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Sujeito 5

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Sujeito 4

Sujeito 4

alfabetizado e prosseguir em seu processo de escolarização e receber certificação regular, que lhe será muito menos discriminatória que a terminalidade específica.

Sujeito 5

O Sujeito 5 nasceu em 1983 e, no momento da realização da pesquisa, aos vinte anos, frequentava a 6ª série de um Colégio Estadual de Ensino Fundamental e Médio, no município de Cascavel-PR. Segundo a mãe (em entrevista), sustentou a cabeça na idade normal e, com seis a sete meses, já queria engatinhar, pois era “firminha”, porém, começou a andar com um ano e quatro meses, sempre nas pontas dos pés, e caía muito. Quanto à aquisição da linguagem oral, apresentou balbucio e linguagem normais. Revelou-se uma criança carinhosa, conversadeira, bem sociável, embora na época do jardim de infância mordesse as outras crianças, “mas ao mudar de escola, melhorou”. A mãe afirma, ainda, que o Sujeito 5 não teve doenças comuns, “mas esta que ela tem hoje compromete os músculos; ela perde então a força muscular, pois seu cérebro não produz determinada substância”. Por isso, ela anda um pouco e cai; não faz aulas de Educação Física, apenas participa de brincadeiras mais leves, pois não pode correr. Apesar de já ser uma jovem, não gosta muito de tomar banho; se pudesse, dormiria sem fazê-lo, precisando ser lembrada; ainda não sabia amarrar o cadarço dos calçados e nem abotoar fivela.

O Sujeito 5 era aluna egressa de Classe Especial, para a qual foi encaminhada em outubro de 1990, quando tinha sete anos e estudava na pré-escola de um colégio confessional católico, que a encaminhou a um serviço público municipal de avaliação de alunos com necessidades especiais, o CEACRI. Em entrevista anterior, a mãe relatou que o Sujeito 5 iniciou no Maternal com três anos, no colégio confessional católico. As professoras (Freiras do colégio) chamaram a mãe e pediram que a encaminhasse ao médico neuropediatra, que diagnosticou disritmia. A mãe afirmou, nessa entrevista, que “A primeira convulsão foi com 2 a 3 anos aproximadamente (tipo crise de ausência). Aos 6 anos ela teve uma convulsão mais forte, quando então, começou a ser medicada. A causa das convulsões não está bem definida, embora ela tenha uma doença progressiva, degenerativa, por isso é mais difícil, pois o que sabe hoje, pode não saber amanhã. Tanto pode melhorar como estabilizar”. Após a avaliação psicoeducacional pelo CEACRI, em 1990, o referido órgão elaborou o seguinte relatório:

Queixa: Dificuldade na aprendizagem. Comportamento durante a avaliação: “no primeiro contato com as examinadoras demonstrou comportamento infantil (chorou, permaneceu sentada no colo de sua mãe, não aceitando que conversássemos a sós com ela, escondia o rosto enquanto chupava um bico, estando com outro em suas mãos). Através de vários incentivos a mesma começou a conversar, mudando repentinamente sua forma de expressão (saiu do colo de sua mãe, largou o bico e passou a demonstrar aceitação e interesse em todas as atividades a ela propostas). No decorrer dos atendimentos passou a conversar espontaneamente,

enquanto executava atividades gráficas levantava da cadeira e verbalizava situações familiares”. Área socioemocional: “mantém bom relacionamento com seus familiares, na escola não consegue socializar com seus colegas, pois os mesmos a discriminam devido suas dificuldades. Iniciou suas atividades escolares na Escola X, no Jardim 01, em 1988. No ano seguinte cursou o Jardim 02, atualmente continua na mesma escola cursando o préescolar 02”. Habilidade intelectual: “Através de uma avaliação formal constatou-se que se encontra no momento funcionando intelectualmente abaixo da média esperada para sua idade e experiência”. Área visomotora: “Em tarefas que exigiam habilidades visomotoras apresentou acentuadas dificuldades, evidenciadas através de: distorção de formas; substituição de pontos por círculos e curvas por ângulos. Na reprodução de figura humana apresentou desenho diminuto e primitivo”. Área motora: “apresentou dificuldade na coordenação dinâmica global (estática, dinâmica) e fina. Quanto à lateralidade, sua dominância para membros superiores é a direita, porém tem ausência de reconhecimento de direita e esquerda em si e no outro, como também na execução dos movimentos. Em uma avaliação informal de conceitos básicos referentes a espaço, tempo, quantidade e tamanho, apresentou bom desempenho, porém com algumas dificuldades devido sua pouca concentração e atenção. Reconhece cores primárias e algumas secundárias. Localiza partes principais do corpo e detalhes”. Área acadêmica: Leitura e Escrita: “encontra-se em ausência dos conteúdos a nível pré-escolar. Matemática: Encontra-se em ausência dos conteúdos de Matemática a nível pré-escolar”. O Sujeito 5 passou a estudar então em Classe Especial até o ano de 2002, quando foi encaminhada para o Ensino Regular, na mesma escola, na 4ª série53, no paralelo. Em fevereiro de 2003, a escola onde estudou até a 4ª série, encaminhou-a para a 5ª série, com o seguinte relatório: “A referida aluna freqüentou no ano letivo 2002 a 4ª série A, no período da manhã e a Sala da Recursos no período contrário, neste estabelecimento de ensino. A mesma participou das atividades, tanto oral quanto por escrito, apresentando progresso significativo de acordo com suas limitações, embora necessitasse de acompanhamento e apoio constante, variação e adaptação de atividades, avaliação diferenciada com ou sem uso de material concreto. Recebeu apoio psicopedagógico/psicológico/emocional e além da Sala de Recursos, recebia atendimento no Centrinho (mais informações com familiares)”. Ressalta-se que na 4ª série, quando estudava no ensino regular da rede municipal, ela frequentava também a Sala de Recursos em período contrário. Conforme já explicitado neste estudo, esse programa de educação especial – que no Paraná só existia na rede municipal para alunos até a 4ª série foi implantado também na rede estadual e a escola

53 A 4ª série corresponde, atualmente, ao 5º ano. Considere-se essa correspondência para as demais menções no texto.

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