Caderno de cultura do Acre

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•• Caderno

de Cultura do Acre •••

projeto poronga

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•• caderno

de cultura do acre ••• novembro de 2003

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­­­­­­Ficha Técnica - Fundação Roberto Marinho

Ficha Técnica - Governo do Acre

Concepção e Supervisão Pedagógica

Consultoria

Vilma Guimarães

Antônio Alves Leitão Neto Maria Correa Marcos Vinícius Neves

Roteiro e Redação dos Textos

Ana Jurema Loureiro Revisão do Texto

Liana Horta Coordenação Operacional de Projetos

Roberta Guimarães Assistente de Produção

Colaboração

Eliana Cavalcante de Almeida Elisangela Maria Pontes de Souza Francisca Bezerra da Silva Helena Carlone Manuel Estébio Cavalcante Simone Barroso

Graciana Martins Projeto Gráfico

Inventum Design Colaboração

Célia Farias Cristina Almeida Maria do Socorro Paiva Capistrano Rafael D'Castro Raimunda Maria Silva

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

Caderno de cultura do Acre: Novembro 2003 / concepção e supervisão pedagógica Vilma Guimarães; roteiro e redação dos textos Ana Loureiro Jurema. - Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2003 ISBN - 85-7484-267-2 1. Cultura - Acre. I. Guimarães, Vilma. II. Loureiro, Ana Jurema. III. Fundação Roberto Marinho.

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governo do estado do acre

Fundação Roberto Marinho

Governador do Estado do Acre

Presidente

Jorge Viana

José Roberto Marinho

Secretário de Estado de Educação e Vice-Governador do Acre

Secretário Geral

Arnóbio Marques de Almeida Junior

Hugo Barreto

Secretária Adjunta de Ensino

Superintendente Executivo

Maria Corrêa da Silva

Nelson Savioli

Secretário Adjunto de Gestão

Gerente Geral de Educação e Implementação

Sérgio Roberto Gomes de Souza

Vilma Guimarães GERENTE ADJUNTA

Maria Aparecida Lacerda GERENTE DE IMPLEMENTAÇÃO

Maria Elisa Mostardeiro COORDENADOR DE PROJETO

Ricardo Pontes

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[ Minha Terra ] JosĂŠ Augusto Fontes

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Minha terra tem florestas Onde de tudo há Tem silêncio, mistério, água Como pra adiante quase não mais há As aves que aqui gorjeiam São muitas e próprias de cá, Como toda a imensa fauna, sem nada a comparar A flora variada, Ainda sendo conhecida, Jorra como fonte Renova o horizonte, Desperta o voraz mundo gigante Sacode a ciência, Atrai a pirataria globalizada, é um levante. Teve látex feito rio, minha terra Só levado sem retorno, Agora quase inexplorado, já não há Minha terra, meu mato Minha aldeia, meu canto distante É agora lugar monitorado, cobiçado Quase tomado. Minha terra, Querem tornar sem fronteiras, Possessão de lá De longe,

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Muitos donos aparecem, com diferente falar Que de tão longe surgidos, Estranha-lhes cantar a sabiá Nas palmeiras que ainda há. Minha terra calada, naturalmente bela Contenta-se consigo própria Modesta mas altiva Como castanheira, Que em lugar nenhum lá há. Cupuaçu, cará, açaí, tambaqui, Piau, graviola, mandi, apuí Não há como aqui. Minha terra Rio, estirão, Bosque, varadouro Seringal, colocação Índio, cidade, ramal, Seringueiro, balseiro Catraia, luar, piracema, terreiro Coisas próprias, modestas, altivas Exclusivas Como além de cá não há. Minha terra tem florestas E todas devem aqui ficar Como os homens que dela nasceram Crescendo para não a entregar

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•• O

que é cultura? •••

No dicionário, a palavra cultura apresenta vários significados. Ela pode ser entendida como a atividade artística ou intelectual e os trabalhos produzidos por estas atividades. Ou o desenvolvimento das faculdades sociais, morais e intelectuais através da educação. Cultura tem ainda o sentido de cultivar, desenvolver. Cultura pode também ser sinônimo de um estilo de expressão artística ou social peculiar a uma classe social ou a uma sociedade. E ainda designar um alto grau de gosto e refinamento adquirido através de treino intelectual. Ultimamente, fala-se muito da cultura física, que é o aprimoramento do corpo através da prática de exercícios. Existe também a cultura do solo, a cultura de animais e até de microorganismos, como as bactérias. Mas o sentido de cultura que queremos ressaltar neste Caderno é o da cultura como herança social, que se adquire e se transmite de gera­ção em geração. Tudo que fazemos, que criamos, todos os produtos do trabalho e do pensamento das pessoas, característicos de uma comunidade e de uma população, é cultura. São vivências seculares, atitudes, gestos, gostos que têm sua origem nas atividades que muitos povos vêm exercendo no mundo para garantirem sua sobrevivência e que vão se mantendo pela tradição.

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É a totalidade dos padrões de comportamento, artes, crenças, valores que aprendemos de nossos pais, familiares, gente com quem trabalhamos e convivemos, e transmitimos aos nossos filhos e às pessoas que convivem com a gente. Usando outras palavras, os antropólogos definem cultura como um conjunto sistemático de representações, símbolos, idéias e valores, de crenças, de saberes e de expressão de criatividade. Para eles, cultura é também o conjunto de normas, de regras, de padrões de conduta, de modos de adaptação à natureza e de instituições que ditam as normas e regras sobre como as pessoas devem se relacionar e se organizar para conviver, produzir e garantir sua sobrevivência. A cultura se faz de coisas dinâmicas, conectadas a um sistema ¯ o sistema de relações entre as pessoas e os grupo sociais. Ela não deve ser entendida como feita de compartimentos separados, de camadas estáticas, isoladas entre si. Para se estudar uma sociedade concreta, em pleno funcionamento, temos que interligar seus domínios entre si.

[ antropólogos ]

Os antropólogos estudam a origem e o desenvolvimento físico, social e cultural dos grupos humanos e o comportamento das pessoas.

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cultura brasileira? •••

A cultura brasileira formou-se dos aportes indígenas, africanos e europeus que se conjugaram aqui neste território criando uma cultura distinta, que é a cultura brasileira. A Matriz Os Povos da Floresta

O espanto europeu na América tropical foi a indianidade, essa outra humanidade canibal e gentil que, longe dos mundos de então, se fi­zera a si mesma com o só propósito de existir curtindo a vida. Era o povo da floresta, ritmo das árvores gigantescas, das águas sem fim e de seus peixes inumeráveis, dos pássaros mil, e de toda sorte de bicho, com os quais aprendera a conviver, deixando-os viver. [Ribeiro e Moreira Neto: 1992, p. 23]

Os Povos Lusitanos

O português foi a cal jesuítica e o óleo genésico que argamassaram o saibro índio e o cascalho negro na edificação do Brasil. Foi o nervo dessas carnes e desses ossos que, a partir de seu punhadinho de gente, se multiplicou, prodigioso, lusitanizando o mundo, numa façanha inverossímil de tão grandiosa, impossível de se pensar, se não tivesse sido feita. [Ribeiro e Moreira Neto: 1992, p.43]

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Os Povos da África

Encontrando já constituída a protocélula luso-tupi, tiveram que nela aprender a viver. Aliciados para incrementar a produção açucareira, comporia o contingente fundamental da mão-de-obra. Apesar do seu papel como agente cultural ter sido mais passivo que ativo, o negro teve uma importância crucial, tanto por sua presença como massa trabalhadora que produziu quase tudo que aqui se fez, como por sua introdução sorrateira mas tenaz e continuada, que remarcou o amálgama racial e cultu­ ral brasileiro com suas cores mais fortes. [Ribeiro e Moreira Neto: 1992, p.120]

Fundado nesta matriz é que se forma o Brasil, descrito por Roberto DaMatta como "O BRASIL do povo e das suas coisas. Da comida, da mulher, da religião que não precisa de teologia complicada nem de padres estudados. Das leis da amizade e do pa­rentesco, que atuam pelas lágrimas, pelas emoções do dar e do receber, e dentro das sombras acolhedoras das casas e quartos onde vivemos o nosso quotidiano. Dos jogos espertos e vivos da malandragem e do carnaval, onde podemos vadiar sem sermos criminosos e, assim fazendo, experimentamos a sublime marginalidade que tem hora para começar e terminar.” [DaMatta: 1984, p.13]

[ cultura brasileira ]

A sociedade e a cultura brasileira, resultantes de um processo de fusão de raças e etnias, tem outra característica distintiva que é sua extraordinária homogeneidade lingüística, cultural e étnica, alcan­ ça­da pelo desfazimento e refazimento de suas matrizes européias, índias e negras. Aqui não se formou nenhuma camada ou quisto étnicamente diferenciado, disputando autonomia. Por toda a extensão do Brasil se fala uma mesma língua, menos marcada por sotaques regionais do que as falas de Portugal. E todos os brasileiros nativos, antigos e recentes, se identificam como um povo coeso, posto na mais bela província do planeta, em busca de seu destino. [Ribeiro e Moreira Neto, 1992: p.57]

As pessoas não têm existência separada da natureza. Há uma ligação muito forte entre a natureza e como a cultura vai sendo criada. Quando uma é afetada, a outra também muda. As pessosas, em relação com a natureza e em relação com as outras pessoas, vão criando uma cultura típica de cada lugar. Assim é na Amazônia. •••

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que é cultura amazônica? •••

“A Amazônia é a região de maior floresta tropical contínua no mundo, guardando não só uma fabulosa reserva florestal como também de água, de espécies botânicas, medicinais, industriais e frutíferas, de animais e de aves.” (Tocantins: 1998, p.92). A Amazônia se destaca como uma das mais importantes áreas bioculturais identificadas no mundo. É convivendo com a floresta que as pessoas vão aprendendo o manejo das plantas e dos animais no seu meio ambiente. A partir do que extraem da relação com a natureza, vão formando hábitos, costumes, criando instrumentos, construindo uma cultura. A atividade na floresta gera um sistema de vida com características bem próprias. A Amazônia, com sua enorme diversidade biológica e cultural, faz nascer uma cultura amazônica que vai se fazendo na relação dos povos com a floresta, das terras firme e ribeirinha, e das águas, rios e igarapés. Aprender a cultura do lugar é conhecer a ecologia e o manejo das espécies que habitam os rios e a floresta, saber seu potencial e seus usos, bem como reconhecer os hábitos das comunidades locais. A cultura vem "com o território, com o povo, com a história se fazendo…" [Santos: 2002, p.63]. E é assim que a cultura amazônica se traduz – numa infinidade de expressões, que caracterizam a multiplicidade cultural da Amazônia. Há uma profusão de expressões de biodiversidade que correspondem a uma riqueza de proporções amazônicas de expressões de diversidade cultural. A pluralidade de expressões culturais é tanta e tão grandiosa quanto são variadas a fauna e a flora da floresta e das águas. Expressões que se traduzem nos povos, nas línguas, nos utensílios e adornos que eles criam para sobreviver e se relacionar. Da relação com a natureza exuberante resultam a intimidade com as águas, que é referência de origem, e o exímio manejo dos produtos da floresta. ••

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[ amazônia ]

A Amazônia brasileira com uma área de aproximadamente 260 milhões de hectares, formada pela bacia do rio Amazonas, é possuidora de características fas­ cinantes. Tem também um clima de altas precipitações pluviométricas, umidade e temperaturas elevadas. A Amazônia brasileira foi definida como Amazônia Legal pela lei nº 1806 de 06.01.1953. Possui em torno de cinco milhões de quilômetros quadrados. É sete vezes maior que a França. É formada pelos seguintes Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins e parte ocidental do Maranhão. Na Amazônia existem cerca de 4.000 espécies de árvores. Muito valorizadas comercialmente são a castanheira e a seringueira, que predominam em muitas matas de terra firme. Os animais da Amazônia espalham-se por toda a sua floresta. Os mais caçados pelo homem para servirem de alimentos são: a paca, a cotia, o tatu, o veado e a anta. Os macacos são os mais fáceis de serem percebidos nas matas. Existem tartarugas terrestres em grande quantidade. O mutum, pombas, tucanos, papagaios e araras são aves de grande beleza, quase extintas, devido às ações destruidoras dos caçadores. Os rios amazônicos fazem da região o maior reservatório de peixes do mundo. Na Amazônia existem produtos vegetais decorativos (Vitória-Régia), medicinais e alimentícios (guaraná e castanha). Os recursos minerais disponíveis na Amazônia são: o alumínio, o caulim, o cobre, o cromo, o chumbo, o zinco, o estanho, o ouro, o salgema e o urânio. Seus recursos energéticos são: o petróleo, o carvão, gás e hidrelétricas. [Souza: 2002, pp.181-182] [ manejo ]

Operar, manipular, conduzir, executar, lidar, administrar. [ multiplicidade cultural ]

O conceito de cultura está intimamente ligado às expressões de autenticidade, da integridade e da liberdade. Ela é uma manifestação coletiva que reúne heranças do passado, modos de ser do presente e aspirações, isto é, o delineamento do futuro desejado. (...) As culturas nacionais desabrocham como reflexo do que se convencionou chamar de gênio de um povo, expresso pela língua nacional, que é também uma espécie de filtro, veículo das experiências coletivas passadas e também forma de interpretar o presente e vislumbrar o futuro. [Santos: 2002, pp.65-66] [ biodiversidade ]

A soma de todos os produtos da evolução biológica: variação genética, riqueza de espécies, diversidade de sistemas naturais. [Cunha e Almeida: 2002, p.33]

Dentro da diversidade da Amazônia foi se fabricando a unidade da cultura brasileira, mesmo que tomando formas distintas e particula­ res. E é dentro desta pluralidade amazônica que o Acre vai construindo história e cultura com características próprias.

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a cultura do Acre? •••

As terras do Acre foram reveladas em 1852 por um pernambucano: Serafim da Silva Salgado, que lá chegou a mando do presidente da Província do Amazonas. Mas o grande sertanista Manuel Urbano da Encarnação, mestiço amazonense, e o paraense João da Cunha Correia, são considerados os verdadeiros exploradores das terras que constituem o Estado do Acre. Como nos conta Leandro Tocantins, o Acre foi a "última terra a integrar-se no território brasileiro. Pode-se dizer: complementação de um processo histórico-social que teve nos portugueses os grandes realizadores, durante os séculos dezessete e dezoito. Aos brasileiros coube arrematá-lo com a conquista do Acre, que era boliviano, na passagem do século dezenove para o vinte.” [Tocantins: 1998. pp.17 -18] As terras do Acre só se consolidaram como brasileiras com a Revolução Acreana, liderada por Plácido de Castro. Terra de fartura, cuja ocupação se deu sustentada pelos rios e florestas, era assim descrita por Euclides da Cunha: "O forasteiro, ao penetrar o Purus ou o Juruá, não carecia de excepcionais recursos à empresa. Uma canoa maneira e um varejão, ou um remo, aparelhavam-no às mais espantosas viagens. O rio carregava-o; guiava-o; alimentando-o; protegendo-o. Restava-lhe o só esforço de colher à ourela das matas marginais as especiarias valiosas; atestar com elas os seus barcos primitivos e volver águas abaixo ¯ dormindo em cima da fortuna adquirida sem trabalho. A terra farta, mercê duma armazenagem milenária de riquezas, excluía a cultura. Abria-se-lhe em avenidas fluviais maravilhosas. Impôs-lhe a tarefa exclusiva das colheitas.” [Brandão: 1986, pp.126-127] COMO A CULTURA DO ACRE SE EXPRESSA?

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[ acre ]

O Acre é um vasto espaço coberto por uma densa floresta tropical, úmida, contínua, cortada por uma complexa rede hidrográfica. Distingue-se pela sua situação estratégica, de vivas conotações geopolíticas: extensas fronteiras internacionais, proximidade do Oceano Pacífico, recursos naturais abundantes, enclave no território sul-americano como ponto extremo ocidental do es­ paço brasileiro. Sua maior riqueza vem da mata. A produção extrativa vegetal condicionou, através da borracha, a sua conquis­ta e colonização. Ainda hoje, os produtos da floresta (a castanha, a seringa) são os que mais pesam na economia do Estado, se­guindo-se a agricultura, o pescado, a pecuária. O Acre deu enor­me contribuição ao Brasil a partir dos últimos anos do século XIX, eis que, de suas árvores tipo hevea (a mais famosa, porque de me­lhor qualidade, a Hevea brasiliensis) escorre o leite do qual se origina a borracha. Sim, a borracha, denominada Acre-Fina, que se impôs nos mercados internacionais. [Tocantins: 1998, pp. 17 -18] O Acre passou por três fases governamentais diferentes. A primei­ ra fase tem o seu início em 1852, quando foi anexado à Província do Amazonas, fazendo parte da comarca do Rio Negro. Esta fase se encerra em 1898, quando o ministro boliviano Paravicini estabeleceu em Porto Alonso o Departamento Boliviano do Acre. A segunda fase governamental prolonga-se até 17 de novembro de 1903, com a assinatura do Tratado de Petrópolis, que anexou o Território do Acre ao Brasil. Acontece então, a terceira fase go­vernamental, anterior à passagem do Acre a Estado. No processo histórico de urbanização do Acre, se pode distinguir três períodos: a fase da euforia da borracha e expansão urbana, caracte­rizada pela criação de unidades urbanas e prosperidade; o período da estagnação após a crise da borracha, marcada pelo de­clínio tanto da população urbana como rural e o período de expansão da fronteira agrícola e êxodo rural intenso. [Governo do Acre: 2001, p.19]

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Existem dois modos básicos de se reconhecer a cultura dos lugares: Um modo é utilizar informações oficiais. É conhecer dados de­mo­ gráficos, econômicos e geográficos. É quantificar o que se produz. Tam­ bém podemos verificar os dados relativos ao sistema político e educacional para saber o número de alunos escolarizados, o índice de analfabetismo e quantas escolas se distribuem nas diferentes regiões do Estado. Por exemplo, o Projeto Poronga, que trabalha com o Ensino Fundamental na cidade de Rio Branco, teve um total de 105 telessalas e 105 professores, ensinando a mais de 3.494 alunos. Essa classificação, baseada em estatísticas, permite construir uma identidade social e quantificar a cultura de acordo com os critérios oficiais estabelecidos por siste­mas, tais como o governo ou as agências internacionais. Assim a definição da cultura pode chegar através de critérios quantitativos, ditos objetivos e claros, reconhecidos oficialmente. Um outro modo de reconhecer a cultura é o de descobrir como a cultura se exprime, identificar como se revela um estilo, um modo ou um jeito de ser e de fazer as coisas. É buscar dados qualitativos, tentar entender significados e buscar o sentido do ser e fazer coisas, dos POVOS do Acre. Experimente fazer uma lista do que você faz, de como você faz, o que você gosta e de tudo que você considera importante, como família, CRENÇAS, COSTUMES, e o que lhe dá prazer – ARTES, COMIDAS e FESTAS. Você vai ver que, a partir do que aparece e do que não aparece nesta lista, pode-se descobrir a cultura, os costumes e as tradições de um lugar.

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[ revolução acreana ]

Plácido de Castro é considerado a alma, o cérebro e o executor da Revolução Acreana, que teve início em agosto de 1902. Comandando um exército de seringueiros, eles defenderam o solo para os acreanos, que dele tomaram posse através do trabalho, acabando com o domínio boliviano. A Revolução Acreana também preservou a soberania da América do Sul, ameaçada pelo Bolivian Syndicate, braço do Reino Unido, financiado por banqueiros norteamericanos, que vinham explorar as riquezas naturais do Acre. O espírito revolucionário acreano, sob a liderança de Plácido de Castro, afasta o perigo do colonialismo internacional e assegura o Acre para os brasileiros. [ informações oficiais ]

O Estado do Acre possui 152.589 Km² de superfície e representa 1,79% do território nacional, ocupando o 12º lugar em extensão entre os Estados brasileiros. Situa-se no noroeste do Brasil, parte sudoeste da Amazônia. Integra a grande Região Norte, e, dentro desta, compõe fração da Região da Planície Amazônica. O Acre tem a singularidade de ser o Estado brasileiro mais próximo do Oceano Pacífico, de onde fica, aproximadamente, a 800 quilômetros. E ainda outra singularidade: no Acre está (Município Mâncio Lima) o ponto mais ocidental do Brasil. É o marco 76, da fronteira Brasil-Peru, a 13°59`32". As 28 terras indígenas reconhecidas pelo Governo federal ocupam uma extensão total de 2.167.146 hectares, que equivalem a 14,2% da área do Estado, e estão distribuídas em metade dos 22 municípios acreanos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2000 a população total do Acre era de 557.337, sendo 187.541 residentes na área rural e 369.796 na área urbana. Rio Branco, sozinha reúne 49% de todos os habitantes do Estado. O clima no Acre é quente e úmido, a umidade relativa do ar tem médias mensais de 80-90%, durante todo o ano, com duas estações: chuvosa e seca e a temperatura média anual está em torno de 24,5 graus centígrados. Seu relevo caracteriza-se pela Depressão Amazônica, áreas de relevo plano e a Planície Amazônica. Os principais rios que banham o Estado do Acre formam duas grandes bacias fluviais: a Bacia Acre-Purus e a Bacia do Juruá. O extrativismo constitui-se uma das atividades econômicas mais importantes do Estado do Acre. Para a população de seringueiros e extrativistas, foram criadas no Acre duas grandes Reservas Extrativistas e oito Projetos de Assentamentos Agroextrativistas, que ocupam 11% do território do Estado (1676.203ha), sendo 1,3% de Paes (193.447 há) e 9,7% de RESEXs (1.482.756 há). Sua população é estimada em aproximadamente 3.064 famílias. E a borracha e a castanha, produzidas nas Paes e RESEXs existentes, representam hoje 57% e 36% da produção do Estado, respectivamente. Já a população ribeirinha do Acre, que é de 86.019 habitantes, ocupa cerca de 23.000 ha às margens dos rios Acre, Iaco, Purus, Envira, Tarauacá e Juruá e seus afluentes. Os ribeirinhos, além do cultivo de frutas, hortaliças, raízes e grãos, criam pequenos animais, como suínos e aves. Sua economia é complementada pela caça, pesca e pelo extrativismo vegetal. A Floresta fornece uma infinidade de produtos – para consumo próprio ou para venda ¯ oriundos de espécies florestais não-madeireiras, como: fibras, resinas, gomas, óleos, corantes, aromáticos, taninos, medicamentos, etc. Por exemplo, as espécies florestais tropicais servem de base à quarta parte de todos os produtos farmacêuticos comercializados nos Estados Unidos, especialmente alcalóides, quininos e esteróides. Entre 1970 e 1996, o rebanho cresceu mais de 1.000% no Estado. Pesquisa realizada pela Secretaria Executiva da Indústria, Comércio e Turismo mostra que Rio Branco conta com 4.034 estabelecimentos nos setores industrial, comercial e de serviços. Do total das empresas pesquisadas, 3,94% são indústrias; 14,85% serviços; e 81,21%, comércio. [Governo do Acre: 2001]

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Povos •••

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O artersanato rico e variado é uma das contribuições dos índios à cultura acreana. Com fibras retiradas das árvores da floresta, eles confeccionam cestos e outros utilitários

Os povos que formaram o Acre O Acre é uma terra formada por imigrantes. Entraram na composição social acreana os indígenas nativos, nordestinos de origens diversas, e gente de outras nacionalidades, com destaque para os sírios-libaneses. Cerca de 150 mil índios habitavam o Acre, na segunda metade do século XIX. Estes índios vieram dos rios Ucayalli e Madre de Dios e seus afluentes no Peru, começando a ocupação territorial a partir de 1640. Não se sabe ao certo a quantidade e a diversidade das etnias que ocuparam originalmente o território. Presume-se, no entanto, pelos relatos de aventureiros, missionários e viajantes, que, com o processo da exploração gumífera iniciado no final do século XIX e início do XX, ocorreu a extinção de muitos povos e tribos das que se tem notícias por meio desses relatos.

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[ etnias ]

A etnia qualifica a maior unidade tradicional de consciência de espécie, no ponto de encontro do biológico, do social e do cultural: comunidade lingüística e religiosa, relativa unidade territorial, tradição mítico-histórica (descendência bilateral a partir de um antepassado real ou imaginário), tipo comum de organização do espaço. [Akoun: 1994] [ exploração gumífera ]

É o processo de exploração de látex (borracha natural) iniciado a partir da revolução industrial, sobretudo com o advento da indústria automobilística e a descoberta da vulcanização, que possibilitou a fabricação de pneus. [ povos ]

Conjunto composto de diversos grupos locais, ocupando território delimitado e cônscio da semelhança existente entre seus membros pela homogeneidade cultural. [Michaelis: 2002] O látex das seringueiras é matéria-prima para a produção de borracha e couro vegetal

[ tribos ]

São grupos que proclamam a sua unidade na base da concepção que eles têm da sua cultura comum específica. Conjunto de famílias nômades, geralmente da mesma origem, que obedecem a um chefe. [Michaelis: 2002]

Atualmente, existem quatorze etnias no Estado. Duas delas, Arara/Shawãdawa e Jaminawa Arara são, provavelmente, uma única etnia, em função dos casamentos interétnicos. Há os Náwa, um povo ressurgido, identificado em 1999 pelo Conselho Indigenista Missionário – CIMI e confirmado por um relatório antropológico da FUNAI. É provavel que este grupo seja remanescente de uma etnia considerada extinta, ou então um grupo pertencente a alguma etnia ainda existente, que adotou a tática de camuflar sua identidade étnica por medo das represálias dos antigos exploradores de seringa e de caucho. Por fim, há os Apolina Arara, também um grupo renascido em fase de reconhecimento por parte da FUNAI, que deve constituir um caso semelhante aos Náwa.

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São, portanto, onze grupos com traços socioculturais bem definidos e já reconhecidos e aceitos historicamente como etnias indígenas: Manchineri; Kampa, cuja autodenominação é Ashaninka; Kulina, cuja autodenominação é Madija; Katukina; Kaxinawá, cuja autodenominação é Huni-Kuin; Nukini; Arara, cuja autodenominação é Shawãdawa; Poyanawa; Shanenawá; Jaminawá e Yawanawá. No que diz respeito à língua dessas etnias, há o predomínio de línguas da família lingüística Pano, as oito últimas etnias relacionadas falam línguas dessa família; mas há também línguas que são da família Aruak, como as faladas pelos Manchineri e Ashaninka e uma língua, a Madija, que pertence à família Arawá. Os povos Náwa, Jaminawá Arara e Apolina Arara são falantes de línguas pertencentes à família Pano.

[ Povo ressurgido ]

Diz-se do povo que era considerado desconhecido ou extinto e que ressurge no cenário sociopolítico nacional, assumindo a identidade pública de povo indígena. [ seringa e caucho ]

A seringa, seiva extraída da seringueira (Hevea brasiliensis) e o caucho (Castilloa ellastica) são as matérias-primas para a fabricação de pneumáticos e outros produtos derivados da borracha. A ocupação da Amazônia, e sobretudo a conquista do território acreano por não-indígenas, e os conseqüentes conflitos interétnicos que redundaram no extermínio de muitas etnias, deu-se em função da exploração desses produtos, sobretudo do caucho, que foi extensamente explorado por caucheiros peruanos. Algumas etnias prestaram serviços aos caucheiros e seringalistas na tarefa de limpar os seringais da presença dos "índios brabos", que era a expressão utilizada para denominar os indígenas que não se moldavam à exploração de sua força de trabalho e à expropriação de seus territórios. [ Família lingüística ]

É um conjunto de línguas que têm uma origem comum pertencente a uma língua-mãe ou proto-língua, que se conhece pelo nome de Tronco Lingüístico. No Brasil há dois troncos lingüísticos bem estudados e documentados, o tronco Tupi e o Tronco Macro-Jê. As famílias lingüísticas que congregam as línguas faladas pelas etnias indígenas do Estado do Acre pertencem a troncos lingüísticos desconhecidos. Em razão do contato abrupto e violento desses grupos com os não-indígenas, a situação de falante apresenta três situações bem definidas: há etnias que são bilíngües e cuja primeira língua é a língua indígena e a segunda língua é o português; outras etnias são praticamente monolíngües em português, como os Poyanawa, Nukini e alguns grupos Kaxinawá; e há o caso dos Madija e alguns grupos de Ashaninka que são predominantemente monolíngües em suas línguas.

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•• Kaxinawá

O Povo Kaxinawá ou Huni Kuin (gente verda­ deira) co­mo eles se denominam, faz uso coletivo da terra. As famílias, chefiadas pelos homens, fazem seus roçados utilizando os espaços dis­poníveis de forma que toda a comunidade possa utilizá-los. Praticam a tecelagem em algodão, com tingimento natural. A cerâmica é feita em argila com cinzas obtidas de animais, plantas e ainda cacos de outras cerâmicas, onde são impressos os kenê (desenhos da cobra), uma espécie de marca que identifica a cultura material dos Kaxinawá, cujo significado está relacionado à coragem, força, poder e sabedoria. Os colonizadores sabiam que extinguindo o poder mágico-religioso das sociedades indígenas, minava-se a base da organização social das populações nativas, mas os Kaxinawá resistiram. Eles mantêm vivos aspectos essenciais de suas tradições, como por exemplo, o ritual que propicia a ligação das pessoas com o yuxin, que está fora da natureza e fora do humano, é o sobrena­tural e o sobre-humano. [Ferreira,P.: 2002, pp.34-35]

•• Jaminawá

O Povo Jaminawá tem como característica marcante o seminomadismo, revelado nas freqüentes mu­danças, e as dispersões de famílias, quase sempre motivadas pelas divergências internas. Sempre mantiveram a agricultura de subsistência, servindo até de mão-de-obra nos grandes roçados dos patrões. Exerciam também as funções de remadores e varejadores nos barcos dos senhores dos barracões. Os Jaminawá cultivam a macaxeira e a banana, e praticam a caça e a pesca. Cada família possui seu roçado, se tornando economicamente autônoma, mas a carne e o peixe são distribuídos para toda a comunidade. A liderança antigamente era um grande caçador, provedor incomum, que conhecia as regras da tradição e tinha o dom da oratória, mantinha várias mulheres, além de ter o poder de persuasão na comunidade, mediando conflitos internos e externos e não temendo forças ocultas. Também não temia tomar o shori (ayahuasca) que para eles é um remédio. A cerâmica, a tecelagem e a cestaria têm sido os trabalhos predominantes. A arte oral e musical Jaminawá é muito rica, com belos cantos que descrevem os sentimentos do autor e as peripécias de sua vida. [Ferreira, F.: 2002, pp. 32-33]

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•• Nukini

O Povo Nukini possuía uma organização centralizada na pessoa do cacique, ou como na denominação atual, na lideran­ ça ou pajé. Tal como os demais povos indígenas da região, o processo violento de dominação e submissão a que os Nukini foram submetidos acarretou a desagregação de sua tradicional organização social e política. A terra indígena dos Nukini está sendo invadida, sendo alvo de derrubada indiscriminada da floresta, enquanto que a população da região é explorada e expropriada.

[Ferreira, P.: 2002, pp.48-49]

•• Arara

O Povo Arara se autodenomina Shawãdawa e é também conhecido por Shawanáwa, Xawanaúa Xawanáwa, Chauã-nau, Ararapina, Ararawa e Tachinauá. Ao longo da segunda metade do século XX os Arara estiveram sob o jugo dos patrões. Do final da década de 1980 ao início da de 1990, muitos Arara migraram para as cidades, principalmente Cruzeiro do Sul, de­vido às precárias condições de vida na terra indígena. Eles têm como atividade a produção de borracha, mas não abandonaram os costumes tradicionais como a caça, a pes­ca, a agricultura e a coleta. Alguns produtos como anéis, pulseiras, colares e bolsas de tecido são comercializados. [Gondim: 2002, pp. 42-43]

•• Shanenawá

O Povo Shanenawá, que em sua língua significa "povo do pássaro azul", dedica-se à economia de subsistência. Seus roçados são feitos em locais devidamente escolhidos, mais altos e bem drenados, onde cultiva macaxeira, milho, banana e arroz. Os ho­mens trabalham na fabricação de arcos e flechas, facas e bordunas usadas tanto para a caça como para a venda. As mulheres fazem colares, pulseiras, saias, chapéus, cestas e vasos de cerâmica. A criação de animais domésticos constitui-se em importante fonte de alimentação, já que a caça na região tem se tornado escassa. A pesca também faz parte de seus costumes, embora os peixes também estejam escassos na região. [Almeida: 2002, pp.36-37]

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•• Katukina

O Povo Katukina passou de caçador/coletor a caça­dor/ agri­cultor, alterando assim, a base econômica tradicional a fim de garantir a sobrevivência física. Devido aos sucessivos deslocamentos e mi­grações que os Katukina empreenderam, são tidos pelos regionais como "povo que não pára quieto", nômades. [Borges: 2002, pp.28- 29]

•• Náwa

O Povo Nawa ainda luta pelo reconhecimento étnico e pela regularização da terra habitada e reivindicada por ele, sendo considerado um povo valente e resistente. Ainda subsiste a prática das benzeduras, exercida pelas pessoas mais velhas, geralmente as mulheres. Os Nawa não fazem uso da pajelança e se dizem católicos. Nas festas cantam na língua materna e dançam com trajes típicos, como saiotes e chapéus, usando adornos em plumas e pintura corporal.

[Padilha: 2002, pp.44-45]

•• Madija

O Povo Madija é a etnia que mais preserva suas tradições culturais, a partir da própria língua. O povo tem o Madija como primeira língua, e somente alguns poucos homens falam o português na interlocução com os não-indígenas, ainda assim com certa dificuldade. As crianças e as mulheres quase não falam o português, na verdade algumas entendem mas não conseguem se comunicar nessa língua. O contato com a civilização branca transformou os Madija, de moradores tradicionais do interior da floresta em bandos dispersos, passando a viver nas margens dos rios, ora como extratores de látex para a empresa seringa­lista, ora como agricultores e caçadores para os ribeirinhos. Os madija se destacam pela musicalidade. Qualquer visitante que passa pelas aldeias percebe os cantos, as flautas a qualquer hora do dia. São caçadores e coletores, possuem uma agricultura de subsistência monopolizada pela macaxeira, mamão e milho, cultivando ainda algodão para tecelagem e o urucum para a pintura corporal. Mais recentemente começaram a plantar feijão e arroz. Ao longo de sua história, guerreavam constantemente com grupos hostis, como modo de garantir sua sobrevivência. [Ferreira, F.: 2002, pp.24-25]

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•• Ashaninka

O Povo Ashaninka foi denominado pelos não-índios pelo nome Kam­ pa, termo amplamente utilizado. Porém trata-se de uma denominação não-aceita por eles, por considerá-lo um termo pejorativo. Se autodenominam Ashaninka, que na sua língua significa "seres humanos" ou "nossa gente. Povo reconhecidamente guerreiro, foi incorporado ao sistema seringalista, forçado a realizar "correrias" contra outros povos indígenas. Uma característica do povo Ashaninka é a mobilidade, que pode ser impulsionada por questões econômicas (busca de novos patrões), sociais (casamentos e visitas a parentes) e religiosas (mortes). Além da mandioca, a base de sua alimentação, os Ashaninka também cultivam diversas espécies de batata, milho e banana. O artesanato Ashaninka obedece ao critério da funcionalidade, podendo ser dividido em indumentárias, equipamentos domésticos, instrumentos musicais e armas, utilizando diversas técnicas e matérias-primas. Grandes apreciadores de música, os Ashaninka são exímios produtores de instrumentos musicais, como o piyôpiarentsi ou arco de boca, tambor e flautas.

•• Manchineri

[Almeida L.: 2002, pp. 26-27]

O Povo Manchineri caracterizava-se como povo guerreiro, caçador, pescador e eventualmente agricultor. Os Manchineri fabricam canoas (ubás) de cedro, mui­to compridas e pesadas, feitas com extrema técnica e perícia. As atividades e funções nas comunidades são distribuídas de acordo com o sexo. Os homens cortam a mata, preparam o solo para o plantio, confeccionam instrumentos de trabalho, equipamentos de caça, pesca, transporte, constroem moradia, abrigos para uso familiar, realizam caçadas e pescarias. As mulheres conservam os roçados, realizam a maior parte das colheitas, cultivam algodão e algumas ervas medicinais, fabricam as bebidas, tecem e fiam o algodão. Algumas tarefas, como confeccionar objetos de cestaria, pescaria coletiva, co­lheitas de produtos agrícolas, coleta de frutos, dentre outras, constituem tarefas comuns a ambos os sexos. [Borges: 2002, pp.22-23]

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A partir da segunda metade do século XIX o interesse da província do Amazonas pelas "drogas do sertão" e pela borracha era muito grande, devido ao grande lucro obtido na exploração desses produtos. Esse interesse estendia-se igualmente aos coletores e comerciantes de tais drogas no princípio do século XIX. A região acreana, então, passou a ser explorada, neste período, por viajantes exploradores e cientistas, que faziam o reconhecimento da região penetrando pelos rios Juruá e Purus, daí navegando por rios como o Acre, o Chandless, o Tarauacá e outros. A ocupação da região que hoje constitui o Acre foi bastante intensa, principalmente depois da segunda metade do século XIX. Entre 1877 a 1879, tentando resolver problemas internos de abastecimento, o governo da Província do Amazonas agiu no sentido de implantar projetos de colonização agrícola, de subsistência, financiando a migração dos brasileiros do Nordeste. Dos 12.563 trabalhadores migrados para o Amazonas, mais de 11.000 foram para os seringais, principalmente na região do Acre. [Souza: 2002., pp. 77-79] A presença brasileira foi se firmando com a vinda destes homens e mulheres nordestinos, que vinham para a região explorar a seringa, produzir borracha, para se consolidar com o início do chamado Primeiro Surto da Borracha na Amazônia: "da Amazônia a notícia circulou pelo Nordeste. E veio a grande contribuição brasileira. Pernambucanos, maranhenses, alagoanos, paraibanos, rio-grandenses do norte, sergipanos. Cearenses ¯ estes, sólida maioria, marcaram vivamente sua presença no Acre." [Tocantins: 1998, p.18]

[ seringais ]

As sedes dos seringais, construídas às margens dos rios, eram os vilarejos mais importantes, funcionando como sede do patrão e entrepostos comerciais da borracha. Isto favorecia o aglomeramento de pessoas. A maioria das cidades acreanas teve sua origem nos núcleos de comércio da borracha, Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Taraucá, Sena Madureira, Feijó e outras cidades acreanas, por exemplo, surgiram a partir da expansão do comércio da seringa. [Souza: 2002 , p. 55] Seringa, na linguagem amazônica, era uma bomba sem êmbolo, em forma de pêra, oca, feita de borracha, com orifício na extremidade, no qual se adaptava uma cânula. Invenção dos índios, que tinham o hábito singular de utilizá-la, como limpeza de campo, antecedendo aos jantares de gala, operação a que não se eximiam os convidados de repasto. Chegando ao conhecimento dos portugueses tais objetos, saudados como úteis à civilização, o seu nome passou a ser também, o da árvore que jorra o leite, Árvore de Seringa. E da seringa surgiu o seringal, o espaço físico-social onde se erguem, dispersas pela floresta, as espécies de vegetais da borracha, E do seringal, o seringueiro, o homem que se associa à planta, para explorá-la (...) Depois do ano de 1920, apareceu o neologismo seringalista, para designar o proprietário do seringal, que, antes, era o patrão ou, mesmo, seringueiro, confundindo-se na nomenclatura, com o verdadeiro extrator da borracha. Hoje, a palavra está definitivamente integrada no vocabulário regional. Assim, passou a ser um quarteto ecológico: seringa, seringal, seringa­lista, seringueiro. [Tocantins: 1992, p. 100] ••

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[ seringueiros ]

Os homens, mulheres e crianças dos seringais se organizam e trabalham coletivamente. São gente solidária, habituada aos sacrifícios e às lutas. Têm se caracterizado pela resistência à exploração e ao extermínio das florestas, criando cooperativas, sindicatos, partidos. A luta dos seringueiros é simbolizada por pessoas como Wilson Pinheiro e Chico Mendes, que pagaram com a vida, lutando pelo que acreditavam: a criação de reservas extrativistas e a aliança dos povos da floresta.

Árabes se destacaram no comércio Elementos da cultura árabe e islâmica do norte da África marcaram os povos brasileiros e chegaram também ao Acre. Mar­ cas que são consolidadas com a presença dos sírios e libaneses, que chegam a partir da segunda metade do século XIX. Foram importantes no comércio e abastecimento regional e ajudaram a formar cidades e bairros, a criar costumes locais e a influenciar na criação de uma cultura acreana. "Sírios e

••• Estas são as raízes que formaram o povo do Acre. A cultura acreana se fez a part

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libaneses vieram no mesmo período que os nordestinos. Se conheceram de perto em seus negócios, um vendendo e o outro comprando, numa época áurea da produção da borracha, de intenso comércio." [Souza: 2002., p.55]

O povo do Acre se forma destas raízes. Do que cada povo trouxe de suas culturas e juntou à cultura dos povos indígenas, foi se fazendo a cultura acreana.

ez a partir da contribuição que cada um dos imigrantes trouxe para a cultura indígena

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Crenças •••

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Os seguidores do Santo Daime cozinham as folhas da chacrona e do cipó jagube para preparar a ayahuasca, bebida usada durante as cerimônias

Crenças e lendas fazem parte da vida

As sociedades estabelecem ritmos em suas vidas que vão variando entre trabalhos e festas, rotinas e ritos, ocasiões comuns e períodos ex­traordinários. Exprimem suas crenças e cultos variados convivendo com as pessoas ou falando com os encantados, intercalando o traba­ lho com festas, rituais e comemorações. As crenças e lendas existentes no Acre, que influenciam o jeito de ser e fazer do acreano, mostram uma riqueza espiritual, que encontra nas coisas da natureza explicações para suas ações e dificuldades cotidianas. Estas crenças e lendas permitem atribuir às forças sobrenaturais justificativas para amenizar a vida de quem luta para sobreviver nas florestas. Caçadores seringueiros, por exemplo, acreditam e temem a existência do que eles chamam de panema, "força maligna que toma

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[ crenças ]

A aceitação de alguma coisa ou convicção de uma verdade; alguma coisa em que se acredita e se aceita como verdadeira, um corpo de opiniões, doutrinas ou princípios aceito e tido como verdadeiro por grupos de pessoas ou instituições [ encantado ]

Encantados são entidades espirituais, seres humanos ou animais, que no término de sua existência mortal tornaram-se imortais; espíritos que vivem nas matas, nos rios e mares, baixam em terreiros, nos salões de curadores e convivem com mortais. Os encantados dialogam com os homens, não são sobrenaturais nem extraordinários, mas naturais. [Trindade: 2000, pp.69-70]. [ panema ]

Situação em que os caçadores ficam azarados para matarem caças na floresta. Então, eles não permitem que mulheres gestantes comam de suas caças. Isto dá panema. Da mesma forma acreditam que um homem "picado" de cobra pode até morrer se for visitado por uma mulher neste "estado". Para a cura, para voltarem a ser bons caçadores, fazem remédios do mato. Pegam o Tipi, a pena de Nambu Azul, o cabelo do Porquinho do Mato, o cabelo de um Veado, colocam dentro de uma panela. Fervem. E recebem o vapor, a fumaça da mistura. Após isto, estão novamente habilitados para suas caçadas. [Souza: 2002, pp. 83-84]

conta da pessoa e cujas causas não conseguem ser explicadas por fatores naturais. Os seringueiros, pescadores, e caçadores, tomam cuidado para não serem por ela acometidos, já que o fenômeno, que crêem ser resultante da inveja, simboliza azar, má-sorte, e quando por ela atacados, tudo de ruim pode ocorrer.” [Rancy: 1992, p.53]

Seres sobrenaturais povoam a floresta, os rios e as vidas dos acreanos: Mapinguari, Matinta-Pereira, Caboclinho-da-Mata e Batedor. E são muitas as histórias repassadas por seringueiros e seringueiras do interior das florestas. A história sobre Mapinguari nos é contada por Hélio Melo: ••

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[ ayahuasca ]

Vegetal, caapi, ou iagê, é uma bebida ce­rimonial utilizada em rituais de inúmeros grupos indígenas do continente americano, sendo preparada através do cozimento em água de dois vegetais da floresta amazônica: o cipó jagube e a folha chacrona. [ daime ]

O nome indica a condição e a atitude dos filhos de Deus e da Rainha da Floresta, aos quais dirigem seus pedidos quando tomam a ayahuasca e cantam os hinos nos quais a Doutrina está baseada. A expressão nas­ ceu da rogativa/oração dos seus adeptos quando bebem em comunhão com Jesus Cristo, e com fé no recebimento de suas implorações: “Dai-me Amor, Dai-me Força, Dai-me Luz”. [conforme o hino No. 33 – "O Hinário dos Mortos" – de Maria Marques Viei­ra, conhecida como Maria Damião In: Bar­ros, s/d, p.20].

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Dizem que no início da exploração dos rios da Amazônia existia um monstro na floresta chamado Mapinguari. Hoje, se tem essa história como lenda, mas os índios Apurinã falam que ele existiu. Em 1874, os exploradores chegaram em Boca do Acre pela primeira vez; havia um índio velho chamado Camicuã que dizia ter matado um Mapinguari. Contava ele que este animal era grande, forte, tipo corpo humano, com um olho só no meio da testa. Seu couro era cascudo e suas unhas afiadas. Gritava como se fosse uma pessoa, e se alguém respondesse ele logo viria ao seu encontro. O Mapinguari exalava um pixé tão forte que se a pessoa trepasse em uma árvore e não estivesse bem segura entre os galhos, caía embriagada com o mau cheiro. Era encontrado nas terras firmes gerais, isto é, terras altas, com chapadas e grotiões. Po rém, de vez em quando, dava uma busca nas margens dos rios causando terror aos índios. Para matar esse tipo de animal, estes corriam perigo de vida porque a flecha teria que acertar no olho ou no umbigo. Esta história é uma lenda, mas de repente ainda existe Mapinguari na floresta. [Melo: 1989, p.7]

Outra manifestação cultural própria do Acre é a doutrina do Santo Daime. Os brasi­lei­ros vindos do Nordeste que povoaram e conquistaram a região do Acre aprenderam no contato com os povos indígenas o uso da ayahuasca, uma bebida usada desde os tempos do Império Inca em rituais religiosos e na cura de enfermidades. Por volta de 1912, os irmãos Antonio Costa e André Costa, nascidos no Maranhão, organizaram o Círculo de Regeneração e Fé, entidade religiosa que usava a ayahuasca em suas reu­niões. Dois anos depois, juntou-se a eles o também maranhense Raimundo Irineu Serra, ajudando a formu-

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Sol, Lua, Estrela Raimundo Irineu Serra

lar seus princípios doutrinários e ritualísticos. No início dos anos 30, já conhecido na região como Mestre Irineu, instalou sua entidade, que funcionou com o nome de Centro Livre. É nesse período que ele batiza a ayahuasca com o nome de Santo Daime. Mestre Irineu deixou organizado o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal e os ri­tuais de uma Doutrina cujos ensinamentos estão contidos em seu hinário, intitulado “O Cru­ zeiro”, com 132 hinos. Ao redor de sua morada, formou-se uma numerosa comunidade de discípulos com suas famílias. Muitos destes também desenvolveram hinários, que são cantados nos rituais festivos nas principais datas do calendário cristão. A dou­trina é fundada nos princípios da Har­monia, Amor, Verdade, e Justiça – e através da bebida sagrada, o Santo Daime, seus segui­do­res obtêm os seus poderes espirituais, recebendo e transmitindo para os demais as instruções dos seres divinos, que se ex­primem num sistema de crenças, o mais enraizado na tradição mítica do Acre.

Sol, lua, estrela a terra, o vento e o mar é a luz do firmamento é só quem eu devo amar É só quem eu devo amar trago sempre na lembrança É Deus que está no céu aonde está minha esperança A Virgem Mãe mandou para mim esta lição me lembrar de Jesus Cristo e me esquecer das ilusões Trilhar este caminho toda hora e todo dia O Divino está no céu Jesus filho de Maria [Livro dos Hinários, 1985]

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costumes •••

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Os índios ensinaram a usar ervas, com as quais preparam infusões e banhos. Com a mandioca preparam a farinha, que acompanha quase todos os pratos

No uso de ervas, a influÊncia dos índios

O costume de usar ervas para a cura de doenças advém das raízes acreanas dos povos da floresta. Os índios, como cientistas da floresta, legaram ao nordestino os conhecimentos e as técnicas para lidar com ervas, plantas e cascas, tanto que a utilização delas na fabricação de remédios permanece um costume ainda bem vivo na vida de grande parte da população. As ervas são facilmente encontradas nas feiras e mercados, passadas pelas mãos dos raizeiros, que fornecem ainda o modo de fazer, conselhos e recomendações sobre o uso, adicionando rituais de benzimentos, simpatias e orações. São usadas em infusões, emplastros, chás, xaropes, lambedouros e banhos. Como ensina a seringueira Maria de Almeida Melo, “Para quem é diabético, doença freqüente entre os seringueiros que levam a vida consumindo bastante açúcar, Dona Maria recomenda o chá da Urtiga, uma planta abundante na região. Para completar a cura recomenda também o chá da ‘Folha de Anta’, outro vegetal encontrado nos seringais da

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Brasiléia. Para a gripe, doença que atinge quase a todos, principalmente as crianças, a curandeira naturalista indica chá de vegetais: Agrião, Mussambê e Chicória. A gripe acompanhada de febre é curada com o chá de Eucalipto. Quando a criança está com sarampo, Dona Maria receita chás do Açafroa e da Subugueira. Quando tal doença não quer sair do corpo, a criança é obrigada a ingerir Mamona com enxofre.Os que sofrem de doenças nervosas, infecções e inflamações no fígado, recebem recomendações para tomarem o chá da casca da árvore Mulungu.” Para crianças com “quebranto”, Maria consegue a cura com suas rezas. Doenças como “Sapinho”, uma espécie de infecção na parte bucal da criança e a conhecida “Vermelha”, espécie de furúnculo que aparece nas pernas dos seringueiros, chegando a causar febre e dores no corpo, ela cura somente com rezas. [Souza: 2002., pp.132-133]

[ costume ]

Um comportamento usual, um comportamento prescrito de acordo com as regras e normas de uma sociedade. Atitudes e valores sociais advindos da tradição, e transmitidos de geração em geração. [ ervas ]

Tem catuaba, copaíba, quinaquina, raiz japonesa e lágrima de Nossa Senhora. Plantas, cipós, folhas, lascas de árvores e ossos de animais dispostos à venda são propagandeados como curadores de infecções, dores musculares, gripes, anemias, hemorróidas, falta de apetite, queda de cabelos, impotência sexual, tumores internos benignos e outras mazelas graves ou não. [Jornal Página 20: 2002, p.132] [ raizeiros ]

Defumação com raiz de Paxiubinha. Usam-se no cozimento a pena da nambu-azul, o cabelo da cutia, o cabelo do quatipuru, a catinga do porco e o rabo do veado. Também se utilizam a pimenta-malagueta e um palmo da raiz da paxiubinha, retirada do lado que o sol nasce. O remédio contra a enrascação deve ser feito em uma sexta-feira, saindo o caçador sozinho para a mata, sem falar com ninguém. O caçador recebe a defumação junto com sua espingarda. Depois disso, vai caçar. Abrem-se novamente as portas da felicidade, e o caçador voltará a matar caça. [Cunha e Almeida: 2002, p.322]

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As artes, como a da cestaria, a culinária e as festas religiosas ajudam a conhecer melhor a cultura e as tradições do povo do Acre

A ARTE QUE VEM DA FLORESTA Dentre as artes, destacam-se aquelas que fazem uso da matéria-prima que a floresta oferece. Das sementes de jarina, açaí, patoá, tucumã; das fibras naturais como palha, cipó-titica, cipó-ambé e cipó-timbó; ou da flora que oferece ouriços de castanha-dobrasil, cipós, raízes, bambu e restos de madeiras se confeccionam utensílios, cestas, objetos de decoração, bijuterias, instrumentos musicais. O látex se transforma em arte, retratando pequenos animais, árvores em miniatura ou reproduzindo cenas comuns dos seringais. A tradição com o manejo da borracha levou ao desenvolvimento do couro vegetal e hoje se tem objetos criados, característicos do Acre, tais como bolsas, carteiras, bonés. Paisagens e cenas do cotidiano são retratadas a partir da marchetaria, a arte de inscrustar, embutir ou aplicar peças recortadas de sobras de madeira. E mais, ao invés de sair do Acre a madeira in natura, vai sair a matéria-prima já trabalhada: hoje já começa a florescer a arte dos marceneiros de Xapuri, que fabricam móveis que breve estarão sendo negociados, inclusive para o exterior.

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[ arte ]

Capacidade que as pessoas têm de criar, de pôr em prática uma idéia; é capacidade criadora de expressar sensações e sentimentos, e é também atividade, ofício, profissão, engenho, habilidade. [ couro vegetal ]

Tecido de algodão puro, banhado em látex na­tural, defumado e vulcanizado. [Seadon: 2002, pp.14-19] [ sapo de taboca ]

Este prato pode ser preparado com homo (espécie de jia) ou com kaawa (canoeiro). A peculiaridade desta forma de preparo está no gosto especial que a taboca dá à carne, realçado pela palha de poreki (termo regional, açafroa). Retiram-se as tripas do sapo, lavando-o em seguida. Tempera-se a carne com sal, coloca-se no cano de taboca e adiciona-se uma quantidade de água que não derrame ao ferver. Tampa-se o cano com a palha de poreki, afasta-se a brasa e escora-se o cano de taboca (verticalmente) em um pau, de modo que só pegue o calor mas não fique em contato direto com o fogo. Depois que começar a ferver, deixa-se por mais ou menos dez minutos e está pronto. Come-se quente ou morno, acompanhado de macaxeira cozida ou banana grande assada. [Cunha e Almeida: 2002, p.369]

À mesa, sabores de toda parte O Acre tem comida gostosa, que resulta da boa mistura de vários gostos. Há predominância da mandioca dos povos da floresta, também estão presentes na mesa dos acreanos a galinha picante e a rabada no tucupi que, com o peixe, a caça, a tapioca e um cuzcuzinho no leite de castanha, constituem alimentação tradicional da população. No vale do Juruá, onde não há predominância da castanha, se utiliza muito o coco na alimentação. Entre os índios Ashaninka a preferência é por assados. Confira, acima, o sapo de taboca. Passando pela saltenha, de influência boliviana, até a adaptação da culinária sírio-libanesa: quem vai tomar café no Mercado do Bosque poderá se deliciar com os charutos de folhas de couve recheadas de arroz e carne que são uma adaptação da culinária árabe e servem por uma refeição. Da mesma forma, não há bairro da cidade por onde não circulem os "quebeiros", que além de vender os tradicionais quibes de trigo e carne moída, vendem também os "quebes" de macaxeira e de arroz que regionalizaram a rica culinária árabe. ••

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[Cadernos do Acre. Casa Natal: 2000, pp.2-9]

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[ festa ]

Todas as festas – ou ocasiões extraordi­­ná­rias – recriam e resgatam o tempo, o espaço e as relações sociais. Nelas, aquilo que passa despercebido, ou nem mesmo é visto como algo maravilhoso ou digno de reflexão, estu­ do ou desprezo no cotidiano, é ressaltado e realçado, alcançando um plano distinto. As­sim, é na festa que tomamos consciência de coisas gratificantes e dolorosas. [DaMatta: 1984, p.75] [ santos ]

O Acre cria seus próprios santos – santos po­pulares, canonizados pelo povo. São pes­ soas comuns que depois de sofrerem maus tratos passam a ser considerados santos milagreiro pela população a quem concedem suas graças, curando as doenças dos que têm fé. É o caso do São João do Gua­ rani. Mesmo doen­te ele foi obrigado pelo patrão a buscar feixes de paxiuba para o grande barracão. Morreu de pé, encostado numa ár­vo­re com o feixe de paxiubas no ombro, tendo sido enterrado neste mesmo local. Aí o povo ergueu uma igreja e um cruzeiro para vene­rar João, que se tornou o São João do Guarani.

••

NAS FESTAS, MÚSICA E RELIGIOSIDADE A festa, tocada por forró, é uma tradição desde os primeiros tempos da ocupação do Acre pelos nordestinos. Famílias in­tei­ ras andam horas em busca de uma festa e dançam a noite inteira ao som de sanfona, banjo e pandeiro. No Acre tem-se também muitas festas ao longo do ano, que seguem os dias santos do calendário católico: "No dia de santa Luzia, dia de ‘santo grande’, também não se deve trabalhar, ainda que seja um bom dia para semear tabaco, cujos ‘olhos’ crescem rápido, pois ela é a santa protetora dos olhos. Alguns fazem pedidos aos santos, e há pessoas que oferecem grandes banquetes anuais em sua homenagem, como fazia dona Carolinda, que matava um porco, fazia reza e dava festa todo dia de santo Antônio; ou o Nona do Cajueiro, que abre sua casa para todos num enorme banquete no dia de são Francisco. Nesses dias todos vão à casa do pe­nitente, ninguém trabalha, reza-se um terço, e a comida é farta. O Natal é dia santo, mas não há comemorações. Festeja-se mesmo é o dia de Reis." [Cunha e Almeida: 2002, p.222]

Mas o grande evento anual são os novenários. As pessoas se encontram para comprar, vender, extrair dentes, namorar, dançar. É quando o padre aparece, e se pode "casar no padre", assistir à missa, batizar os filhos. Os novenários são também feiras em que serin­ gueiros e agricultores se esforçam para trazer quantidades de seus produtos, a fim de aproveitar os compradores e vendedores que chegam de vários lugares e sempre barateiam suas mercadorias nos últimos dias. Há quem vá a Cruzeiro do Sul, no novenário de Nossa

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Senhora da Glória, realizado em agosto, apenas para acompanhar a procissão. Tem os que participam da festa desde o primeiro dia e estão acostumados às novenas, ‘prendas’ e leilões diários. "Os novenários têm época certa, para cada lugar: o da sede do município de Marechal Thaumaturgo é em janeiro, em homenagem a São Sebastião. Já o da Restauração é na festa de São Raimundo, no final de agosto." [Cunha e Almeida: 2002, p.224]

Como vemos, a cultura do Acre também nos chega através de critérios qualitativos, que são subjetivos, não oficiais, mas que mostram retratos bem ricos do povo acreano, uma vez que a cultura se espelha por meio de muitos espelhos e muitos idio­mas e gentes. São muitos os registros do jeito de ser acreano. E, quanto mais se conhece, mais fica fácil responder:

[ acreano ]

Não há sentimentalismos diplomaticos que nos dobrem. O Acre foi explorado por nós, nós fomos quem fez brotar daquellas selvas a riqueza, e os terrenos são nossos, absolutamente nossos. Somos brazileiros e não nos curvaremos a nação que não seja o Brazil. Possuimos o Acre pelo nosso trabalho e havemos de possui-lo politicamente, estribados na fé dos convenios e na historia do passado. Nada pretendemos, proventos alguns alvejamos, posições de natureza alguma almejamos. Os impostos serão arrecadados no Amazonas e no Pará e as despezas da revolução, sem embargo, hão de saldar-se. O Acre é dos acreanos. [A questão do Acre: manifesto dos Chefes da Revolução: 2002, p.30].

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•• qual

o jeito de ser e fazer acreano? •••

O conjunto de cores, letras, gostos, que nos faz imaginar sons, cheiros e paisagens que reunimos neste Caderno, é só uma mostra, um recorte do jeito de ser e de fazer do acreano. Muitos outros são e podem ser os jeitos, pois a cultura é feita por todas as gentes! Umas desconhecidas, gente do povo, como a Dona Maria, raizeira. Umas mais conhecidas, como Mestre Irineu. E outras mais famosas, como aquelas que trabalham com música, com poesia, com literatura. Temos certeza de que lendo este Caderno vocês se reconhecem aqui ¯ isto é minha terra! Vocês sabem também que não é só isto, que tem muito mais! Cabe a vocês agora mostrarem como a cultura dos acreanos, com seu jeito de ser e de fazer, vem alimentando e enriquecendo a cultura brasileira. [ música ]

Rainha da Floresta Pia Vila, Felipe Jardim e Terri Aquino

Senhora Rainha da Floresta Dai-me a força da ayahuasca Pra cantar nessas malocas Pros índios desse lugar

Dai-me a força do jagube Na luz do lampião Iluminado todas as veredas Que dão pro meu coração

Vou seguindo pela vida Varejando de ubá Todos os rios dessa terra Que unidos chegarão ao mar

Quero beber caiçuma E tomar muito cipó Quero bailar o mariri Nas aldeias do Aquiri

Como é grande essa floresta É maior que a solidão Dessa vida passageira Nesse verde sertão

Senhora Rainha da Floresta Dai-me força da ayahuasca Pra cantar nessas malocas As cantigas do povo desse lugar. •••

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[ Poesia ]

Semente Coração A Wilson Pinheiro e Francis Mary (Bruxinha)

Na minha terra Planta-se corações e nascem lutas dessas plantações. O chão é regado Com sangue E as balas São sementes que fazem calos nas mãos!

[ literatura ]

Empate Florentina Esteves

– E pois, por onde você andava Severino Sobral, que estou à sua espera desde a madrugada? – Desencontramos, homem de Deus, estou chegando agora de seu barraco. E encontrei os peões na sua estrada. – Já? Então já vão derrubar e queimar meu barraco. Bem que eles disseram "ou sai por bem, ou vai dançar no fogo". Que remédio! Levaram meus teréns pra Xapuri, e só consentiram me deixar porque eu disse que precisava falar com você. Aí eles mandaram o recado que se você não saísse por bem viraria torresmo. – Pois então viro mesmo. – Sossegue, Severino: vim aqui pra lhe avisar que Firmino recebeu o recado, e até mais dois três dias, mais tardar, chegará com os homens, pra fazer o Empate. E eu estou aqui, é sempre um adjutório.

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– Obrigado. Então vamos nos preparar para o Empate. – Não carece de preparo. O corpo da gente é que faz barreira e pára as máquinas. A gente bota mulher e criança na frente. Depois vêm os homens. E eles não vão querer matar ninguém esmagado. Quando Firmino chegar com os homens, começamos o Empate.

[ hino do acre ]

Letra de Francisco Mangabeira e música Mozart Donizetti

Que este sol a brilhar soberano Sobre as matas que o vêem com amor Encha o peito de cada acreano De nobreza, constância e valor. Invencíveis e grandes na guerra, Imitemos o exemplo sem par Do amplo rio que briga com a terra Vence-a e entra brigando com o mar. Fulge um astro na nossa bandeira Que foi tinto no sangue de heróis, Adoremos na estrela altaneira O mais belo e o melhor dos faróis. Triunfantes da luta voltando Temos n’alma os encantos do céu E na fronte serena radiante Imortal e sagrado troféu. O Brasil a exaltar acompanha Nossos passos, portanto é subir, Que da glória a divina montanha Tem no Cimo o arrebol do Porvir.

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Fulge um astro na nossa bandeira Que foi tinto no sangue de heróis, Adoremos na estrela altaneira O mais belo e o melhor dos faróis.

As esposas e mães carinhosas A esperar-nos nos lares fiéis Atapetam a porta de rosas E, cantando, entretecem lauréis.

Possuímos um bem conquistado Nobremente de armas na mão Se o afrontarem, de cada soldado Surgirá de repente um leão. Liberdade é o querido tesouro Que depois do lutar nos seduz: Tal o rio que rola, o sol de ouro Lança um manto sublime de luz.

Fulge um astro na nossa bandeira Que foi tinto no sangue de heróis, Adoremos na estrela altaneira O mais belo e o melhor dos faróis.

Fulge um astro na nossa bandeira Que foi tinto no sangue de heróis, Adoremos na estrela altaneira O mais belo e o melhor dos faróis. Vamos ter como Prêmio de guerra Um consolo que as penas desfaz Vendo as flores do amor sobre a terra E no céu o arco-íris da paz.

Mas se audaz estrangeiro algum dia Nossos brios de novo ofender Lutaremos com a mesma energia Sem recuar, sem cair, sem temer E ergueremos, então, destas zonas, Um tal canto vibrante e viril Que será como a voz do Amazonas Ecoando por todo o Brasil. Fulge um astro na nossa bandeira Que foi tinto no sangue de heróis, Adoremos na estrela altaneira O mais belo e o melhor dos faróis.

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•• Iconografia ••• floresta amazônica

Monika Ashaninka (apito) com adorno (tatanitsi petanawoki)

fotógrafo : Edson

fotógrafa : Silvana Rossi Aldeia: Apiwtsca / Rio Amônea Município: Marechal Thaumaturgo - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

Caetano

Residência Jaminawa

José Roberto (Juca Apurinã) tirando casca de arumã

fotógrafa : Tereza de Almeida Cruz Aldeia Buenos Aires Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

fotógrafo :

calçada da rua eduardo assmar

Mulheres Manchineri participando do II Encontro de Cultura indí-

fotógrafo :

gena do Acre e sul do Amazonas

Sérgio Vale

J. Dias Aldeia Kamicauã / T.I. Terra Firme Município: Boca do Acre - AM Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

fotógrafo :

Fernando Figali Rio Branco - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural

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João Katuquina tecendo saia para dança do mariri

residência indígena

fotógrafo :

J. Dias Aldeia Sete Estrela - Rio Gregório Município: Tarauacá - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

fotógrafo :

Evaldo Katuquina na confecção de um jamascim de Jaci

Toninho Jaminawa retirando cacho de açai

fotógrafo :

J. Dias Aldeia Sete Estrela - Rio Gregório Município: Tarauacá - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

fotógrafa : Tereza Almeida Cruz Aldeia Buenos Aires Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

Manoel Jaminawa tecendo uma rede de pesca

Tecido

fotógrafa : Tereza Almeida Cruz Aldeia Buenos Aires Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

fotógrafo :

Dedê Maia

Sabá Manchineri Acervo: Sabá Manchineri

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Sra. Joana Berramino Manchinery fiando algodão

Paneiro

fotógrafo :

Sabá Manchineri Aldeia Extrema - T. I. Mamoadate Município: Assis Brasil - AC Acervo: Sabá Manchineri

fotógrafo :

Sr. Aricêmio (Pajé) e Moisés Ashaninka colhendo cipó

Crianças Nukini

fotógrafa : Tereza Almeida Cruz Aldeia Apiwtxa - Rio Amônea Município: Marechal Taumaturgo AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

fotógrafa : Líbia Almeida Aldeia República / T.I. Nukini Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

Senhor Ashaninka usando o powarestsi (cachimbo)

Sra. Joana Berramino Manchineri fiando algodão

fotógrafa : Silvana Rossi Aldeia: Apiwtsca / Rio Amônea Município: Marechal Thaumaturgo - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural

fotógrafo :

Joselina Katukina descascando macaxeira em sua residência

índios kaxinawá

fotógrafo :

J.Dias Aldeia Sete Estrela - Rio Gregório Município: Taraucá - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

fotógrafo :

Fátima Katukina confeccionando um cesto pequeno

Nazaré Jaminawa tecendo usando o tear

fotógrafo :

J. Dias Aldeia Sete Estrela - Rio Gregório Município: Tarauacá - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

fotógrafo :

Punho de rede de algodão

aldeia arara

fotógrafo :

J. Dias Arte Kaxinawa

fotógrafo :

Jovem tratando uma galinha em sua residência

Grupo Shamenawa se apresentando no

fotógrafo :

II Encontro de Cultura indígena do Acre e sul do Amazonas

J. Dias Aldeia Sete Estrelas / Rio Gregório Município: Tarauaca - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

J. Dias Arte Aldeia Nova Esperança

Sabá Manchineri Aldeia Extrema - T. I. Mamoadate Município: Assis Brasil - AC Acervo: Sabá Manchineri

Dedê Maia

Sabá Manchineri Município: Sena Madureira - AC Aldeia Betel / T. I. Mamoadate Acervo: Sabá Manchineri

Dedê Maia

fotógrafo :Fernando

Figali Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

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Moisés Pinhanta usando Kitharetsi (Cushma)

Processo de defumação

e colares grandes bandoleiras

fotógrafo :

fotógrafa :

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Silvana Rossi

J. Dias

Roberto Manchineri na brincadeira do homem de palha

Colhendo o leite da seringueira (látex)

fotógrafo :

Sabá Manchineri Aldeia Extrema / T.I. Mamoadate Município: Assis Brasil - AC Acervo: Sabá Manchineri

fotógrafo :

Seringueira

Colhendo o leite da seringueira (látex)

fotógrafo :

fotógrafo :

J. Dias

J. Dias

J. Dias

Colhendo o leite da seringueira (látex)

Embutindo a tijelinha na seringueira

fotógrafo :

fotógrafo :

J. Dias

J. Dias

Formação da péla da borracha

Seringueiro fazendo a sangra (corte) na seringueira

fotógrafo :

fotógrafo :

J. Dias

J. Dias

Seringueiro transportando o leite da seringa (látex)

Sangria (corte) da seringueira

fotógrafo :

fotógrafo :

J. Dias

J. Dias

acessórios dos seringueiros

Residências Yawanawa

fotógrafo :

fotógrafo :

J. Dias

J. Dias Aldeia Escondido - Rio Gregório Município: Tarauacá - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

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Jovem Yawanawa colhendo urucum

Toninho Jaminawa mostrando cachos de açai

fotógrafo :

J. Dias Aldeia Nova Esperança - Rio Gregório Município: Taraucá - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

fotógrafa : Tereza de Almeida Cruz Aldeia Buenos Aires Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

Sangria (corte) da seringueira

rio caeté - serra madureira

fotógrafo :

fotógrafo :

J. Dias

J. Dias

Bazar Paraense (casa aviadora e bazar)

Fabiano Sales usando acessórios indígenas e

fotógrafo :

Hélio Cézar Koury Década de 30 Xapuri - Acre Acervo: Hélio Koury

mostrando artesanato

Cozimento da Ayahusca

Fogão a lenha feito de barro

fotógrafo :

Arlindo Meireles Colônia Cinco Mil

fotógrafo :

João Poeira, seleta e corte do Jacube (cipó)

Procissão a São Sebastião

fotógrafo :

Arlindo Meireles Colônia Cinco Mil

fotógrafo :

João Poeira selecionando folha Rainha (chorona) para o cozimen-

Sr. Rael Apurinã (cacique) torrando farinha

to

fotógrafo :

fotógrafo :

Arlindo Meireles Colônia Cinco Mil

fotógrafo :

J. Dias Kupixawa Rio Branco - AC

J. Dias

J. Dias Xapuri - AC

J. Dias Aldeia Nova visita / T. I. Peneri Município: Pauini - AM Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

Procissão a São Sebastião Raspagem do Jacube (cipó) fotógrafo :

Arlindo Meireles Colônia Cinco Mil

fotógrafo :

J. Dias Xapuri - AC

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Procissão a São Sebastião

Farinha

fotógrafo :

J. Dias Xapuri - AC

fotógrafo :

Defumador

Melancias

fotógrafo :

J. Dias Xapuri - AC

fotógrafa :

Ipê amarelo

cacaueiro

fotógrafo :

fotógrafa :

J. Dias

Rio Purus fotógrafo :

Mauro Maciel

Angela Maria Perez

Angela Maria Perez

Índios Kulina atravessando o Rio Purus

J. Dias

fotógrafo :

J. Dias

Sementes de Jarina

Aldeia Kaxinawa

fotógrafo :

fotógrafo :

J. Dias

J. Dias Rio Purus - Santa Rosa

Esculturas em madeira feitas por jovem Madija (Kulina) fotógrafo :

Dedê Maia Rio Envira Município: Feijó - AC Acervo: Comissão Pró-Índio

Cobertura (interior) feita de palha em residência Ashaninka fotógrafa : Silvana Rossi Aldeia Apiwtsca / Rio Amazônia Município: Marechal Thaumaturgo - AC Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural do Acre

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•• bibliografia ••• Akoun, André. Dicionário de Antropologia, São Paulo: Editora Verbo,1994 Almeida, Cely Melo de. Um Povo de Luta. In: Povos do Acre - História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco: Fd. Elias Mansour, 2002 Almeida, Líbia Luiza dos Santos. Da Cordilheira para a Floresta. In: Povos do Acre - História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco: Fd. Elias Mansour, 2002 Barros, Geovânia, O Império do Beija-Flor, Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais Batista, Josafá. Jornal Página 20, Rio Branco, 22/10/2000 Borges, Dinah Rodrigues. Às Margens dos Altos Rios. In: Povos do Acre - História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco: Fd. Elias Mansour, 2002 Brandão, Adelino. Paraíso Perdido - Euclides da Cunha, São Paulo: IBRASA, 1986 pp. 126 - 127 Cunha, Manuela Carneiro da, e Almeida, Mauro Barbosa de (org.). Enciclopédia da Floresta. São Paulo, Companhia das Letras, 2002. DaMatta, Roberto. As festas da Ordem (trechos) - In: O que Faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1984 Copyright Roberto DaMatta DaMatta, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil? A Questão da Identidade (trechos). In: O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Editora Rocco Copyright Roberto DaMatta, 1984 Esteves, Florentina. Empate. Rio de Janeiro, Oficina do Livro Ed., 1993. Ferreira, Fátima Muniz. Revitalização Cultural. In: Povos do Acre - História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco: Fd. Elias Mansour, 2002 Ferreira, Fátima. A Cultura Madija. In: Povos do Acre - História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco: Fd. Elias Mansour, 2002 •••

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Ferreira, Paulo Roberto Nunes. Em Busca da Cultura Ancestral. In: História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco: Fd. Elias Mansour, 2002 Ferreira, Paulo Roberto Nunes. Sociedade Envolvente e Resistência Cultural. In: Povos do Acre - História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco: Fd. Elias Mansour, 2002 Francis Mary Alves de Lima (Bruxinha). A Noite em que a Lua Caiu no Açude. Prosa Poética & Poesia. Semente Coração, Rio Branco, Acre, BOBGRAF/Editora Preview, 1996. Fróes, Vera. História do Povo Juramidam. A Cultura do Santo Daime. Manaus, SUFRAMA, 1986 Gondim, Sérgio Augusto de Albuquerque. Cosmologia da Terra. In: Povos do Acre - História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco: Fd. Elias Mansour, 2002 Governo do Acre. Guia para Uso da Terra Acreana com Sabedoria: Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre. ZEE Resumo, Brasília, WWF-Brasil, 2001. Org. Magaly da Fonseca e Silva Taveira Medeiros, Coordenadora do Programa de Gestão Ambiental Integral (PGAI) desenvolvido pelo Instituto de Meio Ambiente do Estado do Acre (IMAC). Livro dos Hinários. Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Santo Alto. 1985. Organizado por D. Peregrina Gomes Serra, esposa de Mestre Irineu Melo, Hélio. Os Mistérios da Mata, Rio Branco, Fd. Cultural do Acre, 1989. Michaelis. Dicionário Prático da Língua Portuguesa, São Paulo: Melhoramentos, 2002 Neves, Marcos Vinicius e Sousa, Mauricélia. História dos Regatões. A Imigração Sírio-Libanesa para o Acre. In: Cadernos do Acre. Casa Natal. Cinqüenta Anos de História. Rio Branco, Fd. Elias Mansour, 18 de março de 2000 Neves, Marcos Vinícius Simplício das. Povos do Acre - História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco, Fd. Elias Mansour, 2002 Padilha, Lindomar. Marca da Resistência. In: Povos do Acre - História Indígena da Amazônia Ocidental, Rio Branco: Fd. Elias Mansour, 2002 Pia Vila, Felipe Jardim e Terri Aquino. Rainha da Floresta CD: Flora Sonora, Editado pela Fd. Garibaldi Brasil. Rio Branco, 1995 Rancy, Cleusa Maria Carmo. Raízes do Acre 1870 - 1912. Rio Branco: M.M. Paim. 1992

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