MONTE O SEU SETUP!
A REVISTA PARA QUEM QUER COMPRAR E TOCAR MELHOR! • www.violaopro.com.br
TÉCNICA E TRANSCRIÇÃO
› Improvise com escala diminuta › Walking bass – desenvolvendo a técnica › Treinando a independência dos dedos › Toque Noite de Lua, de Dilermando Reis
TESTAMOS # 27
› YAMAHA CPX500 EXCELENTE RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO › EAGLE DH-69 RECOMENDADO POR PROFESSORES › SG TITANIUM ENCORDOAMENTO SURPREENDE › FINALE 2010 SEU UPGRADE EM DETALHES + 6 PRODUTOS IRADOS
MANUTENÇÃO
Violão PRO•2010•Nº 27•R$ 8,90
VIOLÃO PRO
Siga-nos: twitter.com/violaopro
Aprenda a cuidar dos trastes e garanta a afinação do seu violão
GUITARRISTA INVADE A VP
Victor Biglione declara amor ao violão de aço e dá dicas matadoras
MONTE O SEU Saiba como explorar novos TIMBRES em seu violão
WWW.VIOLAOPRO.COM.BR
ESPECIAL
SETUP
RAPHAEL RABELLO
Matéria histórica sobre o genial violonista + trecho de Sete Cordas
FESTIVAL LEO BROUWER Cobertura completa do principal evento violonístico do País
CARTA AO LEITOR Editor/Diretor Daniel A. Neves S. Lima
Isso aqui é trabalho!
Quem jamais desejou ter seu trabalho reconhecido, independente de qual seja a área de atuação? Ainda mais quando se investe em uma carreira artística, o sonho de ser um instrumentista de renome passa, nem que seja por instantes, pela cabeça. É claro que existem aqueles sonhadores que realmente acreditam que basta aprender três acordes para que o sucesso esteja próximo. Boa parte também reclama da falta de oportunidades para mostrar o seu talento, da ‘panelinha’ de alguns cenários. Fato: o reconhecimento vem com o trabalho e não chega rapidamente. O processo é lento e, por essa razão, há de se ter perseverança! Uma carreira musical depende de inúmeros fatores, como o meio em que a pessoa vive, o seu círculo de amizades, formação e, é claro, muita criatividade. Muitos podem se perguntar: e a sorte? Não adianta ter sorte se não há competência! Victor Biglione fez a sua sorte. Correu atrás, buscou estudar com os melhores professores no Brasil e no exterior. Desde cedo o músico saiu para tocar à noite. Ele não ficou em seu quarto aguardando a tão sonhada chance... Biglione fez acontecer! O resultado disso é uma carreira de sucesso como músico de estúdio, compositor de trilhas sonoras, sideman e instrumentista. Nesta edição, o músico fala um pouco sobre como foi este processo e dá dicas sobre técnicas e ferramentas interessantes para você se dar bem no mercado musical. Para quem é fã de explorar recursos tecnológicos para criar uma ambiência ou gerar um timbre inovador, uma matéria especial com dicas para a montagem de seu setup. Um verdadeiro guia que poderá ajudá-lo a explorar novos timbres em seu instrumento de forma prática e acessível. Como se não bastasse, preparamos uma matéria histórica sobre um dos maiores gênios do violão brasileiro: Raphael Rabello. Também temos uma novidade: o luthier Regis Bonilha estreia na Violão PRO dissertando sobre nivelamento dos trastes e a importância de sua manutenção. No mais, testes, produtos, lições e transcrições que você só encontra aqui. Boa leitura! Miguel De Laet
Coordenadora de Comunicação Ana Carolina Coutinho Coordenador Técnico Miguel De Laet Direção de Arte Alexandre Braga Reportagens/Artigos Felipe Coelho, Henrique Pinto, Itamar Dantas, Mr. Japys, Marcio Guedes, Miguel De Laet e Roney Giah Lições/Transcrições Conrado Paulino, Douglas Padial, Marcio Guedes e Nilo Sérgio Sanchez Revisão Hebe Ester Lucas Edição de Partituras Miguel De Laet Fotos Divulgação e Michel Coustiou (ilustração p. 58) Departamento Comercial Carina Nascimento e Eduarda Lopes Relações Internacionais Nancy Bento Administrativo/Financeiro Carla Anne Assinaturas Barbara Tavares assinaturas@musicaemercado.com.br Tel.: (11) 3567-3022 Impressão e Acabamento Vox Editora
Edição 26: 30 dicas para você comprar um bom instrumento. Alessandro Penezzi, Mario Ulloa e setup dos Beatles.
Edição 25: 20 exercícios para você ficar fera no improviso. Chico Pinheiro conta tudo sobre a carreira de músico.
Edição 24: Entrevista com Badi Assad. Dicas para você montar seu home studio e produzir seu material em casa.
O que ouvimos na redação
Artista: Paola Picherzky Título: 18 choros de Armando Neves Gravadora: Independente Comentário: Fruto de seu curso de mestrado, o disco traz peças de um dos grandes nomes do choro paulista.
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Artista: Verônica Ferriani & Chico Saraiva Título: Sobre Palavras Gravadora: Borandá Comentário: Repertório que mescla sotaque regional com temas introspectivos e sóbrios. Belos arranjos e um violão acompanhante excepcional.
Artista: Rogério Caetano Título: Rogério Caetano Gravadora: Fubá Music Comentário: Disco com composições próprias traz muita brasilidade e temas vivos.
Distribuição exclusiva para todo o Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A · Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú · CEP 20563-900 · Rio de Janeiro/RJ · Tel.: (21) 2195-3200 Assessoria Edicase Soluções para Editores Violão PRO (ISSN 1809-5380) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Redação, Administração e Publicidade Caixa Postal: 21.262 CEP 04602-970 · São Paulo/SP Tel.: (11) 3567-3022 Fax: (11) 3846-4446 Anuncie na Violão PRO comercial@musicaemercado.com.br www.violaopro.com.br ajuda@musicaemercado.com.br
ÍNDICE
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16 Raphael
MONTE SEU SETUP!
Rabello
Tudo sobre a vida e a música de uma das principais referências do violão sete cordas
Saiba como explorar novos timbres MATÉRIAS ‹ 30 › Victor Biglione Entrevista com o músico argentino – de coração carioca – premiado por suas trilhas sonoras e considerado um dos principais guitarristas da atualidade ‹ 42 › Manutenção dos trastes Dicas de como manter os trastes nivelados e evitar problemas
LIÇÕES E TRANSCRIÇÕES ‹ 44 › Conrado Paulino Como estudar walking bass ‹ 46 › Douglas Padial Escala diminuta ‹ 48 › Marcio Guedes Independência dos dedos ‹ 52 › Nilo Sérgio Sanchez Noite de Lua – Dilermando Reis 6
TESTES ‹ 36 › Yamaha CPX500 Jumbo com excelente relação custo-benefício ‹ 37 › Eagle DH-69 Um clássico recomendado por professores ‹ 38 › SG Special Series Titanium Encordoamento nacional com excelente entonação ‹ 39 › Finale 2010 Melhorias de edição facilitam a vida do violonista
SEÇÕES ‹ 4 › Editorial ‹ 8 › Cartas ‹ 10 › Strings ‹ 13 › Sonho de consumo ‹ 14 › Festival ‹ 34 › Na Estrada ‹ 40 › Lançamentos ‹ 41 › Produtos ‹ 56 › Classificados ‹ 58 › Técnica: Henrique Pinto
CARTAS
[Edição 27]
Acabei de ler a matéria da Violão PRO, “Acerte na escolha!”. Enquanto lia, pensei que deveria entrar em contato e mandar um e-mail parabenizando seu trabalho: muito didático, informativo, bastante relevante, apontando coisas bem reais do dia a dia de quem quer um violão. Você levantou pontos que nós, fabricantes, temos de falar sempre até para os próprios vendedores e lojistas. As dicas do Luciano Queiroz, também bastante oportunas, evidenciam: quem faz e toca sabe do que está falando. Vera Machado, Di Giorgio
Adorei a entrevista com o professor Mario Ulloa. Suas dicas foram muito pertinentes e esclarecedoras! Obrigado, Violão PRO!
deria enviar um disco para vocês e, possivelmente, ter o trabalho divulgado na revista, em forma de entrevista ou como indicação de disco.
Caio Martins, Rio de Janeiro/RJ
André Siqueira, por e-mail
Achei muito massa a matéria com Penezzi. Ele realmente é um músico fora de série! Estou curioso para ouvir o CD Sentido! Duda Flambart, União da Vitória/PR
[Envio de material]
Olá, meu nome é André Siqueira e tenho um trabalho de música instrumental. Gostaria de saber se po-
Você pode enviar o seu material para o nosso endereço: Rua Alvorada, 700 – Vila Olímpia – São Paulo/SP, aos cuidados do editorial Violão PRO
[Sugestões] Por que vocês não fazem duas revistas? Uma para violão náilon e outra para violão de aço. Estudo violão erudito e são poucas páginas que aproveito. Acredito que se focassem em apenas um tipo
O CANAL ONDE SE APRENDEM TÉCNICAS DE COMO TOCAR VIOLÃO MELHOR. EXERCÍCIOS, PERFORMANCES, ENTREVISTAS, PRODUTOS. ACESSE!
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de instrumento, a revista seria mais bem aproveitada pelos leitores. Leandro Siqueira, São Paulo/SP
Vocês podem publicar transcrições de música gospel. Luiz Carlos, Salvador/BA
Escreva para a Violão PRO Rua Alvorada, 700 04550-003 - Vila Olímpia São Paulo / SP E-mail: ajuda@violaopro.com.br ajuda@musicamercado.com.br
STRINGS
Equipamentos, músicos, enquetes, shows e novidades do grande mundo dos violões!
Quer saber como Villa fazia música? Vamos comemorar! Passados 50 anos da morte do principal compositor brasileiro – especialmente no que diz respeito ao violão erudito –, temos a publicação de um livro essencial para estudantes dos cursos de bacharelado, em especial, com habilitação em composição. Paulo de Tarso Salles, professor da ECA-USP, ajuda a preencher uma imensa lacuna no mercado editorial brasileiro com o seu Villa-Lobos: Processos composicionais. “O campo da teoria musical ainda é incipiente no Brasil. Há poucos títulos em língua portuguesa, mesmo de textos já clássicos sobre música tradicional. E menos ainda sobre a teoria da composição musical contemporânea.” A ideia de escrever um livro que abordasse a análise da obra villa-lobiana surgiu da conversa de Paulo com o compositor Silvio Ferraz, quando observaram que os estudantes de composição de instituições brasileiras estavam mais interessados em estudar peças de compositores como Messiaen e Stravinsky. “Justamente Villa-Lobos, o compositor mais importante do Brasil, não desperta essa curiosidade, essa vontade de se aprofundar nos aspectos mais desafiadores da composição.” De qualquer modo, não havia até então trabalho algum sobre a técnica composicional de Villa. Esta publicação pode ajudar a reverter esse quadro. Até mesmo no campo da interpretação de suas peças para orquestra, Villa-Lobos enfrenta obstáculos. Algumas das maiores dificuldades envolvem os muitos erros de edição das partituras. “Se fossem corrigidos, permitiriam um número ainda maior de gravações e performances”, diz Paulo. Algumas das peças do mestre estão sendo recuperadas pela Academia Brasileira de Música.
Dr. Paulo de Tarso Salles
Com todo o gás! O violonista Fred Carrilho segue em ritmo acelerado com os seus trabalhos. Nos últimos anos, ele vem se dedicando às atividades de professor, músico e compositor. “O que faço é balancear o tempo de trabalho entre aquilo que estabeleço como prioridade e aquilo que vejo como necessidade”, diz. Na sua última turnê pela Europa, realizada entre agosto e outubro de 2009, o músico teve a oportunidade de pôr em prática o método de trabalho. Na Alemanha tocou dois repertórios: violão solo com composições próprias e arranjos, e outro com guitarra, em que tocou jazz. Sua peça Brasilessência teve estreia mundial em Amsterdã, durante o Gandeamus Music Week 2009 e, na Suécia, teve 11 dias para compor, ensaiar e gravar um CD em parceria com o flautista Simon Jensen. “A gravação foi realizada ao vivo no estúdio no dia 10 de outubro. Metade do CD foi gravada com violão acústico e a outra metade com guitarra. Um trabalho realmente interessante, porque tínhamos um material musical baseado na música instrumental erudita e popular (música
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All You Need Is Love Profissionalização: reunião entre Anafima e Senai
Violões com selo Inmetro No dia 17 de novembro de 2009 houve uma reunião com representantes da Anafima (Associação Nacional de Fabricantes de Instrumentos Musicais e Áudio) com o Senai, representados por Ricardo Figueiredo Terra, gerente regional, e o prof. Roberto Monteiro Spada, diretor. O objetivo da reunião era tratar um assunto que vem sendo o calcanhar de Aquiles das indústrias brasileiras de instrumentos musicais e áudio: a falta de mão de obra qualificada. Atualmente, a principal escola de fabricação de instrumentos musicais, acessórios e áudio é a própria indústria. Roberto Spada lembrou que todo instrumento é um equipamento de precisão e, por essa razão, o curso técnico de luthieria do Senai ajudará a alavancar a indústria brasileira. Além disso, as empresas poderão ter a oportunidade de contar com outros cursos da instituição para ajudá-los a projetar novos maquinários e desenvolver produtos com qualidade para o mercado externo com um preço competitivo. Outra possibilidade que se apresenta com esta parceria é a criação de um selo Inmetro para instrumentos musicais e áudio. étnica, regional, blues), mas com uma proposta jazzística com algumas incursões na música eletrônica e eletroacústica”, informa Carrilho. O CD está no estágio de pós-produção. “Na Europa, temos algumas propostas [de distribuição] que estamos analisando e escolheremos a que melhor se adaptar à proposta do projeto. No Brasil, estamos abertos a conversar com alguma distribuidora cujo trabalho de divulgação seja relacionado à música instrumental”, completa. Vamos aguardar o lançamento em terras brasileiras.
Mais um tributo ao quarteto de Liverpool acontece neste início de ano. Trata-se de um musical inédito no País que ocorrerá no HSBC Brasil, em São Paulo. “O show será realizado no dia 20 de janeiro e contará com uma orquestra que será regida pelo maestro Anselmo Ubiratan, que faz o papel de George Martin e Billy Preston nos nossos shows”, conta George Harrison, digo Thomás Arques. Além do figurino utilizado nos shows do grupo, assim como instrumentos usados pelos Beatles, haverá mudança de cenários, efeitos especiais e vídeos transmitidos nos telões para enriquecer a apresentação. Para os fãs dos Beatles impossibilitados de irem ao show, uma boa notícia: a apresentação será gravada em Full-HD e lançada posteriormente em um box com três DVDs. “Um dos pontos mais importantes desse show é que recebemos a liberação da Apple (gravadora dos Beatles) para a gravação das músicas.” São cerca de 60 músicas liberadas para o grupo. “Pela primeira vez no mundo uma banda [cover] é autorizada a gravar as músicas”, afirma Thomás. Mais informações sobre o grupo podem ser acessadas no site: www.allyouneedislovebeatles.com.br
Fred Carrilho: lançamento de disco previsto para 2010
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STRINGS
Daniel Murray e Chico Saraiva
Parceria que dá samba! Chico Saraiva e Daniel Murray são excelentes instrumentistas, como todos sabem. A parceria entre eles só poderia resultar em bons frutos. Mixando erudito e popular em uma linguagem camerística, o duo vem dialogando com músicos e artistas de diferentes áreas como artes plásticas, teatro e balé, por exemplo. No repertório, as canções de Chico Saraiva. No meio de sua turnê europeia – iniciada no final do ano passado, que passou por países como Inglaterra, França, Grécia e Portugal com boa aceitação do público –, os músicos conversaram com a Violão PRO:
A tendência do diálogo entre as culturas popular/erudita explorando temas folclóricos, por exemplo, vem crescendo muito. Vocês acreditam que se trata de um movimento neonacionalista? Falem um pouco sobre como a proposta popular/erudita ganhou forma no repertório do duo. Daniel: Acho difícil darmos um rótulo a algo que está acontecendo. Talvez um pós-antropofagismo? A verdade é que gostamos de desafios e não gostamos de continuar fazendo sempre a mesma coisa. Venho de uma experiência anterior intensa com a música eletroacústica mista e acabo de gravar um segundo disco solo, Tom Jobim para Violão Solo, produzido por Paulo Bellinati. Tanto música popular quanto erudita, o que importa é ser compreendida nas suas diversas características e interpretada com o mesmo rigor. Neste parâmetro não há diferença entre uma coisa e outra. Chico: Sobre o lance do nacionalismo, acho que a necessidade de afirmação de um Brasil era algo muito próprio daquela época (idos de 1920). Comecei ainda me pautando muito por esse impulso de fazer música Brasileira com ‘B’ maiúsculo, e isso vai estar sempre presente, inclusive pelo trabalho que desenvolvo com meu grupo A Barca. Mas esse ano algo girou 12
no meu olhar sobre essa questão e passei a sentir uma alegria muito estimulante toda vez que percebo um Cabo Verde, uma África (normalmente no ritmo) ou uma França, um Portugal (normalmente na melodia/harmonia) em músicas que compus inspirado no Brasil profundo. Afinal, o Brasil, como sabemos, é tudo isso.
Como foi o processo de desenvolvimento das peças? Chico: Pois é, desde o início compus sempre com o violão e a voz interagindo entre si. Procurar a melodia com a voz faz você chegar a soluções a que não chegaria se procurasse a melodia com o violão, e vice-versa. Dá para polarizar num dos lados, mas gosto muito de ir fazendo um passar a bola pro outro até o ponto de não saber mais com quem está a bola, normalmente daí ela tem mais chance de estar no gol, e a música pronta. E o que acontece tocando com Daniel é que ele entende muito facilmente a intenção inicial para logo partirmos (também tabelando) para a solução do arranjo, seja mais aberto ou mais fechado, para os dois violões. Algum CD em vista? Quais são os projetos futuros do duo? Daniel: Temos em vista um CD do duo com as músicas do Chico e nossos arranjos. Estamos aguardando alguns editais, mas faremos independente disso. O importante é não parar por aí, pois às vezes o disco é um investimento tão grande de tempo, dinheiro e energia que pode até atrapalhar se a pessoa não souber lidar com isso! Na verdade, temos muitas ideias para séries de concertos ou shows que gostaríamos de fazer também com outras pessoas para não ficarmos fechados em nós mesmos. Estamos estabelecendo no momento uma espécie de intercâmbio sonoro com o velho continente e pretendemos vir com maior frequência.
SONHO DE CONSUMO
Esse é PRO!
Espírito inovador garante Mathias Dammann no Hall da Fama da VP. Conheça os detalhes que levaram esse instrumento a se tornar um dos violões mais desejados do planeta Mathias Dammann é um dos principais nomes da nova safra de luthiers. Constrói instrumentos desde 1985 e contribuiu para o desenvolvimento de novas técnicas que ajudaram o violão a ganhar maior projeção. Como característica, seus instrumentos possuem o chamado tampo sanduíche ou double top.. Ele consiste num tampo feito de duas lâminas de madeira com um material chamado ‘nomex’, concebido originalmente pela DuPont. Essas partes são coladas formando um sanduíche. O modelo apresentado foi construído em 2002 com o tampo sanduíche em cedro, lateral e fundo em jacarandá da Bahia imperial, braço em mogno e escala em ébano. Outro destaque fica por conta da métrica da escala: 660 mm.
Violão Dammann 2002 Luthier: Mathias Dammann Ano de fabricação: 2002 País: Alemanha
FESTIVAL
Festival Leo Brouwer Parceria entre Instituto Cervantes e USP se solidifica para dar continuidade ao maior evento violonístico do País!
A
conteceu em São Paulo, entre os dias 6 e 13 de dezembro de 2009, o 2º Festival Internacional de Violão da USP Leo Brouwer, que teve a participação de importantes nomes da música. A primeira edição, realizada em 2008, fruto da parceria do Instituto Cervantes com o Departamento de Música da ECA/USP, marcou o início das celebrações dos 70 anos do maestro, quando tivemos 85% de sua obra executada em um mesmo evento, qualificando o Festival como a maior homenagem recebida por Leo Brouwer em sua história. A edição mais recente demonstra que o evento veio para ficar. Um dos sinais de crescimento é que o Sesc-SP entra como um Leo Brouwer é considerado um dos maiores compositores das Américas
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grande e importante parceiro, especialmente por disponibilizar suas salas para o evento. A segunda edição também ficou marcada por homenagens. Desta vez, foram destinadas a personagens importantes para a história do violão brasileiro: o cinquentenário da morte do compositor Villa-Lobos e as comemorações dos 70 anos de Geraldo Ribeiro e 90 anos de Ronoel Simões. Tivemos masterclasses com o maestro Leo Brouwer, Fábio Zanon e o argentino Victor Pellegrini – um especialista em peças brouwerianas –, lançamentos de livros sobre Villa-Lobos, palestras e uma programação cultural que contou com recitais excepcionais. Destaque para o concerto de encerramento com a Ocam sob a regência do maestro Leo Brouwer e Victor Pellegrini como solista. Importante lembrar aqui o excelente trabalho na sonorização de Ricardo Marui, velho conhecido do nosso meio. No programa, peças mais recentes do maestro – incluindo La Danza Impossible para Orquestra de Cuerdas y dos Percusiones, de 2002, inspirada nas paisagens e na cultura brasileira – e orquestrações de temas conhecidos dos Beatles, que carinhosamente foram chamados de ‘muy latinos’ por Leo Brouwer. Na hora do bis, Brouwer entrou com o violão em punho, o que causou frisson no público que lotou o auditório, pois, como se sabe, o compositor teve um distúrbio neurológico comprometedor dos movimentos chamado distonia focal. O maestro, é claro, não tocou. Victor Pellegrini voltou pelo menos quatro vezes apresentando peças solo, rompendo o protocolo. Foram mais de duas horas de espetáculo – incluindo a gordurinha do bis e o tempo de intervalo – e o público se manteve ali, até o último momento. Ainda houve participações ilustres no evento, como Egberto Gismonti, Odair Assad, Paul Galbraith, o quarteto de violões EntreQuatre, entre outros. Um recital muito especial foi o que contou com a presença de Ivan Vilela, Ulisses Rocha e Mario Ulloa, por inserir o violão brasileiro e a nossa viola caipira na roda musical de Leo Brouwer.
ESPECIAL
Na foto, Raphael usa um violĂŁo Ramirez de seis cordas, mas ĂŠ lembrado principalmente por seu trabalho com o 'sete cordas'
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Genialidade no
choro por Itamar Dantas
Raphael Rabello é um dos ícones do violão de sete cordas brasileiro. Conviveu, durante sua vida, com vários dos principais músicos que escreveram e, ainda hoje, compõem a história do chorinho e da música popular brasileira. Dentre suas principais influências estão Dino 7 Cordas e Baden Powell. Quando descobriu a música flamenca, mergulhou no trabalho de diversos guitarristas espanhóis, guiado por seu amigo Paco de Lucia. O músico morreu em 1995, aos 32 anos, mas deixou sua marca na história do violão brasileiro e mundial. Gravou acompanhando com seu violão inumeráveis discos da MPB e ajudou a difundir violonistas importantes por meio de suas interpretações, como o paraguaio Agustín Barrios e o paulistano Garoto
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ESPECIAL
R
aphael Rabello nasceu em 31 de outubro de 1962 em uma família com vocação musical. Do lado do pai, muitos músicos amadores. E pela parte da mãe, era parente do repentista e poeta nordestino Otacílio Batista. O pai de sua mãe morava com ele e era grande admirador de música popular e erudita, além de tocar violão muito bem. Com sua influência, oito dos nove netos aprenderam algum instrumento musical. Ao se aposentar, o avô ficava por horas e horas, todos os dias, ouvindo música, transmitindo aos netos essa cultura. Enquanto todos os irmãos já estavam aprendendo música, Raphael, o caçula, pegava o violão escondido e ia estudando sozinho, sem deixar que o vissem. Certo dia, com 6 ou 7 anos, em uma reunião de família, o garoto apareceu para todos tocando O Brejeiro, de Ernesto Nazareth, sem que ninguém soubesse que ele já havia pegado no instrumento. Uma das irmãs de Raphael, Amélia Rabello, namorava o violonista Rick Ventura, que, ao perceber o talento do garoto, começou a dar dicas para ele, que ainda era pequeno para o violão, fazendo-o se desenvolver e adaptar ao instrumento. Raphael e a outra irmã, Luciana, começaram a tocar junto aos discos da família, como se estivessem em uma roda de choro. E se desenvolveram muito dessa forma. Nessa época, um amigo os levou à casa do bandolinista Afonso Machado, o Galo Preto, onde eles descobriram que havia outras pessoas da mesma idade interessadas por música brasileira. “Até então parecíamos ETs na escola, porque ninguém se interessava pelo que a gente gostava. A gente não tinha ambiente”, conta Luciana Rabello.
A VIDA PROFISSIONAL
A partir daí, surgiu a ideia de montar o grupo Os Carioquinhas, que logo viria a lançar seu primeiro trabalho: Os Carioquinhas no Choro, primeiro disco da vida de Raphael. Nos estúdios de gravação, a banda conheceu o pianista e compositor Radamés Gnatalli e o flautista Nicolino Copia, o Copinha. “O Copinha nos influenciou muito a estudar música. Ele sempre falava pra gente desenvolver a leitura e a escrita”, conta Luciana. A mãe de Raphael estava procurando um professor para o garoto e Déo Rian, bandolinista que substituiu Jacob do Ban-
Luciana Rabello Grande cavaquinista do choro brasileiro. Curiosamente, começou a tocar cavaquinho por influência de Raphael. A Lygia Santos, filha do Donga, viu Os Carioquinhas tocando e ficou muito emocionada. E ela deu uma oportunidade de trabalho para a meninada. Segundo a própria Luciana Rabello, “havia um projeto na prefeitura do Rio de Janeiro que se chamava ‘Palco sobre Rodas’, e a Lygia apresentou os garotos para o secretário de Cultura, que fez uma piada, dizendo que o grupo era muito bom, mas que faltava um cavaquinho. E o Raphael, prontamente, disse: ‘Mas nós temos um cavaquinho. Ela toca’” (apontando para Luciana Rabello). Foi assim que a irmã Luciana, que hoje é referência no instrumento, passou a tocar cavaquinho.
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Escola de Choro Raphael Rabello Criada em 1998 por Henrique Filho, o Reco do Bandolim, a Escola de Choro Raphael Rabello está localizada em Brasília e é a primeira do gênero no Brasil. Foi criada com o objetivo de dar a instrumentistas nacionais uma formação musical baseada na música popular aos moldes da escola norte-americana de Berkeley, que tem seu ensino com foco no jazz. Segundo o próprio Reco do Bandolim, Raphael foi homenageado “porque a escola era uma causa que ele abraçou com entusiasmo desde o início. Morreu, porém, sem vê-la realizada. Além disso, por ser um músico que abraçou o choro muito jovem, tirou do gênero aquele estigma de coisa velha. Queríamos a Escola de Choro como uma instituição contemporânea, capaz de atrair o público jovem. E Raphael personificava essa adesão bem-sucedida de um jovem a uma linguagem musical eterna”.
dolim no conjunto Época de Ouro, viu Rabello tocando e disse para ele procurar o Jayme Florence (conhecido como Meira) para ser seu professor. Ele já tinha dado aulas para alguns dos violonistas mais importantes da música brasileira, como Baden Powell, João de Aquino e Maurício Carrilho. Segundo Raphael Rabello, em um programa especial para a TV Cultura, na primeira aula com o Meira ele já aprendeu o Choro da Saudade, de Agustín Barrios, músico que se tornaria referência para Raphael por suas interpretações.
CAMERATA CARIOCA
Dois anos depois do lançamento do primeiro disco, o músico Joel Nascimento propõe a Raphael um estudo sobre a suíte Retratos, que Radamés Gnatalli havia feito para bandolim e orquestra. “No início não era nada. Eram apenas alguns amigos executando uma peça. Mas depois de um tempo, o Joel convidou a gente para tocar na festa de aniversário do Radamés, para mostrar para ele como estava se desenvolvendo a peça. Os garotos tocaram um dos movi-
mentos para o Radamés, que ficou muito empolgado. Então, o Hermínio Bello de Carvalho propôs fazer um disco e um show com aquele repertório”, revela Luciana. Nascia ali o grupo Camerata Carioca. Junto a Radamés Gnatalli, realizaram um show em homenagem aos dez anos da morte de Jacob do Bandolim e gravaram o disco Camerata Carioca e Radamés Gnatalli. No repertório, a suíte Retratos e muitas composições do Jacob para homenageá-lo. A partir daí, o garoto Raphael deslanchou e gravou inúmeros discos. Tantos que não se tem notícia. Raphael Rabello tinha uma característica que o fazia ser muito solicitado para gravações de estúdio: ele fazia as gravações de primeira. “Como os músicos eram pagos pelo período que ficavam no estúdio, ele costumava entrar para gravar o violão de um disco inteiro”, conta a irmã Luciana. Ainda segundo ela, até 1983 ele teria contabilizado mais de 600 discos como acompanhante. Desde então, não se tem mais registros.
O ACIDENTE
Em 1989, Raphael sofreu um terrível acidente de carro. O táxi em que estava ultrapassou o sinal vermelho no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Outro carro vinha na rua transversal. A colisão foi inevitável. E bateu bem do lado em que Raphael estava sentado. Seu braço direito foi estraçalhado. De acordo com a irmã, Raphael foi levado ao Hospital Público Miguel Couto, onde acordou ouvindo a seguinte frase: “Não vai ter jeito, vamos precisar amputar o braço”. Na hora ele se levantou, chamou a família e foi transferido para o Hospital Samaritano, também no Rio de Janeiro. Lá, a esperança se renovou. O médico que o atendeu, doutor Godinho, fez uma cirurgia em seu braço e afirmou que dentro de um ano ele poderia voltar a tocar normalmente. Mas, com seu ímpeto já conhecido, em 60 dias ele já estava fazendo shows com a cantora Elizeth Cardoso. “Ele tirava a proteção do braço e tocava. Sentia bastante dor, mas mantinha o ritmo”, afirma Luciana. Dois anos depois, durante uma consulta para fazer dieta, foi detectado em seu sangue o vírus HIV, atribuído à transfusão feita após o acidente. “Os médicos lhe diziam que o vírus transfusional que contraíra, de natureza híbrida, não se desenvolveria, como não se desenvolveu, mas ele não acreditava”, diz o amigo Henrique Filho, o Reco do Bandolim.
O MEDO DA MORTE
Raphael havia trabalhado com Ney Matogrosso no disco À Flor da Pele no final da década de 1980 e acompanhou de perto a doença de Cazuza. Sendo assim, ficou com medo de morrer antes de consolidar sua obra. Achava que não havia produzido o suficiente até então, e passou a dormir o mínimo possível para trabalhar. “Ele passou a não dormir. E, para isso,
“Ele passou a ser um dos pilares do violão. Assim como você tem o Baden Powell ou João Pernambuco, ele virou referência pra todo garoto que começa a tocar violão.” Turíbio Santos Amigos de Rabello Os artistas e compositores que Raphael conheceu ao longo da vida tiveram grande influência em seu desenvolvimento musical. Conheça alguns personagens importantes dessa história:
AGUSTÍN BARRIOS Importante violonista paraguaio. Considerado por muitos um dos maiores compositores para o violão de todos os tempos. Raphael Rabello era especialista no seu repertório.
OTACÍLIO BATISTA Poeta repentista, nasceu em 26 de setembro de 1923, na Vila Umburanas, São José do Egito, sertão pernambucano do Alto Pajeú. Figura importantíssima da cultura nordestina. Publicou diversos folhetos de cordel e ganhou vários festivais de cantadores pelo Brasil.
AFONSO MACHADO (GALO PRETO) Carioca, nascido em 3 de maio de 1954. O bandolinista é integrante e fundador do conjunto Galo Preto e da Orquestra de Cordas Brasileiras. RADAMÉS GNATALLI Grande pianista, arranjador e compositor brasileiro. Trabalhou por vários anos nas principais rádios do Rio de Janeiro. Seus principais trabalhos na música brasileira foram com o chorinho.
COPINHA (NICOLINO COPIA) Flautista de samba e choro. Participou de importantes gravações da música popular brasileira, como Chega de Saudade, no disco de João Gilberto.
DÉO RIAN Bandolinista carioca que substituiu Jacob do Bandolim no conjunto Época de Ouro. Chegou a gravar um CD com Raphael Rabello com repertório de músicas clássicas em 1993.
HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO Compositor, produtor musical e poeta brasileiro. É considerado um dos maiores conhecedores da música popular brasileira. Dentre vários discos que produziu está o disco Todo o Sentimento,, de Elizeth Cardoso e Raphael Rabello.
RECO DO BANDOLIM Músico baiano, residente em Brasília desde 1963. Fundou o Clube do Choro de Brasília em 1978 e a Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, em 1998. Conheceu Raphael ainda na década de 1970. PACO DE LUCIA Violonista espanhol de música flamenca. Em 2004, foi distinguido com o Prêmio Príncipe das Astúrias, por ser um músico que transcendeu fronteiras e estilos.
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ESPECIAL
Discografia selecionada Os Carioquinhas no Choro (1977) Disco de estreia do músico juntamente com sua irmã Luciana Rabello e outros amigos.
Tributo a Garoto (1982) Junto a Radamés Gnatalli, músico que influenciou diretamente sua carreira, Raphael Rabello interpreta o repertório do violonista paulistano Garoto. Todos os Tons (1992) Disco tributo a Tom Jobim. Gravado com participações do próprio Tom Jobim, Paco de Lucia, Jacques Morelenbaum e do contrabaixista Nico Assumpção.
Todas as Canções (2001) Disco lançado postumamente, em 2001. É fruto de remasterizações de uma gravação em fita cassete de um show de Raphael com a irmã Amélia Rabello.
Cry my Guitar (gravado em 1994/lançado em 2006) Disco gravado no período em que Raphael estava nos Estados Unidos. Dentre as músicas, algumas composições próprias dele. Destaque para a música Meu Avô.
começou a usar cocaína e anfetaminas para conseguir produzir mais do que podia fisicamente”, revela a irmã Luciana. Segundo Reco do Bandolim, Raphael queria deixar um acervo que pudesse resultar em discos, um legado às suas duas filhas menores, Diana e Rachel. E realmente o fez. “O material
disponível daria alguns CDs, que até hoje não foram lançados em função de divergências judiciais das duas ex-mulheres quanto à divisão dos direitos sobre a obra”, informa o amigo. Nos últimos anos de vida, o músico assumiu uma dicção espanholada em seu violão, mesclando essa influência ao choro brasileiro. Os resultados foram impressionantes! Em 1994, viajou para os Estados Unidos a trabalho e se afastou um pouco das drogas. Lá, gravou um dos discos mais importantes de sua carreira, o Cry my Guitar (1994), em que figuram algumas de suas poucas composições gravadas (veja quadro ao lado). Em retorno ao Brasil, voltou ao vício e, depois de algum tempo, foi internado para recuperação. Raphael morreu no dia 27 de abril de 1995 com uma crise de apneia, doença que o acompanhava desde criança, caracterizada pela interrupção da respiração durante o sono. Ele estava internado e era frequentemente sedado por conta das crises de abstinência das drogas. Quando a apneia o atacou, estava sob efeito de calmantes e não conseguiu voltar a respirar. Ele tinha 32 anos e, apesar de portar o vírus HIV, a doença não se manifestou. A vida de Raphael Rabello mostra uma personalidade que amou a música acima de todos os limites, inclusive dos próprios. E, por isso, suas interpretações de grandes clássicos do violão se mantêm vivas na história da música brasileira e do violão mundial.
7 Cordas (Introdução) Raphael Rabello – Transcrição Pedro Paes
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CAPA
Deixe o preconceito de lado e dê um upgrade no seu som. Saiba como explorar novos timbres no seu violão e como os recursos eletrônicos podem facilitar a sua vida!
Monte o seu por Mr. Japys
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u
Q
uerer extrair o melhor do nosso instrumento é uma característica de qualquer violonista. O ouvido criterioso, muitas vezes, está condicionado a um padrão preestabelecido por grandes nomes do passado. E é exatamente por conta desses mitos que, geralmente, o violonista não se dá o direito de utilizar recursos eletrônicos que podem resolver muitos problemas no palco e adicionar texturas especiais ao seu som. Nesta matéria, vamos elucidar ao máximo as questões relacionadas ao tema, porém, deixando de lado a parte técnica e pensando em utilizações práticas e musicais dos efeitos. O que nós conhecemos hoje por efeitos são soluções criadas de três maneiras: Necessidades de gravação: tinham o intuito de melhorar a qualidade da gravação, reduzir distorção, retirar ou compensar alguma frequência ou adicionar algo para destacar um trecho ou toda uma gravação. Acidentes: situações em que o efeito aconteceu sem intenção e foi domado para utilização frequente. Necessidades dos artistas: junção dos fatores acima com outros experimentos que se tornaram ferramentas para que eles tivessem seus sons peculiares pelos quais são reconhecidos a cada vez que são ouvidos.
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setup! 23
CAPA
TIPOS DE EFEITOS
Para controlar qualquer efeito é necessário entender para que serve e como atua cada controle (parâmetro) do equipamento
Line 6 DL4: ecos que enriquecem ritmos, harmonizações e dobras de solos
REVERB. O efeito mais conhecido e utilizado por todos os tipos de músicos. Ele simula a reverberação de ambientes de vários tamanhos, fazendo com que o som do seu instrumento respire e ganhe profundidade como se realmente estivesse no ambiente simulado (corredor, sala pequena, sala grande, catedral, caverna etc.). É comum utilizá-lo apenas como toque final, sem exageros, mas, caso deseje experimentar e queira que ele seja realmente notado, intensificar sua ação pode trazer uma expansão sonora como se você estivesse tocando dentro de um sonho. Os parâmetros mais comuns desse efeito são: Mix – possibilita que se aplique mais ou menos do reverb escolhido ao som direto. Time – controla o tempo de reverberação do som. Tone – equaliza apenas o som do reverb, deixando-o mais agudo e brilhante ou sem agudos e fechado. Alguns reverbs têm outros parâmetros como decay – que controla a forma como o reverb se extingue – e controle de modulação aplicada ao reverb (chorus, fl anger etc.), além dos inúmeros tipos de modos e simulações de reverbs clássicos ou famosos.
Hardwire RV-7: cria ambiências para o seu som
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DELAY. Algumas pessoas o confundem com o reverb inicialmente, porém, são totalmente diferentes. Basta ligarmos o efeito para entendê-lo. É usado, entre outras funções mais musicais, para simular ecos de ambientes de vários tamanhos. Mas isso é só o começo. Utilizando suas repetições com mais volume e tempo adequado ao andamento da música, é possível criar ritmos, harmonizações e dobras de solos ricas e consistentes de maneira instantânea. Repetições rápidas – conhecidas como slapback – são interessantes para frases rítmicas simples e aceleradas, remetendo a músicas dos anos 1950 e 1960, porém, com fácil aplicação em outros estilos, apenas dependendo da criatividade do músico. Comece a tocar alguma coisa no seu violão com delay ligado e deixe-o te levar para novas possibilidades. É algo altamente inspirador. Os parâmetros mais comuns desse efeito são: Mix – também chamado de blend e effect level. Possibilita que se aplique mais ou menos delay ao som direto. Pode-se extinguir o som direto deixando apenas o delay – muito usado em delay reverso. Time – consiste no tempo de cada repetição. Os tempos mínimo e máximo variam de pedal para pedal. Entre 50 ms até 1 segundo costuma ser suficiente. Feedback – controla a quantidade de repetições. Deixar o feedback alto e mexer aos poucos no controle de tempo cria sons espaciais e experimentais. Alguns pedais têm a função looper, que permite a gravação de uma base musical com várias camadas e que se repete pelo tempo que o músico necessitar, tornando-o uma banda de um homem só. Existem alguns tipos de delay: digital, analógico e de fita. Não existe melhor ou pior, mas o que se encaixa no seu estilo ou não. Busque testar os vários tipos e veja qual mais o agrada e, independente disso, com o nível das simulações que possuímos hoje em dia, é possível ter todos eles juntos.
COMPRESSOR. Atua, basicamente, nivelando o som, evitando que ele ‘estoure’ quando tocamos algum acorde com muito volume ou que o som suma quando diminuímos muito a dinâmica. Muitos músicos acham que essa limitação da dinâmica sonora não é benéfica, mas, na verdade, ela permite que você seja mais expressivo enquanto toca, pois manterá seu foco na música e em sua execução, e não em se seu público está tendo alguma dificuldade em ouvi-lo ou se retorcendo ao ouvir alguma distorção ou volume extremo repentino no seu som. A dinâmica ainda estará ali, na sua mão, mas será menos violenta para o ouvinte. Faz também com que haja mais equilíbrio quando tocamos em grupo. Porém, ele é muito mais útil do que isso. Existem compressores que apenas limitam a ação máxima do som, evitando que o som distorça mas garantindo que haja maior dinâmica, pois não atua em volumes baixos. São os chamados limiters. Há outros chamados sustainers que, além, de comprimir níveis altos e baixos, centralizando a dinâmica, aumentam a sustentação das notas deixando-as soar por mais tempo, transformando o violão – que costuma ser um instrumento de notas com ataque forte e sustentação baixa – em algo novo. Apesar de tudo o que foi descrito, o compressor é um efeito sutil, nem sempre fácil de se perceber, pois não altera o timbre em grande parte de seu uso, e é aí que está sua utilidade: expandir as possibilidades timbrísticas e musicais de um instrumento que já é tão rico como o violão. Há ainda maneiras de fazêlo caracterizar seu som, deixar o ataque bem estalado, ampliar ou diminuir o brilho das cordas etc. Os parâmetros mais comuns desse efeito são: Attack – é o controle mais importante do compressor. Ele define a velocidade em que o compressor irá começar a atuar. Se muito rápido, o som ficará estalado. Se muito lento, o som será comprimido aos poucos, não evitando alguma distorção repentina do ataque da nota. Se nenhuma dessas reações for desejada, é melhor colocar este controle em um ponto intermediário. Sustain – é a quantidade de tempo que a nota será sustentada. Exagerar neste parâmetro pode gerar ruídos, pois, à medida que o volume do instrumento cai naturalmente, o compressor tenta manter o volume exigido para a sustentação da nota e acaba trazendo junto ruídos de captação, rede elétrica e até sinais de rádio. Level – usado para corrigir o volume final do sinal após passar pelo efeito, ou seja, deve-se ajustar este controle para manter o volume do som com efeito comparado com o volume sem efeito – a não ser que um aumento de volume (boost) seja a intenção. Tone – ajusta a equalização, dando brilho ou abafando o som. Alguns compressores mais completos têm outros parâmetros como: Threshold – é o volume máximo que o som pode alcançar antes de o compressor ser acionado (gatilho). Assim que
o sinal passar desse volume, o compressor entrará em ação ajustando a dinâmica sonora. Ratio – é o controle da compressão em si, o quanto o sinal será comprimido após ultrapassar o nível do threshold. Normalmente ele já é preestabelecido ou está conjugado com o controle de sustain, e esse é um dos fatores que caracterizam os equipamentos mais simples, porém mais famosos. Funciona comprimindo a diferença do sinal de entrada e do threshold em razão do sinal de saída, por exemplo, 2:1 (dois para um) significa que o volume dessa diferença será dividido pela metade. É aqui que encontramos o controle de dinâmica citado acima. Release – É o ‘attack de saída’, ou seja, a velocidade em que a compressão demorará em parar de agir após o volume ter baixado do limite do threshold e o tempo do sustain ter sido ultrapassado.
Boss CS-3: compressor garante mais expressão enquanto o violonista toca
Energia Os efeitos são alimentados por energia elétrica. Cada um pode ter sua fonte separada ou ser alimentado por bateria, porém, quanto mais fontes, mais possíveis ruídos provenientes da rede elétrica e, quanto mais baterias, menos cachê sobra para você. A melhor maneira de alimentar seus efeitos é com uma fonte única, poderosa, estabilizada e com várias saídas. Para escolher uma fonte adequada, some o consumo individual de cada pedal (em mAh, fornecido no manual) e multiplique o resultado por 2. Assim, obterá um resultado seguro para escolher uma fonte apropriada e evitar falhas de funcionamento e ruídos gerais.
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CAPA EQUALIZADOR. Este efeito é básico e muito útil para três coisas: corrigir alguma deficiência de equalização do ambiente, corrigir a equalização do seu sinal e (des)caracterizar seu instrumento em algo diferente do normal. Existem dois tipos mais comuns de equalizadores: o gráfico e o paramétrico. O gráfico age individualmente em frequências preestabelecidas aumentando ou cortando ganho dessas regiões, criando uma máscara para o som que destaca algumas partes e encobre outras conforme a regulagem. Hoje em dia, os mais comuns alteram sete ou dez frequências diferentes, mas há equalizadores gráficos de até 31 bandas. Já com o equalizador paramétrico é possível escolher a frequência a ser trabalhada, ajustar seu fator ‘Q’ – que nada mais é do que o alcance de frequências vizinhas, para mais e para menos, em torno da frequência central escolhida e que também serão alteradas, mas em menor proporção – e qual o valor de alteração desta frequência. Um equalizador paramétrico pode ter várias bandas com alcances diferentes (baixo, médio-grave, médio-agudo, agudo etc.) e, para cada banda, os três controles descritos (selecionador de frequência, Q e ganho). Além dos controles que atuam em cada banda, é comum encontrar equipamentos com pré-ganho, que ajusta o som antes de ser equalizado para evitar distorções não desejadas causadas pela equalização, e pós-ganho, que ajusta o volume de saída do aparelho.
Boss GE-7: equalizador sete bandas para garantir melhor equilíbrio de frequências
MODULAÇÕES. São efeitos que trabalham com divisão de sinais e provocam entre eles diferença de afinação e/ou delay muito curto, causando sons cíclicos. São exemplos o chorus, o flanger e o phaser. Existem outros tipos de modulação, aliás, a maior quantidade de efeitos limpos diferentes são as modulações. Esses efeitos adicionam novas cores ao seu som, trazendo beleza, profundidade, mistério e qualquer outro adjetivo que você buscar. Do toque mais sutil e lento ao mais acelerado e profundo, há possibilidades musicais incríveis. Procure conhecêBoss BF-3: tempero sutil a texturas las para saber quais agrapsicodélicas no violão dam mais e adicione à sua música em alguma parte especial ou crie seu som básico com eles. Os parâmetros mais comuns desses efeitos são: Rate – controla o ciclo do efeito, de ultralento a ultrarrápido. Depth – controla a profundidade e a quantidade do efeito, aumentando a sensação de tridimensionalidade do som. Intensidade – resonance, regeneration, feedback... Há alguns nomes para esse controle. Basicamente, destaca ainda mais o efeito, intensificando suas características ao irreconhecível. Para um som básico, esse parâmetro é deixado sempre com regulagens sutis.
Hardwire CR-7: mais corpo e novas texturas para o som do seu violão 26
WAH WAH. O mais famoso efeito usado por guitarristas ainda é pouco usado por violonistas e é mais uma arma interessante de timbragem e destaque sonoro. Trata-se de um filtro de frequências que se controla com o pé, desde um som muito fechado e sem agudos até um som bem estridente e sem graves. Junto à possibilidade de ficar alterando ritmicamente o efeito para ter o som que dá nome a ele (uá-uá), também pode ser usado de forma estática para timbrar o instrumento de maneiras diferentes, conforme a posição da sapata que controla o efeito.
OVERDRIVE. Não se assuste. É possível usar overdrives sem distorcer o som, porém, gerando boost de volume, compressão e equalização diferentes. O que importa aqui é encontrar um pedal que tenha pouco ganho, bastante volume de saída e uma seção de equalização de qualidade. Os parâmetros mais comuns desse efeito são: Drive – onde é gerada a distorção. Deixe sempre no 0 ou muito perto disso. Se testar um pedal em que nessa posição já gere alguma distorção, deixe-o de lado. Pedais como o Boss SD-1 e BD-2, MXR GT-OD e DigiTech Bad Monkey são ótimos para essa função de booster. Tone – equaliza o som. Level – é o volume. O importante é verificar se, mesmo com o drive no 0, o som pode manterse ou superar o volume do efeito desligado, também sem gerar distorção alguma.
Morley Bad Horsie 2: um dos mais populares
Cabos Cabos com núcleo grosso e encapados de maneira resistente, ótimos plugs e solda bem-feita são os ideais, independente da marca. Caso você tenha alguma habilidade com alicates e soldas, pode montar os seus de maneira satisfatória. Caso use cabos sem solda, certifique-se de que estão cortados de maneira perfeita para o encaixe do plug, conforme indicações do fabricante, e evite movimentos bruscos, puxões e qualquer movimento maior que possa fazê-los sair do lugar. Aliás, com ou sem solda, não trate seus cabos como corda de tração. Enrole-os de maneira circular, como vêm na embalagem, e a vida útil deles será grande. Quanto ao tamanho dos cabos, use a menor quantidade possível e que não atrapalhe sua performance. Quanto maior o comprimento do cabo, maior a possível interferência negativa em algumas frequências. Se você anda muito no palco, use cabo de até 6 metros, mas se fica estático, use um de até 3 metros para ligar ao primeiro equipamento da sua cadeia de sinal. Esse é um tamanho que não te deixa preso e o sinal mantém-se bom. Do seu último efeito até o amplificador ou mesa dependerá do tamanho do palco, mas tenha em mente a ‘lei do menor cabo’. Se o palco for exageradamente grande, use um Direct Box ao final do seu equipamento, microfone ou amplificador, se for o caso. Entre os pedais, use cabos bem pequenos (o padrão é 15 cm) com plugs angulados para facilitar o manuseio e o encaixe. Organizá-los em pedalboards facilita a montagem e o transporte.
Boss SD1 e Digitech Bad Monkey: boas opções do mercado
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CAPA Boss AD-8: timbres de violões conhecidos ao alcance dos seus pés
MULTIEFEITOS. Juntar tudo isso dito até agora em um único aparelho pode ser prático para muitos músicos. Evita que se leve muito peso e reduz o tamanho total do equipamento. Além disso, os bons multiefeitos trazem ferramentas exclusivas para violonistas como sistemas antimicrofonia e antirruído, entrada e saída balanceadas, simuladores de instrumentos etc. Há quem diga que a qualidade de efeitos independentes é maior que a de multiefeitos, pois os últimos tendem a ser 100% digitais. Mas, hoje em dia, isso não é uma verdade absoluta. A tecnologia e o tempo gasto no desenvolvimento dos multiefeitos têm gerado equipamentos de qualidade altíssima e preço justo. Vale a pena testá-los e verificar sua qualidade e praticidade, principalmente quando não se conhecem os efeitos de forma individual e suas possibilidades. Pode ser o início de um grande aprendizado – e uma grande paixão e coleção – ou pode ser que você descubra que não precisa de nada mais além de um reverb simples.
Zoom A2.1u e t.c.electronic G natural acoustic guitar: praticidade na hora da montagem
Montando o setup O mais interessante de se usar efeitos é que todos podem ser combinados para chegar a um som que temos em mente ou para a obtenção de resultados cada vez mais individuais. Mas em qual ordem ligá-los? Qual fica antes ou depois e por quê? A regra é: não há regras. Se você obtém um som que te agrada colocando o reverb logo depois do violão e em sequência um compressor com sustain no talo, quem pode falar que está errado? Não existe errado se o som atende às suas expectativas. Porém, inicialmente, podem-se utilizar sequências já conhecidas e testadas ao extremo e que trarão resultados mais comuns e ao mesmo tempo muito musicais. Nesse caso, utilizando apenas os efeitos citados acima e de maneira mais tradicional para uso com violão, colocando-os em ordem do instrumento para o amp ou mixer, a ordem pode ser: 1 WAH WAH – é interessante manter este filtro no início da cadeia de sinal, pois ele reage de maneira mais limpa e menos exagerada quando recebe o sinal direito do instrumento. Teria efeito parecido se colocado depois do compressor, se o mesmo fosse um limiter com ajustes leves. 2 COMPRESSOR – após os filtros, deve estar o mais próximo possível do instrumento para aplicar o efeito sem alterar o timbre. 3 EQUALIZADOR – dependendo do seu uso, pode ficar em qualquer posição. Aqui, serve para ajustar a timbragem do som do instrumento. 4 OVERDRIVE – utilizando-o como boost, depois de timbrar o som básico com os outros efeitos, deve ficar antes dos efeitos que alteram o sinal em maior grau. Depois do compressor, evita ainda mais que distorça e aja realmente como esperado. Poderia ficar, também, no final da cadeia, enfatizando alguma característica das modulações e ambiências, ao mesmo tempo que pode deixar as modulações mais sutis e as ambiências bem mais evidentes.
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5 MODULAÇÕES – como dividem o sinal e alteram essas divisões, também devem ficar após a timbragem básica do instrumento. Porém, como dito, colocadas antes ou depois de overdrives, têm seu resultado alterado. 6 DELAY – costuma ser a primeira ambiência, pois a reverberação costuma ser o último som ouvido, mesmo após a última repetição de eco em qualquer ambiente grande. As ambiências vão, aqui, por último para finalizar o som do instrumento. Porém, colocar alguma ambiência leve, como um chorus, após o delay também é interessante. 7 REVERB – o toque final. Tome cuidado com os níveis de volume individuais dos efeitos. A melhor maneira de equilibrá-los é desligando todos eles, ligar um a um e comparar com o som seco do instrumento. Há outras opções de efeitos como oitavadores, harmonizadores, filtros e modulações de vários tipos, tremolos e slicers, sintetizadores etc. Pesquise e busque novidades. Sempre há lançamentos e algo que pode ser adicionado ao seu som de maneira musical e inteligente. Nunca compre um equipamento sem testá-lo e sem realmente precisar dele. Assim que descobrir um efeito novo, pesquise mais sobre ele e vá testá-lo. Caso descubra que tem uma necessidade sonora diferente, vá atrás de algo que a resolva de maneira objetiva. Uma pedaleira cheia de efeitos pode consumir muito dinheiro. Ter um monte de pedaizinhos coloridos, pesados e caros apenas para enfeite e sem função musical alguma pode não ser muito inteligente. Considere-os um investimento para seu som, assim como compor é um investimento para sua música e carreira.
ENTREVISTA
Ação! Victor Biglione ensina o que se deve fazer para trabalhar com trilhas sonoras e acompanhar artistas
C
onsiderado um dos grandes guitarristas da atualidade, Victor Biglione diz que o violão de aço sempre esteve ao seu lado. Em seu currículo, participações em grandes festivais de música – como Montreux Jazz e Free Jazz –, premiadas trilhas sonoras e indicações para importantes prêmios de música. Quem ouve Biglione não acredita que o músico nasceu na Argentina. De alma carioca, criado em Copacabana e orgulhoso das coisas do Brasil, diz que só vai para a Argentina por compromissos profissionais. É um dos guitarristas estrangeiros que mais contribuiu para a música brasileira e, por essa razão, em 2010 tem sua trajetória profissional publicada por Ricardo Cravo Albin. Confira o bate-papo que Victor Biglione teve com a Violão PRO. Com quem você estudou? Comecei a estudar violão aos 12 anos com um professor particular. Quando o negócio ficou sério, passei a estudar com um cara chamado Gaetano Galiffi, que foi professor do Frejat, do Celso Blues Boy (mais voltado para guitarra). Ao mesmo tempo, estudava um pouco de clássico com Nicanor Teixeira. O que você estudou com ele?! Todo o Tarrega! (risos) Depois estudei com um bossa-novista chamado Arthur Verocai e ingressei na área de harmonia de jazz com Ari Piazzarollo... Comprei o método do Paulinho Nogueira. Então fui para a melhor escola que já tive: o
O que Biglione usa: TAYLOR 454CE E 514C : “Os dois são modelos cutaway. Sempre preciso dessa parte.”
AURA ACOUSTIC IMAGING : “Para ele não ficar com som de linha, a Fishman fez esse lance que é um simulador. São 15 tipos de microfonação que você pode variar. No violão eu uso isto: um reverb da Alesis e o Aura. Ficar microfonando com pedestal, microfone na boca, aquele equipamento todo é necessário, mas você acaba tocando todo tenso, todo duro... Esse aparelhinho veio para salvar!”
BOSS DD7: “Tem milhares de músicas que eu toco, depois gravo 40 segundos de base e toco em cima. Ele tem uma reprodução fantástica!”
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“O que interessa é o som”
"Biglione gravou e tocou com mais de 250 nomes de nossa música"
Clam, a escola do Zimbo Trio. Foi aí que tive a formação completa mesmo. Estudava muito, comprava muitos livros, muitos métodos. Não tinha esse negócio de videoaula, graças a Deus, porque isso tira muito a personalidade do músico. Tem de ter muito cuidado com isso. Fica todo mundo igual. Parece que os músicos saem em série. Mas qual a razão disso? Naquela época você tinha o livro, tinha de tirar as coisas ouvindo, não copiava. Então, no processo de tirar, você adaptava do seu jeito. Esse tipo de coisa ajudava a criar a sua personalidade artística. A videoaula é um perigo! Mas graças a Deus eu não peguei! Voltando ao Clam... Os métodos do Clam eram sensacionais! Os caras estavam em uma fase ótima! Isso foi em 1976, eu tinha 18 anos. Depois disso, passei um verão na Berklee, que foi o que a minha mãe podia pagar na época. Hoje o curso é mais caro, mas você não precisa ir mais para lá! Tem muita gente ensinando por aqui. E como você entrou no mercado de trabalho? Minha mãe me expulsou de casa. Pois é, não sou filho de comunista! Ela nunca deu mole! Comecei a tocar aos 20 anos com
a Zezé Motta e nunca mais parei. Nunca fui aquele guitarrista de apartamento, nem violonista de apartamento. Violonista de apartamento? Você sabe como é: aquele cara que acorda, ajeita a bunda ali na cama e a mãe traz um cafezinho... Lá no quarto, ele toca muito! Você o tira dali, ele não toca nada! Troca o lençol, ele já se incomoda. (risos gerais) Verdade! Pois é! O som está ruim? Não tem tal coisa? Não estou me escutando... Não tem essa não, pô! Justamente por não ser violonista de apartamento acabei sendo visto, sendo chamado para tocar. Fui chamado desde cedo pelo Marcio Montarroyos. Que idade você tinha? Vinte e um anos. Não era do conjunto, mas eu já estava mordendo a canela – por conta da minha formação jazzística – do Sergio Dias, dos Mutantes, que era o guitarrista ‘titular’. Aprendi demais com o Sergio, uma escola nova. Eu vivia nos ensaios, o Marcio começou a me colocar nos shows e me chamou para a primeira gravação ‘séria’, que fiz em 1977 com o Luiz Melodia. O Melodia chamou o Marcio, e o Marcio me levou. Acabei gravando com o Melodia e a Black Rio toda. 31
ENTREVISTA Que legal! Foi um barato! A Black Rio completa. Ninguém tinha morrido... foi emocionante. A primeira gravação, o disco saiu com o meu nome. Então os produtores começaram a me chamar, e eu, muito jovem, comecei a tocar com a Gal Costa. Aos 22 anos já estava no lugar do Robertinho de Recife com a Gal. O Roberto Menescal me viu, era da Philips na época... Todo mundo estava lá! Gravei logo de cara o original do Bye Bye, Brasil do Chico Buarque em 1980. O Menescal me ajudou muito. De boca em boca eu entrei no mercado de gravação. Isso graças ao instrumental, que te expõe muito como instrumentista. Mas você toca violão com palheta. Alguma vez disseram algo como “tocar violão com palheta é heresia”? Eu sempre ouço! Acho palheta muito mais difícil que dedo. A coisa mais difícil na minha vida foi palhetar. Conheço pouquíssimos guitarristas que palhetam bem, que fazem qualquer coisa em qualquer andamento com palheta. Tive de estudar toda a minha musculatura, onde é que eu contraía, que tipo de palheta, que material. Até hoje uso diversos tipos de palheta. Uso palheta de Agatha. Às vezes corto a palheta para ela ficar mais curta ou mais longa. Cada uma tem uma função e se adapta melhor a determinado instrumento.
Genial! O que Villa escreveu para violão é absolutamente fabuloso! O mundo todo conhece! Tenho um trabalho com o Andy Summers, do Police, são dois CDs. Desde a primeira vez que fui à casa dele, em Los Angeles, ele ficou tocando todos esses estudos do Villa. Ele falou assim: “Desde que sou garoto, todo mundo na Inglaterra conhece isso”. A Bíblia de muita gente boa é isso aí, em termos de estudo, principalmente para desenvolver a técnica de mão direita. A exigência de mão direita é fabulosa. Dá para perceber que você é bem aberto a todo tipo de ‘escola’. Lógico! Não tenho preconceito e detesto qualquer coisa relacionada a pensamento intelectual, purista, “Oh, o violão! Você usa palheta”. Não interessa! O que interessa é o som! O John McLaughlin usa violão de náilon com palheta e é maravilhoso! E quanto à montagem de setup? Você precisa ser muito inteligente na hora de montar um setup. Precisa ser pouca coisa que resolva logo, pois armar aquela pedaleira cheia de coisas... puxa vida! Aquilo me quebra as pernas! Não tem a mínima condição! Amplificador eu nunca mais usei! É um negócio que eu olho assim, acho bonitinho, mas ‘tô fora’!
E como você explora recursos de abertura de vozes, dedilhados? Não lembro quem eu vi fazendo isso, mas fiquei fascinado. Acho que foi na Berklee. A técnica consiste em tocar com a palheta e os três dedos que sobram. Uso até hoje! Você faz um bloco, tipo do violão mesmo, sabe? Para explorar contraponto, arpejar... Isso foi um negócio que me custou, porque é difícil! Dá uma dimensão maior ao violão. E como o leitor poderia desenvolver essa técnica? Ele precisa domar o mindinho. Normalmente você toca com os outros dedos e o mindinho fica ali, de bobeira. São poucos os violonistas que também o utilizam. Geralmente o mindinho fica lá, esquecido. Tive de domar o meu mindinho, pois ele passou a ser o meu ‘anelar’. O polegar e o indicador ficam ocupados com a palheta, então o papel do indicador, médio e anelar passa a ser feito pelo médio, anelar e mindinho. O dedinho é meio ‘besteirão’! Pode botar isso para os clientes: o segredo é domar o mindinho! Qual seria o primeiro passo para isso? Você precisa se acostumar a utilizar a palheta geralmente na quinta e na sexta cordas e os três dedos restantes podem alternar na quarta, terceira e segunda, ou terceira, segunda e primeira. Esse tipo de exercício ajuda a acostumar a mão e acertar a mira! Essa história de dominar o mindinho lembrou uma coisa: existe uma lenda envolvendo Segovia e Villa-Lobos, em que o violonista espanhol informava ao compositor brasileiro que o dedo mínimo direito não era usado no violão clássico. Logo VillaLobos respondeu: “Ah! Não se usa? Então corta fora!” 32
“Eu nunca fui violonista de apartamento”
Mas você liga guitarra também em linha? Não! Peço um amplificador no local! Antigamente era difícil, mas hoje em dia você pede um [Fender] Twin, até num Roland eu consigo tocar. Tem um monte de opções no mercado. Você diz: “Eu quero um ampli”, e tem! Você se considera um cara muito chato em termos de timbre de instrumento? Gosto de um bom timbre, mas não sou um desses caras neuróticos. Não sou como esses guitarristas que levam três anos para gravar um solo! Tenho mais de 20 discos. Vou fazendo e fica cada dia melhor! Se achar que o seu disco vai mudar o mundo, acaba não fazendo nada! Minha dica é a seguinte: quando você acabou de gravar, mixou o seu disco, não o ouça! Você começa a achar só os defeitos, por isso não ouça durante seis meses, depois você ouve. Isso tudo para evitar a sensação de que se pode fazer melhor? É lógico! É normal do ser humano – e graças a Deus – acreditar que pode fazer melhor! Eu nem escuto. Mixou, masterizou? Tchau! Bumba! Gaveta! Por que ficar pensando naquela frase, naquela nota? Eu não entro nessa mesmo! Você é um músico premiado no cinema. Como combina as texturas? Como é feita a escolha dos instrumentos que irão compor a trilha sonora de um filme? Eu já me ferrei bastante no começo... Depois, aprendi logo! Trabalhar com cinema é assim: o cara tem um orçamento, então ele está pouco se importando se você vai para o estúdio e quanto gastou por lá. Imagine se você for para o estúdio, gravar, chamar dez músicos, apresentar o trabalho e o diretor falar: “Está lindo, mas não tem nada a ver com o meu filme”. Você gastou uma grana, pagou estúdio, músico, não sobrou nada para você e ainda não chegou no briefing do cara! O que fazer para evitar isso? Um cardápio de sonoridades! Você usou a palavra certa: textura! Não adianta criar uma melodia, o que ele vai aprovar ou não são sonoridades, texturas. Ele tem o filme na cabeça, então, se você mostrar sons para o diretor, um cardápio de sonoridades, ele vai identificando cada som e associando aos seus personagens. Preocupe-se com a sonoridade com que ele se identifica. E como é elaborado esse cardápio de sonoridades? Você grava o seu violão de 12, por exemplo, rapidinho! Pode ser até no seu home studio. Da mesma forma, você apresenta sons de percussão, cordas, piano, coisas eletrônicas, tudo! Quando tiver algumas dezenas de sonoridades de que o diretor gostou, a trilha está praticamente pronta! Porque qualquer coisa que você trouxer dentro disso já está aprovada! É 80% certo. Não é porque você fez uma frase assim ou assada que ele vai reprovar. O som já colou! Ele já identificou o tipo de som com o produto final! Que interessante! Sim! Outra coisa que não se deve fazer em cinema é querer usar o filme para se mostrar! Aí o cara não sai nem do primeiro
“Quando você está trabalhando com cinema, quanto mais tomar chopinho com o diretor, melhor!”
filme! “Ah, vou aproveitar esse filme e mostrar como toco pra cacete”. Não chega nem na esquina! Você tem de fazer os seus discos para se mostrar. Quando está trabalhando com cinema, tem de ter noção de que está trabalhando para o diretor. Você vai fazer parte de um resultado final que está na cabeça dele. E quanto mais você sair com o cara, quanto mais tomar chopinho, entender o que ele quer, melhor! Aquele negócio de ‘mandar por e-mail’ não dá certo! Tem de colar no cara, assim você vai conhecendo quem ele é, como ele pensa, o que ele viveu, o que já escutou de música, quais foram os filmes de que ele mais gostou. É outro universo... Sim, e é fascinante! Quando você vê pronto e que funcionou, ou seja, contribuiu para o filme, é muito gratificante! A música não pode chamar mais atenção do que a cena! 33
NA ESTRADA
Sete Cordas Profissional Rozini
Sou Roney Giah, compositor, cantor, guitarrista e violonista e me formei em 1994 no GIT, em Los Angeles. Desde então, já concorri aos prêmios Sharp e Visa, em 1998, e ao Prêmio TIM e ao Latin Grammy, em 2006. Em 2008, assinei com a gravadora inglesa Astranova e ganhei duas menções honrosas: John Lennon Songwriting Contest – com curadoria de Yoko Ono – e Billboard World Song Contest, da revista Billboard. Em 2005, comecei a experimentar o violão de sete cordas em estilos diferentes do choro ou do samba. De lá para cá não larguei mais! Os harmônicos da sétima corda deixam a sonoridade do violão mais grave, mesmo nos momentos em que você não está tocando a sétima corda – o que traz mais amplitude à série harmônica do instrumento. Gravei meus últimos dois CDs com o violão de sete cordas, passeando pelo ‘misturalismo’ de estilos com o qual gosto de brincar em meus trabalhos. A configuração é a seguinte: braço de cedro com tensor ajustável, escala e cavalete de caviúna, laterais e fundo de caviúna laminado, tampo de pinho sueco maciço e uma captação piezzo da Rozini muito equilibrada – que não transforma ou desfigura o som natural do instrumento, que é muito macio. A afinação é estável e a tocabilidade é ótima para o meu gosto, com um bom espaçamento entre as cordas. Encontrei nesse modelo de violão sete cordas Rozini profissional uma ótima relação custo-benefício.
Marca: Rozini • Modelo: RX207-P Músico: Roney Giah www.roneygiah.com.br – São Paulo/SP • Info: www.rozini.com.br
Matt Raines Flamenco Sete Cordas
Marca: Matt Raines (luthier) Modelo: Flamenco sete strings Músico: Felipe Coelho – Florianópolis/SC Info: www.mattraines.com.br
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O violão de sete cordas, tanto em sua fabricação quanto em sua abordagem, é normalmente ligado à escola do choro. No entanto, em outras situações musicais, apresenta grande versatilidade. Em meu trabalho violonístico de composições de música étnica com orquestra camerística, o violão segura tanto os graves como protagoniza melodias e temas na região aguda. Para isso são necessárias boas condições de agilidade no braço e velocidade na resposta de ataque. O violão para esses fins foi construído em Nova York por Matt Raines. Uso o violão tanto para concertos solo como para concertos com os grupos do primeiro e segundo CDs. Ele possui tampo em pinho, lateral e fundo em cipreste e escala em ébano. Possui 21 trastes com design recortado no final do braço. A cor é amarelada e possui proteção para ‘golpes’ de estilo flamenco na zona de ataque superior e inferior. Sua sonoridade é aflamencada, projeta bem e possui equilíbrio de frequências. Tem excelente tocabilidade, com uma ação baixa sem trastejar, permite leveza e agilidade. Possui dois captadores de contato localizados nos pontos superior e inferior do tampo. É ideal para quem gosta de flamenco e tem bom conhecimento do braço para explorar harmonias com a utilização da sétima corda. Também pode ser utilizado por guitarristas que querem passar para o violão, por ser muito macio. Só não serve para erudito.
As notas dos testes são compatíveis com produtos da mesma categoria e faixa de preço. O preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas. LEGENDA DOS TESTES: ✜✜✜✜✜ Excepcional ✜✜✜✜Muito Bom ✜✜✜ Bom ✜✜Médio ✜Fraco
TESTES Por Miguel De Laet
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YAMAHA CPX500 Jumbo com excelente relação custo-benefício
P
ense em uma empresa que poderia, tranquilamente, equipar uma orquestra sinfônica, do contrabaixo acústico ao piccolo. A Yamaha é esta empresa! Em nosso segmento, a fabricante fez muito sucesso com a série APX entre os músicos brasileiros. A série CPX segue com a mesma pegada, com instrumentos com excelente relação custobenefício, seja de nível intermediário ou profissional. O CPX500 é confeccionado com o tampo em pinho maciço, lateral, fundo e braço em mogno, escala e ponte em jacarandá, e largura da pestana em 43 mm. Sua caixa de ressonância não chega a ser de um modelo jumbo ‘de verdade’ por possuir dimensões um pouco menores. Entretanto, não é tão menor a ponto de ser chamado de minijumbo. Seu acabamento é excelente para a categoria, com uma pintura homogênea, marcações em bolinha e ornamentos em abalone, tanto na cabeça como na boca do instrumento. Todas as peças estavam muito bem coladas, a parte interna do instrumento muito bem limpa, sem apresentar excesso de cola, e a parte elétrica muito bem organizada. Sua sonoridade é aberta, rica em harmônicos, valorizando bastante as frequências médio-graves sem perder seu bom equilíbrio, com bastante brilho e ótima sustentação. Possui um ataque bastante pronunciado, além de projeção e volume excepcionais. É ideal para
análise Modelo: CPX500 Fabricante: Yamaha Indicação: Violonistas que necessitam de um bom instrumento sem gastar muito. Prós: Sonoridade, volume e tocabilidade. Contra: Nenhum. Preço sugerido: R$ 1.500,00 Definição do som ....................................✜✜✜✜✜ Volume .....................................................✜✜✜✜✜ Captação .................................................... ✜✜✜✜ Acabamento ............................................✜✜✜✜✜ Tocabilidade ............................................✜✜✜✜✜ Desempenho geral ..................................✜✜✜✜✜ Tire sua dúvida com o fornecedor: Yamaha – www.yamahamusical.com.br Tel.: (11) 3704-1377
Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado. 36
quem trabalha com acordes abertos, e até mesmo solos com passagens rápidas soam com boa defi nição e naturalidade. Excelente para quem é apaixonado pelos acordes do bom e velho rock’n’roll, blues, country, música sertaneja e seus estilos derivados. Suas tarraxas cumprem muito bem o papel e sua entonação se mostrou precisa em toda a extensão da escala. Sua tocabilidade é excepcional, pois possui um braço ergonômico que garante uma pegada macia. Mesmo com uma ação alta, o instrumento é bastante confortável. Por ser um modelo cutaway, possui boa acessibilidade às notas mais agudas da escala. O circuito do CPX500 também merece destaque. É um sistema 55 TA que possui um excelente afinador embutido, seguindo o padrão dos modelos ART que equipam os instrumentos de alto padrão da empresa. Só não crie expectativas tendo como referência o ‘primo rico’, pois o circuito que equipa o CPX500 não tem tantos recursos. Possui um captador piezzo com bom equilíbrio de volume entre as cordas, além de contar com equalizador de três bandas e controle de volume giratório. Caso utilize o instrumento para tocar com banda, é recomendável adquirir um tampão redutor de microfonia. Por tudo que o instrumento apresentou, resta indicá-lo a músicos que necessitam de um instrumento bom, confiável e barato para ser utilizado no palco em suas primeiras apresentações. Nada impede que também seja utilizado em trabalhos de estúdio, especialmente quando o CPX500 é o único instrumento de aço do setup.
Por Miguel De Laet
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Eagle DH-69
Um clássico recomendado por professores
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ato: o modelo DH-69 é sucesso de vendas desde que chegou ao Brasil, no início da década de 1990. Explicar o sucesso de um modelo que está no mercado há tanto tempo parece simples. Na época, o mercado era dominado por produtos nacionais que eram caros ou, quando acessíveis, tinham qualidade duvidosa. Os instrumentos chineses – entre eles, o DH-69 – ajudaram a indústria brasileira a repensar valores e melhorar a qualidade de seus produtos. Com preço acessível e acabamento surpreendente para o mercado da época, não demorou muito para o modelo conquistar a confiança de professores que, automaticamente, aconselhavam os seus alunos a adquirir o produto. Confeccionado com o tampo em pinho laminado, lateral, fundo e braço em mogno e escala e ponte em jacarandá, o instrumento é um modelo clássico, com um acabamento que se destaca em sua categoria: peças bem coladas, pintura homogênea, cortes e encaixes precisos, internamente não há excesso de cola e possui uma aparência bem limpa. Destaque para o detalhe ornamentado na ponte com motivos em marchetaria, encontrados também em sua roseta. Sua sonoridade acústica é suave e aveludada, um ataque seco, tendo uma boa resposta timbrística – se comparado a instrumentos de tampo laminado – quando alternamos o apoio, sempre com bom equilíbrio de volume entre as cordas. O DH-69 possui uma boa projeção, podendo ser utilizado na iniciação do estudo do violão, seja erudito ou popular. É claro que, com a natural evolução do estudante de violão erudito, haverá a necessidade de trocá-lo, pois o modelo será cada vez mais exigido até chegar o momento em que não terá mais recursos para responder. Sendo assim, é uma alternativa momentânea para quem não quer investir tanto em um primeiro instrumento. Uma função que ele consegue desempenhar muito bem é a de tocar em roda de amigos, animando o bom e velho churrasco. Sua tocabilidade é excepcional. Possui uma pegada macia, ideal para iniciantes, com largura da pestana de 51 mm. O modelo veio de fábrica com uma ação média, sem apresentar sinais de trastejamento. Constatamos apenas uma leve aspere-
Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.
análise Modelo: DH-69 Fabricante: Eagle Indicação: Iniciantes, estudantes e para quem deseja um instrumento para o lazer. Prós: Acabamento e tocabilidade. Contra: Nenhum. Preço sugerido: R$ 380,00 Definição do som som....................................... ✜✜✜✜ Volume .......................................................... ✜✜✜ Acabamento ............................................ ............................................✜✜✜✜✜ Tocabilidade ............................................. .............................................✜✜✜✜✜ Desempenho geral .................................... ✜✜✜✜ Tire sua dúvida com o fornecedor: Eagle – www.eagleinstrumentos.com.br Tel.: (11) 2931-9130
za – um pouco acima do normal para instrumentos de náilon – nos trastes, que podem ocasionar o desgaste das cordas. Para resolver o problema, basta um polimento que pode ser executado por um luthier de confiança. Suas tarraxas conseguem cumprir o seu papel e sua entonação se mostrou estável em toda a extensão da escala. Até a data do teste, o DH-69 não possuía modelo eletroacústico. Para o começo de 2010 a empresa informou o lançamento do DH-69T, que terá um circuito ativo com equalizador cinco bandas e afinador digital embutido. De qualquer forma, nada impede de ser instalado um circuito de captação, caso ainda não encontre o modelo eletroacústico. É aconselhável adquirir um bag para transportar o instrumento com segurança.
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TESTES Por Miguel De Laet
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SG Special Series Titanium Encordoamento nacional com excelente entonação
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xiste uma infinidade de encordoamentos no mercado, é verdade. Em meio a tantas opções, como definir o melhor para o seu instrumento? A resposta é uma só: testando cada uma e percebendo as suas diferenças timbrísticas, o comportamento do instrumento e, é claro, a tocabilidade que melhor se adapta à sua pegada. A Izzo Musical, uma das mais tradicionais fabricantes de encordoamentos do País, apresenta uma série ideal para quem deseja um encordoamento confiável por um preço justo. O encordoamento SG testado é confeccionado com bronze 85/15 prata nos bordões e suas primas com monofi lamento poliamida titanium. Os diâmetros do jogo são os seguintes: 0.028 (1.E), 0.032 (2.B), 0.040 (3.G), 0.029 (4.D), 0.035 (5.A), 0.043 (6.E). Uma coisa que surpreende é a apresentação: uma caixinha dourada com um visual clean, bastante moderno, com as dimensões das cordas no verso. As cordas são embaladas com os tradicionais envelopes de papel individuais, garantindo uma boa organização na hora da troca do encordoamento. Destaque para os bordões embalados ainda com um invólucro anticorrosão, o que ajuda na conservação das cordas. Seu timbre é brilhante e rico em harmônicos. Seus bordões possuem uma boa definição com bastante corpo. Suas primas conseguem se impor com naturalidade e possuem um timbre cristalino e ataque incisivo. Destaque para a terceira corda, que consegue projetar muito bem, garantindo um equilíbrio de volume entre o conjunto, bastante raro em jogos da mesma faixa de preço. Seja com o violão plugado ou desplugado, o en-
análise Modelo: Special Series - Titanium Fabricante: SG Indicação: Para músicos de todos os níveis. Prós: Brilho, volume e entonação. Contra: Nenhum. Preço sugerido: R$ 14,00 Timbre ........................................................ ✜✜✜✜ Brilho ........................................................✜✜✜✜✜ Sustentação .............................................✜✜✜✜✜ Volume .....................................................✜✜✜✜✜ Definição .................................................... ✜✜✜✜ Desempenho geral .................................... ✜✜✜✜ Tire sua dúvida com o fornecedor: Izzo Musical – www.izzomusical.com.br Tel.: (11) 3797-0100
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cordoamento teve o mesmo desempenho, alterando um pouco as características timbrísticas do instrumento. A estabilidade tonal é excelente, mantendo a afinação estável em toda a extensão da escala. O jogo é muito versátil, podendo ser utilizado para executar todo e qualquer estilo musical – que comumente vão bem com instrumentos de náilon –, em especial MPB, bossa nova e jazz. Importante citar que a sua tocabilidade surpreendeu. O toque das cordas é bastante macio e a tensão parece ser um pouco mais pesada que de encordoamentos de mesmo calibre, o que garantiu maior estabilidade ao encordoamento tensão média. Não é informada a tensão de cada corda, seja no site ou na embalagem do produto. A empresa informou que não faz esse tipo de medição. A durabilidade do encordoamento é satisfatória, perdendo um pouco o brilho intenso na primeira semana e mantendo-se estável por quase todo o mês em que foi realizado o teste, com o velho hábito de se passar uma flanela nas cordas após o uso. Devido às qualidades apresentadas acima, o encordoamento é ideal para quem deseja cordas com projeção, seja para lazer ou uso profissional.
Por Marcio Guedes
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análise
Finale 2010
Modelo: Finale 2010 Fabricante: Make Music Indicação: Músicos profissionais ou amadores que buscam um bom editor de partituras.
Melhorias de edição facilitam a vida do violonista
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programa Finale é destinado à edição de partituras e já está no mercado há alguns anos. Desde que surgiu, conquistou o status de software completo, estabelecendo-se como um dos melhores em edição de partituras para qualquer formação instrumental e vocal (ocidentais). No entanto, por ser bastante completo, não era um programa muito intuitivo e em suas primeiras versões os músicos precisavam de algum treinamento para utilizá-lo. Já há algum tempo a empresa Make Music vem buscando tornar o Finale um programa mais intuitivo e prático, sem perder a qualidade de suas funções.
FINALE 2010
Não há muitas diferenças entre o Finale 2010 e suas versões dos quatro anos anteriores. O visual do programa, o menu e a organização e desenho dos ícones continuam praticamente os mesmos.
DESTAQUES NOS ÍCONES
O item Selection tool foi melhorado, pois seleciona todo o pentagrama quando se clica no início dele, seleciona um compasso com um clique no centro do mesmo ou seleciona fragmentos a critério do usuário clicando, segurando e arrastando sobre o trecho desejado. Essas seleções são necessárias para realizar funções como transposições ou cópias de partes. É bastante prático trabalhar as claves, armaduras de claves e fórmulas de compasso com os ícones Clef tool, Key signature tool e Time signature tool. Na ferramenta Measure tool pode-se selecionar o tipo de barra. O modo Speed entry tool é uma ferramenta bastante prática para escrita que funciona com comandos do teclado do computador ou com teclado Midi acoplado. O ícone Expression tool foi melhorado e apresenta uma tabela mais organizada dos sinais de expressão, como dinâmicas, alterações no tempo, textos de expressão e textos técnicos.
Prós: É realmente possível editar qualquer tipo de partitura com o programa. Contra: Nenhum. Preço sugerido: Não divulgado. Procure este selo Ele é a garantia de que o produto foi testado pelos profissionais mais competentes do mercado.
Definição do som (Midi)...........................✜✜✜✜✜ Facilidade de uso....................................... ✜✜✜✜ Versatilidade ............................................✜✜✜✜✜ Desempenho geral ..................................✜✜✜✜✜ Tire sua dúvida com o fornecedor: Quanta Music – www.quanta.com.br/music/ Tel.: (19) 3741-4646
Os timbres são realmente bons e quando salvos em Wave são boas demos dos arranjos ou composições criados pelo usuário.
PARA OS VIOLONISTAS
Neste ponto também há melhorias. Há o ícone Chord tool, um pequeno quadro com a cifra CM7 que serve para inserir cifras nas partituras. Esta ferramenta já existia nas versões anteriores, mas não era possível inserir cifras em partes do compasso com pausa. Esta era inserida unicamente sobre as notas. No Finale 2010 é possível inserir cifras sobre as pausas. Podem-se escrever cifras em compassos inteiros de pausa. Nesse caso, o programa permite um acorde por tempo. A cifra pode conter o diagrama dos acordes e estes são totalmente editáveis. A configuração da página também foi facilitada, pois podem-se organizar cifras e diagramas pelos comandos Position chords e Position fretboards. A tablatura funciona como na versão 2009: primeiro se escreve a partitura. Em seguida, pelo ícone Staff tool se insere a tablatura. Dica: para marcar digitações na partitura, há números de 1 a 5 no ícone Articulation tool. Esses números podem ser usados para marcar a digitação de mão esquerda.
SONS
Há uma melhora expressiva no som do Finale 2010. Nas versões 2008 e 2009 criou-se uma associação do Finale com o software Garritan Personal Orchestra (não incluído no Finale, deve ser comprado separadamente), que tem boas simulações de timbres orquestrais e de bandas. No Finale 2010, quando se cria um novo documento, é possível escolher diretamente uma formação instrumental ou vocal do Garritan. Isso melhorou a comunicação entre os dois programas, evitando alguns conflitos que ocorriam nas versões anteriores. 39
LANÇAMENTOS Por Miguel De Laet
Gerson Werlang
Memórias do Tempo Rock Symphony
CD
Coloque dentro de um caldeirão diversas referências musicais e misture-as. O resultado será algo próximo do que você encontrará no CD de Gerson Werlang. A simplicidade do fandango gaúcho, com seus traços de música de fronteira, e a roupagem do rock progressivo são características bem evidentes desde as primeiras faixas. Para quem é fã de progressivo, é importante deixar claro que não encontrará ousadias harmônicas típicas do segmento, mas sim as texturas timbrísticas características. As paisagens são bem definidas e cristalizadas, sem muitas alterações: acordes abertos, dobras e letras que remetem à passagem do tempo. Quem está acostumado com a música de Vitor Ramil, Kleyton e Kledir, entre outros grandes nomes da música gaúcha, vai se sentir em casa. Gerson Werlang demonstra musicalidade e desenvoltura, tanto no violão como na guitarra. Nada de demonstrações de virtuosismo. No CD encontramos frases construídas de maneira simples e direta, geralmente repetidas como um mantra, mesmo nas passagens instrumentais em que a tendência é usar e abusar de recursos como frases rápidas de efeito, caso de Rosa Mística. A faixa Colheita de Inverno merece um destaque especial, assim como as vozes de Deborah Rosa e Eliane Sommer, que temperam o conjunto de Memórias do Tempo. Para conhecer o trabalho do músico, acesse o site
Luciano Queiroz
Da Oficina para o Estúdio Folguedo
Uma agradável surpresa ouvir o CD de Luciano Queiroz. O luthier, muito antes de construir seus belos instrumentos, já tocava viola. O ‘violeiro tocador’ surgiu em 1994, quando recebeu de presente dos pais sua primeira viola. Pode ter demorado a sair, mas o seu début intitulado Da Oficina para o Estúdio traz belas composições assinadas pelo próprio violeiro com a essência da viola: simples e musical! A dinâmica do repertório funciona muito bem, com peças que exploram cadências familiares dos ouvintes e utilizam o elemento rítmico como aliado. Os temas, em sua maior parte, são propostos de uma forma bem natural e as peças não possuem um desenvolvimento longo, o que favorece o ouvinte leigo, que não está acostumado com uma estrutura muito densa. Destaque para os violões acompanhantes de Cachoeira e a percussão de Mingo Jacob. Destacamos a faixa Catolé, que se desenvolve em uma estrutura modal, bem nordestina, e a participação do acordeom de Claudemir Alevato. Outras faixas que merecem atenção especial são Casquinha, Cocho de Caxeta – uma guarânia gravada com uma viola de cocho fabricada por Braz da Viola – e Pagodinho pra Sinhá, que pode representar muito bem a quintessência do disco. A produção do CD carrega a assinatura de Ricardo Vignini.
D
PHILLIPPE BADEN POWELL E MARIO ADNET Afro Samba Jazz – A Música de Baden Powell (Biscoito Fino) Os afro-sambas de Baden Powell dispensam apresentações para qualquer violonista. Considerados preciosidades da nossa música, eles ganharam um novo colorido, ou melhor, foram muito valorizados neste trabalho do filho mais velho do mestre em parceria com o violonista Mario Adnet. Com nova roupagem, abusando dos naipes de metais e percussão, o disco instrumental cativa até mesmo aqueles que não são fãs do gênero. Dentro da seleção, além das peças consagradas criadas com o poeta Vinicius, estão presentes afrosambas inéditos como Caxangá
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CD
a revista VP recomenda
CD
de Oxalá, Lamento de Preto Velho, Ritmo Afro e Domingo de Ramos. Muitas dessas peças Baden deixou apenas em fragmentos de partituras, anotações de possíveis letras e sugestões de ‘climas’ que foram cuidadosamente montadas, feito um quebra-cabeça, por Phillippe e Adnet. O resultado é um disco que exalta o poder dos orixás com sofisticação e bom gosto. Destaque para o desenvolvimento proposto por Phillippe ao piano nos clássicos Canto de Xangô e Berimbau e a bela voz de Mônica Salmaso no Canto de Yemanjá. Certamente uma bela homenagem ao mestre do violão brasileiro.
DV
PRODUTOS GROOVIN GOV 960E
Violão de aço com tampo em pinho, lateral e fundo em fibra de vidro, braço em maple, escala em jacarandá, circuito de captação ativo com equalizador de três bandas. Tire suas dúvidas: (11) 2199-2999 www.equipo.com.br
LA BELLA Acoustic Phosphor Bronze Series Encordoamento confeccionado com revestimento bronze fosforoso disponível nas medidas 010, 011 e 012. Além disso, há a opção da versão 12 cordas 009. Tire suas dúvidas: (18) 3941-2022 www.sonotec.com.br
GIANNINI GWNM4 WALDEN D-552 12E
O violão folk de 12 cordas é confeccionado com tampo em pinho sitka, faixa e fundo em sapele, braço em mogno, escala em jacarandá, logotipo em madrepérola, acabamento fosco e com pré-amp ativo Fishman Aero +. Equipado com cordas D’Addario EXP, acompanha umidificador Planet Waves e vem acondicionado num bag luxo Walden Guitars. Tire suas dúvidas: (11) 3081-5756 www.wolfmusic.com.br
Violão de náilon com tampo maciço em pinho, faixa e fundo em imbuia, braço em cedro, escala em pau-ferro. Possui duas opções de acabamento: verniz brilhante e fosco. Tire suas dúvidas: (11) 4028-8400 • www.giannini.com.br
PLANET WAVES Varigrip
Projetado para desenvolver e manter a destreza dos dedos e das mãos. Possui design ergonômico e sua tensão variável proporciona condicionamento específico para os dedos e os músculos e articulações da mão, pulso e antebraço. Seus contatos reversíveis apresentam até mesmo a simulação da superfície das cordas, para gerar e manter certo nível de calosidade, especialmente quando se está longe do instrumento. Tire suas dúvidas: (11) 3158-3105 • www.musical-express.com.br
SOLID SOUND Estojo
Estojo de madeira para violão clássico, violão folk, guitarra e baixo, forrado internamente com pelúcia. Está disponível em dois acabamentos: couro sintético e tecido vintage. Tire suas dúvidas: (41) 3596-2521 www.solidsound.com.br
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LUTHIER
Já para a oficina! Aprenda a cuidar e fazer a manutenção dos trastes do seu violão! Por Regis Bonilha
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rastes são componentes em ressalto na escala de um instrumento de cordas, com a função de dividi-la em uma medida cromática. Eles podem ser feitos de metal ou de ligas que incluem os seguintes materiais: níquel, alpaca e latão. Determinados instrumentos étnicos ou instrumentos de época utilizam osso ou barbante. Atualmente, trastes são utilizados em instrumentos de corda que possuem a escala temperada, como violões, cavaquinhos, bandolins, guitarras elétricas, contrabaixos elétricos e outros. São inseridos na escala em uma cavidade produzida através de serras específicas. Em tempos passados, os trastes não possuíam garras ou travas para se fixarem nas fendas. É muito comum nos depararmos com instrumentos feitos há 40 ou 50 anos que possuíam trastes com apenas uma ‘perna lisa’ desprovida de garras ou travas e, por isso, eram geralmente colados. Quando é feita a manutenção em instrumentos antigos com essa característica, em que não há necessidade de troca de trastes, geralmente se realiza a retirada e recolagem dos trastes para que haja garantia de uma boa fixação por mais um período de tempo, visto que em boa parte dos casos alguns se apresentam soltos.
TIPOS DE TRASTES
LATÃO Ainda fabricam trastes desse tipo para instrumentos mais modestos. Os referidos trastes são de baixo custo. O desgaste é maior pelo fato de o latão ser de uma liga de metal mais maleável – e com alta tendência à oxidação, deixando-o com aspecto ‘esverdeado’. NÍQUEL/ALPACA Esses trastes são feitos da liga desses dois metais. Alguns possuem maior porcentagem de níquel, que é um metal mais duro, e são geralmente utilizados para instrumentos de cordas de aço, em que há maior desgaste – possuem um aspecto visual ‘prateado’. A referida liga, em geral, possui maior resistência ao uso e oferece um timbre mais cristalino. Os trastes de liga níquel/alpaca apresentam durezas diferentes. As ligas mais duras são indicadas para ins42
trumentos de corda de aço, enquanto as mais maleáveis são recomendadas para instrumentos de corda de náilon. Há nessa relação uma compatibilidade de dureza de materiais entre os trastes e o encordoamento.
DIMENSÕES
As dimensões dos trastes diferem de acordo com o tipo de instrumento a que são destinados. Isso não pode ser considerado como regra rígida, uma vez que o tamanho e a largura dos trastes são itens de preferência por parte dos músicos. Para violões, utilizamos trastes mais estreitos e altos. Para guitarras elétricas e contrabaixos, a preferência é pelos trastes largos e altos. Já trastes estreitos e baixos são utilizados em cavaquinhos, bandolins e instrumentos de cordas de pequeno porte. Os trastes mais altos geram maior definição das notas. Isso porque a maior distância entre o traste e a escala facilita a pressão dos dedos sobre as cordas. Porém, se a pressão for excedente, causará uma distorção da nota emitida. Os trastes mais baixos proporcionam um toque mais macio, pois a distância entre a corda e o traste é menor. Exige-se uma pressão maior para a definição das notas e, com isso, o contato dos dedos com a madeira da escala é mais evidente, causando, em longo prazo, desgaste na escala e nos trastes. A procedência dos trastes é diversificada: Ásia, América do Norte, Europa e outros.
MANUTENÇÃO
Os trastes sofrem desgaste pelo uso, é inevitável! O atrito causado pelas cordas ocasiona pequenos sulcos nos trastes, que causam o efeito de ‘raspagem das cordas’, ou o que chamamos de trastejamento. Para essa avaria, existem duas possibilidades de ajuste. Se os trastes tiverem altura suficiente, é possível executar um nivelamento dos mesmos para eliminar os sulcos. Os trastes são limados para torná-los planos novamente. Depois, são arredondados para eliminar os cantos vivos e recebem um novo polimento. Um ajuste na pestana e no rastilho do instrumento finaliza a regulagem, deixando o instrumento em boas condições de uso. Em caso de
A escala é protegida com fitas adesivas para o processo de nivelamento
Os trastes são limados para ficarem planos novamente
Polimento mais rústico para instrumentos de cordas de náilon
Hidratação e limpeza da escala
desgastes extremos, a solução requerida é a substituição completa de todos os trastes. Esse tipo de manutenção tem um custo que depende da complexidade do trabalho, qualidade dos materiais empregados e da região do País onde é oferecido o serviço. Uma troca de trastes pode variar entre R$ 200,00 a R$ 400,00, enquanto um nivelamento de trastes vai de R$ 100,00 a R$ 180,00. Cabe salientar que há uma diferença no tratamento dado aos trastes de instrumentos de cordas de aço e de cordas de náilon. Os instrumentos de cordas de aço devem receber um polimento muito bem executado – a fim de que sua superfície se torne lisa o bastante para que haja o menor atrito possível. Isso garante o conforto do toque e a durabilidade dos trastes. Já em instrumentos de corda de náilon, os trastes devem possuir um polimento mais ‘rústico’. Eles devem ser tratados com menor quantidade de materiais abrasivos para que tenham um aspecto fosco. Isso deixará os trastes com microarranhões, visando a maior estabilidade ao toque. As cordas de náilon, principalmente as agudas, que são de fio único de náilon mais liso, têm a tendência de ‘sambar’ nos trastes extremamente polidos.
CUIDADOS
✓ A troca periódica de cordas contribui para a durabilidade dos trastes. Se as cordas perderem o brilho do som e apresentarem oxidação, substitua-as por um encordoamento novo. ✓ A oxidação natural das cordas pelo suor das mãos, resíduos de pele, poeira e umidade relativa do ar tornam a corda uma ‘lima’ que agride progressivamente o traste, causando os sulcos. A recomendação, além da substituição periódica das cordas, é hidratar e limpar a escala para a retirada de resíduos e sujeiras. Utilize um pedaço de algodão ou flanela com óleos de peroba, laranja ou limão. Retire as cordas e, antes da substituição, aplique o óleo em quantidade generosa, espere alguns minutos e remova o excesso de resíduos. Dessa forma você manterá a escala do instrumento limpa e hidratada. ✓ É recomendável que o músico leve seu instrumento para um luthier de sua confiança pelo menos uma vez a cada seis meses. Dessa maneira é possível detectar algum defeito ou desgaste dos trastes e checar a região do apoio de cordas, que inclui rastilho e pestana – peças que contribuem para o bom funcionamento do instrumento. Eles serão tema de outras matérias, oportunamente. Em breve trataremos de outros assuntos como empenamentos e torções do instrumento, trincas, troca de peças e soluções para todos esses casos. Até a próxima!
REGIS BONILHA é construtor e restaurador de instrumentos acústicos. Constrói e projeta violões clássicos de construção tradicional e moderna, viola caipira, cavacos, bandolins e outros. É coordenador didático e professor de luthieria na B&H Escola de Luthieria. www.regisbonilha.com • www.bhluthieria.com
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LIÇÃO Por Conrado Paulino
Como estudar walking bass – Parte II Aprofundando-se nos quatro elementos para desenvolver a técnica
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a lição anterior, vimos que, para desenvolver o acompanhamento com walking bass, devemos estudar quatro assuntos: as células melódicas da linha de baixo, as figuras rítmicas dos acordes, os tipos de acordes e as diferentes alternativas de ‘desenhos’ destes, segundo a corda na qual se encontra a fundamental. Vamos nos aprofundar nestes quatro itens: 1)Célula melódica: Ao tocar walking bass estamos criando uma melodia que serve para determinar a condução rítmica do estilo (no caso, o jazz), mas, principalmente, para entrelaçar os acordes. Essa melodia é baseada em certos padrões ou clichês chamados células melódicas, geralmente com um compasso de duração, às vezes dois ou mais. É a mesma lógica das ‘baixarias’ do choro, em que o violão de sete cordas, embora também tenha uma função rítmica, tem como trabalho principal entrelaçar os acordes, utilizando certos clichês segundo a progressão harmônica. A célula melódica de walking bass que mostramos na lição passada – a chamada ‘1, 2, 3, 5’ – é uma célula ‘genérica’, que serve para qualquer tipo de acorde e progressão. No entanto, o ideal é tocar células que tenham encaminhamento natural para o acorde que vem a seguir. Por exemplo, se o próximo acorde estiver uma quarta acima, a célula melódica pode ser ‘1, 2, 2#, 3+’, de forma que a próxima nota será naturalmente a fundamental do acorde seguinte (Ex. 1). Se estivermos num acorde do tipo X7 e o seguinte estiver uma quarta abaixo, a célula poderia ser ‘8, 7-, 6+, 6–’, fazendo com que, mais uma vez, a nota a seguir seja a fundamental do próximo acorde (Ex. 2). O Ex. 3 mostra a progressão IMaj7, V7→IMaj7, que é extremamente comum, utilizando a célula melódica ‘1, 3+, 4, 4#’ para chegar ao segundo acorde (uma 5ª acima) e a célula ‘8, 7, 6, 5’ para voltar ao primeiro acorde, uma 5ª abaixo. Existem células melódicas ascendentes, descendentes e também mistas. Algumas das mais comuns são ‘8, 6, 5, 3’, ‘8, 7, 6, 5’, ‘1, 5, 3, 2’ e ‘1, 6, 5, 3’. As notas das células melódicas do walking bass dependem também do tipo de acorde, isto é, se é XMaj7, X7, Xm7(b5), Xdim etc. Mas isso fica para outra lição. 2) Figuras rítmicas dos acordes: O Ex. 4 mostra duas variações da célula básica mostrada na lição anterior, todas de um compasso apenas. Mas o ideal é combinar várias células, criando ideias rítmicas mais longas, de preferência utilizando sincopas, como mostra o Ex. 5.
3)Tipos de acordes: Para conseguir tocar uma música inteira, precisaremos aplicar as células melódicas do baixo e as células rítmicas de acompanhamento sobre os diferentes tipos de acordes. Inicie o estudo praticando apenas com a célula melódica e rítmica básica e os três tipos básicos de acordes (X7, Xm7 e XMaj7). Posteriormente, será necessário estudar com acordes Xm7(b5), Xdim, X7(#5) etc. 4)Alternativas onde tocar o acorde: Elas dependem da corda em que se encontra a fundamental do acorde, que pode ser a sexta, a quinta ou a quarta corda. Para explicar, vamos escolher um acorde do tipo X7 (maior com sétima), no caso, C7. Até aqui, sabemos o seguinte: a) vamos aplicar a célula ‘1, 2, 3, 5’ no baixo, b) vamos utilizar a divisão rítmica básica de acompanhamento e c) o acorde é o C7. Resta ainda definir qual ‘desenho’ ou shape de C7 vamos usar, e ele depende basicamente da corda na qual está a fundamental. O melhor é estudá-lo nas suas três alternativas: com a fundamental na sexta, quinta ou quarta corda. O Ex. 6 mostra as duas primeiras alternativas. Porém, acordes com fundamental na quarta corda geralmente exigem linhas melódicas descendentes, por isso, no Ex. 7 aplicamos a célula melódica ‘8,6,5,3’, já apresentada anteriormente. Para finalizar, no Ex. 8 temos as mesmas células melódicas e rítmicas aplicadas sobre acordes do tipo Xm7 com fundamental na sexta e na quinta corda e, por último, no Ex. 9, o mesmo procedimento sobre acordes do tipo XMaj7. Repare que, dos quatro itens apresentados no início da lição, dois estão sendo variados (o tipo de acorde e o desenho do acorde), enquanto a célula melódica do baixo e a figura rítmica do acorde permanecem invariáveis, apenas para facilitar o estudo. Porém, o objetivo é combinar gradativamente os quatro elementos apresentados no início da lição (por exemplo, um acorde XMaj7 com fundamental na quarta corda, tocado com a célula melódica ‘8, 7, 6, 5’ e a célula rítmica do exemplo 5). Pratique os exemplos separadamente, até ficar fluente. A seguir, aplique-os sobre algum standard de jazz simples, sem acordes diminutos, meio diminutos ou aumentados. Também é recomendável que o standard tenha acordes que durem quatro ou mais tempos, e não apenas dois. Algumas boas alternativas são os conhecidos temas Take The A Train, All Of Me e There Will Never Be Another You. Outras boas opções, apesar de terem um acorde diminuto, são All The Things You Are e Autumn Leaves.
Técnica Avançada Ex. 1
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Ex. 2
currículo Conrado Paulino é violonista, compositor e arranjador. Acompanhou artistas como Rosa Passos, Alaíde Costa, Paulinho Nogueira e Johnny Alf. É professor dos cursos de violão, técnicas de acompanhamento e improvisação na ULM, em São Paulo. Foi professor de artistas como Chico César, Nuno Mindelis, Fernando Corrêa, Camilo Carrara, Tomati, entre outros. É membro da Iaje (International Association for Jazz Education). Atua como solista e com o seu quarteto. Contato: www.conradopaulino.com.br • conrado@conradopaulino.com.br
Ex. 3
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LIÇÃO Por Douglas Padial
Improvisação
Explorando as possibilidades da escala diminuta
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credito que este assunto seja um dos mais interessantes em se tratando de escalas para improvisação. A escala diminuta, bem como a escala de tons inteiros, tem origem no ‘sistema simétrico’. As escalas simétricas, como o nome já diz, segue uma mesma ‘sequência’ intervalar, estabelecendo uma relação escalar e harmônica bem diferente das tonalidades maiores e menores que seguem o sistema diatônico. O primeiro aspecto que abordaremos é a formação da escala (Ex. 1) e dos acordes de cada grau da escala. No Ex. 2 você observará que as tríades e as tétrades da escala diminuta têm a mesma ‘qualidade’, ambas são diminutas! No próximo passo faremos uma relação entre os acordes do ‘campo harmônico diminuto’. Se analisarmos os acordes dos I, III, V e VII graus, veremos que eles têm em sua formação as mesmas notas A, C, Eb e Gb (Ex. 3). Logo concluímos que eles podem ser tratados como apenas um acorde com suas inversões e que os II, IV, VI e VIII graus também podem ser tratados como apenas um acorde (Bº, Dº, Fº e Abº – Ex. 4). Portanto, a escala diminuta tem apenas dois ‘modos’, o do I (escala dimi-
Exercício 1
Exercício 2
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nuta) e o do II grau (escala Dominante Diminuta – DomDim) Ex. 5. O segundo aspecto é o da aplicação da escala. A primeira aplicação é a mais óbvia – aplica-se a escala diminuta sobre um acorde diminuto, independente de sua posição/função na harmonia (Ex. 6). A segunda é a mais complexa e a mais interessante também. O II grau da escala diminuta, DomDim, é muito aplicado sobre um acorde dominante com resolução em acorde maior, e se enarmonizarmos suas notas, obteremos o seguinte resultado em relação a um acorde dominante (Ex. 7 e Ex. 8). Para finalizar nosso estudo sobre a escala diminuta e sua variação, vamos utilizar a enarmonia para fazer as últimas ‘descobertas harmônicas’ sobre essa rica escala. Na escala diminuta no tom de A, temos as seguintes notas: A, B, C, D, Eb, F, Gb, Ab. Para esta fase proponho que façamos um estudo sobre o I e o II graus da escala com o foco nas notas que compõem cada grau em relação à formação dos acordes. Temos para o acorde do I grau as notas A, C, Eb e Gb, respectivamente o I, bIII, bVI e bbVII (VII grau diminuto), correto? Com um olhar mais atento,
veremos que existe mais uma nota na escala, o VIII grau (Ab), que se usarmos a enarmonia, passará a ser o G# VII grau maior de A. Se substituirmos o bbVII pelo VII, o acorde passará a ter uma nova qualidade, a do acorde diminuto com sétima maior – Aº7M –, portanto, se no I grau temos um acorde de Aº7M, os outros graus que se relacionam com ele também passarão a ter a mesma qualidade de ‘X’º7M (I, bIII, bV e bbVII – Ex. 9). Se aplicarmos a mesma ideia sobre o II grau, teremos a seguinte modificação: B, D, F e Ab, respectivamente a tônica, 3m, 5dim e 7dim, certo? Mas se mantivermos o B como tônica e enarmonizarmos Eb como D#, Gb como F# e usarmos o A no lugar do Ab, obteremos um acorde do tipo dominante B7, pois o D# é a 3M, o F# é a 5J e o A é a 7m. E então, se o II grau passou a ser um acorde dominante, os outros graus que se relacionam com ele também serão modificados para o tipo dominante (Ex. 10). Espero que esta matéria possa lhe trazer um pouco mais de conhecimento sobre este assunto, que considero muitíssimo interessante e rico. Abraços e até a próxima!
currículo Douglas Padial é bacharel em música, guitarrista, violonista e compositor. Estudou com Pollaco, Lupa Santiago, Adriano de Carvalho, Marcelo Gomes, Paulo Tiné, Walter Nery, Marcio Alves, entre outros. Já se apresentou com diversos músicos, dentre eles Sizão Machado, Carlos Ezequiel, Geraldo Vieira, Guilherme Franco. Atualmente vem se dedicando à gravação do primeiro CD do quarteto de Jazz Coisa Nossa, ao duo de violões com Miguel De Laet, ao D’Padial Quarteto e à elaboração de seu livro de harmonia e improvisação. Douglas é professor do Conservatório Villa-Lobos de São Paulo e da Escola Music-Center. Contato: dpadial@hotmail.com
Exercício 3
Exercício 4
Exercício 5
Exercício 6
Exercício 7
Exercício 8
Exercício 9
Exercício 10
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LIÇÃO Por Marcio Guedes
Independência dos dedos Fundamentos para alternar diferentes padrões rítmicos e melódicos
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as próximas lições, trataremos de temas relativos ao violão que possam também apoiar o aprendizado de assuntos musicais gerais, tais como percepção musical, leitura melódica e leitura rítmica. É importante estudar música sem nunca separar a prática da teoria. Como em qualquer ciência, a teoria musical nasce da observação da prática, ou seja, procedimentos que se tornam convenções em composição e interpretação acabam sendo incorporados à literatura musical. Portanto, é recomendável praticar seu instrumento com o máximo de consciência possível. É evidente que, ao subir ao palco, o artista não raciocina sobre aquilo que está tocando, simplesmente toca. E para que isso aconteça, é necessário que o estudo seja o mais abrangente possível. Assim se constrói um saber sólido.
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Nesta coluna, encontram-se treinos da escala de Dó maior tocada ao violão com diferentes padrões melódicos e rítmicos. O exercício 18 inclui cromatismos. Os 18 exercícios devem ser cantados pronunciando os nomes das notas ao mesmo tempo que se toca ao violão. Essa prática é um ótimo exercício de solfejo e percepção auditiva. Para estudar técnica, alterne sempre os dedos da mão direita e toque todos os exercícios com as seguintes combinações: 1) i m (indicador e médio) 2) i a (indicador e anelar) 3) m a (médio e anelar) 4) P (polegar) Desejo um bom estudo!
currículo Marcio Guedes é mestre em música pelo Instituto de Artes da Unesp. Graduado em música pela Faculdade de Artes Alcântara Machado (FAAM). Estudou violão com Henrique Pinto, Arlene Vicente e Renato Almeida. Hoje atua como professor particular e também como professor de música no curso de bacharelado em Musicoterapia da FMU. Contato: www.marcioguedes.com.br
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TRANSCRIÇÃO Por Nilo Sérgio Sanchez
Noite de Lua D
Uma das primeiras peças gravadas por Dilermando Reis ilermando Reis (Guaratinguetá, SP, 22/09/1916 – Rio de Janeiro, RJ, 02/01/1977), paradigmático violonista brasileiro por sua atuação como instrumentista, compositor e professor, gravou seu primeiro disco em 1941, pelo selo Colúmbia. No disco de 78 rpm constavam a valsa Noite de Lua e o choro Magoado. Em 1960 as duas peças foram incluídas no LP Abismo de Rosas, pelo selo Continental. O LP é um dos mais conhecidos na carreira discográfica do artista. As valsas de Dilermando Reis são, em geral, muito líricas e sempre foram bem-aceitas pelo público. Noite de Lua apresenta forma rondó A B A C A, com a primeira parte em Am, a segunda em C e a terceira em A. Temos tonalidades relativas (Am e C) e tonalidades homônimas (Am e A). Em sua construção, o compositor empregou recursos importantes para a caracterização e a expressividade da obra: mordentes (compassos 2 e 18); arraste ou portamento, com duas espécies: 2ª
nota tocada com mão direita assim que terminar o glissando – deslizar do dedo pela corda (compassos 9, 52, 59, 60 e 68) e 2ª nota não pulsada com a mão direita, ou seja, a nota é atingida com o arraste (do compasso 60 para o 61); pequenas alterações na célula rítmica básica (compare os compassos 57 e 58); cromatismo na melodia (compassos 20, 22, 70 e 72) e pequena antecipação do baixo (compasso 27). A gravação que usei como base para este arranjo foi a do disco Abismo de Rosas. Trata-se na realidade de um duo, com Dilermando no violão solista e, provavelmente, Meira no segundo violão. Procurei manter as linhas do baixo do segundo violão junto com a melodia do primeiro. Observe os efeitos obtidos nos compassos 2, 18, 21, 31, 49 e 82. Em alguns momentos busquei uma alternância de baixos sugerida pela própria harmonia da peça, com a fundamental e a quinta do acorde. A obra funciona bem como solo de violão. Espero que goste do arranjo. Bom trabalho e um abraço!
Noite de Lua – Dilermando Reis – Arranjo: Nilo Sérgio Sanchez
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currículo Nilo Sérgio Sanchez é violonista, arranjador, compositor e regente. É coordenador de Música do Liceu Pasteur de São Paulo. Seu livro, Curso de Violão – Obras de Grandes Mestres, editado pela Irmãos Vitale, apresenta obras de importantes compositores brasileiros contemporâneos. Contato: nilonss@ig.com.br
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CLASSIFICADOS
A primeira parte do método aborda, de maneira equilibrada, elementos teóricos para o aprendizado e os exercícios práticos necessários. Na segunda parte, são apresentadas tablaturas numéricas e obras de grandes mestres eruditos e populares, como Antonio Rago, Badi Assad, Edson Lopes, Theodoro Nogueira, Geraldo Ribeiro, Duofel, Caetano Veloso, Paulinho Nogueira e Toquinho. Editora Irmãos Vitale
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currículo
TÉCNICA Por Henrique Pinto
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Henrique Pinto é professor da Faam, Faculdade Cantareira e Escola Municipal de Música. Editou pela Ricordi uma série de trabalhos didáticos que são referência no aprendizado de violão no Brasil. Como concertista, tem três CDs com o Violão-Câmara-Trio. Contato: hpviolao@uol.com.br
Eu, violonista
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ara melhor localizar o violonista atual, teremos de dar alguns passos atrás e fazer uma retrospectiva dos mestres que dedicaram sua obra e seu talento para que hoje pudéssemos desfrutar o imenso trabalho que herdamos desses ícones que representam a história do violão. O violão brasileiro possui nomes que representam e dignificam seu estágio atual de evolução, e o primeiro que me vem à mente é Isaías Sávio. Tive o privilégio de estudar com esse mestre e, hoje, suas palavras, todo o seu saber com relação à música e ao seu instrumento, sua afetividade com os alunos, o incentivo e seu trabalho desinteressado de qualquer proveito financeiro geraram os fundamentos do violonista profissional atual. Seu trabalho era sem limites, pois tinha alunos o dia todo. Criou métodos, compôs, revisou obras de grandes autores, transcreveu, organizou concursos e concertos, escreveu artigos para a extinta revista Violões e Mestres – que ainda são atuais por seu conteúdo pedagógico e, também, por suas informações pontuais sobre o assunto violão.
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Sávio viveu modestamente, mas seu talento em incentivar os alunos era ilimitado. Ele nos acolhia em seu universo e podíamos desfrutar toda a sua riqueza humanística. Ele indicava caminhos, aconselhava e dirigia nossa vida musical. Podemos conceituar um bom professor: é aquele que, ao terminar a aula, nos faz voltar rapidamente para casa para estudar. Ele nos contagia com sua aura dourada e seu carisma de mestre, nos elevando ao seu patamar e nos estimulando com a energia de sua sabedoria. Se tivesse de saudar meu eterno professor Isaías Sávio, diria: “Muito obrigado por você ter existido e sido meu orientador nesta complexa profissão de violonista. Hoje sigo seus passos, também como professor, e recordo cada momento de nossas aulas, que passavam tão rápido, mas que eram completas de informações e conselhos. Procuro, em cada aluno que encontro, aquela centelha de sabedoria que de você emanava. Espero não tê-lo traído como professor, mas me empenho em seguir seus passos, sempre com gratidão e respeito por sua obra maestral.