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"Era muito sofrimento mesmo..."
Comasmãosatoladasemterraárida,imprópria para a agricultura, e com a imaginação fértil, criavameesculpiam,sobaformadeartesanato, a esperança de sobreviver em baixo do sol intimidador, que não era incomodado por uma nuvemdechuvasequer.Eraaúnicaalternativa diante do solo quase infértil daquele naco de sertão.Enfrentandoafome,asedeeocansaço, as mulheres continuavam a produzir com dificuldadeportodaacomunidade.
O relato da ex-moradora do Talhado Maria de Fátima Carneiro, no documentário “Rita, Preta da Paraíba”, esclarece a situação em que viviam.Segundoseudepoimento:
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“Era muito sofrimento mesmo. Tinha mãe de famíliaàsvezesquepassavaodiacomfomee as crianças pedindo o que comer e não tinha pra dar. A minha mãe mesmo passou por isso, já vi ela chorando por que ela não tinha o leite pradaraomenino.Agentelembraeficatriste.”
O êxito de seu ofício, entretanto, permitia que vivessem,umdiaapósooutro.NeusaCarneiro, antiga moradora da Serra, explana no documentário, também, como a produção e venda das louças eram responsáveis por colocar comida em suas mesas. “Com o tempo agente‘ficoutudo’semteroutroserviço.Oque a gente fazia era isso: […] Mãe queimava as loucinhas, a gente embalava, trazia pra rua, faziaafeirinhaelevavadenovo.”
SemaslouçasacomunidadedoTalhado,muito provavelmente, teria encontrado a miséria em suafacemaiscruel,semdisfarcesoumáscaras de bondade. Sem dúvida, graças aos saberes que passearam entre as gerações de mulheres nascidas no território do quilombo, toda a comunidade prosperou e, acima de tudo, sobreviveu.
Osolo,amata,asraízesdoTalhado,entoamas memórias de tudo que viram e sussurram no ouvido dos seus, palavras de conforto e segurança para que não desistam daquilo que os deu a chance de sobreviver. São desses murmúrios ao pé do ouvido que ainda há resistência de 22 famílias que se negam a sair da zona rural, preferindo até hoje produzir com mais dificuldade, mas no lugar que aprenderam achamardecasa.