão, cuja função é de apoiar as notas e corrigir pequenas imperfeições na vibração do tampo. Na verdade, é preciso dar base material para que as notas vibrem e também ajustar os desequilíbrios que eventualmente ocorram, dando opções variadas para a vibração de diferentes freqüências.

A Violão Clássico M-7 • Tampo em cedro ou abeto (18 anos) • Escala em ébano • Tarraxas Schaller • Fundo e faixas em jacarandá-da-Bahia • Verniz: Goma-laca (deixou de usar o poliuretano em 2005) • Cordas Augustine / Hannabach / Savarez Contato: (34) 3321.5304 ou 3321.8153 / Uberaba - MG email: Miguel.Munhoz@uol.com.br

Alguns detalhes dos violões Munhoz, como a escala elevada (1ª. foto de cima para baixo)

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Miguel Munhoz: herdeiro da arte de construir violões

Luthierr > Qual a diferença entre o tampo de cedro e o de abeto? Francisco: Os dois tampos são maravilhosos. O cedro é um pouco menos denso do que o abeto e, portanto, há algumas diferenças práticas na construção. De modo geral pode-se dizer que o abeto tende a responder com um timbre levemente mais cristalino e sóbrio, com uma definição de notas muito particular. É um tampo de maturação mais demorada. O cedro, por sua vez, possui um timbre mais adocicado e envolvente, mais nervoso. É claro que, dependendo da maneira como o luthier dispõe da madeira, ele pode produzir um violão mais seco ou mais doce bem como um mais agudo ou mais grave. Em resumo, o cedro teria um timbre naturalmente mais aveludado e o abeto, por outro lado, um mais cristalino. > Quantos instrumentos você já produziu em sua oficina? Francisco: Já produzi 256 instrumentos.

Dicas de manutenção de Francisco Munhoz “Quando o cliente recebe um violão artesanal construído com madeiras nobres e envelhecidas, por maior que seja o esmero do artesão durante a sua construção, todo esse trabalho será perdido se o músico não seguir rigorosamente alguns cuidados fundamentais para a plena maturação do instrumento. • Mantenha o instrumento sempre afinado; • Evite o contato direto com o sol ou a umidade; • Nunca deixe o violão, ainda que no estojo, dentro do carro fechado; • Atenção com o excesso de umidade ou a secura do ar. Se for necessário, use um umidificador ou um secante; • Nunca empreste seu violão; • Qualquer trabalho de ajuste ou manutenção deverá ser executado apenas pelo artesão que o construiu; • Evite, ao máximo, pancadas ou movimentos bruscos do violão, mesmo que no interior do estojo; • De tempos em tempos, limpe o instrumento com uma flanela seca. Se necessário,

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retire a gordura decorrente do manuseio com uma cera polidora (tipo a Carnu ou a Grand Prix) em pouquíssima quantidade; • Nunca passe produto químico, incluindo a cera, na escala; • Evite marcar o tampo com as unhas; • Mantenha o estojo sempre na posição horizontal. Nunca o deixe em pé, encostado na parede; • O amarramento das cordas no cavalete deve ser bem firme, evitando-se, assim, o risco da corda chicotear no tampo; • A secagem básica do verniz demanda cerca de um ano. Após este prazo é que ele começa a moldar-se à flexibilização das madeiras; • Cuidados com o verniz são muito importantes para a evolução do instrumento. Quanto mais “limpa” a execução, mais rápida a evolução sonora do instrumento; • O músico é co-responsável pela qualidade e pela evolução do instrumento; quanto maior o cuidado do músico, maiores serão as respostas obtidas”.

> Qual a parte mais difícil na construção de um violão? Francisco: O difícil não é necessariamente a parte braçal do trabalho. Eu diria que são dois os momentos mais complicados. O primeiro é a seleção e o casamento das madeiras. É nesta fase que se define para que rumo seguirá o padrão sonoro do violão. E, por fim, um segundo momento muito delicado e que pode pôr a perder todo o trabalho, é a fase da lixação. No primeiro caso você ajuda o violão nascer e no segundo você pode matá-lo! São momentos muito delicados, cheios de sutileza e de arte. São nesses raros instantes, em que a concentração é tanta, que você se desliga dessa realidade para tornar-se um prolongamento do instrumento. Estas fases pedem sempre dias especiais.

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Transcricao

Foto: José Rubens Moldero

Papa-goiaba Alessandro Penezzi Um choro que vale a pena ser estudado

O

lá, pessoal. Hoje tocaremos um choro

te A vai do começo até o compasso 36 e a parte

meu chamado Papa-goiaba, que gra-

B do compasso 38 até o 67. O tema da parte

vei no meu novo CD. Ele tem um es-

A sempre é antecedido pela convenção do com-

tilo que lembra as composições de Esmeraldino

passo 9, com antecipação de uma semicolcheia.

Sales e Laércio de Freitas, o Tio, isto é, com

Essa convenção se repete nos compassos 18, 27 e

muitas modulações, convenções, breques, per-

71. O tema da parte B sempre é antecedido por

gunta e resposta entre melodia e baixo e muita

uma baixaria – compassos 36 e 37, 68 e 69.

ginga. Enfim, trata-se de uma música difícil, mas que vale a pena ser estudada. O choro está dividido em duas partes. A par-

220

Procure obedecer às digitações e articulações sugeridas para facilitar seu trabalho. Bom estudo e bom som!

Papa-goiaba

Alessandro Penezzi é violonista e toca no grupo Choro Rasgado. Graduado em violão popular pela Unicamp (Universidade de Campinas), já tocou com Yamandu Costa, Guinga, Hamilton de Hollanda, Beth Carvalho e Dona Inah, entre outros nomes da música brasileira. Recentemente, ele lançou seu segundo CD solo, Alessandro Penezzi (Independente). Visite o site www.alessandropenezzi.com.br.

Alessandro Penezzi

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A primeira parte do método aborda, de maneira equilibrada, elementos teóricos para o aprendizado e os exercícios práticos necessários. Na segunda parte, são apresentadas tablaturas numéricas e obras de grandes mestres eruditos e populares, como Antonio Rago, Badi Assad, Edson Lopes, Theodoro Nogueira, Geraldo Ribeiro, Duofel, Caetano Veloso, Paulinho Nogueira e Toquinho. Editora Irmãos Vitale

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Tecnica

Estudo III Foto: Pupo

Douglas Lora

Peça aborda algumas das principais problemáticas da técnica violonística

O

Estudo III faz parte de uma série de quatro estudos que compus há uns seis ou sete anos com o objetivo de resolver algumas dificuldades técnicas que eu tinha na época e que, normalmente, perseguem os violonistas. Aqui vou exemplificar melhor o assunto abordado na edição passada, no que se refere ao melhor resultado obtido pela prática de elementos puramente mecânicos quando inseridos em um contexto musical. Os 32 compassos dessa peça apontam brevemente algumas das principais problemáticas da técnica violonística. As escalas rápidas descendentes sempre preocupam em relação ao dedilhado da mão direita. Deve-se evitar ao máximo cruzar os dedos (leia a Violão PRO de setembro) ao pular de uma corda para outra, mesmo considerando que nem sempre isso será possível. Na digitação sugerida, existem pontos de eventuais cruzamentos, o que também pode estimular o estudante a buscar novas digitações ou, então, a praticar conscientemente esses cruzamentos. Ao longo desse estudo, a mão

direita é indicada em passagens estratégicas. Porém, desde que o resultado sonoro seja fiel ao que está escrito, outras possibilidades podem ser exploradas. Também são abordados problemas relacionados com ligados e ornamentos (compassos 5, 13, 18 e 19), com arpejos irregulares com saltos de corda na mão direita, com saltos de mão esquerda em escalas tocadas na mesma corda (compassos 24 e 25) e com a precisão rítmica da execução das quintinas e tercinas. Não existem grandes contrastes de dinâmica ou timbre, a não ser nos locais indicados. A peça também pode ser executada em andamentos mais rápidos do que o sugerido. Tive o prazer e a satisfação de ouvir esse estudo primorosamente gravado pelo grande violonista e amigo Victor Castellano, em seu CD Violões da Música Brasileira II. A versão aqui impressa foi revisada e contém pequenas alterações em relação à versão original. Espero que gostem e que a lição seja de alguma utilidade. Um abraço!

Estudo III

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Douglas Lora é violonista e compositor. Integrante do Brasil Guitar Duo, com o violonista João Luiz, e do Violão-CâmaraTrio, ele é mestre em Performance pela Universidade de Miami (EUA), onde também é professor. Dedica-se aos repertórios erudito e popular para violão.

Douglas Lora

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Transcricao

Invenção nº 13 J. S. Bach

Cada violão toca uma das mãos do teclado na transcrição desta peça escrita originalmente para cravo

A

s “invenções a duas vozes” são um conjunto de 15 pequenas peças compostas para cravo por Bach, em 1723, com objetivos pedagógicos. Nesta transcrição para duo de violões da Invenção nº13, o primeiro e o segundo violões tocam respectivamente a mão direita e a mão esquerda do teclado quase que literalmente. Há apenas algumas acomodações de oitava, que são necessárias devido às limitações do instrumento. A grande dificuldade na execução de uma peça em duo é o equilíbrio sonoro que deve existir entre os dois instrumentos. Em primeiro lugar, é importante buscar um timbre parecido entre os dois violões, dando a sensação de unidade à interpretação. Não se esqueça de que esta peça foi composta apenas para um instrumento.

Invenção nº 13

88

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Outro fator importantíssimo a ser levado em conta é o equilíbrio de intensidade da execução de cada uma das vozes. Para se chegar a um resultado satisfatório, é necessário muito ensaio e muita discussão sobre os momentos que devem ser destacados durante a peça. Por exemplo, logo nos dois primeiros compassos, o motivo principal é repetido quatro vezes alternadamente, do primeiro para o segundo violão. O mesmo ocorre nos compassos 6, 7 e 8, com o motivo passando do segundo para o primeiro violão. Se não for feito o balanço correto das vozes nos compassos citados, a interpretação da peça fica prejudicada. Fique atento às digitações de mão esquerda e de mão direita sugeridas. Decore-as para que não haja dúvidas durante a execução. Boa sorte e até a próxima!

Cristiano Petagna é violonista de formação erudita e popular. É professor de violão da Escola de Música e Tecnologia (EM&T), em São Paulo, onde foi responsável pela elaboração do material didático-pedagógico junto ao violonista Ulisses Rocha.

J. S. Bach

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Transcricao

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Tecnica

No balanço do Jongo Marquinho Mendonça

Dança afro-brasileira abre novas possibilidades para arranjos e composições

O

Brasil possui uma diversidade cultural impressionante nas suas sincréticas manifestações folclóricas, festivas e religiosas. Muitos gêneros musicais regionais, por se tratarem de festas de rua ou procissões, utilizam o canto e a percussão como seus elementos principais. A adaptação destes gêneros para diferentes instrumentações, como o violão, pode abrir novas possibilidades para arranjos e composições. O tema Éstudo aqui proposto é um estudo para dedilhado de acordes abertos inspirado na rítmica dos tambores de jongo. O jongo é uma dança afro-brasileira praticada em comu-

120

nidades pelos interiores do sudeste do Brasil e é tocado em tambores afinados no fogo, geralmente no compasso de 6/8. A música Jongo, do violonista Paulo Bellinati, também inspirada nesse ritmo, já teve mais de 50 gravações pelo mundo e pode ser considerada um clássico do violão brasileiro. Éstudo serve como um bom exercício de aquecimento e começa a soar natural quando tocado a partir de 120 BPM. Comece devagar e vá aumentando a velocidade gradualmente, mantendo a limpeza das notas e o pulso firme. Bom divertimento!

Éstudo

Marquinho Mendonça é violonista, guitarrista, bandolinista e cavaquinista. Formado pelo Musicians Institute de Los Angeles (EUA), ele já tocou na banda de forró Mafuá e em diversos regionais de choro. Lançou recentemente seu primeiro CD autoral, Filosofolia (Independente), em que passeia pelo jazz, pelo flamenco e por ritmos brasileiros como frevos, cocos, jongos, choros e baiões. Visite o site www. marquinhomendonca.com.br.

Marquinho Mendonça

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Tecnica

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Tecnica

Arpejos com muito som e pouca força Nilo Sérgio Sanchez

P

O peso dos dedos ajuda a extrair o som

ara todos os instrumentistas, o arpejo – sucessão de notas dos acordes – é uma das técnicas mais importantes para garantir uma boa sonoridade. No caso do violão, muitos estudantes procuram seus professores para “melhorar o dedilhado”. A proposta aqui apresentada visa melhorar o desempenho do violonista, eliminando qualquer tipo de esforço desnecessário. É importante observar os seguintes pontos: — A mão direita deve ficar perpendicular às cordas e absolutamente relaxada. Em vez de força, o peso de cada dedo é que ajudará a extrair o som. — A igualdade na intensidade das notas obtidas por cada dedo deve ser trabalhada. De nada adianta realizar arpejos rápidos e desequilibrados, em que, por exemplo, a nota tocada pelo dedo médio (ou outro qualquer) não seja ouvida claramente. — O toque do polegar pode ser trabalhado com ou sem o apoio na corda imediatamente inferior.

No Ex.1 não há mudanças de acorde na mão da escala, apenas o movimento cromático em uma das cordas. Isso ajuda a concentrar toda a atenção no arpejo e a aumentar o relaxamento. Toque-o lentamente e aplique as variações. As combinações de dedilhado empregadas ajudam a melhorar o desempenho de cada dedo, proporcionando um equilíbrio de sonoridade. Experimente também a seqüência com cordas soltas do Ex.2. Cada uma dessas seqüências pode ser aplicada, por exemplo, sobre o campo harmônico de Dó maior, como no Ex.3. Aplique esses exercícios sobre outras seqüências e transcreva-os para outros tons. Além de melhorar a técnica do arpejo, você também fixará os campos harmônicos. Também experimente os dedilhados em seus acompanhamentos e composições. Para finalizar, sugiro tocar o Prelúdio de Francesco Molino (1775-1847), que apresenta combinações de diferentes arpejos. Bom trabalho e um abraço!

Nilo Sérgio Sanchez é violonista, arranjador, compositor e regente. É coordenador de Música do Liceu Pasteur de São Paulo. Seu livro, Curso de Violão - Obras de Grandes Mestres, editado pela Irmãos Vitale, apresenta obras de importantes compositores brasileiros contemporâneos. Email: nsergio3@terra.com.br.

Ex.1

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Ex.2

Ex.3

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Prelúdio em G maior

Francesco Molino

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Tecnica

P U B L

I

EMPRESA

C

I D A D E TELEFONE

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www.musicalizzo.com.br

RMV

11 6404-8544

www.rmv.com.br

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Yamaha

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