Entrevistas

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ANTÔNIO MENDES, chef ANTONIO OITICICA, músico FERNANDO COSTA, atleta GILVAN NUNES, jornalista HENRIQUE OLIVEIRA, cineasta IVANA IZA, atriz MADSON DELANO, jornalista esportivo MARCO PESSOA*, agente penitenciário MAYARA LEÃO, designer de acessórios MONIQUE TACIANE, ativista da causa animal OSVALDO MACIEL, professor e militante RODRIGO CUNHA, deputado estadual SVETLANA PASHCHENKO, intercambista TIAGO IORC, músico

ENTREVISTADOS PELOS ALUNOS

Arrison Galvão – Beatriz Alexandrino Bruna Ugá – Duda Bertho – Estéfane Padilha Fabiana Maciel – Gildo Silva – Larissa Layane Lívia Holanda – Manuela Barreiros – Nathalia Leal Paula Nunes – Raíssa Melo – Wendell Cavalcante

produção para a disciplina Edição em Mídia Impressa, ministrada pela Profa. Dra. Janayna Ávila

UFAL/2014


MÚSICA // ANTÔNIO OITICICA

DUDA BERTHO

AS DUAS FACES DE ANTONIO Quando a juventude, a cena musical, Marcelo Camelo e post-hardcore se misturam, duas faces de um talento barbudo dão as caras. Natural do Rio de Janeiro, ele atende pelo nome de Antonio Oiticica, é compositor, atual vocalista e guitarrista da banda Dof Lafá e produtor do programa musical Tune, exibido na TV Mar

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m meio a um grande momento para as produções independentes, graças aos avanços da tecnologia, os artistas estão emergindo cada vez mais cedo. O campo musical vem ficando cada vez mais democrático, e o que vai começar a valer a partir de agora é o talento e a vontade das bandas e dos compositores de mostrar sua música para o mundo. Antonio Oiticica (sem acento mesmo) tem 20 anos e nos recebeu em sua casa, sem camisa e de bermuda, para uma conversa sobre seus projetos musicais e tudo que os rodeia. O estudante de jornalismo é cantor/guitarrista da banda de rock dinâmico Dof Lafá e está dando o pontapé inicial em seu projeto solo, atualmente denominado Yo outubro de 2014

DUDA BERTHO Soy Toño. A Dof está com seu primeiro álbum no forno e o single Trilhos do projeto solo de Antonio foi lançado recentemente no Soundcloud. Nascido no Rio, mas radicado em Maceió poucos meses após nascer, o músico mostra, na entrevista abaixo, sua visão sobre a cena musical local, e esclarece questões sobre seus projetos e o que vem a seguir. DUDA BERTHO – Você acredita na cena musical alagoana? ANTONIO OITICICA – Eu acredito sim que ela exista. Muitas pessoas falam que não acreditam na cena, mas não abro mão de defendê-la. Ela nada mais é do que a produção dos artistas, das bandas, de qualquer produtor de cultura, nesse caso, mux


MÚSICA // ANTÔNIO OITICICA

sical. Se os músicos locais estiverem produzindo, fazendo shows, ensaiando, ela continua existindo. A preocupação maior que todas as bandas e a cena artística têm que ter agora é o aumento do público, e isso virá com o lançamento de conteúdo. Os lançamentos de clipes, álbuns e outras produções fazem a produção artística local crescer como um todo. Quais são suas maiores inspirações? O que eu ouço é bastante variado, as músicas me afetam muito e quando eu escuto muito de uma determinada coisa, isso acaba refletindo fortemente nas minhas composições. Eu escuto MPB, Los Hermanos e muito Marcelo Camelo. A obra dele me inspira bastante e acho que isso fica bem evidente no meu trabalho solo e na barba também (risos). Já pelo lado da Dof Lafá, comecei escutando muito hardcore e essa influência veio evoluindo para o post-hardcore. Gosto muito das bandas Thrice, Moving Mountains, e hoje estou escutando bastante Into It. Over it. Outra influência não menos importante é meu pai. Ele é uma grande inspiração para mim.

Quais suas aspirações? A curto prazo, lançar o CD da Dof o quanto antes e gravar mais material do meu projeto solo. A médio prazo, disseminar mais meu trabalho e sair para tocar ao menos pelo Nordeste. A longo prazo, viajar e tocar pelo mundo, tanto em pequenas casas de shows como em festivais. É meio prepotente até de dizer, mas eu não faço questão de ser um cara muito conhecido. Se você tivesse que escolher, você se consideraria vocalista/guitarrista da Dof Lafá ou o compositor solo Toño? Ah, hoje com certeza eu sou o guitarrista/vocalista da Dof Lafá. As pessoas me conhecem dessa forma, e para mim, você é chamado como você é conhecido. É uma coisa legal ter uma outra função, mas o que eu mais quero ser é o Tonho mesmo, não o Yo Soy Toño ou o Tonho da Dof Lafá, mas mostrar a minha verdadeira personalidade, que eu atuo em diferentes áreas. Eu não consigo me esgotar apenas em um projeto, mas com certeza hoje eu sou o cara da Dof Lafá.

Muitas pessoas falam que não acreditam na cena, mas não abro mão de defendê-la DUDA BERTHO

O baterista Matheus Azevedo saiu recentemente da Dof. Qual foi o motivo e quem irá substituí-lo? O motivo foi a ida dele para um intercâmbio nos Estados Unidos, de um ano e meio. Quando ele voltar, a ideia é que ele toque com a gente de novo. Estamos tranquilos quanto a isso, e ele também. No momento, nossa maior preocupação é com o lançamento do CD. O Fofão (Yann Costa), da banda Bazzinga, vai substituir o Matheus durante esse tempo. Ele vem tocando com o baixista Hugo Alves há um tempo em outros projetos e, a partir disso, surgiu essa chance de tocar com ele. O Yann é muito bom no que faz, e vamos fazer tudo o que faríamos se estivéssemos com o Matheus aqui. Os integrantes da banda são universitários e estão todos na média de 21 anos. Você vê isso como um obstáculo para um possível desenvolvimento da banda? Eu acho que é inevitável que influencie. Por vezes

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MÚSICA // ANTÔNIO OITICICA

queremos ter uma postura profissional, só que temos que arcar com outros compromissos também. Fica puxado ter uma vida ativa na Dof Lafá e nos projetos musicais e saber também corresponder com os compromissos da universidade. Todos estão na universidade. O Hugo e o Luiz Mota (guitarra/vocal) em cursos de exatas, e eles acabam tendo muita cobrança. Por outro lado, superamos um pouco isso e acho que chegou num ponto em que estamos mais tranquilos, sabemos quando podemos e não podemos fazer algo. Pra uma possível turnê, pretendemos ver datas pra viajar onde todos se encaixem e a ideia é viajar e tocar o máximo possível. Se vamos lançar um CD, temos que estar sempre atuando, fazendo algo por aí, e isso terá de sempre ser negociado com os nossos compromissos extra banda.

nome do projeto solo. Eu pensava antes em utilizar só “Antonio”, eu não queria lançar Antonio Oiti cica. Todos me chamam de Tonho, que é meu apelido, só que eu acho a estética da grafia do Tonho com “nh” feia, até que eu pensei no Toño com o til, que me atraiu tanto pela questão estética quanto pela latinidade, pois tenho músicas com um suingue maior. Eu testei num primeiro momento o nome no Facebook. Coloquei Antonio Toño, para ter um feedback sem que ninguém soubesse, e foi engraçado porque todo mundo passou a me chamar assim. Participei de alguns projetos e dei algumas entrevistas nesse tempo e todos colocavam meu nome como Antonio Toño, achando que era meu nome artístico. A partir disso tentei mudar meu Instagram para Toño, porém o nome do usuário já existia, então coloquei Yo Soy Toño e logo em seguida mudei no Facebook também, e Vocês estão prestes a lançar um álbum. Ele já o nome começou a ganhar força. A exclusividade é tem nome e data de lançamento? O que virá importante, pois existem alguns artistas que usam junto com ele? Antonio e Toño, então o Yo Soy Toño é basicamenNão posso dizer o nome ainda e não temos uma te meu, e isso atribui um diferencial. data certa. É bem complicado fazer um disco independente. Em breve divulgaremos a data e o ál- Qual o próximo passo para o Yo Soy Toño ? bum estará disponível já em novembro. Além do Lancei “Trilhos” há pouco tempo. Depois que você disco, iremos lançar o primeiro videoclipe oficial grava a primeira, é fácil ficar viciado. Estou com de uma das músicas e realizar um show especial vontade de lançar mais algumas faixas no formato de lançamento. Disponibilizaremos também o acústico e gravar um EP, provavelmente também CD físico e camisetas. intitulado Yo Soy Toño e com isso fazer um show de lançamento com banda. De onde surgiu essa influência do espanhol no nome do seu projeto solo? O que você faria para conquistar o mundo? Eu tinha bastante dúvida de como eu ia lançar esse Ah, eu viajaria, e conheceria pessoas.

DANIEL ROCHA

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MÚSICA // TIAGO IORC

UM NOVO ENCANTO Dono de um repertório pop/folk, o cantor e compositor Tiago Iorc vem conquistando plateias por onde passa e se consolida como um dos maiores talentos nacionais. Nesta entrevista, concedida no intervalo de um show em Maceió, o brasiliense, que já emplacou canções em novelas da TV Globo, fala da carreira e dos planos para o futuro

ESTÉFANE PADILHA

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om três discos lançados, intimidade com a língua inglesa – adquirida após anos morando fora do Brasil –, sensibilidade para compor e talento para cantar e tocar sozinho, Tiago Iorc tem cativado o público brasileiro. Apaixonado por música desde os 8 anos, começou a cursar Publicidade para agradar aos pais, que queriam para o filho uma graduação que pudesse garantir um futuro mais concreto. Paralelo a isso, também cursou Música, e tocava na noite, até que decidiu que era esta a carreira certa a seguir. A escolha vem dando bons frutos. Durante a turnê em formato voz e violão do álbum Zeski, o músico veio a Maceió e se apresentou no último domingo, no Teatro Gustavo Leite. Não faltaram vozes para cantar junto alguns dos sucessos do rapaz – dentre eles It’s a Fluke, canção que nem precisou de microfone. Em sua breve passagem pela capital alagoana, concedeu entrevista exclusiva à repórter Estéfane Padilha e, no bate-papo, falou a respeito de alguns assuntos, como a carreira, os fãs, projetos futuros e as experiências adquiridas no País, que o aproximaram do público local. Não deixou de fazer o costumeiro Meet and Greet após o show, no qual recebeu os fãs com atenção especial, deu autógrafos e tirou fotos. Apesar de ter na internet um importante aliado para divulgação de seu trabalho, Iorc não outubro de 2014

não abre mão do contato pessoal com seus fãs. Segundo ele, o gesto traz mais motivação pra sua carreira: “Você sente a energia da pessoa, você sente a intenção daquelas palavras, ou de qualquer que seja a mensagem... Reenergiza o que eu faço”. Confira a entrevista. ESTÉFANE PADILHA - Zeski é o seu terceiro CD, e seria este o mais intimista de todos? O mais pessoal, aquele em que você deixa uma marca registrada forte? TIAGO IORC - Acho que, como processo criativo, de manifestar o que é íntimo meu, todos os discos têm coisas que são íntimas minhas. A sonoridade é que foi evoluindo para outras coisas, mas não sei te dizer se é o mais íntimo, ou não. No título do álbum, você usa uma parte do seu sobrenome que você não usa artisticamente. Contudo, a descrição no seu site fala que “simboliza reencontro, um retorno ao que sempre foi, mas que ainda não havia se manifestado. Um autorretrato revisitado e atualizado”. O que, exatamente, veio à tona dessa vez? Isso foi mais de brincadeira com a parte do meu sobrenome que não estava no meu nome artístico. Quando eu lancei o meu primeiro disco, foi uma sugestão da gravadora não usar o nome completo x


MÚSICA // TIAGO IORC

RAFAEL KENT

pra ficar mais simples. E aí eu lembro que num pri- Em Let Yourself In, seu primeiro disco, o cover meiro momento, como eu nunca tinha feito nada de My Girl, do The Temptations, foi um sucesautoral, estado num palco para defender alguma so. E é até hoje. Agora você resolveu dar voz coisa minha, eu sentia que existia uma disparida- a Tempo Perdido, do Legião Urbana. Como se de entre o Tiago que existia nos bastidores e o Tia- deu essa escolha? go Iorc. Esse processo do Zeski, além de resgatar Eu gosto de registrar quando elas [canções] se toresse meu pedaço do sobrenome, resgatou algumas nam algo completamente diferente do que era a coisas. Acho que foi um reencontro de algumas intenção original da música. Então, em relação à coisas que faziam parte da minha trajetória, mas Tempo Perdido, em específico, eu já tocava e enque ainda não tinham sido manifestadas no meu contrei um jeito de montar os acordes que se tortrabalho, como o fato de cantar em português, fa- nou bem característico, bem meu de fazer. E eu lar sobre certas cosias que eram bem adoro o trabalho do Renato, esclaras dessa minha dualidade. Foi cutava muito Legião Urbana. E essa troca do olhar, mais nesse sentido de mostrar esse fez sentido, se encaixou nesse de abraçar, de conver- repertório. encontro comigo mesmo.

sar, de ouvir o que a pessoa tem a dizer, ou se trocar uma ideia, é sempre muito forte

A faixa que leva o nome do disco é a única instrumental. Por quê? No início, a ideia era fazer um disco duplo, que fosse um lado em inglês, outro em português. Com o andar das coisas, acabou se resumindo num só. Eu queria deixar bem separada a transição de um momento pro outro. Então, o que seria a troca de disco, se tornou uma música instrumental, que pra mim era um mantra e já tava fazendo parte do meu processo criativo. E eu também já imaginava usar ela na turnê, como introdução do show. outubro de 2014

O fato de você colocar pela primeira vez faixas em português, e também ter parcerias com artistas nacionais, como Maria Gadú, representa uma tentativa de se encaixar na música brasileira? Num primeiro momento, não. Não foi uma vontade minha de fazer algo para me encaixar, mas depois que eu fiz, eu senti que sim. Quando a música vinha em inglês, eu deixava vir, e aí as músicas vieram em português, eu deixei elas virem assim. Mas aí uma coisa me chamou a atenção: eu tava x


MÚSICA // TIAGO IORC GABRIELA PAIVA E KLAUS ROGER

passando o som num evento que eu participei, e aí uma pessoa chegou. Eu tava tocando Um Dia Após o Outro – e essa pessoa disse “nossa, adorei a letra dessa música”. E aí aquilo me marcou. Me chamou a atenção o quanto era importante a questão da língua como uma porta de entrada. Eu prestava muita atenção na melodia e na composição, como um todo, mas não tinha me atentado a isso. Então, a partir dali, mas já depois de ter feito as músicas, eu me dei conta de que era algo que, de fato, eu gostaria de fazer, porque me conectava com as pessoas aqui no Brasil. Me despertou essa vontade de compor mais em português.

Essa foi a 1ª vez em Maceió. A turnê começou há bastante tempo e você passou por muitos lugares. Como foi esse contato com tantos públicos? Tem sido lindo. Eu tô há muito tempo fazendo esse show, tô muito a vontade, e isso me possibiTiago Iorc durante apresentação realizada em Maceió, no Teatro litou desenvolver outras coisas: o diálogo com o Gustavo Leite, em 28 de setembro. Show fez parte da turnê Voz e público, interagir mais com as pessoas, sacar mais Violão que já percorreu mais de trinta cidades por todo o país o que as elas tão sentindo durante o show; e meio que ir montando o repertório de acordo com o que em outros lugares. E eu quero que isso seja mais eu tô sentindo do público. presente, eu quero poder fazer shows lá fora. Isso Nessa turnê você sempre deu espaço para o deve acontecer em breve. Meet and Greet. Isso recompensa muito os Já faz mais de um ano que você divulga o disco. fãs. E você, o que tira disso? Para mim é maravilho, porque é o momento mais Você já está pensando em algum projeto novo, íntimo com as pessoas. E mais verdadeiro. Por ou quem sabe um DVD do Zeski? mais que tenha um retorno muito imediato hoje, Do Zeski não especificamente, mas em algum na internet, é diferente quando você tem um con- momento deve rolar um registro ao vivo. Eu aintato físico. Você sente a energia da pessoa, você da acho que não é o momento. A questão do show sente a intenção daquelas palavras, ou de qualquer agora que tá começando a se consolidar, a ser o que que seja a mensagem. Então, essa troca do olhar, eu gostaria de registrar. Mas a ideia é terminar essa de abraçar, de conversar, de ouvir o que a pessoa turnê e ano que vem ter alguma coisa nova. Provatem a dizer, ou se trocar uma ideia, é sempre muito velmente um disco com músicas inéditas. forte. Reenergiza o que eu faço. Nos seus três CDs, ao menos uma canção enE com relação a quem acompanha seu traba- trou em trilhas de novela. Já pensou em fazer lho lá fora? Você também é conhecido em ou- algum trabalho colaborativo nesse sentido, tros países. Um blog português publicou uma desenvolvendo uma canção ou uma trilha completa especialmente para um filme, por excelente crítica ao seu trabalho, inclusive. Isso é muito legal, porque, embora hoje eu esteja exemplo? no Brasil e dê mais atenção ao público aqui, teve Eu adoraria. Eu sou fascinado por cinema também. um momento na minha carreira que eu consegui Eu gosto muito de trilhas sonoras, não necessariadar um pouquinho mais de atenção lá pra fora. mente no estilo de música que eu faço, mas trilha Só que as coisas acabaram engrenando mais aqui. mesmo, assim, que são concebidas como coisas Mas volta e meia chegam essas impressões de pes- instrumentais. Têm filmes que a cena é construída soas em outros países, que ouvem o meu trabalho a partir da trilha, e eu acho isso lindo. E é uma coie que gostam. E é muito legal, porque isso possi- sa que eu quero fazer no futuro, sim. Me interessa bilita que eu vá para outros lugares, fazer música bastante. outubro de 2014

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ATIVISMO // MONIQUE TACIANE

LIU WANDERLEY

O AMOR EM QUATRO PATAS

Fundadora do Lar Temporário Francisco de Assis, que abriga cães e gatos abandonados em Maceió, a comerciante Monique Taciane conta por que resolveu se dedicar à proteção e ao tratamento de animais mal tratados

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onique é uma jovem sonhadora. Aos 28 anos de idade, a comerciante alagoana do ramo de vestuário e mãe do pequeno Arthur – e de inúmeros cães e gatos – trava enormes batalhas a cada dia para manter de pé o trabalho voluntário que realiza, principalmente, com o coração. Com muita perseverança, a missão é tirar animais abandonados e maltratados das ruas e oferecer a eles uma nova oportunidade. O “combustível” depende de terceiros. São doações que podem chegar, mas nunca são garantidas. E é nesse ritmo que ela abriga os “peludos” que a sociedade finge não ver. “O aluguel é pago através da venda de produtos novos ou seminovos que nos são doados para que façamos bazares. Também recebemos ração e produtos de limpeza. outubro de 2014

LÍVIA HOLANDA No fim das contas as pessoas podem ajudar de várias maneiras”, explica. Monique chegou a iniciar o curso de Medicina Veterinária, mas não conseguiu concluir. Preferiu continuar realizando o trabalho de caridade e solidariedade, levando até os profissionais formados aqueles animais que, não fosse por ela, estariam condenados à solidão e ao abandono. LÍVIA HOLANDA – Como começou seu trabalho como protetora independente de animais? MONIQUE TACIANE – Começou quando eu era voluntária do Núcleo de Educação Ambiental Francisco de Assis (Neafa), em 2006. Chegou um caso de atropelamento de uma gata na avenida Fernandes Lima e o Neafa não podia resgatar porx


ATIVISMO // MONIQUE TACIANE

que não tinha como ir buscar o animal. A moça que ligou dizia que tinha tirado ela da pista e deixado na Praça Centenário. Como o Neafa fica pertinho da praça, resolvi ir lá. Quando cheguei, ela tava assustada com o barulho do trânsito, com os olhos arregalados. Só de lembrar me dá vontade de chorar. Levei ela pro Neafa e, depois que foram feitos os exames, descobrimos que ela tinha fraturado a coluna e que não ia mais poder andar. Nessa época o procedimento adotado pelo Núcleo, para esses casos, era a eutanásia. Mas eu me responsabilizei por ela. Esse foi o meu primeiro resgate. Eu consegui uma madrinha que pagou todo o tratamento, consegui a cadeira de rodas e acabei ficando com ela, porque não consegui ninguém para adotá-la. O Neafa me ensinou a ser o que eu sou. Eu aprendi muita coisa lá dentro. Pra você ter uma ideia, eu acho que eu sei até castrar um animal, de tanto que eu vi lá no Núcleo. Não faço porque não tenho coragem, por isso não terminei o curso de Medicina Veterinária. Você fundou o Lar Temporário Francisco de Assis para abrigar animais resgatados. Como funciona? O lar funciona como canil e gatil para abrigar os animais resgatados que recebem alta das clínicas e não têm para onde ir porque não são adotados rapidamente. O custo para mantê-los na clínica é muito alto. A estrutura montada por mim e pelo grupo está funcionando há um ano. Antes disso eu pagava às minhas amigas para abrigarem meus resgatados em seus quintais. Atualmente ele funciona abrigando 50 cães e 25 gatos, no Salvador Lyra, mas fomos despejados recentemente. Assinamos um contrato de um ano. O dono sabia o que funcionava no imóvel dele e apoiava a causa. Mas os vizinhos reclamavam muito. Inventavam histórias de que a gente maltratava os animais. Tudo com a intenção de que a gente saísse de lá. Eles perturbaram tanto o dono da casa, que ele pediu o imóvel de volta. Vocês já têm para onde ir com os animais? Sim. Nós já conseguimos alugar uma casa. Dessa vez só temos uma vizinha. Ou seja, se tivermos problemas, pelo menos vai ser com uma pessoa só. Mas a nossa ideia é comprar uma casa, para não corrermos mais esse risco. Como são pagas as despesas? Vivemos basicamente de doações. O aluguel da casa é pago através da venda de produtos novos ou outubro de 2014

seminovos que nos são doados para que façamos bazares. Além disso, pessoas que resgatam animais na rua e não podem levar para suas casas por qualquer que seja o motivo, podem levar o animal para o lar, pagando uma taxa de cem reais por mês para manter o animal no local até que ele seja adotado. Com o pagamento dessa taxa o animal se alimenta, é medicado, banhado e pode receber visitas de possíveis doadores. Também recebemos ração e produtos de limpeza. No fim das contas as pessoas podem ajudar de várias maneiras. Os animais resgatados podem ser apadrinhados. Como funciona esse sistema? Os padrinhos e as madrinhas são as pessoas que escolhem um animal ou mais para arcar com suas despesas clínicas, de medicamentos, castração. É um compromisso que aquela pessoa assume com aquele animal até que ele seja adotado. Existe até um termo que a pessoa assina. O documento não tem valor judicial, mas para mim já funciona como uma forma de tornar mais sério o compromisso assumido. Existem os padrinhos que cumprem bem sua função, mas tem também os que deixam a desejar e até os que não honram o compromisso e desaparecem para fugir da responsabilidade. Já teve gente que me excluiu de Facebook, de Whatsapp. A gente entende que nem sempre as pessoas vão ter dinheiro disponível, mas se você não tem, não custa pedir. É só publicar no Facebook que sempre aparece alguém pra ajudar: sua mãe, seu pai, seu tio. E, assim, de dez, vinte reais, quando junta, dá um dinheiro bom. Então, só não ajuda quem não quer. No dia 20 de junho, Maceió sediou a primeira edição local da Marcha da Defesa Animal. Como o evento repercutiu no cenário da causa animal no estado? A Marcha de Alagoas ficou em terceiro lugar no ranking de todas as marchas organizadas neste ano. Ficamos atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Isso é muito bom, porque, querendo ou não, somos uma cidade pequena, se compararmos com as grandes metrópoles que ficaram na nossa frente. Não foi revolucionário, porque não foi um divisor de águas no sentido de mudar a situação da causa animal para o resto da vida. Mas subiu muito o nível de doações e ajudas em geral. E conseguir concentrar mais de 300 pessoas na orla da capital em prol da causa animal é uma tarefa bastante difícil. Então isso tornou meu trabalho mais conhecido no cenário nacional. Fui colocada em x


ATIVISMO // MONIQUE TACIANE

grupos com os maiores protetores do país, o que me trouxe bastante visibilidade. Além disso, estou sendo comparada, assim como os grandes protetores de outros estados, com a organização local mais importante para a causa, que, no nosso estado é o Neafa. Claro que não chego aos pés deles no que se refere à quantidade. Eles castram 60 animais por dia, enquanto eu faço de 30 a 40 castrações por mês. Mas me equiparar ao Núcleo em questão de força e popularidade é muito bom.

Instagram, o Twitter, o Whatsapp e email. Em cada rede eu me comunico com grupos diferentes. Com as pessoas mais antigas, do tempo do Orkut, por exemplo, eu me comunico por email, porque é o único contato que eu ainda tenho. Mas a rede que mais rende doações é o Facebook, seguido do Instagram e do Twitter. BÁRBARA ACIOLY

Recentemente você lançou, nas redes sociais, o desafio do balde de ração, inspirado no famoso desafio do balde de gelo. A ideia era desafiar seus seguidores a doarem ração para os resgatados. Como surgiu a ideia de adaptar o desafio? Como estão sendo os resultados? A ideia surgiu em Arapiraca. As meninas da Associação Humanitária de Proteção aos Animais de Rua (AHPAR) me procuraram e me disseram pra fazer, que lá estava dando certo. Eu achei que aqui não ia ter retorno, mas resolvi tentar. Já consegui 800 quilos de ração. No Lar já não tem mais espaço para guardar tantos sacos. Mas eu não posso parar de pedir. Tenho que aproveitar o sucesso porque os animais continuam se alimentando e daqui a uns dois ou três meses essa ração vai acabar. Só não divulgamos as quantidades arrecadadas nas redes sociais porque tem um problema: quando as pessoas veem grandes quantidades, acham que já temos o bastante e param de doar. Nunca é demais para quem tem animais. Nós recebemos muitos pedidos de ajuda de outros protetores que não conseguem arrecadar. Ontem mesmo nós fomos levar ração na casa de uma senhora que tem 200 cães e 130 gatos em casa. E essas rações do desafio não podem durar muito tempo, porque criam bicho e, se os cachorros comerem mesmo assim, ficam doentes, com diarreia. Eu posto fotos das pessoas que participam do desafio porque estimula outros a participarem também. Porque existem colaboradores e colaboradores, são pessoas totalmente diferentes. Tem colaborador que gosta que você divulgue, tem colaborador que quer até que você faça homenagem a ele. Outros querem anonimato total, porque acham que eu vou procura-los quando estiver precisando. Mas o importante é que as doações estão chegando e os animais estão se alimentando.

Quais seriam as políticas públicas ideais de amparo aos animais? Castração gratuita, delegacia especializada e hospital público veterinário. E o caminho para tudo isso é educar a população para lidar com os animais. Em Alagoas nós temos um alto índice de maus tratos, assim como em todos os estados do país, mas em alguns lugares existem delegacias especializadas no combate a esses crimes e os criminosos são punidos. A lei federal 9605, de 1998, pune com detenção de um a três anos o indivíduo que cometer maus tratos contra animais. Essa lei não se aplica aqui porque falta uma delegacia que fiscalize e puna esse tipo de crime. Porque quando se vai para uma delegacia comum, são tantos homicídios, tantos assaltos, que o seu problema acaba se tornando pequeno. E, muitas vezes, se você As redes sociais são o principal meio para você persiste em continuar nas grandes filas e denundivulgar seu trabalho e arrecadar doações? ciar o maltrato, acaba sendo em vão, porque não Sim. Eu uso principalmente o Facebook, o Instadá em nada. outubro de 2014

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ATIVISMO // MONIQUE TACIANE

Quais são as maiores dificuldades que você avalia para serem postas em prática essas políticas públicas? Eu acho que, como os animais não votam, nós não temos muita força para reivindicar melhorias para eles. O problema todo é a falta de interesse dos gestores. Nesse momento de campanhas eleitorais algum candidato demonstrou apoio à causa e propostas de políticas concretas? Nessa época apareceram muitos dizendo apoiar. Só que eu vivo o ano inteiro, desde 2006, nessa luta, e nenhum apoia de fato. Eu não vejo nenhum político engajado nisso, lutando de verdade. E, se lutou, nunca conseguiu nada. Então, eu vou considerar um político que faz alguma coisa pelos animais no dia que esse político conseguir alguma coisa. Como os de fora, a exemplo da Ana Rita Tavares, uma protetora de animais que agora é vereadora em Salvador. Lá não tem hospital veterinário

público, mas ela conseguiu uma Kombi para auxiliar as protetoras em resgate, castração, consulta, emergência. Ela conseguiu o transporte, que é o maior empecilho, para que as pessoas humildes levem seus animais para serem castrados. No dia que um político daqui fizer isso, ele vai ter o meu voto, e eu vou fazer questão de divulgar no meu perfil do Facebook que fulano de tal apoia de verdade a causa animal. Hoje mesmo eu recebi uma ligação de uma candidata a deputada federal querendo que eu aparecesse com ela no horário político, querendo usar a minha imagem para se promover. Só que eu nunca a vi na vida. Ela alegou que seria bom para o meu trabalho, que eu ficaria conhecida. E eu respondi que, para isso, eu teria que pagar um preço muito alto. Porque se ela fizesse qualquer besteira, as pessoas diriam que eu estava acobertando. As pessoas costumam achar que as protetoras que se vinculam a políticos querem se promover, se candidatar a alguma coisa. A credibilidade fica abalada

VITOR LESSA

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GASTRONOMIA // ANTONIO MENDES

OS DESAFIOS DA GASTRONOMIA ALAGOANA Embora a procura pela formação em gastronomia em Alagoas venha aumentando, ainda não é suficiente para suprir a necessidade do mercado por mão-de-obra qualificada. Pioneiro em Maceió, o curso da Faculdade Maurício de Nassau já formou quase 200 alunos e caminha para ampliar a qualificação na área. Em entrevista, o coordenador do curso de Gastronomia da instituição, Antonio Mendes analisa o cenário local e explica as razões pelas quais tem crescido o número de pessoas cada vez mais interessadas na área BEATRIZ ALEXANDRINO

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oordenador do curso de gastronomia da Faculdade Maurício de Nassau –pioneira em oferecer esse curso no estado de Alagoas – e formado pela Uninassau de Pernambuco, Antonio Mendes é especialista em cozinha Fusion (método que utiliza produtos locais com técnicas internacionais), já trabalhou como chef de cozinha do Brotad Eco Resort, na cidade de Brotas, em São Paulo. Aqui em Maceió, passou pelas cozinhas do Akuaba, Sueca Comedoria e Pah Fuh. O alagoano de 27 anos – que além de coordenador de curso, ainda assina alguns pratos no Mostardas Hamburgueria e na Seleta Saladeria –concedeu entrevista em seu ambiente de trabalho, onde defendeu a importância da formação acadêmica para o crescimento da gastronomia e a valorização da cozinha local. Falou com muito carinho da culinária tipicamente alagoana, mas não deixou de lado o rigor técnico e administrativo necessários para o bom funcionamento da cozinha: “Unindo boa gestão e bom planejamento é possível fazer comida boa, simples e de qualidade”.

que dobrar a quantidade de vagas para 160, por conta da demanda. A maioria das pessoas que procura o curso se encaixa num perfil mais profissional, com o objetivo de sair para o mercado de trabalho. Mas a gente também tem uma parcela significativa de pessoas que fazem como um hobbie, como uma segunda ou terceira graduação, e acabam se encantando pela profissão e muitos estão na área de docência também. Os eventos gastronômicos que vêm sendo realizados no estado e as novas turmas de gastronomia podem ser vistos como indícios do crescimento da gastronomia em Alagoas? Qual a perspectiva de futuro? Com certeza. O evento “chefs na praia”, que ocorreu na orla de Ponta Verde, foi prestigiado por cerca de dez mil pessoas. É muita gente. E há rumores de que, em breve, mais dois cursos de gastronomia serão abertos por outras instituições. O próprio mercado começou a buscar esse profissional mais qualificado. Antigamente, para se trabalhar numa cozinha, não precisava, necessariamente, de uma formação. Hoje, com o curso de gastronomia, o profissional sai não apenas sabendo cozinhar, mas também com noção da área administrativa, da área de gestão e de consultoria. Então o profissional sai mais preparado para o mercado.

Beatriz Alexandrino - Quais são os principais interesses das pessoas que procuram o curso? Essa procura é grande? Antonio Mendes - Primeiramente, nosso curso está completando três anos agora. Hoje, a gente está com 430 alunos na instituição e já quase 200 alunos formados. Na primeira turma, a instituição Esse crescimento da gastronomia em Alagoas esperava uma procura de 80 alunos, mas tivemos está servindo para alavancar a nossa culinária outubro de 2014

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GASTRONOMIA // ANTONIO MENDES

regional? Sim. Um dos grandes focos que a gente tem no nosso curso, e que está no nosso projeto pedagógico, é dar essa ênfase na gastronomia local. A instituição está lançando o Núcleo de Pesquisa e Extensão em Gastronomia Alagoana. Começamos esse semestre as pesquisas sobre a gastronomia de Alagoas e, a partir de 2015, viajaremos por todo o estado para divulgar essa pesquisa. O projeto é novo, é embrionário. Mas a questão da valorização, a gente tem dentro das disciplinas do curso, porque estudamos cozinha regional, em que trabalhamos apenas aspectos regionais e cozinha brasileira, que tem um foco muito grande na cozinha nordestina. Como a nossa culinária é vista em outros estados brasileiros? Olhe, hoje a gente tem uma mostra muito importante que é a visita dos turistas: o segundo ponto que atrai o turismo para Alagoas é a gastronomia do estado. Então a culinária local é um fator extremamente importante, pois movimenta o nosso turismo. Apesar de ainda sermos considerados um estado pequeno, uma capital pequena, hoje a gente tem grandes destaques na gastronomia de Maceió e de Alagoas, em nível nacional e internacional. Essa é uma prova de que Alagoas tem um potencial muito grande. Se a gastronomia é tão promissora no nosso estado, como se explica o fato de tantos restaurantes abrirem e logo após falirem? Esse é um problema não só local. É um problema nacional, em que mais de 70% dos restaurantes que abrem, fecham. E um dos grandes problemas é falta de gestão, de administração. Acontece que, normalmente, a pessoa acha que cozinha muito bem, que tem o domínio das técnicas, que sua comida é excelente. Porém, um restaurante é uma empresa e dentro de uma empresa existem vários deveres que o empresário tem que cumprir. E quem lida com comida, principalmente, vai tratar com questão de higiene, de microbiologia, de licença, são vários processos dentro de um restaurante. Então, às vezes, a falta de gestão é o grande fator para o fechamento desses estabelecimentos. E o conhecimento dessas regras de gestão e boas práticas é um grande diferencial oferecido pelo curso de gastronomia, que tem três pilares: a parte prática, que são as cozinhas específicas; a parte de vinhos e bebidas e a parte de consultoria e de outubro de 2014

Existe uma ideia de que gastronomia está necessariamente ligada à comida sofisticada, cara, algo distante da realidade cotidiana. Essa ideia é correta? Não, isso é um mito. Porque dentro da gastronomia, a gente tem várias vertentes e uma delas é a alta gastronomia que, aí sim, é uma cozinha mais sofisticada, mais elaborada e, consequentemente mais cara. Principalmente porque usa produtos internacionais. Mas dentro da gastronomia a gente tem a gastronomia regional, local. Logo, acaba se tornando uma gastronomia mais barata, mais acessível, porque trabalha com produtos locais. Então dentro da gastronomia, a gente vai ter várias vertentes que vão desde as mais caras até as mais baratas também. Dá para se fazer comida simples, acessível e de qualidade usando-se esse diferencial? Sem dúvidas. Um bom exemplo, dentro do curso, são os festivais realizados pelos alunos. Nós lançamos, internamente, festivais de diversas cozinhas, com preços extremamente acessíveis: os pratos saem a R$ 2 ou R$ 3 no máximo. E, inclusive, em cozinha regional, a gente trabalha com produtos locais e técnicas que nós aprendemos aqui na faculdade. Unindo boa gestão e bom planejamento é possível fazer comida boa, simples e de qualidade. Como o mercado alagoano figura nessa vertente de gastronomia local? Em Alagoas, de uma forma geral, a gente ainda precisa caminhar muito. Porque ainda existem algumas regiões do estado com potencial turístico grande, como o Litoral Norte e Litoral Sul, que possuem muitas belezas naturais, porém, são lugares em que os turistas reclamam dos serviços oferecidos, como o mau atendimento, a falta de higiene em algumas barracas de praia e em alguns restaurantes. Então, precisa trabalhar bastante essa parte de interligar a gastronomia com o turismo. O que faz do nosso estado um lugar promissor no contexto gastronômico? E quais são as principais dificuldades? Primeiro, a gente tem aqui, ao nosso lado, várias matérias-primas fantásticas. A gente vai para o litoral e encontra peixe em fartura, camarão, crustáceos, moluscos. A gente vai para o Sertão e enx


GASTRONOMIA // ANTONIO MENDES

encontra peixe em fartura, camarão, crustáceos, moluscos. A gente vai para o Sertão e encontra queijo de qualidade, carne de sol, macaxeira. E outro ponto que está sendo motivo para a nossa ascensão é que os nossos profissionais que já tinham restaurantes aqui foram para fora do estado ou do país para se qualificar. Hoje nós temos chefs de cozinha que já trabalharam na França, nos Estados Unidos e em vários outros países e trouxeram essa experiência. Antes, o profissional saía do estado e não voltava mais. Hoje, não. Hoje, os profissionais estão retornando e estão dando um nível muito maior de qualidade gastronômica para Alagoas. E o que ainda pesa contra a gastronomia de Alagoas é o fato de não conseguirmos ainda formar tantos profissionais qualificados para suprir a necessidade do mercado. Você vê uma valorização por parte da população com relação à culinária alagoana? Atualmente, há uma valorização da cozinha brasileira muito grande, mas a gente precisou que viessem vários cozinheiros da França trabalhar no Brasil, para abrir os olhos dos brasileiros. É mais ou menos isso o que está acontecendo em Alagoas: aqui, a gente precisou que nossos chefs fossem para fora e trouxessem as técnicas. E só agora nós estamos divulgando os produtos alagoanos. Então essa conscientização, claro que não é nada a curto prazo, já está acontecendo por parte da população.

Mais de 70% dos restaurantes que abrem, fecham. E um dos grandes problemas é falta de gestão, de administração. Acontece que, normalmente, a pessoa acha que cozinha muito bem, que tem o domínio das técnicas, que sua comida é excelente. Porém, um restaurante é uma empresa e dentro de uma empresa existem vários deveres que o empresário tem que cumprir

ALUMIÁ FOTOGRAFIA

NORDESTE CULINÁRIA/DIVULGAÇÃO

A gente tem aqui, ao nosso lado, várias matérias primas fantásticas.

outubro de 2014

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MODA // MAYARA LEÃO

JÚLIA ASSIS

DESIGNER COM CORAÇÃO DE ARTESÃ Enquanto a aspiração dos novos nomes da moda é ascender e produzir em grande escala, a designer de acessórios alagoana Mayara Leão não dispensa a aproximação com seu produto final e deseja valorizar cada vez mais as peças que cria, sem abrir mão da exclusividade e da produção artesanal

M

ayara Leão tem 24 anos e muita cor em sua vida. A designer, que tem trilhado, metodicamente, um caminho promissor, formou-se em Design de Moda em 2012, e desde então decidiu dedicar-se exclusivamente à produção de acessórios. Hoje cursa Design de Joias e já assinou oito coleções, algumas em parceria com artistas plásticos, outras para marcas como El Patio e Jardin, e ainda, para sua própria grife. A alagoana, dona de uma mente que não para de criar e observar, saiu de Maceió para estudar em Belo Horizonte, onde está seu lugar favorito, o apartamento onde mora, com decoração vintage e que a faz ainda mais apaixonada pela cidade. “Todos me perguntam por que e como eu vim parar em BH. Eu acredito que nada é por acaso e até brinco que foi o outubro de 2014

MANUELA BARREIROS destino, pois meus pais se conheceram numa rua que se chamava Travessa Belo Horizonte”, conta. Artista, artesã, designer. Mayara ama pôr a mão na massa e desenvolver cada uma de suas verdadeiras obras de arte o mais próximo possível. Em entrevista à repórter Manuela Barreiros, via e-mail, e se recuperando de um resfriado, Mayara falou sobre inspiração, ideias e sua marca de acessórios. Confira! MANUELA BARREIROS - Você cursou Design de Moda em Belo Horizonte. Por que a capital mineira e de onde nasceu a vontade de estudar moda? MAYARA LEÃO - Todos me perguntam por que e como eu vim parar em BH. Eu acredito que nada é x


MODA // MAYARA LEÃO

por acaso e até brinco que foi o destino, pois meus pais se conheceram numa rua que se chamava Travessa Belo Horizonte. Desde criança eu fazia bijuterias e colagens, e acho que eu era a única que levava a sério as aulas de artes da escola. Adolescente, aprendi a costurar e comecei a fazer costumizações nas minhas coisas, além de continuar a confeccionar bijus e chaveiros para vender na escola. No ensino médio, alguma coisa dentro de mim fez com eu trocasse a vontade de cursar a arquitetura pela moda. BH foi escolhida por não ser tão grande quanto Rio ou São Paulo. Meus pais acharam mais seguro e também pela característica da sua moda mais artesanal. Além de ser alagoana, você costuma visitar a cidade com frequência, o que a faz próxima do que acontece na moda local, área quase inexistente. Você acredita numa mudança nesse quadro? Eu acho que o público de Maceió ainda não dá o devido valor ao design, não só de moda, mas nas outras áreas também. Às vezes me parece que o status ou determinadas modas passageiras ou “inspired” valem mais por aí do que um produto bem pensado, que seja diferente e original. Acredito que ainda há um longo caminho a ser percorrido, uma educação no olhar do consumidor para que ele perceba o valor intrínseco e simbólico das coisas, além do valor material. Espero que um dia possamos chegar lá.

rios me possibilitariam infinitas possibilidades e só dependeriam de mim, pois sou eu quem produzo e confecciono tudo. Suas referências parecem vir de um mundo que une geometria e elementos da natureza, certo? Eles são seu objeto principal de criação? O geométrico me atrai muito. Mesmo que eu tente fugir, acabo encontrando-o lá no final do projeto. Minha metodologia de trabalho é encontrar elementos e formas em azulejos, fotos, colagens, que estão escondidos em imagens e que me permitam extraí-los para criar os desenhos das peças. As estampas surgem agregadas com esses elementos recortados ou são adicionadas depois, dependendo da imagem de origem. Mesmo sendo geométrica, o orgânico também me atrai e acho que consigo explorá-lo melhor no design de superfície.

De onde vem sua inspiração? Sou bem iconográfica, todo o tipo de imagem me inspira. Amo fotografia, revelo minhas fotos até hoje, o que revela outra paixão, o papel. Então, navegando pela internet, ou vendo livros e revistas, me inspiro com os mais diversos tipos de fotos, que além de me inspirarem no próprio trabalho, me inspiram na vida: a querer viajar, trabalhar, viver, etc. Outras formas de inspiração são qualquer tipo de papel, azulejos, colagens, ilustrações, filmes, e até mesmo alguma coisa que me chame a atenção na rua, e possa virar estampa ou forma. Atualmente você faz pós-graduação em De- Esses dias, passando pela rua, vi uma parede toda sign de Joias. Por que acessórios em um uni- descascada e fotografei já pensando: Nossa! Isso verso tão extenso como o da moda? dá uma estampa maravilhosa! Eu sinto que encontrei meu caminho nos acessóFÁBIO MADRUGGA rios e quero aprender cada vez mais, conhecer novas possibilidades, materiais e agregar o máximo de valor possível nas minhas peças. E é só o começo. Depois pretendo fazer cursos de ourivesaria, fundição, lapidação, essas coisas de mão na massa mesmo, que é o que amo fazer. Tem vontade de produzir outras peças, como roupas e sapatos, itens presentes em sua coleção de trabalho de conclusão de curso? Logo depois da formatura e enquanto eu não estava levando os colares tão a sério, eu e uma sócia tentamos trabalhar com roupas. Mas hoje em dia está muito difícil encontrar mão de obra qualificada [costureiras e modelistas] e, além do que, o mercado de roupas está um pouco saturado, na minha opinião. Foi aí que percebi que os acessóoutubro de 2014

Detalhe dos anéis da coleção ÁTRIO, que teve peças inspiradas no coração x


MODA // MAYARA LEÃO

Sem contar que na rede você não tem os inúmeros gastos e despesas que teria com uma loja física, podendo até oferecer um produto mais barato por conta disso. Tenho vontade somente de ampliar meu ateliê, que hoje é um cômodo do meu apartamento, para que minhas clientes possam visitar, buscar as suas encomendas e conhecer um pouco do meu universo. Tenho em mente criar um site bacana para comercializar os produtos, mas estou dando um passo de cada vez.

ACERVO PESSOAL

Todas as suas peças são minuciosamente construídas a partir da técnica que você mesma desenvolveu, que mistura resina e papel. Elas são rentáveis? Você alcança um volume de vendas grande? O trabalho é totalmente manual, minucioso e feito por mim. São várias etapas, que levam em torno de uma semana para serem concluídas. O número de vendas só não é maior porque não consigo fazer em larga escala. Mas também não quero criar uma linha de produção e ficar atrás de um computador mandando terceiros executarem o trabalho. Eu gosto de pôr a mão na massa, de recortar o papel, pôr a resina, lixar e montar as peças. É assim que me sinto feliz e completa. O que vendo hoje me dá uma renda razoável, e pretendo aumentá-la um pouco, mas não crescendo absurdamente em número de peças produzidas, e sim cada vez mais agregando valor ao meu produto.

Como se deu o convite para fazer uma coleção em parceria com a El Patio? Eu ainda não conheço a Mari [Mariana Cavalcante, idealizadora da ElPatio] pessoalmente, mas temos amigos em comum e estamos envolvidas na mesma comunidade afetiva, ou seja, vendo e consumindo coisas parecidas. Então nos conhecíamos virtualmente, e um dia ela me propôs a parceria e A marca Mayara Leão Acessórios, hoje, traba- eu topei na hora. Acho que temos, cada vez mais, lha com comércio online. Há algum projeto de nos ajudar para agregar coisas aos nossos trabade abertura de loja física? lhos e para atingir um público que talvez não atinEu acredito muito no comércio online e em mui- giríamos sem a parceria. tas vantagens que ele traz. No mundo real é fisicamente impossível você estar em dois lugares ao Algum projeto em mente que você possa nos mesmo tempo. Mas com os produtos no mundo contar? virtual, você proporciona ao consumidor a opor- Tirei da gaveta o meu tema e as colagens do TCC tunidade dele estar na sua loja ou sua página en- [trabalho de conclusão de curso da graduação], quanto ele está no trabalho, na faculdade, em casa, que se chama Alhures, e além de relançar um colar ou em qualquer outro lugar. Hoje em dia o tempo que fez parte do desfile, criei mais algumas outras vale ouro, então você ir até as pessoas, onde elas com as colagens tema da coleção. Já estou fazenestão, de forma rápida, barata e a qualquer hora do alguns estudos e pretendo lançar assim que eu do dia, é fabuloso. conseguir.

Eu gosto de pôr a mão na massa, de recortar o papel, pôr a resina, lixar e montar as peças. É assim que me sinto feliz e completa

outubro de 2014

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JORNALISMO // GILVAN NUNES

POR TRÁS DAS CÂMERAS Há quase 30 anos atuando como profissional da comunicação em Alagoas, Gilvan Nunes, apresentador do telejornal Bom Dia Alagoas, é um dos rostos mais conhecidos da TV local, embora seja no rádio onde ele mais se realiza

ARRISON GALVÃO

G

ilvan Nunes Amorim, ou simplesmente Gilvan Nunes, é um nome bastante conhecido no cenário jornalístico alagoano. Ele tem 52 anos e já trabalhou na Rádio Progresso, na Difusora, 96 FM e TV Alagoas. É dono de uma voz marcante que se consagrou nos programas Alô Gazeta, Grid Gazeta e Lembranças Gazeta, da Rádio Gazeta FM de Alagoas, nos quais permanece à frente atualmente, e imprime sempre uma postura firme e elegante quando apresenta o telejornal Bom Dia Alagoas, da TV Gazeta (emissora afiliada à Rede Globo). Além de locutor e apresentador, é coordenador de programação da rádio em que trabalha e editor-chefe do telejornal que apresenta nas manhãs alagoanas. Ele consegue conciliar as quatro funções que exerce atualmente dentro da Organização Arnon de Melo (OAM) sem negligenciar a vida pessoal, a exemplo da relação com os dois filhos – Gilvan Junior (26) e Leonardo (16). Mesmo com todas essas ocupações, ainda consegue reservar parte do seu tempo para ir ao cinema e sair com familiares e amigos. Admirador nato de futebol, de onde nasce a sua paixão pelo ASA, de Arapiraca, ele prefere falar em cultura e educação e odeia tratar de assuntos policiais e de segurança. Apesar de a OAM pertencer a um político – o ex-presidente da república Fernando Collor de Mello –, Gilvan diz nunca ter encontrado problemas quanto a isso. Na entrevista a seguir, realizada no último dia 23 de outubro, Gilvan Nunes falou sobre o jornalismo no estado e outubro de 2014

sua experiência profissional ao longo dos seus 28 anos como radialista e 25 como jornalista, além de outros assuntos acerca dos bastidores da comunicação alagoana. Confira! ARRISON GALVÃO – Por que ser jornalista? Em sua opinião, quais as características de um bom jornalista? GILVAN NUNES - Sou jornalista porque gosto do que faço, mas também quero contribuir com a formação das pessoas, ouvintes e telespectadores. Acho que o que caracteriza o trabalho do jornalista é a busca da informação completa, mostrando todos os lados da notícia. Para quem quer ser jornalista é necessário que se busque sempre essa isenção. E leiam muito, assistam tudo que puderem. Podemos não ser especialistas, mas temos que saber de tudo um pouco. Como profissional da TV e da Gazeta FM, você já recebeu proposta da concorrência alguma vez? Já recebi uma da TV Globo Nordeste, mas financeiramente não valeu a pena. E há alguns anos do sistema Pajuçara, mas não chegamos a um acordo. Algumas emissoras de TV em Alagoas investem em programas sensacionalistas para compor boa parte de sua grade, seja pela audiência que eles têm ou pelo retorno financeiro que eles propiciam. Se você recebesse uma x


JORNALISMO // GILVAN NUNES DICULGAÇÃO

proposta para compor a equipe de um programa desse tipo, como lidaria com o desafio? Não gostaria de fazer um programa assim. Não critico quem o faz, pois acho que temos espaço para tudo. É bom o telespectador ter opções. E hoje ele tem. Sobre atuar no rádio e na TV, qual a principal dificuldade que você encontrou no diálogo com os dois públicos? Já aconteceu de você, sem perceber, levar o texto de um para o outro? Não, nunca aconteceu. São veículos diferentes, linguagens diferentes. Os dois veículos se complementam. A instantaneidade do rádio me fascina. Por causa do uso da TV também como forma de entretenimento, algumas vezes o jornalista acaba sendo confundido como uma personalidade da mídia ou mesmo uma celebridade. Como você lida com isso? Lido muito bem. As pessoas têm muito carinho com todos que fazem o rádio e a TV. O importante é não se deslumbrar com essa abordagem. Fazemos parte de um trabalho coletivo. Temos que valorizar isso sempre. Geralmente, quando você apresenta o telejornal Bom Dia Alagoas em seu atual formato, você entrevista alguém. Acredito que já aconteceu, em toda a sua carreira, situações inusitadas. Poderia contar algum fato desses? Já, realmente. A pior coisa é você entrevistar uma pessoa que desconhece o assunto abordado. Uma vez a presidente de uma associação profissional não pode vir e mandou a vice, que não sabia nada. Muito engraçado e constrangedor. A entrevista, que seria de seis minutos, acabou em apenas dois minutos. No rádio, o contato com o público é mais próximo diferente da relação distante entre você e o telespectador. Por isso, os riscos do “ao vivo” no rádio são mais frequentes. Já aconteceu alguma situação inusitada entre você e o ouvinte? Já tive um convite de casamento no ar. A ouvinte perguntou, ao pedir uma música, se eu era casado. Na época, não era. Aí ela me pediu em casamento. Ri muito. Engraçado demais.

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Acho que o que caracteriza o trabalho do jornalista é a busca da informação completa, mostrando todos os lados da notícia. Para quem quer ser jornalista é necessário que se busque sempre essa isenção. E leiam muito, assistam tudo que puderem. Podemos não ser especialistas, mas temos que saber de tudo um pouco

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JORNALISMO // GILVAN NUNES

DICULGAÇÃO

Qual sua opinião sobre a atual situação do jornalismo em Alagoas? Acho que, no geral, fazemos um bom jornalismo. Temos bons profissionais e acho boa a formação de nossas faculdades. Aliás, tem que ter diploma nos dias de hoje. Essa formação da escola junto com a prática é fundamental.

foi tranquilo. Já teve caso de eu achar que teríamos problemas, mas isso não ocorreu.

Existe algum fato que você noticiou que, se pudesse, gostaria de não ter sido o responsável por informá-lo ao público? A morte de diversas pessoas que eu conhecia ou era amigo. Mas o que me deixa indignado é falar Quando se fala em jornalismo em Alagoas é de violência contra crianças ou idosos. Me deixa inevitável também falar em política, já que muito triste. alguns políticos são proprietários de veículos midiáticos. Para você, é difícil ser jornalista Quais foram seus maiores aprendizados em em uma emissora que tem como proprietário sua trajetória no rádio e na TV? um político? Você já recebeu alguma repre- Que escolhi a profissão certa. Adoro o rádio e a TV. sália como editor-chefe ou repórter por vei- Aprendi que o respeito às pessoas é fundamental, cular/produzir matérias que denunciam este sendo essa pessoa um importante profissional, tipo de ato? uma celebridade ou um cidadão comum. E aprenA maioria dos nossos veículos tem como donos di que a informação deve ser apurada em todos os personagens políticos ou são grupos ligados a es- ângulos e com todas as bases. Informação dada tes políticos. Nunca tive problema algum em rela- primeiro que outro veículo não significa que seja ção isso. No caso da TV, temos um bom respaldo mais importante. Importante é que essa informada Globo. Mas independentemente disso sempre ção seja correta. outubro de 2014

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POLÍTICA // OSVALDO MACIEL

“A SOCIEDADE ALAGOANA PAROU EM ALGUM MOMENTO ENTRE 1950 E 1960” Pesquisador, professor de História da Universidade Federal de Alagoas e militante do PCB, Osvaldo Maciel analisa o cenário da propagação do Comunismo no contexto atual e a participação do partido nas eleições de Alagoas BRUNA UGÁ

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s eleições ocorreram no dia 5 de Outubro. Em Alagoas, parte do eleitorado manifestou sua insatisfação em relação aos candidatos ao Governo na hora de votar: do total de 1.612.496 votos, 7,92% foram brancos e 12,38% nulos, o que demonstra certo grau de desânimo. Parte disso deve-se não apenas às propostas apresentadas e aos embates durante a campanha, mas também ao fato de que a maior parte dos candidatos eleitos faz parte de um pequeno grupo de famílias poderosas no estado, detentoras de meios de comunicação e dos principais setores industriais. Em entrevista, o doutor em História pela Universidade Federal de Alagoas e pesquisador de historiografia alagoana, Osvaldo Maciel, 43 anos, comenta esse quadro político, citando alguns aspectos que considera sintomáticos, como os políticos que se renovaram em seus filhos e netos nas eleições, o marketing sem conteúdo das campanhas, e a crise no estado em decorrência da forte ligação de sua economia com o setor agroindustrial canavieiro. Comenta também pontos importantes acerca do Comunismo, como este se articula na sociedade capitalista atual, e a possibilidade de disseminação dessa ideologia em Alagoas e no Brasil. Além disso, fala sobre a participação no processo eleitoral e os resultados do Partido Comunista Brasileiro, do qual é militante. O partido participou das eleições lançando como presidenciável o candidato Mauro Iasi, professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, que obteve 0,05% dos votos no 1° turno, ficando em penúltimo na apuração dos votos. Já outubro de 2014

em Alagoas o partido lançou como candidato ao governo o doutor em Ciências Sociais e servidor público federal Golbery Lessa, que obteve 0,31% dos votos no estado, ficando também em penúltimo nas eleições. Maciel discorre acerca das dificuldades que o partido enfrentou durante o processo eleitoral, e o que será feito agora, levando em consideração o resultado das eleições. Em sua experiência como militante durante os últimos três anos no PCB, afirma que este momento é “parte de um processo de reestruturação que o partido vem realizando nacionalmente, uma reconstrução revolucionária, mais radical e condizente com o mundo atual, com a realidade capitalista e com sua crise”. DIVULGAÇÃO

Mauro Iasi (esq.) e Golbery Lessa (dir.), membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB) x


POLÍTICA // OSVALDO MACIEL

BRUNA UGÁ - Por que o senhor crê que existe um preconceito acerca do Comunismo por parte da população? OSVALDO MACIEL - É a coisa mais natural que nessa sociedade, regida pelo fetiche da mercadoria, se produza um preconceito em torno do que significa o Comunismo e também não se realize nenhum tipo de esforço para entender melhor o que é, e o que seria essa proposta que não é somente política. Ela é social e tem componentes éticos muito claros. É natural um olhar extremamente reducionista do que seria o Comunismo. Aliás, ideologia anticomunista é uma das grandes ideologias do século 20, e que sobrevive ainda hoje. Como o partido se articula no estado e no país para contrapor tal imagem? Ao mesmo tempo em que reivindicamos que somos um partido que está completando 92 anos, temos um olhar muito crítico em relação a determinados aspectos dessa longa tradição. Lançamos um olhar generoso em cima desse passado, e realizamos uma crítica em cima de algumas posturas que o partido teve ao longo de sua história e não se mostraram acertadas. Se estivermos desatualizados com o que ocorre no Brasil, terminamos passando uma imagem esvaziada e que não produz efeito no conjunto mais amplo da população. Assim, para além de reivindicar esta herança, os comunistas precisam ter sua posição constantemente atualizada de acordo com as tensões apresentadas na atualidade e postular sempre a saída rumo à ampliação da humanização do homem. Temos muita clareza que é preciso, dentro do partido e nas nossas aparições públicas, uma demonstração de seriedade e ética sem querer passar por cima de outras agremiações da esquerda, sempre tentando entender os fenômenos e as atitudes de maneira mais ampla possível. Dado o estabelecimento do capitalismo e do conservadorismo, e tendo em vista o fim do Comunismo em países como a antiga União Soviética, de que forma seria viável a existência do Comunismo atualmente na sociedade? Os liberais de uma maneira geral dizem que vivemos no melhor dos mundos possíveis, que essa proposta alternativa assentada na experiência soviética “deu no que deu”, e que isso termina deixando claro que o capitalismo é a única alternativa pra humanidade. Se essa é a única alternativa pra humanidade, temos que começar a desacreditar nela, porque o que percebemos é o agravamento outubro de 2014

de todas as tensões sociais, o aprofundamento da desigualdade, uma expansão que destrói. Começamos a perceber que o PCB está ganhando respaldo, ampliando as fileiras de seus militantes e aparecendo como um porta-voz para a esquerda brasileira. Nesta realidade da crise em que vivemos a proposta viável de uma transição de médio prazo para o Comunismo se apresenta novamente. Esta proposta colhe fruto da experiência soviética, porém percebe criticamente alguns dos impasses que terminaram cancelando os avanços daquele processo. Como o senhor analisa o quadro geral de Alagoas em relação ao processo eleitoral deste ano e como a formação social influencia esse quadro? Vivemos dias tenebrosos em Alagoas, e o que vimos no processo eleitoral, com as candidaturas que mais se projetaram, nos leva a perceber que a gravidade política e social que nós vivemos aqui é muito maior do que se pensa. A sociedade alagoana parou em algum momento entre 1950 e 1960. Em boa medida isto está relacionado com o setor canavieiro, e é sintomático que agora no início do século 21 estejamos vivendo talvez a maior crise que o setor já teve em sua história. Alagoas está muito centrada nesse modelo de desenvolvimento baseado na indústria do açúcar e do álcool. Então, a crise desse setor seria uma crise de Alagoas. Reivindicamos que existem alternativas muito mais produtivas tanto em termos econômicos quanto em termos sociais para o desenvolvimento do estado, algumas delas que foram abandonadas num passado recente. O primeiro passo, então, para Alagoas sair desta crise é reconhecer que, mesmo com a importância que o setor canavieiro possui para entendermos a história recente de Alagoas em função da forma como o estado foi capturado pelos usineiros, resolver o problema desta crise não passa necessariamente por recuperar o setor canavieiro. Fazendo uso de uma palavra de ordem marxista, de que não se resolve a crise do capitalismo, pois o capitalismo é que é o produtor desta crise, é preciso afirmar que Alagoas não deve torcer para que se resolva a crise do setor canavieiro, pois é ele que promove a crise na qual Alagoas se arrasta há 30 anos. Como o senhor analisa as propostas que foram apresentadas pelos candidatos de outros partidos? É difícil a gente não cair numa generalização quanx


POLÍTICA // OSVALDO MACIEL

quando pensamos nas diversas propostas que se apresentaram, porque elas eram muito parecidas. São propostas que além de não tocar nos grandes grupos oligárquicos, fortalece-os ainda mais, reforçando o modelo concentrador de terra e renda. Vemos que são os mesmos nomes que se apresentaram, renovando-se em seus filhos e netos. Candidaturas ao governo, a deputados federais e deputados estaduais, em que havia o pai apresentando o filho, como uma continuidade dos “grandes serviços” que aquela figura pública mais velha teria prestado. Em resumo, a reprodução das velhas parentelas do século XIX! DIVULGAÇÃO

Não temos tanta preocupação com os resultados numéricos dessas eleições (...) utilizamos o processo eleitoral como possibilidade de ampliar o diálogo com a sociedade

Principalmente nas candidaturas ao governo, vimos ataques diretos aos candidatos utilizando até esquetes de humor. Como o senhor enxerga esse método de campanha? Isso é típico de campanhas eleitorais que foram capturadas pelo discurso do marketing eleitoral. Há uma necessidade de se utilizar essas técnicas da publicidade e do marketing para associá-las a projetos políticos e a determinadas figuras públicas, mas também no sentido de que as campanhas passaram a ser cada vez mais caras pra apresentar as candidaturas à população. . Apresenta-se uma forma que é atraente, mas um conteúdo que é pasteurizado, e que exige um considerável aporte de outubro de 2014

recursos, o que contribui para entendermos a corrupção. Quais eram as principais diferenças entre as propostas do PCB e das propostas, em geral, dos outros partidos? Desde 2011 discutimos a realidade do estado para apresentar esse projeto político que não é fruto de uma análise de conjuntura feita em 6 meses. Fica claro que em nossas propostas estávamos privilegiando o conteúdo e não a forma, como a política dos partidos conservadores. Temos necessidade de articular de um lado o que é regional e o que é nacional, na forma como percebemos que Alagoas se insere no contexto do desenvolvimento da economia nacional. Tentamos mediar, a partir deste diagnóstico, qual a relação que uma proposta para as eleições poderia estabelecer com um projeto mais fundo e amplo pra se pensar numa proposta de revolução brasileira. Neste sentido, focamos em um programa que fosse, essencialmente, antioligárquico e anticapitalista. Sabendo que o partido é desconhecido pela maioria da população, quais recursos foram utilizados para contornar as dificuldades que poderiam tê-lo prejudicado, como a falta de visibilidade? Claro, a gente utilizou o espaço no guia eleitoral, que nos ajudou a apresentar propostas a um número maior de pessoas. Outra estratégia que utilizamos foi o uso mais inteligente das redes sociais. Conseguimos estabelecer um diálogo com vários setores, que devem se aprofundar agora após as eleições. Por outro lado, a gente também precisou perceber que por mais engenhosos que tenhamos sido, tínhamos muitos limites para furar esses bloqueios. Como o senhor enxerga os resultados das eleições, visto que tanto o presidenciável quanto o candidato ao governo de Alagoas pelo PCB ficaram em penúltimo na apuração dos votos? Não temos tanta preocupação com os resultados numéricos dessas eleições, pois estas são hoje um espaço domesticado pela democracia formal burguesa. De fato, utilizamos o processo eleitoral como possibilidade de ampliar o diálogo com a sociedade, e sermos apresentados para milhares de pessoas que não nos conhecem e nem conhecem a atitude, a prática e a proposta comunista. Precisamos de uma reinserção do PCB enquanto operador que se apresenta junto aos trabalhadores, setores médios e juventude, para recuperar toda x


POLÍTICA // OSVALDO MACIEL

uma tradição de luta e resistência que possuímos em Alagoas, e para dizer que existem possibilidades alternativas de desenvolvimento para nossa história. Por outro lado, mesmo considerando que nossa campanha para Presidente e para o Governo de Alagoas foram as mais baratas de todas as apresentadas, os números demonstram a magnitude dos desafios que socialistas e comunistas terão pela frente na próxima quadra histórica, onde terão que se opor ao projeto capitalista de superação da crise sem tocar nos fundamentos desta sociedade excludente e perversa, e ao mesmo tempo se colocarem como real alternativa de massas e efetivar o poder popular.

E quais os planos para o partido após as eleições? Fazer a revolução! [risos]. Estamos consolidando um espaço de discussão com determinados setores. A ideia é manter uma discussão com uma agenda de debate mais ampla, pensarmos com esses sujeitos coletivos futuras articulações e garantir que o PCB esteja presente no debate social, aprofundando e aumentando o número de seus militantes.

DIVULGAÇÃO

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INTERCÂMBIO // SVETLANA PASHCHENKO

DO FRIO SIBERIANO ÀS PRAIAS ALAGOANAS Em entrevista, a russa Svetlana Pashchenko, há sete meses no Brasil, conta as experiências e impressões vividas após deixar a Europa para aventurar-se em terras tropicais NATHALIA LEAL

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ривет! (Olá! – lê-se “priviet”, em russo informal). É assim que Svetlana Pashchenko me recebe nas tardes de domingo, com um sorriso afável ao abrir os portões rústicos da casa de muro azul, em Garça Torta. Desta vez, não a visito para as aulas do idioma que resolvi me aventurar graças ao meu amor por literatura russa, mas para uma entrevista. Dona de grandes olhos azuis e cabelos dourados, Sveta – como a chamo – vem de Novosibirsk, Sibéria, e já morou em diversos países. Contrariando os estereótipos, a simpática russa de 32 anos diz não gostar nem do frio das salas de cinema. Em seu tempo livre, Svetlana pratica surf e capoeira. Atualmente, ela trabalha como administradora voluntária da Go Brazil e atua como guia dos estrangeiros que a instituição recebe. Durante a entrevista, Sveta exercita seu português quase fluente e fala, entre frequentes risos, sobre suas experiências, desventuras e choques culturais. Ela explica as motivações que a fizeram trocar a paisagem siberiana por outros países europeus e, depois, pelas ondas do mar de Garça Torta.

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INTERCÂMBIO // SVETLANA PASHCHENKO

NATHALIA LEAL – O que te motivou a vir para o Brasil? SVETLANA PASHCHENKO – Eu já queria ir faz tempo, desde a época em que eu comecei a fazer capoeira, há cinco anos. Me apaixonei por esse esporte e, claro, pela língua, já que sempre cantam músicas do Brasil. Queria aprender português. Pouco a pouco, conheci professores brasileiros de capoeira que iam para a Europa e gostei, também, de como eles são como pessoas. Queria conhecer mais. O grupo era na Alemanha, onde eu morei oito anos. Depois, passei um ano na Espanha, voltei para a Alemanha e agora estou no Brasil. Por que morar em tantos países diferentes? Eu estava procurando um lugar pra mim. Primeiro, o clima da Rússia é muito frio e depois, a Alemanha é muito fria pessoalmente. Aqui no Brasil tem o calor e as pessoas são muito abertas, não tão fechadas. É mais como eu queria. O Brasil é um país de dimensões continentais. Por que você decidiu vir para Maceió? Foi por acaso. Eu estava procurando o curso de NATHALIA LEAL

português, mas não queria ir para São Paulo ou Rio de Janeiro porque todos já foram lá. Cidades grandes não são interessantes. Queria conhecer algo mais... autêntico. Eu pensava que aqui, no Nordeste, seria mais original. Alguma coisa te surpreendeu ou chocou negativamente na cidade? A sujeira. O primeiro lugar que eu cheguei foi em Garça Torta, à noite. Vim de ônibus de Recife. Quando acordei e vi a rua, pensei: “Que sujeira!” [risos]. A primeira coisa que você vê é aquele riacho, esgoto atravessando. As pessoas jogando lixo na rua também foi muito chocante. Eu não achava que ia ser tão sujo porque já fui para África do Sul antes, para fazer trabalho voluntário com crianças com HIV, e pensei que ia ser mais ou menos o mesmo aqui, mas foi pior. Qual era a sua visão do Brasil, antes de vir para cá? Algo mudou no seu pensamento sobre o país? Meus professores de capoeira sempre falavam que no Brasil só tem festa, praia. Eu imaginei um pouco que fosse assim. Mas aqui não tem muita festa, nem todas as pessoas dançam, como falam. E o Brasil era conhecido por sua dança, por samba. Mas depois percebi que não era assim. Nesses sete meses aqui, só fui a uma festa de forró... E adorei! Meu sonho é aprender a dançar. Quanto tempo você viveu na Rússia, antes de ir para outros lugares? Há alguma coisa que você só encontra em sua terra natal? Vivi lá por quase 23 anos. Na Rússia estão minha família e as amizades da infância, que você não pode fazer mais. Essas pessoas são ainda muito importantes para mim, apesar de nós vivermos tão distantes.

Em um país novo, é comum termos alguns “choques culturais”. Existe alguma coisa que você achou estranha? No início, achei muito estranho quando pessoas que ainda não te conhecem já podem falar sobre coisas muito pessoais, íntimas. Já passei por situações em que acabei de conhecer alguém e a pessoa já me pergunta se gosto de homem ou mulher, por Svetlana e o artísta plástico Tito Mendes durante exemplo. Na Rússia não se faz assim. exposição na Casa da Arte, em Garça Torta Como você acha que a Rússia é vista pelos outros países? Acho que a própria Rússia também tem visões outubro de 2014

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INTERCÂMBIO // SVETLANA PASHCHENKO

Por isso, todos os imigrantes que chegam já são vistos como aqueles que não irão tentar aprender a língua e só vão ficar bebendo vodka. Tem um pouco de preconceito. No Brasil, é muito melhor. As pessoas não conhecem muito a Rússia e tem curiosidade. É como eu me sinto, o que percebo. Do que você vai sentir mais falta depois que você for embora? Não quero ir! [risos] Eu já fui uma vez. Estava aqui há seis meses, depois passei dois meses na Alemanha e voltei. Nesse tempo, já senti muitas saudades. Primeiramente, do mar, das pessoas. Alemanha e Brasil tem um contraste imenso. Um dia você está aqui, depois vai para lá, você sente muito [a diferença]. As pessoas não entendem minhas piadas. Foi muito mal. Quando cheguei ao aeroporto de Frankfurt, com uma amiga italiana que estava no mesmo voo, queríamos tirar uma foto. Pedi a um homem que estava lá no canto se ele podia, mas ele respondeu: “– Não”. Perguntei por que não e ele apenas disse: “– Proibido”; e voltou a ler o jornal. Ele não queria, mas... porquê?! Acho que qualquer pessoa aqui no Brasil diria “Claro!” e tiraria a foto. Já no momento, eu senti: “Oh, que saudade do Brasil!”. Você passou por alguma situação ruim ou desagradável aqui no Brasil? Sim. Fui assaltada. Estava na praia do Francês com duas amigas minhas, alemãs, e todas nós tínhamos cara de estrangeira: loiras de olhos azuis. Fomos com amigos brasileiros, mas no momento estávamos sós, passeando nas dunas, olhando tudo como típicas turistas. Quando chegamos perto de umas árvores, apareceram dois caras armados e pediram dinheiro, câmeras. Foi assustador. Você já tinha sido assaltada? Não. Foi a primeira vez que me assaltaram e que vi uma arma. Quando eles apareceram, não acreditei no que estava acontecendo. Já tinham me avisado para não ir para aquele lado da praia, mas achei que não fosse acontecer nada, era durante o dia. Nesse momento, tive medo, mas eles foram muito gentis [risos] e falaram “– Bom dia, pessoal. Como vocês estão?”. Eu olhava para a arma, para eles e isso não funcionava junto, não se encaixava. Depois eu fiquei aliviada porque não fizeram mais nada.

tive experiência com a língua através da capoeira. Tentava traduzir as músicas, mas nunca falava. Comecei a fazer um curso intensivo [na sede do Go Brazil]. Acho que estou aprendendo ainda. Partindo pelo lado contrário, como você define a experiência de ensinar russo aos brasileiros? Eu não esperava que alguém quisesse aprender russo no Brasil. Quando vocês [os alunos] chegaram, pensei: “- Por que não?”. Achei que seria mais difícil, mas vi que só o início é assim, por causa das regras de gramática. Muitas vezes eu não percebia que algumas coisas que nós falamos podem se encaixar em regras. Eu estou aprendendo com vocês também. Quando está em algum lugar, você percebe se as pessoas te veem como uma estrangeira? Isso foi uma experiência interessante, mas também negativa. Às vezes estou no lugar e as pessoas ficam olhando para mim. É um pouco estranho, incômodo, se sentir objeto de atenção. Você não sabe se é bom ou ruim. Quando estive no Ceará para um evento de capoeira, dei até autógrafo. Foi engraçado! Quais são seus planos para depois do Brasil? Não sei ainda. Estou gostando muito daqui. Não quero ir embora! [risos]

Eu estava procurando um lugar pra mim

Como você aprendeu português? Aprendi aqui, mas antes eu já falava espanhol e outubro de 2014

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ESPORTE // MADSON DELANO

O OLHAR CRÍTICO SOBRE O ESPORTE ALAGOANO Uma das referências do jornalismo alagoano fala como iniciou sua carreira e faz uma análise da situação do esporte no estado. Há três décadas no jornalismo, Madson Delano é coordenador de esportes da TV Gazeta, editor chefe e âncora do Globo Esporte alagoano, além de narrar jogos de futebol para os canais Globosat WENDELL CAVALCANTE

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grito de gol marca o clímax de qualquer partida de futebol. É o pontapé inicial para vitória, o gatilho para que os fatos preencham a linha do tempo da partida. E foi num grito de gol, ensaiado desde menino, que Madson Delano, nosso entrevistado, deu início a sua carreira na comunicação. Para assumir aquela posição o jovem espelhava-se em narradores da época e treinava arduamente todos os dias esperando o “grito de gol” que sua vida daria. Foi num programa de rádio, comandado por França Moura, que ele apareceu. Instigado pelo gol narrado por aquele jovem de 17 anos, França fez o convite e, logo após um breve teste na rádio Palmares, em 1983, Madson se tornava repórter de rádio e narrador de futebol. Os constantes treinos para aperfeiçoamento no que fazia lhe renderam outros convites, e ele se tornava locutor-noticiarista, cobrindo não só esporte como também jornalismo e entretenimento na rádio. O segundo gol em sua vida ocorreu por acaso. E ele nos conta como isso aconteceu e faz uma análise do esporte alagoano, na redação da TV Gazeta de Alagoas, onde o jornalista nos recebeu para esta entrevista.

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ESPORTE // MADSON DELANO

WENDELL CAVALCANTE - Hoje você é conhecido pelos mais novos pelo trabalho que desenvolve na televisão. Os mais velhos te conhecem pelo trabalho feito, também, nas emissoras de rádio do estado. Como se deu a sua entrada no telejornalismo? MADSON DELANO - Na época eu trabalhava com animação de festas também, e tinha uma equipe de animação que tinha mágico, palhaço e os bichinhos da Walt Disney, e eu fazia alguns personagens. Quando chegava o natal, eu me vestia de Papai Noel. Não lembro o ano, mas estava no centro da cidade, com 17 anos na época, e o Márcio Canuto precisou de um Papai Noel para aparecer no Esporte no 7 [programa esportivo exibido na TV Gazeta e já extinto] dizendo o que os clubes gostariam de receber como presente de natal. O Márcio perguntava o que o CSA ou o CRB precisavam receber como presente e eu respondia. Ele gostou, achou interessante, conversou comigo sobre o assunto. Eu disse que trabalhava em rádio, que adorava essa área de comunicação, e ele perguntou por que eu não ficava estagiando aqui. Na época não tinha curso de jornalismo e eu comecei a fazer o estágio, comecei a aprender. Aliás, um estágio muito bom, porque o Márcio Canuto sempre foi um professor maravilhoso, sempre soube orientar exatamente o que ele queria que cada integrante da equipe desenvolvesse. Fui ficando até que fui contratado para trabalhar como repórter. A partir daí continuei minha evolução na TV Gazeta. Nós sabemos que o estado de Alagoas possui um potencial muito grande para descobrir atletas, porém muitos desses novos valores esbarram na falta de apoio, tanto público como privado. Qual a avaliação que você faz do esporte amador do estado? O grande problema do esporte amador em Alagoas é a falta da participação mais efetiva do poder público. A gente sabe que, infelizmente, apesar dos esforços de alguns gestores, não há o investimento pesado por parte dos governos. Então não adianta ter só vontade. Nós vemos pessoas que estão à frente de uma secretaria ou outras tendo vontade, o desejo de fazer um bom trabalho, mas não há verba, não há investimento ou não se consegue chegar à essas verbas a fim de que elas sejam aplicadas de forma efetiva em benefício dos atletas e do desenvolvimento das equipes. E por conta desse problema todo que a gente tem observado é que o esporte amador não decola pra valer. Porque deveria acontecer isso. Esse não é um problema só outubro de 2014

de Alagoas, é um problema do país. A gente tem em alguns estados, alguns centros especializados em desenvolvimento de atletas, sejam eles de esportes individuais ou coletivos, e as coisas funcionam um pouco, como é o caso no Paraná da ginástica, como é o caso em Minas Gerais do judô. A gente tem em São Paulo e no Rio de Janeiro a natação. Infelizmente, nesse aspecto de desenvolver o esporte amador, o país não tem essa divisão feita de forma equivalente. Então as coisas se concentram mais no eixo Rio-São Paulo e no sul do país. Você coordena o programa AL ESPORTE, exibido na TV Gazeta, no qual acontecem transmissões do campeonato infantil de futebol. Como esse tipo de projeto acrescenta ao esporte e aos novos valores? O campeonato infantil é uma mina, são 26 edições em 25 anos de competição, de eventos realizados no Sesi, e já saíram grandes craques. E foram grandes craques para o futebol mundial, não falamos só no país, não. A gente tem muita gente boa como Pepe, que hoje joga no Real Madrid e jogou no campeonato infantil. No campeonato feminino aberto tivemos competições em que a Marta esteve presente. Temos Aloísio Chulapa, Souza, Adriano Gabiru, todos esses jogadores tiveram uma passagem defendendo CSA, CRB ou outras equipes amadoras lá no campeonato infantil. Muita gente que nós nem conhecemos foram direto para o Vitória da Bahia, para o Grêmio de Porto Alegre, Internacional, Santos, São Paulo, Cruzeiro, e saíram de lá [campeonato infantil] e sequer a gente sabe que é alagoano, a exemplo do jogador do Atlético Mineiro, o Luan. É por isso que eu digo que é um manancial excepcional para a descoberta de novos jogadores, inclusive alguns times de fora mandam olheiros para descobrir novos valores. Nós temos ASA e CRB na série C do campeonato brasileiro e o CSA sem calendário até 2015. Como você avalia o futebol profissional em Alagoas? Infelizmente o futebol profissional de Alagoas, hoje, ainda pode se dizer que é um futebol pobre, um futebol carente de muita coisa, principalmente, carente de um pouco mais de organização, de estrutura, que é o principal. A gente tá vendo o CSA procurando estruturar seu centro de treinamento, o CT. Os dirigentes estão aproveitando que o clube está parado para investir na parte física do clube. O CRB teve um revés com a questão da necessidade de vender o estádio da Pajuçara por conx


ESPORTE // MADSON DELANO

conta de ter que pagar dívidas. E antes que perdesse o estádio e toda aquela área de forma definitiva, ou tivesse que vender a um preço muito baixo, o CRB vendeu num preço legal, pagou as dívidas e está construindo um outro centro na Barra de São Miguel. É um pouco distante, mas é um projeto que num futuro próximo vai vingar, vai ser bem interessante, porque já acontece em muitos clubes do país, que não tem seu CT dentro da capital. O ASA está fazendo o CT dele fora. Então a gente espera que com esse desenvolvimento a situação melhore um pouco. Mas no momento, o futebol de Alagoas está precisando, realmente, dessa organização, de profissionalismo que é uma palavra que pode resumir a necessidade atual do futebol de Alagoas. A gente não pode ficar contente com clubes na série C, embora a série C hoje não seja ruim, é uma competição bastante interessante. Mas Alagoas merece, pelo menos, um clube na série B, e um ou dois na série C. Pelo menos isso. Claro que primeira divisão é um sonho um pouco distante devido à carência que a gente tem no futebol do estado. GLOBOESPORTE.COM

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POLÍTICA // RODRIGO CUNHA

“Ninguém como eu sofreu a dor que pessoas mal intencionadas podem causar a uma família” Deputado estadual mais votado de Alagoas, o advogado Rodrigo Cunha, filho da deputada Ceci Cunha, morta há 16 anos numa chacina que abalou Alagoas, diz que pretende renovar a política estadual

GILDO SILVA

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epois de consolidar sua carreira pública à frente da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon/AL) durante 7 anos de trabalho, o filho mais novo da médica e deputada federal Ceci Cunha (PSDB-AL), Rodrigo Cunha, 33 anos, abriu mão do cargo, em abril deste ano, para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa de Alagoas pelo mesmo partido de sua mãe, morta em uma chacina no dia 16 de dezembro de 1998, ao lado do marido e de mais dois parentes, na noite em que havia sido diplomada como deputada federal. O resultado da aposta foi uma vitória esmagadora a frente dos demais candidatos, com o total de 60.759 votos. Em sua gestão no Procon, o advogado especializado em Gestão Pública e Defesa do Consumidor teve respaldo da população por viabilizar medidas como a abertura de processos por meio do Facebook, além de ter promovido a Feira do Nome Limpo que, só no ano passado, possibilitou a regularização de mais de 10 mil pessoas junto aos órgãos de proteção ao crédito. Nesta entrevista, concedida durante o mês de outubro, Rodrigo Cunha conta que a necessidade de renovação da política alagoana despertou seu interesse para oferecer outros benefícios ao estado. Além de apresentar um resumo de suas propostas para Alagoas, o arapiraquense fala sobre as outubro de 2014

feridas que se tornam ainda mais sensíveis a cada encerramento de ano, por causa da ausência de seus pais, assassinados em dezembro de 1998, por questões políticas. O candidato resgata sua luta pela condenação dos culpados pela morte de sua família e conta detalhes sobre sua relação com os pais. Confira. GILDO SILVA - Sua candidatura causa certo espanto em muitas pessoas, já que teve a família marcada de forma trágica por interesses políticos. O que o levou a entrar na disputa? RODRIGO CUNHA - Não estava nos meus planos ingressar na política, mas me envolvi em um projeto muito maior e que não é somente meu, mas sim de todas as pessoas que represento. Muitos questionam o motivo que me levou a ingressar na política e costumo dizer que ninguém como eu sofreu a dor que pessoas mal intencionadas podem causar a uma família. Mas, eu sei também o bem que pessoas como minha mãe, Ceci Cunha, fizeram na prestação de trabalho para a sociedade. O sentimento de descrença com os nomes e com a forma que a política é feita aqui em Alagoas precisa ser renovado e esse é um dos motivos que me levaram a entrar na disputa. Sua campanha foi realizada com a promessa x


POLÍTICA // RODRIGO CUNHA

de oferecer um trabalho pioneiro no estado. O que pretende fazer? Pretendo trabalhar, de fato, por cidadania e justiça. Os nossos deputados precisam começar a atuar verdadeiramente como representantes da população. Quero trabalhar pelo desenvolvimento do nosso estado, seja fiscalizando o que é feito no executivo, seja criando leis que beneficiem a sociedade como um todo. Antes das eleições, o senhor afirmou que, caso fosse eleito, receberia “uma procuração de plenos poderes assinada pelo povo alagoano”, para lutar por melhorias. Agora com o objetivo alcançado, o que é prioridade assim que assumir o cargo no próximo ano? Pretendo priorizar a fiscalização dos serviços públicos, principalmente energia, água, transporte, saúde, educação e segurança. Não apenas para buscar os problemas, mas para também dar sugestões de melhoria. Sua gestão à frente do Procon/AL foi bem avaliada, mas existe algum projeto que deixou de executar no órgão e que pretende fazer enquanto deputado? Minha ideia enquanto superintendente do Procon sempre foi deixar o consumidor cada vez mais consciente dos direitos que lhe assiste. Como deputado estadual, pretendo atuar em três eixos distintos: cidadania (novas leis de proteção ao consumidor e às vítimas de violência), gestão (transparência da minha atuação no legislativo) e pensar Alagoas (medidas que garantam o resgate do orgulho do alagoano pelo estado). Uma série de problemas levou o alagoano a uma total descrença no atual governo. É possível viabilizar suas propostas fazendo parte do PSDB? Durante 7 anos, fiz parte do governo do PSDB e isso em nenhum momento impediu que eu realizasse qualquer atividade à frente do Procon. Deputado, durante entrevista na época da campanha, o senhor demonstrou segurança sobre sua vitória na eleição, ressaltando o apoio que recebia de 29 mil seguidores em rede social. No entanto, vencer a disputa como deputado estadual mais votado de Alagoas foi uma surpresa? As redes sociais foram um termômetro do interesse do eleitor pela nossa forma de fazer política, outubro de 2014

mas nossa campanha também avançou no contato humano corpo a corpo. Tenho certeza que o sucesso da nossa votação foi porque nossos eleitores se transformaram em multiplicadores da nossa mensagem. Não tínhamos como mensurar este alcance, por isso foi uma surpresa essa votação. É impossível não relacionar sua candidatura com a história política de sua mãe. Em alguns vídeos de sua campanha, a menção ao caso Ceci Cunha sensibiliza muita gente. Você já passou por alguma situação na qual não foi visto como alguém que construiu sua própria história? Não. Em nenhum momento utilizei os vídeos e os depoimentos como forma de sensibilização para a campanha, mas isso faz parte da minha história. A luta por justiça no julgamento dos meus pais é parte da minha vida. Durante os 12 anos de espera pelo julgamento dos culpados pelo assassinato de seus pais e familiares, o senhor travou uma luta por justiça. Por algum momento chegou a pensar que os crimes poderiam ficar impunes? Sempre acreditei que conseguiria dar um desfecho digno à tragédia que aconteceu com minha família. Durante todos esses anos, fiz deste o meu objetivo de vida. Acredito na justiça e sempre vou lutar por ela, em qualquer instância que seja. Em 2012, o suplente de sua mãe na Câmara Federal, o médico Talvane Albuquerque, foi condenado a 103 anos e 4 meses de prisão e pagamento de indenização por ter sido o autor intelectual da chacina. O que representa a conclusão do julgamento para o senhor? O julgamento representou o fechamento de um ciclo. Até lá foram doze anos de luta contra a impunidade. No Brasil, infelizmente, é comum ver pessoas ricas que cometeram crimes saírem impunes. Eu e minha irmã, Adriana, conseguimos romper com isso. Além de nossos amigos e familiares, a imprensa foi uma grande parceira. Sou grato a todos. Nós não queríamos vingança, só queríamos justiça. E conseguimos. No dia 16 de dezembro deste ano, a tragédia que entrou para a história de Alagoas completa 16 anos. O tempo passou, mas como é enfrentar esta data até hoje? É sempre duro porque são 16 anos sem um natal, um réveillon, Dia das Mães e Dia dos Pais, sem eles x


POLÍTICA // RODRIGO CUNHA

presentes. É muita saudade. Mas acredito que, onde quer que eles estejam, estão nos guardando e nos orientando para seguirmos nossos caminhos. Como era sua relação com seus pais desde a infância? Minha infância foi em Arapiraca, cercada de amigos da escola e vendo todo o esforço da minha mãe para atender as grávidas da região. Meu pai [comerciante Juvenal Cunha] era meu grande companheiro, sempre estávamos juntos e adorava jogar futebol com ele. Às vezes, não entendia as ausências de minha mãe, mas até nisso essa campanha está me ajudando. Só agora, depois de escutar histórias, tive a dimensão da importância da doutora Ceci na vida de muita gente. O senhor é casado há oito anos com a advogada e professora universitária Lavínia Cavalcante, com quem teve dois filhos, Luna Ceci e João Juvenal, em homenagem aos seus pais. Como define família? Minha família é meu porto seguro. Passamos por momentos alegres e tristes, mas estivemos juntos sempre. A decisão de ser candidato foi bem discutida com minha família. Eu não poderia aceitar esse desafio sem contar com a aprovação de todos eles. DIVULGAÇÃO

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O sentimento de descrença com os nomes e com a forma que a política é feita aqui em Alagoas precisa ser renovado e esse é um dos motivos que me levaram a entrar na disputa

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ESPORTE // FERNANDO COSTA

FISICULTURISMO: ESPORTE OU VAIDADE? Conversamos com uma das maiores referências da modalidade no cenário local, o atual tricampeão estadual Fernando Costa, para tratarmos, entre outros temas, sobre preconceito e planos pessoais para a carreira

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o interesse cada vez maior pela musculação, surgiu a vontade de conhecer de perto o fisiculturismo. E, apesar da pouca idade, o jovem atleta Fernando Costa, 20 anos, tem conquistado títulos expressivos e se destacado fortemente no cenário fisiculturista alagoano. Costa é o atual tricampeão alagoano, vice-campeão Norte-Nordeste e vem de uma recente quarta colocação no Campeonato Brasileiro de Musculação e Fitness, realizado em setembro, na Praia do Gunga, litoral Sul de Alagoas. Em meio a uma rotina agitada, dividida entre treinos e faculdade, o também estudante de Educação Física pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), abre espaço para uma entrevista na qual fala de seu esporte, preconceito, saúde e planos futuros. E desabafa sobre a principal dificuldade que enfrenta: conseguir patrocínio. “Tenho contado mesmo com a ajuda de amigos e donos de estabelecimentos que conhecem minha história e me doam alimentos que preciso para minha dieta e itens para as rifas que faço”, conta. LARISSA LAYANE – Por que você escolheu o fisiculturismo? FERNANDO COSTA - Eu já faço musculação há três anos. E comecei a pegar cada vez mais gosto pela prática, até que, em fevereiro do ano passado, comecei o fisiculturismo. Quando disputei meu primeiro campeonato, o Alagoano de 2013, eu esoutubro de 2014

LARISSA LAYANE tava em um nível abaixo do ideal, porque meu corpo ainda não estava definido. Mesmo assim, fui campeão em duas categorias, júnior e fitness. A que você credita a má fama do fisiculturismo? Vejo que isso acontece porque o esporte logo é associado ao uso de suplementos. Mas o jogador de futebol usa suplemento. Qualquer atleta usa suplemento. É normal todo atleta de alto rendimento usar suplementação. E todo esporte pode envolver o uso de drogas ilícitas, por que, então, julgar só o fisiculturismo? A questão é que a mídia e os patrocinadores envolvidos nas outras modalidades não deixam que isso seja divulgado. Quando você vê um atleta com um percentual de gordura em torno de 7%, você não sabe o dia-a-dia dele, a alimentação dele, se fuma e até mesmo se bebe. Tem todo um treinamento, tem toda uma dieta e uma preparação por trás daquela definição corporal. O fisiculturismo é um esporte que não adianta ter só o talento, tem que ter uma dieta rígida, não pode haver muito estresse na vida particular e ainda tem que vencer o preconceito que vem de onde menos se imagina. É muito complicado. Como é sua dieta alimentar? Minha dieta é à base de três coisas: proteína, carboidrato e gordura, com Calcitran. A proteína tem ser a de alto valor biológico. Gordura tem que ser a boa, como ômega 3. x


ESPORTE // FERNANDO COSTA

Você tem acompanhamento nutricional realizado por um profissional da área? Tenho sete títulos e nunca tive acompanhamento nutricional. E foi só durante o período de preparação para a competição que me rendeu meu sétimo título, o Campeonato Norte-Nordeste, que passei a ter um treinador físico. Como faço Educação Física, eu que montava meus treinos e, em relação à dieta, do mesmo jeito. A quantidade de carboidrato, a quantidade de proteína e de gordura, tudo sou eu que defino. Estou desempregado, muito por conta do preconceito, não quero abandonar o esporte, então vou levando do jeito que dá.

Mesmo conquistando grandes resultados com uma dieta autor receitada, você não acha que o ideal seria ter, de fato, o acompanhamento profissional? Com certeza seria. E no caso seria um nutricionista esportivo. Até porque um nutricionista sem a especialização não teria como receitar uma dieta adequada para que o fisiculturismo exige. E esse profissional especializado é caro, em torno de R$ 500,00 a R$ 600,00 por consulta. Eu não tenho condições de fazer essa consultoria. Eu cheguei a fazer uma consultoria, foi até legal, mas o nível de dieta era aquém para o meu esporte.

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ESPORTE // FERNANDO COSTA

Ainda sobre os suplementos, há estudos que afirmam que eles podem ser substituídos por uma alimentação mais balanceada. Você nunca tentou ir por essa via alternativa? A questão da suplementação é que há muito preconceito. Sempre vai existir estudo para isso e para aquilo. Nos meus três meses, quase quatro, de restrição alimentar, a gente corta itens como a frutose, que é o açúcar da fruta, e como a lactose. Então, temos que partir para o suplemento para tentar suprir essa necessidade alimentar que se desenvolve. Recentemente, você informou, através das redes sociais, que estava com a pressão arterial alterada. Isso não pode ter alguma relação com superdosagem de suplementos ou outro fármaco? Não, nenhuma relação. Até mesmo na questão de fármacos, como anabolizantes, eu não uso, nem nunca usei. E suplemento é a mesma coisa que comida. A diferença é que você não vai ter uma montanha de alimentos, apenas um suplemento que pode ser misturado no suco. Na época desse fato que você mencionou, que inclusive foi de pressão baixa, eu estava dormindo entre duas e três horas por noite, treinava três vezes por dia e desdobrava-me entre faculdade, trabalho e treinos. E uma boa noite de sono é fundamental, não só para o atleta, mas como para qualquer pessoa. Sem qualidade no sono, não dá para ter qualidade de vida. E eu estava num momento com várias coisas acontecendo, cobranças pessoais, minha mãe estava doente, competição chegando e por isso a ansiedade. Então o estresse estava nas alturas e a pressão acabou baixando. E parece que foi Deus porque, depois disso, meu rendimento melhorou 100% já que passei a me cuidar melhor.

estabelecimentos que conhecem minha história e me doam alimentos que preciso para minha dieta e itens para as rifas que faço. Para Natal - RN, por exemplo, viajei com dinheiro de rifas e fui vice-campeão [Norte-Nordeste] na categoria fitness e quarto colocado na categoria júnior. Você pretende sair do estado para investir na sua carreira esportiva? Em penso em sair do estado, mas não agora. Apesar de tudo, tenho minha família e namorada aqui. Sair mesmo, só depois que eu terminar a faculdade e minha pós-graduação. Quais são suas metas e planos para o futuro? O foco agora é ano que vem. Treinar, treinar e treinar para manter meu título de campeão estadual e melhorar minha colocação no Norte-Nordeste e no Brasileiro. E tenho o sonho de ser preparador físico, então quero fazer uma pós-graduação na área e trabalhar sempre em paralelo com o esporte e a profissão.

Qual é a maior conquista que o fisiculturismo lhe trouxe? Várias conquistas. A maior é poder viajar e conhecer outros estados, outras culturas, interagir com mais pessoas que também praticam o fisiculturismo. Já conheci pessoas e lugares incríveis fora de Alagoas. Em Alagoas é notória a falta de incentivo ao esporte. Como você tem lidado com isso? É muito difícil encontrar patrocínio aqui. Tenho contado mesmo com a ajuda de amigos e donos de outubro de 2014

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TEATRO // IVANA IZA

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IVANA IZA: A SEXUALIDADE EM DESMISTIFICAÇÃO A alagoana, que nunca quis ser atriz, transformou um assunto tabu em sucesso de público e motivo de risos dentro e fora do estado. No espetáculo-solo teatral Devassas, ela lança reflexões sobre a vida sexual das mulheres e põe em debate tabus que ainda resistem RAÍSSA MELO

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pós passar um ano fazendo sucesso nos palcos de São Paulo, a comédia “Devassas: O que as mulheres gostariam que fizessem com elas na cama” retornou a Maceió e, em novembro, comemora quatro anos de estreia. O espetáculo-solo, encenado e escrito pela atriz alagoana Ivana Iza, é o resultado de uma longa pesquisa sobre a sexualidade feminina. Em Devassas há muita interatividade com a plateia e a atriz vive cinco personagens, abordando com muito humor o prazer, os desejos sexuais femininos e os tabus que o sexo ainda enfrenta na sociedade. Ivana, além de ter escrito o texto e atuar na montagem, também assina o figurino, o cenário e a produção geral. Em 2009, inscreveu o projeto no Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, no qual outubro de 2014

acabou selecionada, sendo o único projeto de Alagoas contemplado naquela edição do concurso. Desde então, Devassas já foi visto por mais de 35 mil espectadores, passando pelas cidades de São Paulo, Maceió, Penedo, Arapiraca e Aracaju. Aos 35 anos, a atriz formada em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) conta que, em 2007, o cineasta alagoano René Guerra a sugeriu a leitura de Patty Diphusa, do espanhol Pedro Almodóvar, que narra as memórias de uma estrela pornô. A ideia inicial de adaptar o texto para o teatro não foi adiante, mas o livrou despertou nela a vontade de investigar os hábitos sexuais femininos. Após dois anos de pesquisa sobre esse universo, Iza chegou à versão final da peça que se tornou um grande sucesso de público. O resultado foi x


TEATRO // IVANA IZA

bastante satisfatório. A peça estreou em Maceió, no teatro do antigo Centro Cultural Sesi, na Pajuçara, em 2010. Durante uma pausa entre a última turnê de Devassas, o desejo de se dedicar mais à família e uma gripe que a forçou repousar, Ivana Iza concedeu entrevista exclusiva à repórter Raíssa Melo. Na conversa, a atriz expôs seus sonhos, desejos, contou um pouco de sua trajetória e diálogos que mudaram o seu caminho. Segue abaixo a entrevista. RAÍSSA MELO - De onde surgiu a ideia de uma peça sobre o universo feminino e uma temática com tantos tabus como o relacionamento sexual? IVANA IZA - Inicialmente queria vir sozinha pra cena, já não estava satisfeita com o trabalho que estava sendo realizado em grupo, não tanto pelas questões artísticas, mas pelas escolhas dos trabalhos e como eles eram conduzidos. Então decidi que depois dos 30 anos faria um espetáculo solo. Falar sobre o universo feminino e sexo veio primeiro porque eu ia montar um espetáculo com o diretor e cineasta René Guerra, e era um texto do Almodóvar, mas o projeto foi arquivado. Ainda fiquei inquieta e decidi que iria me arriscar na questão da dramaturgia e comecei a desenvolver a pesquisa dentro do universo feminino. Fiquei dois anos [desenvolvendo o projeto]... um pesquisando e outro escrevendo o texto. No terceiro ano fiz a inscrição para o prêmio Myriam Muniz pela Funarte, que é do Ministério da Cultura. Fomos aprovados e ficamos mais um ano trabalhando no projeto. Quando pensei sobre o tema, vieram as conversas com amigas e percebi que a situação era muito mais grave do que imaginava. Meio que levantei uma bandeira de que a mulher tem o direito de sentir prazer a hora em que ela quiser, assim como o homem. A minha pseudodefesa dentro do espetáculo é exatamente para que a mulher se liberte sexualmente e que ela dialogue com o parceiro. Fomos sucesso de público e de crítica, tanto aqui em Alagoas quanto fora, as pessoas gostam e acham um texto superinteressante. Acham que eu consigo me desdobrar entre quase cinco personagens.

etc. O processo inteiro de criação se deu basicamente de 30 a 35 dias. O diretor Flávio Rabelo não estava no Brasil na época, então foi um período muito curto de ensaio. Ele foi super parceiro porque o espetáculo estava muito esboçado na minha cabeça. Inclusive ele já chegou com cenário e figurino prontos. Mas ele foi extremamente fundamental, e ele é quem tem a visão técnica e estética do que pensamos, assim como todo mérito do sucesso do espetáculo. Quando o enredo foi se desenvolvendo e as personagens foram criadas, passou pela sua cabeça que a peça poderia se tornar motivo inspirador para levantar a autoestima das mulheres, além de servir como um manual entendedor para os homens? A gente queria resgatar o público alagoano que estava completamente desiludido com o que era visto na cidade, não acreditava no teatro local. O espetáculo trouxe um diferencial e um olhar novo pra a cena teatral alagoana, incluindo para os que nos apoiaram, patrocinaram... viram que o produto cultural bem feito vale a pena. É tanto que vamos fazer quatro anos agora, no dia 5 de novembro. O público que não conhece Devassas pode esperar um espetáculo bem cuidado, bem produzido, bem atuado e bem dirigido. Sou suspeita para falar. A receptividade do público é maravilhosa e eu tenho sempre que agradecer muito por isso. Não tem diferença em lugar nenhum. Então, uma frase que eu repito e não canso: Não importa de onde você vem, importa é o que você apresenta. Eu fui extremamente querida em Maceió e em São Paulo também.

Você é formada em Filosofia pela Ufal. Quando e por que decidiu deixar a carreira acadêmica de lado e seguir como atriz? Sou formada em Filosofia e na verdade nunca quis ser atriz. Sou atriz há 19 anos, e na época do colégio queria ser médica, mas fui picada pelo teatro porque, certamente, já era inerente isso. Venho de uma família muito cultural, e sempre fui muito interessada por arte, então acredito que isso estava em mim. Fazer Filosofia e não o curso de Formação de Ator nem o de licenciatura se deu por um único motivo: eu não acreditava na época nos Como se deu o processo de criação e prepara- cursos, não me sentia confiante. Sabia que fazer ção da peça e de cada personagem? Filosofia ia ser muito importante pra mim como As personagens são pessoas reais. Tem criança que atriz, porque passa por todas as situações de quesdescobre o próprio corpo ou o do coleguinha, mu- tionamentos, de experiência interior e me ajudou lher casada que o marido já não sente mais tesão, muito na carreira de atriz. outubro de 2014

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TEATRO // IVANA IZA

Em outra entrevista, você falou que os atores precisam sair do “coitadismo” de ser ator e correr atrás. O teatro tem espaço e público suficiente para se sustentar? Eu falo muito isso sobre o coitadismo, porque nunca me senti assim, nunca reagi assim e nunca farei isso. Passamos por dificuldades como todas as capitais, a cultura é difícil mesmo, mas se você trabalha, tem comprometimento, nada e nenhum governo vai impedir você de fazer seu trabalho nem de ter êxito. Acho que tem que ter mais ação do que reclamação. Ouvi uma palavra de um senhor há muito tempo e ele disse: “Sabe o que significa a palavra reclamação? Prestou atenção? Re-cla-ma-ção. Re, toda vez que você reclama, você anda de ré”. Então como eu sou uma pessoa que gosta de andar pra frente, dificilmente reclamo. Teatro nunca me trouxe infelicidade. Talvez minhas crises existenciais se dão muito mais pelas escolhas que fiz dentro da profissão, mas não que o teatro me propôs, por isso eu não me sinto coitadinha e nem gosto dos coitadinhos também. Há pouco tempo, você decidiu estudar cinema. Há novos projetos por vir? Cinema sempre me interessou. Se pudesse viver de cinema e de teatro seria perfeito. O cinema te eterniza, e pretendo estudar mais. Iniciei o curso, mas não concluí por que acabei tendo que voltar para Maceió por questões pessoais. Mas estudar cinema é algo que me interessa muito. Quais os sonhos da Ivana Iza para o futuro? Me dei férias de um ano pra me dedicar ao projeto novo que estreia entre o primeiro e segundo semestre de 2016, e já tem nome, diretora, mas não posso falar nada agora e também porque eu quero engravidar. Quero ser mãe, cuidar mais da minha casa, cuidar mais do marido, da mãe, da sogra. Quero também frisar aqui um agradecimento especial para minha secretária Jéssica, que sem ela teria sido muito difícil esses quase dois anos fora de casa.

outubro de 2014

FICHA TÉCNICA Pesquisa, dramaturgia, atuação, figurinos, cenários e produção geral: Ivana Iza Direção: Flávio Rabelo Desenho e execução de iluminação: Fátima Farias Diretor de palco: Dado Araújo Trilha sonora: Pedro Ivo “Tup” Execução de Sonoplastia: Claudio Albuquerque Fotos: Gustavo Boroni e Renata Voss Design gráfico: Leonardo Leal Desenho de projeção: Leandro de Maman Assessoria de Imprensa: Larissa Lisboa e Lis Nunes Produtora executiva: Alexya Vieira Assistente de produção: Claudemir Santos Coordenador de produção: Eris Maximiano x


CINEMA // HENRIQUE OLIVEIRA

“Alagoas pode ser um grande produtor de audiovisual, só basta o poder público querer” Presidente da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas (ABD&C/AL) em Alagoas e também cineasta, o alagoano Henrique Oliveira analisa o cenário do audiovisual local e reclama da falta de atenção que o poder público dá à área de cultura PAULA NUNES

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definição não tem como ser diferente: promissor”, comemora o presidente da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas (ABD&C/ AL) em Alagoas, Henrique Oliveira. A redescoberta dos filmes passa, em boa parte, pela parceria existente entre os cineastas. É comum perceber nas obras locais a mão que um realizador audiovisual estende a outro, auxiliando o companheiro no processo de produção ao assumir uma função na área da fotografia, som ou produção. Henrique conta que Alagoas chegou a um estágio que não tem como voltar. “É algo concreto. A gente já ganhou vários prêmios nacionalmente e já houve indicação para mostra internacional”, afirmou o também cineasta que, com apenas 24 anos, tem sido de grande ajuda para o cenário audiovisual do estado. Atua na área audiovisual há 11 anos e realiza trabalhos como diretor de videoclipes, filmes de ficção e documentários, além de fotografar. Há quatro anos é presidente da ABD&C de Alagoas e já dirigiu cerca de 40 filmes, entre eles A Inês é Morta, Gato Zarolho e o curta Farpa. Em entrevista, o jovem diretor analisa, com desenvoltura, o cenário local do audiovisual, a redescoberta dos filmes que passa, em boa parte, pela parceria existente entre os cineastas. Para ele, é comum perceber nas obras locais a mão que um realizador audiovisual estende a outro, auxiliando outubro de 2014

o companheiro no processo de produção ao assumir uma função na área da fotografia, arte, som ou produção.

ACERVO PESSOAL

PAULA NUNES - Quais são as dificuldades enfrentadas por vocês, cineastas, no estado? HENRIQUE OLIVEIRA - Nos últimos anos, as dificuldades vêm cada vez mais se transformando, pois atualmente estão vinculadas com o rumo que estamos tomando em direção à profissionalização, o que é bem diferente de cinco anos atrás quando nem mesmo edital para fomento à produção audiovisual tínhamos conquistado. Hoje, somos a única linguagem artística a possuir fomento tanto do Estado, quanto da Prefeitura, o que em partes x


CINEMA // HENRIQUE OLIVEIRA

nos orgulha muito, pois estas conquistas são frutos da organização da classe em torno de um objetivo em comum, mas ao mesmo tempo nos entristece bastante por não termos conseguido ampliar essa bandeira para as demais linguagens artísticas, que são tão importantes e precisam tanto de fomento quanto a nossa, luta esta que nos engajamos através do movimento Quebre o Balcão. Trocando em miúdos, podemos dividir em dois grandes eixos as dificuldades que os realizadores audiovisuais enfrentam hoje em Alagoas: apesar de termos expandido muito as verbas, do primeiro edital realizado pelo Estado até essa última edição do edital da Prefeitura que ainda será lançado, os realizadores ainda possuem uma verba muito limitada para a realização dos seus filmes e, consequentemente, os técnicos ainda permanecem sendo muito mal remunerados, o que não contribui em nada para a sustentabilidade e real profissionalização do setor. Você acredita que os incentivos recebidos atualmente contribuem de forma significativa para desenvolver a produção audiovisual em Alagoas? Acho que sim, houveram muitos avanços, especialmente nesses últimos quatro anos, com as conquistas obtidas através de muita luta e parceria com o Governo e Prefeitura de Maceió, principalmente esta última, que sempre se portando de um modo mais democrático realmente soube ouvir os realizadores e tentar atender ao máximo nossas demandas através dos editais. Porém estamos muito distantes da realidade nacional, principalmente se formos comparar com nossos vizinhos pernambucanos e até mesmo com os paraibanos, por exemplo. E não estamos falando apenas pelas cifras monetárias, mas até mesmo por metas de médio e longo prazo do setor. Pernambuco, apesar de ter conquistado há anos um edital muito maior que o carioca ou o paulista em termos de verba, não deixou de lutar e conseguir conquistar a aprovação de uma lei de incentivo. Acho que essa é uma das maiores lutas que temos que travar, pois a política imediatista de editais é ótima e necessária para garantir a realização das produções, mas a partir da conquista de uma lei, a existência desses editais sai da vontade política de governo x ou y e passam a ser uma obrigação do poder público, independentemente de quem ocupe as cadeiras. Em janeiro deste ano foi divulgada uma lista com 198 filmes selecionados para serem apresentados na Mostra do Filme Livre, em Brasíoutubro de 2014

Brasília, Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Destes, cinco são alagoanos. Quais os pontos positivos disso? Assim como a seleção para a Mostra do Filme Livre, a seleção de O que lembro, tenho para Berlim, do 12:40 para o Cine PE e outras grandes e importantes seleções dos nossos filmes para festivais no Brasil e no mundo são um importante respaldo não só para os realizadores em si e suas equipes, mas também para o estado, pois isto mostra o quanto somos capazes, o quanto é retornável o investimento que eles fazem em nós, e o quanto precisamos de incentivo para cada vez mais expandirmos nossas fronteiras e aumentarmos o nível das nossas produções. Obviamente, temos como fazer muito com pouco, mas realmente esta é uma ideia que tem limites, infelizmente não vivemos mais no mundo cinemanovista de uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. O público mudou, os realizadores mudaram e as necessidades destes também. Nem todas as ideias têm como serem colocadas em prática deste modo. E as obras locais, como elas são produzidas? Além dos editais, a que você atribui o aumento da quantidade de filmes produzidos em Alagoas? A maioria das obras audiovisuais no estado ainda é realizada de maneira extremamente independente, vide Mostra Sururu de Cinema Alagoano que, dos 52 filmes inscritos na edição de 2014, apenas cinco possuíam financiamento público. Mas o bacana é que não é por ainda não terem conquistado algum edital que os realizadores, especialmente os novos, deixam de produzir. A vontade de se expressar, de refletir sobre o estado e sobre as questões sociais ou existenciais que o comovem, são maiores que a dificuldade que enfrentamos, pois mesmo as obras que obtêm o financiamento público não têm a verba necessária para sua realização 100% captada. E os cineastas alagoanos conseguem renda com os filmes? Conseguem um sustento financeiro a partir das produções cinematográficas? Como as produções realizadas em Alagoas são de curta-metragem, toda a vida do filme é pensada de maneira diferenciada de um longa, que após correr o circuito de festivais estreia em circuito comercial, arrecada bilheteria e depois vai para home vídeo , venda e locação de seus DVDs e relacionados e ainda são vendidos para a TV aberta ou fechada. x


CINEMA // HENRIQUE OLIVEIRA

O curta tem apenas a opção de circular pelos festivais no Brasil e exterior e ao encerra sua vida nesse circuito, se for extremamente bem sucedido, consegue ser adquirido por uma TV fechada. Ou seja, deu pra perceber que com os nossos filmes não ganhamos dinheiro [risos], muitas e muitas vezes nem com a verba do edital nos pagam pelo trabalho realizado, pois sempre somos colocados no paredão do “ou cortamos a verba de algum lugar ou não realizamos tal ou tal cena” e adivinha de onde cortamos? Do nosso cachê, é claro!

MÔNICA GUIMARÃES

Qual sua opinião sobre a questão da falta de prioridade dada a investimentos na área de cultura, especialmente em Alagoas? Já ouvimos declarações de secretários de estado afirmando que Alagoas não teria nem verba pra investir em educação, como iriam investir em cultura? E assim, permanecemos sem investimento nem em um, nem em outro. Infelizmente, os comandantes dos cofres são cegos e mal preparados e nossa elite é burra por achar que cultura é um bem supérfluo. Quais os novos projetos audiovisuais para 2015? E você saberia dizer quantos filmes já foram produzidos em Alagoas em 2014? Não temos ainda o número preciso das produções realizadas em 2014. Sempre esperamos a Mostra Sururu para ter um número aproximado através das inscrições, mas infelizmente este tem sido um ano muito triste para a cadeia, que ainda não poderá contar com a exibição de nenhum filme contemplado em editais públicos graças ao enorme atraso que o governo do estado teve para repassar a verba aos realizadores selecionados para a última edição do seu edital. Ainda para este ano, os realizadores estão se programando para o edital da Prefeitura, que financiará, em parceria com o Ministério da Cultura/Ancine, pela primeira vez, um longa-metragem alagoano, além da produção e finalização de diversos curtas. Alagoas pode ser um grande produtor de audiovisual, só basta o poder público querer.

DIVULGAÇÃO

outubro de 2014

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SEGURANÇA // MARCO PESSOA

“VIVEMOS EM CONDIÇÕES INSALUBRES E PRECÁRIAS” As dificuldades para garantir a segurança dentro dos presídios é uma realidade que o agente Marco Pessoa*, há nove anos na profissão, vivencia diariamente. Estudante de Direito, ele planeja uma nova carreira e compara as condições de trabalho de sua categoria às mesmas vividas pelos presos FABIANA MACIEL

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em o medo e nem a insegurança da família fez com que o agente penitenciário Marco Pessoa*, 34 anos, desistisse da profissão. Ainda jovem, participou do primeiro concurso da categoria e passou. No início enfrentou várias dificuldades, entre elas superar o medo e explicar para os parentes os motivos de sua escolha. Ainda assim, eles temiam pela sua segurança. “Minha família ficou desesperada quando contei que ia fazer o concurso para agente penitenciário, mas aos poucos minha mãe foi se acostumando com a ideia. Mesmo assim percebo que ela fica preocupada”. Em entrevista, o agente penitenciário revela o medo, os riscos e as dificuldades que a profissão oferece aos agentes penitenciários. Confira. FABIANA MACIEL - O que te motivou a ser um agente penitenciário? MARCO PESSOA - Eu era jovem, buscava estabilidade financeira. Não sabia quais dificuldades que a categoria enfrentava e os riscos que eu estaria correndo, mas aos poucos fui aprendendo a lidar com situação. Mesmo com as dificuldades conseguimos realizar e assegurar a segurança não só da sociedade, mas também dos presidiários.

outubro de 2014

*Por questão de segurança e a pedido do entrevistado foi utilizado um nome fictício.

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SEGURANÇA // MARCO PESSOA

Você pensou alguma vez em desistir? No início, sim. Várias situações nos deixava desmotivados, não tínhamos o apoio do Governo do Estado, a situação era muito precária, e continua sendo. Antes da realização do concurso, do qual eu participei, o quadro era de profissionais desqualificados e, com a renovação do quadro com profissionais qualificados, muitos deles com curso superior, acabou sendo um divisor de águas, entre a categoria. Mas não quero passar todo minha vida sendo um agente. Faço faculdade de Direito para ter uma profissão mais qualificada e menos perigosa. Quais os problemas que a categoria enfrenta hoje no Estado? Houve um pequeno avanço, não tanto quanto o necessário, mas houve. Nossa categoria é nova, somos uma minoria entre cerca de 600 agentes do quadro efetivo para cerca de mil terceirizados. A precariedade e o sucateamento na estrutura física são problemas que temos que conviver diariamente. Não só nós, agentes penitenciários, como também os presos, vivemos em condições insalubres e precárias. Problemas dos mais simples ao mais sério, como o fornecimento de água, falta de equipamentos e armamentos adequados são alguns dos problemas que temos que conviver. São esses problemas que nos deixa desmotivados e vulneráveis. Sabemos de nossa responsabilidade, mas fica difícil trabalhar sem as condições mínimas. Você faz parte do Grupo de Intervenção Tática (GIT) do Estado. Qual tipo de trabalho você exerce dentro deste Grupo? A principal função do GIT é conter os motins ou, caso tenha alguma rebelião, controlar a situação dentro da casa. Mas já faz um bom tempo que não houve nenhuma situação que necessitasse de nossa intervenção. A situação está controlada e por ordem da nova gestão o grupo está realizando outras funções, como escoltar os presos para realização de consultas e exames médicos fora do sistema prisional, além disso, fazemos a escolta deles até a Fábrica da Esperança, local onde são realizadas as atividades de ressocialização. Durante os nove anos de profissão você chegou a presenciar alguma rebelião dentro do sistema prisional de Alagoas? Sim. Com pouco mais de um ano de serviço a equipe que eu fazia parte foi chamada para conter um motim no Baldomero Cavalcante e, pouco tempo outubro de 2014

depois, no Cyridião Durval. Lembro que nesse dia fiquei um pouco com medo. Era minha primeira tarefa de contenção dentro do presídio e sabia que não podia falhar. É tudo muito rápido. A operação leva pouco mais de uma hora entre o chamado, a entrada na casa, o controle da situação, a contagem dos presos, o socorro aos feridos e por fim colocá-los na cela. Como é pra você ter que conviver diariamente com pessoas de alta periculosidade? É extremamente desgastante tanto do ponto de vista moral quanto psicológico. Nós somos privados de fazer determinadas coisas. Como nossa profissão é perigosa, até por questão de segurança não podemos nos expor tanto. No sistema prisional estamos vulneráveis a doenças, ficamos expostos a situações de conflitos pessoais e muitas vezes sofremos ameaças por parte dos presos. Sei dos riscos que corro e não é fácil saber disso e ter que conviver com essa situação. Como a função do GIT é extremamente tática vocês recebem algum tipo de treinamento que possa simular a atuação do grupo no cotidiano? Não tem, mas deveria ter. O Estado alega que não tem condições. Então só por meio do Ministério Público a categoria conseguiu a permissão para fazer cursos online. Não é o indicado, mas é o que temos. Além desses cursos contamos com a experiência dos mais velhos que nos ajudam bastante. O agente penitenciário convive diariamente com pessoas que foram retiradas do meio social por oferecer risco à sociedade e passam a viver em condições subumanas. Diante desta situação como é trabalhado o lado psicológico de vocês? Nossa profissão é muito estressante e infelizmente não existe nenhum tipo de programa ou tratamento que trabalhe esse lado. Conheço colegas que, por causa do estresse, acabaram se envolvendo com as drogas e com o álcool. É lamentável. Inclusive, já houve caso em que um agente surtou e em casos como esse ele é encaminhado para um especialista. Dentro do sistema não existe preocupação com a segurança do agente. Eles só estão preocupados com a segurança do reeducando. O envolvimento de agentes penitenciários em escândalos de corrupção dentro do sistema prisional, inclusive ajudando na fuga de x


SEGURANÇA // MARCO PESSOA

presos, mostra a vulnerabilidade em que o sistema se encontra hoje. Qual a motivação para esse tipo de atitude? Na verdade eu vejo como uma questão de ética e moral. Se você recebeu uma boa educação jamais irá se envolver e alimentar esse tipo de atitude e compactuar desse comportamento. Por ser um dinheiro fácil alguns acabam se envolvendo, mas geralmente os que se envolvem são aqueles que usam drogas ou estão passando por algum problema financeiro. É uma pena, mas infelizmente acontece. Foi divulgado na mídia um vídeo gravado com celular pelos próprios reeducandos e postado por eles mesmos na rede social. O vídeo mostrava as regalias que eles têm dentro da prisão, a exemplo de TV, aparelho celular e bebida alcoólica. A que você atribui a entrada facilitada destes produtos em um ambiente que é estritamente proibido se há revista na entrada? Infelizmente, com a falta de estrutura e precariedade no sistema é muito difícil de controlar. Equipamentos importantes que são necessários para coibir esse comportamento, como detector de metais e até câmeras para monitoramento, não existem e sem eles não temos condições de monitorar todo o prédio. O Baldomero Cavalcante é um dos presídios que não têm esses instrumentos e sem eles a segurança fica comprometida e vulnerável, dificultando ainda mais o nosso trabalho. O criminoso não é só aquele que comete o crime, mas aquele que também compactua com o mesmo. Você já se deparou com alguma situação em que teria que denunciar um colega de profissão por estar envolvido com o crime dentro do sistema prisional? Ainda não me deparei com esse tipo de situação, mas sei que se um dia acontecer irei denunciar. Conheço colegas que foram condenados por se envolver e hoje estão presos. Aqui dentro existe um departamento de inteligência que é responsável pela investigação e por mais que demore a descobrir um dia a casa cai.

outubro de 2014

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