seara que o ideal de aufklärung deve ser desenvolvido, conduzindo os indivíduos a agirem racionalmente. Nesses termos, ensinar Filosofia é ensinar a filosofar, entendido como atividade da razão que visa ao pensar por si próprio, sem depender de outrem. E como se aprende a filosofar? Do mesmo modo que se aprende a nadar nadando, só se aprende a pensar pensando. Para Kant, “[...] aprende-se a filosofar pelo exercício e pelo uso que se faz para si mesmo de sua própria razão [...] A verdadeira Filosofia deve, pois, fazer, pensando por ela mesma, um uso livre e pessoal de sua razão e não imitar servilmente.” (KANT apud RAMOS, 2007, p. 202). Portanto, pode concluir que, com base no exposto, Kant não é tido como o referencial teórico para a abordagem temática gratuitamente.
4 Abordagem problemática: a aula de Filosofia como criação de conceitos Pode-se afirmar que a abordagem metodológica denominada problemática resulta da adaptação e da aplicação que o professor Sílvio Gallo (UNICAMP) fez dos textos de Gilles Deleuze e Félix Guattari ao ensino da Filosofia. Centrada na lógica da construção de conceitos, criam-se conceitos para enfrentar os problemas. A proposta pretende ensinar aos estudantes como pensaram e como pensam os filósofos, convidando-os a fazerem o próprio movimento de pensamento. O ponto de partida é a crítica à forma pela qual se ensina Filosofia nas escolas atualmente. Observa-se que a preocupação central é com o ensinar e não com o aprender Filosofia. Ensina-se, desse modo, a refletir com base em uma determinada concepção ou tradição filosófica, fazendo com que o estudante pense o já pensado. De igual modo, entende-se que a Filosofia não é contemplação, visto que, dessa forma, ela perde seu caráter criativo, reflexivo. Como diz o próprio Sílvio Gallo (2012, p. 62), “[...] parece-me que o fundamental, para as aulas de Filosofia, é tomar a Filosofia como uma atividade, o que nos levaria para além do clássico debate entre Kant e Hegel: ensina-se Filosofia (isto é, conteúdo) ou filosofar (isso é, processo)?”, até porque, considerando as outras duas abordagens metodológicas (História e Temática), constata-se que ambas contemplam ou refletem com base em algo já existente. Há outras duas críticas que devem ser feitas às concepções filosóficas existentes. A primeira dirige-se à tradição marxista, notadamente a 94