Violão Pro #7

Page 1

VIOLÃO PRO

LUIZ CLAUDIO RAMOS O arranjador de Chico Buarque revela seus segredos musicais

EGBERTO GISMONTI

TESTAMOS E APROVAMOS •Captador RMC Acoustic Gold •Giannini GWNE18 •Alonso Woodshell •Processadores Boss AD •Sete-Cordas Rogério Santos •Fox V2 Standard NT

LUTHIER SAMUEL CARVALHO Conversamos com essa fera da nova geração

TRANSCRIÇÕES

Violão PRO•2006•Nº 7•R$ 8,50

DEZEMBRO | 2006

ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

EGBERTO GISMONTI superentrevista exclusiva com o mago dos sons

João e Maria - Chico Buarque e Sivuca Luiza - Tom Jobim

AS 24 PÁGIN ICA E

DE TÉCN ES TRANSCRIÇÕ RES HO COM OS MEL S VIOLONISTA DO PAÍS

WWW.VIOLAOPRO.COMLENINE

2º FESTIVAL INTERNACIONAL DE VIOLÃO DE BH Cobertura completa desse evento histórico

Erudito

MESTRE GERALDO RIBEIRO Capa_Violao7+lombada.indd 1

Bate-papo com esse concertista pioneiro que tem seu nome na história do violão brasileiro 30/12/2006 13:14:55


ViolaoPro 7.indd 2

28/12/2006 14:47:18


ViolaoPro 7.indd 3

28/12/2006 14:47:38


Editorial

Muito mais violão cuidado ao se fazer uma revista como a Violão PRO é maior do que ao se escolherem artistas. A cada detalhe do planejamento e da produção é feito um estudo, às vezes rápido, às vezes mais demorado. Tudo para levar a você uma revista democrática, com artigos que sejam do interesse de todos. Nossa grande preocupação é ter uma publicação forte, com qualidade técnica e que seja vibrante. Em busca desse equilíbrio — como já disse em um outro editorial Fábio Carrilho, nosso editor técnico —, a colaboração de gente gabaritada e com conteúdo é fundamental. Por isso podemos dizer que esta edição está simplesmente brilhante. A capa traz Egberto Gismonti, um mestre que vem expandindo a honra do violão brasileiro no mundo, com mais de 50 discos lançados e que, com seu estilo muito particular, reinventou o conceito de tocar o instrumento. No reino da construção dos instrumentos, Samuel Carvalho dá as cartadas em uma entrevista que desvenda o lado técnico da luteria. A erudição está representada pelo violonista Geraldo Ribeiro, um baiano bom de prosa que conta sua paixão pelo instrumento, despertada ao vê-lo pela primeira vez em uma revista (veja só!) aos 5 anos de idade. Na parte técnica, Gilson Antunes dá uma lição sobre ligados, que, ao lado dos arpejos e das escalas, formam a trinca básica do estudo. Imperdíveis também são as aulas e transcrições que permeiam esta Violão PRO. Participe, comente, escreva. Afinal, o foco do nosso trabalho é a busca da sua satisfação. Feliz 2007!

O

Daniel Neves

Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima EditorTécnicoe Coordenação FábioCarrilho Redação Regina Valente - MTB 36.640 Reportagens DeiseJulianade Oliveira e ViníciusGomes

Testes Ramos), Kazuo Watanabe Cristiano Petagna, Miguel De Laet(Geraldo Ribeiro) e divulgação e RenatoFrasnelli Impressãoe Acabamento Revisão Hebe Ester Lucas

Departamento Comercial EduardaLopes Administrativo / Financeiro Carla Anne

GráficaPROL

Fotode Capa divulgação

Edição6: Violõesno Choro,Lenine, LuthierFrancisco Munhoz,João Luize Douglas Lora,Alessandro Penezzi,testes e muitomais!

Publicidade Anuncie na Violão PRO comercial@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.violaopro.com.br e-mail:ajuda@musicamercado.com.br Assinaturas: (11)5103-0361

Distribuiçãoexclusiva paratodoo Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A • Rua Teodoro da Silva, 907 - Grajaú • CEP: 20563-900 - Rio de Janeiro / RJ • Tel.: (21) 2195-3200

Lições Direção de Arte Assessoria:Edicase Soluções para Editores Alessandro Penezzi, Cristiano Petagna, Dawis Roos DouglasLora,GílsonAntunes,Maicol ViolãoPRO(ISSN1809-5380)é umapublicaçãoda Música& Mercado Fotos Agiani, Nilo Sérgio Sanchez e Rick Udler Editorial. Redação, Administração e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 DanielNeves,FábioCarrilho, - BrooklinNovo- São Paulo/ SP. e-mail:violaopro@musicamercado.com.br Edição de Partituras FernandoLadeiaPeixoto(Festival Cristiano Petagna BH), Patrícia Cecatti (Luiz Cláudio Estarevistaapóia

O que ouvimos na redação Artista: Pat Metheny | Título: Bright Size Life | Gravadora: ECM Records | Comentário: Clássico do jazz moderno! Neste disco de 1976, Pat Metheny apresentou ao mundo sua linguagem particular de tocar guitarra acompanhado de Jaco Pastorious (contrabaixo) e Bob Moses (bateria).

4 ViolaoPro 7.indd 4

Artista: Chico Buarque | Título: Carioca | Gravadora: Biscoito Fino | Comentário: Um dos grandes lançamentos de 2006, Carioca é também um dos trabalhos mais maduros do violonista e arranjador Luiz Cláudio Ramos, nosso entrevistado nesta edição.

Artista: Binelli – Ferman – Isaac Trio | Título: New Tango Visions | Gravadora: New Vision | Comentário: Belíssimo CD deste grupo formado pelos argentinos Daniel Binelli (bandoneom), Polly Ferman (piano) e Eduardo Isaac (violão), em que tocam com maestria Piazzolla, Aguirre e composições de Binelli.

• Dezembro / 2006

30/12/2006 13:05:20


ViolaoPro 7.indd 5

28/12/2006 14:49:51


-

Indice ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

34 Egberto Gismonti Entrevista exclusiva com o mago dos sons

MATÉRIAS 14 Ligados Melhore sua técnica agora! 20 Geraldo Ribeiro O desbravador das seis-cordas 24 Luiz Cláudio Ramos O maestro de Chico Buarque 30 2º Festival BH Capital nacional do violão 43 Lançamentos Teodomiro Goulart, Gaetano Galifi e Zezo Ribeiro 44 Luthier Samuel Carvalho Experiência é tudo!

TESTES 38 RMC Acoustic Gold Em busca da sonoridade perfeita 39 Giannini GWNE18 O primeiro acorde a gente nunca esquece 40 Violão Alonso Woodshell O que o Oriente tem de bom 41 Série AD - Boss Linha de processadores para violão de cair o queixo 42 Na Estrada Violão Fox V2 Standard NT Sete-cordas Rogério Santos

6 ViolaoPro 7.indd 6

4 8 10 38

SEÇÕES Editorial Cartas Strings Testes

16 Luiz Claudio Ramos

42 Na Estrada 43 Lançamentos 65 Classificados 66 Índice de Publicidade

LIÇÕES E TRANSCRIÇÕES 48 Alessandro Penezzi Grande polegar

52 Douglas Lora Polifonia no violão

54 Rick Udler Jazz e Blues x Violão de náilon

56 Cristiano Petagna Arranjando para violão: Luiza

59 Maicol Agiani Salve, Garoto

62 Nilo Sérgio Sanchez Homenagem a Sivuca: João e Maria

• Dezembro / 2006

30/12/2006 13:08:47


ViolaoPro 7.indd 7

28/12/2006 14:50:14


Cartas

João Luiz e Douglas Lora Adorei a matéria do duo João Luiz e Douglas Lora. Participei há algum tempo de uma masterclass de violão com o Sérgio Assad e o duo tocou para ele. Eles estavam no começo, e o Sérgio comentou: “Nossa, que bacana, cada um tocando a sua parte muito bem, mas ainda não está soando como um duo”, e agora olha só, que maravilha. Acho que é esse tipo de comentário que faz com que procuremos estudar mais e buscar a melhor sonoridade possível. Parabéns pela reportagem. Lilian Magnani São Paulo/SP

É a melhor, oba! A Violão PRO é a melhor revista sobre violão aqui no Rio, quem sabe no País. Quando descobri a revista, ela já estava no número 2, mas um amigo foi a São Paulo e achou a número 1 por lá, ainda bem! Vida eterna à Violão PRO. Amém. Marcus Vinicius Pourroy Rio de Janeiro/RJ

8 ViolaoPro 7.indd 8

Sugestão

Rua Guaraiúva

, 64

4 Tenho as seis edições da VioCEP: 04569001 - Brooklin lão PRO. Gostaria de ver na Novo São Paulo / S P próxima uma matéria com a e-mail: ajuda@ violaopro.com trajetória completa da grande .br ajuda@music amercado.com mestra do suingue Rosinha de .br Valença, de quem até Raphael Rabello adorava a levada de samba. Ailton Cavaquinho São Paulo/SP dores da Violão PRO. Não sei como poderia ser esta seleção — talvez com assinantes da revista ou com pessoas que a própria direPrimeiros passos Estou começando meus primeiros passos no ção conhece. Mas é algo para se pensar. Tony Santana violão e meu professor recomendou a leitura Cruz das Almas/BA da Violão PRO. Parabéns! Vocês vão do profissional ao iniciante, como eu, que deseja aprender com os melhores músicos do Brasil. Erramos Rodney Peres Os contatos da fornecedora do vioCuritiba/PR lão Fender FR48 Steel Resonator no Brasil saíram errados na seção de Futuros violonistas testes da edição 6. Quem fornece o Acredito que em todo o mundo existam FR48 é a Pride Music e os contatos pessoas que pensam em ser grandes viosão: info@pridemusic.com.br ou lonistas, por isso acho que deveriam fazer www.fender.com.br. uma capa com alguns iniciantes e admira-

• Dezembro / 2006

28/12/2006 14:50:33


ViolaoPro 7.indd 9

28/12/2006 14:50:48


EQUIPAMENTOS, MÚSICOS, ENQUETES, SHOWS E NOVIDADES DO GRANDE MUNDO DOS VIOLÕES!

MESTRE DAS CORDAS

V

Paulo Martelli: especialista no violão de 11 cordas

Foto: Ana Lúcia Braga

ocê já ouviu falar na alto guitar? Esse é o nome pelo qual o violão de onze cordas, também chamado de violão barroco, é conhecido lá fora. Um dos poucos a se especializar nele no País foi o violonista Paulo Martelli. Além de se dedicar à obra de Bach, Narváez, Mudarra e dos renascentistas em geral neste curioso violão, Martelli tem explorado elementos brasileiros e jazzísticos em seu trabalho. Em Miosótis (Independente), seu mais recente CD, ele apresenta dez arranjos inéditos de músicas do compositor popular Zé Henrique Martiniano. “A linguagem deste trabalho é a do jazz brasileiro, rico na harmonia, com belas melodias de fácil absorção e com ritmos variados”, disse. O CD também traz Martelli tocando violão tradicional de seis cordas e em duo com o violonista João Luiz Lopes (do Quaternaglia e do Brasil Guitar Duo), que inclusive assinou seis arranjos. Uma inovação interessante é que o CD traz os arranjos das músicas em forma de songbook multimídia. Miosótis ainda não foi distribuído nacionalmente, mas pode ser adquirido pelos e-mails zhm@vivax.com.br ou paulomartelli@yahoo.com.br. Altamente recomendável!

GRAVANDO NO BLUE NOTE

B

Marcus Teixeira: CD com Gal Costa em Nova York

10 ViolaoPro 7.indd 10

om gosto é pouco para descrever o violão do brasiliense Marcus Teixeira. Com ele, não existem excessos, nada é gratuito. Seu virtuosismo vai além da técnica, passa pela sua linguagem brasileira e jazzista muito pessoal. Admirador confesso de Toninho Horta, Tom Jobim e João Gilberto, Marcus vem chamando a atenção de músicos de todo o mundo. Tanto é que gravou recentemente com a cantora Gal Costa o elogiado disco Live at the Blue Note (DRG), na lendária casa nova-iorquina. Como única base harmônica em um quarteto de violão, baixo, bateria e saxofone, Marcus teve a liberdade ideal para acompanhá-la em clássicos como Ave Maria no Morro, Pra Machucar Meu Coração e Copacabana. Infelizmente este CD não saiu no Brasil, mas pode ser adquirido pela internet. Além desse trabalho, Marcus tem acompanhado as divas Rosa Passos e Leny Andrade e pretende lançar seu primeiro disco solo em 2007. “Penso em um disco só com composições minhas, em formação de quarteto e com algumas participações especiais”, disse.

• Dezembro / 2006

29/12/2006 00:23:47


A

ntes de embarcar em dezembro para mais uma turnê pelos Estados Unidos, o violonista e compositor Guinga estava eufórico. “Meu primeiro concerto será um dos mais importantes da minha vida. Tocarei com a Filarmônica de Los Angeles, no Walt Disney Hall, interpretando só músicas minhas”, dizia. Segundo o jornal Los Angeles Times, o concerto foi mesmo histórico. Guinga tocou a primeira metade do programa com o seu quarteto, formado por Lula Galvão (guitarra), Paulo Sérgio Santos (clarineta) e Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn). Na segunda metade, eles tocaram com a filarmônica arranjos escritos por Paulo Aragão, violonista do Quarteto Maogani, e causaram uma ótima impressão na platéia. No final, o cantor Ivan Lins subiu ao palco para dividir os vocais com Guinga. Para 2007, ele tem agendados uma turnê pela Europa para o lançamento do disco Dialetto Carioca, gravado na Itália, e um disco de inéditas pela gravadora Biscoito Fino, com previsão de lançamento para março de 2007.

De leitor para leitor

Qual foi sua maior dificuldade técnica no violão?

Minha maior dificuldade ainda está na leitura e na interpretação de algumas peças. Este é o meu desafio constante e me empenho muito para superá-lo. A parte mecânica em si não me aflige tanto. Considero a interpretação correta de uma música a partir de uma partitura algo muito complexo, pois é uma tarefa subjetiva, em que o intérprete tem de se esforçar ao máximo para traduzir as intenções do compositor a partir do que está escrito em uma folha de papel. Carlos Giulian Rodrigues da Costa Cuiabá-MT Minha maior dificuldade, por estranho que pareça, foi conseguir uma postura legal para minhas mãos. Experimentei várias posições para

fazer batidas e levadas, por exemplo. Consultei vários professores, até que finalmente encontrei uma que me agradasse e que me permitisse tocar confortavelmente o que gosto. Lucas Francisco Bosso Belussi Penápolis-SP Para mim é o trêmolo. O que me ajuda a trabalhar essa dificuldade é fazer o trêmolo ao contrário (p, i, m, a), bem lento. Também faço trêmolos com acentuações distintas, por exemplo, acentuando o dedo anular ou médio. Outro ponto que trabalho bastante são os rasgueados múltiplos, pois fortalecem o movimento contrário, ‘para fora’, e os músculos extensores. Flávia Prando e-mail

Participe desta seção. Escreva para contato@violaopro.com.br e responda: “Quais os cuidados que você toma com suas unhas?”

O que eles tocam

Fotos: Fábio Carrilho

CONCERTO HISTÓRICO

C

omo todo bom chorão, o mestre do sete-cordas Israel Bueno é um admirador de Horondino José da Silva, o Dino 7 Cordas. Foi com o músico carioca que ele teve os primeiros contatos com a sonoridade do instrumento que virou a sua grande especialidade, por meio de gravações nas décadas de 50 e 60. Não é de se surpreender que ele possua um instrumento semelhante ao usado por Dino, um legítimo Do Souto fabricado em 1971, com cordas de aço, que aparece na foto. Para shows e gravações, Israel não dispensa seu sete-cordas João Batista, de 1990, com cordas de náilon.

Q

uem já assistiu aos shows e DVDs da Diana Krall deve ter se impressionado não só com a beleza e musicalidade da cantora e pianista americana, mas também com o som do guitarrista Anthony Wilson. Grande sideman e ótimo improvisador, Wilson costuma tirar timbres gordos de vistosas guitarras acústicas, geralmente plugadas em um velho amplificador Fender valvulado. Nesta foto, ele empunha uma guitarra Monteleone modelo Radio Flyer, feita por este grande luthier de Nova York.

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 11

11 29/12/2006 00:24:08


Strings RADAMÉS ETERNO

O

ano de 2006 marcou o centenário de nascimento do grande pianista, compositor, maestro e arranjador gaúcho Radamés Gnattali (1906-1988). Alguns músicos lançaram ótimos CDs homenageando esta figura fundamental da música brasileira. O cavaquinista carioca Henrique Cazes foi um deles. No final dos anos 40, Radamés montou o moderno Quinteto Radamés, formado por Lúcio Perrone (bateria), Zé Menezes (guitarra), Pedro Vidal (contrabaixo) e Chiquinho (acordeom), além dele mesmo ao piano. Na década de 60, o quinteto virou sexteto, com Aída Gnattali no outro piano. Com eles, Radamés desenvolveu uma espécie de ‘música popular de câmara’, gravou vários discos e fez turnês, inclusive pela Europa. Pouco antes de morrer, em 1993, o acordeonista Chiquinho entregou as partituras do grupo para Henrique Cazes e sugeriu que ele levasse o projeto adiante. Surgia então o Novo Quinteto, formado por Henrique Cazes na guitarra, Maria Teresa Madeira no piano, Osmar Cavalheiro no contrabaixo, Marcos Nimrichter no acordeom e Oscar Bolão na bateria. O primeiro CD saiu só agora, Radamés Gnattali 100 Anos - Novo Quinteto (Rob Digital), em que tocam composições do maestro, como Remexendo, Bate Papo e Meu Amigo Tom Jobim, e também Jacob do Bandolim e Pixinguinha. O CD é delicioso, não só pela música em si, mas pela agradável sensação de ouvir o quinteto com uma excelente defini-

Radamés Gnattali: centenário do maestro e reconhecimento pela obra

ção sonora, à altura da genialidade de Radamés. Outro ótimo lançamento é Radamés em Companhia (Biscoito Fino), do violonista Caio Márcio e do acordeonista e pianista Marcos Nimrichter, que também tocou no Novo Quinteto. Neste primeiro trabalho da dupla, a referência a Radamés está em todas as faixas. Isso permite a eles recriarem com liberdade Amargura, Valsa Triste, Invocação a Xangô e os Estudos V e VII, além de músicas que não pertencem ao maestro, mas que remetem a ele, como Assanhado (Jacob do Bandolim), Perfume de Radamés (Guinga) e Batuque (Ernesto Nazareth). O clima do CD é intimista e os dois jovens músicos mostram soluções musicais interessantes nas diferentes combinações instrumentais utilizadas — a novidade foi Caio tocando guitarra em algumas faixas. Eles tiveram as participações especiais de Guinga, do cantor Zé Renato e do saxofonista Mauro Senise, que deram um charme extra a esse belo CD.

Não é mais um simples afinador. Para quem não conhece a Planet Waves, trata-se de uma marca de acessórios de alto padrão da D’Addario. Este versátil afinador é destinado a qualquer instrumento (acústico ou elétrico) em qualquer ambiente. Confira no www.planetwaves.com.

12 ViolaoPro 7.indd 12

• Dezembro / 2006

30/12/2006 16:14:09


EM TODO LUGAR jovem violonista paulistano Daniel Murray não vê problemas em dividir-se entre trabalhos com música erudita e música popular. Com muita desenvoltura e musicalidade, tem participado do trio de violões Opus 12, grupo com 30 anos de estrada e formado atualmente, além dele, por Paulo Porto Alegre e Eduardo Minozzi Costa. “Estamos preparando o CD Trio Opus 12 e Núcleo Hespérides Interpretam Radamés Gnattali. Ele terá peças para violão e piano (com a pianista Rosana Civile) e duas peças para três violões, Suíte Retratos e Suíte Brasileira, transcritas especialmente para o trio pelo próprio Radamés”, afirma. Além do Opus 12, Murray tem tocado com o mestre do sete-cordas Israel Bueno no trio do violonista Paulo Bellinati. “É um trabalho ao mesmo tempo original e que preserva a tradição da música brasileira e do rico universo da seresta, diretamente ligado ao violão. Bellinati é o mentor do grupo. São três violões diferentes e o Bellinati toca um belíssimo violão de seresta Souza, feito em 1923”, diz Murray. Vamos torcer para que este trabalho também dê um belo CD!

Daniel Murray: entre o erudito e o popular

Foto: Sílvia Machado

O

FIQUE LIGADO! • Entre os dias 14 e 27 de janeiro a cidade mineira de Poços de Caldas sediará o seu 8º Festival Música nas Montanhas. Na programação, vários concertos gratuitos e oficinas de música erudita e instrumental. Entre os violonistas que ministrarão aulas e se apresentarão na programação do festival estão Camilo Carrara e Edélton Gloeden. Para mais informações sobre inscrições e hospedagens, visite o site www. festivalmusicanasmontanhas.com.br. • O tradicional Conservatório de Tatuí, localizado a 130 quilômetros de São Paulo, receberá inscrições para os seus cursos regulares entre os dias 15 e 19 de janeiro. Entre seus professores de violão, estão nomes como o de Geraldo Ribeiro, Ângela Muner e Édson Lopes. Há um concorrido processo seletivo para admissão dos alunos, por isso é recomendável se informar sobre o conteúdo exigido. Para mais informações, visite o site www.cdmcc.com.br.

PARABÉNS, RAPAZIADA! • Em novembro, o Brasil Guitar Duo, formado pelos violonistas João Luiz e Douglas Lora, voltou a tocar no Carnegie Hall, meca da música clássica em Nova York. A curiosidade dos americanos para assisti-los foi tamanha que os ingressos para os concertos esgotaram-se com duas semanas de antecedência! • A cidade mineira de Uberlândia sediou em dezembro o Concurso Nacional de Violão Joadacil Damaceno. A classificação final foi a seguinte: 1º lugar - Marcos Flávio Nogueira da Silva (Pouso Alegre - MG); 2º lugar - Fabrício Mattos (Curitiba - PR); 3º lugar - Marco Antônio Corrêa Lima (Niterói - RJ); revelação - Paulo Vinícius de Oliveira (Uberlândia - MG); menção honrosa - Álvaro Henrique Santos (Brasília - DF).

Venha aprender a incrível arte de construir instrumentos acústicos com o luthier Régis Bonilha. Violões: nylon, aço, 6, 7 e 12 cordas; viola, bandolim e outros.

Tel.: (11) 5083.1560 • Visite nosso site: www.superguitarra.com.br/bh

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 13

13 29/12/2006 00:24:39


Tecnica

O

s violonistas quase não percebem, mas estão constantemente fazendo ligados quando tocam alguma peça, arranjo ou improviso. O ligado é representado graficamente por uma linha curva entre uma nota e outra. Essa linha indica a nota a ser tocada e a nota que deve ser ligada, ou seja, tocada sem interrupção pela mão esquerda. Os ligados também podem ser feitos entre várias notas. Os ligados ascendentes são aqueles em que se toca uma nota e depois, usando apenas a força de um outro dedo da mão esquerda, executa-se a nota seguinte, percutindo-a. Não é necessária muita força, apenas a suficiente para se escutar a nota ligada. Os ligados descendentes são o contrário: toca-se uma nota e o mesmo dedo da mão esquerda toca a nota a ser ligada, puxando a corda para baixo. Deve-se ter em mente que os ligados feitos no violão são diferentes dos ligados feitos na guitarra, pois a ação das cordas naquele é maior e o volume (sem amplificação, claro) é menor. Não adianta, então, para executar os ligados descendentes, apenas levantar os dedos da mão esquerda. Você deve, sim, tocar a nota ‘para baixo’, a fim de emitir a sonoridade correta. Os movimentos dos dedos devem ser sempre econômicos.

14 ViolaoPro 7.indd 14

• Dezembro / 2006

28/12/2006 14:53:51


Melhore sua técnica

agora! Um programa básico e eficiente para melhorar sua técnica de ligados em 6 estudos

Vários autores que escreveram métodos para violão se dedicaram ao estudo dos ligados. Entre os mais conhecidos estão os livros de Abel Carlevaro (Série Didáctica para Guitarra, volumes 3 e 4), Emilio Pujol (Escuela Razonada de la Guitarra), Isaías Sávio (Escola Moderna do Violão, volumes 1 e 2), Ricardo Iznaola (Kytharologus) e Pepe Romero (Gymnastic Exercises). Os ligados servem para ganhar destreza, confiança e boa colocação dos dedos, além de habilidade. Antes de praticá-los, é essencial observar a colocação da mão esquerda, do cotovelo e dos dedos. Um dedo importantíssimo é o polegar e a sua correta utilização é fundamental para o relaxamento e melhor aproveitamento dos outros dedos da mão esquerda. Ele não precisa, necessariamente, estar colocado no centro da parte de trás do braço do instrumento. Também não será nenhum pecado se ele estiver aparecendo. Isso depende do tamanho da mão do violonista e da posição que ele deseja alcançar. O polegar também não deverá fazer força. Ele deve ter uma ação neutra de colocação e ponto de contato. O polegar também não deverá fazer força. Ele deve ter uma ação neutra de colocação e ponto de contato. Agora, atenção na matéria e prepare-se para incrementar sua técnica. Mãos à obra!

Por Gilson Antunes Gilson Antunes é violonista erudito e faz concertos por todo o Brasil. Estudou na Guildhall School of Music and Drama, em Londres, e é mestre em musicologia pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professor de violão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 15

15 28/12/2006 14:54:02


Tecnica Ligados Ascendentes

P

ara tocar ligados ascendentes, lembre-se de que o dedo atua de forma transversal à corda e, por isso, é necessária uma boa colocação do pulso. Mantenha-o em uma postura horizontal às cordas, exceto em alguns exercícios específicos de aberturas com pestanas e contrações dos dedos, por exemplo, em que é impossível mantê-lo dessa maneira. Emilio Pujol fala, em sua Escuela Razonada de la Guitarra, para utilizar apenas os dedos para fazer os ligados ascendentes, enquanto Abel Carlevaro pede para utilizar, além dos dedos, a força da mão e do braço, quando necessária.

Recomenda-se o uso do metrônomo (como em todos os outros estudos de técnica pura), partindo inicialmente de um andamento mais lento até chegar a um mais rápido, porém confortável para o violonista.

Ligados Descendentes

O

exercício de ligados descendentes proposto a seguir utiliza os mesmos dedos do exemplo anterior. A posição do pulso também deve seguir as mesmas observações feitas para os ligados ascendentes. Tome cuidado para não tocar a corda de baixo ao fazer ligados descendentes acima da primeira corda (Mi agudo). Para isso, você deve treinar o controle do movimento do dedo que fez o ligado, ou seja, onde parar.

Abel Carlevaro classifica os ligados descendentes em três categorias: a) ligados normais: realizados apenas com os dedos, quando não há maiores dificuldades; b) ligados por exceção: normais, mas com a palma da mão esquerda mais distante da escala; c) ligados por fixação: realizados com a ajuda da mão e do braço, além das articulações fixadas dos dedos.

16 ViolaoPro 7.indd 16

• Dezembro / 2006

30/12/2006 12:59:14


Ligados Mistos

A

pós estudar separadamente os ligados ascendentes e descendentes, sugiro estudar os exercícios de ligados mistos, que são uma junção desses dois modelos.

(A)

(B)

(C)

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 17

17 30/12/2006 13:00:08


Tecnica (D)

Ligados de uma corda para a outra

O

s ligados em cordas diferentes são menos praticados, mas bastante úteis. Entre as peças que os utilizam estão La Arrulladora, da série Platero y Yo, de Mario Castelnuovo-Tedesco, e o Concierto del Sur, de Manuel Ponce. O violonista e professor uruguaio Isaías Sávio pensou nesse estudo no segundo volume de sua Escola Moderna do Violão, conforme aparece no exercício a seguir.

Ligados Duplos

O

s ligados duplos também não são muito comuns, mas servem principalmente para a coordenação dos dedos da mão esquerda, além de ajudar na firmeza e boa ação dos dedos. Novamente, a economia de movimentos será essencial para não cansar a mão e obter maior aproveitamento nas peças executadas.

Continuar até a sétima posição e voltar

18 ViolaoPro 7.indd 18

• Dezembro / 2006

30/12/2006 13:00:15


Grupetos, Mordentes e Trinados

O

s grupetos, mordentes e trinados são mais conhecidos como ornamentos e bastante utilizados em músicas dos períodos barroco e clássico. Alguns compositores os utilizam como concepção melódica ou variação temática. Em tese, essas práticas nada mais são que uma sucessão de ligados ascendentes, descendentes e mistos, por isso é essencial o bom treinamento de cada um desses ligados em separado. Abel Carlevaro sugere que esses exercícios sejam estudados utilizando mais de um dedo para o efeito, e não apenas um. Com isso, a ação dos dedos será de contração e distensão, auxiliando na velocidade dos efeitos e gerando um cansaço muscular menor. (A)

(B)

(C)

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 19

19 30/12/2006 13:00:23


Erudito Concertista, compositor, arranjador e especialista em transcrições. São muitas as habilidades do violonista Geraldo Ribeiro, 67, um baiano bom de prosa que teve o primeiro contato com o violão ao vê-lo em uma revista quando tinha 5 anos de idade. Aos 7, viu pela primeira vez ele ser tocado por um violonista do interior e, a partir daí, apaixonou-se de vez pelo instrumento. A história do menino que nasceu em uma fazenda na cidade de Mundo Novo e chegou a São Paulo querendo seguir carreira de violonista revela detalhes únicos e curiosos. Amigo de Dilermando Reis, ele foi o primeiro a transcrever a obra de Garoto e tocava como ninguém as músicas de Canhoto. Geraldo Ribeiro foi também o primeiro violonista erudito brasileiro a apresentar-se no Teatro Municipal de São Paulo, no início da década de 60. E foi uma estréia inspiradora: executou Moto Perpétuo, de Niccolo Paganini, diante de olhos e ouvidos incrédulos.

“Os compositores populares, como Armando Neves e Garoto, não escreviam. Se eu não escrevesse, estaria tudo perdido”

O desbravador das seis cordas

Por Denise Juliana de Oliveira Fotos: Kazuo Watanabe

20 ViolaoPro 7.indd 20

Concertista pioneiro e especialista em transcrições, o mestre Geraldo Ribeiro tem seu nome na história do violão brasileiro

• Dezembro / 2006

28/12/2006 14:55:05


C

oncertista pioneiro, professor pioneiro. Geraldo Ribeiro foi o primeiro professor de violão da Universidade de Brasília (UNB), numa época em que o instrumento ainda não merecia cátedras. Ele gravou oito discos em LP que fizeram história, dentre eles Nazareth e Barrios, o primeiro lançado no Brasil com músicas de Augustin Barrios. Por conta dessa gravação, ele costumava ser citado pelo grande violonista Carlos Barbosa Lima: “Não saberá o que é ser violonista até ouvir Geraldo Ribeiro tocando Barrios. E olha que Barrios já foi gravado por grandes violonistas”, dizia Lima. Geraldo Ribeiro também marcou época com seu LP Concertino para Violão e Orquestra – 12 Improvisos de Theodoro Nogueira, mas nada se compara ao seu disco Bach na Viola Brasileira – Transcrições para Viola de Theodoro Nogueira. Neste último, registrou a clássica Chacona, de Bach, nesse instrumento de alma tão brasileira. Atualmente, ele estuda oito horas diárias de violão, além de ‘brincar’ ao piano e violino. “Como sou compositor, treino no violino para verificar a posição correta do arco”, justifica. Sobre o piano, uma foto do ídolo Canhoto, presente do filho do violonista a Geraldo Ribeiro. É nesse ambiente, sob os olhos de Canhoto, que ele dedica-se ao instrumento que tanto ama. Neste bate-papo com a Violão PRO, registrado em Tatuí ao lado dos violonistas Fernando Lima (do Quarternaglia) e Cecília Siqueira, Geraldo Ribeiro contou histórias da sua carreira e desabafou: “A massificação impede a revelação de novos talentos do violão”.

“Meu primeiro disco foi gravado em 1959, Nazareth e Barrios. Saiu uma crítica na época que o colocava entre os dez melhores discos lançados até aquela ocasião, incluindo os internacionais. Havia um disco do Segovia nessa mesma lista”

> Violão PRO: Como foi seu primeiro contato com o violão? Geraldo Pereira: Vi numa revista. Depois ouvi um violonista do interior tocá-lo. Na verdade, sempre quis tocar violão. Mas meu pai tinha uma viola e aí comecei nela. Mas ela não tinha a sexta corda e meu pai dizia: “Quando der certo, a gente compra”. Queria tocar violão e não viola. Brigava pela sexta corda. Depois, nos mudamos da Bahia para Assis (interior de São Paulo), onde tive meu primeiro professor de violão, Augusto Matias. Era um maestro que dava aulas de todos os instrumentos, um grande músico. Quando pedi para estudar violão, ele me disse que tinha de tocar de ouvido, pois levaria uns dez anos para ser violonista. Mas insisti. E estudei por oito meses somente teoria, sem pegar no violão. Depois disso, já tocava tudo à primeira vista. Acho que este é um método inteligente para aqueles que querem aprender direito. Estudos teóricos são necessários.

> Quantos anos tinha nessa época? Uns 13.

que ouvi em disco. Ouvi Dilermando Reis na então Rádio Clube do Brasil, depois na Rádio Nacional, ele tocava demais... No rádio, ouvia-se Dilermando, Garoto e Antonio Rago. O Rago surgiu tocando violão elétrico com o grupo Rago e seu Famoso Regional. E ele surgiu tocando as melodias mais populares, virou o violonista do momento. Ah! Também ouvia João Pernambuco, muito importante. > Como foi que chegou a São Paulo? Meu professor me mandou ir para São Paulo estudar na ‘Tarrega’, uma escola de violão. Eu nem sabia que era uma escola! Com muito sacrifício, eu, meus pais e irmãos fomos até a Rádio Mayrink Veiga. Lá, conheci um senhor chamado Ângelo Paschoal que me apresentou a uns búlgaros, que me viram tocar. Eles escreveram uma carta me apresentando para uns amigos deles da Rádio Gazeta. Toquei para um árabe, que me deixou escolher um terno em seu guarda-roupa. E fui com algumas composições minhas até a Gazeta.

> E já tinha composições próprias? Comecei a compor em Assis, aos 12 anos, inspirado em Canhoto e Dilermando. Escrevi uns choros e valsas. Reescrevi tudo mais tarde. > Como foi sua recepção na Rádio Gazeta? Cheguei e procurei a sala dos maestros. Nem sabia o que era ele-

> Já ouvia outros violonistas? Ouvia discos, gravações. Se soubesse de alguém que tinha uma gravação, ia a cavalo até lá para ouvir uma única faixa do disco. Batia e pedia para ouvir: “É aqui que tem uma gravação de violão?”. Estudei com Augusto Matias os métodos de Matteo Carcassi. Eu já tocava um pouco pelo método do Américo Jacomino, o Canhoto, que foi um dos primeiros

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 21

21 28/12/2006 14:55:21


Erudito vador, para se ter uma idéia. Acabei tocando para Theodoro Nogueira, o maestro José Portaro e o compositor Orestes Farinello. Toquei as minhas músicas e outras do repertório de Canhoto e Dilermando. Theodoro Nogueira se prontificou a me dar aulas de harmonia. Aí, retruquei: “Mas não está harmonizado?”. Ele disse que sim, mas as aulas seriam para eu evitar erros. > Augusto Matias e Theodoro Nogueira foram seus únicos professores? Não. Estudei também com o Oscar Magalhães Guerra e aprendi muito com ele, principalmente sobre posição das mãos. Mas lembro-me que ele se assustou. Como eu havia estudado muita teoria, logo nas primeiras aulas tocava tudo à primeira vista... Ele pensava que era coisa de espiritismo. Imagine! Não sabe o esforço que fiz. Se a pessoa não se ajudar, nem o espírito ajuda.

> O senhor tem oito discos, alguns históricos... O primeiro disco foi gravado em 1959, Nazareth e Barrios. Saiu uma crítica na época que o colocava entre os dez melhores discos lançados até aquela ocasião, incluindo os internacionais. Havia um disco do Segovia nessa mesma lista. A escolha do repertório foi minha. Foi o primeiro LP com músicas de Barrios lançado 14 anos após a sua morte. O disco divulgou mesmo a sua obra. O Theodoro Nogueira me passou as partes do Nazareth e achei que ficavam bem com as do Barrios. Depois teve As Brasilianas de Theodoro Nogueira, lançado em 1966. > Quando foi sua última gravação? Em 1971, gravei os Improvisos e o Concertino, de Theodoro Nogueira. Em 1972, gravei o Bach na Viola Brasileira. O último foi em 1982, com músicas de Garoto. > Já faz mais de 20 anos. Vai voltar a gravar? Não tive muita sorte com gravações. Fui o primeiro com intenção de continuar, mas era ‘cortado’. Pretendo gravar, mas estou esperando amadurecer bastante (risos). A gente briga com a gravação. Se ela não fica boa, fica para a vida inteira, por isso é bom amadurecer. > E como foi essa história de gravar Bach na viola caipira? A Chacona, de Bach, é a perfeição. Dizem que os cientistas da Nasa se reuniram para enviar ao espaço algo perfeito, caso houvesse civilização lá. Mandaram a Chacona... O efeito na viola era excelente, então resolvi gravar. > E como foram seus recitais? Fui o primeiro concertista brasileiro que tocou violão erudito no Teatro Municipal em São Paulo. Foi uma época em que havia muitos ouvintes, gente interessada em violão. Hoje acho que as pessoas ficam mais tempo em casa vendo televisão e não vão mais a concertos. Viver de concerto é impossível. Ninguém dá importância a recitais. Hoje, paga-se muito pouco, pouco mesmo, por recitais. E um recital é uma dedicação enorme, é praticamente o resumo da carreira do artista no palco. > O senhor também editou alguns livros e se notabilizou por ter sido o primeiro a escrever a obra de Garoto. Esses grandes violonistas não escreviam nada? Os compositores populares, como Armando Neves e Garoto, não escreviam. Se eu não escrevesse, estaria tudo perdido. No caso de Armandinho, ele já tinha alguma coisa escrita pelo Scupinari, Paulo Barreiros, Vital Medeiros, mas eu escrevi mais de 80 peças dele, o grosso do seu repertório. Eu ia a sua casa, levava papel e lápis, ele ia lembrando umas peças e eu ia escrevendo. No caso de Garoto, conhecia as músicas por meio do programa da Rádio Nacional que tinha início ao meio-dia. Ele começava com as cordas soltas do violão e tocava um fragmento da peça A Voz do Violão. Da música moderna, tipo jazzística, eu tomei conhecimento por intermédio do Garoto. Tirei todas as músicas de ouvido, inclusive o Ronoel Simões (nota do editor: maior colecionador de discos

22 ViolaoPro 7.indd 22

• Dezembro / 2006

28/12/2006 14:55:38


“Acho que o violão está muito estereotipado. O violonista não deixa seu livre-arbítrio agir, fica tudo igualzinho... Hoje, eles não têm a essência que os violonistas antigos tinham. Há muita preocupação com o lado técnico, em copiar os outros” e partituras de violão do Brasil) me ajudou, ficava na casa dele ouvindo os discos. Escrevi três álbuns do Garoto. > Américo Jacomino, o Canhoto, não sabia ler música e registrá-lo foi um presente para a música brasileira. Continua escrevendo atualmente? Sim. Estou escrevendo Antonio Rago. Já escrevi umas 20 músicas. Vou quinzenalmente a São Paulo. É um trabalho que demanda tempo, mas faço por prazer. Se não escrever, não existe. Rago possui uma intuição musical muito grande e uma inspiração melódica fora do comum. É um maestro em potencial, um grande amigo meu. > O senhor foi amigo de Dilermando Reis. Como foi que se conheceram? Foi no Rio de Janeiro, em 1956, quando fui comprar um violão na Guitarra de Prata, uma loja de instrumentos famosa. O vendedor me apresentou a ele, foi muito atencioso. Conteilhe que ouvia seus programas e ele me disse para procurá-lo. Seus discos de 78 rotações são excelentes e suas apresentações no rádio eram muito boas. Meu maior ídolo sempre foi o Canhoto, mas o Dilermando era fora de série. > Admira mais algum violonista? Augustín Barrios e Isaías Sávio. E, claro, Andrés Segovia. Ele veio a São Paulo em 1957 e fez dois concertos no teatro Cultura Artística. Assisti, mas não me chamou muito a atenção no início. Achei frio, apesar de o som dele ser bonito e ter volume. Mas depois da primeira impressão, depois de conhecê-lo melhor, passei a gostar muito. O problema do Segovia é que você precisa entendê-lo. Em Segovia, tudo é pensado. Ele tocava com muitos vibratos e, com isso, elevou o instrumento à categoria de concertos, chegando a receber críticas por isso.

> O que o senhor faz hoje? Dou aulas no Conservatório de Tatuí desde 1983. Aliás, quero ressaltar a importância desse estabelecimento para o Brasil e a América do Sul. Hoje, é administrado pelo maestro Antonio Carlos Neves Campos, tão conhecido e bom quanto a escola. > O que acha dos violonistas de hoje? Acho que o violão está muito estereotipado. O violonista não deixa seu livre-arbítrio agir, fica tudo igualzinho... Hoje, eles não têm a essência que os violonistas antigos tinham. Há muita preocupação com o lado técnico, em copiar os outros. A escola de hoje é, na verdade, como já se tocava antes de Tarrega, com a mão totalmente reta. Então, surgiu Tarrega e mostrou o posicionamento correto do violão, o uso do banquinho... Fiz uma pesquisa e percebi que todos tocam como se tocava antes de Tarrega. > Acha que falta criatividade? Existem muitos compositores que escrevem para violão. Mas nem tudo são obras-primas. Há muita concorrência e acho que a arte é um pouco diferente disso. Toco como quero tocar e com a sonoridade que quero, não deixo ninguém me influenciar. Acho que este é o erro: a massificação. A pessoa tem de fazer como sente, se não algo está errado. > Qual foi a peça mais difícil que já executou? Foi no Teatro Municipal de São Paulo, em 1962. Toquei Moto Perpétuo, de Niccolo Paganini. Foi o concerto mais importante que fiz até aquela época. Superlotou o teatro, muitas pessoas não puderam entrar. Estavam lá o Dilermando Reis e vários outros artistas de São Paulo. Na verdade, todos duvidavam que alguém pudesse tocá-lo. Estudei oito anos para tocar naquele dia.

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 23

23 28/12/2006 14:55:52


Entrevista

O maestro de

24 ViolaoPro 7.indd 24

• Dezembro / 2006

28/12/2006 14:56:24


Chico Buarque! Parceria do violonista e arranjador Luiz Cláudio Ramos com o compositor começou há 30 anos Se você é um admirador de Chico Buarque, certamente conhece o trabalho de Luiz Cláudio Ramos. Alguns clássicos do compositor, como Mulheres de Atenas, Brejo da Cruz e Paratodos foram arranjados por Ramos, que desde 1989 vem assinando a direção musical de discos e shows dessa grande figura da MPB Por Fábio Carrilho Fotos: Patrícia Cecatti

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 25

25 28/12/2006 14:56:33


Entrevista

P

oucos sabem, mas antes de se dedicar integralmente à música, Luiz Cláudio Ramos chegou a cursar faculdade de Medicina por um curto período de tempo. Médico frustrado, músico de mão cheia. Muito requisitado para shows e gravações no início dos anos 70 — trabalhou bastante como músico de estúdio na antiga gravadora Philips —, ele logo se deparou com a responsabilidade de escrever arranjos para gente do primeiro time da MPB, como Nara Leão, MPB-4 e o próprio Chico Bu-

arque. “Se tinha algum arranjo para fazer, eu fazia. Aprendi apanhando. Aprendi com muita prática”, diz Ramos, um autodidata convicto. Em 1976, ele registrou seu primeiro arranjo em um disco de Chico, o da música Mulheres de Atenas. Nos anos 80, Ramos trabalhou como arranjador para vários artistas até produzir o disco Chico Buarque, de 1989. A partir daí, assinou a direção musical de todos os discos do compositor, atingindo o ápice do seu trabalho com Carioca (Biscoito Fino), lançado em 2006. A Violão PRO esteve com Luiz Cláudio Ramos momentos antes de uma das apresentações de Chico em São Paulo. Na entrevista a seguir, o maestro falou da carreira, do trabalho com Chico Buarque e deu dicas interessantes sobre a sua maneira de pensar música.

Discografia Direção Musical / Chico Buarque Carioca – Biscoito Fino, 2006 Chico ao Vivo – BMG, 1999 As Cidades – BMG, 1998 Terra (disco que acompanha o livro de Sebastião Salgado) – Companhia das Letras, 1997 Uma Palavra – BMG/RCA, 1995 Paratodos – BMG, 1993 Chico Buarque – RCA, 1989 Arranjos Clássicos Mulheres de Atenas – Meus Caros Amigos, Polygram/Philips, 1976 Biscate – Paratodos, BMG, 1993 Paratodos – Paratodos, BMG, 1993 Assentamento – Terra, Companhia das Letras, 1997 Brejo da Cruz – Chico Buarque, Polygram/Philips, 1984 A Mais Bonita - Chico Buarque, RCA, 1989

26 ViolaoPro 7.indd 26

Meus Caros Amigos, que contém o primeiro arranjo de Luiz Cláudio Ramos para Chico, e Carioca, seu mais recente trabalho Outros Trabalhos Como Arranjador: Wilson das Neves, Ângela Maria, Fágner, MPB-4, Quarteto em Cy, Miúcha, Gal Costa, João do Vale e Nara Leão, entre outros Como Músico de Estúdio: Beth Carvalho, Francis Hime, Edu Lobo, Tom Jobim, Elza Maria, Antonio Adolfo, Carlos Lyra, Marisa Monte, Cauby Peixoto, Rita Lee, Nélson Gonçalves, Leila Pinheiro e Raul Seixas, entre outros

> Violão PRO: Como você começou a trabalhar com o Chico Buarque? Luiz Cláudio Ramos: A primeira gravação que fiz com o Chico foi em 1973, no disco Chico Canta, que tem as músicas da peça Calabar. A essa altura, eu já gravava bastante na Philips e me chamaram para essa gravação. A partir daí, comecei a tocar em outros discos dele. > Quando você começou a escrever arranjos para ele? Foi no show Chico e Bethânia, no Canecão, em 1975. Eu organizava a parte do Chico, porque o show era dos dois e havia duas estruturas musicais diferentes. Era encarregado de passar as harmonias para o maestro Gaya. O meu primeiro arranjo gravado com ele foi Mulheres de Atenas, do disco Meus Caros Amigos, de 1976. Já a produção dos discos, comecei em 1989, no disco Chico Buarque. Fiz a produção e a maioria dos arranjos. Do disco Para Todos em diante, fiz praticamente todos os arranjos. > Como é o processo de trabalho com Chico? Ele me entrega as composições em fita, cantando e tocando violão, e eu começo a dissecar a harmonia e a melodia. Ele indica os caminhos, então faço os detalhes de melodia com harmonia, trabalho e desenvolvo um pouco mais. Existe um tempo de maturação, que às vezes não é o que eu gostaria de ter, mas tenho de fazer dentro do possível. Neste último CD, Carioca, houve uma pré-gravação das músicas que foi para os DVDs do Chico dirigidos pelo Roberto Oliveira. À medida que o Chico ia compondo novas canções, íamos fazendo os DVDs. Deu tempo de amadurecer bem músicas como Renata Maria, Outros Sonhos e Ela Faz Cinema. Trabalhei bastante as músicas, mas aconteceu de outros arranjos que foram para os DVDs serem bem diferentes dos arranjos do CD. Em As Atrizes, a modulação é outra. Ele (Chico) me entregou a música numa sexta para gravarmos na segunda-feira e, por mais que passasse 24 horas por dia, não deu para desenvolver o arranjo da forma como eu desejava. Se você ouvir no DVD é uma coisa, no disco é outra. Acho que o disco amadureceu no tempo necessário.

• Dezembro / 2006

28/12/2006 14:56:55


“No final é tudo a mesma coisa. Para uma orquestra ou um conjunto pequeno, a base é mesma. Numa orquestra você tem mais trabalho, mas a racionalização do arranjo é igual”

> Você tem liberdade total nos arranjos? Nós conversamos sempre. Procuro entender e sentir a emoção que ele quer passar e qual o tipo de arranjo que ele quer.

> Você também é diretor musical do show. Como é dirigir um show do Chico? O clima entre nós é muito fraterno, tocamos juntos há anos. O Wilson das Neves (baterista) toca comigo desde que fiz minhas primeiras gravações. Considero 1969 meu primeiro ano como músico profissional, então já gravamos muito. E o Chico é uma pessoal adorável. > Quais são seus critérios para elaborar um arranjo? Escrevo direto, sem ritornelos. O ponto de partida é a harmonização da melodia, que não é uma coisa simples. Em músicas elaboradas, você perde algum tempo até entender a melodia e procurar a harmonia que se ajuste melhor a ela. A partir daí, escolhendo a harmonia e analisando a situação harmônica, você sabe que escala tem à disposição. Desenvolvi um método de trabalho baseado em quatro escalas — diatônica, alterada, tons inteiros e diminuta —, que é bem diferente da didática acadêmica. > Que importância você atribui ao violão no seu trabalho de arranjador? O violão é o instrumento para chegar à minha conclusão harmônica. Porém, o mais importante, neste caso, não é o instrumento em si, mas a análise harmônica que você se faz. No meu caso, desenvolvi isso através da intimidade com o violão. Mas quem tem intimidade com o piano, faz com o piano. > Fale um pouco mais do seu processo durante o arranjo. Primeiro toco no violão, escrevo a harmo-

Foto: Rodrigo Guimarães

> Você considera o CD Carioca seu trabalho mais maduro como arranjador? Considero. Porque a música é uma ciência também. Quanto mais você estuda, mais descobre que não tem fim.

O que Luiz usa Violão Mário Jorge Passos 1992: “É um grande luthier carioca, que já fez violões para o Raphael Rabello. É um violão mais equilibrado. Fui ficando mais exigente em relação aos violões com o tempo. No início, tinha um Di Giorgio modelo Tarrega”. Captação RMC: “Uso esta caixinha. Mas prefiro sempre o som do microfone”. Cordas Augustine Imperial: “Tenho pesquisado, mas essa é a de que mais gosto”. Unhas: “Deixo-as mais arredondadas”. Guitarra Gibson Howard Roberts Fusion: “Ela é de 1980 ou 1981. É uma guitarra entre o jazz e o pop/rock. É mais jazzística, nem tão maciça, nem tão acústica”. Cordas D’Addario ou Ernie Ball: “Uso sempre as 0.10”. Efeitos: “No CD Carioca usei pouco. Mas gosto de wha-wha, flanger, chorus, etc.”. Programa de edição de partituras: “Uso o Finale. Escrevo à mão e tenho uma pessoa que me ajuda bastante, mesmo depois de eu começar a mexer. Sou um pouco resistente a essas novidades, mas para fazer este último disco comprei um computador e fiz os arranjos nele. É uma maravilha”.

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 27

27 28/12/2006 14:57:03


Entrevista

Fábio Carrilho

“No arranjo elaborado, você tem de saber o que soa melhor dentro daquilo que criou. Não é o contrário, você pensar numa formação e depois escrever para ela”

Aprendendo com o maestro > Como é esse seu método das escalas para fazer os arranjos? Uso apenas as escalas diatônica, alterada, diminuta e de tons inteiros. A diatônica passa por sete funções harmônicas diferentes. Por exemplo, no tom de C, ela pode ter a função de C7M, Dm7, Em7 (com 9ª menor e 13ª menor), F7M (com 4ª aumentada), G7, Am7 (com 6ª menor) e de Bm7 (b5) (com 9ª menor e 13ª menor). Eu não tinha muita intimidade com esse acorde do terceiro grau, esse Em7 com 2ª menor e 6ª menor. Via que os violonistas de escola jazzística e da bossa nova, em geral, sempre tocavam os acordes menores com 9ª maior e esqueciam desse caso, do acorde menor com 9ª menor. Há uma gravação minha com o Tom Jobim que fiz uma 9ª maior numa hora em que era para tocar uma 9ª menor, porque não tinha essa consciência.

nia e começo as outras idéias. Depois vou para o piano, porque existem inversões que são impossíveis de fazer no violão. Pesquiso um pouco, através das escalas. Então vejo quais são os instrumentos que se adaptam

28 ViolaoPro 7.indd 28

Então, esse método que desenvolvi das quatro escalas me proporcionou a consciência (do ponto de vista da didática) de saber quais escalas tenho para escolher. > Foi você que o criou? Sim, desenvolvi para mim. Escrevo há muitos anos, mas no início fazia sem consciência. Ia para o piano e procurava as notas mais adequadas. Durante muito tempo fui diretor musical do Quarteto em Cy. Para fazer arranjo vocal, você precisa saber quais notas estão disponíveis. > Por exemplo, se tem um determinado trecho em G, você pensa este trecho em uma única escala? Você não pensa acorde por acorde? Se a música for G, Em, Am e D7, penso em uma escala de G. É uma escala só. Se você for para o C, provavelmente este G será o quinto grau de C.

ao que escrevi. Antigamente, o cantor passava a harmonia, a gente gravava a base e o produtor falava: “Ah! Põe dois trompetes, dois tenores e dois trombones”, era um chute! Em seguida, tínhamos de arrumar o

• Dezembro / 2006

28/12/2006 14:59:43


pessoal para tocar no dia seguinte. No arranjo elaborado, você tem de saber o que soa melhor dentro daquilo que criou. Não é o contrário, você pensar numa formação e depois escrever para ela. Muitas vezes acontece isso, mas o ideal é primeiro ter as idéias e depois ver como você irá realizá-las. > Você trabalhou com dois conjuntos vocais, o Quarteto em Cy e o MPB-4. Qual a diferença de trabalhar com grupos com essa formação? Acho que no final é tudo a mesma coisa, seja uma orquestra grande ou um pequeno conjunto, a base é mesma. Numa orquestra você tem mais trabalho, mas a racionalização do arranjo é igual. > O que você gosta de ouvir? As minhas referências são da música brasileira. Gosto também de jazz e música clássica, como Ravel, Chopin,

Villa-Lobos e Nazareth. Também gosto do Hermeto, Joe Pass, Hélio Delmiro e Guinga, entre outros. > Quando começou, você era mais guitarrista? Comecei profissionalmente em 1969. Nessa fase não se usava tanto baixo acústico, era mais o elétrico, mais fusion. Havia aqueles conjuntos de rock progressivo, mas sempre fui ligado ao jazz, à bossa nova e ao choro. > Você teve algum professor neste início? Aprendi mais sozinho. Tive algumas aulas com o Ian Guest, que me iniciou na teoria musical, mas sempre fui muito interessado e entrava nas coisas. Se tinha algum arranjo para fazer eu fazia, apanhava. Aprendi apanhando. Aprendi com muita prática. Na década de 70 houve um boom fonográfico, foi a época do milagre econômico. Atuei muito como músico de estúdio, tocava com

orquestra toda quinta-feira na Philips. Os arranjos eram para o dia seguinte. Um dos primeiros arranjos que fiz foi para o Fágner. Minha primeira gravação foi para um filme, fiz alguns curtas. Mas a primeira que eu considero foi com o Momento Quatro, com uma música do Sérgio Ricardo, acho que em 1967. Eu ainda era garoto, estava na faculdade de Medicina. > Para finalizar, você pensa em gravar um projeto solo? Estou com um CD engatilhado com músicas do Tom Jobim. Fiz uma transcrição para violão bastante próxima da concepção do Tom e do Claus Ogerman para orquestra. É um trabalho que venho desenvolvendo há muitos anos e que daqui a pouco consigo lançar. Com o Franklin da Flauta tenho um trabalho com músicas minhas e outras deles. Ainda não gravamos, mas temos tocado juntos há tempos.

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 29

29 28/12/2006 14:57:34


Foto: Fernando Fiúza

Festival

Fernando Araújo, Aliéksey Vianna e Juarez Moreira: organização do FIV em boas mãos

Pablo Marquez: um dos recitais mais esperados

Capital brasileira do violão g g , de Belo Horizonte traz uma programação de atrações de primeira e consolida-se como o principal do gênero no País Por Fábio Carrilho Fotos: Fernando Ladeira Peixoto

U

m festival que reunisse grandes nomes do violão clássico internacional, como os brasileiros Fábio Zanon e Aliéksey Vianna, os argentinos Pablo Marquez e Eduardo Isaac, e alguns pouco conhecidos por aqui, como o polonês Grzegorz Kraviec e o francês Judicaël Perroy, já teria uma programação de peso para ficar entre os maiores do Brasil.

30 ViolaoPro 7.indd 30

Agora, imagine se este mesmo festival trouxesse também feras do nosso violão brasileiro, como Paulo Bellinati, Zé Menezes e Juarez Moreira, além dos guitarristas Hélio Delmiro e Nélson Veras. Daí estaríamos falando, sem dúvida, do maior festival brasileiro de violão. Quem esteve na segunda edição do Festival Internacional de Violão (FIV) de Belo Horizonte, que aconteceu entre os dias 24 e 29 de outubro, pôde assistir tudo isso de perto e participar de oficinas e masterclasses ministra-

das pelos convidados. A direção ficou mais uma vez com os violonistas Aliéksey Vianna, Fernando Araújo e Juarez Moreira, que souberam organizar como ninguém este belo programa de atrações. O evento repetiu o sucesso de público da sua primeira edição de 2005, atraindo estudantes e admiradores do violão de todo o país, que lotaram os teatros Izabela Hendrix e da Fundação de Educação Artística. A Violão PRO esteve por lá, apoiando e também fazendo a cobertura do FIV.

• Dezembro / 2006

28/12/2006 14:59:59


Shows e Concertos A abertura do FlV aconteceu no dia 24, na Fundação de Educação Artística, com o lançamento do livro Violar: Aprendizagem e Ensino do Violão sob a Dependência Sensível das Condições Iniciais, de Teodomiro Goulart. As apresentações começaram na noite do dia 25, no Teatro Izabela Hendrix. O primeiro concerto foi do violonista Fernando Araújo e do Coro Madrigale, grupo mineiro dirigido pelo maestro Arnon Sávio. De Mario Castelnuovo-Tedesco, eles tocaram os sete movimentos do Romance Gitano, Op.152, para coro e violão, e foram muito apaudidos. A grande expectativa da primeira noite era a apresentação do lendário guitarrista Hélio Delmiro. Sumido da mídia nos últimos tempos, ele chegou ao palco sozinho e logo emendou de forma improvisada vários standards de jazz, como Cherokee e All the Things You Are, permeados por solos e reharmonizações. Depois tocou temas seus, como Marceneiro Paulo, Lagos e Alabastro. No final, acompanhado de contrabaixo e bateria, ele fechou a primeira noite com seu clássico Velho Arvoredo. A segunda noite foi no teatro da Fundação de Educação Artística. O violonista Fá-

Judicaël Perroy: apresentação irretocável bio Zanon abriu a noite com seu duo junto ao flautista Marcelo Barboza. O programa foi eclético, passando por Radamés Gnattali, Louis Moyse e pela belíssima Mountain Songs, de Robert Beaser, uma peça baseada em cantos folclóricos dos Apalaches americaJuarez Moreira: belos arranjos de violão solo e muito suingue

nos. A segunda atração da noite foi de outro duo, desta vez do maestro Zé Menezes com o sete-cordas Marcello Gonçalves. O repertório-base foi o do recente CD Zé Menezes - Regional de Choro, mas eles também tocaram um medley com músicas de Garoto, a inédita Homenagem a João Pernambuco e a impagável abertura do programa dos Trapalhões, as duas últimas de Menezes. Em um momento solo, Marcello Gonçalves tocou seu arranjo de Senhorinha, de Guinga. A terceira noite trouxe o violonista argentino Eduardo Isaac, que já se apresentou várias vezes no Brasil, e o jovem guitarrista baiano Nélson Veras, muito conhecido no meio jazzista europeu, mas que raramente toca por aqui. Isaac tocou as Cinco Piezas Españolas, de Federico Moreno-Torroba, e María de Buenos Aires, de Astor Piazzolla. O ponto alto do concerto foi a execução do The Köln Concert, peça escrita pelo violonista baseada nas improvisações jazzísticas do pianista Keith Jarret. A expectativa em torno do guitarrista Nélson Veras era grande. Morando desde os 14 anos na França, ele já tocou ao lado de Pat Metheny, participou dos principais festivais de jazz europeus e se apresentou pouco no Brasil – foi um dos finalistas do Prêmio Visa Instrumental em 1998. Acompanhado de contrabaixo e bateria, ele

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 31

31 29/12/2006 09:04:59


Festival

tocou standards, como Besame Mucho, Someday My Prince Will Come e Estate, e foi muito aplaudido. O quarto dia do FIV começou na tarde do dia 28, um sábado. Quem abriu a programação foi o francês Judicaël Perroy. O músico venceu o concurso internacional de solistas da Guitar Foundation of America em 1997 e, desde então, vem fazendo turnês por todo o mundo. Ele fez um concerto impecável, seguindo um programa mais tradicional, com peças de Bach e Fernando Sor. As outras duas apresentações aconteceram à noite no Teatro Izabela Hendrix. O violonista mineiro Aliéksey Vianna tocou acompanhado do Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo. O ponto alto foi a interpretação das 5 World Dances(5 Danças Mundiais), escritas pelo violonista Sérgio Assad. Cada um dos cinco movimentos da peça aborda a música de uma determinada região do planeta e tem títulos sugestivos como Middle-Eastern, Celtic, African, Balkan e Latin-American. O encerramento do penúltimo dia do FIV ficou com Juarez Moreira. Músico experiente e que já tocou com grandes nomes da MPB como Maria Bethânia, Milton Nascimento, Wágner Tiso e Toninho Horta, Moreira tocou composições suas como Samblues, Choro para Piazzolla e Homenagem a Radamés. O último dia do FIV começou na manhã

Fábio Carrilho

Hélio Delmiro: absoluto na guitarra

de domingo no Teatro da Fundação de Educação Artística, com o concerto do argentino Pablo Marquez, uma das atrações mais aguardadas. O programa do concerto deu uma idéia do amplo repertório dominado por

Uma das grandes sacadas do FIV foi misturar nomes conhecidos e pouco conhecidos do público brasileiro Marquez. Ele começou executando as Seis Fantasias & Ricercares, do renascentista Francesco Da Milano, e depois tocou a Sequenza XI, do compositor de vanguarda Luciano Berio. Depois voltou à música renascentis-

ta com Luys de Narváez, tocou De Falla e a dificílima Chacona, de Bach, executada com perfeição. Marquez voltou ao palco mais cinco vezes para o bis, neste que foi o grande concerto de violão do FIV. As apresentações do último dia foram retomadas à noite no Teatro Izabela Hendrix pelo jovem virtuose polonês Grzegorz Krawiec. Ele abriu com Variações do Carnaval de Veneza, de Fernando Sor, e depois tocou Homenagem a Manuel de Falla, do seu conterrâneo Marek Pasieczny. Ainda tocou peças de Mertz, Henze e Rodrigo. O duo formado pelos violonistas Paulo Bellinati e Daniel Murray fechou com chave de ouro o festival. Recentemente, Bellinati teve um problema chamado distonia focal, que tem impedido-o de realizar os movimentos de dedilhado da mão direita – ele tem se apresentado tocando violão com palheta ou então cavaquinho. Eles tocaram músicas e arranjos de Bellinati, como Carlos´s Dance, Pingue-Pongue e dois clássicos do violonista, Bom Partido e Jongo. No bis, fecharam com a quadrilha Pano de Louça.

Oficinas e Masterclasses

Fábio Carrilho

Marcello Gonçalves e Zé Menezes: dupla imbatível no choro

32 ViolaoPro 7.indd 32

A maioria dos convidados do FIV também ministrou oficinais e masterclasses. No geral, o clima foi de informalidade, com os músicos bem à vontade e solícitos às perguntas do público. Na masterclass de Fábio Zanon, por exemplo, ele escutou alguns estudantes tocarem e deu orientações sobre interpretação, ataque dos dedos da mão direita, uso de harmônicos e dicas interessantes de sonoridade. Na oficina de Hélio Delmiro, o músico contou histórias da sua carreira – algumas bem engraçadas –, falou

• Dezembro / 2006

29/12/2006 09:05:16


de como estuda violão, deu dicas de postura e comportamento para quem está começando e, obviamente, tocou para o público.

Balanço Final O FIV proporcionou aos seus participantes uma verdadeira ‘imersão violonística’, com uma programação de alto nível que ia das 10 horas da manhã às 10 da noite. O faro apurado da organização, que conhece violão como ninguém, contribuiu para o sucesso deste evento, gerando uma expectativa muito grande em relação ao festival do ano que vem. Vamos torcer para que em 2007 o FIV seja ainda melhor. Site: www.festivaldeviolao.com.br. Aliéksey Vianna e Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, Daniel Murray e Paulo Bellinati, e Nélson Veras (coluna da esquerda); Fábio Zanon e Eduardo Isaac (coluna do meio); Grzegorz Krawiec e Fernando Araújo (coluna da direita)

Destaques do Festival Internacional de Violão • Hélio Delmiro continua absoluto no que faz. O público teve o privilégio de ver tocar um dos maiores guitarristas do mundo.

• Fernando Araújo foi perfeito na sua apresentação com o Coro Madrigale e provou ser referência quando o assunto é violão erudito em Minas Gerais.

• O bis de Fábio Zanon e Marcelo Barboza foi inesquecível. Eles tocaram a Bachiana nº 5, de Villa-Lobos, e saíram emocionados do palco.

• Judicaël Perroy fez um concerto impecável. Seu som vigoroso, suas dinâmicas perfeitas e a grande facilidade com que executou passagens difíceis em peças de Bach e Sor conquistaram a platéia.

• Aos 84 anos, Zé Menezes mostrou muita disposição e bom humor no seu show. Sua palhetada no bandolim e no violão-tenor continua afiada. • Eduardo Isaac impressionou com The Köln Concert, peça sua baseada nas improvisações jazzísticas do pianista Keith Jarret. • Nelson Veras foi uma ótima surpresa do FIV. Com suas improvisações repletas de climas e métricas improváveis, ele deu uma aula de jazz moderno. • Aliéksey Vianna e o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo proporcionaram uma verdadeira viagem musical com as 5 World Dances, de Sérgio Assad. Além dos climas sugeridos pela peça, imagens foram exibidas em um telão no fundo do palco.

• Juarez Moreira mostrou muito suingue e originalidade nos seus arranjos de violão solo e improvisos belíssimos. É um patrimônio do violão mineiro. • Pablo Marquez teve de voltar ao palco cinco vezes para o bis, tocando peças de Sor, Piazzolla, Kampela e seu arranjo emocionante de Carta a Perdiguero, de Dino Saluzzi. Inesquecível! • Grzegorz Krawiec foi outra novidade do FIV. Ele incluiu em seu programa peças de compositores poloneses e foi tecnicamente perfeito. Saiu muito aplaudido. • Bellinati impressionou a platéia ao tocar com palheta seu violão de seresta Souza, de 1923, cheio de motivos cariocas desenhados em madrepérola e com cordas de aço.

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 33

33 28/12/2006 15:00:46


Capa Olhos abertos e ouvidos atentos ao som extraído por Egberto Gismonti das cordas de seu violão e das teclas do piano. A postura da platéia do multiinstrumentista é de reverência. Uma das figuras mais importantes da música brasileira, Gismonti abriu recentemente uma exceção na sua agenda e fez, no Conservatório de Tatuí, cidade localizada a 130 quilômetros de São Paulo, uma de suas raras apresentações em solo brasileiro. Neste ano foram somente três.

Por Deise Juliana de Oliveira Fotos: Kazuo Watanabe e divulgação

34 ViolaoPro 7.indd 34

Egberto Gismonti trata música como algo inatingível

C

ompositor, arranjador e produtor, Gismonti é autor de peças sinfônicas, sambas, frevos, canções e outras mais que não se prendem a nenhum tipo de categorização, nas quais o rigor formal convive harmonicamente com improvisos jazzísticos. São mais de 40 anos de carreira e quase 60 discos lançados no Brasil e no exterior. Ele é, sim, muito conhecido no Brasil. Porém, muito mais no exterior. Por conta disso, seus discos são lançados simultaneamente em 40 países

— algo invejável na música brasileira. Convidado da 6ª Mostra Brasil Instrumental, Gismonti encantou o público com o seu violão de dez cordas, um instrumento robusto e exótico, assim como o músico. Construído no Japão, o instrumento é sonoro por si só e nas mãos do músico desmancha-se em qualidade. Filho de pai libanês e mãe italiana, Gismonti fez o que poucos fariam pela música brasileira. Reinventou o conceito de tocar violão e, com seu jeito próprio, foi

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:01:10


reinventando sua música. Sua obra é grandiosa, tanto nos conceitos de qualidade como de quantidade. O solo estrangeiro é o palco principal de Gismonti. Ele aparece pouco no Brasil, local onde faz cerca de 10% das suas 60 apresentações anuais. Em Tatuí, superlotou o teatro Procópio Ferreira. Tanto no show quanto na oficina que ministrou, mostrou simpatia, revelou sua origem interiorana (ele nasceu em Carmo, cidade do interior do Rio de Janeiro e que dá nome ao seu selo) e protagonizou um bate-papo inspirador. Ao lado de dois violões e um piano, Gismonti disse que a vontade de ser músico veio de seus pais, de um jeito ‘involuntário’. Entre os detalhes que contou de

• Em 1968, Egberto participou do III Festival Internacional da Canção com a composição O Sonho, interpretada pelo grupo Os Três Moraes, que tinha um arranjo escrito por ele para uma orquestra de cem integrantes. • Em 1969, fez seu primeiro show internacional no Festival de San Remo (Itália). • Seu álbum Dança das Cabeças, com o percussionista Naná Vasconcelos, foi nomeado em 1976 ‘Álbum do Ano’ pela revista Stereo Review e premiado com o Grober Deutscher Schallplattenpreis. • Seu disco Solo, de 1979, em que toca violão de oito cordas, piano e sinos, vendeu mais de cem mil cópias nos Estados Unidos. • Egberto escreveu para várias séries de televisão, como Pantanal (Manchete, 1986) e O Pagador de Promessas (Globo, 1988). • Escreveu trilhas sonoras para vários filmes, como Pindorama, de Arnaldo Jabor, Pra Frente Brasil, de Roberto Farias, e Kuarup, de Ruy Guerra.

sua carreira — como sua experiência na França como compositor de can-cans —, Gismonti revelou sua visão mística sobre a música. “Doamos a vida a algo que não existe. Música não é concreto, não dá para se cheirar. Se a música nos pica todos os dias, temos de reverenciá-la todos os dias. Sou do time daqueles que colocam a música antes de qualquer coisa. Ela passou a ser minha, algo que reverencio todos os dias para tentar estreitar essa relação. É uma maneira de conhecer a música”, afirma. Com seu jeito único de tocar, Gismonti foi categórico: “Não existe receita para tornar-se um grande músico. Não existe um método que sirva a todos. Existe a individualidade. Quando toco, fecho os olhos para enxergar melhor. Tocar de olhos fechados é uma reverência, pois eu, enquanto pessoa, nunca estarei à frente da música”. No caso de Gismonti, sua individualidade é expressa por meio de dois instrumentos que não são sequer parentes — o violão e o piano —, dando-lhe uma singularidade muito grande. Ao longo de sua carreira, ele morou na França (entre 1968 e 1971) e também entre os índios Yawaiapiti do Alto Xingu. Sua comunicação com a tribo se dava principalmente pela música. Essa experiência foi determinante na elaboração do trabalho Sol do Meio-Dia. Além disso, gravou 15 discos entre 1977 e 1993 para o selo norueguês ECM, dos quais dez foram lançados no Brasil pela BMG em 1995. Através de seu selo Carmo, recomprou seu repertório inicial e é um dos raros compositores brasileiros donos de seu próprio acervo. Sua obra vem sendo gravada maciçamente por outros instrumentistas, e algumas delas se tornaram clássicos, como Palhaço e Loro. Praticante da filosofia de que a ‘música é tudo’, Gismonti, do alto dos seus 40 anos de carreira, revela uma postura humilde em relação a ela. “Eu não toco em casa, eu estudo. Toco umas 60 vezes por ano. Mas, em casa, só treino o que não sei.” E revelou-se um profissional absolutamente encantador: “A música que faço é muito melhor que eu como pessoa”. Confira a seguir o papo que a Violão PRO teve com Egberto Gismonti em Tatuí.

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 35

35 28/12/2006 15:01:19


Capa > Violão PRO: Qual foi a sua formação musical? Egberto Gismonti: Minha formação acadêmica foi no Conservatório Brasileiro de Música, onde fiz cursos de piano e de teoria, harmonia e composição. Depois fiz um curso de especialização em piano, após ter completado os nove primeiros anos. Em Paris, estudei análise musical com a Nadia Boulanger e composição com Jean Barraqué. Mas minha formação mesmo foi pelo gosto pela música, pelas bandas, dobrados e valsas, pelo convívio com a família Gismonti, com meu avô Antonio e meu tio Edgard. > Você costuma dizer que se tornou músico involuntariamente. Foi involuntário na medida em que não precisei considerar qualquer outra possibilidade.

• Egberto Gismonti – Polygram/ Philips, 1969 • Sonho 70 – Universal, 1970 • Janela de Ouro – (França), 1970 • Computador – (França), 1970 • Orfeu Novo – Corona Music Jazz (Alemanha), 1971 • Água e Vinho – EMI-Odeon, 1972 • Egberto Gismonti - Odeon, 1973 • Academia de Danças – EMI-Odeon, 1974 • Corações Futuristas - EMI-Odeon, 1975 • Dança das Cabeças (com Naná Vasconcelos) - EMI-Odeon, 1976

36 ViolaoPro 7.indd 36

> Existe alguma receita para desenvolver uma técnica singular? Acredito que existe a necessidade de se desenvolver uma técnica singular para a expressão do que você pretende escrever, compor e tocar. A partir daí, não existe mágica, existe estudo diário. No meu caso, pelo fato de tocar dois ins“Considero a música algo superior aos homens. A certeza que tenho é de ter doado a minha vida à música”

trumentos que são antagonicamente diferentes, fui obrigado a desenvolver uma técnica singular para que a minha expressão, em ambos os instrumentos, fosse significativa e representativa. > De que é feito um compositor? Existe ‘inspiração’?

• Carmo - EMI, 1977 • Sol do Meio-Dia - EMI-Odeon, 1978 • Nó Caipira - EMI-Odeon, 1978 • Solo - EMI-Odeon, 1979 • Egberto Gismonti & Naná Vasconcelos & Walter Smetak – Brasil, 1979 • Antologia Poética de João Cabral de Melo Neto - 1979 • Antologia Poética de Ferreira Gullar - 1979 • Antologia Poética de Jorge Amado - 1980 • A Viagem do Vaporzinho Tererê - 1980 • O País das Águas Luminosas - 1980 • Mágico. Egberto Gismonti, Charlie Haden e Jan Garbarek - ECM Records/WEA, 1980 • Circense - EMI-Odeon, 1980 • Sanfona - EMI-Odeon, 1980 • Folk Songs. Egberto Gismonti, Charlie Haden e Jan Garbarek – ECM/WEA, 1981 • Em Família - EMI-Odeon, 1981 • O Dirigível Tererê - 1981 • Fantasia - EMI-Odeon, 1982 • Guitar From – ECM, 1982 • Sonhos de Castro Alves - 1982 • Cidade Coração - EMI-Odeon, 1983 • Egberto Gismonti & Hermeto Paschoal - 1983 • Works – Alemanha, 1984 • Egberto Gismonti - EMI-Odeon, 1984 • Duas Vozes: Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos - ECM Records, 1984

Não gosto de fixar parâmetros para questões que podem gerar respostas que dariam um livro de 300 páginas. Como compositor, necessito da inspiração. Preciso de uma idéia inicial que me estimule, me empolgue e me domine. Normalmente, minhas idéias iniciais estão relacionadas à literatura. O desenvolvimento de cada idéia é feito caso a caso. Uma idéia para violão ou piano pode ser desenvolvida no violão, no piano ou no papel. Já uma idéia orquestral deve ser anotada enquanto vai surgindo e mais tarde a orquestração é detalhada. > Você costuma citar a música como um ser superior ao músico. Como é essa sua visão da música e da musicalidade? Na realidade, não considero a música um ser superior, mas algo superior aos homens. A certeza que tenho é de ter doado a minha vida

• Trem Caipira - EMI-Odeon, 1985 • Alma - EMI-Odeon, 1986 • Feixe de Luz - EMI-Odeon, 1988 • Pagador de Promessas - 1988 • Dança dos Escravos - ECM Records/ EMI-Odeon, 1989 • Kuarup - 1989 • Duo Gismonti/Vasconcelos – Alemanha, 1989 • Infância - ECM Records, 1990 • Amazônia – EMI-Odeon, 1991 • El Viaje – França, 1992 • Casa das Andorinhas – EMI-Odeon, 1992 • Música de Sobrevivência - ECM Records, 1993 • Ao Vivo no Festival do Freiburg Proscenium – Alemanha, 1993 • Ao Vivo no Tom Brasil - 1994 • Zigzag - ECM Records, 1996 • A Revolta - Egberto Gismonti Trio e Orquestra de Câmara de Curitiba - 1996 • Meeting Point - Egberto Gismonti and Vilnius Symphonic Orchestra – Alemanha, 1997 • Egberto Gismonti & Charlie Haden at Montreal Festival - 2001 • De A a Z: Egberto Gismonti – EMI, 2002 • Circense - EMI, 2002 • Antologia - EMI, 2003 • Série Retratos: Egberto Gismonti – EMI, 2003

• Dezembro / 2006

29/12/2006 00:10:28


à música. Essa doação é fundamental para que a música se transforme em algo superior que nos guie, nos oriente e nos conduza. A crença de que a música me quer bem é o resultado de 30 anos de reverência a ela. > Muitos músicos batalham para gravar seus trabalhos. Qual o melhor caminho a ser trilhado? As pessoas são singulares, não existe uma regra para todos. O único ponto necessário para se realizar bem um trabalho ou qualquer coisa na vida é fazendo o melhor que se pode. Você deve ter a consciência de que nem toda idéia é boa e saber separar as idéias mais representativas das demais. > Como foi sua história com o violão? Comecei ouvindo Dilermando Reis e Baden Powell. Daí em diante, morando numa cidade onde não havia professor de violão, transcrevia estudos de piano para violão e copiava discos inteiros para estudar, como o Mundo Musical de Baden Powell.

> Para tocar violão, você mantém algum cuidado com as unhas? Existem duas coisas que faço para que as unhas não quebrem e eu possa me expressar sem problemas. Passei muitos anos modificando a posição clássica da mão direita no piano (hoje os dedos da mão direita são mais esticados do que os da esquerda) e uso talco para ressecar as unhas da mão direita. > Você utiliza um violão bastante peculiar em suas apresentações. Quem o fabricou? Experimento violões há muitos anos. Não possuo um instrumento, mas sete instrumentos diferentes. O que uso para apresentações é um violão de dez cordas fabricado pelo luthier japonês Mitsuru Tamura. A captação para tocar com orquestra ou formação menor é feita por dois minimicrofones instalados dentro da caixa do violão. Para tocar solo, em duetos ou outras formações pequenas, uso um microfone externo.

Egberto Gismonti dedilhando seu violão de 10 cordas em meados dos anos 80

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 37

37 29/12/2006 00:10:58


Testes

RMC Acoustic Gold Em busca da sonoridade perfeita

Por Renato Frasnelli

T

er um violão feito à mão por um luthier, constituído por madeiras nobres e escolhidas a dedo, com agudos brilhantes e graves intensos, capaz de transitar entre o som suave e o metálico, e com o volume das cordas equilibrado é um sonho para a maioria dos violonistas. Mas como captar esse som exuberante? Um bom microfone é uma excelente saída para estúdio, mas que nem sempre funciona bem para palco. Captar o som acústico de um violão com fidelidade é uma tarefa

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

Ficha Tecnica Legenda dos Testes

Excepcional Excelente Bom Médio Fraco

Modelo: Acoustic Gold com pré-amplificador Poly Driver II Fabricante: RMC Pickups Pró: Tecnologia MIDI integrada e fidelidade do som acústico Contras: Alto custo e difícil instalação Preço sugerido: Acoustic Gold com seis sensores - R$ 250,00; sensor adicional R$ 42,00 cada; Poly Driver II - R$ 350,00 Garantia: 3 meses Timbre ............................. Qualidade do som ............ Definição ......................... Desempenho ................... Custo-benefício ............... Quer falar com o autor da matéria? renatofrasnelli@terra.com.br Tire sua dúvida com o fornecedor: Susfour - www.susfour.com.br e-mail: renata@susfour.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

38 ViolaoPro 7.indd 38

complicada — poucos são os captadores que se aproximam desse feito. A RMC Pickups está neste seleto grupo, e vai além: é a única no mercado que transforma o som das cordas de náilon em sinal MIDI, o que possibilita ligar seu instrumento a um sintetizador e produzir sons de violino, xilofone, percussão, voz humana, metais e mais uma infinidade de timbres que podem ser usados simultaneamente com o som original do violão. Outra tecnologia interessante é o seu feedback eliminator circuit , que ajuda a diminuir o problema das microfonias. O modelo para violão se chama Acoustic Gold e pode ser instalado tanto em instrumentos com cordas de aço quanto de náilon. Testamos esse captador em um violão de sete cordas de náilon feito pelo luthier Homero Nardi. O som teve uma projeção equilibrada, fiel e pouco suscetível às microfonias. O pré-amplificador testado foi externo, o Poly Drive II. Ele possui um equalizador de três bandas (grave, médio e agudo) e com volumes e saídas individuais para o sinal MIDI e para o som do instrumento, o que possibilita mixar os dois e ligar cada sinal em um canal diferente da mesa, equalizando-os separadamente. A resposta de equalização foi ótima, apresentando grande amplitude de timbres.

No entanto, o pré-amplificador externo dificulta o acesso aos controles, pois essa pequena caixa, em geral, fica no chão e para mexer nos volumes ou na equalização é necessário certo contorcionismo do instrumentista com o violão no colo ou preso à correia. Outro ponto negativo é o acesso complicado à bateria. É preciso desparafusar quatro parafusos para retirar a tampa do fundo do Poly Drive II e trocar a bateria de 9 volts. O Acoustic Gold ligado ao Poly Drive II é uma configuração de alta qualidade, com uma resposta muito satisfatória tanto para a captação do som acústico quanto para o som MIDI. Além disso, preserva as características físicas do instrumento, não havendo necessidade de machucar o violão embutindo o pré-amplificador na madeira. Prova disso é que músicos com ouvidos apurados como Paulo Bellinati, Ulisses Rocha, Lula Galvão, Edu Lobo e Romero Lubambo usam esses equipamentos. O captador testado aqui é de última geração, mas toda essa tecnologia tem seu preço. Ao mesmo tempo em que é um dos melhores do mercado, também é um dos mais caros, um equipamento indicado para músicos exigentes e que procuram qualidade, mas que também estejam dispostos a pagar por isso.

• Dezembro / 2006

29/12/2006 01:08:37


Giannini GWNE18

O primeiro acorde a gente nunca esquece

“O

primeiro sutiã a gente nunca esquece.” Este foi um jargão clássico criado pela W/Brasil para a Valisère nos anos 80. Analogamente, como sugere a campanha de sucesso, o primeiro instrumento é inesquecível para qualquer músico. Em meio a todo o folclore que cerca essa história, encontramos novamente a marca Giannini como um clássico que, certamente, marcou a vida dos animadores de churrasco de plantão até instrumentistas de renome com seus modelos Estudo. O GWNE18 pode se gabar por ser um dos poucos violões do mercado direcionados a estudantes e amadores com tampo maciço, possuindo uma sonoridade aberta, com bastante brilho, volume e equilíbrio, que daria inveja a instrumentos de categorias superiores. Isso pode explicar o preço mais alto em comparação a modelos da mesma categoria. A sua configuração é generosa: o tampo é confeccionado em pinho sitka; a faixa, o fundo e a

escala em pau-ferro, e o braço em cedro. Possui uma tocabilidade excelente. É bastante macio, característica essencial para um músico que está começando. A ação das cordas é alta (o que é bastante comum em modelos Giannini), mas você pode baixá-la para facilitar ainda mais a tocabilidade. O GWNE18 analisado veio muito bem regulado de fábrica e com tarraxas que seguram a afinação. O ponto fraco do instrumento está na questão estética, caso o comprador seja muito criterioso. O modelo é bastante simples e rústico, algo comum para a sua categoria. A colagem das peças foi bem-feita, mas o corte e o encaixe do braço com a cabeça na altura do segundo traste (sistema chamado de scarf-joint) pede para ser notado. É importante destacar que esse tipo de encaixe é comum e visa economizar material. Em geral, outras empresas fazem a junção na própria cabeça, o que deixa a junção mais sutil, quase imperceptível. Se de um

Por Miguel De Laet lado perde-se em estética, por outro ganhase em confiabilidade. Talvez a escolha do ponto de junção, na altura dos primeiros trastes, seja uma forma de se precaver contra possíveis ‘fraturas’ - em instrumentos dessa categoria essa junção geralmente é muito frágil e, em muitos casos, eles acabam ‘perdendo a cabeça’, literalmente! Em resumo, o GWNE18 vale cada centavo investido por todas as suas qualidades, que privilegiam a sonoridade e a confiabilidade do instrumento. Nenhum churrasco de sua família será o mesmo! Afinal, “o primeiro Giannini a gente nunca esquece”...

Ficha Tecnica Legenda dos Testes

Excepcional Excelente Bom Médio Fraco

Modelo: GWNE18 Fabricante: Giannini Indicação: Iniciantes, estudantes de música e/ou violonistas amadores Prós: Boa tocabilidade e excelente sonoridade Contra: Detalhes no acabamento Preço sugerido: R$ 440,00

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

Desempenho ................... Definição do som ............. Volume ............................ Acabamento ..................... Quer falar com o autor da matéria? migueldelaet@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Giannini - www.giannini.com.br e-mail: marketing@giannini.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 39

39 28/12/2006 15:01:53


Testes

Violão Alonso Woodshell O que o Oriente tem de bom

É

indiscutível o fascínio que a cultura chinesa exerce sobre nós desde tempos remotos. O papel, a bússola, a pólvora — enfim, foram muitas as coisas desenvolvidas por lá que ganharam espaço no nosso cotidiano e mudaram os rumos da história. Sofrendo pequenas alterações, elas foram recebendo uma cara ocidental, como o macarrão, que hoje nos faz lembrar a Itália e não o povo de olho puxado. Da mesma forma, a China vai descobrindo o mundo ocidental e dando seu toque aos produtos que fabrica. O instrumento testado é um bom exemplo disso. O violão Alonso Woodshell,

Ficha Tecnica Legenda dos Testes

Excepcional Excelente Bom Médio Fraco

Modelo: Alonso Woodshell Importador: Arwel Indicado: músicos amadores e profissionais que se importam com apelo visual e sonoridade Prós: ótimo visual, excelente sonoridade e tocabilidade Contra: as tarraxas não parecem muito confiáveis Definição ......................... Desempenho ................... Volume ............................ Acabamento .....................

à primeira vista, é um violão folk no melhor estilo norte-americano - possui ornamentos florais incrustrados na escala, seguindo a fórmula de alguns modelos Epiphone e Gibson, e filetes laterais - batizado com nome espanhol. O tampo é confeccionado em pinho e a escala em jacarandá. A parte de trás da caixa de ressonância dá um toque exótico ao instrumento, por ser arredondada (não tanto como o alaúde ou o rewapu, instrumento chinês) e construída com ripas de madeira de duas espécies: jacarandá, na região central, e sapele (sapelli ou aboudikro), madeira africana substituta do mogno, usada em algumas guitarras da Ibanez e da Taylor. O conjunto todo possui um visual muito atraente e sua tocabilidade é excelente. O braço é muito macio, fazendo com que mesmo o violonista que não está acostumado a tocar em violão de aço se sinta confortável. Mudanças tão significativas em sua construção deram ao modelo um som único que consegue conquistar o ouvinte. Seu timbre é aberto e carregado de graves e médios sem perder o brilho. Tem ótimo ataque e bom sustain. O pecado está nas tarraxas blindadas, que, de vez em quando, deixam escapar a afinação. Por outro lado,

Por Miguel De Laet seu circuito ativo de quatro bandas é excepcional para a sua categoria. A captação é muito bem equilibrada, da primeira à sexta corda, com ótima definição. Às vezes o instrumento soa com muito médio. Mas vale a pena pesquisar a sua equalização, seja ligando em linha ou no amplificador. O mais interessante é a baixa presença de microfonia sem necessitar de recursos como uma chave de inversão de fase (ou phase). Pelo conjunto associado ao preço, este violão destina-se a músicos amadores e profissionais que necessitam de um instrumento com ótima sonoridade e que querem ter em mãos um produto diferente sem gastar muito. Vale a pena trocar o jogo de tarraxas por um melhor, caso você venha a utilizálo durante horas com bandas de baile ou em apresentações profissionais, por exemplo. Também é interessante adquirir um bom bag para transportar o instrumento. Caso opte por um estojo, procure empresas que fabricam sob encomenda, pois as métricas (especialmente de profundidade) do violão são atípicas e, caso não sejam levadas em consideração, pode ocorrer empenamento do instrumento que fica guardado no estojo por muito tempo.

Quer falar com o autor da matéria? migueldelaet@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Arwel - www.arwel.com.br e-mail: arwel@sili.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

40 ViolaoPro 7.indd 40

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:02:16


Série AD - Boss

Linha de processadores para violão de cair o queixo

A

série AD da Boss é uma linha de processadores para violões eletroacústicos feitos para tornar o som dos captadores o mais próximo do real possível, enriquecendo com harmônicos o som captado ou simulando o som de microfones. É um verdadeiro objeto de desejo para nós, violonistas, que, para chegar a um resultado sonoro satisfatório apenas com o sinal do captador, temos de suar muito a camisa.

AD-3

É o processador mais simples da linha, porém com efeitos muito úteis e com ótimo resultado sonoro final. Possui um eficiente sistema anti-feedback manual, e automático acionado com pedal. O outro pedal aciona o efeito chorus 2x2 e também possui reverb. O controle bottom simula o som da caixa acústica, enriquecendo-o com harmônicos graves, e o controle top ameniza o ataque das notas, alterando os harmônicos agudos. No manual estão algumas sugestões de combinação dos controladores para certos estilos musicais. Conta ainda com uma saída própria para amplificadores de guitarra (mono) e uma estéreo para a mesa de som.

AD-5

O grande diferencial deste processador é o seu simulador de microfone, que através do controle mic distance, produz a sensação da distância que o violão está do microfone. O controle body simula as características de ressonância de dentro do corpo do instrumento. Com esses efeitos, torna-se desnecessário usar um microfone em conjunto com o captador. Possui também um equalizador de quatro bandas, efeito chorus 2x2, reverb e anti-feedback com controle de

freqüência e de intensidade. Contém duas entradas, sendo uma para captador tipo piezo e uma para captador magnético com inversão de fase e volumes independentes, saída estéreo XLR balanceada e entrada ¼” estéreo para inserção de efeitos via cabo em Y.

AD-8

Por Cristiano Petagna

Ficha Tecnica Legenda dos Testes

Excepcional Excelente Bom Médio Fraco

Fabricante: Boss

É o top de linha da série. Por meio da tecnologia COSM (Composite Object Sound Modeling), simula seis tipos de conjuntos de violões microfonados, demonstrados na tabela abaixo:

Modelo: AD-3 Pró: Anti-feedback automático e manual Contra: Não tem saída XLR

Violão

Microfone

1

Martin D-28

Neumann U87

Definição do som ............. Qualidade dos efeitos ....... Manuseio ......................... Versatilidade ....................

2

Martin 000-28

Neumann U67

Modelo: AD-5

Posição

3

Gibson J-45

Neumann U67

Pró: Entrada para captador magnético

4

Gibson B-25

Neumann U87

Contra: Nenhum

5

Guild D-40

AKG C12

6

Jose Ramirez

AKG C12

Além desse recurso, o AD-8 possui os botões body e string enhance, que simulam respectivamente a posição do microfone mais próxima ao corpo do violão e mais próxima ao braço. Possui também antifeedback, com possibilidade para quatro memórias; equalizador de quatro bandas, com freqüência e ganho de médios; três tipos de reverb: ambience, room e hall; e afinador eletrônico acionado com pedal. Com uma ferramenta de trabalho desse nível nas mãos, você pode fazer um som em qualquer ambiente, seja solo ou com uma banda, com apenas uma preocupação: tocar bem.

Definição do som ............. Qualidade dos efeitos ....... Manuseio ......................... Versatilidade .................... Modelo: AD-8 Pró: Ampla variedade de timbres Contra: Nenhum Definição do som ............. Qualidade dos efeitos ....... Manuseio ......................... Versatilidade .................... Quer falar com o autor da matéria? cpetagna@gmail.com Tire sua dúvida com o fornecedor: Roland Brasil - www.roland.com.br e-mail: samanta@roland.com.br As notas dos testes são compatíveis com instrumentos da mesma categoria e faixa de preço * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 41

41 28/12/2006 15:02:26


Testes

Na Estrada

Para fazer a seção Na Estrada, Violão PRO optou por publicar análises de músicos que vivem e trabalham diariamente com o instrumento aqui mostrado. Envie para nós a análise de seu violão. Se ela for publicada, você ganha uma assinatura trimestral da Violão PRO. Os critérios para a publicação serão qualidade das informações, clareza da análise e senso crítico. Envie sua análise para ajuda@musicaemercado.com.br, aos cuidados de Editorial Violão PRO, mencionando Teste Na Estrada.

VIOLÃO FOX V2 STANDARD CLASS NT ATIVO

F

ui a uma loja com a intenção de comprar um violão com a marca e o modelo já decididos. Enquanto testava o instrumento, vi pendurado numa estante esse violão Fox modelo V2 Standard, que me encantou logo de cara, primeiro pelo seu visual e depois pelo seu som. É um violão nacional, feito por luthier, de corpo sólido (maciço) e com cordas de náilon. Sua captação ativa Fishman System 1, com controles de volume, graves e agudos, garante um som encorpado e um timbre muito bonito, próximo ao de um violão acústico. O instrumento, de cor natural, é fabricado com madeiras brasileiras, com corpo em marupá, tampo em abeto e escala e ponte em braúna. Seu acabamento é de primeira, com tarraxas em cor de madrepérola e engrenagens em dourado, escala escura e fundo preto, que contrasta bem com a madeira natural. É um violão cutaway — o que facilita a tocabilidade até a 22ª casa — e a ação das suas cordas é bem baixa. Ele possui um bom sustain e seu som é realmente aveludado e poderoso! Esse violão funciona bem tanto para pequenos espaços, teatros, quanto para lugares grandes e mesmo ao ar livre. A relação custo-benefício é perfeita — basta dizer que é duas ou três vezes mais barato Marca: Fox Modelo: V2 Standard Class NT Ativo Músico: Adolar Marin • São Bernardo do Campo / SP www.adolarmarin.com • adolarmarin@uol.com.br Informações: www.foxguitars.com.br

SETE-CORDAS ROGÉRIO SANTOS

O

lá, amigos da Violão PRO. Sou português e moro em Lisboa, minha cidade natal. Minha formação é de músico de jazz — também toco saxofone tenor — e me iniciei na música brasileira por Tom Jobim. O Mário Neto (Netinho), músico virtuoso de Santos, foi quem me apresentou ao repertório de choro e acabei montando uma roda por aqui! Logo senti a necessidade de adquirir um instrumento com essas características. Este violão foi uma indicação do grande Jorge Simas e do meu amigo Tiago Prata. O Rogério Santos foi aluno do Sérgio Abreu e faz violões para muita gente aí no Rio, especialmente para a turma ligada ao choro camerístico. Este instrumento tem a seguinte composição: tampo em pinho europeu, braço em mogno, espelho em ébano e fundo e laterais em jacarandá. Quanto ao som, seu forte são os registros graves. Para tocar peças solo, ele é bem equilibrado. Em rodas de choro, as frases de baixaria se destacam sem problema e com identidade forte. O mesmo já não acontece com os motivos harmônicos relacionados com as

42 ViolaoPro 7.indd 42

que seus similares importados. A afinação é boa e aconselho a usar cordas de tensão pesadas ou mais leves, porque as extrapesadas acabam influenciando a ação, prejudicando a tocabilidade e a afinação. É um instrumento para plugar e sair tocando. Aconselho a todos que usam modelos flat fazer uma experiência com este Fox. Eu aprovei!

baixarias. Penso também que os registros agudos do instrumento melhorarão com o tempo. Aqui em Portugal, instalei um sistema LR Baggs, com um microfone dentro do violão e um piezo na pestana para tocar em shows. Ainda não o usei para gravações em estúdio, mas os shows do meu grupo são sempre gravados em MD ou vídeo e tenho gostado do seu som. Quem tiver orkut pode acessar a comunidade do Clube de Choro de Lisboa (http://www.orkut.com/ Community.aspx? cmm=16175407) e a gente troca umas idéias por lá. Abraço! Marca: Luthier Rogério Santos (Rio de Janeiro / RJ) Modelo: Sete-cordas Músico: Nuno Gamboa • Lisboa / Portugal gamboa.nuno@gmail.com Informações: www.violoesrogeriosantos.com.br

• Dezembro / 2006

30/12/2006 13:01:53


Lancamentos Teodomiro Goulart Violar: Aprendizagem e Ensino do Violão sob a Dependência Sensível das Condições Inicia Prefeitura de BH Não é no os métodos t de violão nunc como objetivo cipal estimul o desenvolvimento da criatividade e da liberdad musical dos e mas sim desenv nica no instrum bendo isso, o v fessor mineiro lart começou a desenvolver, há 20 anos, um sistema próprio que suprisse essas necessidades e também apresentasse técnicas mais próximas do repertório violonístico do século XX, amplamente enriquecido por novas linguagens. Esse trabalho de Goulart deu origem ao método Violar, r lançado recentemente em parceria com a prefeitura de Belo Horizonte, em que propõe uma abordagem inovadora no ensino do instrumento por meio de cartões e de um tabuleiro, como se

fosse um jogo de cartas. Os cartões trazem ilustrações de notas, armaduras de claves, figuras rítmicas, digitações de mão direita, ataques dos dedos, dinâmicas, efeitos e posturas corporais e devem ser combinados no tabuleiro por um professor de modo a gerar situações musicais sempre diferentes para o estudante. Violar é uma alternativa muito interessante para se trabalhar conjuntamente com os métodos tradicionais de violão. Para saber mais sobre este método, visite o site: www. cordassoltas.com.br. Por Fábio Carrilho

Gaetano Galifi Amazonas - Poema Violonístico GF A história do violonista Gaetano Galifi é, no mínimo, curiosa. Nascido na Itália, ele morou na Argentina até 1968, onde fez sucesso como guitarrista do grupo Los Gatos, febre no cenário pop portenho nos anos 60. Com o grupo, Galifi se apresentou

no III Festival In t e r n a c i o n a l da Canção, no Rio de Janeiro, e por aqui ficou. Estudou violão clássico no Conservatório Brasileiro de Música (CBM), depois morou nos Estados Unidos, voltou ao Brasil trabalhando como músico de estúdio, abandonou a guitarra elétrica em 1976 para se dedicar exclusivamente ao violão clássico, escreveu métodos musicais e tocou na Camerata do CBM, onde atualmente é professor. Toda essa bagagem musical permeia as nove faixas de seu primeiro CD autoral, Amazonas – Poema Violonístico (GF). Misturando referências da música brasileira, espanhola, do jazz e do rock, Galifi criou uma identidade sonora muito forte, ressaltada pelo seu toque vigoroso ao violão. As faixas possuem nomes inusitados, como O Escorpião e O Camponês e seus Duendes Dançarinos, mas o grande destaque fica para a peça A Caçadora de Esmeraldas, de quatro movimentos, cheia de elementos percussivos e dissonâncias surpreendentes. Vale a audição! Site: www. gugafittipaldi.com.br. Por Fábio Carrilho

autorais desse belo CD novos horizontes, não só para o violão brasileiro, mas também para o violão universal! Site: www.zezoribeiro.com.br. Por Vinícius Gomes

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 43

43 28/12/2006 15:02:48


Luthier

Experiência é tudo! Vindo de uma família musical o pai é professor de música e a mãe é cantora amadora —, o paulistano Samuel Carvalho, 39, não poderia seguir uma carreira que não estivesse relacionada à arte dos sons. Violonista de formação, algo cada vez mais raro entre os luthiers brasileiros, Samuel divide os trabalhos no seu ateliê com o irmão Emanuel e, nos últimos três anos, eles conseguiram um salto incrível na qualidade de seus instrumentos. Virtuoses como Paulo Martelli, Paulo Porto Alegre, João Luiz, Douglas Lora e Gustavo Costa têm usado seus violões em concertos e gravações, prova da excelência do trabalho realizado pela dupla. 44 ViolaoPro 7.indd 44

O

desejo de fabricar seus próprios instrumentos surgiu há 15 anos, época em que Samuel cursava o bacharelado de Violão na Faculdade Mozarteum, na capital paulista. “Ao me deparar com violões Sérgio Abreu, Sugiyama e Fleta, entre outros, decidi construir o meu primeiro violão. Na terceira tentativa, acho que acertei a mão”, lembra Samuel. Fã dos violonistas Juliam Bream e Andrés Segovia, ele sabe exatamente o que quer em relação à sonoridade de seus instrumentos e trabalha exaustivamente para isso. Nesta entrevista à Violão PRO, Samuel Carvalho fala dos seus violões, do seu método de trabalho e afirma: “Depois que o ‘vírus’ da madeira entra no sangue, você se apaixona e será sempre um luthier”.

Samuel Carvalho conquista o respeito de grandes violonistas e vem se firmando como um dos melhores luthiers da sua geração Por Fábio Carrilho Fotos: Daniel Neves

> Violão PRO: Acha importante o luthier saber tocar violão? Samuel: Toco violão desde os 12 anos e acho importante o luthier saber tocar porque só tem a acrescentar no seu desenvolvimento como construtor. Obviamente toco na medida do possível, pois a profissão exige muita dedicação e o tempo é escasso para estudar e manter um repertório, mesmo sendo simples. > Como você define os seus violões quanto à sonoridade? Ultimamente tenho trabalhado um modelo de cedro canadense que possui uma sonoridade semelhante ao Fleta de John Williams — um violão potente e com bastante projeção, mas que mantém o timbre

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:03:12


e o equilíbrio sonoro, algo difícil de conseguir em violões com bastante potência. Nos meus violões de pinho, normalmente uso as dimensões do Hauser 1937, que era usado pelo Andrés Segovia. Procuro dar uma sonoridade mais doce a esse violão, que fica muito presente para o violonista e para o público, e também explorar a potência e a projeção do instrumento sem perder a qualidade nem diminuir a sua vida útil. O violonista Paulo Martelli colaborou no desenvolvimento do modelo inspirado no Hauser. Ele nos passou impressões valiosas e conseguiu documentação, mapas, informações e o livro The Guitar of Andrés Segovia – Herman Hauser 1937, que nos ajudaram muito, além de estar sempre testando nossos instrumentos. Hoje ele tem o primeiro violão desse modelo, que possui uma sonoridade maravilhosa. > Como você chegou aos desenhos finais de seus violões? Sempre tivemos colaboradores e amigos, como Henrique Pinto, Pedro e Paulo Martelli, João Argolo, Gustavo Costa, João Luiz e Douglas Lora, entre outros críticos imparciais e inseridos ativamente no mundo do violão, que têm ajudado bastante na confecção dos nossos instrumentos. Também pesquiso muito sobre a construção de violões, o que aconteceu e o que está acontecendo atualmente. > Você se espelha em algum luthier para desenvolver o seu trabalho? Quais luthiers você admira?

Riscando o fundo de jacarandá-da-bahia

Existem nomes que produziram grandes instrumentos e que me inspiram bastante. Poderia citar alguns, como Hauser, Rubio, Fleta, Bouchet, Friederich, Sérgio Abreu, Soo. Tenho admiração por todos eles, mas não posso esquecer o valor dos luthiers brasileiros. Durante um breve período, fui representante e colaborador do senhor Eugênio Follmann, que é o maior importador de madeiras para instrumentos musicais da América Latina. Ajudei a vender madeiras para muitos luthiers e pude conhecer de perto vários trabalhos, técnicas e abordagens diferentes em relação à diversidade de madeiras e à construção de instrumentos. Admiro o espírito de luta do luthier brasileiro e fiz muitos amigos, como o Sérgio Abreu, o Cláudio Arone, o Joacir,

o Rogério Santos, o Jó Nunes, o Carlinhos Luthier (amigo de muitos anos), o Sérgio Barbosa, entre outros vários companheiros que desenvolvem a arte da luteria. > Como é o seu método de trabalho? Faz o violão inteiro do começo ao fim? É muito prazeroso pegar a matéria bruta e manipulá-la do começo ao fim, transformando o que a natureza já produziu com perfeição em um instrumento que vai servir à arte. É difícil falar do meu método de trabalho, cada luthier tem sua forma particular de trabalhar as diversas etapas da construção do instrumento. Dou uma atenção especial às madeiras envelhecidas. Tento promover o seu envelhecimento por

Violão Samuel Carvalho modelo Hauser 1937 • Tarraxa Schaller ou a combinar • Fundo e lateral em jacarandá • Tampo em pinho • Escala de ébano indiano • Cordas Augustine Regals • Acompanha estojo Contato: (11) 6986-9785 / São Paulo - SP Site: www.samuelcarvalho.net E-mail: luthier@samuelcarvalho.net

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 45

45 30/12/2006 16:16:01


Luthier meio de processos naturais, escalonando as etapas da construção do instrumento, climatizando o ambiente nos níveis adequados de umidade, deixando a madeira dilatar e contrair até o momento correto de manipulá-la nas diversas etapas da construção. Faço um acompanhamento detalhado das estruturas e dimensões da caixa do instrumento (fundo, lateral e tampo), densidade, espessura, travamento com leques ou em partes da estrutura, percebendo as reações sonoras, modificando, acrescentando ou reduzindo materiais para obter o resultado esperado e satisfazer as expectativas do cliente. O único serviço que não faço na oficina é o verniz de fundo, lateral e o braço de dois modelos que construo. Os modelos top de linha são todos em gomalaca. > Que sugestões você daria para alguém que quer encomendar um violão seu e nunca teve um instrumento de luthier? Provavelmente esse cliente experimentou um violão meu ou ouviu alguém tocando. Normalmente peço que ele identifique qual o modelo e a data de fabricação desse violão, para eu avaliar sua expectativa de resultado. Isso é importante, porque de um ano e meio para cá meus violões tiveram uma evolução muito grande, superando os mais antigos. Se não tiver tocado, sugiro que venha visitar o meu ateliê, pois além da experiência na luteria, meu embasamento como professor e violonista ajuda a entender a postura, a anatomia, a pegada da mão direita, o tipo de toque e tensão, entre outros detalhes que ajudam

Samuel Carvalho ao fundo as harpas construídas por seu pai

na construção do violão. Com certeza, esse instrumento vai melhorar o desempenho e a técnica do cliente.

“Dou uma atenção especial às madeiras envelhecidas. Tento promover o seu envelhecimento por meio de processos naturais” > Que modelos de violão você faz? Construo três modelos. A partir de janeiro, todos terão fundo e lateral em jacarandá, tampo em pinho ou cedro canadense, escala em ébano e braço em mogno. Os top de linha são em gomalaca e os demais, somente a tampa. Além desses instrumentos, fabrico violões de sete, oito, dez e onze cordas. A diferenciação de cada modelo se dá

46 ViolaoPro 7.indd 46

pela idade, raridade e qualidade das madeiras utilizadas. > Qual o tempo médio de entrega dos seus violões? De cinco a oito meses, dependendo do modelo. Vale ressaltar que os materiais já estão sendo climatizados e preparados com pelo menos dois anos de antecedência, sem contar o tempo transcorrido desde o corte das madeiras. O jacarandá, por exemplo, tem no mínimo 20 anos de cortado para os modelos mais simples e entre 50 e 70 anos para os modelos mais requintados. > Que critério você usa para a escolha das madeiras? Em primeiro lugar, madeiras que cantem, tenham sustain e alguma nota bem definida, percebida com nitidez quando você

• Dezembro / 2006

30/12/2006 12:56:37


provoca uma vibração na peça. No tampo, esse sustain é um critério que considero bastante. O sentido dos veios da madeira também é importante. Uso tanto o cedro como o pinho. Cada um encanta à sua maneira quando ouvimos ou tocamos instrumentos com esses materiais. > Que dicas você daria para quem está começando na arte da luteria? Pesquise bastante e procure músicos e críticos experientes para acompanharem a sua evolução e ajudarem na sua busca. Depois que o ‘vírus’ da madeira entra no sangue, você se apaixona e será sempre um luthier.

“É muito prazeroso pegar a matéria bruta e manipulá-la do começo ao fim, transformando o que a natureza já produziu com perfeição em um instrumento que vai servir à arte”

Violão de 11 cordas: especialidade de Samuel Carvalho

> Quem foi o seu mestre na luteria? Minha curiosidade e vontade de ter o melhor violão do mundo. > Você já teve algum pedido de violão incomum ou considerado difícil? Como foi isso? Em 2003, eu e meu irmão Emanuel Carvalho, que trabalha comigo há oito anos, estávamos expondo no Festival Internacional de Violão, coordenado pelo nosso amigo Paulo Martelli no Sesc Araraquara. Entre os participantes, estava o violonista japonês Go Nagano, com o seu violão de onze cordas. Aquele instrumento maravilhoso nos chamou a atenção. Num momento de descontração no hotel, na presença do Paulo Martelli, enquanto eu analisava as medidas do violão do Go Nagano falei que faria um instrumento daquele para mim. De uma forma brincalhona, em tom de desafio, o Paulo disse que, se fosse assim, queria mais um para ele. Oito meses depois, somente com aquela noção inicial do instrumento, liguei para o Paulo e pedi que ele escutasse o som do novo violão que tinha acabado de construir. Fui dedilhando lentamente da primeira até a décima primeira corda. Ao retomar o telefone, ele disse que já estava apaixonado pelo instrumento. Na semana seguinte, fui até ele e o presenteei com o violão. Um ano depois, fiz o segundo, já melhorado graças à experiência que tive com o primeiro e também pelas referências de sonoridade que tirei das gravações do Goran Sollscher, grande nome neste instrumento. O Paulo assumiu o instrumento e até hoje encanta o público onde quer que toque. Claro que eu também aproveitei para estudar algumas transcrições de Bach feitas pelo Paulo no onze-cordas que está comigo.

João Luiz, Douglas Lora, Pedro Martelli, Paulo Martelli, Jodacil Damasceno, Gustavo Costa, Francisco Araújo, Paulo Porto Alegre, Fernando Lima, João Paulo Figueiroa, João Carlos Victor, Amadeu Rosa, André Simão, Fernanda Bertinato, Yuri Cayres, Antonio Carlos Souza Jr., Trio Entre Cordas, entre outros.

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 47

47 30/12/2006 01:39:16


Tecnica

Foto: José Rubens Moldero

Grande Polegar Na música flamenca ou no choro, a técnica do polegar é fundamental e exige muita destreza do violonista

P

ara o violonista que toca sem palheta, o polegar é de vital importância e, por esse motivo, vários violonistas se especializaram na sua utilização. No Brasil, temos o violão de sete cordas e suas baixarias (contrapontos feitos nos baixos). Dino 7 Cordas e Raphael Rabello são dois ótimos exemplos de especialistas na técnica do polegar. Na música flamenca, além do ataque para baixo, o polegar toca as cordas para cima, em um movimento chamado alzapúa. O polegar tem três tipos de toques: o toque com apoio, o toque sem apoio e o alzapúa. No primeiro, o polegar se apóia na corda abaixo daquela que acabou de tocar — por exemplo, ao tocar a sexta corda, o polegar repousa na quinta corda. Já no toque sem apoio, ao atacar uma corda, o polegar segue para fora do campo das cordas (ele não encosta na corda de baixo). Repare que, neste caso, para tocar as cordas vizinhas (no sentido dos bordões para as primas) é necessário um impulso para cada corda. Por último, o alzapúa é o toque de baixo para cima (começa no lado inferior da corda). Ele pode gerar movimentos muito velozes quando combinado com o toque apoiado. Vejamos alguns exemplos nos exercícios sugeridos a seguir:

No Ex. 1, o polegar toca duas cordas vizinhas. Repita esse movimento também entre as cordas 5 e 4, 4 e 3, 3 e 2 e, por último, entre as cordas 2 e 1. No Ex. 2, o polegar toca em três cordas vizinhas, visando praticar o movimento para baixo. Assim como no exercício anterior, repita esses movimentos entre as cordas 5, 4 e 3; 4, 3 e 2 e 3, 2 e 1. O Ex. 3 é idêntico ao anterior, mas visa o movimento para cima do polegar. O Ex. 4 associa a técnica do polegar com a de ligados descendentes e deve ser feito em todas as cordas. O Ex. 5 é um arpejo ascendente e descendente em cordas vizinhas — este é muito importante. No Ex. 6, o polegar trabalha em cordas vizinhas utilizando o alzapúa (toque para cima). O Ex. 7 contém alzapúas em tercinas, como no violão flamenco, enquanto o Ex. 8 mistura a técnica do alzapúa com ligados. O Ex. 9 mostra uma escala tocada com esta técnica e os Exs. 10, 11 e 12 são exemplos de baixarias usando ligados, alzapúas e os dedos i, m e a. Depois de assimilar esses exercícios, você pode tentar criar outros! Lembre-se sempre de relaxar a mão direita, evitar qualquer movimento excessivo, não tencionar o braço e tomar cuidado com bolhas no polegar. Um abraço e um feliz 2007 a todos!

Alessandro Penezzi é violonista e toca no grupo Choro Rasgado. Graduado em violão popular pela Unicamp (Universidade de Campinas), já tocou com Yamandu Costa, Guinga, Hamilton de Hollanda, Beth Carvalho e Dona Inah, entre outros nomes da música brasileira. Recentemente, lançou seu segundo CD solo, Alessandro Penezzi (Independente). Visite o site www. alessandropenezzi.com.br.

Ex. 1

Repetir nas cordas 5 e 4; 4 e 3; 3 e 2; 2 e 1

48 ViolaoPro 7.indd 48

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:03:57


Ex. 2

Repetir nas cordas 5, 4 e 3; 4, 3 e 2; 3, 2 e 1 Ex. 3

Repetir nas cordas 5, 4 e 3; 4, 3 e 2; 3, 2 e 1 Ex. 4

Fazer em todas as cordas Ex. 5

Repetir vรกrias vezes

Dezembro / 2006 โ ข

ViolaoPro 7.indd 49

49 28/12/2006 15:04:03


Tecnica Ex. 6

Repetir nas cordas 5 e 4; 4 e 3; 3 e 2; 2 e 1

Ex. 7

Repetir várias vezes

Ex. 8

Repetir várias vezes *nas repetições, este Lá é ligado

50 ViolaoPro 7.indd 50

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:04:09


Ex. 9

Repetir várias vezes

Ex. 10

Ex. 11

Ex. 12

Dezembro Dezembro // 2006 2006 ••

ViolaoPro 7.indd 51

51 30/12/2006 13:11:42


Licao

Polifonia no violão Douglas Lora

O

grande compositor e violonista Fernando Sor (1778–1839) foi um dos pioneiros a levar o violão para as grandes salas de concerto, tirando-o do status de instrumento popular de acompanhamento e colocando-o lado a lado com instrumentos solistas, como o violino e o piano. Uma de suas principais contribuições para esse grande passo na evolução violonística foi sua forma de escrita polifônica. Sor estabeleceu uma nova dimensão para o universo sonoro do violão, trazendo uma bagagem extra ao ‘violonismo’ da época: a utilização de vozes independentes, quase como um quarteto de cordas. Existe ainda um outro grande marco na história do violão. Tempos depois, o genial Andrés Segovia (1893–1987), que, além de afirmar o violão no circuito erudito, trouxe para seu repertório transcrições de peças originalmente escritas para cravo ou piano, ampliando ainda mais os horizontes de possibilidades do instrumento. Sem contar o enorme estímulo que Segovia proporcionou aos Ex. 1

Trecho do Estudo nº 8, de Fernando Sor

Ex. 2

Trecho da Sonata k11, de Domenico Scarlatti

52 ViolaoPro 7.indd 52

compositores contemporâneos para a produção de peças originais. Não é preciso dizer que, se comparado ao piano e a outros instrumentos de teclado, o violão tem muitas limitações: o volume sonoro, a tessitura e principalmente sua ‘verticalidade anatômica’, que dificulta a execução de diferentes melodias ao mesmo tempo. As duas mãos são responsáveis pelo mesmo som e a independência a ser desenvolvida está entre os dedos de cada mão. O Ex. 1 contém os quatro primeiros compassos do Estudo nº. 8, de Fernando Sor (na edição de Andrés Segovia). Nele existe um movimento constante na linha do baixo contraposto às terças em notas mais longas na voz de cima (repare que as figuras rítmicas na voz de cima devem ter a sua total duração respeitada). Observe também o trabalho de independência dos dedos da mão esquerda. No Ex. 2 temos um trecho da Sonata k11, de Domenico Scarlatti (1685–1757). Ele ilustra bem a utilização de duas vozes simultâneas e distintas,

Foto: Pupo

Escrita polifônica no violão foi uma das grandes responsáveis pela evolução do instrumento Douglas Lora é violonista e compositor. Integrante do Brasil Guitar Duo, com o violonista João Luiz, e do Violão-CâmaraTrio, ele é mestre em Performance pela Universidade de Miami (EUA), onde também é professor. Dedica-se aos repertórios erudito e popular para violão.

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:04:18


ainda que compostas de uma rítmica muito simples, mas com movimentos de dedos mais complicados (repare no dedo 4 sempre preso em relação aos outros). O repertório violonístico atual, que se apropria de todos os períodos da história da música, contém os mais variados exemplos de polifonia possíveis — vale lembrar que a grande referência atemporal da arte do contraponto é J. S. Bach (1685-1750). No entanto, a música popular brasileira também é uma fonte de exemplos de contraponto. Nossa música está repleta de polifonias e polirritmias, o que a torna uma das mais ricas do planeta. Peguemos o maracatu como exemplo. A complexidade formada pelas células da alfaia (surdo) com as células do agogô serve como um excelente treino de

independência da mão direita (Ex. 3 – trecho de Estudo Brasileiro nº. 2, de minha autoria). E assim por diante, no frevo, no afoxé, no baião, no samba, no choro e em grande parte da música popular do nosso país, encontramos materiais de estudo sofisticadíssimos, disfarçados pela simplicidade natural das manifestações folclóricas. Falando um pouco mais da mão direita, o problema principal reside na acentuação de cada dedo, para dar clareza às melodias. No caso do Ex. 4, um trecho de Lamentos do Morro, de Garoto (1915-1955), a melodia é uma só, mas se encontra não na voz mais aguda, e sim numa linha intermediária entre elementos rítmicos do baixo e do que se pode chamar de ‘acompanhamento’ por acordes. Essa situação requer uma acentua-

Ex. 3

Trecho do Estudo Brasileiro nº 2, de Douglas Lora

Ex. 4

Trecho de Lamentos do Morro, de Garoto

Ex. 5

Trecho de Cantiga, de Douglas Lora

ção maior nos dedos i e m, que se revezam na execução da linha melódica. Nas estruturas imitativas de composição, como a fuga, pode-se observar com muita clareza eventos melódicos simultâneos. O Ex. 5 é um trecho do segundo violão de uma fuga de minha autoria chamada Cantiga, em que eu e o João Luiz, grande violonista e arranjador, meu parceiro do Brasil Guitar Duo, executamos cada um duas ou mais melodias distintas na maior parte do tempo. Gostaria de ressaltar que, além do estudo técnico de digitações e acentuações dos dedos, é fundamental ouvir as diferentes vozes que estão sendo tocadas, dando um sentido melódico individual a cada uma delas. Espero que essas idéias sejam de alguma utilidade para você. Um abraço e viva a polifonia!

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 53

53 28/12/2006 15:04:24


Jazz e Blues X Violão de Náilon Rick Udler Apesar de parecerem dois mundos distantes, grandes violonistas vêm obtendo ótimos resultados dessa combinação sonora

N

ormalmente as pessoas não associam o violão de cordas de náilon com o jazz e o blues. Parecem mundos distantes, mas como muitos violonistas já descobriram, ambos os estilos soam muito bem no nosso querido violão de náilon. Charlie Byrd, Chet Atkins, Hélio Delmiro, Romero Lubambo, Paulo Bellinati, Ulisses Rocha e muitos outros grandes violonistas já demonstraram isso. Nos anos 80, tive a oportunidade de morar em Nova Orleans e beber um pouco da fonte. Na minha música Papaya, tento sugerir um pouco daquilo que ouvi nessa cidade tão musical. Ao mesmo tempo, nunca escondo minhas influências brasileiras. O que acaba acontecen-

Papaya

112

54 ViolaoPro 7.indd 54

do, ou pelo menos espero que aconteça, é uma fusão natural de mundos que se complementam. Todos nós bebemos de várias fontes e acho que a única regra é não forçar a barra quando se faz a mistura – ela tem de ser orgânica. Nesta lição, vou apresentar 16 compassos de Papaya. A linha de baixo da primeira parte vem essencialmente de uma progressão simples e bem comum de rhythm & blues. É importante estudar separadamente a linha de baixo e a melodia para que cada uma delas soe com vida própria. A linha melódica é bem ‘blueseira’ e cheia de ligaduras e slides. Procure frasear com ginga, coisa que não falta no Brasil. Saúde e um abraço!

Foto: Fernanda Cano

Licao

Rick Udler é violonista, guitarrista e compositor. Em 2006, lançou o CD Papaya, que vem recebendo elogios da imprensa brasileira e norte-americana. Seu CD Rhythm & Romance, em duo com a cantora Maria Alvim, tem composições suas com os letristas Paulo César Pinheiro e Costa Netto. Em 1999, produziu o CD Reflexões, de Paulinho Nogueira.

Rick Udler

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:04:31


Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 55

55 30/12/2006 13:10:51


Licao

Arranjando para violão solo: Luiza Tom Jobim

Encontrar a tonalidade ideal é o primeiro passo

N

esta edição, apresentarei um arranjo que fiz de Luiza, de Tom Jobim, e darei algumas dicas de como iniciar a elaboração de um arranjo para violão solo. O primeiro passo é encontrar a tonalidade ideal, pois como o violão é um instrumento que possui certos limites de aberturas de acordes, a música não flui da mesma maneira em todas as tonalidades. Para isso, é necessário observar alguns pontos fundamentais. O primeiro deles é verificar a nota mais aguda e a mais grave da melodia. As notas acima da 12ª casa, por exemplo, dificultam a interpretação, enquanto as notas muito graves não são viáveis por dificultar o encaixe da harmonia. Neste arranjo, a nota mais grave é um Fá# na quarta corda, porém ela está dentro do acorde de Bm e é abandonada rapidamente, sem causar dificuldades para a execução do acorde. A nota mais aguda, no ponto culminante da melodia, é um Dó# na primeira corda, facilmente acessada pela subida dos acordes diminutos.

A segunda consideração é procurar uma tonalidade que proporcione o maior número de cordas soltas. Geralmente, as mais usadas são as que possuem até quatro sustenidos, ou seja, C, G, D, A e E, além das suas relativas menores. As tonalidades que possuem bemóis na armadura de clave não são muito recomendadas, por ocasionarem pestanas em excesso. Observe neste arranjo como as cordas soltas facilitam a execução da melodia no compasso 6, além de facilitar a execução de diversos acordes no decorrer da música. Outro recurso importante é a supressão de notas repetidas devido à acomodação das sílabas da letra na melodia. Como exemplo, posso citar o compasso 4, onde começa a melodia principal, em que a palavra ‘rua’ é transformada em apenas uma nota. No compasso seguinte, ocorre a mesma coisa com a palavra ‘nua’. No compasso 18, é suprimida a última sílaba de ‘Luiza’. Espero que goste do arranjo e que essas dicas sejam úteis para seus estudos. Um abraço!

Luiza

56 ViolaoPro 7.indd 56

Cristiano Petagna é violonista de formação erudita e popular. É professor de violão da Escola de Música e Tecnologia (EM&T), em São Paulo, onde foi responsável pela elaboração do material didático-pedagógico junto ao violonista Ulisses Rocha.

Tom Jobim Arranjo: Cristiano Petagna

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:05:00


Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 57

57 28/12/2006 15:05:14


Licao

,SI-mbolos e Notacoes Musicais

58 ViolaoPro 7.indd 58

• Dezembro / 2006

30/12/2006 13:12:14


Licao

Salve, Garoto! Garoto

Músico foi um divisor de águas na história do violão brasileiro

A

níbal Augusto Sardinha (1915–1955), o Garoto, foi um dos grandes nomes da música brasileira. Além de compositor, era um exímio instrumentista e estava à frente de seu tempo, anunciando uma linguagem moderna para o violão com inéditas soluções harmônicas e rica sensibilidade melódica, aliadas a um balanço sensacional de mão direita. Influenciou nomes como Carlos Lyra, João Gilberto e Tom Jobim e sua música já anunciava um movimento musical que surgiria um pouco mais tarde: a bossa nova. Selecionei alguns trechos de três músicas do Garoto para analisar alguns recursos violonísticos usados por ele. Os três primeiros trechos são do samba Lamentos do Morro, uma de suas músicas mais famosas. No primeiro trecho (Ex. 1), a quarta corda do violão serve como pedal e pode ser tocada de duas maneiras: somente com o polegar, trabalhando a agilidade; e alternando os dedos i e p, opção que dá mais suingue. Temos duas propostas rítmicas bem definidas para a mão direita, o que exige dedicação e trabalho gradativo para atingir o andamento proposto pela música (comece lento, com semínima em 60). O segundo e terceiro trechos (Ex. 2 e Ex. 3) seguem a mesma rítmica, porém com seqüências harmônicas distintas. Sugiro executar os trechos com cordas soltas antes de utilizar a mão esquerda.

Ex. 1

A próxima música é Gracioso, choro composto para violão solo com três temas e que segue a estrutura tradicional A-B-A-C-A. O trecho indicado (Ex. 4) apresenta duas técnicas conjugadas para a mão esquerda: o ligado (o dedo 4 é bastante utilizado) e o translado (uma seqüência de acordes fechados, em que cada linha melódica atua como uma voz, característica marcante na obra violonística de Garoto). Na mão direita, o polegar se movimenta de cima para baixo ao lado esquerdo da boca do violão, tirando um som mais doce e dando nitidez aos ligados. O próximo trecho (Ex. 5) é da música Nosso Choro. Ela merece destaque pela inovação na construção dos acordes na mão esquerda. Observe que o dedo indicador pressiona ao mesmo tempo, no primeiro compasso, a nota Sol (quinta corda, casa 10) e a nota Ré bemol (primeira corda, casa 9). O mesmo acontece no compasso seguinte, com as notas Mi natural e Si bemol. O dedo indicador fica cruzado, numa diagonal da direita para a esquerda. Para tocar o acorde em semicolcheia no segundo tempo de cada compasso (repare que há cinco notas), devem-se usar os dedos p, i, m, a e mínimo. Além dessas três músicas, Garoto deixou um legado de 24 músicas para violão solo, como Desvairada, Duas Contas, Enigma, Tristezas de um Violão (Choro Triste nº 1) e Esperança. Vale a pena estudá-las. Um abraço!

Maicol Agiani estudou violão erudito com Antonio Guedes e Éverton Gloeden. É formado em violão popular pelo Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, onde estudou com o violonista Camilo Carrara. Atualmente integra o trio de violões Trio Cordame e o Trio Imodesto (violão, clarineta e percussão), que acompanha a cantora Luciane Valle.

Trecho de Lamentos do Morro

Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 59

59 28/12/2006 15:05:25


Licao

Ex. 2

60 ViolaoPro 7.indd 60

Trecho de Lamentos do Morro

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:05:32


Ex. 3

Trecho de Lamentos do Morro

Ex. 4

Trecho de Gracioso

Ex. 5

Trecho de Nosso Choro

Dezembro Dezembro // 2006 2006 ••

ViolaoPro 7.indd 61

61 30/12/2006 13:12:36


Transcricao

Homenagem a Sivuca: João e Maria Sivuca

N

Arranjo para violão solo dessa valsa que é um clássico da MPB

o mês de dezembro, o mundo perdeu o acordeonista, compositor e arranjador Severino Dias de Oliveira, o nosso querido Sivuca. Gostaria de dedicar a lição deste mês a essa grande figura da música brasileira, que fará muita falta para todos nós. João e Maria, de Chico Buarque e Sivuca, foi gravada originalmente por Nara Leão no seu disco Meus Amigos São um Barato, de 1977. Os dois compositores participaram das gravações, Chico cantando e Sivuca tocando acordeom. Para este arranjo, preparei uma introdução curta, de apenas quatro compassos. Do compasso

João e Maria

100

62 ViolaoPro 7.indd 62

5 ao 20, o tema da música é apresentado e, a partir do compasso 22, o tema é recapitulado com algumas alterações harmônicas. Do 38 ao 54, em alguns momentos usei dois acordes por compasso. A finalização do arranjo teve como base a introdução. Atente para a mudança de tempo dos dois compassos finais. A intenção foi criar um contraste para acentuar a idéia de conclusão. Dê atenção à melodia, usando toque com apoio e observando a alternância dos dedos indicador e médio em várias passagens. Para facilitar o estudo, procure observar atentamente as digitações de ambas as mãos. Bom trabalho e um abraço!

Nilo Sérgio Sanchez é violonista, arranjador, compositor e regente. É coordenador de Música do Liceu Pasteur de São Paulo. Seu livro, Curso de Violão - Obras de Grandes Mestres, editado pela Irmãos Vitale, apresenta obras de importantes compositores brasileiros contemporâneos. E-mail: nsergio3@terra.com.br.

Chico Buarque e Sivuca Arranjo: Nilo Sérgio Sanchez

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:05:43


Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 63

63 28/12/2006 15:06:02


Transcricao

64 ViolaoPro 7.indd 64

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:06:09


Dezembro / 2006 •

ViolaoPro 7.indd 65

65 30/12/2006 13:13:04


Classificados A primeira parte do método aborda, de maneira equilibrada, elementos teóricos para o aprendizado e os exercícios práticos necessários. Na segunda parte, são apresentadas tablaturas numéricas e obras de grandes mestres eruditos e populares, como Antonio Rago, Badi Assad, Edson Lopes, Theodoro Nogueira, Geraldo Ribeiro, Duofel, Caetano Veloso, Paulinho Nogueira e Toquinho. Editora Irmãos Vitale

P U B L

I C I D A D E

EMPRESA

TELEFONE

SITE

B&H

11 5572-2396

www.superguitarra.com.br/bh

Bends

11 3064-1909

www.bends.com.br

Condortech

61 3361-1181

www.condormusic.com.br

Crafter

31 3222-9160

www.crafterguitars.com.br

Equipo

11 2199-2999

www.equipo.com.br

Free Note

11 3085-4690

www.freenote.com.br

Musical Express

11 3159-3105

www.musical-express.com.br

Musical Izzo

11 3611-2666

www.musicalizzo.com.br

RMV

11 6404-8544

www.rmv.com.br

Rozini

11 3931-3648

www.rozini.com.br

Yamaha

11 3085-1377

www.yamahamusical.com.br

66 ViolaoPro 7.indd 66

• Dezembro / 2006

28/12/2006 15:06:39


ViolaoPro 7.indd 67

28/12/2006 15:07:01


ViolaoPro 7.indd 68

28/12/2006 15:07:10


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.